Prévia do material em texto
. O TRABALHO DO PSICÓLOGO NA PEDIATRIA Sumário O TRABALHO DO PSICÓLOGO NA PEDIATRIAErro! Indicador não definido. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 2 PSICOLOGIA PEDIÁTRICA .................................................................... 4 HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL ............................................................. 4 RESUMO ................................................................................................. 8 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL ............ 9 A PSICOLOGIA HOSPITALAR NA PEDIATRIA ................................ 11 O PAPEL DO PSICÓLOGO PEDIÁTRICO ........................................ 15 Do modelo biomédico ao modelo biopsicossocial da saúde .............. 15 Intervenção no 1.° nível: Prevenção Primária e Promoção da Saúde 17 Intervenção nos 2.° e 3.° níveis: Abordagem da criança doente e Reabilitação .................................................................................................. 18 ÀREAS DE INVESTIGAÇÃO ............................................................. 22 Psicologia da saúde ........................................................................... 23 PSICÓLOGO HOSPITALAR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES ......... 27 Psicologia pediátrica .............................................................................. 29 CARACTERÍSTICAS DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JUNTO À CRIANÇA ...................................................................................................... 30 A doença crônica na infância e a Psicologia pediátrica...................... 32 OBJETIVOS DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JUNTO Á CRIANÇA . 36 Considerações finais .......................................................................... 37 Referências ........................................................................................ 40 INTRODUÇÃO A Psicologia Hospitalar é mais uma das áreas de atuação da psicologia. Ela atua em instituições de saúde, com um atendimento a nível secundário e a nível terciário da atenção à saúde. Esta apostila tem por objetivo conhecer as práticas da psicologia hospitalar, especialmente na hospitalização infantil, a fim de identificar os problemas psicológicos causados pelo processo de hospitalização, focando as prevenções e tratamentos das crianças hospitalizadas. Ao se submeter falar sobre a história da psicologia hospitalar necessariamente implica citar os nomes de profissionais como Mathilde Neder e Belkiss Romano Lamosa. Logo, de acordo com Camon (2009, p. 3), “Falar de Mathilde Neder e Belkiss Romano Lamosa, sem demérito a tantos profissionais que arduamente militam na área, é evocar os rumos da Psicologia Hospitalar.” Por se tratar da relação que ambas tiveram com o pioneirismo e expansionismo das atividades da referida área da Psicologia. Ao relatar acerca do passado, presente e perspectivas da psicologia hospitalar, Camon (2009) aponta algumas datas como marcos históricos de seu início e evolução, mas destacaremos apenas algumas como: No ano de 1954, Mathilde Neder, atuando na Clínica Ortopédica e Traumatológica do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), deu inicio a psicologia hospitalar no Brasil, atualmente Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Mathilde Neder foi convidada para preparar psicologicamente os pacientes que se submeteriam a cirurgias de coluna, assim como a recuperação pós-cirúrgica. Preconizou a Psicoterapia Breve, uma técnica que visava agilidade nesses atendimentos no sentido de adequá-los à realidade institucional; Já em 1957, Mathilde Neder ao se transferir para o Instituto Nacional de Reabilitação da USP, atual divisão de Reabilitação do Hospital das Clínicas da USP, melhora o dimensionamento das atividades antes realizadas numa conferencia em 28 de novembro de 1959. De acordo Rocha (2004), em 1958, a Psicóloga Sônia Letaif iniciou suas atividades psicológicas na Clínica Psiquiátrica, hoje Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Deste período em diante surgem também atividades psicológicas nas Clínicas de Higiene Mental e Clínica Otorrinolaringológica, ambas ligadas ao Hospital das Clínicas, da mesma faculdade da USP. Segundo Gorayebe (2001), a década de 1960 foi quando os primeiros psicólogos começaram a atuar em hospitais, com base na atuação clínica ou psicometrista, e trabalhando muitas vezes como auxiliar dos psiquiatras, sem participar ativamente do atendimento ao paciente. Ainda na história da Psicologia Hospitalar, Rocha (2004) cita alguns dados históricos que relatam atuações dos primeiros psicólogos em hospitais, como: Em 1974, é criado o Serviço de Psicologia da Divisão de Reabilitação Profissional do Hospital das Clínicas sob a direção de Neder, e, sob a direção de Belkiss W. R. Lamosa, o Serviço de Psicologia do Instituto do Coração; Em 1977 acontece a implantação do Serviço de Psicologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, onde Lamosa iniciou um trabalho aberto à população em geral; Em 1979, surge em Brasília, com Regina D’Aquino, no Instituto Transpessoal, um trabalho com a família e a equipe médica junto ao paciente terminal. [...] Nesse mesmo ano, Wilma Torres inicia o Programa de Estudos e Pesquisas em Tanatologia no Instituto Superior de Estudos e Pesquisas da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro; Em 1981, o Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo oferece aos alunos graduados em Psicologia, o curso de Especialização em Psicologia Hospitalar, sob a responsabilidade de Angerami-Camon. De acordo com Sebastiani (2005), pesquisas apontam o Brasil como o precursor mundial da Psicologia Hospitalar, uma nova especialidade que utiliza os conhecimentos da Psicologia para aplicá-los nos processos doença- internação-tratamento, os quais relacionam: paciente-família-equipe de saúde e utiliza teorias e técnicas específicas para a atenção às pessoas hospitalizadas com demandas psicológicas ligadas a tais processos, como também as reações que podem agravar o problema do paciente ou dificultar o processo de recuperação. PSICOLOGIA PEDIÁTRICA Ao surgir o atual conceito de saúde – vista como um processo global – foi necessário abandonar o modelo biomédico tradicional e adoptar uma abordagem multidisciplinar do sujeito doente e da própria doença (vista agora como resultado de fatores biológicos, comportamentais e sociais), surgindo então o modelo psicossomático e o modelo biopsicossocial. Foi neste contexto, nomeadamente dentro da Psicologia Clínica Infantil, que surge a Psicologia Pediátrica (a Sociedade de Psicologia Pediátrica Americana é criada em 1968) que se desenvolveu a partir do reconhecimento da relevância dos aspectos psicológicos para o diagnóstico e prevenção dos problemas de saúde da criança e para o tratamento da criança fisicamente doente e sua família. Os modelos teóricos de intervenção na Psicologia Pediátrica são vários, mas a base centra-se numa orientação desenvolvimentista, numa abordagem multidisciplinar e combina competência e humanismo. Assim, à falta de corpo teórico específico, a Psicologia Pediátrica define-se pelo contexto onde trabalha o psicólogo serviços de saúde infantil não-psiquiátricos (centros de saúde infantil, hospitais pediátricos, serviços de pediatria, centros de saúde materno- infantil, centros de reabilitação,um terapeuta treinado e especializado, que trata de temas relacionados aos medos e ao bem-estar psicossocial do paciente (Aley, 2002). Esse profissional pode utilizar as brincadeiras de médico para recriar as percepções das crianças sobre suas experiências, e dá à criança a oportunidade de se comunicar com o terapeuta. Do mesmo modo, o trabalho com desenhos permite à criança ilustrar seus medos, preocupações e fantasias. Os centros hospitalares infantis deveriam, também, preocupar-se em proporcionar atividades lúdicas e aulas escolares para manter as crianças centradas em interesses de aprendizagem e desenvolvimento pessoal, a fim de que elas não estejam, todo o tempo, preocupadas com a doença (Trianes, 2002). Com relação aos estudos feitos com crianças e adolescentes doentes, Eiser (1996) ressalta que devemos nos preocupar com a adoção de modelos teóricos apropriados para essa população. Segundo essa autora, nem sempre os delineamentos de pesquisa tradicionais de comparação de crianças doentes com um grupo controle são os mais apropriados. É importante observar as diferenças existentes dentro da mesma amostra de crianças doentes para compreender as particularidades existentes entre crianças adaptadas e com problemas psicológicos. Além disso, os problemas, dificuldades e preocupações das crianças doentes não deveriam ser o único enfoque das pesquisas com essa população, pois isso vai contra a idéia de que alguns pacientes lidam de maneira satisfatória com sua doença. Ao mesmo tempo, existem problemas metodológicos importantes na realização de estudos com crianças enfermas, especialmente porque são necessárias grandes amostras para que se verifiquem diferenças entre grupos e subgrupos, o que dificilmente é possível quando se trabalha com esse tipo de sujeitos. A solução frequentemente encontrada pelos pesquisadores é a análise de pequenos grupos de participantes, que resulta numa avaliação não compreensiva das diferentes variáveis investigadas e que não explica os processos psicológicos relacionados à doença infantil. Em muitas pesquisas com crianças com problemas de saúde, comparam- se dois ou mais grupos (Lewis & Kellet, 2004). Em geral, a idéia é verificar como um tipo de doença afeta o desenvolvimento, mas a dificuldade está em selecionar grupos de comparação adequados. Outra questão importante relaciona-se à adequação ou não de agrupar crianças com diferentes problemas num mesmo grupo, o que supõe que cada indivíduo de um grupo compartilhe algumas características. Esse problema é especialmente importante se pensarmos que a natureza dos problemas dos indivíduos pode ser diferente, e que, além disso, o assunto se torna ainda mais complicado nos casos de pessoas com múltiplos e/ou sérios transtornos. Kellet e Ding (2004) apontam outro aspecto fundamental da investigação com crianças, que se refere à fonte de dados. Para esses autores, as próprias crianças são as pessoas mais indicadas para fornecer dados sobre si mesmas e sobre o que as preocupa. Para isso, um bom rapport é fundamental para que a criança não se sinta intimidada pelo investigador. Com relação aos procedimentos, as entrevistas gravadas, os grupos de discussão e as observações são vantajosos no trabalho com essa população. Por outro lado, os questionários ao estilo de adultos podem ser problemáticos se as questões forem complexas e porque essa é uma tarefa de pouco interesse para a criança. Há vários usos e aplicações dos estudos com a população pediátrica. McKechnie e Hobbs (2004) destacam algumas: 1) uso instrumental, em que os resultados dos estudos vão diretamente à prática; 2) uso conceitual, em que as evidências influenciam idéias e mostram novos caminhos para pensar temas importantes; 3) apoio, em que as evidências são usadas para persuadir outros, pensando-se sobre a ação, e 4) influência ampla, em que a pesquisa exerce uma influência em toda a comunidade e pode influenciar paradigmas e políticas de saúde/educação. Com relação aos programas e intervenções com a população pediátrica, teoricamente, a melhor maneira custo-benefício de prevenir problemas adicionais à doença é intervir o mais cedo possível e no momento evolutivo mais apropriado (Zeiner, Bendell & Walker, 1985). Os psicólogos da saúde deveriam promover mais esforços em investigações com esses pacientes. OBJETIVOS DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JUNTO Á CRIANÇA Para Batista (2010), o atendimento psicológico nos hospitais tem por objetivo a pro- moção do bem estar biopsicossocial, hoje considerando outros aspectos foi ampliado para biopsicossocioespirituambiental, dos pacientes e familiares dos mesmo, e para isso deve-se trabalhar de forma integrada com os demais profissionais de saúde, num enfoque interdisciplinar. Ao se tratar da atuação junto à hospitalização infantil, Altamira (2010, p. ?) diz que o objetivo é “[...] minimizar o sofrimento das crianças no contexto hospitalar e favorecer um ambiente menos hostil, independentemente do tempo e da doença que as levaram à internação”. Tendo em vista que o paciente, a criança em especial pelo fato de ainda estar desenvolvendo seu repertório de experiência, precisa de apoio para enfrentar possíveis efeitos negativos relacionados à eventos traumáticos, ao sentimento de insegurança, a falta de ajuda, de medo intenso e de ansiedade decorrentes da hospitalização, “O trabalho produzido junto a crianças hospitalizadas fornece visivelmente uma postura de mudança no tocante aos aspectos de saúde e doença, trazendo um novo paradigma no acompanhamento ao infante enfermo”. Quando o processo de internação está voltado à criança, o psicólogo hospitalar deve sempre ter por objetivo desenvolver técnicas de atendimento que traga esse paciente para o tratamento de uma forma lúdica, e nunca esquecer que atender criança no ambiente hospitalar requer atividades e ambientes diferentes como: brinquedoteca, o leito deverá ser decorado de forma que não produza tristeza, com cores frias, alegres e tranquilizantes, e não apenas minimizar o sofrimento como aponta Altamira baseado em Camom, pois de acordo com Cunha (2004, p. 14) “[...] algumas cores atraem, outras repelem – isso quando a cor utilizada não for apropriada àquele espaço – podendo, também, transmitir sensações de calor ou de frio, agitar ou inibir as pessoas.” Portanto, o psicólogo precisa estar atento para cada detalhe que possa favorecer a cura do paciente infantil. CONSIDERAÇÕES FINAIS É notório que o psicólogo, na pediatria, tem um papel muito importante no âmbito hospitalar. Sua função visa o bem estar, assim como a qualidade de vida do paciente e da sua família, levando em conta suas bases teóricas, sua formação e a saúde como um conceito macro que abrange aspectos psicológicos, físicos e sociais. Logo, o conhecimento teórico e humano deste profissional possibilita um melhor atendimento à criança e à sua família. O psicólogo hospitalar não deve restringir-se apenas à criança hospitalizada, visto que a doença afeta todo o contexto de vivência desse paciente. Portanto, o psicólogo hospitalar é o profissional apto para desenvolver e criar um ambiente onde a criança possa expressar seus sentimentos, medos, angústias, preocupações, ajudando-a a enfrentar esses problemas. Assim, a família é parte fundamental nesse processo, pois sofre diretamente com os efeitos da enfermidade da criança e de fato se espera que tenha um apropriado comportamento psicológico para saber lidar com a situação e o estresse por esta ocasionado, dando apoio à criança hospitalizada. Nesse contexto, diferentes meiosde intervenção podem ser usados, como a ludoterapia que dá vazão à emoção da criança, contribuindo para o seu bem-estar de maneira geral. Dessa forma, é possível assistir ao paciente durante o período de internação, tratamento e recuperação, melhorando seu estado psíquico. Enfim, a integração do psicólogo na pediatria nas instituições hospitalares contribui para uma compreensão apurada do comportamento das crianças em um momento específico de sua vida, atuando ele em diversos aspectos ou dimensões: individual, escolar, familiar e social. Sua intervenção determinará o diagnóstico situacional, buscando respostas, definindo métodos e avaliando resultado Considerações finais O que é a Psicologia pediátrica? Considerando-a uma área que está incluída na Psicologia da saúde. Sua tarefa fundamental é ajudar a melhorar o bem-estar e a qualidade de vida do paciente e de sua família, considerando a saúde um conceito multidimensional que abarca os aspectos físicos, psicológicos e sociais. A Psicologia pediátrica é um campo que vem se consolidando internacionalmente, e também no Brasil. Embora provavelmente exista um grande número de psicólogos trabalhando nesse ramo, a definição do que seria um trabalho em Psicologia pediátrica ainda é escassa. Não existem associações e/ou sociedades de profissionais que trabalhem especificamente nessa área, mas apenas grupos de trabalho, como no caso da ANPEPP - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia. A formação de tais associações ajudaria no avanço do campo, tanto em investigação como na sua aplicabilidade. As implicações psicológicas relacionadas à saúde da criança e do adolescente podem ser tão variadas como tão diversos também são os problemas de saúde que eles podem apresentar. As consequências emocionais dos problemas de saúde da criança para a sua família direta também são inúmeras. Por isso, o psicólogo pediátrico deve estar treinado para lidar com situações muito complexas, que envolvam o bem-estar psicológico não só da criança/adolescente mas também de todos os que o rodeiam. Ao mesmo tempo em que é importante uma atividade clínica efetiva e eficaz em Psicologia pediátrica, são necessárias mais pesquisas que tratem da saúde da criança/adolescente brasileiro a fim de dar base a essas intervenções. A grande maioria da literatura científica nessa área vem de estudos realizados em países desenvolvidos, e sabemos que nem sempre os resultados encontrados se encaixam ao nosso contexto. Além disso, esses estudos utilizam diferentes critérios e medidas para investigar os aspectos psicossociais da saúde da criança, geralmente utilizando fontes de informação de terceiros (pais, professores, etc.), já que pouca informação é obtida através da criança. Os avanços teóricos, metodológicos e clínicos para lidar com a saúde de crianças e adolescentes nos últimos anos são inegáveis, mas ainda temos muito trabalho pela frente. São necessários estudos empíricos rigorosos que considerem as particularidades da criança doente, sua fase evolutiva, suas condições emocionais, familiares e sociais. Torna-se importante estudar e analisar as implicações dos diversos tipos de problemas de saúde e hábitos de saúde para a criança e adolescente, trabalho que ainda está inacabado. Frente às situações relacionadas à saúde da criança e do adolescente, é fundamental uma abordagem multiprofissional que envolva também os aspectos psicológicos da criança/adolescente e suas famílias. É necessário que os profissionais da saúde estejam sensibilizados para os aspectos que transcendem o tratamento médico, pois os resultados do tratamento e as intervenções podem ficar comprometidos se não se consideram esses aspectos. Referências ANGERAMI-CAMON, V.A. Psicología hospitalar: Teoria e prática. São Paulo: Pioneira, 1995.CHIATTONE, H.B.C. A criança e a hospitalização em ANGERAMI-CAMON, V.A (org) A psicologia no hospital, cap. 2, p.23-100, São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.CID - 10 Classificação de transtornos mentais e de comportamento da Cid-10, Porto Alegre: Artmed, 1993.FORTUNA, T.R. Brincar, viver e aprender: evolução e ludicidade no hospital em VIEGAS, D. (org) Brinquedoteca hospitalar: isto é humanização, cap. 4, p. 33-44, Rio de Janeiro: WAR, 2008. GIMENES, B.P O brincar e a saúde mental em VIEGAS, D. (org) Brinquedoteca hospitalar:Isto é humanização, cap. 1, p. 15-20, Rio de Janeiro: WAR, 2008.LEMGRUBER, VERA. Psicoterapia breve integrada cap. 2, p. 39-40 Porto Alegre: Artes médicas, 1997. MAROT, R. Transtornos relacionados por semelhançaou classificaçãovol. 02, Curitiba: publit, 2004.MELO, A . M. Psicossomática e pediatria, em MELO FILHO, J. Psicossomática hoje, cap.18. p. 195-207, Porto Alegre: Artes médicas, 1992.OLIVEIRA, V.B. O lúdico na realidade hospitalar em VIEGAS, D. (org) Brinquedoteca hospitalar:Isto é humanização, cap. 3, p. 27-32, Rio de Janeiro: WAR, 2008.ROMANO, B.W. Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais São Paulo: Casa do Psicólogo,1999 ALEY, K. E. Developmental Approach to Pediatric Transplantation. Progress in Transplantation, v. 12, nº 2, pp. 86-91, 2002. AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION (APA). Official site - Pediatric Psychology http://www.apa.org/divisions/div54/history.htm (23/01/2006). ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA (ANPEPP). Avanços e Desafios Conceituais e Metodológicos da Pesquisa na Área de Saúde da Criança. Grupo de Trabalho sobre Pesquisa em Psicologia Bilbao: Desclée de Brouwer Biblioteca de Psicologia, 2003, pp. 121-138. BOWLBY, J. La Pérdida Afectiva: Tristeza y Depresión. Trad. A. Baez. Buenos Aires: Paidós, 1983. BOWLING, A. Research Methods in Health: Investigating Health and Health Services. Buckingham: Open University Press, 2 ed., 2002. CASTRO, E. K. & BORNHOLDT, E. Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 3, pp. 48-57, 2004. CHIATTONE, H. B. C. A Significação da Psicologia no Contexto Hospitalar. In: Angerami-Camon, V. A. (org). Psicologia da Saúde - um Novo Significado para a Prática Clínica. São Paulo: Pioneira Psicologia, 2000, pp. 76-90. EISER, C. The Psychology of Childhood Illness. New York: Springer-Verlag, 1985. EISER, C. Helping the Child with Chronic Disease: Themes and Directions. Clinical Child Psychology and Psychiatry, Londres:UK, v. 1, n. 4, pp. 551-561, 1996. GONZÁLEZ-REY, F. Psicologia e Saúde: Desafios Atuais.Psicologia, Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 10, nº 2, pp. 275-288, 1997. JOHNSTON, M. & KENNEDY, P. Editorial: Special Issue on Clinical Health Psychology in Chronic Conditions. Clinical Psychology and Psychotherapy, West Sussex, v. 5, pp. 59- 61, 1998. KELLET, M. & DING, S. Middle Childhood. In: Fraser, S.; Lewis, V.; Ding. S.; Kellett, M.; Robinson, C. (orgs.). Doing Research with Children and Young People. London: Sage Publications, 2004, pp. 161-175. LEWIS, V. & KELLET, M. Disability. In: Fraser, S.; Lewis, V.; Ding. S.; Kellet, M.; Robinson, C. (orgs.). Doing Research with Children and Young People. London: Sage Publications, 2004, pp. 191-205. LÓPEZ-ROIG, S.; PASTOR, M. A. & NEIPP, M. C. Aspectos Psicológicos Asociados a la Hospitalización. In: Remor, E.; Arranz, P. & Ulla, S. (orgs.). El Psicólogo en el Ámbito Hospitalario. Bilbao: Desclée de Brouwer Biblioteca de Psicologia, 2003, pp. 31-48. MALONEY, R.; CLAY, D. L. & ROBINSON, J. Sociocultural Issues in Pediatric Transplantation: a Conceptual Model. Journalof Pediatric Psychology, Philadelphia:USA, v. 30, nº 3, pp. 235-246, 2005. MCKECHNIE, J. & HOBBS, S. Childhood Studies. In: Fraser, S.; Lewis, V.; Ding. S.; Kellett, M.; Robinson, C. (orgs.). Doing Research with Children and Young People. London: Sage Publications, 2004, pp. 270- 285. MIYAZAKI, M. C. O. S.; DOMINGOS, N. A. M.; VALERIO, N. I.; SANTOS, A. R. & ROSA, L. T. B. Psicologia da Saúde: Extensão de Serviços à Comunidade, Ensino e Pesquisa.Psicologia USP, v. 13, nº 1, pp. 29-53, 2002. NICASSIO, P. M.; MEYEROWITZ, B. E. & KERNS, R. D. The Future of Health Psychology. Health Psychology, Lon Angeles, USA, v. 23, nº 2, pp. 132-137, 2004. QUILES, M. J.; ORTIGOSA, J. M. & MÉNDEZ, F. X. Preparación a la Hospitalización y a la Cirurgía. In: Ortigosa, J. M.; Quiles, M. J. Y Méndez, F. X. (orgs.). Manual de Psicología de la Salud con Niños, Adolescentes y Famílias. Madrid: Pirâmide, 2003, pp. 305-324. REMOR, E. A. Psicologia da Saúde: Apresentação, Origens e Perspectivas. Revista Psico, Porto Alegre, v. 30, nº 1, pp. 205-217, 1999. RODRÍGUEZ-MARÍN, J. En Busca de un Modelo de Integración del Psicólogo en el Hospital: Pasado, Presente y Futuro del Psicólogo Hospitalario. In: Remor, E.; Arranz, P. & Ulla, S. (orgs.). El Psicólogo en el Ámbito Hospitalario. Bilbao: Desclée de Brouwer Biblioteca de Psicologia, 2003, pp. 831-863. SIERRA, J. C. & BERMÚDEZ, M. P. Hacia el Título Iberoamericano de Psicología: Análisis de los Programas Docentes de las Carreras de Psicología en Iberoamérica. Revista Mexicana de Psicología, Mexico:DF, v. 22, pp. 224-242, 2005. SMITH, T. W.; KENDALL, P. C. & KEEFE, F. J. Behavioral Medicine and Clinical Health Psychology: Introduction to the Special Issue, a View from the Decade of Behavior. Journal of Consulting and Clinical Psychology, Miami:USA, v. 70, nº 3, pp. 459-462, 2002. SMITH, T. W. & SULS, J.. Introduction to the Special Section on the Future of Health Psychology. Health Psychology, Los Angeles:USA, v. 23, nº 2, pp. 115-118, 2004. SPIRITO, A.; BROWN, R. T.; D'ANGELO, E.; DELAMATER, A.; RODRIGUEZ, J. & SIEGEL, L. Society of Pediatric Psychology Task Force Report: Recommendations for the Training of Pediatric Psychologists. Journal of Pediatric Psychology, v. 28, nº 2, pp. 85-98, 2003. SULS, J. & ROTHMAN, A. Evolution of the Biopsychosocial Model: Prospects and Challenges for Health Psychology. Health Psychology, Los Angeles:USA, v. 23, nº 2, pp. 119-125, 2004. TORRES, W. C. O Conceito de Morte em Crianças Portadoras de Doenças Crônicas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasilia, v. 18, nº 2, pp. 221- 229, 2002. TRIANES, M. V. Estrés en la Infancia: su Prevención y Tratamiento. Madrid: Narcea Ediciones, 2002. ULLA, S. & REMOR, E. La Investigación en el Hospital: Tendiendo Puentes entre la Teoría y la Práctica. In: Remor, E.; Arranz, P. & Ulla, S. (orgs.). El Psicólogo en el Ámbito Hospitalario. Bilbao: Desclée de Brouwer Biblioteca de Psicologia, 2003, pp. 179-208. WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. Official website www.who.int (em 30/09/2004). YANAMOTO, O. H.; TRINDADE, L. C. B. & OLIVEIRA, I. F. O Psicólogo em Hospitais no Rio Grande do Norte. Psicologia USP, São Paulo, v. 13, nº 1, pp. 217-246, 2002. ZEINER, A. R.; BENDELL, D. & WALKER, E. Health Psychology: Treatment and Research Issues. New York: Plenum Press, 1985.equipas de saúde escolar, etc.) e pela faixa etária da população que assiste (até aos 18 anos). HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL As noções de saúde passaram por transformações significativas na atualidade. A partir deste fato, fez-se necessário uma maior reflexão e mudança na maneira de encarar a saúde e a doenças relacionadas a crianças hospitalizadas. O tecnicismo exagerado e a falta de humanização dos contextos hospitalares acarretaram piora na qualidade do atendimento, explicitando o caráter capitalista que a medicina adotou, fugindo do principal objetivo da ciência médica, que visa promover a saúde de forma holística, como defendia Hipócrates. Percebe-se o quanto se deve proteger a criança dos atendimentos impessoais e agressivos, visto que a saúde não depende apenas do tratamento por meio de posições médicas: deve-se acolher o doente numa perspectiva biopsicossocial. A hospitalização de crianças está geralmente atrelada ao aparecimento de patologias e não raro ocasiona para elas limitação das atividades diárias, ausência do convívio social e por vezes até privado da individualidade, gerando repercussões psicológicas. No caso da nossa experiência de estágio, observou-se que estas crianças apresentavam repercussões psicológicas desta natureza, e, sobretudo percebeu-se uma frequência considerável de crianças com depressão. Entende-se por “depressão um indivíduo com humor deprimido, com perda de interesse e prazer, com fatigabilidade aumentada. Esses são usualmente tidos como os sintomas mais típicos da depressão ou pelo menos dois desses”(CID10, 1993, p. 119). Na infância, a depressão pode ser percebida através de sinais como uma certa irritabilidade e tristeza, mudanças de comportamento que evidenciam desmotivação, não querer interagir com outras crianças, etc. mas deve-se analisar também o ambiente da criança e suas características de personalidade. Isso significa que não encontraremos duas crianças com as mesmas condições, mas isso não impede a possibilidade de uma avaliação. Por isso a análise de um psicólogo é importante, podendo discutir tecnicamente se a criança tem depressão ou não ( MAROT, 2004). Antes da aquisição da linguagem falada, a criança se comunica pela expressão facial e pela postura corporal. A criança quando deprimida, pode apresentar-se irritável ou com humor instável. Algumas têm explosões temperamentais ou mostram-se chorosas e tristes, com perda de interesses para as atividades e não iniciativa para brincar. Queixas somáticas são comuns como dor de cabeça, dores musculares ou abdominais, cansaço, falta de apetite, memória e atenção comprometidas. Tais crianças se distraem à toa e têm dificuldade de memorização. No entanto, não basta a medicação para tratá- las: a orientação psicoterápica também é necessária. Na internação e com a rotina hospitalar percebe-se que a criança encontra dificuldade em estabelecer e cumprir regras e horários hospitalares, que são distintos de seu dia a dia (casa, escola, relação familiar). De forma que a equipe de saúde deve ser sensível a estas questões. Nesse contexto, geralmente, o psicólogo facilita a relação do paciente com a instituição hospitalar e equipe de saúde, traduzindo e minimizando os reflexos das normas hospitalares (ROMANO, 1999). Na hospitalização, alguns sintomas podem surgir, como a ansiedade, o estresse atrelado aos procedimentos, a adaptação à doença, ao tratamento e a presença de instabilidade emocional recorrente a tantas mudanças. Os sintomas se tornam mais amenos quando a criança dispõe de um suporte psicológico que lhe proporcione uma melhor compreensão e expressão dos seus sentimentos e ansiedades. Nesse contexto, quanto mais nova a criança, maior a propensão à progressão dos sintomas em virtude da não compreensão da situação, pois a criança frequentemente acredita que a doença é uma forma de punição adotada pelos pais relacionada por causa de sua desobediência (CHIATTONE, 2003). Esta crença deve ser desmistificada no acompanhamento psicológico. A hospitalização da criança por um período prolongado pode desenvolver desajustes comportamentais, mesmo que passageiros, ocasionando alterações na personalidade, no desenvolvimento intelectual e afetivo. Nessa ocasião, a rotina da criança é afetada devido a mudanças de ambientes e no sistema biopsicossocial, fazendo-se necessária a adaptação da criança, sobretudo, quando há a imposição do repouso, a limitação física e a não linearidade de suas vivências e experiências sociais. Além disso, a criança precisa lidar com sentimentos novos decorrentes das restrições e perdas que afetam seu desenvolvimento. No ambiente hospitalar, as crianças fazem usos de diversas estratégias de enfretamento de sua enfermidade que ora facilitam, ora dificultam o processo de hospitalização como, por exemplo, a busca de informações relacionadas à doença, e chantagem dos pais a partir da condição de doente para obter atenção, carinho. A forma pela qual a criança reage a estas perturbações pode resultar em distúrbios emocionais graves e evidenciar uma personalidade instável. Quando os pais não podem estar presentes com a criança no hospital, a presença de parentes como acompanhantes busca evitar efeitos variados no que tange a separação da criança do seu objeto materno no período de hospitalização, pois, de acordo com Chiattone (2003), a ausência da família ou responsável seria a matriz da rejeição psicossocial no hospital, que leva a criança a sentir-se abandonada. Por isso, a participação efetiva dos pais nos cuidados com a criança é fato determinante no processo de recuperação, pois acompanham os fatos de perto e contribuem no tratamento, desenvolvendo ainda, meios para fornecer cuidados à criança, enfrentando com ela a ansiedade e o estresse. Logo, com a presença dos pais pode-se analisar os aspectos sócio comportamentais familiares, e a equipe hospitalar tem subsídios para compreender o processo de adoecimento infantil. Diante desse cenário, a equipe de enfermagem, por exemplo, deve se inserir de forma a tornar a estadia da criança no hospital o menos traumática possível, estabelecendo vínculo de confiança com a criança, familiarizando-a com o ambiente hospitalar, as rotinas e os procedimentos que serão feitos, reforçando que a equipe permanecerá junto, apoiando e encorajando, bem como minimizando a sequência de desprazeres (injeções de medicamentos, coleta de sangue para exames, curativos, entre outros) ligada à bata branca, como se todo profissional de saúde fosse ameaçador. É muito comum as crianças fazerem esta associação. Nesse sentido, o objetivo do atendimento da equipe de saúde deve sempre seguir o princípio de minimizar o sofrimento da criança hospitalizada, promovendo e proporcionando a saúde e, principalmente, integrando a criança como sujeito participante do processo de hospitalização e doença, estreitando os laços da relação mãe e filho, objetivando atingir o desempenho de uma pediatria global. E o psicólogo é um profissional central nesta relação entre paciente-família-equipe, facilitando a comunicação, diminuindo os ruídos e resistências que podem surgir no processo de recuperação. Diante disso, o foco do próximo item é a atuação do psicólogo na Pediatria RESUMO A psicologia no contexto hospitalar é mais uma das áreas de atuação do psicólogo. O psicólogo ao se inserir no contexto hospitalar deve tornar-se acessível aos pacientes, aos seus familiares e/ou responsáveis, favorecendo um trabalho interdisciplinar junto á equipe de saúde,oferecendo e desenvolvendo atendimento e atividades em diferentes níveis de tratamento, tendo como foco o acompanhamento e a avaliação dos processos psíquicos do paciente que tem que enfrentar um procedimento médico, visando a promoção e recuperação em nível biopsicossocioespirituambiental. Este artigo discute algumas questões a cerca das implicações da atuação do psicólogo junto à criança hospitalizada, os objetivos e as características dessa atuação. Com isso, espera-se enriquecer a compreensão da prática do psicólogo hospitalar, especialmente na hospitalização infantil, a fim de prevenir e tratar os problemas psicológicos relacionados ao processo de hospitalização. O presente trabalho examina algumas questões referentes ao modelo psicossocial, à Psicologia da saúde e à Psicologia pediátrica. A Psicologia pediátrica é o campo que aplica os conhecimentos da Psicologia da saúde às crianças e adolescentes com problemas de saúde e tem como objetivo prevenir, compreender e tratar os problemas psicológicos causados pelos transtornos físicos. A apostila discute as origens da Psicologia pediátrica, os conhecimentos básicos para trabalhar nesse campo e questões referentes à atuação prática e à pesquisa com crianças e adolescentes com problemas de saúde e suas famílias. Palavras-chave: Psicologia pediátrica, Psicologia da saúde, Modelo biopsicossocial, Formação profissional. Os avanços nos cuidados médicos levaram à melhoria na sobrevivência de crianças com doenças que antes eram fatais e agora se tornaram crônicas (Eiser, 1996; Eiser, 1985). As consequências psicológicas da doença e do tratamento podem ser várias, a curto e a longo prazo, para a criança e a família. Isso exige, da Psicologia, cada vez mais conhecimentos para atender e tratar crianças e adolescentes que convivem diariamente com doenças graves ou são sobreviventes de problemas que, até poucos anos atrás, levavam à morte. Por isso, a Psicologia pediátrica aplica os conhecimentos da Psicologia da saúde ao cuidado da criança e do adolescente doente, bem como às suas famílias (APA, 2006). O presente texto visa a apresentar a Psicologia pediátrica, configurando- a como uma área de conhecimento e de atuação do psicólogo da saúde. Na primeira parte do trabalho, examinam-se as mudanças geradas com a mudança de paradigma do modelo biomédico ao modelo biopsicossocial da saúde. Em seguida, revisam-se aspectos relacionados à Psicologia da saúde como os pilares da Psicologia pediátrica. Por fim, explica-se a Psicologia pediátrica como um campo de trabalho que está em expansão e que tem diversas aplicações práticas. ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL Segundo Baptista (2010) a infância no processo de hospitalização vai de zero a dezoito anos, sendo dividida em quatro etapas: até três anos, dos três aos cinco anos, dos seis aos quatorze anos e dos quinze aos dezoito, um período de grande desenvolvimento físico, onde o ser humano desenvolve-se psicologicamente. Independente da idade, Mondardo (1997) citado por Baptista (2010) afirma que “A hospitalização é uma experiência que não passa desapercebida para o paciente [...]. E quando o assunto é criança, [...] a doença e o processo de hospitalização podem comprometer sua integridade física e seu desenvolvimento mental.” Por isso é de vital importância o psicólogo ficar atento as variáveis psicológicas da criança hospitalizada, como também da família, a fim de prevenir transtornos que comprometam o bom desenvolvimento do quadro clínico. Vale salientar que como se trata de hospitalização infantil o psicólogo deve se preocupar tanto com a adoção de modelos teóricos apropriados para essa demanda, como manter, mesmo no hospital, as características do universo infantil e propostas de atividades voltadas à criança. Brincar no hospital tem efeitos positivos sobre a criança hospitalizada, o que se torna essencial no tratamento. Visando esse aspecto Motta e Enumo (2004, p. 20) afirmam que, “O brinquedo também pode ser utilizado de forma específica, [...], com a função de alegrar o ambiente e amenizar as sensações desagradáveis da hospitalização, humanizando o contexto hospitalar”. Quando uma criança ou adolescente sofre uma internação hospitalar, há uma modificação no seu curso de desenvolvimento e na sua forma de ver o mundo. A internação promove uma série de alterações na rotina e na vida da criança, do adolescente e dos seus familiares. Para assisti-los, faz-se necessária uma atuação que busque diminuir os efeitos da doença e do seu tratamento, pois, muitas vezes, eles acometem às crianças e aos adolescentes de forma global. Dessa forma fica evidenciado que uma criança ou um adolescente hospitalizado ao brincar há possibilidades deles terem momentos de distração e, consequentemente, se divertirem proporcionando-lhes mudança de rotina. E apesar do trabalho com brinquedotecas nos hospitais ser algo atual, já é percebido como necessário para o bem estar de crianças e de adolescentes hospitalizados. A PSICOLOGIA HOSPITALAR NA PEDIATRIA A Psicologia hospitalar objetiva minimizar o sofrimento ocasionado pela hospitalização, direcionando seus principais cuidados no atendimento mais humanizado, e as consequências do fator hospitalização no universo da criança. Nesse âmbito, conceitua-se Pediatria como a parte da Medicina que assiste a criança em seu crescimento e desenvolvimento. Essa assistência abrange aspectos curativos e preventivos (MELO, 1992).Dessa forma, entende-se que é necessária a atuação da Psicologia hospitalar no trabalho junto à criança, equipe de saúde e familiares, visando proporcionar à criança um ambiente acolhedor dentro de suas expectativas, assumindo posturas afetivas e acolhedoras, valorizando sempre os desejos, vontades e opiniões para que a criança participe do seu processo de adoecimento. Ou seja, o processo de hospitalização deve ser entendido não apenas como um mero processo de institucionalização hospitalar, mas como um conjunto de fatores que decorrem desse processo e suas implicações na vida do paciente. Nessa perspectiva, a Psicologia no contexto hospitalar tenta a firmar-se como uma nova especialidade na Psicologia, pois já acumulou uma quantidade relevante de material que justificam sua consideração como subárea da Psicologia. Nesse contexto, a Psicologia ainda precisou definir novas perspectivas teóricas, buscando saberes emprestados de outras áreas afins como a Medicina, a Filosofia, a Biologia, entre outras. A partir desses empréstimos, a Psicologia enfrentou seus primeiros riscos, são o distanciar-se dos próprios princípios teóricos e a ausência de um corpo teórico em psicologia hospitalar, dificultando o confronto em nível de conhecimento entre o saber psicológico e outras áreas. Portanto, entende-se que a psicologia no contexto hospitalar apresenta de forma variada seus domínios e vertentes, vários recursos metodológicos, linguagens, problemas e vastas tentativas de fundamentação teórica através da descrição da prática profissional. Constatou-se também a dificuldade de estabelecer sua visão teórica devido ao alto nível de subjetividade em conflito junto às equipes de psicólogos, na tentativa de legitimar o espaço da psicologia nas áreas de saúde. Dessa maneira, o caminho mais viável para se estabelecer a significação no contexto hospitalar é reconhecer sua multifuncionalidade, não recusando suas bases teóricas e compreendendo suas raízes históricas de forma mais plausível dentro de suas práticas. Portanto, a Psicologia no contexto hospitalar, partindo do pressuposto deque a integração do conhecimentodeve converter-se em uma tendência a explicá-lo, tenta expandir o saber biopsicossocial na compreensão da doença. O psicólogo atende com base na psicoterapia breve, focando-se em alguma ou algumas das seguintes abordagens: psicanalítica, gestaltista, cognitiva comportamentais, psicodramáticas, entre outras. Este profissional irá proceder à coleta de dados centrada no adoecimento, para que o paciente possa ter a sensação de ser acolhido, pois é sua queixa principal. Mas, nem sempre o foco é a queixa. “Entende-se por foco o material consciente e inconsciente do paciente, delimitado como área a ser trabalhada no processo terapêutico por meio de avaliação e planejamento prévios” (LEMGRUBER, 1997, p. 39). O foco será identificado no tratamento durante sua hospitalização, visando ajudar o paciente a superar com menos sofrimento o seu adoecimento, exigindo do psicoterapeuta uma atitude ativa de quem está voltado para determinado foco. Para isto, o psicoterapeuta necessita tomar alguns cuidados: interpretação seletiva, na qual se procura interpretar sempre o material do paciente em relação ao conflito focal, baseando-se no esquema dos triângulos de interpretação. Atenção seletiva (em oposição à atenção flutuante da técnica psicanalítica), por meio da qual se buscam todas as possíveis relações do material que o paciente traz com a problemática focal. Negligência seletiva, que vai levar o terapeuta a evitar qualquer material que, mesmo sendo interessante, possa desviá-lo demais da metaa ser atingida Estes pontos precisam ser seguidos para não se fugir do foco e evitar que o psicoterapeuta se deixe seduzir por conteúdos interessantes a serem trabalhados, mas que não cabem no momento da hospitalização, pois podem ser geradores de ansiedade. Vale salientar que o papel do psicólogo na pediatria depende, acima de tudo, das expectativas e estrutura da instituição, assim com as características do serviço no qual está inserido. Porém seu objetivo central é o de promover a saúde numa perspectiva mais comportamental e colaborar na implementação de programas que visem à promoção da saúde. Ou seja compreende-se que o psicólogo hospitalar tenha formação e olhar clínico voltados para o doente. Isto implica que não é sua linha teórica que o identificará, mais quem dela se beneficia. Finalmente, o psicólogo participa efetivamente da investigação direcionada aos fatores psicossociais associados à saúde e a doença, pois sua intervenção não será direcionada apenas à criança e à família, mas à criança saudável em estado de risco, não se restringindo a diagnósticos e avaliações, mas a forma preventiva para resolução de impasses de caráter psicossocial e psicológico que possam aparecer no contexto pediátrico, direcionando suas ações à criança, à família e a toda a equipe de saúde. Logo, a mediação do psicólogo na pediatria, será direcionada a um âmbito multidisciplinar no universo da criança, de sua família e do corpo técnico, atuando na prevenção da saúde dentro desses três níveis. Vale ressaltar que esse tríplice âmbito mostra a exigência de humanização relacionada aos cuidados com a criança (ROMANO, 1999). Nessa sistemática, cada criança, a partir de sua faixa etária, precisa de uma abordagem singular, que deverá envolver também sua família e outras pessoas significativas do seu meio social. Diante desse contexto, a criação do universo lúdico contribui para quebrar a característica hospitalar espacial predominantemente direcionada para diagnosticar e intervir no combate à doença (OLIVEIRA, 2008). O brincar, nessa perspectiva, é considerado como fator natural do indivíduo, sendo, assim, um meio de saudável de expressão humana (GIMENES, 2008) De acordo com vários autores, como Vygostsky, Piaget, Wallon e outros, a atividade lúdica é entendida como o fruto de atividades prazerosas, recorrentes em um inter espaço, onde a criança pode exercitar as suas funções de forma completa nos aspectos senso-motores, no nível da percepção, da afetividade e no nível social. Ou seja, o brincar é um agente estruturante legítimo e de manutenção da saúde mental, agindo como facilitador para a transmissão cultural emocional. Durante o brincar é permitido que a criança troque e vivencie experiências sentimentais e fantasiosas com prazer e seriedade (GIMENES, 2008). Nesse sentido, a criação de um espaço lúdico no ambiente hospitalar ajuda a quebrar o estigma ambiental, voltado para diagnosticar e intervir no combate à doença. A atividade lúdica se desenvolve depois como uma realização alegre e descontraída, na qual a criança tem a liberdade de fantasiar o que é, o que sente e expressar o que gostaria de ser num determinado momento (OLIVEIRA, 2008). Ou seja, esse espaço lúdico permite diagnosticar as necessidades psicossociais da criança, assim como melhorar sua saúde. A criança descobre que nas atividades lúdicas e plásticas tem um canal que dá vazão simbolicamente a seu mundo interno. Pois, quando a criança brinca, pode sentir- se melhor e mais forte, tanto como aquele que dela cuida e que a alimenta, etc. Ou seja, o faz-de-conta permite essa transposição de papéis de quem cuida para quem organiza. É, portanto, a partir da brincadeira que a criança mantém viva e ativa sua rotina e seus desejos, dando continuidade à sua história de vida. O lúdico favorece o prazer sobre o sofrimento, diminuído a tensão, beneficiando o processo de organização orgânica de forma física e psicológica. Durante o estágio, percebeu-se que a atividade lúdica é o meio natural de auto-expressão do mundo infantil, assumindo importante significado, já que evidencia como a criança se encontra em sua realidade interior e exterior. Com isso, o psicólogo propõe brincadeiras, o uso do brinquedo, do desenho, de histórias às crianças, como um meio de acessar as fantasias, os medos e anseios em relação à internação, recuperação e tratamento. O PAPEL DO PSICÓLOGO PEDIÁTRICO Os objetivos da intervenção psicológica num contexto pediátrico varia consoante a formação científica de cada psicólogo, mas o seu papel vai depender sobretudo da estrutura e expectativas da instituição em que trabalha, das características do serviço em que se insere (patologias específicas) e das características da população de utentes, mas os seus objetivos fundamentais, como referem Viana e Almeida (1990), são os de colaborar na implementação de programas de prevenção e promoção da saúde utilizando uma abordagem comportamental, a compreensão dos problemas psicológicos e de saúde da criança numa perspectiva desenvolvimentista, planear intervenções em crianças de risco, colaborar no tratamento, recuperação e apoio à criança doente e à sua família e, finalmente, participar na investigação aplicada dos fatores psicossociais asso- ciados à saúde e à doença. Vemos, assim, que o objetivo do psicólogo pediátrico não consiste em intervir exclusivamente na criança doente e família, mas também na criança saudável em risco e, não se restringe (como iremos ver) a uma ação de avaliação e diagnóstico, mas cada vez mais o seu objetivo centra-se no campo da prevenção (modificação dos comportamentos e/ou situações) e na intervenção precoce e rápida na resolução de problemas de índole psicológica ou psicossocial que surgem em contexto pediátrico, focalizando a sua ação na criança, família e equipa médica. Do modelo biomédico ao modelo biopsicossocial da saúde O modelo que tem sido dominante no mundo ocidental para tratar da saúde e da doença é o biomédico, que pressupõe que os responsáveis pelos problemasde saúde sejam os agentes etiológicos específicos que alteram as estruturas e/ou funções do corpo humano (Bowling, 2002). Essa visão, baseada na filosofia cartesiana, entende o corpo como uma máquina: se uma parte funciona mal, esta pode ser reparada ou trocada. Apesar de as doenças poderem causar transtornos psicológicos, os fatores psicológicos não são capazes de causá-los, de acordo com esse posicionamento. Mente e corpo são duas entidades consideradas separadamente. Em contrapartida, o modelo biopsicossocial compreende a saúde como fruto de uma combinação de vários fatores, incluindo características biológicas (por exemplo, predisposição genética), fatores de comportamento (ex: estilo de vida) e condições sociais (ex: influências culturais) (APA, 2006; Bowling, 2002; Suls & Rothman, 2004; WHO, 2004). Desse modo, a saúde e a doença não são opostas, e sim, compreendidas como um continuum. De acordo com esse modelo, o atual conceito de saúde proposto pela Organização Mundial da Saúde inclui o bem-estar físico, mental e social, e valoriza a percepção pessoal e subjetiva do indivíduo como um fator fundamental a ser considerado (WHO, 2004). No que se refere à saúde, portanto, existe a mudança de enfoque do modelo biomédico ao modelo biopsicossocial, que vai da fisiologia individual à cultura, das intervenções individuais às políticas públicas, da prevenção primária aos cuidados paliativos (Smith, Kendall & Keefe, 2002). A definição organicista da saúde está sendo superada por uma dimensão que é também psicológica e social, pois essa é a única via para o desenvolvimento de políticas de prevenção e promoção da saúde (González-Rey, 1997). O organismo humano é uma organização complexa e integrada, e existem diferentes maneiras de possibilitar um desenvolvimento saudável. A dimensão subjetiva, certamente, é um aspecto muito importante a ser avaliado. No entanto, para López-Roig, Pastor e Neipp (2003), o modelo biomédico segue sendo o paradigma dominante na área da saúde, apesar das mudanças ocorridas nos últimos anos, e, com ele, os avanços biomédicos são vistos como os únicos responsáveis pelas mudanças em saúde, para muitos profissionais. Intervenção no 1.° nível: Prevenção Primária e Promoção da Saúde Do ponto de vista preventivo, uma das tarefas do psicólogo pediátrico é transmitir à população (comunidade e não só às crianças) conhecimentos de modo a promover comportamentos saudáveis e intervir nos fatores e estilos de vida que incidem nas condutas de risco (I. Rodriguez, & J. Hermida, 1995) – hábitos alimentares, cuidados físicos de higiene, exercício físico, medi- das de segurança nos transportes e em casa, prevenção do alcoolismo, tabagismo e toxicodependência nos jovens, etc. para a conservação da saúde e prevenção da doença. Para Roberts (1993), a prevenção/promoção junto da criança tem 2 objetivos: melhorar o seu bem-estar enquanto criança e melhorar o seu futuro estatuto de saúde enquanto adulto. As ações de prevenção vão, então, basear- se na avaliação e intervenção precoce em crianças de risco para o desenvolvimento cognitivo e emocional (crianças com problemas de desenvolvi- mento, crianças de famílias desfavorecidas,...), através da identificação dos fatores físicos, comportamentais e do meio que podem levar ao aparecimento de doenças ou problemas psicológicos, favorecendo um desenvolvimento familiar saudável e minimizando desarmonias emocionais graves. Mas, como referem Viana e Almeida (1987), dado que os problemas de saúde infantil são in- dissociáveis das atitudes e comportamentos dos pais, é necessário que as ações de prevenção se façam também junto dos pais de forma a tornar mais eficaz qualquer intervenção com os filhos, procurando utilizá-los como agentes de modificação do comportamento dos filhos em relação à saúde. Assim, é necessário proporcionar-lhes ações pedagógicas (educação parental e treino de competências) com o objetivo de desenvolver neles padrões apropriados para um clima adequado a um bom desenvolvimento cognitivo, afetivo e social (L. Wright, 1993), prevenindo a saúde mental ou ensinando-os a lidar com os efeitos de determinada doença física no desenvolvimento do filho. A prevenção também se deve voltar para os técnicos de saúde para lhes transmitir as noções de desenvolvimento psicológico normal e de adaptação psicossocial à doença física e seus efeitos no funcionamento da criança e da família, sensibilizando-os para a importância da relação e comunicação com a criança doente e com os pais, implementando, se necessário, modificação de atitudes (formação) (A. Pires, & A. Pires, 1995). Intervenção nos 2.° e 3.° níveis: Abordagem da criança doente e Reabilitação Para que a abordagem da criança doente seja eficaz tem de ser realizada globalmente e, existindo uma relação estreita entre fatores comportamentais e saúde, é necessário a inclusão do psicólogo nas equipas interdisciplinares por este ser um elemento-chave no tratamento e reabilitação dos problemas quando estes já existem. A intervenção no 2.° nível tem a ver com a atuação sobre os indivíduos em que já existem fatores de risco. A interdisciplinaridade vai permitir à equipa intervir em várias frentes de forma a que os tratamentos médicos se complementem com os psicológicos, potenciando os seus efeitos. Um dos objetivos fundamentais do psicólogo pediátrico, neste nível, é intervir sobre comportamentos que propiciam os fatores de risco (I. Rodriguez, & J. Hermida, 1995). Num 3.° nível, o objetivo é ultrapassar, no possível, os efeitos dos transtornos de determinada doença, evitando as possíveis recaídas e efeitos secundários não desejados. Uma parte importante do trabalho do psicólogo nestas equipas multidisciplinares é a de trocar informações e colaborar estreitamente com os pediatras de modo a «ajudá-los a tolerar a espera e a entrar num tempo psicológico muito diferente do timing pediátrico habitual» (G. Mesibov, 1991), ser um facilitador da comunicação entre os diversos protagonistas, isto é, ajudar as equipas a comunicar com a família e a desenvolver um contrato entre eles de modo a clarificar expectativas futuras. Para Olson et al. (1994) o psicólogo pediátrico tem, portanto, um papel importante no seio da equipa na identificação e intervenção precoce de potenciais problemas de desenvolvimento e de comportamento nas crianças doentes. A sua ação faz-se tanto ao nível do internamento como no ambulatório e centra-se nas áreas de consultoria, consultas diretas (avaliação, consultas de subespecialidades) e apoio à criança doente e sua família. Consultadoria: é uma consulta psicológica indireta em que o psicólogo não trabalha diretamente com a criança mas com o pediatra ou outro técnico, fornecendo a este informações acerca de aspectos psicológicos específicos do paciente ou da sua doença. As informações do psicólogo vão servir para identificar/clarificar problemas (aspectos psicossociais da doença) e considerar opções para a resolução do problema. Huszti e Walker (1991) chamam, no entanto, a atenção para o facto de este tipo de consulta poder não ter sucesso se a informação dada pelo pediatra acerca do paciente estiver incompleta ou enviesada, sendo então necessária uma consulta direta (independente ou de subespecialidade) para uma melhor observação/avaliação da criança. – Consulta independente: a pedido do pediatra, o psicólogo observa a criança e avalia alguns aspectos específicos do seu funcionamento (desenvolvimento psicomotor e cognitivo, por exemplo), faz uma análise funcional do seu comportamento de modo a chegar a um diagnóstico que irá transmitir, juntamente com algumas recomendações terapêuticas, a quem fez o pedido. Esta consulta de avaliaçãoda criança é muitas vezes insuficiente se o problema for complexo, sendo então necessário mais contatos com a criança, numa perspectiva de intervenção/apoio breve. – Nas consultas de subespecialidades pediátricas (consultas em colaboração), o psicólogo procura contribuir para um melhor planeamento de intervenções terapêuticas que tomem em atenção, também, os fatores psicológicos e a adaptação da criança e família à nova e desestabilizante situação de doença. – O apoio psicológico à criança doente e família é feito numa perspectiva de intervenção breve e com fases distintas que têm a ver com a evolução da doença: crise emocional aquando do diagnóstico, preparação para o internamento, hospitalização e reabilitação. Numa l.ª fase, a ação do psicólogo centra-se no apoio aos pais cujo filho foi diagnosticado com doença grave ou crónica, procurando ajuda-los a ultrapassar a crise emocional desencadeada pelo conhecimento do diagnóstico e a adaptarem-se à nova situação, se necessário alterando os padrões de comportamento desajustados e aumentando as suas competências em situações frustrantes. Esta intervenção precoce com os pais é muito importante porque permite conscientizá-los das implicações da sua atuação no bem-estar do filho: a criança está comporta- mental, cognitiva e emocionalmente dependente do seu meio familiar, pelo que a sua reação vai também depender em grande parte (além da sua capacidade para compreender e dar significado à doença e para utilizar processos de confronto adequados) dos processos de construção de significações e de confronto utilizados pelos pais e outros adultos próximos (L. Barros, 1996). Junto da criança, a intervenção centra-se, como referem Viana e Almeida (1987), no ajustamento que deve ser feito nas explicações sobre as causas e consequências da sua patologia às características cognitivas da fase de desenvolvi- mento em que se encontra. Procura-se, assim, evitar o aparecimento de angústia motivada por justificações incompreensíveis e a formação de concepções deturpadas sobre a origem da doença (por exemplo, doença como punição de maus comportamentos). Seguidamente, numa 2.ª fase, a intervenção volta-se para a preparação psicológica da criança e família para o internamento (e cirurgia). Após uma explicação compreensível para a criança da sua doença, o psicólogo deve tentar dotar a criança de um conjunto de atitudes apropriadas que possibilitem a implementação de estratégias de tratamento (prevenir a não-adesão aos tratamentos). Durante o internamento da criança, o objetivo é fornecer apoio à criança e aos pais de modo a prevenir ou reduzir situações de ruptura emocional, acompanhar casos de dificuldades de adaptação à doença e prevenir problemas psicológicos e de desenvolvimento inerentes à doença, controlar a ansiedade e dor provocadas pela hospitalização ou por tratamentos invasivos. O apoio à família é importante porque esta pode ter um papel de moderador dos efeitos da doença na criança. Para Viana e Almeida (1987), também devem ser ouvidas as opiniões e atitudes desta em relação ao serviço e às condições da sua permanência e das possibilidades de comunicação com a equipa médica. Estes aspectos são determinantes para a criação de um ambiente físico e emocional de apoio à criança no internamento que permita atenuar a angústia sentida face à separação do meio familiar, da escola e face à dor e à imobilidade causadas pela doença. Seguidamente, numa 2.ª fase, a intervenção volta-se para a preparação psicológica da criança e família para o internamento (e cirurgia). Após uma explicação compreensível para a criança da sua doença, o psicólogo deve tentar dotar a criança de um conjunto de atitudes apropriadas que possibilitem a implementação de estratégias de tratamento (prevenir a não-adesão aos tratamentos). Durante o internamento da criança, o objetivo é fornecer apoio à criança e aos pais de modo a prevenir ou reduzir situações de ruptura emocional, acompanhar casos de dificuldades de adaptação à doença e prevenir problemas psicológicos e de desenvolvimento inerentes à doença, controlar a ansiedade e dor provocadas pela hospitalização ou por tratamentos invasivos. O apoio à família é importante porque esta pode ter um papel de moderador dos efeitos da doença na criança. Para Viana e Almeida (1987), também devem ser ouvidas as opiniões e atitudes desta em relação ao serviço e às condições da sua permanência e das possibilidades de comunicação com a equipe médica. Estes aspectos são determinantes para a criação de um ambiente físico e emocional de apoio à criança no internamento que permita atenuar a angústia sentida face à separação do meio familiar, da escola e face à dor e à imobilidade causadas pela doença. Numa última fase, o papel do psicólogo será o de apoiar a criança e família na sua recuperação para a retomada do seu projeto de vida, possibilitando a prevenção dos desajustamentos psicológicos paralelos ou subsequentes à estadia/tratamento na unidade de saúde, criando alternativas de reorganização (apoio psicoterapêutico individual ou familiar, envolvimento com serviços sociais, etc.) e reforçando as capacidades da criança e da família para lidarem com os vários aspectos da sua doença e com futuras adversidades. ÀREAS DE INVESTIGAÇÃO As áreas de investigação da Psicologia Pediátrica são muito variadas e têm a ver com as próprias áreas de intervenção do psicólogo pediátrico. Alguns exemplos são: • estudo sobre o impacto das vivências da hospitalização, da separação do meio familiar e da doença crónica no processo global de desenvolvimento da criança e da família; investigação sobre os fatores psicossociais associados à ocorrência de algumas doenças (etiologia) e sobre a interação dos mecanismos fisiológicos e psicológicos (influência recíproca dos processos somáticos e psicológicos) que visa o desenvolvimento e implementação de métodos e procedimentos que possam contribuir para a prevenção da doença e atenuar as consequências das disfunções crónicas e levar à criação de instrumentos adequados aos grupos em causa (V. Viana, & J. P. Almeida, no prelo). • noção de doença nas crianças, papéis parentais, eficácia dos tratamentos e problema da adesão/não-adesão ao tratamento. • identificação dos fatores que contribuem para que o doente e família lidem eficaz- mente com a doença de modo a ser facilita- da a sua adaptação e reabilitação (reações à doença), tendo para isso que identificar os estádios de desenvolvimento em que as crianças, adolescentes e famílias estão mais expostos ao risco de desenvolverem problemas psicológicos específicos. • relação técnicos de saúde-família, etc. Psicologia da saúde A Psicologia da saúde é parte da mudança de paradigma do modelo biomédico de atenção à saúde para o modelo biopsicossocial. É uma disciplina ampla, que surgiu da necessidade de novos parâmetros em saúde e que manifesta as transformações pelas quais passa a sociedade (Angerami-Camon, 2000; Castro & Bornholdt, 2004; Remor, 1999; Smith & Suls, 2004). Johnston e Kennedy (1998) a definem como o estudo dos processos psicológicos e comportamentais na saúde, enfermidade e cuidados com a saúde. Tem como foco os problemas físicos de saúde e traz, como resultado, novas perspectivas teóricas, modelos de medidas e delineamento de intervenções. Inicialmente, teorias e métodos de outras áreas básicas da Psicologia foram utilizados para tratar o tema da saúde física, e avaliações e intervenções de outras áreas foram aplicadas no contexto da saúde (Smith & Suls, 2004). No entanto, com o aumento expressivo no número de pesquisas e com o crescimento dos serviços clínicos de saúde, esse campovem se desenvolvendo muito nos últimos anos. O grande avanço da ciência biomédica e da Psicologia deu novas e melhores oportunidades para situar o trabalho em Psicologia da saúde. Devido às mudanças que essa disciplina está passando e a seus campos de confluência com a Medicina, saúde pública e fatores econômicos associados aos serviços de saúde, são necessários recursos adicionais para pesquisas e educação para a saúde. No Brasil, a Psicologia da saúde se confunde com a chamada Psicologia hospitalar (Castro & Bornholdt, 2004; Chiattone, 2000; Yanamoto, Trindade & Oliveira, 2002). No entanto, a Psicologia da saúde é muito mais ampla, pois abarca intervenções no âmbito primário, secundário e terciário, que podem ser realizadas não somente no hospital mas também na comunidade, em escolas, clínicas, etc. A Psicologia hospitalar seria, então, a atuação do psicólogo que utilizasse os conhecimentos da Psicologia da saúde dentro do hospital. A provocativa premissa inicial de que as experiências psicológicas e as condutas sociais das pessoas estão relacionadas, de maneira recíproca, com os processos biológicos permitiram avanços importantes no campo da Psicologia da saúde nos últimos vinte e cinco anos, estimulando inovações no seu delineamento e a implementação de programas de promoção para a saúde (Suls & Rothman, 2004). Como ponto de partida, o modelo biopsicossocial tem tido grande êxito, e está dando oportunidade, a muitos psicólogos da saúde, de abordarem o funcionamento humano a partir de vários níveis e sistemas. Esses avanços no campo estão sendo complementados pelo aumento do número de psicólogos da saúde em universidades e escolas médicas e pelo aumento do apoio a investigações psicológicas sobre condutas relacionadas à saúde. Os psicólogos da saúde estão realizando importantes avanços na identificação das preocupações e necessidades primárias associadas às doenças crônicas, problemas psicofisiológicos, sintomas médicos persistentes e no desenvolvimento de avaliações válidas para medir resultados clínicos em várias culturas (Nicassio, Meyerowitz & Kerns, 2004). Os psicólogos também estão obtendo sucesso em adaptar tratamentos psicológicos para sua aplicação na saúde, como intervenções destinadas a melhorar comportamentos de educação para a saúde, redução de estresse, bloqueio emocional e auto- regulação. Em algumas dessas áreas, são examinadas a importância do gênero, idade, diversidade racial e étnica, etc., e as intervenções variam de uma abordagem genérica a uma abordagem específica. Fatores de influência na doença, como sua duração, ambiente cultural, fatores pessoais, etc., são importantes, e devem ser considerados como moderadores no desenvolvimento dessas intervenções. Existe uma necessidade geral de aplicar, de maneira mais eficiente, a pesquisa em Psicologia da saúde à prática clínica e às políticas de saúde, e vice- versa (Remor, 1999; Suls & Rothman, 2004). É frequente encontrar estudos importantes com possibilidades de aplicações práticas que não são implementadas. Porexemplo, identificam-se fatores de risco para o uso do cigarro em adolescentes, mas não se realizam estudos que avaliem intervenções nos hábitos de saúde dessa população. Do mesmo modo, alguns pesquisadores não sabem como seus resultados e recomendações podem ter efeitos práticos efetivos. Esse tema é curioso, pois a Psicologia da saúde amadureceu o suficiente para apoiar e gerar avaliações e intervenções que proporcionem aos profissionais um trabalho eficiente que compete com a abordagem biomédica tradicional. De acordo com Nicassio, Meyerowitz e Kerns (2004), os obstáculos que interferem na aplicação prática dos conhecimentos obtidos nas investigações nesse campo são basicamente três: falta de conhecimento por parte dos investigadores sobre a aplicabilidade e a relevância clínica das intervenções que traçam, a relutância dos profissionais em aceitar o valor efetivo de intervenções baseadas em teorias ou falta de conhecimentos para aplicá-las e as barreiras institucionais diversas, como a falta de pessoal apropriado para levar adiante os projetos, as limitações financeiras, etc. Segundo Johnston e Kennedy (1998), deve haver um treinamento específico dos pesquisadores em relação aos modelos e serviços de atenção ao paciente, assim como os psicólogos clínicos devem adquirir conhecimentos e ter especialização numa prática que vá além do trabalho clínico tradicional individual. Os estudos e a aplicabilidade da Psicologia da saúde podem ser considerados principalmente em três âmbitos: 1) manejo da doença crônica ou da doença de longo tratamento (câncer, diabete, etc.); 2) tratamento dos problemas psicofisiológicos (como hipertensão, insônia, dor de cabeça causada pela tensão, etc.), e 3) cuidado com os pacientes com sintomas refratários (como a dor), com comorbidades psicológicas (como ansiedade, depressão), e a pacientes que devem ser submetidos a uma cirurgia ou a outros procedimentos médicos estressantes (Nicassio, Meyerowitz & Kerns, 2004). Justamente para ser capaz de realizar esse tipo de trabalho, a formação do psicólogo da saúde deve contemplar, fundamentalmente, as bases biológicas, sociais e psicológicas da saúde e da doença, a avaliação e a intervenção em saúde, as políticas de saúde e organização, o trabalho interdisciplinar, os temas legais e éticos e conhecimentos de metodologia de pesquisa em saúde (Besteiro & Barreto, 2003). O objetivo primordial da pesquisa em saúde é compreender como as pessoas adoecem, suas percepções, comportamentos e experiências relacionadas à saúde e aos efeitos da doença, e sua experiência com os serviços de saúde, incluindo o afrontamento e o manejo de estratégias, etc. (Bowling, 2002). No ambiente hospitalar, Ulla e Remor (2003) destacam algumas razões pelas quais o psicólogo da saúde deve realizar pesquisas sistemáticas: para melhorar a atenção aos doentes e certificar-se de que as intervenções realizadas sejam as mais eficazes, para diminuir os custos em recursos materiais e humanos e para aumentar os conhecimentos sobre o comportamento humano em situação de saúde e doença. Para que os estudos realizados correspondam ao modelo biopsicossocial, é necessário, de acordo com Suls e Rothman (2004), que quatro domínios principais sejam contemplados _ aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Uma revisão dos estudos nesse campo, realizada pelos autores, constatou que os psicólogos se esforçam para atuar nesse modelo, mas as pesquisas ainda enfatizam somente os fatores psicológicos e sociais ou os fatores psicológicos e biológicos. O impacto e o significado futuro da Psicologia da saúde dependerá da efetividade do trabalho dos pesquisadores, dos clínicos, das políticas públicas (Nicassio, Meyerowitz & Kerns, 2004) e da habilidade para integrar a avaliação e o manejo da saúde física e mental nos cuidados médicos (Smith, Kendall & Keefe, 2002). Devido à natureza desse campo, supõe-se que a abordagem interdisciplinar seja fundamental para o desenvolvimento de intervenções que devem ser derivadas de evidências empíricas, sensíveis às diferenças de gênero, status socioeconômico e educacional, dentre outras variáveis, em diversos contextos e ambientes. PSICÓLOGO HOSPITALAR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES O psicólogo hospitalar protagoniza sua atuação dentro dos limites institucionais regido por regras, condutas, rotinas e demais atividades que seguem uma determinada ordem, limitando, assim, suas possibilidades de atuação. Essa rotina gera impacto na criança, tendo esta que se adaptar a uma nova série de exigências no ambiente hospitalar. Um outro aspecto já citado e que repercute na criançaé a associação dos procedimentos clínicos e de exames à figura do profissional de saúde, de forma que muitas crianças passam a ter aversão a pessoas de bata branca. Algumas relacionam a imagem da “Bata Branca” às situações que não lhe foram gratas como a administração de injeções ou exames dolorosos que foram efetuados nelas durante a internação, de forma que o reflexo da bata branca é influenciado por todo o ambiente em que a criança se encontra. Que soluções poderiam ser dadas a esta situação? Poderia ser usado na pediatria uma outra cor, ou cores distintas pelos profissionais de saúde? Usando outra opção de cor será que enfraqueceria ou diminuiria esta associação? Ou, então, criar uma atividade lúdica, na qual essas associações poderiam ser desmistificadas? Seria isso viável? Também nesse aspecto se faz necessária uma profunda reflexão acerca das bases teóricas em que assunto o tratamento médico e a formação deste profissional, pois ele deve comprometer-se socialmente e estar preparado para se defrontar com os problemas da saúde hospitalar, assim como estar apto para atuar em conjunto com outros profissionais no meio institucional. O estado precário da saúde da população é um entrave dentro do saber psicológico, pois exige do profissional uma revisão de seus valores pessoais, acadêmicos e emocionais. Nesta perspectiva, o contexto hospitalar difere do contexto de aprendizagem e orientação acadêmica, uma vez que ali se percebe uma realidade desumana nas condições de saúde da população que é alvo constante de injustiças sociais e aspira por um tratamento hospitalar digno. Os doentes são não raros obrigados a aceitar como normais, todas as formas de agressão com as quais se deparam em busca da saúde (ANGERAMI- CAMON,1995). Como minimizar os reflexos psicológicos neste cenário? O normal é a espera abusiva em filas por um atendimento, retornos frequentes às instituições hospitalares levados por encaminhamentos, atendimentos curtos para demandas enormes, o que torna o atendimento insatisfatório e o diagnóstico impreciso. Os profissionais na área de saúde assistem desolados a esse estado de coisas. Logo, o psicólogo vê-se dentro de uma rede de problemas institucionais e sociais e, por vezes, sem a real dimensão e consciência dessa realidade, pois o hospital desmobiliza a suposta segurança do consultório tradicional, levando o profissional a realizar seus atendimentos entre macas, ao lado de leitos, exigindo um afastamento deste modelo tradicional de atuação clínica e a construção de uma nova postura profissional, estruturada na psicoterapia breve, que direciona o psicólogo para um foco, que envolve aspectos os psicodinâmicos do indivíduo, a internação e o processo de adoecimento, levando-os a uma atenção seletiva e a uma escuta que necessita afastar-se de conteúdos “sedutores” que poderiam ser trabalhados num contexto psicoterápico de longa duração. Trabalhar tais conteúdos poderia levar a um aumento da ansiedade, interferindo no enfrentamento da doença. Isso poderia deixar em aberto conteúdos a serem refletidos, pois a passagem do paciente pelo ambiente hospitalar é curta, a não ser nos casos de problemas crônicos. Nota-se, então, a necessidade de um modelo teórico metodológico que conduza os psicólogos a uma prática mais integradora. Ou seja, o espaço da doença passa a determinar as regras, as atividades, as trocas, as descobertas, os novos sentimentos em relação às pessoas e suas diferenças sociais, assim como as novas rotinas e vivências, tanto para os pacientes, como para os profissionais de saúde. Sendo assim, no contexto atual um elevado número de psicólogos procura aprimorar suas ações em saúde participando com afinco das problemáticas da área, fornecendo suporte no seu campo de atuação, buscando alcançar de maneira efetiva as demandas crescentes de saúde, para só então solidificar de forma teórica o exercício de sua profissão. Requer-se, pois, o reconhecimento das necessidades dos pacientes, familiares e das equipes de saúde para melhor posicionamento e estruturação das suas tarefas. É um caminho para um acompanhamento global e humanizado. Além destes pontos, não se pode esquecer que a atividade do psicólogo requer da parte deste grande maturidade que se expressa, por exemplo, na sua posição perante a morte e na tomada de consciência de sua finitude, da condição efêmera do seu viver, bem como uma atenção a suas questões pessoais que devem ser trabalhadas num espaço psicoterapêutico. As possibilidades do psicólogo hospitalar infantil devem ter como foco de atenção as relações que se estabelecem entre as pessoas, a doença e a instituição e o objetivo comum deve ser buscar procedimentos necessários que viabilizem uma atuação integrada da equipe. O psicólogo obtém informações sobre aspectos clínicos e sobre a conduta do paciente em relação à equipe e deve atuar num nível preventivo e educativo, por meio de mensagens e informações que visem a modificação dos fatores possíveis de gerar tensão no ambiente, com o intuito de reduzir situações traumáticas Psicologia pediátrica O termo Psicologia pediátrica (Pediatric Psychology) surgiu, pela primeira vez, em 1968, quando cientistas e profissionais interessados no cuidado da saúde de crianças, adolescentes e suas famílias, ao reconhecerem a necessidade de avaliar e intervir junto esses indivíduos, se reuniram para formar a divisão 54 da American Psychological Association (APA, 2006). Desde então, essa área tem crescido e se ampliado. A definição atual de Psicologia pediátrica se refere à aplicação dos conhecimentos da Psicologia da saúde para a criança, adolescente e suas famílias. Portanto, ela pode ser considerada uma subárea da Psicologia da saúde, que abrange o atendimento clínico, a pesquisa e o ensino (Miyasaki & cols., 2002). A divisão 54 da APA tem contribuído ativamente para o avanço da área, e publica o periódico Journal of Pediatric Psychology, de grande reconhecimento internacional. Segundo essa sociedade (APA, 2006), os profissionais da área atuam, de maneira multidisciplinar, em hospitais pediátricos, clínicas infantis e centros de saúde, assim como na clínica tradicional ou área acadêmica. No Brasil, não existe uma sociedade formada por psicólogos que trabalham na área; no entanto, a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP, 2006) tem um grupo de trabalho sobre Psicologia pediátrica que tem contribuído para o avanço desse campo de estudo no País. A formação do psicólogo que trabalha em Psicologia pediátrica deve contemplar vários domínios (Spirito, Brown, D'Angelo & cols., 2003): ciclo evolutivo vital, psicopatologia do desenvolvimento, avaliação da criança, do adolescente e de sua família, estratégias de intervenção e métodos de investigação e sistemas de avaliação, o papel das várias disciplinas relacionadas com a atenção à infância, prevenção, apoio familiar e promoção da saúde, aspectos sociais que afetam a criança, o adolescente e sua família e processo da doença e manejo médico, entre outras. Assim, as atividades que pode realizar um psicólogo que atua na área são bastante amplas, incluindo a atuação em equipes interdisciplinares para acompanhar crianças doentes, a preparação psicológica para cirurgia e outros procedimentos médicos, a avaliação psicológica, a realização de grupos de orientação a pais de crianças com problemas específicos de saúde, grupos de apoio, e a atuação em atividades de extensão à comunidade. (Maloney, Clay & Robinson, 2005; Miyasaki & cols., 2002). Segundo Sierra e Bermúdez (2005), a formação em Psicologia pediátrica na América Latinaé deficiente, e não está presente nos currículos da grande maioria das universidades. CARACTERÍSTICAS DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JUNTO À CRIANÇA Quando se refere a atuação, Romano (1999) apud Baptista (2010, p. 180) diz que “o psicólogo no ambiente hospitalar deve ser um observador qualificado, além de ser intérprete flexível dos anseios do paciente e da sua família e das normas da instituição, sendo encarado como um agente de transformação no processo reabilitação.” Baseando-se nessa característica da atuação o psicólogo no ambiente hospitalar, precisa cada vez mais melhorar os procedimentos voltados para o público infantil, pois levando em consideração o que foi pontuado por Altamira, observa-se que são muitos os desafios que esse público enfrenta ao ser hospitalizado, ela afirma que: [...], entende-se que a criança ao ser hospitalizada passa por diversos desafios, que até então eram desconhecidos por ela, podendo estes influenciar diretamente no seu desenvolvimento. Dentre os principais, estão o afastamento do seu ambiente (lar), o afastamento dos pais, dos objetos de estimação, a tensão emocional, o medo de ser abandonada, o medo de perder o pais ou o afeto deles, o ambiente hostil do hospital, e inúmeras experiências, que não sendo bem direcionadas, repercutirão de forma negativa na sua experiência de hospitalização. No procedimento com criança o psicólogo precisa ser concreto, porém é necessário que haja um prévio conhecimento de como essa criança elabora os acontecimentos nesse novo ambiente, que é o hospital, a fim de evitar fatores que desencadeiem reações negativas, como por exemplo, a prolongação da internação pela não aceitação do tratamento estabelecido, em que paciente e a própria família do mesmo acaba atribuindo um valor simbólico não previsto pela equipe médica. Nesses casos se faz necessário a atuação do psicólogo, o qual deve considerar que, “[...] o paciente hospitalizado não é semelhante ao cliente de consultório, visto que não procurou o psicólogo por demanda espontânea e não apresenta quadros clássicos de psicopatologia. [...]”tem uma demanda psicológica específica. A doença crônica na infância e a Psicologia pediátrica A doença crônica infantil pode ser vista como um estressor complexo, em que se somam as hospitalizações, as vivências de dor, as explorações médicas, os remédios, as restrições nas atividades diárias, os temores, etc. (Trianes, 2002). Seu impacto sobre a criança dependerá da duração, sintomatologia, gravidade, visibilidade da doença, tipos de intervenções médicas que requer, características da criança e das relações familiares. A hospitalização pode ter consequências imediatas para algumas crianças, como o aparecimento de comportamentos agressivos, pesadelos, mudanças na conduta, medo de separar-se de seus pais, etc. É importante examinar se os comportamentos observados nas crianças doentes são primários ou secundários à enfermidade, para melhor compreender suas reações (Lewis & Kellet, 2004). O conceito de doença, para crianças e adolescentes, passa por um processo evolutivo que está mais diretamente relacionado ao seu nível de desenvolvimento cognitivo e à idade em que passou pela experiência (Rodríguez-Marín & cols., 2003). No entanto, o estudo realizado por Torres (2002) sobre a relação entre nível cognitivo e conceito de doença e morte com crianças doentes crônicas e crianças saudáveis mostrou resultados mais complexos. Foi encontrada uma defasagem cognitiva nas crianças doentes com relação às crianças saudáveis e um impacto desestruturante da doença na aquisição do conceito de morte no período pré-operacional. Por outro lado, quando as crianças atingem o nível das operações concretas, a situação se modifica, e os dados revelaram que a doença funcionou como um fator de maturação do conceito de morte. Assim, a compreensão que a criança tem de sua doença é um dos fatores importantes para a sua adaptação ou não à situação (Trianes, 2002). A criança pode entender a doença como uma mudança, uma perda irreparável e irreversível, um inimigo, um castigo por alguma falta cometida, uma oportunidade para não ir à escola, uma estratégia para atrair a atenção ou uma oportunidade para o crescimento e o desenvolvimento pessoal, entre outros. Hospitalizações, procedimentos médicos e cirurgias são eventos estressantes para crianças e adolescentes em todas as idades (Aley, 2002). Essas experiências são geralmente traumáticas, e trazem, como resultado, um sentimento de insegurança, de falta de ajuda, de medo intenso e de ansiedade. A repetição de hospitalizações e experiências médicas estressantes pode prejudicar os desenvolvimentos cognitivo, emocional, físico e social da criança. É essencial que os profissionais de saúde saibam reconhecer as situações potencialmente estressantes para introduzir intervenções apropriadas e facilitar a utilização do potencial de crescimento de cada criança. Ao mesmo tempo, as hospitalizações provocam situações que permitem, ao psicólogo, observar o efeito das separações da criança com seus progenitores (Bowlby, 1983). Os efeitos disso dependerão muito do tempo da separação, com quem e em que lugar fica a criança, sua idade, experiências prévias, etc. Para Bowlby (1983), o desapego frente à separação deve ser entendido como um processo defensivo por parte da criança. O recurso interpessoal mais importante que as crianças podem ter frente às situações de doença, dor e hospitalização é o apego seguro aos seus cuidadores (Trianes, 2002). São eles que vão ajudá-la a enfrentar as dificuldades e a modificar seu estilo de vida, especialmente quando a criança é pequena. Com o passar do tempo, as crianças assumem, pouco a pouco, sua própria capacidade de lidar com a situação. O ajustamento à doença crônica tem sido relacionado com o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e de defesas específicas por parte da criança (Eiser, 1985). As habilidades de enfrentamento infantil são diferentes das habilidades dos adultos, especialmente porque as crianças têm um repertório limitado de estratégias devido ao seu estágio de desenvolvimento e a sua pouca experiência (Trianes, 2002). Eiser (1985) caracteriza as estratégias em cinco tipos: 1) funções cognitivas de memória, linguagem e pensamento: fazem com que a criança esteja apta para aceitar as limitações impostas pela doença, assumir a responsabilidade de seu próprio cuidado e cooperar com o manejo médico; 2) atividades compensatórias físicas e intelectuais: desenvolvimento de novas áreas de interesse e de funcionamento adaptativo; 3) controle apropriado das emoções: a criança pode aprender a expressar a frustração e a raiva associada à doença de maneira socialmente aceitável e em ocasiões apropriadas; 4) controle do isolamento: é apropriado que a criança tenha atividades sociais, e 5) estratégias defensivas para o manejo da doença: o grau de negação do problema associado à doença pode ser útil em alguns casos, quando a criança tem que passar por uma situação extremamente ansiogênica. Trianes (2002) afirma que, frente aos estressores médicos, as crianças costumam utilizar, com mais frequência, as estratégias de acomodação à situação, rebelando-se pouco frente à situação e aceitando sua condição. O jogo é a maneira pela qual a criança expressa sua compreensão do mundo, como se desenvolve e aprende, e elabora, ao mesmo tempo, seu luto e experiência pessoal. O jogo pode favorecer o desenvolvimento da criança em situações de doença e hospitalização e ter um efeito terapêutico (Aley, 2002; Quiles, Ortigosa & Méndez, 2003). No entanto, o jogo terapêutico é diferente de outros tipos de jogos, por ser facilitado por