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CURSO: TÉCNICO EM AGROINDÚSTRIA Disciplina: Agricultura Geral Professor: Alan Feitosa (Engenheiro Florestal) Fatores climáticos e sua importância na agricultura. Uma visão geral dos principais elementos climáticos que afetam a produção agrícola A Climatologia Agrícola tem por finalidade o estudo do clima relacionando-o à produção agrícola, procurando otimizar as condições ambientais em busca de melhor produtividade agrícola. A classificação das plantas baseada na duração do ciclo tem demonstrado inconsistência. Isto se deve ao fato de que o aparecimento de uma fase fenológica, bem como a duração dos subperíodos e ciclos das plantas estão estreitamente associados às variações das condições ambientais e às características de cada espécie vegetal. Baseado nisto, as predições das fases e a classificação dos ciclos das plantas devem ser realizadas em função dos elementos ambientais que exercem ação sobre o desenvolvimento vegetal. Desse modo, o conhecimento da planta desejada e do clima de uma determinada região permite o planejamento adequado da aplicação de fertilizantes em cobertura, manejo da irrigação para os diferentes subperíodos, planejamento das atividades de colheita, ou seja, permite realizar o cultivo de espécies agrícolas na época em que propicie maior rentabilidade e qualidade de frutos e grãos. Climatologia agrícola Estuda os fenômenos climatológicos ligados a produção animal e vegetal, tentando estimar os fenômenos para evitar perdas críticas na produção. As atividades agropastoris estão fortemente sujeitas aos efeitos do tempo e das condições climáticas. Desse modo, a produção agrícola no contexto da diversidade climática é bastante vantajosa. Graças a ela o Brasil pode vir a produzir em seu território inúmeras variedades de produtos agrícolas, visto que possui uma área territorial que abrange os tipos de clima: tropical, subtropical, equatorial, semiárido, tropical de altitude e tropical atlântico. Mesmo que o homem conquiste avanços tecnológicos e científicos, o clima continua sendo a principal variável da produção agrícola. Portanto, o conhecimento é fundamental para que se obtenha uma boa produção. Assim, será ressaltado a definição de tempo e clima, seus principais fatores e elementos, relacionando-os com a climatologia agrícola. Clima É o conjunto de fenômenos atmosféricos, também ditos meteorológicos, característicos que ocorrem em uma determinada região e época, obtido com históricos de observações de 30 anos. Ex.: regime pluviométrico, temperatura média, duração do dia, direção predominante dos ventos (Figura 1.1). Principais fatores climáticos Cada região tem seu próprio clima, em função das condições físicas ou geográficas, isto porque os fatores climáticos modificam os elementos do clima. Por exemplo, o clima de Recife é diferente do clima de São Paulo, devido a um conjunto diferenciado de fatores climáticos, como: • Latitude. • Altitude. • Relevo. • Continentalidade e maritimidade. • Correntes marítimas. • Circulação geral da atmosfera e massas de ar. Elementos climáticos São variáveis meteorológicas que caracterizam o clima, as quais variam no tempo e no espaço e são influenciados pelos fatores climáticos, como: • Temperatura do ar. • Radiação solar. • Ventos. • Umidade do ar. • Precipitação. • Pressão atmosférica. Tempo O tempo é o estado da atmosfera de um lugar em um dado instante, podendo mudar constantemente. Em um mesmo dia pode fazer vários tipos de tempo, como por exemplo, chover, ventar e esfriar. O tempo que normalmente ocorre em uma determinada região e época faz o clima dessa região e época. Para entendermos melhor esta diferença entre o clima e o tempo vamos imaginar que você está em sua cidade e começa a chover, você diria que este é um clima chuvoso ou um tempo chuvoso? Certamente é um tempo chuvoso, pois está chovendo nesse instante, mas logo a chuva vai passar. Para definir o clima de uma cidade, devemos considerar o que acontece naquele município o ano todo: Em Recife, nos meses de março a julho costuma fazer mais frio e chove mais, em dezembro, janeiro e fevereiro faz mais calor e chove menos e assim por diante. Podemos dizer que é um clima frio? Não, porque faz frio no inverno, mas os rios não congelam. Assim, o clima de Recife é tropical úmido (Ams na classificação de Köppen) com temperaturas elevadas e alta umidade, especialmente na região costeira. As temperaturas médias anuais ficam entre 25°C e 28°C, com pouca variação ao longo do ano, e a umidade relativa do ar é alta. As chuvas são mais frequentes entre os meses de outono e inverno (março a julho), enquanto os meses de outubro a dezembro tendem a ser mais secos. A cidade não possui grandes variações sazonais, com temperaturas elevadas e alta umidade durante todo o ano. Conhecer o clima e o tempo de um determinado local oferecem, aos agentes envolvidos na produção agrícola, várias vantagens, tais como: • Programar a produção, como determinação da melhor época de plantio. • Conhecer os períodos críticos para as culturas, como épocas de deficiência hídrica. • Previsão de ocorrência de pragas e doenças. • Fornecimento de subsídios governamentais para a colonização de novas áreas. • Auxilia na introdução de novas espécies e cultivares. • É usado para elaboração do zoneamento agroclimático. • Fornece subsídios para planejamento, cálculo e execução de obras de irrigação. • Conhecendo o clima e o tempo de uma região, tem-se a vantagem de escolher espécies e cultivares que se adaptam a mesma. • Localização de jardins de acordo com as espécies usadas. • Produzir em épocas de entressafra. • Instalação de medidas de proteção, como estufas, sombrites, quebra-vento, entre outras. Zoneamento agroclimatológico Devido às grandes variações nas condições climáticas, nas características dos solos e das culturas é sempre recomendável que antes de se realizar qualquer cultivo se verifique ou se faça o zoneamento agroclimatológico. O mesmo consiste de acordo com as principais variáveis relativas à cultura, ao clima e ao solo, permitindo se a mesma pode ou não ser cultivada em nossa região, e se possível sua época recomendada para o plantio e quais os riscos climáticos a que está sujeito tal cultivo. O zoneamento agroclimático é uma ferramenta técnica-científica que utiliza informações sobre clima, solo e outros fatores ambientais para identificar áreas com potencial para diferentes culturas agrícolas. Permite determinar quais culturas são mais adequadas para cada região, com base em suas necessidades climáticas e de solo. O Zoneamento Agroclimático para o estado de Pernambuco visa otimizar o uso da terra, identificando áreas com potencial para diferentes culturas e atividades agrícolas, considerando fatores como clima e solo, e minimizando riscos. O Zoneamento Agroecológico do Estado de Pernambuco (ZAPE), por exemplo, fornece informações detalhadas sobre o potencial produtivo e a fragilidade das terras, auxiliando gestores e produtores. O mapa abaixo mostra o resultado do trabalho para o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para a produção da palma forrageira no estado de Pernambuco que foi realizado por Pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) em 2018. A palma forrageira é uma das espécies de maior relevância para a produção agropecuária no Semiárido, com área plantada estimada em 600 mil hectares. A atualização do zoneamento agrícola para esta cultura visa a minimizar os riscos relacionados aos fenômenos climáticos adversos, permitindo que cada município zoneado tenha identificada a melhor época de plantio nos seus diferentes tipos de solo. Também é utilizado pelas instituições financeiras para definição dos programas de financiamento e de seguro rural, além de contribuir para o planejamento dos produtores.Elementos Climáticos e sua influência na agricultura Na agricultura, elementos climáticos como temperatura, precipitação (chuva), umidade do ar e do solo, radiação solar e ventos são cruciais para o desenvolvimento das culturas. A temperatura afeta a germinação, o crescimento e a maturação das plantas, enquanto a chuva fornece a água necessária, mas em excesso ou falta pode ser prejudicial. A umidade do ar e do solo influencia a transpiração das plantas e a incidência de doenças, e a radiação solar é fundamental para a fotossíntese. Os ventos podem tanto auxiliar na polinização quanto causar danos físicos às plantas. Temperatura A temperatura é a medida da quantidade de calor em que se encontra a atmosfera, o solo, a água, as plantas, os objetos. Podemos expressar a temperatura da seguinte forma: máxima, mínima, média e normais. Existem várias maneiras de calcular a temperatura média diária, porém a mais utilizada é a seguinte: Onde: T média – temperatura média T min – temperatura mínima T max – temperatura máxima A temperatura como um elemento climático exerce influência no desenvolvimento, frutificação e na colheita culturas agrícolas. Torna-se fundamental na delimitação das áreas favoráveis para a implantação de uma espécie agrícola. Devem se evitar áreas nas quais as variações de temperatura são constantes. Como por exemplo, a manga não se reproduz nas áreas de clima temperado, já a maçã se adapta em áreas de baixa temperatura. Como exemplo, o desenvolvimento das plantas cítricas assim como as demais espécies, são influenciadas pela temperatura. Com isso Wrege apud Erickson (1968) “a temperatura base, abaixo do qual os citros paralisam o crescimento é de 12,8ºC; o crescimento das plantas também não ocorre em temperaturas superiores a 37ºC; e a temperatura ideal varia de 21 a 32ºC, os citros apresentam tolerância a baixas temperaturas”. Efeitos da alta temperatura a) Ressecamento do solo – perda de umidade pelo solo devido ao calor. b) Volatização do nitrogênio dos adubos nitrogenados – causa a evaporação do nitrogênio, principalmente de adubos como a ureia, devido ao calor. c) Deriva de defensivos agrícolas – a alta temperatura provoca a formação de correntes ascendentes que impedem a deposição do produto pulverizado sobre a cultura ou sobre o solo, facilitando que o mesmo seja carregado pelo vento para outros locais que não aquele para o qual se destinava. d) Volatização de herbicidas já aplicadas no solo. e) Evaporação da água de irrigação – principalmente na irrigação por aspersão (semelhante à chuva) acarretando perda de água e prejuízo econômico. O vento, a umidade relativa do ar e a temperatura são os principais fatores climáticos que afetam o uso da irrigação por aspersão. O vento afeta a uniformidade de distribuição dos aspersores e, juntamente com a temperatura e a umidade relativa do ar, afetam a perda de água por evaporação. f) Paralização do crescimento da planta – todas as culturas apresentam uma temperatura máxima por elas tolerada, por exemplo, a maçã que paralisa suas atividades com 35ºC. g) Aborto floral – como acontece, por exemplo, com a maçã, sob temperaturas acima de 28°C conforme Fioravanço et al. (2012). Efeitos da baixa temperatura a) Na fecundação das flores – temperaturas muito baixas podem inibir a fecundação das flores, provocando quedas na produtividade. b) Paralização das atividades vitais da planta – cada cultura requer uma temperatura mínima para crescer e se desenvolver, esta chamada temperatura base. Quando a temperatura se mantém abaixo disto, não ocorre o desenvolvimento vegetativo e o ciclo cultural fica mais longo. c) Quebra de dormência em frutíferas de clima temperado – as culturas necessitam de um determinado número de horas de frio (ou uma soma de horas com temperaturas menores do que 7,2°C) para brotar e continuar seu desenvolvimento. Temperatura do solo É a medida da quantidade de calor em que se encontra a camada de solo explorada pelas raízes das plantas cultivadas Características do solo que afetam sua temperatura A temperatura do solo depende, basicamente, da sua transferência de calor, e de sua quantidade de calor absorvida, os quais por sua vez dependem do tipo do solo. Além disso, essa variação é afetada pela interação com outros fatores, dentre eles: • Cor do solo – solos escuros absorvem mais radiação solar e se aquecem mais do que os claros. • Textura do solo – solos arenosos aquecem-se mais rapidamente na camada superficial de solo, do que os solos argilosos; entretanto, solos arenosos também se resfriam rapidamente, o que não acontece com os solos argilosos. Durante a noite, solos arenosos resfriam-se mais do que os solos argilosos. • Cobertura do solo – reduz as variações térmicas do solo, impedindo um aquecimento excessivo durante o verão e/ou durante as horas mais quentes do dia, bem como a perda de calor pelo mesmo. • Horário – por volta das 14 horas o solo está com a maior temperatura em relação aos outros períodos do dia. • Profundidade do solo – na camada superficial ocorrem maiores oscilações térmicas do que em camadas mais profundas. Importância da temperatura do solo A temperatura do solo é um fator de extrema importância para o desenvolvimento das plantas, sendo determinado por suas propriedades físicas, químicas e meteorológicas, assim a importância da temperatura do solo para um bom desenvolvimento das plantas agrícolas são: • Germinação das sementes – quanto menor a temperatura do solo, mais demorada é a germinação e a emergência da cultura. • Atividade dos microrganismos – os microrganismos decompositores da matéria orgânica e as bactérias do solo captadoras do nitrogênio atmosférico necessitam de temperatura de solo favorável para sua atividade benéfica à agricultura. • Formação do solo – a temperatura desempenha importante função, provocando dilatações, contrações nas rochas, trincando-as e desintegrando-as para formarem o solo. • Retenção de água do solo – quanto maior a temperatura do solo, maiores e mais rápidas serão as perdas de umidade do mesmo. • Crescimento do sistema radicular – tem influência direta sobre algumas características da planta, entre elas a: resistência à seca, eficiência na absorção dos nutrientes do solo, tolerância ao ataque de pragas do solo, capacidade de germinação e/ou brotação, tolerância à movimentação de máquinas, entre outros. A Cobertura morta consiste em distribuir uniformemente uma camada de material orgânico sobre o solo com a finalidade de impedir seu superaquecimento. O método de cultivo denominado plantio direto consiste em manter uma cobertura morta da cultura antecessora sobre o solo e tem como uma das vantagens evitar grandes oscilações de temperatura, dentre outras. Considerando-se que cada cultura tem uma temperatura base, abaixo da qual paralisa o seu desenvolvimento, somam-se então os graus de temperatura acima da temperatura base, de todos os dias do ciclo cultural. O total desta soma é denominado “soma térmica” e sabe-se que a cultura, não completa o seu ciclo enquanto não for atingido o valor mínimo de graus dia necessários. Radiação solar e fotoperíodo A radiação solar é considerada um fator importante para o crescimento e desenvolvimento das frutíferas, pois influencia diretamente na fotossíntese das plantas. Nas condições favoráveis de clima e solo, a máxima produtividade de uma cultura passa a depender principalmente da taxa de incidência de luz. • Radiação solar – é a energia emitida pelo sol e que se propaga sob a forma de ondas eletromagnéticas. • Insolação – é o número de horas de sol por dia e depende do grau de latitude. • Fluxo da radiação solar na Terra – da radiação solar total que chega à Terra, parte é refletida pela camada de ozônio, nuvens e superfície terrestre (30%) e parte é absorvida pelo solo e pelasnuvens (70%). A quantidade de radiação solar que incide sobre a superfície terrestre em dado local, tempo e época do ano são fundamentais para a produtividade de uma cultura. Isso deve-se à inclinação dos raios solares em função do ângulo de elevação solar, essa influência é também verificada sobre as plantas dependendo da hora do dia, da estação do ano, latitude e altitude. A radiação solar é extremamente importante para a realização da fotossíntese pelas plantas. A fotossíntese é responsável pela produção de energia para o crescimento e desenvolvimento dos vegetais. Por isso, é interessante destacarmos alguns conteúdos de fisiologia vegetal, os quais estão a seguir: • Fotossíntese – é o processo biológico que consiste na síntese de carboidratos a partir do gás carbônico atmosférico, água e energia solar, com produção de oxigênio. A radiação solar é, portanto, essencial para o crescimento das plantas e desenvolvimento das culturas. O excesso de radiação solar faz com que a planta utilize um volume maior de água para regular sua temperatura. Caso tenha pouca disponibilidade de água, ou em momento do dia com alta radiação mesmo com disponibilidade de água, ocorre à desidratação e murcha da planta. Também se pode falar da importância das mudas permanecerem à sombra. Fotoperiodismo É o número de horas de luz por dia, incluindo a aurora (antes do nascer do sol) e o crepúsculo (depois do pôr- do-sol). Verheul et al. (2007 apud ALMEIDA et al., 2009) “avaliaram a interação entre o fotoperíodo e o balanço de temperaturas noturnas e diurnas na emergência de inflorescências das cultivares de morango (‘Korona’ e ‘Elsanta’). Estes autores concluíram que o intervalo ótimo de 12 a 13 horas por dia de fotoperíodo favoreceu a floração em mais de 90% das plantas, e o intervalo de 14 horas foi limitante à indução floral, enquanto as temperaturas médias de 18 a 12ºC no período diurno e noturno, respectivamente, favoreceram a antecipação da floração, sendo que a cultivar Elsanta foi menos sensível a uma variação maior da temperatura no intervalo entre 15 e 27ºC. Assim, temos: • Plantas de dias curtos (na verdade, de noites longas) – são as que só florescem a partir de um número máximo de horas de luz por dia, à medida que diminuem as horas de luz por dia, ou seja, a partir de 21 de dezembro no hemisfério sul. São espécies de regiões de baixa latitude (regiões tropicais), onde os dias são sempre curtos. Portanto, se cultivadas em regiões de grande latitude (regiões temperadas), onde os dias são mais longos na primavera e verão, demorarão a florescer, aumentando seu ciclo vegetativo total. • Planta de dias longos (na verdade, de noites curtas) – são as que só florescem a partir de um fotoperíodo mínimo à medida que aumentam as horas de luz por dia, ou seja, na primavera. São espécies próprias de regiões de grande latitude (zonas temperadas), onde ocorrem dias longos toda época do ano. Vento Vento é o ar em movimento, origina-se do deslocamento das massas de ar, ele se move horizontalmente (em superfície e altitude) e também verticalmente, por causa das diferenças de temperatura e pressão. Os frutos da manga, da laranja e da bergamota, entre outros se desprendem em decorrência da ação do vento intenso. Importância do vento na agricultura O vento exerce uma extrema importância para a produção agrícola, devido em sua composição transportar umidade e calor, influenciando nas taxas de evapotranspiração. Na instalação das culturas de frutíferas, o produtor deve ter o cuidado na escolha de áreas que tenham uma menor ocorrência de ventos frios, contínuos e intensos. Assim, em regiões como no Sul, deve-se evitar o cultivo em terrenos com faces voltadas para o sul e sudoeste, para que haja uma maior proteção das plantas, em regiões que ocorrem os ventos frios. Efeitos benéficos (ventos fracos) • Realiza a polinização, ou seja, a dispersão de pólen (células reprodutoras masculinas) e a deposição do mesmo nos estigmas (porção do aparelho reprodutor feminino das flores). • Aumenta a fotossíntese. • Facilita a transpiração, eliminação de água através dos estômatos, processo vital que permite às plantas manter a sua temperatura em níveis adequados. • Evita a geada branca e retira o excesso de umidade do ar e do solo. Efeitos prejudiciais (ventos fortes, constantes, muito frios ou muito quentes) Ventos fortes, muito frios ou muito quentes resultam em danos mecânicos, anatômicos e fisiológicos, pois causam: • Queda de flores e frutos, provocando a redução na produtividade da cultura afetada. • Quebra de ramos e galhos em frutíferas, provocando diminuição da área produtiva da planta e queda na produtividade, além de expor as plantas ao ataque de patógenos (microrganismos causadores de doenças) e pragas que penetram nas plantas através das lesões. • Ressecamento do solo (ventos quentes e constantes). • Acamamento de grandes culturas, ocasionando perdas de pré-colheita. • Tombamento de mudas de frutíferas e essências florestais recém plantadas. • Deriva durante aplicação de calcário, principalmente se este for do tipo “filler”. • Erosão eólica e/ou desertificação, contribuindo para a expansão das áreas desertificadas. • Impedimento na aplicação de defensivos agrícolas, dificultando a deposição do produto pulverizado sobre o solo ou sobre as plantas, e, transportando as partículas do produto em suspensão no ar para áreas vizinhas onde podem causar problemas de fitotoxidez (danos ou morte de culturas suscetíveis) e contaminação de pessoas e animais. A velocidade máxima do vento para aplicação de defensivos é de 8 a 10 km/h. • Disseminação de patógenos e pragas, provocando o alastramento de doenças e a infestação de áreas até então isentas. • Disseminação ou dispersão de sementes de invasoras, contribuindo para a infestação de novas áreas. Umidade do ar A umidade do ar é a quantidade de vapor d’água presente na atmosfera, proveniente da evaporação da água dos oceanos, mares, lagos, rios e também dos solos. Por exemplo: se escutarmos a informação de que a umidade relativa do ar está aumentando, ou seja, próxima a 100%, existe uma grande possibilidade de ocorrer chuvas. Por outro lado, se a umidade do ar estiver diminuindo, dificilmente ocorrerão chuvas. A água, sob a forma de vapor ou de gotículas, está sempre presente na atmosfera. Isso pode ser constatado ao observarmos o orvalho que cobre a vegetação de manhã, principalmente nos dias frios. Em regiões de baixa umidade relativa do ar, com temperaturas elevadas, solos pouco úmidos e com fortes rajadas de ventos, os frutos não conseguem manter o equilíbrio hídrico, ocasionado assim queda de flores, frutos e folhas. Exemplos de plantas que perdem grande quantidade de frutos: a manga, a maça, os citros e o abacateiro. Umidade relativa do ar é a relação entre a quantidade de vapor de água (calculada em gramas por metro cúbico de ar (g/m³)), o volume e a temperatura da atmosfera de um determinado lugar. Condensação da umidade do ar A umidade do ar pode se condensar na forma de orvalho (Figura abaixo) ou na forma de nevoeiro. O orvalho (“sereno”) é a deposição de gotas de água por condensação direta do vapor d’água, geralmente sobre superfícies resfriadas pela irradiação noturna (perda de calor do solo), e forma-se em condições meteorológicas que facilitem a irradiação do calor do solo para o espaço (céu sem nuvens e sem poeira). O nevoeiro (“cerração”) forma-se pelo esfriamento do ar durante o contato com a superfície do solo, ou pela evaporação de água morna no ar esfriado. Importância da umidade de ar na agricultura A umidade do ar acarreta inúmeros efeitos benéficos para a agricultura, dentre eles destaca-se: • Regula a secagem dos solos. • Aumenta a fotossíntese, quando aliada a altas temperaturas do ar. • Regula a transpiração dasplantas. A um nível muito alto de umidade do ar as plantas reduzem a transpiração e podem paralisar suas atividades metabólicas. • Influencia no armazenamento da produção. Frutas quando armazenadas devem permanecer na câmara em um nível de umidade relativa ideal para cada espécie. UR muito alta pode causar perda de frutos por podridões e distúrbios fisiológicos, por outro lado, quando muito baixa, causa a desidratação e perda de qualidade e peso dos frutos. • Influi na evaporação da água dos açudes e no dimensionamento dos mesmos para irrigação. • Baixa umidade relativa do ar aliada a uma alta temperatura, pode acelerar a volatilização de herbicidas aplicados no solo ou sobre invasoras. Precipitação pluvial ou chuva A chuva resulta de um contato de uma nuvem saturada de vapor de água com uma camada de ar frio. Para que chova, além do vapor atingir o ponto de saturação a água tem de se condensar, passando do estado gasoso para o líquido, acarretando na redução da sua temperatura. Importância da chuva na agricultura A água presente na atmosfera pode ser transferida para a superfície da Terra na forma de chuva, granizo, geada e orvalho. Todas essas formas de precipitação são importantes para a agricultura, quer pelos benefícios, quer pelos prejuízos que causam. Para a irrigação, a chuva tem importância fundamental. Efeitos benéficos • Fonte de água para os solos e reservatórios, que será usada pelas plantas. • Solubilização de adubos químicos. Efeitos prejudiciais As chuvas, quando em excesso ou mal distribuídas (ocorrência em época inoportuna), acarretam os seguintes prejuízos: • O excesso de chuva durante o período de florescimento cria dificuldades á polinização, provocando a lavagem dos grãos de pólen. • Erosão hídrica. • Encharcamento das lavouras, provocando impedimento nas operações de mecanização (preparo do solo, plantio, tratos culturais, colheita) • Perdas de pré-colheita devido à deterioração (apodrecimento) das sementes na época da colheita ou de frutas. • Lixiviação de nutrientes e argilas. • Favorece o desenvolvimento de plantas espontâneas (invasoras), principalmente quando aliada a temperaturas elevadas. • Lavagem dos defensivos pulverizados sobre as culturas ou sobre o solo, acarretando prejuízo econômico (perda do produto) e contaminação de ecossistemas (rios, lagos e áreas adjacentes, fauna). As chuvas podem cair com maior ou menor intensidade, dependendo da época do ano e da região. Para o agricultor que pretende irrigar sua lavoura é de grande importância conhecer a distribuição das chuvas no tempo e no espaço. Só assim poderá saber quando irrigar e qual a quantidade de água que deverá ser fornecida as plantas. A falta de chuva durante o ciclo das culturas é denominada “déficit hídrico”, e este é determinado considerando a necessidade de água da cultura durante o seu ciclo (evapotranspiração máxima) e a quantidade de chuva durante o mesmo período. Evapotranspiração A evapotranspiração é o processo conjunto da evaporação do solo mais a transpiração das plantas. Evaporação É o processo físico pelo qual um líquido passa para o estado gasoso. A evaporação da água na atmosfera ocorre de oceanos, lagos, rios, do solo e da vegetação úmida (evaporação do orvalho e da chuva interceptada). Entretanto, a taxa da evaporação da água do solo depende de inúmeros fatores, destacando-se: a disponibilidade de radiação solar global, ventos, tipo de solo, cobertura vegetal, disponibilidade de água no solo, etc. Transpiração É o resultado da extração de água contida no solo pelas raízes das plantas e liberação para a atmosfera pelos estômatos. As plantas, através de suas raízes, retiram do solo a água para suas atividades vitais, e parte dessa água é cedida à atmosfera, sob a forma de vapor, na superfície das folhas. Também é a água que é perdida pelas plantas durante o processo de fotossíntese, e depende de cada espécie, do seu estágio de crescimento, do meio ambiente e dos fatores climáticos (ventos, temperatura, umidade relativa do ar, radiação solar incidente, etc.). Mudanças climáticas afetam a agricultura e prejudicam a produção de alimentos O setor agrícola enfrenta muitos desafios em função das mudanças climáticas globais, impactando negativamente as práticas de plantio em todas as regiões do mundo. Esse cenário afeta diretamente a economia mundial e a segurança alimentar. O impacto na produção de alimentos já começa no processo de plantio das sementes. Até pouco tempo, os agricultores confiavam somente em técnicas consolidadas e extensivamente estudadas, ajustadas aos padrões climáticos historicamente esperados para determinadas épocas do ano. Contudo, a imprevisibilidade climática recente tem alterado drasticamente esses cenários e comprometendo os cultivos. A seca prolongada, por exemplo, resulta na inviabilidade das sementes, incapazes de germinar devido à escassez de água. Em contrapartida, o excesso de chuvas também se revela prejudicial, levando à morte das plantas devido à grande quantidade de água. “Com a seca prolongada, as sementes tornam-se inviáveis, incapazes de germinar por falta de água. Em outros casos, com chuvas excessivas, as plantas sucumbem devido ao acúmulo de água no solo, causando a saída de oxigênio e privando as plantas das condições essenciais para a sobrevivência”, afirma o professor Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz em Piracicaba (Esalq). Nos últimos anos, com esse cenário marcado por eventos climáticos extremos como geadas, períodos de seca e excesso de chuva, ocorrendo de forma desordenada e fora das safras habituais, vem se desencadeado uma preocupante degradação do solo, forçando os agricultores a redesenharem suas estratégias de plantio. Áreas que antes eram tradicionalmente dedicadas à agricultura estão sendo abandonadas, enquanto outras, previamente não tão propícias, demandam adaptações. Essa realocação de cultivos acarreta prejuízos significativos na produtividade e, também, na qualidade das sementes e, consequentemente, na safra de alimentos. “O aumento das temperaturas globais tem provocado mudanças fisiológicas nas plantas, afetando suas características fotossintéticas. Embora o inicial aumento da concentração de CO2 na atmosfera possa estimular a fotossíntese, o crescimento exacerbado desse fenômeno está causando perturbações nas plantas de ciclos fotossintéticos C3, que são mais sensíveis a essas variações”, explica Cerri. O professor alerta que “esse fenômeno tem um impacto direto na qualidade dos alimentos produzidos e, consequentemente, na segurança alimentar”. Para o professor Cerri, entretanto, a agricultura pode ser uma aliada no combate ao aquecimento global, apontado como um dos principais fatores das mudanças climáticas. Cerri afirma que, se essa agricultura for praticada de forma correta, pode ajudar a desacelerar o processo do aquecimento global. “O sequestro do carbono pode ser intermediado naturalmente pelas plantas, por meio da fotossíntese”. E vai além: “A planta serve de alimento para animais, para as pessoas, para o biocombustível e, quando o carbono do tecido vegetal sofre decomposição por microrganismos no solo e se estabiliza, pode ficar ali por séculos”. Adaptação aos novos ambientes O estudo Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira, colaboração entre Unicamp e Embrapa, com apoio da Embaixada do Reino Unido, prevê, para um futuro próximo, que a degradação do solo deve obrigar a realocação dos plantios de alguns alimentos tradicionais em determinadas regiões. A mandioca, tradicionalmente cultivada no Nordeste, e o café, ícone cultural e econômico do Sudeste, por exemplo, devem encontrar um ambiente mais propício ao Sul do País. Essa mudança geográfica prevista, impulsionada pelas alterações climáticas, levanta questionamentossobre a adaptação das sementes a essas novas condições. No entanto, a expectativa dos pesquisadores é sobre o tempo necessário para que as sementes dessas plantas se ajustem às características específicas do solo em suas novas moradas. Especialistas alertam que esse período de transição dependerá de uma complexa interação de fatores, incluindo as condições químicas, físicas e biológicas do solo de destino. A espera por respostas ganha importância diante do desafio iminente de garantir a segurança alimentar em meio a um cenário agrícola em constante transformação. Além do solo, as próprias sementes terão que se adaptar ao novo local, lembra o professor Cerri. “Esse tempo varia demais, tem plantas que são mais sensíveis, como as plantas de folhas largas, que tecnicamente incluímos como plantas de ciclo fotossintético C3, como soja, feijão, algodão, trigo, arroz e café, e tem plantas um pouco mais adaptáveis às situações, que são a C4, cana-de-açúcar e milho, por exemplo. Então, essa adaptação também vai depender do tipo de planta”. Consequências econômicas Além de prejudicar a produção agrícola, as mudanças climáticas impactam diretamente os preços dos alimentos. O aumento nos custos de produção e as oscilações na oferta resultam em efeitos significativos na economia. O professor Luciano Nakabashi, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, destaca que as alterações climáticas levam a uma maior instabilidade na oferta de alimentos, o que, por sua vez, influencia nos preços. “Essa volatilidade crescente pode resultar em períodos mais significativos de quebras de safra.” Nakabashi também alerta que essa instabilidade na oferta, com baixa produção de alimentos, pode levar ao aumento da fome global. “Isso pode resultar em momentos em que a escassez de alimentos leva a um aumento da fome, representando um desafio adicional no cenário mundial.” Uso e conservação da água em sistemas agrícolas Água e agricultura Dentro da produção agrícola, o uso da água sempre foi uma questão de grande importância no cultivo de qualquer planta. Por isso, há muitos anos tem-se investido em tecnologias e infraestruturas hídricas capazes de atender à demanda da lavoura sem que haja desperdício desse recurso, que é sinônimo de vida e altamente suscetível às variações climáticas. A água esteve presente desde os primórdios da agricultura, onde a chuva era a principal fonte. De fato, em regiões com características físico-climáticas mais favoráveis, onde as estações eram bem estabelecidas, as chuvas supriam a necessidade das culturas. No entanto, a prática de irrigação sempre se fez necessária em regiões secas, mas que contavam com a presença de rios a uma certa proximidade. Tal necessidade possibilitou que as antigas civilizações desenvolvessem os primeiros sistemas de irrigação e prosperassem, como o que foi observado no Egito e Mesopotâmia. Desde então, foram sendo desenvolvidos meios de extrair e direcionar água para os campos de forma a aumentar a produção. No entanto, o uso da água sem devido conhecimento acarreta numa agricultura insustentável. A água é vital para tudo, incluindo a agricultura. Sem água potável, não teríamos o que beber, nem o que comer. Conforme o Banco Mundial, a agricultura responde por 70% da retirada de água doce do seu curso natural e a tendência é que a demanda cresça nos próximos anos para atender a uma população também crescente. Hoje, apenas 20% da agricultura no globo é irrigada, contribuindo com 40% da produção mundial de alimentos. Vivemos em um planeta chamado Terra, que conta com dois terços da superfície recoberta por água, distribuída por oceanos de uma imensidão incrível, que aparecem em toda e qualquer imagem tirada do espaço. É natural que a água pareça ser um bem infinito. O que o nosso cérebro não distingue, porém, é que essa enorme quantidade de água não está disponível para consumo humano. Sim, acredite, não está disponível. Somente 2,5% da água do planeta é o que chamamos “água doce”, conforme dados oficiais. Os 97,5% restantes são de água salgada ou com outros minerais e que, dessa forma, não pode ser consumida ou utilizada, por exemplo, na agricultura para produção de alimentos. Para tanto, precisaria ser tratada, algo economicamente inviável na maioria dos casos hoje (o que esperamos que mude no futuro). Outro detalhe importante é que 69% da água doce da Terra está armazenada na forma de gelo nas geleiras e calotas polares, enquanto os outros 30% são de águas subterrâneas. Isso deixa apenas cerca de 1% de água doce da Terra prontamente disponível para consumo humano nos rios. Mais um dado relevante é que a água não está igualmente distribuída no planeta. Não temos uma porção de água garantida para cada um dos 8 bilhões de moradores da Terra, embora seja um direito adquirido conforme veremos mais adiante. Brasil, Rússia, Canadá, Indonésia, China, Colômbia e Estados Unidos possuem a maior parte dos recursos superficiais de água doce do mundo, de acordo com a National Geographic. E, mesmo nestes países, o acesso à água não é realidade para todos. A água é finita e o volume que circula no ciclo hidrológico da Terra é o mesmo desde o início, nem uma gota a mais ou a menos. O que vem mudando é o uso que fazemos dela. A Organização das Nações Unidas relata que o consumo de água doce aumentou seis vezes no último século e continua a avançar a uma taxa de 1% ao ano, fruto do crescimento populacional, do desenvolvimento econômico e das alterações nos padrões de consumo. Quase dois terços da população mundial enfrentam escassez de água pelo menos um mês por ano segundo as Nações Unidas e, até 2030, a procura global por água terá excedido o abastecimento sustentável disponível em 40%. Em 2022, 2,2 bilhões de pessoas em todo o mundo já não tiveram acesso a água potável de forma segura. A agricultura brasileira tem dependido historicamente das chuvas. No entanto, as crises hídricas e as secas recorrentes enfatizam a necessidade de conservação da água. A irrigação agrícola consome a maior parte da água do país, pressionando os recursos disponíveis. É fundamental encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento agrícola e a conservação da água, promovendo práticas sustentáveis, como a irrigação eficiente e a proteção dos ecossistemas aquáticos. Diante o desafio do uso da água na agricultura brasileira, políticas que promovam o uso são necessárias para garantir a segurança hídrica e alimentar do Brasil. Sistema de irrigação no Brasil No Brasil, a irrigação teve início nos primórdios de 1900 para a produção de arroz no Rio Grande do Sul. A expressiva intensificação da atividade em outras regiões do país ocorreu a partir das décadas de 1970 e 1980. A expansão da agricultura no país só foi possível graças ao emprego da irrigação, principalmente naquelas regiões afetadas pela escassez contínua do recurso hídrico, como no semiárido brasileiro, que necessita de irrigação constante. No entanto, em regiões afetadas pela falta de água em períodos específicos do ano, como na região central do País, foram necessárias práticas de irrigação suplementares nos meses de seca. Embora esse crescimento da atividade agrícola resulte em aumento do uso da água, os sistemas de irrigação, quando bem empregados, resultam em benefícios ao meio ambiente, produtores e consumidores. Isso porque essa tecnologia aumenta a produtividade, reduz custos unitários e otimiza o uso de insumos e equipamentos. De qualquer forma, a irrigação se fez necessária para o aumento e a estabilidade da oferta de alimentos e consequente aumento da segurança alimentar e nutricional da população brasileira. Talvez você não saiba, mas a cebola, a batata, o alho, as frutas e muitas verduras, presentes na sua casa, são produzidas usando tecnologias de irrigação. Vale lembrar que todo sistemade irrigação, deve ser autorizado pelo governo e deve estar de acordo com o uso racional da água, exigências legais e instrumentos de gestão. Deve priorizar a sustentabilidade da atividade, o aumento da eficiência e a consequente redução do desperdício. Dessa forma, disponibilizar sistemas de irrigação de qualidade também devem fazer parte de iniciativas governamentais. Acompanhamos esse fato em Bangladesh, onde, por meio de políticas públicas, se buscou desenvolver e distribuir tecnologias de irrigação adequadas para pequenos agricultores que passaram a ter controle de recursos hídricos. Avanços e desafios no uso da água A modernização da agricultura fez da captação e utilização de recursos hídricos, elementos chave para a expansão sustentável da lavoura e aumento de produtividade. Não por acaso, foi tema central de discussões e parcerias entre governos, universidades e indústrias que resultaram em melhorias eficientes de legislação e tecnologias para o melhor uso da água. Mesmo assim, grande parte da água utilizada pela agricultura ainda é perdida, seja no transporte ou no excesso que retorna ao ambiente por meio do escoamento dos campos e que também pode afetar a fertilidade do solo. No entanto, são oportunidades a serem exploradas e resolvidas com o emprego de novas tecnologias e estratégias adequadas de irrigação. Outra importante questão com relação à disponibilidade da água é o aquecimento global. Pesquisas recentes têm mostrado que se a terra aquecer em três graus Celsius, os períodos de seca serão mais intensos e duradouros. Nesse sentido, para minimizar os danos das mudanças climáticas, os pesquisadores têm desenvolvido soluções tecnológicas para driblar o desafio do consumo de água, como por exemplo plantas geneticamente modificadas resistentes a estresses abióticos, como a salinidade e a falta de água, além de sistemas de monitoramento característicos da agricultura digital. Tudo isso em uma situação em que a demanda por água no mundo é crescente. No Brasil, um estudo da ANA – Agência Nacional de Águas – revelou aumento de quase 80% no consumo de água e estima-se que até 2030 a retirada de água de rios e poços cresça mais 24%. Atual situação da produção agrícola A produção agrícola é responsável por usar cerca de 70% de toda água consumida globalmente. No Brasil, a distribuição do consumo de água segue a média global, em que 70% dos recursos hídricos são utilizados pela agropecuária. No entanto, esse valor pode ser ainda maior, caso sejam considerados apenas os países subdesenvolvidos. Sistemas modernos de irrigação estão em cerca de 20% de toda área cultivada no mundo. Reflexo do baixo acesso às inovações tecnológicas nos países mais pobres. No entanto, mesmo em tão baixa quantidade, a produção agrícola em sistema irrigado contribui com 40% do total de alimentos produzidos em todo o mundo. Isso porque, a produtividade em sistema irrigado é pelo menos 2,3 vezes maior do que a das áreas de sistema não irrigado. A agricultura irrigada consegue proporcionar estabilidade na produção e tem a capacidade de aumentá-la, como é o caso da soja em que a diferença de produtividade pode chegar a 20 sacas (cada saca tem 60 kg). Caso não houvesse o sistema irrigado, seria necessário aumentar em pelo menos 20% a área plantada para produzir a mesma quantidade de alimentos que é produzida hoje. Com isso, fica evidente a importância ambiental desse sistema de produção. Nesse sentido, é importante o trabalho conjunto de governos, pesquisadores, engenheiros e agricultores para modernizar e expandir os seus sistemas de irrigação. O intuito é que os cultivos agrícolas sejam cada vez mais produtivos e menos prejudiciais ao meio ambiente. De fato, a FAO estima que as terras irrigadas nos países em desenvolvimento aumentem em 34% até 2030. Mesmo com a implementação dessa tecnologia e com melhoria das práticas e gestão da irrigação, o consumo de água terá um aumento de apenas 14%. Aumento da produção agrícola com menor uso da água Uma agricultura sustentável deve ser estruturada para coletar, armazenar e liberar água no meio ambiente de forma eficiente. O gerenciamento adequado da água de irrigação nos países produtores de alimentos também é importante para melhorar a competitividade e lucratividade dos agricultores. Nos últimos 50 anos, a produção agrícola mundial cresceu entre 2,5 e 3 vezes no período, enquanto a área cultivada cresceu apenas 12%. Esse aumento na produção de alimentos veio de áreas irrigadas e cultivares melhoradas geneticamente, mostrando que a agricultura mecanizada, a irrigação intensiva e o uso de insumos contribuíram para atender às crescentes demandas por alimentos e fibras de forma sustentável. Além do emprego de novas tecnologias, é importante que haja conscientização no cultivo. Onde as culturas sejam adequadas ao local e capazes de obter o máximo de benefício da água disponível naquela região. Existem casos em que a troca de cultura, ou até mesmo da variedade melhorada, permitem o aumento da produção com uma redução de quase metade da água que seria necessária no ciclo da cultura em ambientes não favoráveis. Diferentes estratégias para melhor utilizar os recursos hídricos O reflexo de um bom uso de recursos hídricos pode ser observado nas lavouras de algodão da Austrália. Atualmente, o país é o quarto maior exportador de algodão no mundo, no entanto para alcançar essa posição teve que enfrentar um grande desafio de disponibilidade de água para irrigação. Adotando melhores práticas de manejo e novas variedades dessa planta, os agricultores australianos conseguiram, dentro de dez anos, reduzir quase que pela metade o uso de água necessária para produção de um fardo de algodão (217,72 kg). Proporcionando um aumento de 126% na produção de algodão, com aumento de apenas 50% de área semeada. Também foi visto que na Índia o algodão poderia ser produzido com menos água com a troca do sistema convencional de irrigação pelo sistema de irrigação por gotejamento, que é de baixo custo e chega a economizar 80% da água. No Brasil, a Embrapa aprimorou o método de irrigação por inundação contínua, na lavoura de arroz, em terras gaúchas. O novo sistema de plantio, utiliza menos água e otimiza o desenvolvimento de cultivares de ciclo biológico curto, proporcionando ganhos de produtividade sem comprometer o ambiente. No entanto, em alguns casos a substituição da cultura pode ser uma ótima solução. Por exemplo, na bacia do rio Níger o cultivo de arroz na estação seca é muito vulnerável. Caso fosse trocado pelo cultivo de trigo seria possível reduzir de 20 a 40% o consumo de água, enquanto ainda produziria uma safra de valor comercial e alimentar. Melhoramento genético para obtenção de plantas mais eficientes O menor consumo de água, também pode ser obtido pelo melhoramento genético. Apesar dos mecanismos de tolerância a seca, em plantas, serem de difícil manipulação e fazerem parte de diferentes processos fisiológicos, pesquisadores da Universidade Federal do Alagoas (UFAL) desenvolveram uma variedade de cana-de-açúcar tolerante à seca que é recomendada para o plantio em extensas partes da região nordeste do Brasil. Além disso, a identificação de genes que possam ser utilizados para melhorar a eficiência da fotossíntese também é uma estratégia interessante para o desenvolvimento de plantas tolerantes a seca. Plantas de alta eficiência fotossintética produzem mais sem a necessidade de aumento de área plantada. Um desses genes é o responsável pela produção da proteína PsbS, que provoca o fechamento dos estômatos – poros microscópicos que controlam a respiração das plantas. Controlar geneticamente o fechamento dos estômatos poderia diminuir a perda de água da planta. Nesse sentido, a biotecnologia se soma a outros esforços, podendo colaborar de forma significativa para a economia de água naagricultura e também a enfrentar os desafios que as mudanças climáticas poderão trazer para a produção de alimentos no mundo. Atividade avaliativa Questão 1 O clima desempenha papel decisivo na agricultura, influenciando desde o planejamento do plantio até a produtividade final. As variações nos elementos climáticos, como temperatura, umidade, radiação solar e precipitação, impactam diretamente o desenvolvimento das culturas. Sobre essa influência, assinale a alternativa correta: A) A radiação solar em excesso acelera a germinação e aumenta a produção de frutos, independentemente da disponibilidade hídrica. B) O conhecimento do clima local permite prever pragas e doenças, escolher cultivares adaptadas e definir épocas ideais de cultivo. C) Ventos intensos favorecem o crescimento das plantas ao aumentar a fotossíntese e manter o solo úmido. D) A chuva excessiva sempre favorece a colheita, pois reduz a necessidade de irrigação e aumenta a absorção de nutrientes. Questão 2 A temperatura do solo é um fator determinante para o sucesso das lavouras. Considerando os fatores que influenciam essa temperatura, assinale a alternativa correta: A) Solos argilosos, por terem maior porosidade, aquecem-se rapidamente, o que favorece a germinação uniforme das sementes. B) A presença de cobertura morta acelera o aquecimento do solo pela manhã, promovendo maior atividade microbiana. C) Solos escuros tendem a absorver mais radiação solar, elevando sua temperatura e favorecendo processos como a germinação e a decomposição da matéria orgânica. D) A profundidade do solo é irrelevante para a variação de temperatura, pois o calor é distribuído de maneira homogênea em todas as camadas. Questão 3 Considerando a importância do clima na agricultura, analise as afirmativas abaixo, assinalando (V) para verdadeiro e (F) para falso. a) A classificação fenológica das plantas com base apenas na duração do ciclo tem se mostrado consistente e confiável, pois não sofre influência das variações ambientais e se aplica igualmente a todas as regiões agrícolas do país. ( ) b) A umidade relativa do ar elevada, quando combinada com temperaturas elevadas, pode aumentar a incidência de doenças nas plantas e comprometer o armazenamento de frutos, ao favorecer a proliferação de fungos e podridões. ( ) c) A influência da radiação solar no desenvolvimento vegetal está restrita apenas ao processo de evaporação da água do solo e não afeta diretamente a fotossíntese ou a produtividade das culturas. ( ) d) A temperatura do solo exerce papel decisivo na germinação das sementes, no desenvolvimento do sistema radicular e na atividade dos microrganismos, sendo diretamente influenciada pela cor, textura, profundidade e cobertura do solo. ( ) e) Ventos fracos podem desempenhar função benéfica na agricultura ao facilitarem a polinização, reduzirem o risco de geadas brancas e regularem a transpiração das plantas, promovendo equilíbrio hídrico. ( ) f) O zoneamento agroclimático considera apenas as condições climáticas da região, desconsiderando fatores como características do solo ou o ciclo das cultivares, por isso não é adequado para orientar políticas públicas ou seguros agrícolas. ( ) g) Mudanças climáticas intensas, como o aumento da temperatura e irregularidade nas chuvas, afetam a produtividade agrícola ao alterarem os ciclos fotossintéticos, comprometerem a germinação e aumentarem os riscos de perdas na colheita. ( ) h) A evapotranspiração é composta apenas da transpiração das plantas, pois a evaporação do solo não interfere no ciclo hídrico das culturas nem nas necessidades de irrigação. ( ) i) Culturas de clima temperado, como a maçã, necessitam de um número determinado de horas de frio para que ocorra a quebra de dormência, sendo este fator essencial para a brotação e frutificação. ( ) j) A escolha adequada de espécies agrícolas para determinada região depende exclusivamente da análise econômica da produção, sem necessidade de considerar os elementos climáticos como temperatura, umidade e radiação solar. ( ) f v f v v f V F V F Questão 4 No contexto das mudanças climáticas, é correto afirmar: A) O aumento da concentração de CO₂ atmosférico sempre beneficia o crescimento vegetal, independentemente da espécie. B) A imprevisibilidade climática tem exigido a realocação de áreas de cultivo e a adaptação de sementes a novos ambientes. C) O aumento de chuvas e a elevação da temperatura favorecem o enraizamento profundo de culturas sensíveis ao calor. D) A agricultura não é considerada uma aliada no combate às mudanças climáticas, pois seu impacto é exclusivamente negativo. Questão 5 O zoneamento agroclimático é uma ferramenta essencial para a agricultura moderna. Sobre ele, é incorreto afirmar: A) Considera o clima, o solo e as exigências das culturas para indicar a melhor época e local para plantio. B) É utilizado por instituições financeiras para apoiar políticas de seguro rural e concessão de crédito agrícola. C) Tem como objetivo adaptar o cultivo às condições regionais, minimizando riscos e maximizando a produtividade. D) Desconsidera as variações climáticas extremas, pois se baseia apenas em médias históricas estáticas. Questão 6 Em relação à precipitação pluvial, assinale a alternativa correta: A) Chuvas bem distribuídas ao longo do ciclo da cultura eliminam a necessidade de qualquer tipo de irrigação, mesmo em solos arenosos. B) A lixiviação causada pelo excesso de chuvas remove nutrientes e matéria orgânica do solo, aumentando a fertilidade. C) Chuvas intensas durante a colheita podem provocar perdas por deterioração de sementes e frutos. D) O excesso de chuva favorece a eficiência das operações mecanizadas, pois mantém o solo em estado ideal de umidade. Questão 7 A partir do texto lido, avalie as afirmativas a seguir, que relacionam os efeitos dos elementos climáticos ao desempenho agrícola em diferentes condições ambientais: I. A compreensão da temperatura do solo é imprescindível para a agricultura, pois afeta desde a germinação até a absorção de nutrientes pelas raízes, sendo influenciada por fatores como cor, textura e profundidade do solo. II. A alta radiação solar beneficia irrestritamente o crescimento das plantas, já que favorece a fotossíntese e reduz os riscos de murcha, mesmo quando há deficiência hídrica. III. A combinação de ventos intensos e baixa umidade do ar pode acarretar tanto perdas por ressecamento do solo quanto pela queda de frutos e flores, impactando negativamente a produtividade. IV. O zoneamento agroclimático considera apenas médias históricas climáticas e, por isso, torna-se obsoleto diante das mudanças climáticas recentes. V. O conhecimento detalhado do clima e do tempo permite ao agricultor ajustar práticas como irrigação, época de plantio, uso de defensivos e escolha de cultivares, elevando a eficiência e reduzindo riscos. Assinale a alternativa correta: A) Apenas as afirmativas I, III e V estão corretas. B) Apenas as afirmativas II, IV e V estão corretas. C) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. D) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. E) Todas as afirmativas estão corretas. Questão 8 Com base nas informações do texto, analise as afirmativas a seguir sobre os impactos das mudanças climáticas na agricultura e as estratégias de mitigação: I. A imprevisibilidade climática recente, com eventos extremos como seca e chuvas fora de época, tem obrigado os agricultores a redirecionarem o cultivo para regiões antes pouco utilizadas, mesmo que isso exija adaptação do solo e das sementes. II. A exposição prolongada ao sol aumenta a retenção hídrica das plantas, reduzindo a necessidade de irrigação. III. O aumento da concentração de CO₂ na atmosfera tende a favorecer a fotossíntesenas plantas inicialmente, mas pode gerar efeitos negativos a longo prazo em cultivos mais sensíveis. IV. A agricultura pode contribuir para o combate às mudanças climáticas, especialmente por meio do sequestro de carbono promovido pelas plantas, o que depende de práticas sustentáveis no manejo do solo e das culturas. V. A relocação de culturas tradicionais, como o café e a mandioca, para novas regiões mais adequadas às condições futuras é uma das medidas propostas pelos estudos sobre aquecimento global. Assinale a alternativa correta: A) Apenas as afirmativas I, III, IV e V estão corretas. B) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. C) Apenas as afirmativas I, II, III e V estão corretas. D) Todas as afirmativas estão corretas. E) Apenas as afirmativas I, IV e V estão corretas. Questão 9 No texto, destaca-se que a adoção de boas práticas agrícolas é essencial para a conservação da água. Considerando essa afirmação e o conteúdo do texto, qual das alternativas melhor expressa a relação entre sustentabilidade e produção agrícola? A) A sustentabilidade na agricultura depende unicamente da redução do uso de fertilizantes e defensivos químicos, mesmo que isso comprometa a produtividade. B) A produção agrícola sustentável baseia-se na eliminação total do uso de tecnologias modernas, priorizando métodos tradicionais de cultivo. C) A conservação da água na agricultura está diretamente relacionada ao uso estratégico de tecnologias e ao manejo eficiente do solo, sem prejudicar a produtividade. D) A expansão agrícola é incompatível com qualquer forma de preservação ambiental, inclusive da água, sendo necessário escolher entre produção ou conservação. E) O uso de irrigação intensiva é o único caminho para garantir produtividade, ainda que implique maior consumo de água e impacto ambiental. Questão 10 Para Leia as assertivas a seguir sobre o conteúdo do texto “A produção agrícola e a conservação da água” e, ao final, assinale a alternativa correta: I. A adoção de tecnologias como a irrigação eficiente, agricultura de precisão e o uso de sementes geneticamente modificadas pode contribuir significativamente para o uso racional da água na produção agrícola. II. O texto defende que a preservação da água está em oposição ao aumento da produtividade agrícola, sendo necessário priorizar um em detrimento do outro. III. O manejo sustentável do solo e a cobertura vegetal permanente são apontados como práticas que auxiliam na infiltração da água e na redução do escoamento superficial. IV. O uso de defensivos agrícolas, segundo o texto, deve ser eliminado para garantir a conservação dos recursos hídricos. Assinale a alternativa correta: A) Apenas as assertivas I e III estão corretas. B) Apenas as assertivas II e IV estão corretas. C) Apenas as assertivas I, II e III estão corretas. D) Apenas as assertivas I, III e IV estão corretas. E) Todas as assertivas estão corretas.