Prévia do material em texto
PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL Direito Penal como meio de controle formalizado, que atua quando a violação a direitos e interesses se torna especialmente grave, sendo insuficiente a atuação de outros ramos do Direito para apaziguar o convívio social. Objetivo declarado do Direito Penal: proteção de bens jurídicos, isto é, valores relevantes para a vida humana individual e coletiva (Juarez Cirino dos Santos) Seleção dos bens jurídicos: critérios político-criminais (CF) Principal ponto de diferenciação do Direito Penal em relação aos demais ramos jurídicos: é a última ratio. Isto é, somente é acionado em última instância. A essa característica chamamos de fragmentariedade. Criminalização primária (ou abstrata): definição legal dos crimes e das penas as penas são instrumentos da política criminal do Estado e podem ser: · Privativas de liberdade · Restritivas de direitos · Multa Medidas de segurança (ou de proteção) · Internação hospitalar (exceção) · Tratamento ambulatorial. Criminalização secundária (ou concreta) Realizada pelo sistema de justiça criminal Aplicação e execução da penal. Princípios são garantias do cidadão perante o poder punitivo estatal e estão albergados pela CF/88, em seu art. 5º. Tais princípios orientam o legislador ordinário, no sentido de se promover um Direito Penal da culpabilidade, mínimo e garantista, voltado ao respeito dos direitos humanos e da dignidade da pessoa (BITENCOURT, 2017). ▪ Mandamentos nucleares, alicerces do ordenamento . PRINCÍPIO DA ESTRITA LEGALIDADE OU DA RESERVA LEGAL Art. 5º, inc. XXXIX, da CF/88: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.” Cláusula pétrea. ▪ Nullum crimen, nulla poena sine lege Mais importante instrumento de proteção individual ▪ Art. 1º do CP: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.” A elaboração de normas incriminadoras é função exclusiva da lei, em sentido estrito. A lei deve definir com precisão a conduta proibida e a sanção respectiva. Reserva legal: lei em sentido formal e material (lei ordinária ou complementar). Compete privativamente à União legislar sobre Direito Penal. Matéria penal incriminadora não pode ser tratada por medida provisória (MP não é lei, e sim ato do executivo). Contravenções penais e medidas de segurança também estão abrangidas pelo princípio da legalidade ▪ Segurança jurídica e respeito ao sistema político democrático. A LEI PENAL DEVE SER: CERTA ESCRITA ESTRITA PRÉVIA MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO São matérias elencadas pela CF e em relação às quais é obrigatória a atuação do legislador ordinário. Necessidade premente de proteção a determinados bens jurídicos, muito valiosos ao convívio social pacífico. Exemplos: · 5º, XLI: “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.” (Lei 7.716/89) · Art. 5º, XLII: “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.” (Lei 7.716/89). Art. 5º, XLIII: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;” (Lei 9.455/97, Lei 11.343/06, Lei 8.072/90) · Art. 5º, XLIV: “constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.” (CP) • Art. 227, § 4º: “a lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente.” (CP e ECA). Princípio da Fragmentariedade: Intimamente relacionado à legalidade e à intervenção mínima. O direito penal protege apenas valores imprescritíveis ao convívio social. não pode e não deve jurídicos tutelar todos os valores. O caráter fragmentário significa, portanto, que o direito penal somente se ocupa de uma parte dos bens jurídicos tutelados pelo ordenamento. sendo assim compreendido como tutela seletiva, relacionado à gravidade e à intensidade da ofensa. Um ilícito penal é também ilícito perante outros ramos do direito, mas a recíproca não é verdadeira. Princípio da Anterioridade · Art. 5º, XXXIX, CF: “não há crime sem lei anterior que o defina” O crime e a pena devem estar definidos em lei prévia. ▪ A lei penal só produz efeitos a partir de sua entrada em vigor (não incide a fatos ocorridos na vacatio legis, isto é, no intervalo de tempo entre a publicação e a entrada em vigor). Salvo disposição em contrário, a vacatio legis é de 45 dias (art. 1º da LINDB) deve ser observado a data de sua publicação e data da sua entrada em vigor. Exceção: leis temporárias (vigência predeterminada no tempo, com data certa. Ex: Lei Geral da Copa do Mundo de 2014 e excepcionais (situações de anormalidade, pandemia coronavírus). São autorrevogáveis e ultra ativas, isto é, aplicam-se a fato ocorrido enquanto estavam em vigor, embora já cessada a vigência. Ultratividade: significa a aplicação de uma lei mesmo depois de revogada. Princípio da irretroatividade: Art. 5º, inc. XL, da CF: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. ▪ Segurança jurídica. A lei penal mais severa (novatio legis in pejus) não retroage jamais. A lei nova mais favorável (novatio legis in mellius) sempre retroagirá em benefício do réu. Exceção: leis temporárias (vigência predeterminada no tempo, com data certa. Ex: Lei Geral da Copa do Mundo de 2014 e excepcionais (situações de anormalidade, pandemia coronavírus). São autorrevogáveis e ultraativas, isto é, aplicam-se a fato ocorrido enquanto estavam em vigor, embora já cessada a vigência. Ultratividade: significa a aplicação de uma lei mesmo depois de revogada. Aplicação prática da retroatividade da lei penal mais favorável: · Súmula 611 do STF: “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo das execuções a aplicação da lei mais benigna”. Ex: Lei 13.654/18 (restrição da majorante do uso de arma no roubo). Não há violação à irretroatividade da lei penal mais grave: · Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL (deve nortear, porém no brasil, o costume não revoga lei) Hans Welzel: idealizador As condutas que se consideram socialmente adequadas não se revestem de tipicidade e, por isso, não podem constituir delitos. Descompasso entre as normas penais incriminadoras e o socialmente permitido ou aceito. Condutas que não afrontam o sentimento social de justiça Princípio geral de interpretação (não exclui a tipicidade, nem a ilicitude). Orientação ao legislador. Súmula 502 do STJ: “Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no artigo 184, parágrafo 2º, do Código Penal, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas.” A venda de CDs e DVDs “piratas” é crime, não se admitindo a aplicação da teoria da adequação social Contravenção do jogo do bicho (art. 58 do Decreto Lei 3688/41): continua sendo punível. O costume não tem o condão de abolir a figura típica. O costume é interpretativo, e não abolicionista. Somente a lei produz a abolitio criminis. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA Terminologia cunhada por Claus Roxin. e Klaus Tiedemann Chama de Princípio de Bagatela A conduta, formalmente, amolda-se a um tipo penal. Porém, não apresenta relevância concreta, material. Afasta-se a tipicidade, pois o bem jurídico tutelado não chegou a ser lesado. Causa supralegal de exclusão da tipicidade material. Não tem previsão legal no Brasil. A tipicidade penal é composta pela tipicidade formal e tipicidade material Tipicidade formal: juízo de subsunção do fato da vida à norma jurídica Tipicidade material: lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma. REQUISITOS PARA O RECONHECIMENTO DA INSIGNIFICÂNCIA ▪ Periculosidade ausente ▪ Reprovabilidadereduzida ▪ Ofensividade mínima ▪ Lesão inexpressiva ▪ São conceitos abertos, que permitem ampla margem de interpretação. ▪ Fator de política criminal. Peculiaridades do caso concreto. APLICAÇÃO DA INSIGNIFICÂNCIA O valor do objeto material não é o único parâmetro Condições pessoais do agente devem ser analisadas: Em regra, não se aplica ao reincidente, portador de maus antecedentes e ao criminoso habitual. Análise casuística. Críticas: adoção do direito penal do autor. Desconsidera-se o fato em si, analisando-se a vida pregressa de seu autor. Condição da vítima (condições econômicas, valor sentimental do bem, consequências do crime) Não há valor máximo (teto) a ser considerado. Análise casuística Pode ser aplicado a atos infracionais, crimes ambientais, descaminho e crimes tributários Não se aplica a insignificância: ▪ Crimes hediondos e equiparados ▪ Crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa ▪ Uso de entorpecentes (posse de drogas para consumo pessoal) ▪ Crimes contra a fé pública (moeda falsa) · Crimes contra a Administração Pública (Súmula 599- STJ) ▪ Contrabando (natureza ilícita da mercadoria importada ou exportada) ▪ Violência doméstica ou familiar contra a mulher (Lei Maria da Penha. Súmula 589 – STJ) ▪ Furto famélico: situação comprovada de extrema penúria. Não há crime pela incidência da excludente de ilicitude consistente no estado de necessidade (art. 24 CP) Tema Repetitivo 157 da 3ª Seção do STJ “Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda.” PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE ▪ Tem dois aspectos: orientação à atividade de produção das leis (a conduta proibida deve conter verdadeiro conteúdo ofensivo a bens relevantes) e critério interpretativo, eis que a ofensividade ou lesividade devem ser constatadas em concreto. ▪ “Somente se admite a configuração da infração penal quando o interesse já selecionado (reserva legal) sofre um ataque (ofensa) efetivo, representado por um perigo concreto ou danos.” (BITENCOURT, 2017). Qualitativamente: o princípio da lesividade impede a criminalização redutora das liberdades constitucionais (crença, pensamento, consciência). ▪ Quantitativamente: o princípio proíbe a cominação, aplicação ou execução de pena em casos de lesões irrelevantes (expressão do princípio da insignificância) PRINCÍPIO DE HUMANIDADE ▪ Dignidade da pessoa humana como valor superior a todos os demais. Valor fundante da ordem normativa interna ▪ Garantia de integridade física e moral do indivíduo preso A proscrição de penas cruéis e infamantes, a proibição de tortura e maus-tratos nos interrogatórios policiais e a obrigação imposta ao Estado de dotar sua infraestrutura carcerária de meios e recursos que impeçam a degradação e a dessocialização dos condenados são desdobramentos do princípio da humanidade ▪ Não se limita à proibição da cominação abstrata de penas cruéis, mas também a concreta execução cruel Art. 5º, CF ▪ XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; ▪ L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação; ▪ Art. 5º, inc. XLVI, CF. A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: ▪ privação ou restrição da liberdade; ▪ perda de bens; multa; ▪ prestação social alternativa; ▪ suspensão ou interdição de direitos; Três fases da individualização da pena: ▪ Cominação: seleção pelo legislador das condutas a serem punidas e cominação das penas a serem aplicadas, de acordo com a importância do bem jurídico. Plano abstrato. ▪ Aplicação: incidência da pena a um agente específico, que praticou uma conduta típica, ilícita e culpável. Sistema trifásico de aplicação da pena pelo magistrado (art. 68 CP). Plano individual e concreto. ▪ Execução: art. 5º da LEP (Lei 7.210/84). Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal. Mirabete: dar a cada preso as oportunidades e os elementos necessários para sua reinserção social, de acordo com as características individuais. PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO DAS PENAS ▪ Pena de morte é admitida no Brasil? ▪ Art. 5º, inc. XLVII, CF. Não haverá penas: ▪ a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX (fuzilamento, art. 56 do CPM); ▪ b) de caráter perpétuo; ▪ c) de trabalhos forçados; ▪ d) de banimento; ▪ e) cruéis; ▪ Relação com os princípios da dignidade da pessoa e de humanidade. Impede o retrocesso na cominação das penas. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE ▪ Consolidação no período iluminista. Obra “Dos delitos e das Penas” (Marquês de Beccaria). A pena deve ser proporcional ao delito praticado. ▪ Desenvolvido pela teoria constitucional alemã ▪ Não se encontra expresso na CF, porém decorre de outros, a exemplo da individualização da pena. Juízo de ponderação entre o bem jurídico violado ou posto em perigo e a pena a ser cominada concretamente ao infrator. Relação deve ser equilibrada. Gravidade do fato versus gravidade da pena. Três desdobramentos: Adequação ▪ Necessidade ▪ Proporcionalidade em sentido estrito ou avaliação ▪ “A pena corresponde à troca jurídica do crime medida em tempo de liberdade suprimida.” Juarez Cirino dos Santos ▪ Dupla destinação: ao legislador (ao cominar as penas em abstrato) e ao magistrado ▪ Discussão presente no art. 213 do CP (condutas com diferentes níveis de gravidade enquadradas como estupro. Ex: beijo lascivo e toque) PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL ▪ Art. 5º, XLV, CF: nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; ▪ Também conhecido como princípio da impessoalidade ou intranscendência da pena Somente a pessoa do condenado poderá ser submetida à sanção imposta pelo Estado. Caráter estritamente pessoal das sanções penais. ▪ A obrigação de reparar o dano (não penal): poderá ser exigida, até as forças da herança. ▪ Pena de multa: dívida de valor; não pode ser convertida em pena privativa de liberdade. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU NÃO CULPABILIDADE ▪ Art. 5º, inc. LVII: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.” STF: divergência jurisprudencial. Diferentes fases. ▪ Em 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a sua segunda posição e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. ▪ Assim, é proibida a execução provisória da pena. Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena. O princípio também se aplica no âmbito da execução penal. • No âmbito da execução penal, a aplicação das sanções disciplinares, decorrentes da prática de faltas, exige a observância do devido processo legal e dos princípios da culpabilidade e da individualização das condutas, não se admitindo sanções de caráter coletivo, conforme art. 45, § 3º, da Lei nº 7.210/84 (LEP). Confira-se, ainda, a jurisprudência do STJ: • “O princípio da culpabilidade irradia-se pela execução penal, quando do reconhecimento da prática de falta grave, que, à evidência, culmina por impactar o status libertatis do condenado" (HC-292.869/SP. Relatora Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA. SEXTA TURMA, Dje 29/10/2014). PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO BIS IN IDEM ▪ Deriva da dignidade da pessoa humana Proibição à duplapunição pelo mesmo fato ▪ Súmula 241 do STJ: “A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.” ▪ Todavia, caso o sujeito seja duplamente reincidente, poderá uma delas servir como circunstância judicial e a outra como agravante. Aplicação da lei penal Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. Princípios da estrita legalidade e da anterioridade A norma penal incriminadora deve ser instituída por lei em sentido estrito (lei complementar ou lei ordinária), de competência privativa da União, e deve ser anterior ao fato criminoso Por não haver crime, nem pena, sem lei prévia que os defina, não é possível o emprego da analogia para criar um novo tipo penal ou agravar uma pena. Analogia: integração, suplementação, colmatação de uma lei. Trata-se da aplicação a um caso de lei que regula situação assemelhada., Analogia ▪ Método de pensamento comparativo de grupo de casos. Aplicação da lei penal a fatos não previstos, mas semelhantes aos previstos. ▪ Fundamento: princípio de equidade. Situações semelhantes devem receber igual tratamento. ▪ No Direito Penal, somente se admite a analogia in bonam partem. A analogia in malam partem, isto é, aquela que agrava a situação ou prejudica o réu, não é admitida, por ofensa ao princípio da estrita legalidade. ▪ Espécies de analogia: ▪ 1. In malam partem ▪ 2. In bonam partem ▪ 3. Legal ou legis ▪ 4. Jurídica ou juris Analogia ▪Analogia legis: aplica-se ao caso omisso uma lei que cuida de caso semelhante. Vale lembrar não ser admitida a aplicação, por analogia, de lei assemelhada se existe previsão específica para o caso. Não cabe ao magistrado dizer que o legislador deveria ter regulado aquela hipótese de outra forma. ▪Analogia juris: aplicação ao caso de um princípio geral do direito Normas penais em branco São aquelas que não reúnem em si todos os elementos necessários à sua aplicação. Também denominadas normas penais abertas ou cegas. Necessitam de um complemento normativo em seu preceito primário (em regra). Preceito primário: descrição da conduta criminosa Preceito secundário: pena Art. 121. Matar alguém: (preceito primário) Pena – reclusão, de seis a vinte anos (preceito secundário) Normas penais em branco Podem ser próprias (em sentido estrito ou heterogêneas), quando o complemento é dado por espécie normativa diversa da lei (portaria, por exemplo) ou impróprias (em sentido lato ou homogêneas), quando o complemento é fornecido pela própria lei As normas penais em branco impróprias (ou homogêneas), por seu turno, dividem-se em homovitelinas e heterovitelinas. • Homovitelinas: a lei incriminadora e seu complemento encontram-se no mesmo diploma legislativo • Heterovitelinas: a lei incriminadora e seu complemento estão em diplomas diversos Norma penal em branco própria Lei 11.343/06 ( Lei de Drogas): Art. 1 o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes. Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. Os crimes previstos na Lei de Drogas são classificados como normas penais em branco próprias ou em sentido estrito, pois necessitam de complementação por espécie normativa diversa da lei (ato administrativo do Ministério da Sáude/ ANVISA) Norma penal em branco imprópria homovitelina Peculato Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. O art. 312 se trata de norma penal em branco imprópria ou em sentido lato homovitelina, já que a definição de funcionário público é dada pelo próprio Código Penal, em seu art. 327. Funcionário público Art. 327. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. Norma penal em branco imprópria heterovitelina Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. A definição dos impedimentos está no Código Civil Lei penal no tempo Art. 2º . Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado Abolitio criminis: supressão da figura criminosa. Causa extintiva da punibilidade (art. 107, inc. III, CP). Desaparecem os efeitos penais (reincidência, maus antecedentes), permanecendo os extrapenais (efeitos civis, obrigação de reparar o dano, constituição de título executivo) Não se fala de abolitio criminis quando o fato criminoso passa a ser disciplinado por dispositivo legal diverso (princípio da continuidade normativa ou continuidade normativo-típica). Exemplo: art. 214 do CP revogado em 2009. Superveniência de lei penal mais benéfica (lex mitior ou novatio legis in mellius) Art. 5º, inc. XL, da CF: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. A retroatividade da lei penal mais benéfica opera-se de imediato, dispensa cláusula expressa ou regulamentação e alcança inclusive os feitos já transitados em julgado. Nesse último caso, caberá ao juízo das execuções penais aplicar a lei penal mais favorável. Súmula 611 do STF.