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01 Perguntas e Respostas Como a ACP trabalha a ludoterapia? 129 Esther Carrenbo "As crianças conseguem expressar com mais pureza e simplicidade do que adultos..." Dircenéa de Lazzari Corrêa Sempre que alguém pergunta em supervisão, como a ACP tra- balha a ludoterapia, vêm à minha memória alguns fatos da mi- nha infância e começo a refletir em como gostaria de ter sido atendida caso tivesse ido para algum psicólogo. E a primeira resposta que me vem à mente é que gostaria de ser notada, ser reconhecida e valorizada pelas minhas ideias, pensamentos e comportamentos. Claro que esses desejos refletem o que me faltava enquanto criança. Cada criança tem uma singularidade, Ninguém é igual a ninguém. Nem a Talvez o maior cri- me que se comete contra a criança em atendimento psicológico seja o de classificá-las e generalizá-las como se elas não tivessem uma história de vida Quando os pais ou responsáveis buscam ajuda para uma criança, no mínimo eles estão preocu- pados e quem sabe sofrendo e sem saber como resolver o que entendem que é um problema. A criança, em geral, também está sofrendo. Se não sofre por si mesma, sofre em perceber que seus pais sofrem por causa dela.A primeira coisa que um profissional precisa saber quando se A proposta da ludoterapia na Abordagem Centrada na Pessoa compromete a atender uma criança em ludoterapia é algo sim- é ajudar a acriança a se ajudar. É facilitar para que ela encontre Perguntas e Respostas ples. A criança não é um adulto, mas nem por isso deixa de ser seu próprio caminho dentro da sua realidade. O contrato é feito uma pessoa única, que merece todo respeito e interesse genuíno com os pais, obviamente, mas o profissional não está lá para pelo profissional. fazer parte do quadro de pessoas que tentam moldar a criança Atualmente, já temos muito material bem elaborado dire- de acordo com o que acham correto. A psicoterapia de crianças Perguntas e Respostas cionado para ludoterapeutas. Destaco aqui os livros de Virginia tem como proposta fortalecer que é peculiar e específico da- Mae Axline, que conviveu com Rogers e desenvolveu um tra- quela criança e que faz sentido para ela. Enfim, é um trabalho balho de psicoterapia para crianças, praticando toda a teoria da que deverá fortalecer o jeito de ser da criança. Abordagem Centrada na Pessoa. Considero também de muita Outra confusão que se faz pertinente à ACP, em relação a importância capítulo sobre ludoterapia de Dircenéa de La- atendimento infantil, é que, por não se usar o controle e a di- 130 zzari Corrêa (Klöckner, 2009) e o de Anita Bacellar (Bacellar retividade no contexto psicoterapêutico, acredita-se também 131 2009). Mas quero listar aqui algumas coisas que ao meu ver são que não há necessidade de providenciar brinquedos e todos os fundamentais no atendimento infantil. recursos possíveis para que a criança possa escolher o que quer Em primeiro lugar, foco principal é que a criança apre- fazer e se sinta bem. Da mesma forma que não se entra com um senta, fala ou revela na interação terapêutica. É importante ou- script pronto para o atendimento de um adulto, também não se virmos as queixas dos pais e/ou da escola, mas interesse deve entra com o atendimento planejado para a criança. Ela é quem ser voltado para a queixa ou aquilo que a criança apresenta, pela deve escolher. Mas para que ela escolha, é necessário ter material fala ou brincando, como dificuldade. que foi relatado pelos disponível e ainda deixá-la livre para que ela traga seu próprio pais será falado com a criança, mas deverá receber do profissio- material, se assim quiser. nal a mesma importância dada pela criança. Uma psicóloga que faz parte do meu grupo de supervisão tem seu consultório do lado de um terreno grande com jardim e gramado. Ela deixa as crianças livres para escolherem. E muitas Lembro-me de uma criança, um menino de oito anos, que crianças já escolheram brincar na grama, mexer na terra do jar- a mãe e a professora achavam que sofria por ter poucos amigos na dim. Uma menina diagnosticada com um leve grau de autismo, escola e passar muito tempo sozinha. Quando abordei o assun- quando viu a cozinha, sugeriu fazer alguma comida juntas. A to, ele respondeu imediatamente: "Eu tenho amigos, mas gosto terapeuta topou e foi um dos atendimentos onde a garota mais de ficar sozinho." E na verdade, o que se comprovou é que se expressou. Tanto pela fala quanto pelo que iam fazendo. A ele estava cada vez mais sozinho, porque não se sentia amado dificuldade que se apresenta quando se trabalha com crianças pelo pai, por não gostar de futebol. Quando o pai soube disso, com essa liberdade é relacionamento com os pais. Muitos pais num dos nossos encontros, mudou sua postura e o menino em trazem os filhos para a ludoterapia com desejo de que o psi- consequência se tornou mais sociável. coterapeuta se torne alguém que vá mudar a criança de acordo com o que os pais acham correto. Penso que os pais deveriamtrazer uma criança para a psicoterapia esperando que o psicólo- Qual a diferença entre psicoterapia, orientação e aconselhamento? Perguntas e Respostas go os ajude a enxergar melhor quem é o seu filho. Quando isto não acontece, cabe ao psicólogo esclarecer bem qual é o alvo da- Márcia Tassinari quele trabalho e aos pais cabe escolher se querem levar adiante ou não a proposta psicoterapêutica. A etimologia das palavras psicoterapia e terapia vem de thera- Outra dúvida que sempre surge, na supervisão referente ao peuen, palavra grega que significa cura e iniciação, mas também Perguntas e Respostas atendimento infantil, é a questão dos limites necessários quanto therapón, que significa aquele que dirige carro do guerreiro. O ao horário, determinadas regras na sala e guardar os brinquedos. therapón limpava as armas (lanças), o escudo e as armaduras do A questão é a mesma do atendimento de adultos. Não controlar guerreiro. o que vai acontecer no atendimento não significa permissivi- A primeira forma de psicoterapia surgiu no século V a.C. dade para algum comportamento que traga danos para os mó- com o sofista Antífon, que propôs a Techné Alupias (arte de ven- 132 veis ou qualquer outro elemento da sala. E muito menos algum cer a depressão ou o tratamento das paixões). Antífon criou o 133 comportamento que cause mal estar e incômodo para psico- método de techné alupias, um tratado sobre como se elimina a terapeuta. E desde o início, no primeiro atendimento, é impor- dor. Criou um alojamento para encontrar com as pessoas e os tante que a criança saiba que algumas coisas são necessárias para resultados eram alcançados pelo dia logon, com as palavras, por a ordem e o bom andamento do trabalho do profissional para meio do diálogo. outras pessoas. Aconselhamento Psicológico. No que diz respeito à etimo- Os brinquedos, a sucata e todo material possível deve ficar à logia do aconselhamento não diretivo, a palavra conselho nos disposição da criança. Não ter diretividade e controle não signi- remete a consilium, que significa com/reunião. Essa fica não promover os recursos para que a criança possa escolher significação é importante, pois supõe a ação de duas ou mais o que quer fazer ou com o que quer brincar. Ela pode ficar livre pessoas voltadas para a consideração de algo. É a própria no- para trazer o que quiser de sua casa, mas nada melhor do que ela ção de um conselho: várias pessoas reunidas para examinar com perceber que profissional cuida do ambiente e dos materiais atenção, olhar com respeito, para deliberar com prudência e jus- que ficarão disponíveis para ela por algum tempo na semana. teza (SCHMIDT, 1987). Enfim, é preciso que a criança sinta que psicoterapeuta Rogers introduziu a dimensão clínica no aconselhamento está realmente interessado nela e a aceita. E num clima de aco- psicológico, ao propor mudanças em três eixos: lhimento haverá a facilitação para que a criança expresse seus Do problema para a pessoa conteúdos internos e os reintegre em suas vivências, construin- Da avaliação/medição para a relação do dessa forma sua autonomia. Da solução/produto para o processo de mudança A partir desse tipo especial de aconselhamento, da gravação das entrevistas de aconselhamento e das pesquisas a respeito da eficácia da terapia centrada no cliente, Rogers contribuiu, de maneira significativa, para que os psicólogos pudessem tambémpraticar a psicoterapia, prática reservada aos médicos de forma- não têm existência concreta fenomenal. Freud precisou criar Perguntas e Respostas ção psicanalítica. um construto que desse conta do fenômeno da relação e as- A partir de Rogers, a diferença entre psicoterapia e aconse- sim hipotetizou que toda e qualquer reação do paciente para o lhamento ficou meio tênue e o próprio Rogers, em entrevista, analista estava no lugar de outra, no caso, das figuras parentais. respondeu: Assim, o paciente transfere (positiva ou negativamente) senti- Perguntas e Respostas "Quem decide se é psicoterapia ou aconselhamento é o próprio cliente: mentos, desejos e atitudes que vivenciou nas primeiras relações quando ele tem uma questão pontual e não tem interesse em reorgani- parentais. Mais tarde, Freud deu-se conta de que o fenômeno zar sua personalidade, ele está pedindo aconselhamento e eu respondo relacional era um fenômeno de mão dupla, isto é, o analista, como conselheiro, mas quando ele solicita reflexões a respeito de sua eventualmente, tinha sentimentos, desejos e atitudes em relação vida, sem uma questão específica, ele está solicitando psicoterapia e eu a seu paciente que, na verdade, eram de outras relações, criando respondo como psicoterapeuta." o conceito de contratransferência. Em um primeiro momento, 134 Freud considerou a contratransferência inadequada, pois indi- 135 Essa resposta de Rogers nos indica que não existe diferença cava um grau de imaturidade por parte do analista. conceitual entre uma e outra forma de intervenção, ainda que Pois bem, e a Abordagem Centrada na Pessoa? Rogers criti- as intenções sejam distintas. cava a postura formal e distante de Freud e focalizava realmente a importância do vínculo relacional entre cliente e terapeuta. Rogers propõe, ao contrário de Freud, uma relação profissional e pessoal, ressaltando a importância da consideração (carinho) pelo outro, sem avaliações, sem impor nenhuma condição. Como a ACP trabalha com a "transferência"? E a Outro aspecto presente na ACP e que tem causado tantas distorções refere-se à atitude de congruência do terapeuta. Esse terapeuta não usa máscaras nem artificialismo: ele não abdica Marcia Tassinari de sua condição de pessoa inteira, em estado de acordo interno Essa pergunta sempre aparece nas aulas e palestras. É como se para promover um clima seguro e de confiança para que o cliente os alunos buscassem a "tradução" dos conceitos da Psicanálise possa se entregar. Por outro lado, podemos ver que tanto os con- (mais estudada na graduação e mais conhecida na sociedade) ceitos freudianos quanto as atitudes rogerianas apresentam in- para outras fundamentações teóricas. terfaces, pois estão inseridos em uma relação e referem-se aos afe- Freud, inicialmente, ficou atento à qualidade relacional cria- tos que são construídos nessa relação. Assim, podemos entender da entre ele e seus pacientes, entretanto, como o modelo criado certa confusão, mas precisamos localizar de onde eles partem. por ele entendia o profissional como um expert ou especialis- ta e não como uma pessoa, não era possível falar de relaciona- Marcos Alberto mento de "pessoa a pessoa". Transferência e contratransferência são conceitos (pertencem à teoria) e não fenômenos, portanto, Durante toda minha vida profissional, estive distante da vidaacadêmica por ter escolhido ser psicoterapeuta em tempo inte- por esse motivo uma abordagem "paralela" não seria necessária. Perguntas e Respostas gral, mas, mesmo assim, percebo que o tempo que as universi- Em um atendimento demonstrativo de Carl Rogers, intitu- dades têm dedicado a falar da Abordagem Centrada na Pessoa lado Entrevista com Glória, de 1965, em determinado momen- continua muito pequeno. Desde os tempos de minha passagem to, há o seguinte diálogo: pela universidade, nos anos 80, já era assim. Felizmente, no meio da maioria de professores psicanalistas e comportamen- Cliente: Sim. O senhor sabe o que eu estava pensando agora? Eu uma Perguntas e Respostas tais, tive a sorte de ter alguns professores humanistas, dentre eles pessoa insignificante agora de repente, estava conversando consigo, um que utilizava essa abordagem como referência profissional. pensei, como posso conversar tão bem com senhor, gostaria Foi com a ajuda dele, o então professor Cláudio Bérgamo, que que o senhor me aprovasse e eu o respeito, e é o que sinto falta, meu iniciei os meus estudos (principalmente fora da universidade) pai nunca me falou como o senhor está me falando. Quero dizer, eu gostaria de dizer: "Puxa, gostaria de ter o senhor como pai." Nem sei dentro dessa referência teórica. por que cheguei a pensar nisso. 136 Infelizmente, por sermos minoria, temos menos profes- Terapeuta: Você até parece filha minha. Muito amável. Mas você sente 137 sores universitários atuando nas universidades, o que faz falta realmente é do fato de não ter conseguido ser franca com o seu com que a nossa abordagem seja menos difundida. Os forman- próprio pai (ROGERS, 1986). dos saem da universidade com o referencial teórico da psica- nálise ou da psicologia comportamental, gerando novos pro- Ao término desse atendimento, Rogers faz um breve relato fessores dessas abordagens, tornando-se assim uma grande bola da Abordagem Centrada na Pessoa para o público e faz o se- guinte comentário: de neve. Escolhi fazer este comentário para falar que, em fun- ção disto, saímos das universidades contaminados por essas Os psicanalistas de plantão talvez digam neste trecho que ali estaria um caso clássico de transferência e contratransferência, mas se apegar a outras abordagens e isto acaba por dificultar a compreensão isto é diminuir um momento tão íntimo e profundo que só eu e Glória do funcionamento da ACP, por ela ter um jeito totalmente sabemos o que significou. oposto ao que nos habituamos a ver durante o nosso tempo de formação. Pelo que entendo, a Abordagem Centrada na Pessoa não Por diversas vezes, nos cursos que esporadicamente ministro, questiona se Freud estava certo ou errado em seus conceitos. já me perguntaram o que é o equivalente a "transferência" em Também não se questiona se existe ou não a transferência, a nossa abordagem. Perguntam-me a respeito do que é equivalen- contratransferência ou qualquer outro mecanismo estudado pela te a vários conceitos psicanalíticos. Confesso que esse tipo de psicanálise. A grande questão, a meu ver, é que me apegar a esses pergunta sempre me deixa surpreso e costumo dizer, em tom mecanismos não me auxilia em absolutamente nada na relação de brincadeira, embora esteja falando sério, que na ACP não há de ajuda, pois, se estiver atento a esses mecanismos, provavel- nada equivalente a esses termos e a essas posturas, pois, se fosse mente ficarei desatento à relação e à interação com o cliente, que assim, essa abordagem não precisaria existir, pois estaria apenas para mim é o que facilita o processo de crescimento da pessoa. dando outros nomes aos conceitos já existentes na psicanálise e Ficar preso a nomes ou a mecanismos me limita nessa relaçãoe me impede de estar inteiro com a pessoa. Não me importa o de ajuda a essa pessoa, e essa postura de observador em nada Perguntas e Respostas nome ou o mecanismo, me importa a interação, o envolvimen- contribui para esse processo de crescimento. to, a capacidade em compreender essa pessoa a partir dela, a ca- pacidade de ser autêntico em minhas expressões e a capacidade de ter um acolhimento de forma incondicional. Ainda que Freud esteja certo e que exista uma relação de Perguntas e Respostas transferência no processo psicoterápico, a Abordagem Centrada na Pessoa lida com ela da mesma forma que lida com qualquer que fazer quando percebo que meu cliente não está acontecimento, sentimento ou expressão da pessoa. Em outras crescendo? palavras, não importa para a nossa abordagem se há ou não qual- Márcia Tassinari quer um desses mecanismos por parte do cliente na relação. Isto 138 não tem importância nenhuma para o processo da psicoterapia A avaliação do psicoterapeuta ideal deveria estar em sintonia 139 e da tentativa de facilitar condições para o seu crescimento. com seu cliente, pois, em se tratando de uma relação igualitá- Rogers dedicou grande parte de um capítulo do livro Tera- ria, o que um vivencia, o outro vivencia em alguma intensidade pia centrada no cliente para falar desse assunto, na tentativa de (nem sempre na mesma). Portanto, se tenho a sensação de que dirimir qualquer dúvida a respeito do tema. Falando da transfe- meu cliente não está crescendo, devo convidá-lo a avaliar essa rência, ele nos diz: minha sensação como hipótese a respeito dele. Nessa aborda- gem, é o cliente que sabe melhor dele. O terapeuta lida com isso da mesma forma como lidaria com atitudes similares dirigidas a outras pessoas. Parafraseando e modificando a fra- se de Fenichel para adaptá-la a essa abordagem seria possível dizer: "A Marcos Alberto relação do terapeuta centrado no cliente à transferência é a mesma em relação a qualquer outra atitude do cliente: ele procura compreender e Antes de tudo, é importante ressaltar que uma das inúmeras e aceitar" (ROGERS, 1951). grandes diferenças da ACP para as demais abordagens psico- terápicas é que em nossa abordagem o psicoterapeuta não se Em minha opinião, o importante é não perdermos o foco, o enxerga como um ser superior na relação, ou seja, óbvio é envolvimento com a pessoa. E se estivermos preocupados em en- que é impossível eu ter certeza de forma tão clara a respeito de tender mecanismos ou conceitos, de certo nos perderemos dessa algo nessa pessoa, pois tenho convicção de que nessa relação pessoa com toda a sua riqueza de sentimentos e nos perderemos de ajuda eu sou "apenas" um companheiro. Um companheiro dela em meio às explicações, mesmo que bem intencionadas, ativo e atuante, mas ainda assim um companheiro que não tem que servirão muito mais para a satisfação do psicoterapeuta em poderes de saber da pessoa mais do que ela mesma. se perceber e se manter como alguém com poderes de desvendar Carl Rogers escreveu inúmeras vezes que apenas a própria o "inconsciente" do outro, mantendo-se em uma posição de su- pessoa e ninguém mais, além dela, tem de fato a capacidade de perioridade em relação à pessoa, do que para facilitar condições saber que está se passando nela, assim como as suas motiva-ções e intenções. Para expressar essa ideia, em um de seus livros, Não me agrada nenhum tipo de expressão vinda do psicote- Perguntas e Respostas ele dá um exemplo a respeito de si mesmo: 160 rapeuta como sendo uma verdade do outro. Não creio que te- (...) apenas uma pessoa (pelo menos enquanto eu éstiver vivo e talvez mos poderes para isto e tenho a de que a única pessoa para sempre) pode saber que eu procedo com honestidade com apli- a saber de fato a respeito de si é ela mesma. cação, com franqueza e com rigor, ou se 0 que faço é falso, defensivo e No entanto, estando em sintonia com a pessoa de forma em- fútil. E essa pessoa sou eu mesmo (ROGERS, 1961). pática, penso que seja um direito do outro saber o que está se Perguntas e Respostas passando em mim em todas as questões que tenham a ver com Muitas vezes, ouvindo outros profissionais, sinto que temos ela. Não me agrada dizer ao outro as minhas percepções como a tendência de acreditar muito mais no nosso potencial de "per- verdade, mas também não me agrada a possibilidade de guardar ceber algo no outro" do que no de realmente crermos no poten- as percepções que eu tenha com relação à pessoa, pois me senti- cial dessa pessoa. ria desonesto e omisso se assim fizesse. 140 De todo modo, quando ouço uma pessoa genuinamente, Algo que me serve e sempre me ajuda quando tenho alguma 141 tendo uma consideração incondicional positiva, empática, e percepção ou sentimento com relação à pessoa que atendo é di- sendo congruente, a tendência é que em muitas situações eu reito de poder me expressar com cuidado de deixar sempre cla- esteja tão concentrado e em sintonia com essa pessoa que eu ro que é apenas uma percepção, e não uma verdade do outro. posso acabar sentindo algo na fala, na expressão ou nas atitudes A esse respeito, Gendlin nos diz: da sua vida sob um ângulo diferente do dela. Em minha opinião, se eu deixar de expressar essa percepção O terapeuta pode ser mais ativo e, ao mesmo tempo, apresentar menos ou sentimento, serei omisso e trabalharei a favor do mito da não imposição e ameaça, se se exprimir suas imaginações e sentimentos, diretividade, expressão já discutida neste livro e que o próprio desejos e fatos que se revelam nele desde que faça clara e explici- Rogers se desculpou por ter criado, embora não tenha a certeza tamente, como afirmações a respeito de si mesmo ou de acontecimen- tos que no momento se revelam em seu íntimo. Desta maneira ele se de ter sido o seu autor. "Nunca consegui saber quem inventou a expressão não di- entrega mais abertamente, embora não se imponha a vivência do clien- retiva. Se fui eu, peço desculpas, embora fosse descritiva, sem te. Fala de si. Não impõe nem força coisa alguma no espaço vivencial do cliente; não confunde acontecimentos nele com acontecimentos no dúvida, de uma certa fase inicial. (ROGERS, 1975) cliente (GENDLIN, 1967). Como já disse, através da psicoterapia, muitas vezes temos condições de, por estarmos vivendo a relação em sintonia com a Muitas vezes, quando isto acontece, acaba sendo algo facili- pessoa de forma empática, termos algumas percepções do outro tador na pessoa, pois, de alguma forma, eu consegui através des- que ele ainda não tenha tido. sa sintonia perceber algo que estava nela e que, por algum mo- Pode ser que ele não a tenha por não ter enxergado aquilo até tivo, ela ainda não percebia em si. Outras vezes, eu também fui aquele momento, ou por realmente aquilo não ter nada que ver capaz de a minha percepção ou sentimento com relação com.ele, mas sim comigo, com as minhas expectativas ou com a a algo nessa pessoa e isto não fez nenhum sentido para ela. Nes- dificuldade de não interpretarmos a pessoa. se caso, prefiro acreditar que a minha percepção tinha a ver com asminhas expectativas e não com ela. Tenho confiança no outro! para me expressar como alguém que está totalmente disposto a Perguntas e Respostas De algum modo, aprendemos na universidade ou através de caminhar junto com essa pessoa que busca ajuda. Dessa forma, outras abordagens que temos sempre razão. sinto-me à vontade para falar das minhas percepções, deixando Já ouvi colegas exclamarem: "Ele está negando esse conte- claro que são minhas e que posso estar enganado e, a partir daí, údo!" Ou: "Ainda não chegou o momento de ele perceber!" Já ter a capacidade de continuar confiando nessa pessoa mesmo ouvi clientes dizerem que, se o psicoterapeuta falou, é porque quando que eu digo não causa nenhuma ressonância nela e Perguntas e Respostas deve ter razão, pois é um especialista! ela não identifica a minha fala a seu respeito. É imprescindível, Não quero entrar aqui no mérito de a pessoa estar ou não a meu ver, ter a confiança e a humildade em respeitar sempre a negando algo. A grande questão para mim é que, mesmo que eu soberania da pessoa em seu processo. tenha razão e que ela ainda não esteja no momento de perceber tal coisa, se confio de fato no processo da pessoa, isto significa 142 que é importante que eu tenha convicção de que, se isto de fato 143 for importante em outro momento, ela irá perceber no seu ritmo e da sua forma. Falar de uma percepção minha com relação à pessoa como É possível usar alguma técnica no atendimento em ACP? sendo uma verdade dela não só não a ajuda, como também me Márcia Tassinari torna prepotente. A esse respeito, Rogers nos fala, dando um exemplo do seu trabalho com grupos: Se entendermos técnica na concepção grega de techné, ou seja, como arte ou artesanato, então a ACP seria uma técnica em si Não aceito bem, como facilitador, uma pessoa que, com frequência, mesma. Entretanto, considerando a utilização atual de técnica faz interpretações dos motivos ou causas do comportamento dos mem- como algo a ser aplicado no outro, com uma atitude de especia- bros do grupo. Se são inexatas, não ajudam em nada; se são profun- lista, então a ACP não tem uma técnica. Na verdade, a técnica damente exatas, podem despertar uma defesa extrema ou, pior ainda, está sempre a serviço das atitudes promotoras de crescimento. despir a pessoa das suas defesas, deixando-a vulnerável e, possivelmen- Isto significa que o psicoterapeuta pode fazer qualquer coisa te, magoada como pessoa, especialmente depois das sessões de grupo terminarem. Afirmações como: "Tem de fato uma grande hostilidade desde que atenda às condições necessárias e suficientes para a latente" ou "Penso que está compensando-se da sua falta essencial de mudança terapêutica da personalidade. Cada um precisa desen- masculinidade" podem perturbar o indivíduo durante meses, causan- volver seu "jeito de ser" para promover um clima psicológico se- do-lhe grande falta de confiança na sua capacidade de compreender a guro para o cliente ou grupo se abrir ou se entregar à descoberta de todas as suas possibilidades. si próprio (ROGERS, 1970). Como já mencionei, tenho confiança na pessoa e na sua ten- dência ao crescimento e isto me tranquiliza na relação terapêuti- Marcos Alberto ca, pois, como companheiro nesse processo, sinto-me à vontade Acho importante, antes de qualquer coisa, termos a compreen-são do que entendo como técnica. É óbvio que, quando falamos A partir da confusão que se faz com mito da não diretivi- Perguntas e Respostas dessa abordagem, nos referimos a um jeito de ser e a um con- dade, criou-se outro mito, que é o da proibição de utilizarmos junto de crenças que temos, de que, a partir de determinados esse tipo de técnica. princípios, poderemos proporcionar ajuda que pode vir a facili- A expressão não diretivo foi usada por Rogers no início da tar as condições de crescimento ao cliente. formulação dessa teoria e a sua intenção era dizer que quem A partir daí, penso que determinadas técnicas se contradi- Perguntas e Respostas conduzia o andamento da relação psicoterápica era o cliente, zem com essa abordagem, pois se utilizo, por exemplo, uma e não psicoterapeuta, em função da nossa crença no prin- interpretação, uma técnica de condicionamento ou outra qual- cípio de tendência atualizante e que, sob condições especiais, quer que roube da pessoa o seu direito a sentir-se e ser livre em um ambiente onde houvesse por parte do psicoterapeuta ou que a violente de modo que eu passe a mensagem para a uma consideração empática, congruência e uma consideração pessoa que eu sei mais dela do que ela mesma, fica impossí- incondicional positiva, em um clima favorável, a pessoa teria 144 vel utilizá-las por uma questão filosófica de visão de mun- maiores condições de buscar novas alternativas para o seu de- 145 do e de visão de pessoa. Se eu creio de fato na importância senvolvimento, de forma que pudesse sentir-se mais saudável e da soberania da pessoa em se tratando do seu interesse em em harmonia consigo mesma e consequentemente com o seu desenvolver-se e na capacidade da pessoa em se autodirigir, meio. Essa expressão servia para designar que o "poder" na re- fica ilógico eu ter alguma postura que contradiga essa crença. lação psicoterápica era do cliente, e não do psicoterapeuta, que, Por outro lado, quando falamos de algumas técnicas, como na relação, era "apenas" um companheiro que buscava facilitar os exercícios psicológicos, embora exista grande resistência por esse contato da pessoa consigo mesma. parte de vários profissionais dessa abordagem, a meu ver, desde Com o passar do tempo, a expressão não diretivo foi rece- que bem fundamentadas, aplicadas de forma espontânea, e com bendo outra conotação por parte das pessoas que utilizavam a alguns cuidados para que não sejam perdidos os princípios em Abordagem Centrada na Pessoa como referência e acabou por se que acreditamos, elas podem contribuir e complementar a rela- distorcer, dando a impressão de que o psicoterapeuta não podia ção de ajuda, desde que isto faça sentido para psicoterapeuta intervir, sugerir ou propor nada para a pessoa. que a propõe e principalmente para o cliente, que é maior Uma vez, em um Fórum Brasileiro da Abordagem Centra- interessado nesse processo. da na Pessoa, um profissional apresentou um trabalho de bio- Meu objetivo é poder expressar a minha opinião a respeito dança e, antes da apresentação, fez questão de ressaltar que aqui- desse segundo modelo de técnicas ou de "exercícios" e a possibi- lo nada tinha que ver com a ACP. Ao término da apresentação, lidade de sua utilização dentro da visão centrada na pessoa. abriu-se uma roda para que pudéssemos conversar e perguntei Já citei anteriormente, no capítulo onde exponho a minha à pessoa o motivo pelo qual ela achava que aquela atividade visão a respeito dos princípios da Abordagem Centrada na Pes- não tinha nada que ver com a ACP. A pessoa não soube me soa, mais precisamente nas considerações finais, alguns mitos responder. que, de certa forma, a meu ver, têm prejudicado o desenvolvi- Uma sensação que tenho é que, muitas vezes, somos passivos e mento dessa abordagem. tentamos muito mais nos espelhar na forma como Carl Rogersfazia do que assimilarmos suas propostas de maneira que, a partir mesmo tempo não é contrária à utilização de técnicas, como Perguntas e Respostas delas, tenhamos a liberdade de as utilizarmos de forma que os "exercícios de desde que haja alguns cuidados combine com o nosso próprio jeito de ser. Prezamos acima de especiais, que façam com que os princípios básicos dessa abor- tudo a liberdade, mas, paradoxalmente, nos engessamos na for- dagem não sejam feridos. ma como Rogers fazia e o tratamos como um "deus". Tenho O que há em nossa abordagem, a meu ver, é um cuidado convicção de que, se Rogers tivesse ao longo da vida se utilizado Perguntas e Respostas para que a técnica não seja a prioridade da relação ou que ela de algumas técnicas, elas teriam perdido a conotação de algo não exista para satisfazer ao psicoterapeuta. Se existir algum tipo "errado" dentro dessa abordagem e seriam utilizadas de forma de técnica, a meu ver, ela jamais pode ser utilizada por imposi- natural. ção do psicoterapeuta, mas pode ser sugerida caso o profissional Durante sua vida, em função de suas ideias inovadoras, Ro- a conheça e sinta de alguma forma que talvez essa sugestão seja gers foi muito criticado por opositores, mas percebeu que, mui- útil a pessoa. A técnica pode ser utilizada desde que seja con- 146 tas vezes, as pessoas que faziam mais mal a ele e à ACP eram os sentida pelo cliente e desde que o profissional busque seguir o 147 seus "fiéis" seguidores: ritmo dessa pessoa, e não contrário, pois em um atendimento No decurso das duas últimas décadas, habituei-me a ser constante- psicoterápico cliente é a prioridade e é ele quem dá o caminho do processo. mente atacado, mas as reações às minhas ideias continuam a surpre- ender-me. Do meu ponto de vista, julgo que sempre propus as minhas Em se tratando de técnica Rogers nos diz: ideias como hipóteses de trabalho, para serem aceitas ou rejeitadas pelo leitor ou pelo estudioso. No entanto, por diversas vezes e em diferen- Em minha opinião, nada do que acontece com verdadeira espontanei- dade pode ser considerado um "truque". Por isso pode-se utilizar a re- tes lugares, psicólogos, terapeutas e pedagogos atacaram os meus pon- tos de vista com críticas cheias de violência e desprezo. O seu furor presentação de papéis, contato corporal, o psicodrama, os exercícios atenuou-se um pouco durante os últimos anos, mas renovou-se entre como o que descrevi e vários outros processos quando parecem expri- os psiquiatras, pois alguns deles viam na minha maneira de trabalhar mir que se está realmente sentindo na ocasião (ROGERS, 1970). uma grande ameaça aos seus princípios mais queridos e mais firme- Assim como Rogers, entendo que, se há uma proposta de mente admitidos. E talvez as críticas tempestuosas encontrem um pa- forma espontânea, ela perde a conotação de técnica e, em con- ralelo no dano causado por alguns "discípulos", sem sentido crítico e sem espírito inquisitivo, pessoas que adquiriram para si próprias algu- trapartida, se sinto que de alguma forma uma proposta possa ajudar o cliente e me omito em apresentá-la em função da ma coisa de um novo ponto de vista e que partiram em guerra contra toda a gente utilizando correta ou incorretamente o meu trabalho e diretividade" eu estarei sendo técnico, pois me omitirei para certas teorias minhas. Tive sempre dificuldades em saber quem me ti- cumprir determinado padrão. Não há uma verdade absoluta na nha feito um mal maior, se os meus "amigos", se os meus adversários Abordagem Centrada na Pessoa e desde que eu tenha em mim (ROGERS, 1961). os princípios propostos por essa abordagem é imprescindível que eu respeite a minha espontaneidade e o meu jeito de ser. A Abordagem Centrada na Pessoa não possui uma técnica, Muitas vezes, em nome dessa nos tornamos mas sim alguns princípios e uma proposta de postura, mas ao rígidos ou manipuladores. A imposição da falta de estruturapassa a ser uma grande estrutura e muitas vezes defendemos ele e que não eram verdades absolutas. Sempre nos convidou a Perguntas e Respostas a ausência de técnica com tanto autoritarismo por acharmos pensarmos pelas nossas próprias cabeças. Cabe a nós nos apro- que o uso de técnica é algo invasivo e autoritário. A meu ver, priarmos desse poder que, felizmente, não nos foi roubado! autoritário é sermos rígidos com relação a qualquer coisa, é nos impormos à pessoa, é acreditarmos que a nossa verdade é Esther Perguntas e Respostas soberana. Afirma Maria Bowen: "(...) além da fala, existem outras atividades que podem facilitar a terapia." Natalie Rogers "Penso que uma utilização sutil de poder interfere mais no processo de outras pessoas do que qualquer oferta direta de estrutura, exercícios, Ainda me lembro do dia em que, num grupo de psicólogos, alternativas etc." (BOWEN, 1987). alguém me perguntou: "Você tem formação em psicodrama?" "Sim", respondi, já percebendo alguns olhos arregalados, expres- 148 Particularmente, tenho me afastado cada vez mais desses sando espanto por conta da minha afirmação. Confesso que, na 149 tipos de exercícios em função de eu não ter mais sentido ne- minha ânsia de ser aceita pelo grupo, eu estava insegura naque- cessidade de propô-los, embora não me sinta proibido de fazer le momento. Fiquei perturbada e questionando a mim mesma alguma proposta, caso seja de forma espontânea e respeitando a aonde eu poderia estar cometendo algum erro. Alguns minutos soberania do cliente em aceitá-la ou não. depois, uma colega disparou um discurso criticando o uso de Mesmo que eu fosse contra a aplicação de alguma dessas técnicas, alegando categoricamente que o uso das mesmas indi- técnicas, o que não é o caso, penso que o máximo que eu cava que o profissional era invasivo e não tinha paciência nem poderia dizer é que elas não me servem. Jamais me sentiria estrutura para aguardar os movimentos da pessoa. no direito de dizer que elas não podem ou não devem ser apli- Tudo isto me impactou muito e naquele momento eu não cadas na Abordagem Centrada na Pessoa, pois não sou o dono via como explicar e muito menos como defender o uso de al- dessa abordagem. Nossa abordagem não tem dono e ao mes- gum recurso vindo do psicodrama. Mas por causa da experi- mo tempo pertence a todos nós que cremos em seus princípios ência prática que já tinha em clínica, eu sabia que as vivências, e nos utilizamos dela para o nosso desenvolvimento pessoal e quando usadas adequadamente, eram de grande ajuda para que profissional. o cliente alcançasse que estava buscando. Saí dali refletindo Cabe a cada um de nós nos apropriarmos dela da forma que sobre meu próprio trabalho e comecei a reler alguns dos livros fizer sentido para nós, sem nos preocuparmos com o consenti- de Rogers. O primeiro escolhido foi exatamente o último que mento de uma terceira pessoa, ou do próprio Rogers, que passou ele escreveu Um jeito de ser. E que alívio quando novamente a vida declinando do título de dono da ACP. Se, ao utilizarmos estava diante de um homem de 75 anos declarando sua aber- alguma dessas técnica, precisássemos da aprovação dele, com tura para novas ideias e o reconhecimento da eficácia de outros certeza a teríamos. Neste capítulo mesmo, fiz questão de utili- trabalhos realizados por outros profissionais. Rogers não estava zar uma das várias citações dele, falando a respeito do assunto. jogando fora o essencial das suas crenças em psicoterapia. Nem Rogers sempre procurou deixar claro que a sua visão pertencia a o essencial das suas experiências e afirmações. Mas estava reco-nhecendo que outras formas de trabalho também promoviam Pessoa fossem violentados. Eu poderia continuar acolhendo e Perguntas e Respostas ferramentas para as mudanças desejadas. aceitando; tendo empatia, fazendo um engate nos sentimentos Ele afirma: vivenciados pela pessoa presente; conectando-me comigo e sendo "Durante esses anos, creio que tenho estado mais aberto a novas ideias. transparente, ao mesmo tempo em que me conectava também As que se afiguram mais importantes dizem respeito ao espaço interno com meus clientes. E ainda assim oferecer novos recursos para quem eu entendesse que poderia ajudar. E, no geral, ajuda! Perguntas e Respostas o reino dos poderes psicológicos e das habilidades psíquicas da pessoa humana. A meu ver, esta área constitui a nova fronteira do conheci- Penso que todo e qualquer recurso que possa em determi- mento, o gume da descoberta. Há dez anos eu não faria esta afirmação. nado momento cooperar para que a pessoa se conscientize de Mas as leituras, a experiência e os diálogos com pessoas que trabalham conteúdos ou situações até então bloqueados do seu conheci- nesse campo mudaram a minha visão. Os seres humanos potencial- mento são bem-vindos. Concordo com Rogers (1983, p. 127): mente dispõem de uma gama enorme de poderes intuitivos... O biofe- "Focalizar ou adquirir plena consciência de alguma experiência 150 edback que veio nos mostrar que se permitirmos funcionar de modo até então negada acarreta mudanças psicológicas e fisiológicas 151 mais relaxado, menos consciente, aprendemos a controlar, até certo na psicoterapia e resulta em mudanças ponto, a temperatura, os batimentos cardíacos e todo tipo de funções orgânicas (1983, p. 24)." "Quero relatar o caso de uma mulher que foi abusada e Em seguida, ele cita as melhoras de muitos pacientes porta- violentada por vários anos na sua infância. Ela se via travada na dores de câncer quando submetidos às vivências de meditação vida, mesmo sendo uma engenheira de sucesso. Via-se perse- e de fantasias que visualizam a superação da enfermidade. Pro- guida pelo fantasma do homem que abusara dela de forma tão vavelmente, referindo-se ao trabalho de Lawrence LeShan, bem cruel. Ela foi obrigada, sob ameaça até de perder a vida, a ficar descrito no livro Câncer: um ponto de mutação. de boca calada. Isto ficou enraizado dentro dela de tal forma Uma coisa é certa: Nenhum ser humano é capaz de descobrir que ela tinha o desejo de me relatar sua história e seus senti- tudo por mais que viva. E não podemos desprezar todo o tra- mentos, mas a única coisa que saía eram alguns gemidos e gru- balho de alguém que se empenhou, observou e pesquisou num nhidos lembrando uma criança assustada, escondida, mais pa- território do qual não temos nenhuma experiência. Isto é, seja lá recendo um animal selvagem. Eu fui paciente e mantive minha quem for, haverá sempre algo que podemos aprender e aprovei- escuta nos silêncios dela. Era claro que queria se expressar. E tar para enriquecer nosso próprio trabalho e experiência. depois que ia embora, ela me escrevia, relatando tudo que que- Meu interesse em psicodrama começou quando percebi, nas ria dizer e não conseguia. Para ela, havia a crença de que, se leituras dos livros de Victor Dias, um rico material que eu po- falasse em voz alta, na minha presença, destrancaria a boca e deria disponibilizar para aqueles que me procuravam, buscando sua fala fluiria, se libertando do pesadelo do passado. Eu tinha entender e/ou sentir suas próprias realidades. Durante o curso, num canto da sala vários potes de massa de modelar que havia fui descobrindo que os recursos do psicodrama poderiam ser usado numa vivência num atendimento familiar. Senti vonta- usados sem que os fundamentos da Abordagem Centrada na de de oferecer para ela recurso da massa, e o fiz. Ela aceitoue depois de alguns minutos foi até canto pegou os potes e "Outro caso de um empresário bem-sucedido no mun- Perguntas e Respostas foi construindo bonecos que representavam ela, o abusador do dos negócios, que prestava serviço para uma montadora e sua mãe adotiva. E fez um tipo de teatro com os bone- de carros. Houve uma situação em que uma falha no serviço contando, dessa forma, alguns episódios, que realmente prestado causou muitas dificuldades para a montadora. E o foram libertadores para ela, dando início a um desbloqueio meu cliente se sentiu apavorado. Viu-se encolhido e assusta- facilitador da sua comunicação pela fala. E era isto que ela Perguntas e Respostas do diante da sensação de ameaça que dominava seus pensa- buscava." mentos. Pedi a ele que me descrevesse como eram seus pen- samentos. Ele me relatou que eram frases acusadoras do tipo: Quero citar aqui as afirmações de Natalie Rogers quando se "Viu, você é mesmo um fracassado!" "Tudo que você faz dá refere ao uso de recursos usados na ajuda da expressão de conte- em nada." "Você é um incompetente!" Em seguida, usando os údos internos, que ela nomeou "Artes recursos do psicodrama, sugeri que fizéssemos um drama ali. 152 Eu seria ele e ele seria os próprios pensamentos. Ele aceitou e 153 Estas expressões também são parte de uma poderosa linguagem que se estabelece entre o cliente e o terapeuta. A arte se torna uma parte na- repetiu as falas se dirigindo a mim, como que incorporando tural do processo terapêutico. Em outras situações, os clientes podem seus pensamentos. Ao mesmo tempo em que fazíamos o "dra- até querer começar com arte e, depois, ao ver sua própria criação, deci- ma", eu ia perguntando como ele estava e se tinha alguma per- dam falar de suas experiências. Utilizar as artes expressivas é uma forma cepção nova. Não tinha. Ele continuava apavorado diante do muito eficaz para ajudar o cliente a identificar-se com seus sentimentos. problema não resolvido na empresa. Mas para mim já estava claro que, de alguma forma, ele fora levado a crer que era um Com respeito ao clima de segurança da atmosfera centrada fracasso. E que, diante de alguma falha, normal em qualquer na pessoa, as pessoas que tendem a ser predominantemente ra- empresa, toda essa sensação de fracasso se apoderava dele, dei- cionais e verbais têm a oportunidade de permitir que aflorem xando-o imóvel e sem saída. Pedi então a permissão para que seus sentimentos de maneira benigna e construtiva. eu dramatizasse, bem como seus pensamentos, enquanto ele Por exemplo, quando o cliente perde um ente querido, a luta observava. Ele concordou. Quando ele me viu fazendo o pa- é tão dolorosa que não há palavras para expressá-la. No entanto, pel dele, que tinha que resolver uma falha, e o papel dos seus a cor, argila, uma colagem, o movimento e o som contribuem pensamentos, que o acusavam de fracassado, percebeu de onde para expressar essa luta de maneira não verbal e é extremamen- vinha lado aniquilador. Lembrou que sua mãe era muito te benéfico. O participante é capaz de liberar fisicamente parte exigente com as notas na escola. Como ele não tinha tanto dessa dor e, por sua vez, alcança um pouco de insight pessoal... interesse em estudar nos curriculares das escolas, tirava Frequentemente, a raiva é profundamente reprimida. No en- notas baixas e quase que diariamente se sentia fracassado e in- tanto, ao utilizar o movimento e o som em uma sala terapêutica competente por não tirar notas altas. Daí para a frente, foi fácil acolhedora e desprovida de ameaças, floresce a tristeza existente perceber que sua mãe não estava na empresa e que ele não era por detrás da raiva. Expressar a raiva através da cor e da forma tam- mais a criança indefesa e desprotegida. Já era um adulto que bém ajuda o cliente a transformá-la em uma energia útil e criativa. poderia enfrentar a situação por pior que fosse resultado. Eenfrentou. Renegociou o contrato com a montadora e, junto significa que necessita de acompanhamento de outros especia- com a sua equipe, refez o trabalho com resultados positivos." listas para complementar o atendimento psicológico. Perguntas e Respostas Quando uma técnica ou recurso não condiz com os funda- Esther Carrenbo Perguntas e Respostas mentos da ACP? Primeiro, quando é usado sem a permissão do cliente. Toda Há três situações onde discuto com a pessoa a possibilidade de e qualquer vivência, técnica ou recurso deve ser explicado para acompanhamento psiquiátrico. a pessoa e é ela que deve concordar ou não com seu uso ou A primeira é quando percebo que ela apresenta um prejuízo no seu rendimento ou no desempenho de alguma função. É o realização. Segundo, quando não se sabe o que fazer e se recorre à técni- caso de estudantes que diminuem a capacidade de aprendizado, ca para preencher o tempo. de trabalhadores que baixam o rendimento na profissão, de do- 155 154 Terceiro, quando o cliente silencia e o profissional fica per- nas de casas e mães que deixam de dar conta dos afazeres diários. turbado com silêncio e arruma algo a ser feito para aliviar sua Há ainda as situações em que o sono ou o apetite se alteram de tal forma ou para mais, ou para menos que prejudicam o perturbação. Quarto, quando se usam os recursos com a motivação de corpo, trazendo danos físicos e no desempenho das responsabi- mostrar que sabemos e que somos portadores de vastos conhe- lidades cotidianas da pessoa. O organismo humano estressado cimentos. não traz benefícios para ninguém. Se há um médico que pode Encerrando, quero reafirmar que o uso de qualquer recurso avaliar e indicar um medicamento que possa trazer algum alívio no contexto psicoterapêutico dentro dos princípios da Aborda- para que a pessoa volte ao desempenho daquilo que ela entende gem Centrada na Pessoa deve visar à oferta de ferramentas para que é da responsabilidade dela, então deve ser usado, claro. que o cliente encontre o que está buscando. A segunda é quando percebo nos relatos da pessoa sinais de que ela possa cometer alguma violência contra alguém ou con- tra si mesma. Orlando, engenheiro, 35 anos, é um bom exemplo disto. Veja relato dele: vezes, sinto uma fúria dentro de mim. É Podemos encaminhar um cliente para atendimento como se um entrasse em erupção. Durante meus primei- psiquiátrico? ros anos de vida, fui obrigado a engolir toda a raiva que sentia, Márcia Tassinari vendo meu pai chegar bêbado e bater em minha mãe. Uma das Se nosso cliente apresenta alguns dos sintomas descritos está no vezes, quando tinha cinco anos, mordi meu pai, mas ele me deu CID (Catálogo Internacional de Doenças) e seu sofrimento uma surra. Eu era tão pequeno, mas ficou registrado na minha comprometendo suas relações interpessoais e/ou seu trabalho, memória a raiva que senti naquele dia e eu pensava em todasas possibilidades de destruir meu pai. E assim fui crescendo. curar um psiquiatra. Um dos princípios mais importantes, ao Perguntas e Respostas De alguma forma, eu disfarçava todas as contrariedades que meu ver, da ACP, é justamente o respeito pela pessoa e pelo o tinha e as guardava dentro de mim. Agora temo, de verdade, que ela entende ser necessário ou não para ela mesma. Então, destruir alguém que de alguma forma consiga detonar tudo nessas situações, conversamos sobre as razões que ela entende que está acumulado dentro de mim." Orlando me procurara necessárias ao acompanhamento médico e respeito a decisão, a pedido do psicólogo do departamento de Recursos Huma- seja qual for, tomada por ela. Perguntas e Respostas nos da empresa. Ele era visto como um colaborador de grande potencial. Mas por duas vezes entrara numa discussão que não tinha nada a ver com ele. E numa das situações tinha agredido violentamente um dos homens, quase levando a vítima a óbi- to. No terceiro atendimento, perguntei para Orlando que ele 156 achava de um acompanhamento psiquiátrico enquanto juntos 157 trabalhávamos todas as situações de raiva contida das quais ele quisesse falar. Ele respondeu: "Por favor, isto é o que mais Qual é a fraqueza mais frequente dos profissionais da ACP? quero. Se existe alguma orientação ou medicação que possa me Esther Carrenbo ajudar no controle do meu comportamento enquanto eu lido com essas sensações de fúria e destruição, agradeço." Não sei se eu diria que é exatamente uma fraqueza, mas acho que há algumas confusões que são frequentes entre os pratican- Ainda um outro exemplo é o de Anne, psicóloga, 25 anos, tes dos princípios que foram defendidos por Rogers. que também veio de um ambiente de muita agressão física, Maria Bowen já fala sobre isto no livro Quando fala cora- verbal e também muito desamparo. Na menor contrariedade, ção. Ela observa que é possível que profissionais da psicologia Anne quebrava tudo que encontrava pela frente. Quando apon- escolham a orientação para trabalhar em psicoterapia de acordo tei para o tanto de situações onde ela não pudera expressar a com suas deficiências: raiva das injustiças que sofrera, ela respondeu: isto mesmo. Concordo. E quando isto é acionado em mim por coisas que A psicanálise atrai pessoas que estão mutiladas em seus sentimentos e eu quero e não acontecem, eu fico cega e saiu destruindo tudo. são altamente intelectuais. (Elas adoram dar uma de detetive.) A abor- É como uma força que vem de dentro de mim e eu não consigo dagem junguiana permite às pessoas que estão com medo de lidar com a realidade externa penetrar mais e mais interiormente e lidar somente segurar." Anne concordou em ter o acompanhamento psiquiá- trico enquanto estava em psicoterapia. Aos poucos foi esvazian- com 0 mundo criado por elas mesmas. Pessoas que têm gana de poder podem se sentir confortáveis com o modelo da Gestalt e os controla- do seu tanque emocional de explosivos e atualmente não usa dores podem optar por modificações de comportamento. Vejo o mo- nenhum tipo de medicação e dispensou acompanhamento delo "rogeriano" não diretivo de psicoterapia muitas vezes como uma médico. maneira de encobrir a passividade e o medo de cometer erros, ou seja, A terceira situação é quando a pessoa acredita que deve pro- tirando corpo fora. (SANTOS, 1987, p. 120).Uma das atitudes mais positivas que vejo é quando nos torna- cal sem deixar de considerar a si mesmo. Confunde-se também Perguntas e Respostas mos cientes de quais são nossas possíveis fraquezas ou confusões, ter uma atitude congruente com má educação, impulsividade como profissionais. Dessa forma, poderemos ser acolhedores e algumas vezes até grosseria. Acho que esta é uma confusão para com nosso próprio jeito de ser e, se necessário, buscar um que não se faz muito com os clientes, mas acontece com fre- crescimento maior onde percebemos que possa existir alguma quência nos eventos de convivência entre colegas e outros pro- falha. Uma das deficiências que ainda percebo em mim é sobre fissionais da relação de ajuda. Muitos são incapazes de conter, Perguntas e Respostas a escuta. Demorei anos para perceber que em muitas situações a pelo menos por algum tempo, alguma ofensa ou algo feito ou pessoa que estava comigo, ou num grupo onde era facilitadora, dito por um outro, que incomoda. E reage derramando todo ainda estava falando e eu já estava preparando a resposta. Se eu tipo de impropérios com a alegação de que está praticando a me ocupo em preparar a resposta enquanto o outro fala, é óbvio congruência. Isto pode ser uma transparência de como se lida que já deixei de escutá-lo profundamente. E por causa dessa com situações que incomodam, mas, honestamente, não acho 158 deficiência, em muitas situações fui invasiva, dando antes do que foi isto que Rogers quis dizer quando se referiu a congru- 159 tempo adequado uma resposta que, felizmente, em geral, não ência. As reações rápidas e impulsivas podem bem ser um sinal era ouvida. O bom era que eu percebia que que falei, às vezes, de que aquela pessoa não consegue receber algo, contatar seus nem fazia sentido, porque eu não tinha tido paciência suficiente sentimentos, refletir e depois decidir qual a melhor resposta para esperar que a pessoa chegasse até o fim da sua fala. Aprendi para aquela situação. É claro que situações como estas dão a muito, nesses muitos anos, como conselheira e psicoterapeuta, oportunidade para que cada um se avalie. Enquanto uns per- mas ainda percebo que tenho um longo caminho a percorrer na cebem como respondem numa situação de incômodo, outros arte de ouvir profundamente o que o outro tem a dizer até que podem se avaliar em como recebem respostas impulsivas sem ele se esvazie totalmente do seu desejo de falar e, aí sim, posso reflexão. O que tenho observado é que, nas impulsividades, há dar minha resposta ou com alguma coisa que sei, ou que sinto, possibilidade também de aprimoramento em como expressar ou que percebo, ou algo da minha intuição, ou simplesmente o que percebemos em nós mesmos, isto é, em como praticar a posso também responder com o meu silêncio por não ter nada congruência. a expressar por palavras. Outra confusão que acredito existir é a crença de que o co- Algumas confusões que tenho visto acontecer no meio ace- nhecimento teórico é menos importante que a aceitação para a piano: a confusão entre democracia e desorganização. Em nome interação psicoterapêutica; não se buscam cursos, treinos nem da democracia, é comum não se organizar, não informar e não leituras, onde se adquire mais conhecimento. Para mim, isto providenciar o mínimo que um evento ou uma reunião necessi- se faz necessário e conhecimento pode ser requerido pelo ta. Outra confusão é entre não diretividade e cuidados para que cliente. Nunca me esquecerei de um homem que, em deter- o cliente tenha o melhor e desfrute de um clima acolhedor no minado atendimento, me fez uma pergunta. Eu entendi que local onde será atendido, enquanto mantém um vínculo psi- deveria respondê-la de acordo com os meus conhecimentos. coterapêutico. Penso que é necessário cuidar do ambiente, do No final do atendimento, senti um mal estar porque parecia local, dos móveis, tendo em foco as pessoas que virão para o lo- que eu tinha dado uma aula. Comuniquei a ele meu incômo-do. Ele respondeu: "Achei ótimo! Foi o melhor encontro que pos modernos. Segundo dados de 1997, a indústria farmacêuti- Perguntas e Respostas tivemos neste ano. Ajudou a esclarecer muita coisa dentro do ca só perde, em faturamento, para a indústria bélica (Site WWW. meu processo." acupuntura.org.br, 2010). Muitas pesquisas são feitas. Nem to- Não tenho dificuldade nenhuma em responder "não sei" das se transformam em medicamentos que serão aproveitados. quando não tenho resposta para alguma pergunta ou não sei o Mas as que realmente dão certo ou que, pelo menos, se acredita que fazer em determinada situação. O que aprendi nesse dia é que darão certo, e se transformam em medicamentos, são em Perguntas e Respostas que o meu conhecimento não deve mesmo ser uma plataforma números absurdos. Estamos num sistema capitalista de consu- na qual eu me coloco para me achar capaz de atender esta ou mismo exagerado por muita gente e lucros desenfreados para aquela pessoa. Mas quanto mais eu conheço, mais tenho para uma minoria. A indústria farmacêutica está nessa minoria. Seria deixar à disposição do outro, para que ele possa tirar proveito, muito bom se todo e qualquer medicamento fosse feito com caso queira e quando se fizer necessário. intuito de ajudar a curar. Mas não é isto que observamos. Mui- 160 Outra situação é aquela em que se confunde falta de direção tos medicamentos são fabricados exclusivamente para serem 161 com não ser diretivo. Muitas pessoas apresentam dificuldades vendidos. Já relatei, no meu livro Depressão (Carrenho, 2007), em determinar metas, alvos e propósitos e chamam isto de não uma reportagem da Folha de S. Paulo, alegando que a indústria diretividade. "Não ser diretivo não é não ter falou mui- cria doença para vender a cura. Às vezes, me ocorre que alguns to bem Mauro Amatuzzi no primeiro Fórum Paulista da Abor- profissionais da saúde, se pudessem, decretariam uso de anti- dagem Centrada na Pessoa, realizado em Vinhedo em 2006. depressivos nas caixas de água para uso da população. Isto sem Há ainda a confusão entre liberdade e falta de compromisso. contar que muitos comportamentos tidos como normais há Ter liberdade de escolha não significa irresponsabilidade. Pode- menos de um século hoje são vistos como doentios e anormais. se até escolher não fazer o que se comprometeu em fazer antes, As crianças que na minha infância eram vistas como espertas e ou o contrário. Mas não podemos deixar de assumir as conse- interessadas em saber tudo, hoje são vistas como hiperativas e quências e os possíveis danos das nossas escolhas. E a vida en- são diagnosticadas como necessitadas de medicamentos. As que sina que quem quiser receber alguma credibilidade em seu tra- eram tidas como crianças mais sossegadas e reflexivas hoje são balho e na forma de exercer a liberdade terá que fazê-lo com medicadas com estimulantes para se parecerem com a maioria. responsabilidade. Por outro lado, quero reconhecer também que os remédios po- dem ser de grande ajuda quando usados adequadamente para promover a cura e ou aliviar intenso sofrimento tanto do cor- po como da psique. Acredito que todos os profissionais que trabalham com que A Abordagem Centrada na Pessoa indica uso da medicação? chamamos de relação de ajuda, principalmente da área psicoló- gica, devam ter conhecimento do esquema de consumismo e Esther Carrenbo da manipulação que está por trás da produção de tantos medica- Esta é uma pergunta que revela uma das preocupações dos tem- mentos. Esquemas estes que têm sido fortemente denunciadospela imprensa e por algumas pessoas, formadoras de opinião, Houve uma vez em que eu estava muito deprimida e Perguntas e Respostas que não temem nem mesmo perder a própria vida. Como psicoterapeutas, podemos ajudar uma pessoa a refle- chorando ininterruptamente, por causa de uma situação que interpretei como uma injustiça cometida contra mim. Tinha tir, caso ela pergunte sobre medicação, se ela vê ou não como consulta marcada com esse médico. Quando ele viu meu es- necessário o uso da medicação. Como acreditamos nos recur- tado, silenciou e esperou pacientemente que meu choro fosse internos da própria pessoa para caminhar na direção do seu Perguntas e Respostas cessado, pelo menos um pouco. Ouviu tudo que eu quis falar próprio crescimento, cabe a nós promovermos condições já re- naquele momento e amorosamente me perguntou: "Você está latadas em capítulos anteriores, para que ela faça sua escolha conseguindo trabalhar? Está conseguindo dormir e descansar o coerente com o que acredita e não porque o psicólogo disse isto corpo? Está conseguindo se concentrar nos relatos dos seus pa- ou aquilo. Atendo pessoas que escolheram tomar alguma medicação, cientes?" Fui respondendo sim a todas essas questões. Aí ele per- para alívio da angústia, enquanto reviam situações doloridas das guntou: "Você acha que precisa alguma medicação para ajudar 162 um pouco nesse momento tão dolorido?" Respondi que não 163 suas vidas que estavam no presente, interferindo no desempe- e ele respeitou minha escolha. Mas ficou bem claro que, se eu nho do seu potencial tanto no campo profissional como nos re- não estivesse dormindo, nem conseguindo trabalhar e quises- lacionamentos. Conheço outros que, ao experimentarem a me- dicação, sofreram tanto com os efeitos colaterais que preferiram se, ele me receitaria alguma medicação de alívio. Entendo que ficar com o mal-estar da depressão, tendo consciência de que há situações onde uma pessoa possa apresentar um alto grau de aspectos depressivos e tristes faziam parte da sua vida. E conhe- agressividade ou de sofrimento mental, a ponto de quem está por perto correr risco de sofrer prejuízos e por isso muitas vezes ço outros ainda que, ao entrarem profundamente no processo se torna necessária alguma medicação que limite essa pessoa, psicoterapêutico, optaram por uma medicação ansiolítica, que ajudando-a a não causar danos em outros e a controlar melhor os relaxassem um pouco, ajudando-os a descansarem e a dormi- rem bem, para darem conta de tudo que tinham para fazer na sua agressividade ou possíveis confusões mentais. Mas penso que essas situações são exceções. vida. E conheço outros por fim que nunca quiseram medicação nenhuma e escolheram suportar peso dos sofrimentos decor- rentes de perdas e fracassos e também sofrimentos decorrentes Considerando-se quem atendo em psicoterapia, não sou contra nem a favor da medicação. Mas sou totalmente a favor da aflição psicológica. Sempre que alguém me faz a pergunta: "Você acha que devo de respeitar a pessoa. E contra qualquer comportamento ou ati- tomar remédio?", respondo devolvendo a pergunta: que tude que controle ou manipule outro. Para isto é preciso escu- você acha?" E, surpreendentemente, todos sabem a resposta a tá-la e entendê-la, permitindo que ela mesma vá tomando sua respeito de si mesmos nessa questão. Às vezes, me perguntam: decisão e mudando o que decidiu, se assim for necessário. "Se você pudesse receitar algum medicamento, quando é que você indicaria?" Respondo contando a história do meu médico, clínico geral.É importante que o psicoterapeuta faça terapia? Remover uma máscara que se acreditava constituir parte de seu verda- deiro eu pode ser uma experiência profundamente Perguntas e Respostas Esther É muito, mas muito importante mesmo que um psicoterapeu- O crescimento, numa psicoterapia que valoriza a interação, ta cresça no conhecimento de si mesmo! Se esse crescimento é uma via de duas mãos. As descobertas podem acontecer tan- to na vida de quem busca ajuda como na vida do profissional. Perguntas e Respostas ocorrer através da psicoterapia ou através das próprias vivências, ou de qualquer outra maneira, não importa. O que importa é Penso que o profissional que for corajoso o suficiente para ver que haja no profissional uma abertura para um conhecimento e rever cada situação que mobiliza poderá aproveitar aquelas cada vez maior de quem ele é. E penso que isto vale até o fim que apontam para comportamentos e atitudes que não são do seu agrado. da vida. Rogers (1961, p. 73) afirma: 164 Marcos Alberto 165 mais o terapeuta souber ouvir e aceitar o que se passa em si mesmo, quanto mais ele for capaz de assumir a complexidade dos seus Uma das muitas coisas que faz com que eu me sinta identificado sentimentos, sem receio, maior será o grau de na Abordagem Centrada na Pessoa é a ausência de regras. O que é imprescindível que exista nessa abordagem é a confiança na Ouvir e aceitar o que se passa em si mesmo exige um cons- pessoa, pois caso isto não exista, mesmo que de forma bem in- tante crescimento. A psicoterapia não é a única forma de cres- tencionada, é provável que eu tenda a manipulá-la ou a direcio- cimento, mas, por ser algo metódico e planejado, é possível que ná-la para determinado caminho que tenha a ver com os meus seja um dos meios mais eficientes e quem sabe até mais rápidos. valores e crenças, ou com determinados valores e crenças sociais. Aqueles que não se esquivam de olhar para Olhando sob a perspectiva de não termos regras, seria uma dentro de si sabem que isto faz parte de um processo muitas grande incoerência a afirmação de que o psicólogo deve fazer vezes dolorido e difícil. Rogers (1961, p. 17) também experi- psicoterapia. Estou convencido, por motivos óbvios, que psi- mentou isto: coterapia é algo importante para qualquer pessoa que tenha in- certo que a prática da terapia é algo que exige um desenvolvimento teresse em buscar possibilidades de se autoconhecer e que não pessoal permanente por parte do terapeuta, o que as vezes é penoso, haverá ajuda se a pessoa for obrigada a participar de um proces- mesmo se, a longo prazo, provoca uma grande satisfação." so psicoterápico, pois, se a pessoa não estiver de fato presente, não haverá processo. E um pouco mais à frente, no mesmo livro, Rogers (1961, p. 124-125), referindo-se ao processo de busca da realidade do eu Tenho medo das regras e me sinto incomodado quando ouço de profissionais de outras abordagens a respeito da obriga- de uma pessoa, diz: toriedade do psicoterapeuta fazer psicoterapia. A única pessoa "Essa exploração se torna mais perturbadora quando se veem envol- capaz de sentir a necessidade de fazer ou não é a própria pessoa. vidos em remover as falsas faces que não sabiam ser falsas faces (...). Se a pessoa se submeter a um atendimento psicoterápico porimposição de determinada abordagem, significará uma agressão "empurrar" a pessoa para determinada direção. Eu mesmo, em Perguntas e Respostas à pessoa, pois não estará havendo um movimento de forma le- meus piores dias, já me peguei com esse desejo, muito bem in- gítima que venha de dentro para fora, tão fundamental para o tencionado, de direcionar a pessoa para determinado caminho processo de crescimento. que julguei, por algum motivo, que seria mais fácil para ela. De toda forma, vejo como algo extremamente preocupante Toda vez que me percebo fazendo isto, tenho verdadeiro cala- quando o psicoterapeuta não é alguém que tenha interesse em frio. Busco, ao longo de minha vida profissional e pessoal, cada Perguntas e Respostas se autoconhecer, pois isto me traz a sensação de que será pouco vez mais me distanciar das "verdades provável que ele facilite condições de ajuda ao cliente por não Tenho convicção de que o processo de crescimento da pessoa estar aberto a si mesmo. Nesse sentido, vejo que a psicoterapia diz respeito a ela e isto me alivia quando consigo desvincular as pode ser de grande ajuda para que o psicoterapeuta busque em minhas "verdades" das verdades dela, pois dessa forma consigo si uma maturidade maior e uma liberdade maior para poder ter o mesmo respeito pelo cliente, independentemente dos seus 166 participar de forma mais inteira e ativa na facilitação do proces- sentimentos e escolhas. 167 so de crescimento do cliente. A este respeito, Rogers nos diz: Neste sentido, Maria Bowen faz o seguinte comentário: Na relação terapêutica, algumas das experiências subjetivas mais intensas "Mesmo Rogers chega à desconfortável conclusão (eu não sei por que são aquelas em que cliente sente dentro de si mesmo o poder nítido da Rogers se sente desconfortável com isto) de que, quanto mais psicolo- escolha. Ele é livre para se tornar no que é ou para se esconder atrás de gicamente maduro e integrado for o terapeuta, mais útil é a relação que uma fachada; para progredir ou para retroceder; para seguir por caminhos ele provê" (BOWEN, 1987). que destroem ou que destroem os outros, ou caminhos que o enrique- Na relação de ajuda, a meu ver, só é possível que eu esteja cem; ele é literalmente livre para viver ou para morrer, tanto no sentido de fato com o cliente se tiver a capacidade de me livrar fisiológico como no sentido psicológico destes termos (ROGERS, 1961). dos meus princípios e valores pessoais. É fundamental que Como poderei ter esse desprendimento se não estiver emocio- eu entenda que as minhas verdades servem apenas para mim, nalmente maduro para lidar com as diferenças e as consequên- pois sem essa convicção é muito provável que eu não esteja cias dessa liberdade? verdadeiramente aberto ao campo experiencial do outro. Fica Penso que psicoterapeuta que se submete a um processo evidente que é muito fácil respeitar, acolher e aceitar o jeito de psicoterápico como cliente terá grandes condições de lidar com ser do outro quando ele tem valores que se assemelham aos meus. os seus valores e com a percepção de que estes, por mais que faça O difícil, em minha opinião, é termos essa mesma capacidade sentido a ele, não podem ser considerados como valores univer- quando os valores da pessoa são opostos às minhas convicções. sais e que o processo da outra pessoa pertence a ela em toda a sua Durante a minha vida profissional, já ouvi muitas histórias singularidade. Através da psicoterapia, o psicoterapeuta cliente de profissionais que dificultaram o crescimento da pessoa por terá, provavelmente, maiores condições de compreender em si acreditarem nas próprias verdades como sendo verdades uni- as suas limitações e dificuldades e em consequência terá maior versais ou absolutas e que, a partir dessas "verdades", tendem a possibilidade de respeitar o seu cliente em suas limitações e difi-culdades. A minha percepção é a de que quanto mais eu tenho os ângulos de suas vivências e valores, e isto, em muitas situa- Perguntas e Respostas claros os meus valores, menos eu tenho necessidade de querer que ções, pode movimentá-la a chegar a conclusões que talvez levem o outro se identifique com eles e, em consequência, terei maio- o psicoterapeuta a ter que lidar com as suas próprias frustrações, res condições de respeitar o ritmo e a individualidade do cliente. caso esteja esperando alguma determinada conduta do cliente. Quanto mais maduro o psicoterapeuta for, mais condições ele Novamente, aí, acredito que para nos protegermos desse ris- terá de ser autêntico com a pessoa, tendo a capacidade de estar temos que estar totalmente livres dos nossos valores na rela- Perguntas e Respostas genuinamente presente na relação, deixando de ser mero espec- ção psicoterápica. Para isto psicoterapeuta busca condições de tador do processo do cliente ou, ainda, terá maiores condições de se autoconhecer através de psicoterapia ou de outra forma que deixar de lado as suas interpretações e julgamentos nessa relação. entenda como ajuda a si. Isto é de fundamental importância Para que exista uma ajuda real, é necessário que exista uma para que, sentindo-se uma pessoa melhor, tenha condições de pessoa real, é necessário que psicoterapeuta seja uma pessoa estar de forma mais visceral com o cliente. 168 real, companheira ativa na relação psicoterápica. Isto significa que 169 quanto mais o psicoterapeuta estiver em sintonia com o seu próprio processo de crescimento, maiores serão suas condições de não ter medo de ser ele mesmo nessa relação, o que, a meu ver, em muito contribui para a facilitação no processo psicoterápico do cliente. Rogers contribui com essa questão, crendo que o psicotera- Existe a "alta", segundo a ACP? peuta maduro terá maiores condições de ser ele mesmo e que isto facilitaria maior profundidade e perspectiva de ajuda na re- Esther Carrenbo lação psicoterápica: Na ACP, não se vê como doente a pessoa que busca a ajuda psi- Nossa vivência reforçou e ampliou profundamente nosso ponto de vista coterapêutica. É o contrário, entende-se que a pessoa que busca de que a pessoa que é abertamente capaz de ser ela mesma naquele mo- ajuda é justamente porque ela mesma percebe que há possibi- mento, como é capaz de ser nos níveis mais profundos, é o terapeuta efi- lidade de viver melhor e está buscando esse caminho. Então só ciente. Talvez nada mais tenha qualquer importância (ROGERS, 1967). por essa busca já podemos dizer que é uma pessoa bem saudável. Se a pessoa não é vista como doente, ela não tem do que sarar. Muitas vezes, nós, profissionais que nos identificamos com Então, os critérios que sobram para a interrupção do vínculo a Abordagem Centrada na Pessoa, e que pregamos a liberdade, psicoterapêutico são a escolha do cliente de não dar continui- temos a tendência de acreditar que ser livre significa a possibili- dade e algum possível mal-estar, ou algo mal resolvido junto ao dade de o outro caminhar na direção dos seus desejos de forma profissional, que impede uma boa interação com a pessoa que pura. A meu ver, quando falamos de liberdade, nos referimos à está sendo atendida. possibilidade de a pessoa se consultar de forma inteira e intensa para que tenha condições de decidir caminhar para qualquer ca- "Encaminhei para um colega, que vou chamar de Paulo, minho que julgue ser importante para si, levando em conta todos uma criança, filha de uma pessoa que estava em psicoterapiacomigo. Depois de três meses, esse colega, iniciante como psi- o próprio cliente que sabe aquilo de que sofre, qual a direção a Perguntas e Respostas cólogo, me ligou para dizer que não via necessidade da pre- tomar, quais problemas são cruciais, que experiências foram profunda- sença de um psicólogo na vida da criança. Indaguei o porquê mente dessa conclusão. Ele me respondeu: "A mãe veio com a queixa de que a menina mente e não se expressa. Eu não vejo nada E nem precisei responder. Paulo percebeu que por alguma ra- disto. Comigo ela nunca mentiu e se expressa bem. É muito zão ele havia se esquecido de que a psicoterapia de uma criança Perguntas e Respostas bom atendê-la. Ela gosta de vir e cada dia sinto que há uma não se dá, necessariamente, em cima da queixa da mãe ou pelo proximidade maior entre eu e ela. Posso continuar, mas vou tempo que se atende a criança. Que um processo psicoterapêu- apenas brincar com ela." Rapidamente, enquanto eu ouvia o tico que tem como referência a Abordagem Centrada na Pessoa relato do meu colega, passou pela minha cabeça o histórico se dá muito mais pela interação relacional entre o psicoterapeu- familiar dessa criança, que eu conhecia bem por atender a mãe: ta e a pessoa. E Paulo se sentia muito bem atendendo a menina o pai lhe dava alguma atenção, mas não provia para as neces- e já tinha verificado que ela, cada vez mais, construía com ele 170 um vínculo não só psicoterapêutico, mas também afetivo, coisa 171 sidades primárias da criança e era separado da mãe. Ela era gêmea de uma que apresentava dificuldades motoras e que ela não tinha oportunidade de fazer na vida. Se tinha algo por isso um pouco protegida pela mãe. Tinha um irmão mais com que Paulo não precisava se preocupar, era se ele deveria ou velho, filho de pai diferente, também separado da mãe, que se não continuar na vida daquela criança. ausentava quase que o dia todo, trabalhando para o sustento Sempre que sou questionada por alguém em psicoterapia dos três filhos. Era nítida a falta que a menina sentia de figuras sobre o tempo da "alta", respondo: "Nunca! Mas você pode se parentais. Tanto do pai como da mãe. Os avós moravam pró- dar 'alta' quando quiser. E mesmo que eu ache que não seria a ximos, mas também não cultivavam vínculos afetivos com as hora da sua saída, concordarei e respeitarei sua decisão, porque crianças. Enfim, meu colega já tinha percebido que era uma ninguém melhor que você para saber qual é a hora de sair." criança muito só, mesmo sendo assistida por empregados que faziam bem suas funções, mas também não eram afetuosos. Enquanto passava isto pela minha memória, eu ouvia meu co- lega dizer "é muito bom nosso tempo juntos; cada dia somos mais próximos um do outro". E ao mesmo tempo ele acredita- Como lidar com o silêncio em Psicoterapia? va que aquela menina não precisava mais de psicoterapia. Per- Esther Carrenbo guntei-lhe então: "Quando é que alguém precisa de terapia? Como é que você avalia isto?" Neste momento, ele caiu em si "Uma pausa longa por parte do cliente frequentemente é muito e respondeu: É. Não sou eu quem determino a necessidade da frutífera." Carl Rogers terapia. É a pessoa quem sabe se é o que ela precisa, não é?" Para lidar com o silêncio do outro, primeiro é preciso li- dar com o próprio silêncio. Só quando não temos medo dos Lembrei-me dos escritos de Rogers: abismos silenciosos que habitam dentro de nós mesmos é querecursos psicológicos para lidarmos e escutarmos o silên- to com profissional. Essas dificuldades podem ser vergonha temos daqueles que buscam ajuda. Muitas vezes, nossos conteúdos diante do profissional, medo de que não seja aceita, de que a Perguntas e Respostas cio oriundos do passado, são tão assustadores que preen- estima recebida diminua e ou medo do julgamento moral. internos, nossos vazios com todos os tipos de barulhos, para evi- Outra dificuldade pode estar relacionada à consciência de chemos confronto amedrontador que existe em nós mesmos. Alves que a pessoa já tem da intensidade da dor envolvida nos fatos a tarmos só sai quando o silêncio é grande", diz Rubem de serem expressados. Ela teme reviver toda a dor novamente, em Perguntas e Respostas "O passado Faz-se necessário que um profissional da relação aju- geral, por ignorar que é justamente vivenciar a dor reprimida (1990). dentro de si mesmo e se reconcilie com tudo que da que abre um caminho para a possibilidade da integração dessa faz da mergulhe parte de sua história, se quiser caminhar nas profundezas experiência como algo sedimentado e não mais dolorido. alma de quem muito o do procura. poema de Nikos Kazantzakis, que nos convida Célia tinha esse medo. Sua mãe falecera quando ela tinha a cavar Gosto até encontrar tudo que faz parte da nossa interioridade: apenas seis meses. Seu pai a entregou juntamente com mais 173 172 duas a uma instituição, onde elas ficaram no aguardo de Uma ordem soa dentro de mim: pais adotivos. Aos dois anos, ela foi adotada por um casal que Cave! que você vê? Homens e pássaros, águas e pedras. era responsável por um asilo. Eles deram a ela tudo que ela pre- Cave mais fundo! que você vê? cisava, mas não foram afetivos. Não lhe davam carinho, nem Ideias e sonhos, fantasias e relâmpagos! colo e, diante de qualquer comportamento de desobediência, mais fundo! que você vê? normal para qualquer criança, Célia era severamente corrigida. Cave Não vejo nada! Uma noite silente, tão densa quanto a morte. Deve ser Como é uma pessoa muito sensível, ela vivia um verdadeiro terror cada vez que percebia que era punida, porque os casti- a morte. Ah! Cave Não mais posso fundo! penetrar a parte escura. Ouço vozes e choro. Ouço o gos em geral ocorriam na frente de outras pessoas. Foram anos de pavor, sentimentos de vergonha, raiva, impotência e muita das asas na outra margem. alvoroço chore! Não chore! Eles não estão na outra margem. As vozes, o dor. Célia chegava para a terapia, procurava um canto da sala choro Não e as asas estão dentro do seu coração. e literalmente se escondia na tentativa de que dessa forma pu- desse expressar que tinha ocorrido e o que sentia. Não con- (MOUSTAKAS, P. 70) seguia. Houve atendimentos onde ela ficava mais da metade ao psicoterapeuta "escutar" o silêncio do cliente. É ne- do tempo em silêncio. Muitas vezes, falava a primeira palavra e Cabe sair de si mesmo e conectar-se com o silêncio do outro ficava repetindo essa palavra e a segunda nunca vinha. cessário momento e, na medida do possível, facilitar para se que a Tentei facilitar das formas que naquele momento eu enten- naquele pessoa possa entender, definir, aceitar e mudar, assim dia serem melhores. Por exemplo, perguntei qual era o sentimen- própria achar necessário, sua ausência de palavras. to do momento. Mas todas as minhas tentativas não ajudaram silêncio onde a pessoa quer falar, mas a dificuldade que Célia a falar. E, no entanto, ela continuava afirmando que que- apresenta Há em se expressar tem que ver com o seu relacionamen- ria conseguir falar. E temia que eu desistisse dela. Afirmei maisde uma vez que ela podia silenciar o quando entendesse neces- eu estava profundamente em conexão com ela, perguntei, Perguntas e Respostas sário e que podia ir falando ou se expressando aos poucos, como depois de mais ou menos dois minutos: que aconteceu, quisesse e da forma que ela pudesse dar conta. Meu respeito e Vivien?" Ela continuou em silêncio. Como me pareceu que a meu caminhar junto no silêncio de Célia foi o que mais ajudou razão tinha que ver com alguma coisa acontecida ali na minha para que aos poucos ela fosse se expressando. Atualmente, Cé- sala, voltei a falar: "Quer me falar o que está passando na sua Perguntas e Respostas lia já faz uso da fala em quase todo seu tempo em psicoterapia. cabeça? Talvez eu possa ajudar." Finalmente, ela respondeu: "Você não está me entendendo e fico com muita raiva quando Há outro tipo de silêncio onde a pessoa já sabe da impor- não sou compreendida!" Nesse caso, foi um silêncio provocado tância de verbalizar algum fato ou conteúdo emocional, mas, involuntariamente por minha postura, que ela sentiu como mesmo lembrando do que deve ser dito, resolve não falar na- rejeição. Mas, na verdade, não havia incompreensão e mui- quele momento, porque não quer lidar com o dolorido daque- to menos rejeição da minha parte. Apenas eu ignorava que 174 la situação. Não vejo isto como resistência, como é visto em determinadas atitudes ou falas poderiam detonar nela sen- 175 outras abordagens, e penso que devemos deixar a pessoa livre timentos hostis que bloqueavam a expressão. E a partir daí para ela falar quando achar que deve. Em geral, a liberdade que o diálogo surgiu novamente e pudemos fazer do episódio se dá para que ela fale quando quiser facilita e abrevia o tempo um encontro enriquecedor tanto para ela como para mim. para que ela se veja pronta para se expressar. Há ainda o silenciar porque a pessoa está refletindo, pensan- do e fazendo ligações dentro de si. São aquisições necessárias dentro do seu processo de busca e de crescimento. É um silêncio muito mais produtivo do que qualquer fala. Muitas falas têm o poder de exterminar as sementes de crescimento que nascem na direção da construção de uma identidade mais coerente, ligan- Como se dá a supervisão em Psicoterapia na ACP? do o interior ao exterior da pessoa. Esther Carrenbo Lembro-me de um homem que sempre que chegava na mi- "A fecundidade sempre significa vida renovada, vida que se nha sala, sentava e ficava uns 10 minutos em profundo silêncio. manifesta de maneiras novas, vigorosas e singulares: uma Sem que eu perguntasse, ele mesmo me dizia: "Estou pensando criança, um poema, uma canção, uma palavra amável, um no que quero falar hoje." Ou então dizia: "Estou escolhendo o abraço meigo, uma mão solicita ou um novo entendimento... que é mais importante para falar primeiro." Henri Nouwen⁴ Quero deixar aqui mais uma situação que ocorreu durante Quando se fala em "supervisão" em psicologia, vem a ideia um atendimento. de que um profissional mais velho e experiente vai analisar um caso e como esse caso é atendido por um profissional mais jo- Uma jovem que vou chamar de Vivien, em determinado momento de um dos nossos encontros, parou de falar. Como Nouwen, Henri J.M. Fontes de Vida pág. 70vem. Depois de analisado, o supervisor passa a ensinar como e o supervisionado. Isto significa que o relacionamento entre Perguntas e Respostas supervisionado deve se conduzir no atendimento daquele caso. supervisor e supervisionado deve ser uma interação profunda de Na abordagem centrada na pessoa, não é esta a proposta da interesse genuíno, sinceridade e transparência. supervisão. Penso mesmo que o nome dessa interação entre os Na supervisão em ACP, não se deve buscar conhecimento profissionais da psicologia que praticam os princípios da ACP e a prática do supervisor. Mesmo reconhecendo que que leva deveria ter outro nome. Quem sabe poderia ser intervisão ou alguém a ser procurado para supervisão seja exatamente que Perguntas e Respostas multivisão. Não sei qual nome seria melhor. Então, por serem essa pessoa conhece e a aplicação desses conhecimentos na prá- mais conhecidas, usarei os termos supervisão, supervisor e su- tica. A busca principal deve ser um maior conhecimento sobre pervisionado, mesmo não sendo as palavras que mais represen- si mesmo. Esse autoconhecimento se concretizará na interação tam esse tipo de trabalho. com supervisor e com o grupo, caso a supervisão seja feita em Nesse tipo de supervisão, não se tem a intenção de ensinar o grupo, e revelará que falta e/ou que deve ser deixado pelo 176 psicoterapeuta. Na realidade, pode acontecer e acontece de fato profissional que busca a supervisão. 177 também o aprendizado enquanto há a interação com o super- conhecimento teórico é necessário e também pode abrir visor. Mas é um aprendizado de mão dupla. Já houve situações a percepção do supervisionado no seu trabalho. Lembro-me na minha experiência em grupos, onde eu dava a supervisão, em de uma situação em que um homem veio para a psicoterapia que aprendi muito. Acho que até mais do que o supervisionan- porque estava impotente sexualmente. Num encontro com do. Na minha opinião, a proposta principal da supervisão em meu supervisor, falei do quanto me sentia perdida em ajudar o ACP é facilitar para que o profissional que busca ajuda se aceite homem a vencer sua própria impotência. Meu supervisor ouviu e respeite integralmente sua percepção, sua intuição e seus pen- toda a história e fez um rápido comentário: "As vezes, a impo- samentos decorrentes do encontro entre ele e o cliente. Parte-se tência está na vida, mas se manifesta na relação sexual." Ao ou- da crença de que o profissional que atende alguém sabe melhor vir isto, lembrei-me imediatamente do quanto aquele homem já do que qualquer outro sobre o que acontece naquela interação. tinha me falado de como se sentia fracassado no trabalho, e eu A supervisão deve oferecer-lhe ferramentas facilitadoras para estava tão focada na queixa inicial que me tornei surda para que ele perceba, o mais próximo possível da realidade, o que todo de sua fala. E naquele momento conhecimento do super- acontece na sua interação com o seu cliente. visor foi o que mais facilitou para que eu percebesse onde estava É fundamental que se respeite o jeito de ser, a individualida- falhando. Então, tudo que um supervisor ou um grupo possa de, as dificuldades e os limites de cada psicoterapeuta. E a deci- conhecer pode ter muita serventia na supervisão se for usado são do que deve mudar ou ser aceito é exclusivamente do super- como ferramenta facilitadora para que próprio profissional visionado. Essa decisão deve ser coerente com a sua percepção, perceba e encontre o que busca, no desejo de ser e dar melhor suas ideias, suas crenças e seus sentimentos, a tal ponto que, se de si num atendimento. necessário for, possa ser transparente quanto à própria ressonân- Rogério Buys (1987) entende que conhecimento teórico cia, para o cliente, decorrente do encontro psicoterapêutico. E deve ser discutido para um entendimento imediato. esse mesmo tipo de interação deve acontecer entre o supervisor A supervisão não é um programa, mas pode ser um lugar ondese discute algum aspecto da teoria e como isto se dá na prática, dificuldades do cliente, facilitando assim uma compreensão em- Perguntas e Respostas dependendo da necessidade, das dúvidas e dificuldades apresen- pática também mais abrangente. Esta descoberta pode ampliar tadas pelos supervisionados. os recursos internos do supervisionando para um acolhimento A supervisão em ACP tem dois focos: o psicoterapeuta e a maior do seu cliente, proporcionando assim mais espaço na re- pessoa em atendimento pelo psicoterapeuta, que já está presente lação para o crescimento de quem busca ajuda. na supervisão. E o único meio de o supervisor conhecer a pes- O terceiro é o discernimento de onde está a raiz da possível Perguntas e Respostas soa em questão é através do supervisionado. Quando temos um dificuldade que o cliente quer superar. A vantagem desta desco- profundo interesse pela pessoa que busca a psicoterapia, inter- berta é que, uma vez apontada para o cliente, este possa refletir nalizamos essa pessoa, sem o comprometimento da nossa indi- e confirmar o quanto a descoberta do psicoterapeuta está rela- vidualidade e identidade. No trabalho de supervisão, sugiro aos cionada, ou não, com a dificuldade dele. psicólogos que apresentem a pessoa internalizada. Alguns não E, finalmente, a dificuldade que o supervisionado está tendo 178 se sentem muito à vontade para fazê-lo, mas a maioria represen- em aceitar a si mesmo nas suas percepções, sentimentos, conhe- 179 ta a pessoa, como se fosse ela. É surpreendente observar como cimento e intuições em relação ao atendimento apresentado. o simples fato de o profissional "viver" por alguns minutos o Esta é, ao meu ver, a dificuldade mais comum e é também a cliente internalizado já esclarece tantas coisas para a compre- ensão do seu atendimento. Os sentimentos e a percepção do que mais se repete. Penso que ela está relacionada com o grau de aceitação e confiança que o profissional tem de si mesmo. E profissional depois dessa vivência são fundamentais para discus- muitas vezes é necessária uma autoavaliação sobre sua história são e esclarecimentos das possíveis dúvidas apresentadas por ele. de vida, que também deve ser feita na psicoterapia pessoal, para Porém, acredito que também se chega aos mesmos resultados detectar de onde vem e destruir a dinâmica em desaprovar a si por caminhos diferentes do que relatei acima. mesmo, desnecessariamente. Há quatro aspectos que são os mais comuns a serem esclare- Enfim, quero dizer que é imensamente prazeroso ver o aco- cidos num trabalho de supervisão. O primeiro é a percepção de lhimento e as mudanças que um supervisionado faz de si e em que, em algum momento, os conteúdos emocionais do psicote- si mesmo, na interação com o supervisor! rapeuta interferiram ou interferem na interação psicoterapêutica. A supervisão em psicoterapia não é psicoterapia do profissio- nal, mas, no contexto de supervisão, ela pode apontar conteúdos emocionais ainda não integrados à vida, interferindo na relação psicoterapêutica. E, nesses casos, o profissional pode escolher por uma entre duas opções. Interromper o vínculo terapêuti- Que é mais importante para o bom desempenho do com o cliente ou tratar o que foi descoberto na sua terapia psicoterapeuta da ACP? individual para que tenha condições de separar o que é da sua Marcos Alberto história e que é do cliente. O segundo é uma compreensão maior do sofrimento e/ou Quando estou no meu melhor, como facilitador de grupo ou terapeu-ta, descubro outra característica. Percebo que quando estou mais perto Estar com outro é acreditar na capacidade da pessoa em de meu selfíntimo, intuitivo, quando de alguma forma estou em con- Perguntas e Respostas se autodirigir. É ter confiança de forma integral em sua capa- tato com o desconhecido em mim, quando talvez esteja no relaciona- cidade. Para estar com outro é importante que eu tenha essa mento em um estado de consciência ligeiramente alterado, então, tudo mesma confiança em mim e em saber que o fato de eu ser eu o que faço parece estar repleto de cura. Minha simples presença, então mesmo nessa relação contribuirá para o desenvolvimento dessa é libertadora e benéfica. Não há nada que eu possa fazer para forçar Perguntas e Respostas relação e consequentemente possibilitará maiores condições de essa experiência, mas quando consigo relaxar e ficar perto do meu cer- ajuda à pessoa. ne transcendental, então talvez eu me comporte de modo estranho e impulsivo no relacionamento, modo que não posso justificar racional- Ter os princípios facilitadores dessa abordagem, sendo eu mente, e que não tem nada a ver com meus processos de pensamentos. mesmo talvez seja o grande desafio do psicoterapeuta na relação Mas estas condutas estranhas vêm a ser certas, de algum modo. Nesses de ajuda para aprimorar o meu desempenho e ter maiores chan- momentos parece que o meu espírito interior alcançou e tocou o espí- ces de facilitar condições para que a pessoa tenha no ambiente 180 rito interior do outro. Nosso relacionamento transcende a si próprio e psicoterápico um clima favorável ao seu crescimento, lembran- 181 se torna parte de alguma coisa maior. Energias de cura e crescimento do que a visão de crescimento é sempre algo muito pessoal e estão presentes (ROGERS, 1987). relativo. É ter a capacidade de transcender o pensamento e o conhecimento. Fica muito difícil, depois da citação acima, falar a respeito des- Sei por experiência própria, que não é fácil sermos nós se tema, pois, a meu ver, esta citação é quase completa e traduz mesmos na relação psicoterápica. Sermos genuínos signi- integralmente o que vejo ser de total importância para um bom fica assumirmos a nossa responsabilidade nessa relação e vejo desempenho do psicoterapeuta a partir dos princípios da ACP. que é muito mais fácil nos apoiarmos em algo que esteja fora Quero, no entanto complementar que, a meu ver, para que da gente para podermos responsabilizar, caso algo não dê eu esteja com um funcionamento ótimo na relação psicoterá- certo. pica, é imprescindível que eu me norteie pelos princípios dessa É muito mais fácil, por exemplo, optarmos em fazer do jeito abordagem. que acreditamos que Rogers faria. É muito mais cômodo ten- O grande desafio, em minha opinião, é me nortear nesses tarmos imitar Rogers, sendo um "rogeriano". Teremos a quem princípios sem me utilizar deles como técnica, ou seja, incorpo- culpar caso algo dê errado na relação. rando-os ao meu jeito de ser e em minha vida, de modo que eu Como já mencionei em outras ocasiões, este era um dos esteja presente. Não quero pensar nesses princípios. Quero ser pavores de Carl Rogers. Em um de seus livros, Irmão Hen- esses princípios! rique Justo conta uma situação que presenciou a respeito do Se prestar atenção neles, abandonarei o meu jeito de ser, se tema: estiver preocupado em ter empatia, em ser congruente e em ter uma capacidade de aceitar a pessoa de forma incondicional, Assisti no Rio de Janeiro, em 1977, a um diálogo entre Rogers e uma estarei me distanciando da minha espontaneidade e não estarei psicóloga: inteiro na relação. Ela: Eu também sou rogeriana.Ele: Não é possível! Somente há um rogeriano no mundo: esse sou eu. tular as coisas e as pessoas e do mesmo jeito aprendemos a con- Perguntas e Respostas Você tem que ser você. Se achar úteis colocações minhas, deverá assi- viver de forma passiva aos rótulos que sofremos. milá-las do seu modo (JUSTO, 2002). Deixamos de ser pessoas e viramos um rótulo! Isto vai ao encontro do que entendo ser a Abordagem Centra- Em minha época de estudante universitário, lamentavelmen- da na Pessoa: a possibilidade de desfrutarmos a nossa liberdade, te, aprendi a maior parte do tempo a rotular as pessoas. Rotular em sermos nós mesmos a partir de alguns princípios que fazem sentimentos, sofrimentos, alegrias, ansiedades e euforias. Apren- Perguntas e Respostas sentido em minha vida e consequentemente na relação de ajuda. di que determinados sentimentos podem existir desde que estes Não quero desempenhar um papel. Quero ser eu mesmo, tenham um prazo de validade. Sentimentos que persistem além crendo que isto facilite de alguma forma no outro a possibilida- desse prazo são rotulados imediatamente. de de ele ser ele mesmo também, para que, a partir daí, exista O que são doenças mentais senão um rótulo? um encontro que enriqueça a ambos e propicie condições para A Abordagem Centrada na Pessoa propõe que quebremos os 182 que a pessoa se desenvolva nesse processo. estigmas para que possamos ir além e em direção à pessoa que 183 sofre e que por algum motivo foi rotulada em seus sentimentos ou atitudes. Nossa abordagem ousa acreditar no potencial da pessoa mesmo quando ninguém mais acredita. Para compreender como se cuida das pessoas com doenças mentais, penso que seja de fundamental importância entender Como a ACP trata as doenças mentais? que a nossa abordagem enxerga todas as pessoas dignas de con- fiança e que estas estão a todo 0 momento tentando encontrar Marcos Alberto melhores saídas para si, sabendo que, muitas vezes, essas saídas, para aquelas pessoas ditas saudáveis, não têm nenhuma impor- Eu não gostaria de ser mal-compreendido. Não tenho uma visão inge- nuamente otimista da natureza humana. Tenho perfeita consciência do tância ou nenhum significado, mas se tivermos a real capaci- dade de termos uma consideração empática, levando em conta fato de que, pela necessidade de se defender dos seus terrores íntimos, o indivíduo pode vir a comportar-se de uma maneira incrivelmente o contexto da pessoa, talvez seja mais fácil compreender o seu feroz, horrorosamente destrutiva, imatura, regressiva, antissocial, pre- movimento e a sua tentativa em encontrar as suas saídas. judicial. Mas não deixa de ser verdade que trabalho que levo a cabo Falando das pessoas estigmatizadas e da busca em encontrar melhores saídas Rogers comenta: com indivíduos desse gênero, a pesquisa e a descoberta das tendências que estão oriundas muito positivamente neles todos, e em todos nós, As condições em que se desenvolvem essas pessoas tem sido tão des- ao mais profundo nível, constituem um dos aspectos mais animadores favoráveis que suas vidas quase sempre parecem anormais, distorci- e revigorantes da minha experiência (ROGERS, 1961). das, pouco humanas. E, no entanto, pode-se confiar que a tendência realizadora está presente nessas pessoas. A chave para entender seu Desde os primeiros anos das nossas vidas, aprendemos a ro- comportamento é a luta em que se empenham para crescer e ser,utilizando-se recursos que acreditam ser os disponíveis. Para as pes- se conversa com o "doente mental" a não ser que seja para que soas saudáveis, os resultados podem parecer bizarros e inúteis, mas Perguntas e Respostas haja uma investigação no seu quadro para a criação de novos são uma tentativa desesperada da vida para existir. Esta tendência rótulos. construtiva e poderosa é o alicerce da Abordagem Centrada na Pessoa Novamente, Rogers emite a sua opinião de como estar com (ROGERS, 1983). a pessoa: Perguntas e Respostas A meu ver, nossa abordagem busca ajudar a pessoa estig- matizada como mental", da mesma forma como lida Penso num homem com quem passei muitas horas, grande parte delas com qualquer outra pessoa que busca ajuda, ou seja, tendo uma em silêncio. Houve longos períodos em que não tive jeito de saber se compreensão empática, sendo congruente, tendo uma conside- o relacionamento tinha ou não algum sentido para ele. O paciente não se comunicava, estava aparentemente indiferente, retraído, inca- ração incondicional positiva e crendo, sobretudo, no princípio paz de se exprimir. Lembro de uma hora em que se sentiu completa- de tendência atualizante, pois essa pessoa, assim como qualquer 184 mente inútil, desesperado, com impulsos para suicídio. Queria fugir, outra, é única em seus sentimentos e sofrimentos e mesmo que 185 acabar consigo, pois murmurava com desespero flagrante: "Não me eu não consiga compreender o seu movimento, tenho a convic- importa." Respondi: "Sei que você não se importa consigo, não se ção de que ele tem algum sentido para ela. importa de todo, mas só quero que você saiba que eu me Descobri, através da minha experiência, que todas as pesso- E então, depois de uma longa pausa, veio uma violenta torrente de as são dignas de confiança e que todas querem encontrar uma soluços profundos, destruidores, arquejantes, que continuaram por saída melhor. Tive inúmeras oportunidades de atender pessoas quase meia hora. Ele observara o sentido de meu sentimento por ele (ROGERS, 1967). estigmatizadas, que, ao sentirem no ambiente psicoterápico a liberdade de serem elas mesmas sem rótulos, tiveram a possibi- Vejo que é fácil para nós, psicoterapeutas, estarmos com uma lidade de restaurar suas vidas. pessoa que não possui algum tipo de rótulo. É muito fácil re- Aprendi também, através da minha experiência, que as marmos a favor do senso comum. É simples não desafiarmos a pessoas que vivem sob o estigma de "doente mental", muitas visão acomodada do tratamento aos "doentes A Abor- vezes, nada mais são do que pessoas oprimidas em uma rede dagem Centrada na Pessoa, através de sua postura em acreditar de relações opressoras complexas. Já vi pessoas "enlouquecerem" no potencial humano, ainda quando ninguém mais crê, vem para terem coragem de desafiar, terem a possibilidade de fa- desafiar todo esse processo que, infelizmente, é tão bem sedi- lar aquilo que estava engasgado, para conviverem com os pró- mentado no campo da saúde mental. prios medos, receberem afeto, serem enxergadas ou para serem A minha opinião é que talvez esteja na hora de repensarmos aceitas. que significa esse termo e todas essas posturas aprendidas. Penso que, ingenuamente, e muitas vezes de forma bem A meu ver, a proposta centrada na pessoa no campo da "saú- intencionada, deixamos de olhar o outro como uma pessoa e de mental" é a de nos contrapormos às estruturas para tentar- priorizamos o estigma. Dessa forma, esquecemos o sofrimento mos facilitar condições para que essas pessoas possam voltar a e os sentimentos, que é o que de fato importa. Infelizmente, não existir de forma livre de ameaças e estigmas para, quem sabe,terem a oportunidade de se fortalecerem em busca de uma nova sação, percepção ou visão minha e que talvez nada tenha que Perguntas e Respostas saída. ver com a pessoa. Tenho necessidade de exprimir esses meus sentimentos ou percepções, deixando sempre claro que ele tem o direito óbvio de fazer o que quiser com essa minha manifestação. Perguntas e Respostas Gosto de ter esse cuidado, pois, infelizmente, há um grande mito dentro da psicologia e da psicoterapia, de que, se o psico- Dê exemplos de como se pratica a congruência. terapeuta falou, é porque é algo preciso, ainda que o cliente não Marcos Alberto esteja percebendo naquele momento. Não tenho a menor dificuldade em abandonar que disse e Como já foi dito, a congruência é um dos princípios que acredi- em retomar o caminho do cliente, caso o que eu tenha dito não 186 tamos ser facilitador na relação de ajuda dentro dessa visão. tenha nenhum sentido para ele. 187 A meu ver, congruência é uma capacidade imprescindível do O grande "problema" em sermos autênticos na relação de psicoterapeuta na relação de ajuda, em ser autêntico com a pes- ajuda é que, ao fazermos isto, estamos nos expondo e abrindo soa em suas percepções e sentimentos. São sentimentos que, de mão do poder que muitas vezes nos é outorgado pelo cliente ou alguma forma, persistem no psicoterapeuta durante essa relação pelo senso comum. Já ouvi clientes falarem: "Se você disse, é e que, de alguma forma, interferem para que ele esteja inteiro porque deve ser verdade..." Cada vez mais, tenho a intenção de nesse processo. abandonar as minhas verdades e estar conectado ao cliente na di- A este respeito, Eugene Gendlin, grande colaborador de Ro- reção que ele está seguindo. Ao sermos congruentes, perdemos o gers e criador da Filosofia do Implícito, nos fala: controle, pois aquele sentimento, através da minha expressão, já Seria errado dizer que exprimo tudo o que ocorre em mim, pois milha- não mais me pertence e estou vulnerável de alguma forma, pois res de coisas estão ocorrendo em mim a todo o momento, e não podem o cliente poderá fazer uso dessa expressão da forma como quiser. nem ser formuladas nem expressas separadamente. Além disso, não Corro o risco de o cliente discordar de mim ou de ele se deixo escapar impulsivamente a primeira coisa que passa pela minha decepcionar comigo, mas também corro o risco de, através da cabeça. Vivo interiormente alguns momentos, e assim descubro em minha expressão autêntica, facilitar algo no cliente e, com toda mim uma resposta ao cliente, ou ao que aconteceu entre nós ou ao certeza, por meio da congruência, terei condições de me esvaziar nosso silêncio (GENDLIN, 1967). dos sentimentos que me fazem refletir, me fazendo ficar distante da relação com a pessoa. Quando sou capaz de me expressar de É importante que nessa expressão eu deixe claro que este forma autêntica, estou novamente pronto para continuar cami- é um sentimento meu com relação àquele momento e que nhando com ela, seja qual for a sua reação. esse sentimento não é uma verdade do cliente. Quando es- Quero lembrar que a congruência não pode funcionar sozi- tou atendendo uma pessoa, costumo e gosto de deixar claro, nha; é importante que ela caminhe com demais princípios quando digo algo que se passa em mim, que esta é uma sen- da Abordagem Centrada na Pessoa, pois se esses princípios esti-verem integrados em mim, terei maiores condições de ser con- que sempre me enriquece. Nem ele, nem eu jamais seremos os Perguntas e Respostas gruente de forma empática, ou seja, terei condições de expressar mesmos! o que acontece em mim nessa relação de forma cuidadosa. Con- gruência não significa falar tudo aquilo que passa em minha cabeça. Também não significa falar algo de qualquer forma para o cliente, embora signifique ter a capacidade de manter uma Perguntas e Respostas relação genuína. Segundo Rogers: Que fazer quando um familiar liga para contar alguma Ser genuíno significa revelar à outra pessoa "onde estamos" emocio- coisa do meu cliente? nalmente. Pode abranger confronto e a expressão pessoal e franca de Marcos Alberto sentimentos negativos e positivos. Portanto, a congruência é um as- 188 pecto fundamental na vida em comum num clima de autenticidade Quero deixar claro que não estou falando em nome da Aborda- 189 (ROGERS, 1977). gem Centrada na Pessoa nem em nome de nenhuma conduta padrão ou correta. Estou falando em meu nome e o meu con- Agrada-me ser capaz de dizer exatamente aquilo que ocorre vite ao leitor é de que a minha visão possa servir apenas como comigo na relação com o outro de forma clara, assumindo a mi- possibilidade de reflexão, para que, ainda que discorde inteira- nha responsabilidade pelo que disse e por qualquer consequên- mente dessa posição, possa descobrir seu jeito de lidar com cia que isto possa acarretar. essa situação que por vezes ocorre em ambiente terapêutico. Tenho a convicção de que é facilitador na relação o fato de Essa questão, a meu ver, embora possa parecer simples, é eu dizer que estou aborrecido, ou com medo, ou apreensivo, altamente complexa, pois quando falamos de psicoterapia, para caso esteja. Sei que posso dizer algo que percebo nele desde que mim, estamos falando do respeito incondicional ao cliente, ou isto não seja dito como uma verdade escondida da pessoa, e sim seja, estou vinculado de corpo e alma a ele, nessa relação, e é como uma percepção minha. com ele que quero caminhar nesse processo, mantendo essa re- Praticar essa congruência significa encontrar o seu próprio lação totalmente protegida de qualquer interferência externa. jeito de ser autêntico na relação, respeitando também os meus Penso que uma boa questão a ser levantada tem a ver com próprios limites, mas, ao mesmo tempo, arriscando enfrentar os qual é o objetivo de eu ter as informações dessa terceira pessoa, próprios medos em fazer parte de uma relação verdadeira. uma vez que tenho na capacidade do cliente em bus- Uma das poucas certezas que tenho é que viver é algo car melhores alternativas para si. arriscado e eu quero ter a capacidade de correr o risco que Uma segunda e também importante questão é se seria uma a congruência me traz na relação psicoterápica, pois, através atitude ética de minha parte, segundo os princípios da Abor- dessa postura, tenho a certeza de que poderei avançar junto dagem Centrada na Pessoa, levar em conta algum tipo de in- com o cliente a um novo nível nessa relação e essa possibilida- terferência externa em uma relação onde eu estou totalmente de, de estar de forma inteira e verdadeira com o outro, é algo vinculado ao cliente.Quero deixar claro que não vejo este como um tema simples tencionado, ao dar abertura para que uma terceira pessoa entre Perguntas e Respostas e que sempre quando vivencio uma situação destas há em mim nessa relação, talvez ingenuamente eu passe a seguir os passos uma grande tensão. dela e não mais os passos do meu cliente. Acredito na possível boa intenção da família ou de outras Alguns profissionais levantam a seguinte questão: e se o pessoas que de algum modo procuram psicoterapeuta para cliente estiver omitindo algo? tentar contar algo a respeito do cliente. Compreendo que há Novamente, penso 0 quanto tudo sempre é relativo, inclusive Perguntas e Respostas uma preocupação por parte dela, de que talvez o cliente este- em se tratando do que significa "estar omitindo algo". A minha ja omitindo algum tipo de informação ou que esteja contando experiência me faz acreditar que a pessoa tende a se expressar do no ambiente psicoterápico apenas o que "convém" a ele e que, seu jeito, no seu ritmo e a partir do que é incômodo para ela. dessa forma, a intenção da terceira pessoa seria mostrar "outro A minha visão é de que mesmo que essa "omissão" exista, terá lado" da história. um sentido para o cliente e eu quero saber respeitá-lo e compre- 190 Tenho convicção do estrago que essas "boas intenções" podem endê-lo também em suas "omissões", em suas verdades e em seu 191 causar. Já vi pessoas que se vêem em amplo processo de crescimen- ritmo. A minha visão é que, se eu me aproveitar de algo que não to e de libertação, mas que de alguma forma, sob a perspectiva venha dele na relação de ajuda, além de isto não facilitar em nada da família, está "piorando", pois ela antes era uma pessoa dócil e o seu desenvolvimento, estarei ainda, de alguma forma, destruin- passou a ser rebelde depois do início do processo psicoterápico. do a relação de confiança tão imprescindível na psicoterapia. Quero dizer com isto que o processo de crescimento é algo Em minha opinião, isto tem que ver também com a postura muito pessoal, crescimento e "melhora" dependem sempre do ética dentro dos princípios dessa abordagem, pois me ocupando ângulo de quem olha. Uma vez, atendi um rapaz que estava de informações vindas de fora talvez esteja contribuindo para cursando o último ano de direito e que durante o processo psi- a manutenção de uma relação "opressor/oprimido" ou indo a coterápico foi se dando conta de que nunca quis ser advogado e favor de determinados interesses que não guardam nenhuma que estava fazendo esse curso em função da pressão do pai que relação com a pessoa que está buscando ajuda. tinha a mesma profissão e era um profissional bem sucedido. Quando algum familiar me procura para contar algo a respeito Sentindo-se fortalecido internamente, o cliente resolveu trancar do cliente, antes de ouvi-lo, costumo dizer que exatamente tudo a sua matrícula do curso de direito e prestar vestibular para bio- aquilo que me for dito será comunicado à pessoa que atendo, logia, que era o que ele sempre sonhou cursar. pois a minha relação é com ela e não posso quebrar esse vínculo Sob a perspectiva do cliente, ter coragem de romper com o de confiança tão essencial em um atendimento psicoterápico. curso escolhido pelo pai em benefício de sua própria escolha Procuro expressar isto de forma cuidadosa a essa terceira pes- significava um grande avanço, enquanto para a sua família esse soa, que, como já mencionei, na maioria das vezes, está bem ato significava uma insanidade, ou seja, para a família essa pes- intencionada, embora esteja olhando pela sua perspectiva. Cos- soa estava muito pior, pois havia se tornado um filho rebelde. tumo perguntar para essa pessoa como ela se sentiria se fizesse Na minha visão, não me ajuda saber algo do cliente que não psicoterapia com alguém que ouvisse uma terceira pessoa falan- seja por ele mesmo e sinto que ainda que eu esteja bem in- do dela sem que ela soubesse. Vejo que esse pequeno exercíciode empatia normalmente faz a pessoa compreender que, apesar Considerações Finais Perguntas e Respostas da boa intenção, ela está sendo invasiva em uma relação que não pertence a ela. Independentemente de ouvir ou não essa terceira pessoa, sinto-me obrigado a compartilhar isto com o meu cliente, pois é dele o interesse por qualquer coisa que tenha a ver com a sua vida. Incentivo a terceira pessoa, que julga tão importante que eu a ouça, a pedir autorização para o cliente para que eu possa ouvi-la. Costumo confiar inteiramente no potencial do meu clien- te e creio que é a partir dessa confiança que tenho condições 192 de buscar facilitar nessa relação uma possibilidade de ajuda. A Esther 193 partir desse pressuposto, a tentativa de "ajuda" vinda de fora, sem a autorização do cliente, causaria grande estrago na relação Espero que nestas páginas eu tenha conseguido passar um pouco do que acredito ser importante no atendimento em de confiança e esta, a meu ver, é algo fundamental na relação psicoterapia e/ou aconselhamento. Meu maior desejo é que psicoterápica. você, leitor, acredite em si mesmo a tal ponto que todo e qualquer crescimento que você busque vise a ampliar sua com- preensão e aperfeiçoar seu potencial intrínseco, que é especial e único. É dessa forma que você poderá ajudar mais e mais as pessoas sendo cada vez mais você mesmo. A herança de Rogers pode lhe acrescentar muito conhecimento; minhas experiências podem enriquecer sua prática; mas só o que você tem de único, num clima de acolhimento e transparência, po- derá mobilizar pessoas a mudanças para o encontro delas mes- mas. Por mais que você viva, apenas uma porcentagem mínima de pessoas estarão frente a frente com você numa interação de ajuda psicológica. Mas que todas aquelas que assim o fizerem possam sair da sua presença mobilizados para encontrar, cada vez mais, a própria unicidade. E todos que desenvolvem ao máximo que tem de único experimentarão mais da plenitude da vida. Conheça a si mesmo, cada vez mais. Cresça. Ouse. E não tenha medo de ser você mesmo, na sua essência!Marcia Tassinari soal, à verdadeira aprendizagem, ao comportamento construti- Participar deste projeto foi um prazer, pois me permitiu orga- vo, aos relacionamentos nutritivos, ao pensamento honesto, à nizar algumas de minhas ideias que brotam aleatoriamente du- vida." (p. 276, Wood, 1994) rante minhas atividades profissionais e também em momentos Espero ter contribuído para elucidar algumas questões recor- de caminhadas no calçadão do Leblon, na cidade do Rio de Ja- rentes a quem se inicia na prática clínica, bem como levantar al- neiro. Olhar o mar, as montanhas, as pessoas, o céu, as nuvens, gumas possibilidades ainda não totalmente exploradas. O sabor o vento, tudo me coloca em contato com a vida. Agredeço, por- de "quero mais" estimula a prosseguir. Neste sentido, este livro tanto, à Esther pela oportunidade de colaborar neste livro. pode servir como incentivador das questões que surgem com a Espero que os temas aqui apresentados possam contribuir prática centrada na pessoa. Responder à prática, quando esta de maneira significativa para os estudantes e profissionais não funciona como deveria, fortalece a teoria, posto que chama que se interessam por esta visão do ser humano, proposta pela a atenção para suas fragilidades. É apenas neste momento que 194 Psicologia Humanista e ratificada pela Abordagem Centrada uma teoria pode avançar. O movimento teoria-prática-pesqui- 195 na Pessoa. sa-teoria-pesquisa-prátic não tem fim. O principal fundador da ACP, o psicólogo norte americano, Carl Rogers, apresentado no início deste volume, já faleceu há mais de duas décadas, entretanto suas ideias seminais continu- Marcos Alberto am atuais e norteadoras dos trabalhos com seres humanos. Com Procurei descrever um pouco da minha forma de certeza, nós que tivemos à possibilidade de conhecê-lo pessoal- a Abordagem Centrada na Pessoa, assim como seus mente e sermos treinados pelos seus principais associados (John atitudes facilitadoras e a forma como ela lida com algumas si- Wood, Maureen Miller, Maria Bowen e Natalie Rogers), sen- tuações. timos a responsabilidade de transmitir este conhecimento da A minha intenção neste livro não é a de convencer o leitor a forma mais próxima às raízes humanistas. respeito da importância dessa abordagem no campo da psicolo- Por outro lado, também temos o compromisso de atuali- gia, da psicoterapia, das demais relações de ajuda ou nas relações zar a teoria, experimentando novos contextos de aplicação da humanas. A minha intenção foi proporcionar-lhe a possibilida- ACP, revisitando outros pontos de vista para melhor contrastar de de conhecer essa abordagem a partir da minha visão para que a abordagem e potencializá-la. possa refletir e criar a sua própria maneira de enxergar e decidir Neste sentido, os trabalhos atuais nas comunidades e com as por si qual é a importância da ACP nesses campos, assim como comunidades, nas instituições públicas e privadas, em contex- em sua vida. tos diversificados, com indivíduos, casais, famílias, pequenos e Não me agrada a visão de uma Abordagem Centrada na grandes grupos, desenvolvidos em solo brasileiro, nos permitem Pessoa única, completa ou estática. Essa abordagem, em minha ratificar o SIM que Rogers permeou suas atividades: "Basica- opinião, se contradiria se encontrasse uma verdade única ou res- mente, a expressão mais significativa que Rogers tinha a dizer, posta absoluta para todas as questões. A Abordagem Centrada talvez tenha sido simplesmente, 'yes' sim ao crescimento pes- na Pessoa, em minha visão, incita nas pessoas que se identificamcom ela uma grande responsabilidade em recriarem a ACP para Os autores que ela continue evoluindo. Fica aqui o meu convite para que o leitor interessado nessa abordagem procure fazer a sua parte, buscando a partir desses princípios e das suas experiências e crenças pessoais colaborar para o crescimento e constante movimento da Abordagem Cen- trada na Pessoa. 196 Esther Carrenbo é teóloga, psicóloga clínica e facilitadora de 197 grupos de psicoterapia e de supervisão. Fez parte do grupo fundador da Associação Paulista da Abordagem Centrada na Pessoa, da qual é membro. Ministra cursos e palestras sobre relacionamentos e crescimento pessoal e é autora dos livros Res- surreição Interior, Raiva: Seu bem, seu mal e Depressão tem luz no fim do túnel. Nasceu em Marília, interior do Estado de São Paulo. Morou na zona rural e por causa disto interrompeu seus estudos quando ainda era criança. Só retornou ao colégio quando já tinha 14 anos. Cursou psicologia aos 45 anos e dedi- ca-se quase que tempo integral ao atendimento clínico. Pratica caminhadas e ama viajar. Como lazer gosta de ler e ver filmes, de preferência no cinema. É casada, tem dois filhos e 4 netos. Márcia Alves Tassinari, 58 anos, Psicóloga (CRP-05/1718), Graduação em Psicologia (PUC-RJ/1975), Mestrado em Psi- cologia (UFRJ/1999), Doutorado em Psicologia (UFRJ/2003), Sócia Fundadora do Centro de Psicologia da Pessoa CPP, Rio de Janeiro, desde 1975, onde exerce as funções de psicotera- peuta de adultos, casal e família, plantonista psicológica, pro- fessora e supervisora do curso de formação de psicoterapeutas.Professora universitária desde 1976 (Gama Filho, Universidade Sites e cursos indicados da ACP Santa Ursula, Insituto Brasileiro de Medicina de Reabilitacao, Universidade Estacio de Sa), professora visitante de vários cur- sos de graduação e pós graduação no Brasil, autora de artigos e capítulos de livros. Marcos Alberto da Silva Pinto, graduado em psicologia desde 1989 é psicoterapeuta individual e de grupo e facilitador de Grupos de encontro desde 1990. Ministra cursos e palestras so- bre a Abordagem Centrada na Pessoa em várias cidades do Bra- 198 sil. Organizador de vários eventos da Abordagem Centrada na Site de Língua Portuguesa 199 Pessoa e idealizador, colaborador e mantenedor do site especia- Centro de Estudos e Encontro da Abordagem Centrada na lizado na Abordagem Centrada na Pessoa, www.encontroacp. Pessoa www.encontroacp.psc.br psc.br, que conta com a colaboração de diversos profissionais do Brasil e do exterior. Um dos fundadores da Associação Paulista Rogeriana Abordagem Centrada na Pessoa www.rogeriana.com da ACP, sendo membro desde 2005. Presidente desta mesma associação em 2007 e 2008. São Paulino doente e beatlemanía- Associação paulista da Abordagem Centrada na Pessoa www.apacp.org.br co, gosta nas horas vagas de jogar futebol, ouvir música, cantar e tocar violão, viajar, passear, falar bobagem e brincar com o seu Instituto de psicologia humanista filho Portal de Psicologia www.psicologado.com Centro de Psicologia Pessoa www.cpp-online.com.br Associação portuguesa de psicoterapia centrada na pessoa e counselling www.appcpc.com Sites internacionais Person Centered Counseling Carl Roger website http://www.carlrogers.inf Counselling resource Natalie http://www.nrogers.com/ PCETI About Self-mprovement http://www.pceti.org/Cursos de ACP no Brasil 2010 7. Campinas, SP: 1. Belém, PA Curso de Formação em Psicologia Clínica Centrada na Pessoa Curso de Formação de Psicoterapia Centrada na Pessoa Informações: (19) 3029 3520 ou vera@alves.com.br Informações: en.bezerra@gmail.com 2. Belo Horizonte, MG 8. Florianópolis, SC: Espaço Viver CPH - Centro de Psicologia Humanista Formação em psicoterapia na ACP e Formação em Ludoterapia na ACP Informações: http://www.cph.org.br (31) 3024-2280 Informações: (48) 3244 9764 e (48) 8428 2871 http://www.eviver.com.br e-mail: cphminas@gmail.com 9. Fortaleza, CE: 3. Belo Horizonte, MG 200 FUMEC Curso de Pós-Graduação em Psicoterapia Laboratório de Psicopatologia e Psicoterapia 201 Humanista Crítica Informações: (85) 9983-8739 Informações: (31) 3280.5000 virginia_moreira@hms.harvard.edu www.fumec.br 10. Fortaleza, CE: 4. Belo Horizonte, MG Instituto Humanista de Psicoterapia CearACP Confraria de Estudos Avançados de C. Rogers e da ACP Informações: (31) 3293.8431 Informações: (85)9624-3231 ou cearacp@gmail.com andre_feitosa@msn.com 5. Brasília, DF CPHB - Centro de Psicologia Humanista de Brasília 11. João Pessoa, PB Informações: http://www.cphb.com.br grupos de formação em Clinica na ACP para psicólogos e concluintes de psicologia e-mail: cphb@cphb.com.br Informações: Sonia Gusmão soniagusmao@hs24.com.br 12. Londrina, PR: 6. Brasília, DF IHP Instituto Humanista de Psicologia UNIFIL Instituto Filadélfia de Londrina Especialização em Informações: http://ihpsic.blogspot.com Psicologia Humanista com Ênfase na Abordagem Centrada na Pessoa (61)3327-1941 Informações:13. Maceió, AL de Psicoterapeuta Centrado na Pessoa. EKSISTÊNCIA Escola Experimental de Psicologia e Informações: 21 2558-1387 ou Psicoterapia Fenomenológico Existencial Informações: e-mail: 20. Salvador, BA Diabasis Informações: emanuelpereira@oi.com.br 14. Niterói,RJ (71) 8832-3190 CPHN Centro de Psicologia Humanista de Niterói http://www.institutodiabasis.com.br/ Informações: lenise@urbi.com.br 21. São Miguel D'Oeste, SC 15. Novo Hamburgo, RS UNOESC Universidade do Oeste de Santa Catarina FEEVALE CENTRO UNIVERSITÁRIO Curso de pós-graduação em psicologia clínica e humanista 202 Curso de Especialização em Psicologia Abordagem Centrada Informações: 203 na Pessoa Informações: 22. São Paulo, SP ENCONTRO ACP 16. Porto Alegre, RS informações: Marcos Pinto (11) 5579-9975 Delphos Instituto de Psicologia Humanista Curso de e-mail: marcos@encontroacp.psc.br Especializção Clínica em Psicoterapia Centrada na Pessoa 23. Teresina, PI Informações: Centro de Formação e Aperfeiçoamento Profissional do Piauí 17. Porto Alegre, RS CFAPi Curso de Especialização na ACP SER E EXISTIR Curso de Formação em Psicoterapias Informações: (86)8813-6685 Humanístico-Existencial-Fenomenológico Informações: http://www.sereexistir.com 24. Vitoria, ES ARETÉ Instituto Brasileiro de Psicologia Centrada na 18. Recife, PE Pessoa Curso de Pós Graduação Lato Sensu: Psicoterapia Instituto Carl Rogers na Abordagem Centrada na Pessoa e na Existencial- Informações: www.carlrogers.org.br Fenomenológica (81) 4101-5593 ou (81) 9734-4148 Informações:(27) 3239-1089 email: instituto@carlrogers.org.br arete@aretepsicologia.com.br www.aretepsicologia.com.br 19. Rio de Janeiro, RJ CPP Centro de Psicologia da Pessoa Curso de FormaçãoBibliografia ALVES, Rubem. Tempus fugit. São Paulo: Paulus, 1990. 205 AMADOR, C.R. Avendaño. Psicologia y religion: tensiones y tentaciones. Buenos Aires: Kairos Ediciones, 1999. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual de diagnóstico e estatística de distúrbios mentais. (4a. Ediçãoed. ). São Paulo: Artmed, 2000. BACELLAR, Anita (org). A psicologia humanista na prática: reflexões sobre a abordagem centrada na pessoa. Florianópolis: Ed. Unisul, 2009. BELÉM, Diana Carl Rogers: do diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa. Recife: Edições Bagaço, 2000. 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Muitos desses profissionais estão realmente cheios de prática de psicoterapia, que por dúvidas, medos e até angustiados na ânsia de desejarem acertar e fazerem sua vez, veio a se tornar uma teoria de psicoterapia e perso- Praticando a Abordagem Centrada na Pessoa é um livro que surgiu nalidade. A teoria forneceu as da necessidade em atender esses profissionais, através da experiência hipóteses que abriram um novo prática de três psicólogos da ACP: Esther Carrenho, Márcia Tassinari e campo de pesquisas e tornou- Marcos Alberto da Silva Pinto. se uma abordagem para todas Neste livro, você encontrará uma parte teórica, com a história de Carl as relações interpessoais, Rogers, os princípios da Abordagem Centrada na Pessoa, suas aplicações impactando inclusive a educa- e dimensões e, uma segunda parte, com as dúvidas e perguntas mais fre- ção, com uma visão cognitiva quentes que estes três profissionais ouvem no dia a dia. Praticando a Abordagem Centrada na Pessoa diferente. A intenção não é oferecer uma receita pronta que se for seguida, dará Ele visitou o Brasil em 1977, certo. É apenas a opinião resultante dos anos já vividos e o ponto de vista adquirido pela experiência desses profissionais. 1978 e 1985, realizando grupos de encontro, conferências e entrevistas para revistas e TV. "Acreditamos que melhor aprendizado é que parte da Rogers morreu em 5 de feverei- experiência e da vivência de cada pessoa. Mas temos desejo ro de 1987, no ano em que foi de que a partir deste livro leitor sinta desejo de vivenciar e de continuar praticando trabalho enriquecedor de indicado ao Prêmio Nobel da promover ferramentas para que outros também cresçam a Paz, aos 85 anos de idade, ain- partir de suas próprias vivências e percepções." da ativo, escrevendo, viajando, Esther Carrenho participando de conferências, e dedicando tempo para seus colegas mais jovens, filhos, ISBN netos, e fazendo algo que lhe dava muito prazer cuidar do seu jardim! CARRENHO 788562 492044

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