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ENFERMAGEM NA SAÚDE DO ADULTO II OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Sintetizar as ações de enfermagem na admissão do paciente no centro cirúrgico. > Reconhecer a importância de documentos de segurança como checklist e termo de consentimento. > Caracterizar os procedimentos de antissepsia cirúrgica e posicionamento do paciente na mesa cirúrgica. Introdução A cirurgia é um procedimento realizado com fins de diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças, ferimentos, lesões ou deformidades. O ato cirúrgico é uma ação complexa e exige uma preparação dos profissionais que são res- ponsáveis pela sua execução e pela logística do ambiente. Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções Katty Amador O enfermeiro, que presta assistência ao paciente que passará ou que passou por uma cirurgia, é o profissional responsável pela recepção do paciente na ins- tituição de saúde e pela coordenação da assistência prestada em todas as fases do período perioperatório. Muitas vezes, a atuação do enfermeiro é crucial para direcionar o sucesso da cirurgia e do funcionamento da unidade. Neste capítulo, vamos falar sobre temas relacionados à assistência perioperatória, sobretudo sobre o papel do enfermeiro como responsável pelo processo de enfermagem. Além disso, veremos como são desenvolvidas as ações baseando-se na segurança do paciente. Admissão do paciente e o papel da enfermagem A assistência de enfermagem no período perioperatório contempla, continu- amente, as fases pré-operatória, transoperatória e pós-operatória. O modelo de assistência de enfermagem perioperatória mais utilizado no Brasil é o Sistematização da Assistência de Enfermagem Perioperatória (Saep). Esse modelo “[...] tem como base o atendimento das necessidades humanas básicas e o Processo de Enfermagem (PE), estruturados por Wanda de Aguiar Horta” (CARVALHO; BIANCHI, 2016, p. 38). Por meio da Saep, é possível oferecer uma assistência holística e individualizada, proporcionar momentos de interação e educação em saúde direcionados ao paciente e à família, coletar dados para o desenvolvimento de uma assistência única para cada paciente, realizar um plano de cuidados levando-se em consideração todos os atores envolvidos no processo cirúrgico e avaliar o desenvolvimento das ações prestadas pela equipe de enfermagem. Assim como o processo de enfermagem, descrito na Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) nº 358, de 15 de outubro de 2009, a SAEP tam- bém possui cinco etapas. Vejamos (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2009). 1. Visita pré-operatória ou avaliação pré-operatória. Nessa fase, é reali- zada a consulta de enfermagem pré-operatória, em que são coletados os dados necessários para o desenvolvimento das próximas fases da Saep. 2. Identificação de problemas. Nessa fase, ocorre a determinação dos diagnósticos de enfermagem individuais para cada paciente. Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções2 3. Planejamento de cuidados. Aqui, é feita a descrição do plano de cui- dados holístico e individualizado. 4. Implementação da assistência de enfermagem. Nessa fase, ocorre o desenvolvimento das ações planejadas na etapa anterior. 5. Avaliação da assistência. Refere-se à avaliação da assistência em todo o período perioperatório e à reformulação das intervenções que não foram efetivas. A admissão do paciente na instituição de saúde é realizada na fase pré-operatória da cirurgia, ou seja, na primeira etapa da Saep. A avaliação pré-operatória é uma das etapas mais importantes para operacionalizar uma assistência de qualidade e segura. Nesse período, são coletadas as informações necessárias que embasarão a assistência nas próximas fases operatórias, são passadas todas as informações sobre o procedimento cirúr- gico e são sanadas as principais dúvidas, com intuito de diminuir a ansiedade do paciente e da família. Nessa fase, também há a conferência dos exames pré-operatórios. Durante a admissão, o enfermeiro deve realizar uma consulta de enferma- gem visando à construção do histórico de enfermagem por meio de entrevista e exame físico. Nesse momento, o enfermeiro identificará os problemas que podem interferir no processo de recuperação do paciente, os principais anseios do paciente e da família, e as características individuais do paciente que podem interferir de forma positiva ou negativa no pós-operatório. Os dados coletados permitem que o enfermeiro descreva os diagnósticos de enfermagem (identificação de problemas) e, em seguida, trace o plano de cuidados para o indivíduo durante as fases trans e pós-operatória. É de extrema importância que, durante a avaliação pré-operatória, o profissional demonstre uma postura solícita para que o paciente se sinta à vontade para realizar todas as suas indagações. O procedimento cirúrgico é uma situação que, quase sempre, provoca medo e ansiedade no paciente e na família. Por isso os profissionais envolvidos nessa assistência devem ficar atentos às dúvidas que possam surgir. Controlar a ansiedade é essencial para uma cirurgia segura e livre de intercorrências. Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções 3 Ainda durante a consulta de enfermagem, o enfermeiro pode conferir se o paciente trouxe todos os exames pré-operatórios solicitados ante- riormente. Os exames comumente solicitados são hemograma completo, coagulograma, glicemia de jejum, hemoglobina glicada, urina tipo I, ureia, creatinina e eletrocardiograma. Ainda durante essa visita, o enfermeiro deve fornecer ao paciente informa- ções sobre a recuperação pós-anestésica e o pós-operatório imediato, como possíveis desconfortos que podem aparecer, quando será possível voltar a comer ou beber água, que tipo de dieta será fornecida nas primeiras horas e sinais e sintomas aos quais o paciente deve ficar atento para relatar assim que possível. É importante que o paciente compreenda que a sua colaboração é essencial para o processo de recuperação e para evitar complicações car- diovasculares, respiratórias, musculoesqueléticas e de integridade tissular. No pré-operatório, também é realizada a avaliação pré-anestésica e a assinatura no termo de consentimento informado. Segundo Sampaio (2018, p. 116): A avaliação pré-anestésica é um procedimento realizado pela equipe de anestesio- logia de fundamental importância para a assistência ao paciente cirúrgico, através dela é possível a identificação de complicações potenciais, histórico do paciente e realização do exame físico, além de exames laboratoriais e histórico de complica- ções relacionadas a anestesias anteriores. É, também, a partir dessas informações que o anestesiologista define a escolha da medicação pré-anestésica, e esse é o momento em que são passadas as orientações referentes ao ato anestésico. O consentimento informado ou termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) é um documento em que consta a descrição do procedimento cirúrgico com as possíveis implicações deste. Esse documento é necessário antes de se realizar uma cirurgia eletiva. O enfermeiro pode ser o profissional responsável por coletar e testemunhar a assinatura do TCLE, mas é obrigação do cirurgião fornecer uma explicação detalhada e clara sobre as vantagens e implicações da cirurgia antes do consentimento do paciente. Compreende-se que a fase pré-operatória precisa de um estabelecimento de rotinas e da sistematização das ações prestadas por toda a equipe mul- tiprofissional, com foco no atendimento holístico e individualizado. De fato, a equipe de enfermagem tem papel fundamental no sucesso dessa fase e, consequentemente, de todo o período perioperatório. Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções4 Orientações pré-operatórias para prevenir complicações pós-operatórias Veja, a seguir, orientações para prevenir complicações no pós-operatório. Todas as orientações listadas a seguir só devem ser prescritasapós avaliação da necessidade de cada paciente (HINKLE; CHEEVER, 2016). � Respiração diafragmática: refere-se a um achatamento da cúpula do diafragma durante a inspiração, com o alargamento resultante das costelas e do abdome superior conforme o ar entra. Durante a expiração, os músculos abdominais se contraem. Esse tipo de respiração deve ser treinado na mesma posição em que o paciente ficará após a cirurgia. � Tosse cinética: apoiando o local da incisão com as mãos, o paciente deve realizar uma inspiração profunda e rápida e, em seguida, tossir fortemente uma ou duas vezes. Isso ajuda na remoção das secreções localizadas no pulmão. � Exercícios de membros inferiores: deitado em posição de semi-Fowler, o paciente deve flexionar o joelho com o pé flexionado, em seguida estender a perna e por fim, abaixar até o leito. Repetir esse movimento cinco vezes. � Exercícios para os pés: deitado em posição de semi-Fowler, o paciente deve realizar movimentos de rotação com os pés. � Passar para o decúbito lateral: deitado em decúbito dorsal, o paciente deve inclinar-se para o lado com a perna de cima flexionada e apoiada em um travesseiro, segurar a grade lateral para ajudá-lo a manobrar para o decúbito lateral e praticar a respiração diafragmática e a tosse cinética enquanto permanece em decúbito lateral. � Sair do leito: deitado em decúbito dorsal, o paciente deve virar-se de lado e empurrar o próprio corpo com uma das mãos conforme joga as penas para fora do leito. Admissão do paciente no centro cirúrgico A fase transoperatória se inicia com a admissão do paciente no centro cirúr- gico e é finalizada com a saída dele para a sala ou unidade da recuperação pós-anestésica (SRPA). O papel da equipe de enfermagem se inicia com a admissão do paciente na unidade de cirurgia. É importante receber o paciente de forma cordial para minimizar a ansiedade, atendendo às necessidades que foram requeridas pela equipe que o recebeu na fase pré-operatória. Deve-se Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções 5 observar o nível de consciência do paciente no momento da chegada, pois ele pode estar sob efeito de medicamentos pré-anestésicos, o que pode exigir cuidados diferenciados (SAMPAIO, 2018). O profissional responsável pela admissão do paciente na unidade de ci- rurgia deve conferir o nome completo do paciente, a pulseira de identificação, o TCLE, a avaliação pré-anestésica, os exames, o prontuário e as observações de todos os profissionais envolvidos. O paciente deve ser levado a sala de cirurgia sem nenhum tipo de objeto de uso pessoal. Para evitar erros e prezar pela segurança do paciente, o Ministério da Saúde recomenda fortemente que seja utilizada uma lista de verificação de cirurgia segura. Ela deve ser implementada desde a chegada do paciente no centro cirúrgico até o momento antes de o paciente sair da sala de operações. Existem diversas evidências de que essa lista reduz complicações, a ocorrência de incidentes, eventos adversos e a mortalidade cirúrgica (BRASIL, 2013a). Protocolo para segurança do paciente e cirurgia segura A Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013, instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Essa portaria criou o Comitê de Implementação do Programa Nacional de Segurança do Paciente, o qual teve o papel de de- senvolver protocolos, guias e manuais voltados à segurança do paciente em diferentes áreas, como (BRASIL, 2013b): � infecções relacionadas à assistência à saúde; � procedimentos cirúrgicos e de anestesiologia; � prescrição, transcrição, dispensação e administração de medicamentos, sangue e hemoderivados; � processos de identificação de pacientes; � comunicação no ambiente dos serviços de saúde; � prevenção de quedas; � úlceras por pressão; � transferência de pacientes entre pontos de cuidado; � uso seguro de equipamentos e materiais. Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções6 O protocolo para cirurgia segura foi desenvolvido baseando-se nas 10 orientações para cirurgia segura da Organização Mundial de Saúde (ORGA- NIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009), listadas a seguir. 1. A equipe operará o paciente certo e no local cirúrgico certo. 2. A equipe usará métodos conhecidos para impedir danos na adminis- tração de anestésicos, enquanto protege o paciente da dor. 3. A equipe reconhecerá e estará efetivamente preparada para perda de via aérea ou de função respiratória que ameacem a vida. 4. A equipe reconhecerá e estará efetivamente preparada para o risco de grandes perdas sanguíneas. 5. A equipe evitará a indução de reação adversa a drogas ou reação alérgica sabidamente de risco ao paciente. 6. A equipe usará, de maneira sistemática, métodos conhecidos para minimizar o risco de infecção no sítio cirúrgico. 7. A equipe impedirá a retenção inadvertida de instrumentais ou com- pressas nas feridas cirúrgicas. 8. A equipe manterá seguros e identificará precisamente todos os es- pécimes cirúrgicos. 9. A equipe se comunicará efetivamente e trocará informações críticas para a condução segura da operação. 10. Os hospitais e os sistemas de saúde pública estabelecerão vigilância de rotina sobre a capacidade, o volume e os resultados cirúrgicos. Nesse protocolo, há a lista de verificação de segurança cirúrgica, a qual é dividida em três etapas: 1. antes da indução anestésica; 2. antes da incisão cirúrgica; 3. antes do paciente sair da sala de cirurgia. A lista de verificação de segurança cirúrgica é essencial para evitar erros no transoperatório, diminuindo a chance de sequelas e morte devido ao procedimento cirúrgico. Além disso, a lista faz o trabalho ser mais raciocinado e menos automático. Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções 7 Apenas uma pessoa deve ser responsável por utilizar e checar a lista de verificação. Em cada fase, o condutor da lista deve observar e confirmar se o profissional ou a equipe realizou as suas tarefas antes de prosseguir para a próxima etapa. Caso seja percebido algum erro ou algum item não tenha sido realizado de forma correta, a verificação deverá ser pausada e o paciente mantido na sala de cirurgia até que o problema seja solucionado (BRASIL, 2013a; EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES, 2020). O Quadro 1 especifica cada item da lista em cada uma das fases. Quadro 1. Lista de verificação de segurança cirúrgica recomendada pelo Ministério da Saúde Antes da indução anestésica Antes da incisão cirúrgica Antes de o paciente sair da sala de operações Identificação Confirmação Registro Paciente confirmou: � identidade; � sítio cirúrgico; � procedimento; � consentimento. Sítio demarcado/não se aplica Verificação de segurança anestésica concluída Oxímetro de pulso no paciente e em funcionamento O paciente tem: Alergia conhecida? ( ) Não ( ) Sim Via aérea difícil/risco de aspiração? ( ) Não ( ) Sim Confirmar que todos os membros da equipe se apresentaram pelo nome e função Cirurgião, anestesiologista e equipe de enfermagem confirmam verbalmente: identificação do paciente; sítio cirúrgico; procedimento. Eventos críticos previstos Revisão do cirurgião: quais são as etapas críticas ou inesperadas, duração da operação, perda sanguínea prevista? Revisão da equipe de anestesiologia: há alguma preocupação específica em relação ao paciente? O profissional da equipe de enfermagem ou da equipe médica confirma verbalmente com a equipe: Registro completo do procedimento intraoperatório, incluindo procedimento executado Se as contagens de instrumentais cirúrgicos, compressas e agulhas estão corretas (ou não se aplicam) Como a amostra para anatomia patológica está identificada (incluindo o nome do paciente) Se há algum problema com equipamento para ser resolvido (Continua) Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções8 Antes da indução anestésica Antesda incisão cirúrgica Antes de o paciente sair da sala de operações Há equipamento/ assistência disponíveis? Risco de perda sanguínea > 500 ml (7 ml/kg em crianças)? ( ) Não ( ) Sim Há acesso endovenoso adequado e planejamento para fluidos? Revisão da equipe de enfermagem: os materiais necessários (instrumentais, próteses, etc.) estão presentes e dentro do prazo de esterilização (incluindo resultados do indicador)? Há questões relacionadas a equipamentos ou quaisquer preocupações? A profilaxia antimicrobiana foi realizada nos últimos 60 minutos? ( ) Não se aplica ( ) Sim As imagens essenciais estão disponíveis? ( ) Não se aplica ( ) Sim O cirurgião, o anestesiologista e a equipe de enfermagem revisam preocupações essenciais para a recuperação e o manejo do paciente (especificar critérios mínimos a serem observados, como dor, por exemplo) Fonte: Adaptado de Brasil (2013a). Atuação da enfermagem no transoperatório Com o paciente dentro da unidade de cirurgia, a checklist de “Antes da indução anestésica” verificada e o paciente anestesiado, inicia-se o preparo deste para a cirurgia. Normalmente, a equipe de enfermagem atua diretamente nos seguintes procedimentos: � tricotomia; � passagem de sonda vesical de demora (SVD); � posicionamento cirúrgico; � colocação da placa dispersiva; � preparo da pele do paciente; (Continuação) Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções 9 � auxílio durante toda a cirurgia no que for necessário. Cada um desses procedimentos será apresentado em mais detalhes a seguir. Tricotomia A tricotomia é a retirada dos pelos da pele com o intuito de facilitar a incisão cirúrgica, a sutura e evitar acúmulo de sujidades da ferida operatória. Esse procedimento deve ser realizado, preferencialmente, por um tricotomizador elétrico para não causar lesões na pele. Passagem de sonda vesical de demora É um procedimento invasivo e estéril que consiste na introdução de uma sonda através da uretra até a bexiga, com a finalidade de drenar a urina por diversos dias. Esse procedimento deve ser realizado pelo enfermeiro ou pelo médico. Posicionamento do paciente O posicionamento cirúrgico é a forma como o paciente ficará acomodado durante toda a cirurgia. É uma tarefa complexa, que deve ser feita com res- ponsabilidade pelos profissionais que estão envolvidos nesse processo. Deve-se levar em consideração o local da cirurgia, o acesso do cirurgião, as necessidades do anestesiologista, os efeitos fisiológicos do posiciona- mento e as características individuais de cada paciente. Há posicionamentos de decúbito dorsal, decúbito lateral e decúbito ventral. Veja, na sequência, a descrição de cada um dos posicionamentos conforme Carvalho e Bianchi (2016). Posições de decúbito dorsal � Decúbito dorsal ou supina: o paciente fica deitado com o abdome voltado para cima, com os braços estendidos ao longo do corpo. A depender da mesa cirúrgica, os braços podem ficar próximos ao corpo ou em abdução com angulação inferior a 90°. � Posição de Trendelenburg: o indivíduo permanece em decúbito dorsal, com as pernas e a pelve mais elevadas do que a parte superior do dorso. Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções10 � Posição de Trendelenburg reversa: como o próprio nome diz, essa posição é o inverso da Trendelenburg. A parte superior do dorso fica elevado em relação à pelve e às pernas. � Posição de litotomia ou ginecológica: com o paciente em decúbito dorsal, coloca-se os membros inferiores elevados e abduzidos e com a articulação do joelho flexionada, deixando a perna em um ângulo de cerca de 90° para expor a região genital. � Posição de Fowler: essa é uma variação do decúbito dorsal em que o paciente fica sentado. O dorso do paciente é elevado e as pernas e os pés são colocados em um suporte com angulação não superior a 45°. � Posição da mesa de ortopedia: esse posicionamento geralmente é utilizado para tratamento cirúrgico de fratura de quadril ou fixação femoral fechada. O paciente é colocado em decúbito dorsal, com a pelve estabilizada contra uma coluna vertical perineal bem acolchoada. Posições de decúbito lateral � Posição lateral — tórax: o paciente fica deitado lateralmente e os mem- bros superiores são flexionados à frente, formando um ângulo de cerca de 90° com o corpo. O braço lateral à parte torácica que será operada é flexionado levemente na altura do cotovelo para elevar a escápula, fornecer acesso adequado às costelas e ampliar o espaço intercostal. � Posição lateral — região dos rins: em decúbito lateral, o paciente é posicionado de forma que a crista ilíaca que encosta na mesa cirúrgica fique abaixo do elevador dos rins. Posições de decúbito ventral � Decúbito ventral ou prona: nessa posição, o paciente fica com o abdome voltado para baixo, em contato com a mesa cirúrgica, com os braços estendidos ao longo corpo e a cabeça lateralizada. � Posição de canivete, Jackknife, Kraske ou Depage: posicionamento utilizado para cirurgias proctológicas ou de coluna lombar. O abdome e o tórax ficam fletidos sobre a mesa cirúrgica, facilitando o acesso à região a ser operada. Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções 11 Colocação da placa dispersiva A placa dispersiva é um instrumento indispensável para cirurgias que utilizam o bisturi elétrico. Ela serve para auxiliar na condução da corrente elétrica gerada por esse equipamento. Portanto, antes do início da cirurgia, esse acessório deve estar em contato uniforme com o corpo, em uma área onde haja massa muscular, o mais próximo possível do sítio cirúrgico, afastado de próteses metálicas, em superfície seca, sem pelos e com pele íntegra (CARVALHO; BIANCHI, 2016). Na maioria dos centros cirúrgicos, a colocação da placa dispersiva é res- ponsabilidade do circulante. Preparo da pele da cirurgia O preparo da pele do paciente deve ser feito com a aplicação de uma solução degermante seguida de uma solução antisséptica. A degermação consiste na remoção ou redução dos microrganismos da pele, enquanto a antissepsia é o processo que visa a inibir o crescimento de microrganismos. Ultimamente, utiliza-se a solução de clorexidina degermante (base sabão) para degermação e solução de clorexidina tintura (base alcoólica) para an- tissepsia da pele do paciente. Nos casos de antissepsia de mucosas e áreas escarificadas, utiliza-se solução de clorexidina tópica (base aquosa). Segundo Dumville et al. (2015, p. 14): Uma revisão abrangente das evidências atuais encontrou alguma evidência de que a preparação pré-operatória da pele com clorexidina a 0,5% em álcool metílico está associada a menores taxas de infecção cirúrgica após a cirurgia limpa do que a tintura de iodopovidona à base de álcool. No entanto, essa evidência se baseia em um único estudo que foi mal descrito. Portanto, ao selecionar diferentes opções antissépticas, os cirurgiões podem levar em consideração outras características, tais como custos e possíveis efeitos colaterais. Após todos esses procedimentos, com o paciente pronto para iniciar a cirurgia, faz-se a segunda etapa da lista de verificação de cirurgia segura. Ao finalizar a cirurgia, faz-se a terceira etapa da lista de verificação de cirurgia segura e, em seguida, o paciente é encaminhado para a sala de recuperação pós-anestésica. O período perioperatório acompanhado da lista de verificação da cirurgia segura tornou-se um momento mais seguro para o paciente e para a prática profissional. Essa medida garantiu práticas assistenciais mais corretas e confiantes, evitando muitos erros cirúrgicos e na assistência em geral. Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções12 Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Anexo 03: protocolo de cirurgia segura. 2013a. Disponível em: https://proqualis.net/sites/proqualis.net/files/0000024279j862R.pdf. Acesso em: 8 set. 2021. BRASIL.Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013. Institui o programa nacional de se- gurança do paciente (PNSP). Diário Oficial da União, Brasília, 1 abr. 2013b. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0529_01_04_2013.html. Acesso em: 8 set. 2021. CARVALHO, R.; BIANCHI, E. R. F. (org.). Enfermagem em centro cirúrgico e recuperação. 2. ed. Barueri: Manole, 2016. (Série Enfermagem). CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução Cofen-358/2009. 2009. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html. Acesso em: 8 set. 2021. DUMVILLE, J. C. et al. Preoperative skin antiseptics for preventing surgical wound infections after clean surgery. Cochrane DatabaseofSystematic Reviews, nº 3, 2015. Disponível em: https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD003949. pub4/epdf/full. Acesso em: 8 set. 2021. EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES. Procedimento operacional padrão: cirurgia segura. Campina Grande: EBSERH, 2020. (E-book). HINKLE, J. L.; CHEEVER, K. H. Brunner e Suddarth: tratado de enfermagem médico cirúrgica. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. v. 1. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Segundo desafio global para a segurança do pa- ciente: cirurgias seguras salvam vidas. Rio de Janeiro: Opas-OMS/Ministério da Saúde/ Anvisa, 2009. (E-book). SAMPAIO, M. O. Enfermagem em centro cirúrgico. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. (E-book). Leitura recomendada TOSTES, M. F. P.; GALVÃO, C. M. Lista de verificação de segurança cirúrgica: benefícios, facilitadores e barreiras na perspectiva da enfermagem. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 40, nº esp., p. 1-11, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rgenf/a/VBVNNpyq XyWrcFwL9hNKy3K/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 8 set. 2021. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito- res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Assistência de enfermagem no período perioperatório: monitoração e funções 13