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Planejamento 
Urbano e Regional 
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Me. Altimar Cypriano
Revisão Textual:
Prof.ª M.ª Sandra Regina Fonseca Moreira
Morfologia Urbana 
Morfologia Urbana 
 
 
• Entender a estrutura morfológica e a ocupação do espaço urbano.
OBJETIVO DE APRENDIZADO 
• Análise e Identificação de Elementos Morfológicos;
• A Forma Urbana e a Ocupação do Território (Uso e Ocupação do Solo).
UNIDADE Morfologia Urbana 
Análise e Identificação de 
Elementos Morfológicos
De acordo com o dicionário online Dicio a palavra Morfologia tem, dentre outros, 
o seguinte significado: “Estudo do aspecto, da forma e da aparência externa da 
matéria”, enquanto a palavra urbana, de acordo com o mesmo dicionário, significa: 
“Que pertence à cidade; próprio da cidade; ...”, portanto, resumidamente, Morfolo-
gia urbana se refere ao estudo da forma da cidade. De acordo com Scopel (2020, p. 43), 
morfologia urbana “se dedica ao estudo tanto das formas como das estruturas e trans-
formações dos centros urbanos”, ou seja, se estabelece uma relação de tempo e espaço 
ao se estudar as formas das cidades. Com relação às formas da cidade, a autora afirma:
As formas das cidades podem ser o resultado de um planejamento ou de 
uma organização prévia ou, ainda, da ocupação dos seus colonizadores e 
do desenvolvimento das famílias ao longo do tempo. A cidade é fruto das 
relações, transformações, interações e apropriações, e sua forma atual é 
consequência de diferentes momentos. Essa forma é produzida tanto por 
condições econômicas, sociais, políticas e históricas de uma sociedade 
como também pelas teorias, estudos e posicionamentos culturais e es-
téticos dos agentes que idealizam, constroem e transformam as cidades. 
Portanto, uma cidade pode ser considerada um organismo vivo, além de 
um artefato de caráter humano e arquitetônico que cresce sobre si e, por 
isso, está sempre em transformação. (SCOPEL, 2020, p. 43, 44)
Segundo Lamas, (2014, p. 37) “a morfologia urbana estudará essencialmente os 
aspectos exteriores do meio urbano [...], definindo e explicando a paisagem urbana e a 
sua estrutura”, o autor ainda afirma que “o conhecimento do meio urbano implica [...] 
instrumentos de leitura [...] e uma relação objeto-observador”, também observando que 
o “meio urbano pode ser objeto de múltiplas leituras” (LAMAS, 2014, p. 37). Scopel 
(2020, p. 45), explora esses enunciados, alertando que além da necessidade da identifi-
cação dos elementos morfológicos, “deve-se perceber sua gênese e suas transformações 
durante o tempo”, reforçando as afirmações de Secchi (2016, p. 16), apresentadas em 
outra unidade: de que “os territórios e as cidades que observamos são os resultados de 
um longo processo de seleção cumulativa”, ou seja, há uma sobreposição de camadas, 
que nem sempre estão expostas ou nem sempre são percebidas rápida ou facilmente, 
sendo que a escolha dos elementos inseridos ou eliminados da paisagem das cidades 
ocorre em um processo contínuo. Benevolo (2014, p. 13) afirma que “a forma física” de 
uma cidade “corresponde à organização social e contém numerosas informações sobre 
as características da sociedade”, o autor explica que a estrutura física “de uma sociedade 
é mais durável do que a própria sociedade”, desta maneira, pode-se conhecer essas ci-
dades vivenciando esses espaços, ou de acordo com Benevolo, “movendo-se no cenário 
da cidade” (BENEVOLO, 2014, p. 13).
Lamas (2014, p. 38) posiciona a morfologia urbana inserida nos campos do urbanismo, 
da arquitetura e do desenho urbano, e considera necessário o esclarecimento de três pontos:
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A morfologia (urbana) é o estudo da forma do meio urbano nas suas 
partes físicas exteriores, ou elementos morfológicos, e na sua produção e 
transformação no tempo. Todavia, é necessário sublinhar que um estudo 
morfológico não se ocupa do processo de urbanização, quer dizer, do 
conjunto de fenômenos sociais, econômicos e outros, motores da urbani-
zação. Estes convergem na morfologia como explicação da produção da 
forma, mas não como objeto de estudo.
Um estudo de morfologia urbana ocupa-se da divisão do meio urbano em 
partes (elementos morfológicos) e da articulação destes entre si e com o 
conjunto que definem – os lugares que constituem o espaço urbano. O que 
remete de imediato para a necessidade de identificação e clarificação dos 
elementos morfológicos, quer em ordem à leitura ou análise do espaço 
quer em ordem à sua concepção ou produção.
Um estudo morfológico deve necessariamente tomar em consideração 
os níveis ou momentos de produção do espaço urbano. Níveis esses que 
possuem, dentro da disciplina urbanístico-arquitetônica, a sua lógica pró-
pria, articulada sobre estratégias político-sociais. Um estudo morfológico 
deve também identificar os níveis de produção da forma urbana e as suas 
inter-relações (LAMAS, 2014, p. 38, 39). 
Para Le Corbusier (1977, p. 13), “o urbanista quase não se distingue do arquiteto”, 
Lamas (2014, p. 79) afirma que a “leitura e composição urbanas” são “essencialmente 
arquitetônicas”, ou seja, os métodos interpretativos da arquitetura podem ser aplicados ao 
espaço urbano (LAMAS, 2014, p. 79), entretanto, devemos, para o entendimento e iden-
tificação dos elementos morfológicos, contextualizá-los, estabelecendo a escala de análise. 
Na escala do edifício, os elementos morfológicos são aqueles que o conformam: “ele-
mentos construtivos e espaciais” e também como estão organizados compositivamente, 
atendendo a diversas condicionantes e exigências (LAMAS, 2014, p. 79). De acordo com 
Lamas (2014), na arquitetura, os elementos mais genéricos são: “paredes, janelas, vãos, 
portas, escadas, rampas e tantos outros” apesar de “relativamente constantes [...] suas 
características e aspecto exterior [...] variam de época para época ou de autor para autor” 
(LAMAS, 2014, p. 79). Na escala da cidade, o autor elenca outros elementos morfológicos 
que possibilitarão o entendimento da morfologia urbana, devendo ainda serem circunstan-
ciados: o solo | o pavimento; os edifícios | o elemento mínimo; o lote | a parcela fundiá-
ria; o quarteirão; a fachada | o plano marginal; o logradouro; o traçado | a rua; a praça; 
o monumento; a árvore e a vegetação e o mobiliário urbano (LAMAS, 2014, p. 80, 108).
Para o espaço urbano, o solo-pavimento é um elemento fundamental (LAMAS, 2014, 
p. 80). É a partir do território e de sua topografia que a cidade será desenhada ou cons-
truída, o solo-pavimento apresenta grande fragilidade e mutabilidade, é o suporte para 
implementação de diversas infraestruturas e registra os conflitos urbanos decorrentes 
dessas ações (LAMAS, 2014, p. 80), as diretrizes definidas pelos gestores do espaço público 
refletirão nas dimensões e mediação desses conflitos. Atualmente, as cidades debatem, no 
âmbito da mobilidade urbana, a prioridade de circulação dos veículos de transporte público, 
ciclistas e pedestres, invertendo a lógica imposta pela visão expansionista. 
O espaço urbano é constituído pelos edifícios, que também organizam outros diferen-
tes espaços, como a rua, a praça, a avenida (LAMAS, 2014, p. 84). Ao explanar sobre a 
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UNIDADE Morfologia Urbana 
descrição da cidade, Rossi (1995, p. 13) o faz pela sua forma, que “se resume na arqui-
tetura da cidade” e segundo o autor, entende-se por arquitetura da cidade dois diferentes 
aspectos, sendo um deles “o grande artefato”, resultado da obra de engenharia e arqui-
tetura com complexidade e dimensão específicas, e o outro se refere aos “entornos mais 
limitados da cidade inteira”, de acordo com Rossi, “fatos urbanos caracterizados por uma 
arquitetura própria [..] e forma própria” (ROSSI, 1995, p. 13). O autor ainda alerta que 
o todo é mais importante do que a parte, ou seja, “a cidade como obra de arte” não é 
redutível a um “episódio artístico”, embora a análise da arquitetura total deva ser reali-
zada por partes (ROSSI, 1995, p. 24). Para isso, ele parte para a definição da tipologia 
dos edifícios e da suarelação coma cidade, considerando “os edifícios como momentos 
e partes de um todo que é a cidade” (ROSSI, 1995, p. 24), ainda, citando a definição de 
Quatremère, de Quincy “modelo é um objeto que se deve repetir tal como é”, enquanto, 
segundo Rossi, “o tipo é a própria ideia da arquitetura, aquilo que está próximo da sua 
essência” (ROSSI, 1995, p. 27). Essa distinção é importante não apenas para estabele-
cer em que base se dá as premissas da arquitetura moderna, mas também porque Lamas 
(2014, p. 84, 85) convoca esses conceitos para explanar a relação tipologia-morfologia, 
evidenciando que “o espaço urbano depende dos tipos edificados e do modo como estes 
se agrupam (LAMAS, 2014, p. 86).
O lote está intrinsecamente associado ao edifício, ou “superfície de solo que ocupa”, 
sendo “também a gênese e fundamento do edificado” (LAMAS, 2014, p. 86). O processo 
de urbanização vai determinar o partilhamento do território, implicando a definição dos 
domínios público e privado. A estrutura viária também contribui para essa compartimen-
tação, havendo uma interdependência desses elementos, segundo o autor “a forma do lote 
é condicionante da forma do edifício e, consequentemente, da forma da cidade (LAMAS, 
2014, p. 86), segundo o autor, os pressupostos modernos, a partir da “unidade de habi-
tação de Le Corbusier”, ampliaram a discussão dos limites entre o público e o privado, 
conferindo uma “coletivização do espaço urbano” (LAMAS, 2014, p. 86). 
Como desdobramento do conceito do lote e de sua vinculação ao edifício, temos o quar-
teirão como “um contínuo de edifícios agrupados entre si” (LAMAS, 2014, p. 88), podendo 
caracterizar um “sistema fechado”, e ainda ser o “espaço delimitado pelo cruzamento de três 
ou mais vias” (LAMAS, 2014, p. 88). Segundo Lamas (2014, p. 88), o sistema do quarteirão 
é antigo, deriva da geometria como processo elementar e, com o tempo, “adquiriu estatuto 
de unidade na produção da cidade”, entretanto, segundo o autor, “o quarteirão não é au-
tônomo dos demais elementos do espaço urbano”, ou seja, também se interrelaciona com 
“os traçados, ou as vias, os espaços públicos, os lotes e os edifícios” (LAMAS, 2014, p. 88). 
O quarteirão agrega e organiza também os outros elementos da estrutura 
urbana: o lote e o edifício, o traçado e a rua, e as relações que estabele-
cem com os espaços públicos, semipúblicos e privados.
O quarteirão foi (e é) um instrumento de trabalho urbanístico na pro-
dução da cidade tradicional [...]. Foi um elemento morfológico sempre 
presente nas cidades até ao período moderno, constituindo elemento da 
estética urbana.
O movimento moderno imprimiu ao quarteirão um processo de transfor-
mações sucessivas que culminaram no seu abandono [...]
O quarteirão durou até ao pós-guerra, altura em que cedeu o lugar a ou-
tras formas urbanas [...]. (LAMAS, 2014, p. 94) 
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De acordo com Lamas (2014, p. 94), “na cidade tradicional, a relação do edifício com 
o espaço urbano vai processar-se pela fachada”, o apinhamento de construções e a con-
tinuidade de edificações farão com que a fachada seja o único elemento de “comunicação 
com o espaço urbano” (LAMAS, 2014, p. 94). Segundo o autor, serão as fachadas os 
elementos de expressão das “características distributivas (programas, funções, organi-
zação), o tipo edificado”, assim como as “características e linguagens arquitetônicas (o 
estilo, a expressão estética, a época)” (LAMAS, 2014, p. 94, 96). As fachadas terão a 
capacidade de “moldar a imagem da cidade”, sendo o “invólucro visível da massa cons-
truída [...] o cenário que define o espaço urbano” (LAMAS, 2014, p. 96). Lamas (2014, p. 
96) atribui também à fachada, em situações específicas, o poder de realizar a “transição 
entre o mundo coletivo do espaço urbano e o mundo privado das edificações”. Para o 
autor, no urbanismo moderno, o edifício e sua fachada, uma vez ao se caracterizar como 
objeto isolado, “deixa de ocupar no espaço urbano a posição que detinha na cidade tra-
dicional”, passando a se constituir como um objeto visto não apenas pelo plano frontal 
(LAMAS, 2014, p. 96), portanto, afirma, há uma diferença de importância e significado 
da fachada “na morfologia urbana da cidade tradicional e na cidade moderna” (LAMAS, 
2014, p. 98).
Lamas (2014) considera o logradouro como “o espaço privado do lote não ocupado 
por construção, as traseiras, o espaço privado, separado do espaço público pelos con-
tínuos edificados” (LAMAS, 2014, p. 98). Ele explica que o logradouro, apesar de sua 
característica de espaço residual, na cidade tradicional, teve diversas utilizações como 
“horta ou quintal”, e a partir da utilização do logradouro “se torna possível a evolução 
das malhas urbanas: densificação, reconstrução, ocupação” (LAMAS, 2014, p. 98). Com 
relação ao traçado / a rua, Lamas afirma ser “um dos elementos mais claramente iden-
tificáveis tanto na forma de uma cidade como no gesto de a projetar” (LAMAS, 2014, 
p. 98). É estruturado sobre o território e suas características geológicas pré-existentes, 
tendo a potência de “regular a disposição dos edifícios e quarteirões”, além de conectar 
“os vários espaços e partes da cidade, e confunde-se com o gesto criador” (LAMAS, 
2014, p. 99, 100). É o traçado, segundo Lamas (2014, p. 100), que “estabelece a relação 
mais direta de assentamento entre a cidade e o território”. Lamas (2014, p. 100) enfatiza 
que “o traçado, a rua, existem como elementos morfológicos nos vários níveis ou escalas 
da forma urbana”, encontrando “correspondência” entre “os traçados e a hierarquia das 
escalas da forma urbana”, desde a rua de pedestres, travessa, avenidas ou vias rápidas 
(LAMAS, 2014, p. 100).
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UNIDADE Morfologia Urbana 
Figura 1 – Rua de Pedestres – Madri | Espanha
Fonte: Getty Images
“A praça é um elemento morfológico das cidades ocidentais” (LAMAS, 2014, p. 100) 
e, a partir dessa afirmação, o autor também a caracteriza como um elemento intencional 
para a organização espacial, ou seja, não se trata de espaço acidental ou residual, mas par-
ticipa como elemento ordenador, segundo ele, “ a praça pressupõe a vontade e o desenho 
de uma forma e de um programa” (LAMAS, 2014, p. 100), e ainda define “a praça como 
“lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos”, diferenciando-a dos 
elementos largo e terreiro, que, segundo o autor, são “espaços acidentais” residuais, re-
sultados de alargamentos da estrutura urbana. Entretanto, os três elementos morfológicos 
são identificáveis e utilizáveis no desenho urbano (LAMAS, 2014, p. 102). Para Lamas 
(2014, p. 102), na cidade tradicional, a praça, assim como a rua, implicam a “relação do 
vazio [...] com os edifícios”, contemplando os espaços de permanência e os planos margi-
nais e as fachadas dos objetos arquitetônicos edificados (LAMAS, 2014, p. 102). 
Figura 2 – Praça Monastiraki, Atenas, Grécia
Fonte: Getty Images
Segundo Rossi (1995, p. 142), os monumentos são pontos de referência da dinâmica 
urbana, e, de acordo com o dicionário online Dicio, entre os significados do termo 
monumento estão: “obra de arquitetura ou de escultura destinada a transmitir ou a 
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perpetuar para a posteridade a lembrança de um grande vulto ou de um acontecimento”. 
Lamas (2014, p. 104), simetricamente ao conceito de Rossi, entende monumento como 
um “fato urbano singular”, para o autor, o monumento participa significativamente no 
desenho da cidade, caracterizando a área ou o bairro como elemento polo estruturador 
da cidade (LAMAS, 2014, p. 104). No que diz respeito às estruturas verdes, Lamas (2014, 
p. 106) afirma que, independentemente das suas dimensões, são elementos identificáveis 
na estrutura urbana, de um canteiro a um parque, possuem individualidade, participam 
como elementos de composição e do desenho urbano na organização, definição e 
contenção dos espaços (LAMAS, 2014, p. 106). Por fim, o autor se refere ao mobiliário 
urbano, “constituído por elementos móveis” que “equipam a cidade”; esses elementos 
são deliberadamenteinstalados para atender a diversas funções, como sinalização, 
abrigo para parada de veículo de transportes, entre outros. 
O autor delimita o mobiliário à escala da rua, ressaltando sua importância para o desenho 
e organização da cidade, alertando que nas sociedades de consumo assumem um caráter de 
elementos “parasitários”, como “elementos postiços e móveis”, como os anúncios, ilumina-
ção etc. (LAMAS, 2014, p. 108). É necessário, entretanto, que se esclareça a relação entre 
os “elementos morfológicos” identificáveis e “as dimensões ou escalas do desenho urbano” 
(LAMAS, 2014, p. 110). Lamas (2014) expõe três categorias: “na dimensão setorial”, referin-
do-se à escala da rua, estão “os edifícios com suas fachadas e planos marginais, o traçado [...] 
a árvore ou a estrutura verde, o desenho do solo e o mobiliário urbano”; a próxima categoria 
citada pelo autor é a que se refere à “dimensão urbana ”, ampliando para a escala do bairro, 
onde ele elenca “os traçados e praças, os quarteirões e monumentos, os jardins e áreas 
verdes”; e, por fim, na “dimensão territorial, ou escala urbana” estão os “bairros, as grandes 
infraestruturas viárias e as grandes zonas verdes” (LAMAS, 2014, p. 110).
Figura 3 – Arco na Rua Augusta, Lisboa, Portugal
Fonte: Getty Images
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UNIDADE Morfologia Urbana 
Leia mais sobre Morfologia Urbana: 
• Artigo de Renata Baesso Pereira “Tipologia arquitetônica e morfologia urbana uma 
abordagem histórica de conceitos e métodos”. Disponível em: https://bit.ly/3AcYQr5
• Diversos artigos – Revista de Morfologia Urbana. Disponível em: https://bit.ly/2URPW2g
A Forma Urbana e a Ocupação do Território 
(Uso e Ocupação do Solo)
A palavra forma, segundo o dicionário online Dicio, significa: aspecto físico pró-
prio dos objetos e seres, como resultado da configuração de suas partes; feitio [...], 
como vimos urbana, de acordo com o mesmo dicionário significa: “Que pertence à 
cidade; próprio da cidade; ...”, Lamas (2014, p. 41) entende que a “noção de forma 
urbana” está vinculada aos instrumentos de leitura que permitem o conhecimento dos 
objetos e suas formas, portanto, para o autor, partindo do princípio que a forma urbana 
corresponderia a “um conjunto de objetos arquitetônicos ligados entre si por relações es-
paciais”, uma vez que a “ concepção do espaço” possui instrumentos próprios: “a leitura 
da cidade como fato arquitetural”, afirma que a “forma da cidade corresponde à maneira 
como se organiza e se articula a sua arquitetura” (LAMAS, 2014, p. 41).
A cidade é um produto exclusivamente humano, resultado de ações coletivas. Para Lamas 
(2014, p. 26), “a produção da cidade não pode ser entendida como um mero processo de 
distribuir edifícios no território”, as ações sobre o território são invariavelmente intencionais. 
Segundo Secchi (2016, p. 17), mesmo na cidade medieval, a periferia foi “determinada por 
um grande número de normas e regras”, ou seja, a “espontaneidade” deve ser relativizada. 
A forma, para Lamas (2014), é “uma resposta a um problema espacial”, portanto, esse re-
sultado é o “produto de uma ação” (LAMAS, 2014, p. 41). Assim, as marcas deixadas nesse 
“imenso arquivo de signos” que são as cidades, podem ser apreendidas, lidas e compreendi-
das, assim como as “intenções, projetos e ações concretas” (SECCHI, 2016, p. 15). 
Rossi (1995), citando a Hans Bernouilli, apresenta duas importantes questões para 
o desenvolvimento da cidade: “a primeira, concerne [...] ao caráter negativo da proprie-
dade privada do solo [...] os motivos históricos dessa situação”, o autor sugere que essas 
questões implicam a forma da cidade (ROSSI, 1995, p. 233). Rossi (1995) resgata que o 
processo de desmembramento do solo urbano remonta à “Revolução Francesa, quando, 
em 1789, o solo se torna livre”, a aristocracia e o clero vendem grandes propriedades 
permitindo o acesso da burguesia e de camponeses ao solo urbano. Além disso, o solo, 
de propriedade privada, passa a ser comercializado como qualquer outra mercadoria 
(ROSSI, 1995, p. 233). Esse processo de mercantilização do solo acabou por permitir 
a especulação, entretanto, Rossi (1995, p. 238) argumenta que o parcelamento do solo 
era “de um lado uma degeneração da cidade”, enquanto, por outro, “promove o seu 
desenvolvimento” (ROSSI, 1995, p. 238). O argumento do autor se relaciona ao fato 
de que “as grandes propriedades da nobreza e do clero” deveriam ter sido confiscadas 
ou os “terrenos municipais deveriam ser mantidos como propriedade coletiva” (ROSSI, 
1995, p. 234).
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Quanto à ocupação do solo, durante as Unidades desta disciplina, convocamos di-
versos autores que possibilitaram a construção de um ideário sobre a ocupação e sua 
implicação nas formas da cidade. Anteriormente, foi abordado que sobre a estrutura 
física da cidade se sobrepõe uma organização social, e que essa relação é determinan-
te de como se dará a ocupação do território, também apresentamos como as estra-
tégias de planejamento, ou a falta delas, implicam na ocupação e consequentemente 
na forma urbana. Na cidade antiga, não havia um padrão estabelecido, como afirma 
Benevolo (2003 p. 382) “estas cidades têm todas as formas possíveis” e com diver-
sas tipologias, como lineares, circulares, radiocêntricos, em tabuleiro etc. Discutimos 
como ficam evidentes na cidade contemporânea as contradições demonstradas por 
Secchi (2016, p. 92), que a cidade “é o lugar da contínua e tendencial destruição” de 
“valores posicionais”, provocando a exclusão e, consequentemente, um deslocamento 
de grande parte da população para as franjas da cidade, impondo quais áreas essa 
população poderá ocupar. Destacamos também o papel importante da Constituição 
Federal de 1988, que transfere as decisões das políticas públicas de desenvolvimento 
urbano e gestão para o âmbito municipal, consolidadas pela Lei Federal n° 10.257 – 
Estatuto da Cidade de 2001, que define o Plano Diretor como o instrumento possível 
de concretização dessas ações. Colocando o Estado como mediador entre as forças 
desiguais dos diversos setores e procurando, por meio da gestão participativa, encon-
trar convergência dos atores envolvidos nas disputas pelo território urbano. Posterior-
mente, o Estatuto da Metrópole foi instituído com o objetivo de fomentar o desenvolvi-
mento metropolitano e possibilitar a interação entre União, estados e municípios para 
a gestão do planejamento urbano. Vimos, portanto, que esse arcabouço legal formado 
pelas diversas leis municiais, como o Planos Diretor e a Lei de Parcelamento, Uso e 
Ocupação do Solo, específicas de cada município, devem responder por demandas 
e anseios da população específica, devendo também estabelecer índices urbanísticos 
compatíveis, assim como restrições específicas para cada contexto. 
 Anteriormente nós também debatemos como essas relações sociais e de poder deter-
minam o uso dos espaços das cidades, influenciando diretamente a forma e estruturas 
urbanas, processo visto desde a pólis grega – espacialmente caracterizada pela expressão 
da organização social na ocupação do território, marcada pela manifestação do cidadão, 
que se diferencia da cidade medieval murada, mas que expõe, como hoje, que o poder 
de decisão sobre a ocupação dos espaços da cidade não é estendido à grande parte da 
população citadina 
As cidades serem foram o palco de disputas de poder, e, portanto, as ações impos-
tas sobre o território das cidades poderão, por exemplo, resultar na densificação ou no 
espraiamento. Vimos também que os ideais expansionistas promoveram uma ocupação 
espraiada do território, as infraestruturas ferroviária e rodoviária, facilitadoras dos flu-
xos, impulsionaram a ocupação horizontal do território, criando ao longo de seus tra-
jetos núcleos de ocupação. Discutimos anteriormente como os Planos Urbanos, desde 
Haussmann, em Paris, ou de Cerdá, para Barcelona, se estruturam em sistemas viários 
e malhas definidoras e determinantes da sua forma, mas também procuram estabelecer 
diretrizes de ocupação.Essas intervenções higienistas ou de embelezamento, demons-
tram seu caráter impositivo e segregacionista, mas implementam um novo traçado, 
expandindo os limites territoriais, possibilitando o crescimento da cidade. Discutimos 
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UNIDADE Morfologia Urbana 
também que o número de habitantes distribuídos no espaço estabelece a densidade de 
ocupação, implicando na organização do território e na demanda de infraestrutura ur-
bana, e consequentemente, na forma urbana resultante. 
Em unidades anteriores nós também vimos que a estrutura urbana é influenciada 
por diversos fatores como as vias de fluxo, o partilhamento ou divisão do território, a 
densidade, o relevo, entre outros, portanto, o desenho é estruturador e condiciona a 
forma urbana, mas o suporte geológico também é condicionador, implicando o desenho 
e a ocupação e estabelecendo uma relação de interdependência. A produção do espaço 
urbano implica concretamente a ocupação e o uso específico imposto pela sociedade. 
As dinâmicas, vocações e potencialidades, exploradas nas ações antrópicas também vão 
determinar como o território será ocupado, assim como serão determinados os usos. 
Atualmente, as cidades brasileiras possuem ferramentas institucionais para a gestão 
do território, como o Plano Diretor e demais leis, como a lei de uso e ocupação do solo, 
podendo organizar e controlar a utilização do espaço e determinar as atividades, criando 
zonas específicas
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
 Formas Urbanas: A Dissolução da Quadra 
PANERAI, P.; CASTEX, J.; DEPAULE, J. C. Formas urbanas: a dissolução da quadra. 
Porto Alegre: Bookman, 2013.
 Leitura
Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo do Município de São Paulo
https://bit.ly/3h4aDR5
Lei de Uso e Ocupação do Solo de Recife
https://bit.ly/2SyuQoG
Lei de Uso e Ocupação do Solo de Teresina
https://bit.ly/3hmroFY
O estudo da forma urbana no Brasil
https://bit.ly/3weR5hv
Revista de Morfologia Urbana 
https://bit.ly/2URPW2g
Superquadra: vida suspensa
https://bit.ly/3x0qwh3
Tipologia arquitetônica e morfologia urbana uma abordagem histórica de conceitos e métodos
https://bit.ly/3AcYQr5
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UNIDADE Morfologia Urbana 
Referências
BENEVOLO, L. A cidade e o arquiteto: método e história na arquitetura. São Paulo: 
Perspectiva, 2014.
LAMAS, J. M. R. G. Morfologia Urbana e Desenho da Cidade. Lisboa: Fundação 
Calouste Gulbenkian, 2014.
LE CORBUSIER. Maneira de Pensar o Urbanismo. Mira-Sintra: Publicações Europa-
-América, 1977. 
ROSSI, A. A arquitetura da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
SCOPEL, V; G. Morfologia urbana. In: SCOPEL, V. G.; GALINATTI, A. C. M.; 
SILVA, M. de F.; GIAMBASTIANI, G. L.; SANTOS, J. C. C. dos. Estudo da cidade. 
Porto Alegre: SAGAH, 2020. (e-book) 
SECCHI, B. Primeira Lição de Urbanismo. São Paulo: Perspectiva, 2016.
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Mais conteúdos dessa disciplina