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DIREITO PENAI I
CAUSALISMO PENAL, FINALISMO PENAL E FUNCIONALISMO PENAL
Palmas, 20 de abril de 2025
PROFESSOR: IGOR DE ANDRADE BARBOSA
ALUNOS(AS):
AMANDA OLIVEIRA DE MORAES - MATRÍCULA: FC20250428
JULYA ROCHA DE SIQUEIRA - MATRÍCULA: FC20250441
LUCIVÂNIA NASCIMENTO SOUSA - MATRÍCULA: FC20250488
MARCIA P. S. RIBEIRO - MATRÍCULA: FC20250127
MICHELE C. S. FERNANDES - MATRÍCULA: FC20250533
DIREITO PENAI I
CAUSALISMO PENAL, FINALISMO PENAL E FUNCIONALISMO PENAL
Palmas, 20 de abril de 2025
1. INTRODUÇÃO
	
	O causalismo penal, o finalismo penal e o funcionalismo penal são três escolas de pensamento que buscam entender e justificar a aplicação do direito penal. Cada uma delas traz uma abordagem distinta sobre a natureza do crime, a responsabilidade penal e as consequências jurídicas. Abaixo destaca-se um relatório que descreve cada uma dessas teorias.
2. CAUSALISMO
 	A Teoria Clássica, também conhecida como Teoria Naturalística, mecanicista ou Causalista, surgiu entre os séculos XIX e XX, sob forte influência do positivismo científico e das ciências naturais. Seu principal expoente foi o jurista alemão Franz von Liszt, que, inspirado nos métodos das ciências empíricas, passou a compreender o crime como um fato natural, observável e mensurável, tal qual os fenômenos da natureza. Nesse modelo, o Direito Penal deveria funcionar como uma ciência exata, buscando objetividade e previsibilidade.
Para a teoria causalista, a ação penal era concebida como um comportamento humano voluntário que produz uma modificação no mundo exterior — um movimento corporal causalmente ligado ao resultado naturalístico. A análise da ação era puramente objetiva, sem considerar elementos subjetivos como intenção (dolo) ou imprudência (culpa). A conduta era entendida como simples vontade mais movimento corporal, com foco exclusivo na causa física do resultado.
A estrutura analítica do crime, conforme desenvolvida por essa teoria, é composta por três elementos essenciais:
1. Fato Típico: Compreende os aspectos objetivos do crime. É a conduta que se encaixa perfeitamente na descrição legal da norma penal. Divide-se em:
· Conduta: ação ou omissão voluntária;
· Resultado: alteração no mundo exterior;
· Nexo causal: ligação entre a conduta e o resultado;
· Tipicidade: adequação da conduta ao tipo penal.
	2.	Antijuridicidade: Refere-se à contrariedade da conduta ao ordenamento jurídico. Se não houver nenhuma causa de justificação (como legítima defesa ou estado de necessidade), a conduta é considerada antijurídica. Nessa teoria, a antijuridicidade é compreendida de forma formal, ou seja, é ilícita apenas por violar a norma, independentemente de valores sociais.
	3.	Culpabilidade: É o juízo de reprovabilidade pessoal sobre o agente que praticou um fato típico e antijurídico. É aqui que se introduz a análise subjetiva da conduta, avaliando se o agente podia agir de forma diversa. Os elementos da culpabilidade na teoria clássica são:
	•	Imputabilidade: capacidade de entender e querer;
	•	Dolo ou culpa: modalidades de conduta consciente ou negligente;
Um marco importante no desenvolvimento da Teoria Clássica foi a contribuição do jurista Ernst von Beling, que aperfeiçoou os estudos de Liszt ao separar o conceito de fato típico da antijuridicidade. Antes disso, o crime era visto de forma unitária. Com Beling, passou-se a analisar o delito de forma tripartida, o que permitiu uma abordagem mais técnica e didática da dogmática penal. No Brasil o Código Penal Militar, adotou a teoria causalista, considerando o dolo e à culpa elementos da culpabilidade, conforme o Artigo 30 do Código Penal Militar. 
Apesar de seu avanço metodológico e sistematização lógica do crime, a Teoria Causalista sofreu diversas críticas, sobretudo pela sua limitação em captar a complexidade da conduta humana, ignora elementos subjetivos, como a intenção e a culpa, podendo levar a injustiças, pois não considera a motivação ou as circunstâncias que cercam a ação. Uma das principais objeções refere-se à sua incapacidade de explicar satisfatoriamente os crimes por omissão (ex: deixar de prestar socorro) e os crimes tentados (ex: tentativa de homicídio), nos quais o resultado naturalístico não se concretiza da maneira esperada.
Além disso, ao tratar a ação apenas como um fenômeno físico, a teoria deixava de considerar a finalidade do agente — algo essencial para compreender a verdadeira natureza da conduta criminosa. A ausência de um critério valorativo também dificultava a análise de casos em que a ilicitude é socialmente tolerada ou até desejável (como a legítima defesa, quando alguém revida uma agressão injusta).
Diante das deficiências do causalismo puro, surgiu a chamada Teoria Neokantista, também conhecida como Causalismo Valorativo, que procurou integrar elementos normativos e valorativos à estrutura tradicional do delito. Essa corrente foi influenciada pelo pensamento filosófico de Immanuel Kant e David Hume, e teve como principal representante o jurista alemão Edmund Mezger.
O neokantismo manteve a estrutura tripartida do crime (fato típico, antijuridicidade e culpabilidade), mas reinterpretou alguns de seus componentes:
	•	Antijuridicidade passou a ser compreendida sob um aspecto material, ou seja, a ilicitude só se configura quando há lesão relevante a um bem jurídico protegido e ofensa significativa ao meio social, indo além da mera violação formal da norma.
	•	Culpabilidade foi ressignificada em termos psicológico-normativos. A análise do dolo e da culpa passou a envolver não apenas o conhecimento do agente sobre o fato, mas também a sua consciência da ilicitude e a possibilidade concreta de agir de maneira diversa. Introduziu-se o conceito de dolus malus (dolo com consciência da ilicitude), reforçando a exigência de valoração subjetiva da conduta.
Essa reformulação buscava superar a rigidez mecanicista da teoria clássica, sem, no entanto, romper completamente com seus fundamentos. Contudo, o neokantismo passou a conviver com tensões internas, já que tentava conciliar uma visão naturalista da ação com critérios axiológicos, o que gerava certa incoerência teórica e dificuldades práticas.
 	Apesar dos avanços introduzidos pelo neokantismo, muitas de suas contradições e limitações levaram à necessidade de um novo paradigma. Esse novo modelo surgiu com a Teoria Finalista da Ação, desenvolvida por Hans Welzel, na década de 1950, que rompeu com a concepção causalista e passou a enxergar a ação como um comportamento finalisticamente orientado, enfatizando a importância do resultado da ação criminosa.
Com isso, no finalismo, o dolo e a culpa deixam de integrar a culpabilidade e passam a fazer parte do próprio fato típico, pois são considerados elementos essenciais da conduta desde o início. Essa mudança desloca o centro da análise do Direito Penal para a finalidade da ação, abrindo caminho para uma compreensão mais subjetiva, ética e valorativa da responsabilidade penal.
3. FINALISMO
O finalismo considera que o crime deve ser analisado não apenas pela conduta do agente, mas também pelo resultado que essa conduta gera. A pena tem como finalidade principal a proteção dos bens jurídicos e a prevenção de novos delitos. Assim, o foco está na intenção do agente e nas consequências de seus atos.
 Enquanto o causalismo penal se concentra na relação causa-efeito entre a ação e o resultado (ou seja, se a conduta causou efetivamente um dano), o finalismo penal analisa a intenção por trás da ação. Por exemplo, no caso de um homicídio doloso (intencional), o finalismo considera não apenas que houve uma morte (resultado), mas também que o autor tinha a intenção de matar.
O Brasil adota uma abordagem finalista em seu Código Penal, especialmente ao considerar os elementos subjetivos do tipo penal. A Lei nº 2.848/1940 estabelece que para caracterizar um crime é necessário analisar tanto a conduta quanto a intenção do agente. 
Uma das principais críticas ao finalismo é sua dificuldade em lidar com crimes culposos(sem intenção) e com situações onde há múltiplas causas para um resultado. Além disso, alguns juristas argumentam que essa teoria pode levar à subjetividade excessiva na aplicação da lei.
Dito tudo isso, o finalismo penal representa uma evolução importante no entendimento das funções da pena e na análise dos crimes. Ao focar na intenção e nas consequências das ações humanas, proporciona uma visão mais completa sobre a responsabilidade criminal no contexto jurídico brasileiro.
4. FUNCIONALISMO
	Seguindo a evolução do pensamento penal, o funcionalismo penal surge como resposta à necessidade de integrar a função social do direito penal com a análise dogmática do crime. A teoria do funcionalismo penal busca compreender o direito penal a partir de sua função social, ou seja, a partir dos efeitos que as normas penais têm na sociedade e na proteção de bens jurídicos. Revisa o conceito de crime e a teoria da pena, considerando os valores da política criminal da sociedade, se baseia na ideia de que o direito penal deve ter uma função social e preventiva, visando à proteção de bens jurídicos essenciais e à manutenção da ordem social. Essa corrente teórica ganhou importância na Alemanha nos anos 70. Visando superar as teorias do causalismo e do finalismo.
	São duas as principais correntes funcionalistas: o funcionalismo teleológico de Claus Roxin e o funcionalismo sistêmico de Gunther Jakobs. No funcionalismo teleológico, dualista, moderado ou da política criminal, defendido pelo professor Claus Roxin, através de sua publicação da monografia intitulada Política criminal e sistema de direito penal, a função do Direito penal é a proteção subsidiária de bens jurídicos, onde o direito penal deve proteger os interesses sociais e individuais fundamentais. Para ele, a função do direito penal é garantir a coexistência pacífica na sociedade, protegendo valores essenciais, como a vida, a liberdade e a propriedade, buscando uma função social para o direito penal, a pena não deve ser apenas um meio de retribuição ou controle social, mas deve contribuir para a reintegração do indivíduo à sociedade. Essa visão reflete uma abordagem equilibrada que considera tanto a proteção da sociedade quanto os direitos do infrator, defendendo uma pena proporcional e adequada ao delito cometido, evitando excessos que possam levar a injustiças.
	Para Claus Roxin, a conduta é um elemento central na definição do crime e na aplicação do direito penal. A conduta refere-se ao comportamento humano voluntario, é à ação ou omissão do agente que resulta em um resultado que é considerado ilícito pela norma penal.
Segundo Roxin, o crime é composto por três fundamentos, sendo:
1.	 Fato típico: Manifestação concreta de uma conduta humana. Para que um ato seja considerado um fato típico, deve ter uma relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado, e a conduta deve ser descrita na legislação como delito. É essencial para a configuração do crime, pois sem ele não há responsabilidade penal.
2. Antijuridicidade: É a contrariedade da conduta ao ordenamento jurídico, sendo a ilegalidade do ato. Para que uma conduta seja considerada antijurídica é necessário que não haja causas de exclusão da antijuridicidade, pois existe situações em que a conduta, não é considerada antijurídica, um exemplo é nos casos de legitima defesa. 
3. Reprovabilidade: É a avaliação da culpabilidade do agente em relação ao fato típico e a antijuridicidade, implica se houve dolo, onde o agente age com intenção ciente que sua conduta é ilícita e desejando que o resultado ocorra, ou culpa, o agente não tem a intenção de causar o resultado mas age de forma imprudente e negligente, ou seja, se teve uma intenção ou uma negligência, que justifique se o agente é ou não merecedor de pena. Segundo Roxin, a reprovabilidade é integrada por:
· Imputabilidade: Capacidade de um indivíduo de ser responsabilizado penalmente por suas ações, envolve a avaliação da capacidade mental do agente no momento prático do ato ilícito;
· Potencial consciência da ilicitude: Capacidade do agente de perceber que sua conduta é contrária ao direito, para que um indivíduo seja responsabilizado penalmente, ele deve ter a capacidade de entender que o que está fazendo é proibido por lei;
· Exigibilidade de conduta diversa: Possibilidade de exigir que o agente tenha agido de maneira diferente em uma situação especifica, está relacionado à análise da responsabilidade penal e à avaliação da culpabilidade do agente em relação ao ato que praticou;
· Necessidade da pena: Analise da pena não apenas como uma resposta a um ato ilícito, mas também como um instrumento que deve atender a certos critérios de necessidade, proporcionalidade e finalidade.
Por fim, se o agente for responsável, incide a culpabilidade como limite da sanção penal, assegurando que a responsabilidade penal seja aplicada de forma justa e proporcional, fundamentada com princípios éticos e jurídicos sólidos.
A maior crítica contra a teoria formulada por Claus Roxin foi a substituição do elemento da culpabilidade pela noção de reprovabilidade, pois o indivíduo primeiro deve ser culpável, para depois ser punido. E não o contrário como sugere o professor.
O funcionalismo sistêmico, radical, normativista ou monista, tem como maior doutrinador o professor Gunter Jakobs, é uma abordagem teórica que busca compreender o direito penal como sistemas sociais, desempenha funções especificas dentro da sociedade. Destaca a interconexão entre o direito penal e outros subsistemas sociais, como o econômico, político e cultural. Propondo uma análise mais abrangente do papel e das finalidades das normas penais. Essa teoria tem vinculação a noção de sistemas sociais, de Niklas Luhmann, “sistema autopoiético”, referindo-se à capacidade dos sistemas de se auto organizarem, se reproduzirem e se manterem de maneira independente. 
Por essa teoria, a função do direito penal é assegurar a vigência do sistema social, regular o comportamento, resolver conflitos, promover a integração social e garantir a legitimidade do sistema, contribuindo para a ordem na sociedade. 
Na perspectiva de Jakobs, a conduta é considerada como comportamento humano que, ao ser voluntário, pode violar normas sociais ou jurídicas estabelecidas, resultando em um desvio que tem implicações significativas para o sistema social. E recoloca a culpabilidade no terceiro substrato do crime no conceito analítico do crime. Sendo composto por: fato típico, antijurídico e culpável. 
O funcionalismo sistêmico de Jakobs, faz distinção entre direito penal do cidadão, que tem direitos e garantias fundamentais, e direito penal do inimigo ou direito penal bélico, que são vistos como uma ameaça à ordem pública e a segurança, são pessoas envolvidas em atividades criminosas graves, como terrorismo ou crime organizado. As principais características do direito penal, para esses inimigos, são: 
· Antecipação da punibilidade com a tipicidade de atos preparatórios: pune não apenas o crime consumado, mas também os atos que o precedem e que demonstram a intenção de cometer o delito;
· Condutas descritas em tipos de mera conduta e de perigo abstrato: se baseia na realização de uma ação ou omissão, independente da ocorrência de um resultado especifico, visam proteger interesses coletivos ou a ordem pública;
· Descrição vaga dos crimes e das penas: ressalta a importância da clareza e precisão nas normas penais;
· Preponderância do direito penal do autor em contraposição ao direito penal do fato: envolve a compreensão das funções sociais do direito penal e como essas funções podem influenciar a aplicação das leis penais;
· O surgimento das chamadas “leis de luta ou de combate”: reflete a resposta do Estado a ameaças à segurança e a ordem social;
· Endurecimento da execução penal: prioriza a segurança da sociedade e a resposta a indivíduos considerados perigosos;
· Restrição de garantias penais e processuais, características do direito penal de terceira velocidade: medidas penais mais rigorosas e pela restrição de garantiaspenais e processuais em relação a certos indivíduos ou grupos considerados perigosos ou ameaçadores a ordem pública.
Críticos argumentam que o funcionalismo sistêmico de Jakobs pode ser excessivamente rígido e formalista, focando demais na estrutura do sistema penal e não o suficiente na realidade social.
O funcionalismo penal oferece uma perspectiva valiosa sobre o papel do direito penal na sociedade, enfatizando a proteção de bens jurídicos e a função preventiva. No entanto, é essencial considerar as críticas e as divergências entre as diversas escolas de pensamento, para garantir que o direito penal não se torne uma ferramenta de opressão, mas sim um meio de promover a justiça e a dignidade humana. O debate sobre o funcionalismo penal continua refletindo as complexidades do crime e da sociedade contemporânea.
A aplicação do funcionalismo penal no Brasil se reflete em alguns aspectos do código penal e nas discussões sobre a reforma do sistema penal, sugerindo um sistema mais justo e eficiente, que busque não apenas punir, mas também prevenir e ressocializar. 
Dessa forma, o causalismo, o finalismo e o funcionalismo penal representam diferentes abordagens sobre como entender e aplicar o direito penal. Enquanto o causalismo foca na relação de causa e efeito, o finalismo se preocupa com a intenção do agente e o funcionalismo analisa o papel do direito penal na sociedade. Cada uma dessas escolas tem suas vantagens e desvantagens e a discussão sobre elas continua a ser relevante para a evolução do direito penal.
6. CONCLUSÃO 
A evolução dos sistemas de imputação penal reflete o constante esforço da doutrina em aperfeiçoar os mecanismos de responsabilização criminal. O sistema causalista, embora pioneiro, mostrou-se insuficiente ao ignorar os aspectos subjetivos e finalísticos da ação humana. O sistema finalista representou um importante avanço ao reconhecer a finalidade nas condutas e reestruturar os elementos da teoria do delito. Por fim, o sistema funcionalista trouxe uma nova perspectiva, centrada na função do Direito Penal na sociedade contemporânea, propondo uma aplicação mais pragmática e normativa da lei penal.
 Compreender esses sistemas é essencial para a correta aplicação do Direito Penal, pois permite que o intérprete da norma identifique os fundamentos e os limites da imputação penal, garantindo um processo mais justo e compatível com os valores constitucionais.
7. BIBLIOGRAFIA
BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 1. 
CUNHA, Rogerio Sanches . Manual de Direito Penal: Parte Geral: arts. 1° ao 120 do Código Penal. 13. ed. Salvador: JusPdivm, 2023. v. 1. 
MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral Esquematizado. 4. ed. São Paulo: Metodo, 2011. v. 1. 
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