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* * * CONCEITO DE ÉTICA E DE MORAL (1) * * * Ética é uma palavra de origem grega, com duas origens possíveis (Prof. José Roberto Godim): Palavra éthos com “e” curto, que pode ser traduzida por costume; Palavra éthos com “e” longo, que significa propriedade do caráter. A primeira é a que serviu de base para a tradução de moral, e a segunda é a que, de alguma forma, orienta a utilização atual que damos a palavra Ética. * * * A Ética tem por objetivo facilitar a realização das pessoas. Que o ser humano chegue a realizar-se a si mesmo como tal, isto é, como pessoa. (...) A Ética se ocupa e pretende a perfeição do ser humano. (Clot J. Una Introducción al tema de la ética. Psico. 1986; 12(1)84-92). A Ética pode ser um conjunto de regras, princípios ou maneiras de pensar que guiam, ou chamam a si a autoridade de guiar, as ações de um grupo em particular (moralidade), ou é o estudo sistemático da argumentação sobre como nós devemos agir (filosofia moral) (Singer P. Ethics. Oxford: OUP, 1994:4-6) * * * AFINAL O QUE É ÉTICA? Ética é o principio, moral são aspectos de condutas específicas; Ética é permanente, moral é temporal; Ética é universal, moral é cultural; Ética é regra, moral é conduta da regra; Ética é teoria, moral é prática. * * * A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja é ciência de uma forma específica de comportamento humano A ética se ocupa de um objeto próprio: O setor da realidade humana que chamamos moral, constituído por um tipo peculiar de fatos ou atos humanos. (VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 24º ed. – R. J.: Civil. Brasil. 2003. P.23) * * * Se pode falar numa ética científica, não se pode falar o mesmo da moral. (...) Aqui, como nas outras ciências, o científico baseia-se no método, na abordagem do objeto, e não no próprio objeto. A ética não é a moral e, portanto, não pode ser reduzida a um conjunto de normas e prescrições; sua missão é explicar a moral efetiva e, neste sentido, pode influir na própria moral. O valor da ética está naquilo que explica, e não no fato de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situações concretas. (VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 24º ed. – R. J.: Civil. Brasil. 2003. P.23) * * * O PRÁTICO-MORAL E O TEÓRICO-ÉTICO: Comportamento prático-moral: Na vida real, defrontamo-nos com problemas práticos dos quais ninguém pode eximir-se (mentir ou dizer sempre a verdade; guardar silêncio em nome da amizade ou delatar o mal comportamento de um amigo etc.). Para resolvê-los, os indivíduos recorrem a normas, cumprem determinados atos, formulam juízos e, às vezes, se servem de determinados argumentos ou razões para justifica a decisão adotada ou os passos dados. * * * O teórico ético: Os homens não só agem moralmente, mas também refletem sobre esse comportamento prático e o tomam como objeto da sua reflexão e de seu pensamento; Dá-se assim a passagem do plano da prática moral para o da teoria moral ou ética; Será inútil recorrer à ética com a esperança de encontrar uma norma de ação para cada situação concreta. A ética poderá dizer-lhe, em geral, o que é um comportamento pautado por normas, ou em que consiste o fim -o bom- visado pelo comportamento moral. * * * O problema do que fazer em cada situação concreta é um problema prático-moral e não teórico-ético; Ao contrário definir o que é bom não é um problema moral cuja solução caiba ao indivíduo em cada caso particular, mas um problema geral de caráter teórico, de competência do investigador da moral, ou seja, do ético. * * * A ÉTICA E O QUE É BOM: Muitas teorias éticas organizaram-se em torno da definição do bom, na suposição de que, se soubermos determinar o que é, poderemos saber o que devemos fazer ou não fazer; A resposta sobre o que é bom variam, evidentemente, de uma teoria para outra: para uns, o bom é a felicidade ou o prazer; para outros, o útil, o poder, a autocriação do ser humano, etc. * * * A moral e a liberdade: Se a decisão moral entre o certo e o errado depende da liberdade de escolha, como será possível uma sociedade atingir a maioridade moral quando muitos são privados de tal liberdade? Portanto, só existe mesmo responsabilidade moral aonde vige a liberdade. * * * É possível falar em comportamento moral somente quando o sujeito que assim se comporta é responsável pelos seus atos, mas isto, por sua vez, envolve o pressuposto de que pôde fazer o que queria fazer, ou seja, de que pôde escolher entre duas ou mais alternativas, e agir de acordo com a decisão tomada; O problema da liberdade da vontade, por isso, é inseparável do da responsabilidade. * * * A questão liberdade pode suscitar basicamente três posicionamentos: O do determinismo absoluto onde a liberdade não existe e o homem é fruto do meio, é determinado seja por sua natureza biológica ou por sua natureza histórico social. É a questão presente nos filósofos materialistas Helvetius e Holbach. O segundo posicionamento é o da liberdade absoluta que pontifica que o homem é sempre livre. Embora seus defensores admitam certas determinações e influências de origem externa, sociais e outras de caráter interno tais como desejos, impulsos sustentando a tese de que o indivíduo possui uma liberdade moral acima de tais determinações. * * * O terceiro posicionamento é o que exprime uma relação dialética entre a liberdade e o determinismo que não se antagonizam e apenas se complementam. Não faz sentido cogitar em liberdade absoluta e nem na negação total da mesma. A liberdade é concreta e situada dentro das condições objetivas da vida. * * * Ao enunciar sua máxima: “Conhece-te a ti mesmo” , Sócrates traduz que o essencial a todos é a alma racional. “O homem é essencialmente razão”. E deve ser por esta que deve fundamentar as normas e os costumes morais. Por tal razão a ética socrática é racionalista daí a alegação socrática de que quem age mal, o faz por ignorância do que é bem e do que é a essência humana. Aristóteles desenvolveu também uma ética racionalista e mais realista onde enxerga como fim último do homem a felicidade. A felicidade se encontraria na vida teórica e mais precisamente na razão. ALGUNS CONCEITOS: * * * O homem que se desenvolveu no plano teórico, contemplativo pode compreender a essência da felicidade e realiza-la de forma consciente. Isso seria privilégio da minoria, o homem comum aprenderia somente através do hábito a agir corretamente. Agir corretamente seria praticar virtudes: a virtude moral é o meio-termo entre dois vícios; um dos quais envolve o excesso e, o outro a deficiência, e isso porque a sua natureza é visar a mediana nas paixões e nos atos. Assim, a ética aristotélica se consagrava em ser a ética do meio-termo. Tanto Platão como Aristóteles, a ética está vinculada à vida política (polis). * * * As principais escolas que surgiram com a perda da autonomia das cidades-estados gregas, a partir do século III a.C., são o estoicismo e o epicurismo, que buscam a realização moral do indivíduo fora dos contornos da vida política. O princípio da ética estóica é apatheia (atitude de aceitação de tudo que acontece, porque tudo faz parte de um plano superior guiado por uma razão universal que a tudo abrange). O princípio da ética epicurista é ataraxia (a atitude de desvio da dor e a busca do prazer espiritual através da paz de espírito e o autodomínio, encarar todas as coisas com serenidade de espírito. Assim Epicuro asseverava: “O essencial para nossa felicidade é a nossa condição íntima e dela somos senhores”. Santo Agostinho disse: “Ama e faz o que queres, porque se amas corretamente, tudo quanto faças será bom”. * * * São Tomás de Aquino (século XVII) retomou a idéia de felicidade da ética aristotélica, pontificou que Deus era fonte dessa felicidade. A ética cristã abandonou a idéia de que é através da razão que se alcança a perfeição moral e centrou-a no amor e na boa vontade. (?) Assim a liberdade cristã reside na relação interior de cada um com Deus. Se Deus é bondade infinita, como pode existir o mal?. (?) O afastamento de Deus é que seria o mal, segundo Santo Agostinho. No mau uso do livre arbítrio é que estaria a origem de todo o mal. * * * A ÉTICA E OUTRAS CIÊNCIAS: A Ética, através do seu objeto se relaciona com outras ciências relacionadas com o comportamento dos homens em sociedade; Os atos humanos somente são morais se considerados nas suas relações com os outros; Porém sempre apresentam um aspecto subjetivo, interno, psíquico, constituído de motivos, impulsos onde escolhe alternativas, formula juízos de aprovação ou reprovação; No aspecto psíquico, subjetivo, inclui-se também a atividade subconsciente; * * * Psicologia: Como ciência do psíquico, a psicologia vem em ajuda da ética (leis que regem as motivações internas; mostra a estrutura do caráter e da personalidade). Problemas morais como o da responsabilidade e da culpabilidade não pode ser abordados sem considerar os fatores psíquicos que intervieram no ato; Assim, estudando o comportamento moral, a ética não pode prescindir dos dados fornecidos e das conclusões deduzidas pela psicologia; * * * Ciências Sociais: A ética apresenta também estreita relação m as ciências que estudam as leis que regem o desenvolvimento e a estrutura das sociedades humanas; Entre estas ciências, figuram a antropologia social e a sociologia; Sociologia: Às ciências sociais interessa, sobretudo, não o aspecto psíquico ou subjetivo do comportamento humano, mas as formas socais em cujo âmbito atuam os indivíduos; Os indivíduos nascem numa determinada sociedade, na qual vigora uma moral efetiva que não é a invenção de cada um em particular; * * * Esta moral corresponde a necessidades e exigências da vida social; Entretanto, é preciso que os fatores sociais que influem no indivíduo e o condicionam, sejam interiorizados, pois só assim será responsável pelos seus atos; Por outro lado exigi-se que o indivíduo disponha da necessária margem individual para poder decidir e agir: só assim poderemos dizer que se comporta moralmente; Antropologia: A antropologia social estuda, principalmente, as sociedades primitivas ou desaparecidas, sem preocupar-se com a sua inserção num processo histórico de mudança e de sucessão; Aí se inclui a análise de seu comportamento moral; * * * Estes estudos mostram que não se pode elevar ao plano do absoluto certos princípios e certas normas, tendo em vista a relação entre estes princípios e as condições sociais concretas; Se existe diversidade de morais no tempo e no espaço, a ética como teoria da moral precisa ter presente um comportamento humano que varia e se diversifica no tempo; Por outro lado, se impõe à antropologia/história a necessidade de verificar existem aspectos de morais efetivas que perduram, sobrevivem ou se enriquecem, elevando-se a um nível moral superior; Em resumo, além de estabelecer a correlação entre moral e vida social, propões à ética determinar se existe um progresso moral; * * * Teoria do Direito: Direito e ética estudam o comportamento do homem como comportamento normativo; No campo do direito se trata de normas impostas com um caráter de obrigação exterior e, inclusive de maneira coercitiva; Na esfera da moral as normas, embora obrigatórias, não são impostas coercitivamente. Economia Política: Esta relação se dá em dois planos: a lógica do lucro; a divisão social do trabalho e a distribuição social dos produtos do trabalho humano. Vemos, portanto, que a ética se relaciona com as ciências do homem, pois o seu comportamento se reflete em diversos planos: psicológico, social, jurídico, religioso etc.
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