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de algumas dessas cientistas. Cientistas que apesar de serem proibidas de frequen- tar bibliotecas e uni- versidades ou mes- mo discutir e publi- car os resultados de suas pesquisas con- tribuíram, e muito, para o desenvolvi- mento da nossa soci- edade. Sempre ouvimos fa- lar de Pitágoras, Euler, Einstein, Gauss, Galileu, Da Vinci… mas você já percebeu que, ape- sar de muito terem contribuído para o avanço das ciências, eles são todos ho- mens? Nos últimos milênios nenhuma mulher contribuiu para o progresso da ciên- cia? A verdade é que mui- tas mulheres partici- param do desenvol- vimento de concei- tos, teorias, tábuas, demonstrações…, mas o que aconteceu com elas? Nessa edição vamos apresentar a história Onde estão as mulheres na matemática? 23 de março de 2023 Volume 1, Edição 2 Jornal da Matemática Abordagem histórica, Conceitos, Curiosidades e Pesquisa Interesses especiais: • Matemática • Conceitos • Pesquisas • Áreas temáticas • Curiosidades Nesta edição: Theano de Crotona 1 Hipátia de Alexan- dria 1 Maria Agnesi 1 Marie-Sophie Ger- main 2 Mary Somerville 3 Amalie Noether 3 Maria Mouzinho 3 Katherine Johnson 3 Dia internacional da mulher - Luana 4 Theano de Crotona (séc IV a.C.) Foi, historicamente (caso tenha existido), a primeira mulher a se destacar na matemáti- ca. Sendo uma das 28 mulheres a estudar na Irmandade Pitagórica. De acordo com Vascon- celos, Leite e Macedo (2012) ela escreveu um tratado sobre o número de ouro, um número real, constante e perfei- to como a natureza. A partir daqui as mulhe- res passaram a ser con- sideradas nas escolas e nos próximos séculos diferentes filósofos, co- mo Sócrates e Platão, passaram a convidá-las a participar de suas es- colas. Porém, a primei- ra mulher professora só iria nascer no séc. IV d.C. Hipátia de Alexan- dria (370 - 415) Era considerada uma solucionadora de pro- blemas, ela auxiliou seu pai a revisar a obra Ele- mentos, a base de toda a geometria euclidiana! Foi professora da Uni- versidade, estudou Ge- ometria e Teoria dos Números e, de acordo com Singh (2014), tinha verdadeira obcecação pela demonstração lógi- ca. No entanto, sendo vítima das visões fanáti- cas do início do cristia- nismo, foi brutalmente assassinada. Ao longo dos séculos seus trabalhos foram perdidos, mas sua his- tória e suas anotações são mantidas vivas até hoje. A visão do ‘lugar’ da mulher durante este pe- ríodo foi, no mínimo, bastante rígido: não po- dia ler, não podia falar, não podia discutir, mui- to menos publicar. E só na Renascença, quan- do Leonardo da Vince e Michelangelo viviam, que uma mulher se des- tacou... Maria Gaetana Ag- nesi (1718 - 1799) É considerada a 1ª mu- lher a desenvolver tex- tos de alta qualidade, mas, para publicá-los e para conversar com ou- tros cientistas, ou usava o nome de seu pai, ou usava um nome fictício (e, infelizmente, até hoje, precisamos às vezes recorrer a esse artifício). O pai de Ag- nesi era um estudioso e, aos 9 anos de idade, ela já era poliglota. E, por conta de suas habi- lidades, seu pai a leva- va a diferentes encon- tros com outros cientis- tas e estudiosos da época, dando a ela oportunidades de tro- car ideias sobre diver- sas áreas. Aos 20 anos, “publicou [o livro] Proposi- tiones Philosophicae, uma coletânea de 190 ensaios que, além da matemática, se ocupava de lógica, me- cânica, hidromecânica, elasticidade, gravitação, mecânica celeste, quími- ca, botânica, zoologia e mineralogia” (EVES, 2004, p.480). Mas sua publicação, talvez mais relevante, foi o livro Instituzioni Analitiche, o primeiro livro de cálculo para o aprendizado de jovens, no caso, seu irmão que queria aprender mate- mática. Outra grande contribui- ção foi o desenvolvi- mento da ‘curva de Ag- nesi’ (também estuda- da pelo matemático Fermat (1601 – 1665) ). Essa curva é formada pela equação y(x² + 4r²) = 8r³, onde r é o raio de uma circunfe- rência que tangencia duas retas paralelas, como pode ser visto na figura acima. Depois do Renasci- mento a sociedade passa por outra fase: o pensamento dessa época era de que as mulheres não eram es- timuladas a estudar, mas precisavam ter certo conhecimento para debatê-lo caso aparecesse numa con- versa educada. Nesse período nasce a próxima cientista: Marie-Sophie Ger- main (1776 - 1831) Foi uma leitora ávida e, com a biblioteca de seu pai à sua disposição, encontrou obras sobre Arquimedes e, para ela, se Arquimedes ficara en- tretido tão profundamente com um problema mate- mático a ponto de ser mor- to por um soldado, então essa, certamente, seria a ciência mais fascinante (GALVÃO, 2021, p. 25). Mas, como estudar se só os homens tinham acesso a livros, profes- sores e escolas? Bom, ela encontrou um modo bem interessante: utili- zou-se do nome de um antigo estudante da universidade (Antoine LeBlanc) para que con- seguisse estudar! Isso não foi nada fácil, pense que nessa épo- ca as mulheres que tinham os chamados comportamentos mas- culinos não eram acei- tas na sociedade, por isso, no início, seu pai escondia as velas para que ela não tivesse luz. Depois de alguns anos ele passou a apoiá-la nos estudos, e ela ga- nhou concursos e de- senvolveu teorias ma- temáticas e físicas. Ela provou o último Te- orema de Fermat, de- senvolvendo os núme- ros primos de Germain. Antoine LeBlanc escre- veu para Lagrange e discutiu com Gauss, grandes matemáticos da época. E, com a aju- da de Gauss, ela pode se apresentar com sua própria identidade e publicar diversos traba- lhos em Álgebra, Teo- ria dos Números e Ge- ometria Diferencial. No entanto, ela não conse- guiu entrar na universi- dade. Não conseguiu um títu- lo em vida, mas no seu túmulo está escrito sua profissão: matemática! Página 2 Jornal da Matemática A ‘curva de Agnesi” ou ‘bruxa de Agnesi’ (devido a um erro de tradução do itali- ano para o inglês). O GIF pode ser visto em: https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/6/63/ Bruja_de_Agnesi.gif Pitágoras é considerado um filósofo feminista por ativamente encorajar mulheres a estudar. Livro Elementos, a base da geometria euclidiana. Encontrado em: l1nq.com/ B4qWT Selo criado para homenagear Sophie Germain. Encontrado em: https://mathshistory.st-andrews.ac.uk/ Biographies/Germain/germain_6.jpg Mary Fairfax Greig Somerville (1780- 1872) Mary partilhou da mes- ma sociedade que So- phie, mas precisou es- tar viúva e pedir ao seu irmão que comprasse o livro Elementos. Além disso, ela estudou Trai- té de Mécanique Céles- te de Laplace, escre- vendo uma versão sim- plificada e acessível. O seu trabalho foi ado- tado pelas universida- des britânicas e ela foi admitida por diferentes sociedades científicas, inclusive a Sociedade Real Inglesa de Ciên- cias fez um busto em sua homenagem mas, como as mulheres não podiam entrar nos pré- dios dessa sociedade, ela nunca pode vê-lo. No final de sua vida, aos 92 anos, ela escre- veu suas memórias e ainda estava estudan- do os quatérnios (extensão dos números complexos). Amalie Emmy No- ether (1882 - 1935) Emmy foi apoiada por seu pai e por David Hil- bert (ambos matemáti- cos), mas apesar do apoio, precisou recorrer ao mesmo artifício de Sophie: Hilbert então se torna professor da Universidade de Goet- tingen. Por 4 anos Hil- bert foi professor, cien- tista e mulher, não foi bem aceito pelos alu- nos e não recebeu ne- nhum salário pelo seu trabalho. Com a mudança políti- ca do país ela foi proi- bida de exercer qual- quer atividade acadê- mica pelos nazistas. Mas, mesmo assim, não deixou de estudar. E assim desenvolveu o Teorema de Noether: era a primeira vez que a conservação de gran- dezas físicas era expli- cado através da sime- tria da natureza. Mudando-se para o EUA desenvolveu di- versas formulaçõesmatemáticas para os conceitos da Teoria da Relatividade Geral de Einstein. E ele mesmo escreveu: “no julgamento dos mate- máticos vivos mais com- petentes, a senhora No- ether foi um dos gênios criativos matemáticos mais significantes produzi- dos desde que a educa- ção superior para as mu- lheres começou” (carta de Einstein ao New York Ti- mes). Apesar das grandes contribuições, nunca foi devidamente reconhe- cida, cabendo a nós, caro leitor, a fazê-lo. Pois, de acordo com a BBC, “Emmy é a chave para compreender to- das as teorias da físi- ca”. Maria Laura Mouzi- nho Leite (1917 - 2013) Laura foi uma das duas primeiras mulheres bra- sileiras aceitas na Aca- demia Brasileira de Ci- ências, a primeira a obter o título de ‘doutor’ no Brasil, a primeira a ser professora de Geo- metria em um curso de engenharia (no Instituto Tecnológica em Aero- náutica - ITA), e partici- pou da criação do CNPq. No entanto a sua traje- tória, assim como Emmy, foi cambiada pela mudança política: se inicia a ditadura mili- tar e Maria Laura é ‘aposentada’ em 1969. Por não poder atuar no Brasil, Maria parte para o EUA e depois para a França como exilada! Lá ela inicia seu traba- lho em Educação Mate- mática no Institute de Recherche en Enseig- nement de Mathemati- Página 3 Volume 1, Edição 2 ques e se torna uma das mais importantes pesquisadoras da épo- ca. Voltando ao Brasil, mesmo sem poder atu- ar nas universidades, ela continuou a defen- der causas inovadoras e, algumas décadas depois, recebe o título de Professora Emérita da Universidade Fede- ral do Rio de Janeiro em 1996. Katherine Coleman Goble Johnson (1918 - 2019) Sendo de descendên- cia afro-americana (numa época de gran- des conflitos raciais), conseguiu se formar, ter pós-graduação e tra - balhar na NASA onde desenvolveu as equa- ções do voo espacial orbital, sendo a 1ª vez que uma mulher da sua Divisão a receber crédi- to por um relatório de pesquisa. Sua história foi contada no filme Estrelas Além do Tem- po. Na próxima edição sa- beremos mais sobre a vida e obra dessa gran- Celebração promovida pelo Google para Somerville. Encontrado em: https:// www.google.com/doodles/ celebrating-mary-somerville Representação do Teorema de Noether. Encontrado em: acesse.one/XzGFO Dia internacional da mulher De que cólica era frescura Liberdade amorosa, virou um grande risco Um jogo de caras e risos Até quando vai se tornar risco No mundo do feminicídio Meu corpo não está a venda Meu corpo não está a compra Respeite meus limites Direitos também existem Lamento informar voltando atrás da escola Onde homens podem estudar Mas mulher não frequentava a escola Tinha que cuidar de casa Assim que a coisa é Olhar os filhos e cuidar dos ir- mãos Era só tarefa de mulher Panela velha é que faz comida boa Era a piada que vens a falar Menina que cozinha cedo e apronta no tempero Estava pronta para casar Não tinha tantos deslumbros Até tantas profissão Mulher não podia dirigir carro E ai se dissesse ao contrário Já era motivos de humilhação Desinformação também mata O entretenimento mal existia Só sabia de certos nomes Quando se lia alguma revista Acabou, não acabou não Ainda temos para contar Sonho um belo futuro Onde a gente possa sonhar Passar na calçada sem ser asse- diada Poder vestir a roupa que quiser usar Ter liberdade para sair E não sentir medo ao relaciona- mento terminar Muita gente até crítica Outros até se consomem Ou se viram e reclamam Por que não tem o dia do ho- mem Meu recado é bem simples Entenda como quiser Quem conquistou o direito do voto Simplesmente foi a mulher Meu espaço era limitado Num mundo de desconfiança Onde até nossos pais escolhiam Nós casar em troca de herança Hoje é tudo tão moderno E nem mesmo assim temos li- berdade A maldade se esconde em muros Ou em lugares obscuros da soci- edade Muitas já ouviram falar Outros julgam a nossa conduta Quem nunca foi a escutar de cientista. Afinal, com ela chegamos à lua! Além dessas mulheres, certamente há outras tantas que não foram consideradas, se es- conderam ou foram escondidas atrás de um nome masculino, e mesmo assim lutaram para serem, enfim, ci- entistas. Infelizmente esse preconceito existe até os dias atuais, mas se inspirem, acreditem e estudem: a lua ainda é pouco! REFERÊNCIAS BBC News. Quem é a mulher que Einstein classificou como 'genial' e cujo teorema revolucionou a Física. 2017. Encontrado em: EVES, H. Introdução à história da Matemática. Campinas: UNI- CAMP, 2004. FERNANDEZ, C. S. A Vida de Maria Laura Mouzinho Leite Lo- pes. Encontrado em: encr.pw/7vHUa GALVÃO, M. de S.; DANTAS, L. B. History of Women in Mathema- tics a proposal for the classroom. v.6, n.1, p.18-39, jun 2021. NASCIMENTO, J. B. Algumas mulheres da história da matemática e a questão de gênero em Ciência e Tecnologia. Encontrado em: https:// www.mathunion.org/fileadmin/ CDC/cdc-uploads/CVgrants Indivi- dual/mulheres. matemati- ca.maio..13.pdf SINGH, S. O Último Teorema de Fermat. 1. ed. Rio de Janeiro: Re- cord, 2014. VASCONCELOS, J. M.; LEITE, B. P. B; MACEDO, L. M. S. A atuação das mulheres no universo da matemática: o caso da Universi- dade Regional do Cariri – URCA. In: Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil”, 9., 2012, João Pessoa. Anais... João Pessoa, 2012. Dranda. D G de Castro Matemática e fisioterapeuta, pós-graduada em Engenharia Biomédica com ênfase em Engenharia Clínica e mestra em Mecatrônica Instituto Federal da Bahia - Campus Irecê Laboratório de Matemática BR , Vila, Irecê-Bahia Universidade Federal da Bahia Nitre / Labios Instituto de Física, Campus Ondina, Ondina, Salvador- Bahia Telefone: +55 74 98802-3646 Email: denisegomes@ifba.edu.br Email: denisecgomes@ufba.br olhos do público e irão em- bora, mas sempre haverá ciência, engenharia e tecno- logia. E sempre haverá ma- temática" . "As mulheres fizeram o que lhes foi dito para fazer. Eles não fizeram perguntas ou levaram a tarefa adiante. Eu fiz perguntas; Eu queria sa- ber por quê. Eles se acostu- maram a me fazer pergun- tas e ser a única mulher lá”. “Algumas coisas cairão dos Katherine Coleman Goble Johnson: as lutas raciais e o voo espacial orbital Vem aí... Tradução da entrevista de Katherine Johnson: A Lifetime of STEM, 2020. Mas sim por falta de caráter Mulher faz assédio com mulher Homem faz assédio com homem Tudo é falta de respeito A questão é saber enxergar Reconstruir e mudar os nossos conceitos Internet não é terra de ninguém Ou tá magrinha de mais Ou está gordinha de mais Não existe mulher perfeita criada na cabeça de animal Luana Martins Instituto Federal da Bahia Ibipeba -BA https://m.facebook.com/story.php? story_fbid=pfbid0ZFSpLVLM7TVF3YenALyd2eiG1SmU3D YDqYygRGkqEMXjYbuqL37viBsrHjq7NGr5l&id=10007234 9485980&mibextid=Nif5oz As coisas são diferentes Assim não queria citar Mas falta governante na terra Que possa nossos direitos lutar Não me perdem permissão Cultura virou uma dupla fita Onde falam de mulher nua E coisas levianas perdidas da vida Ela foi assediada por estava com roupa curta É papo pra gente cansado Adão e Eva andava nus na terra E mesmo assim respeitavam o seu espaço A tribo indigena tem suas culturas Tintas por todos corpo, seios a paisagem Assédio nunca foi por nudez crua