Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RELEVOS ESCULPIDOS EM DOBRAS: AS MONTANHAS DE DOBRAMENTO Existem pilhas de camadas geológicas que sofreram dobramentos devido a esforços de origem interna. Originalmente as camadas faziam parte de depósitos feitos em mares rasos e/ou lagos, ou outros ambientes de deposição, situados no interior ou nas margens dos continentes. As camadas dobradas têm a forma de enrugamentos gigantes da crosta terrestre. Seus sedimentos podem sofrer alguma modificação importante durante o processo de dobramento (metamorfismo). Durante o dobramento e o soerguimento inicial, as camadas já começam a ser àfetadas pelos processos erosivos (rios, ventos, geleiras e processos climáticos em geral). Quando as estruturas dobradas alcançam certas altitudes, instalam-se nos altos de suas cumeadas alguns centros de glaciação de altitude. Existe uma linha irregular de altitudes que marca o limite entre as áreas permanentemente congeladas do alto das montanhas e as áreas inferiores sujeitas à ação periódica do gelo e do degelo. Essa linha, que varia conforme a latitude e as condições locais de insolação de cada montanha ou setor de montanha, recebe o nome genérico de limite das neves eternas. Ela atinge tanto as montanhas de dobramento quanto os altos maciços oriundos de intrusões ou até mesmo o topo e a cratera de vulcões muito elevados. Se não houvesse uma imediata erosão sobre as camadas dobradas, elas seriam parecidas com setores de relevo em forma de gigantescas telhas tipo "Eternit", ou grandiosas placas de papelão ondufado. Na realidade, porém, o que se vê numa paisagem de montanhas de dobra- mento são os restos erodidos de grandes dobras que afetaram as camadas de uma bacia sedimentar qualquer. À custa de uma série de observações simples sobre a posição dos remanes- centes das estruturas dobradas, pode-se deduzir quais os setores que correspondem às partes côncavas das dobras (sinclinais) e quais os trechos correspondentes aos setores convexos das mesmas (anticlinais). As sinclinais, do ponto de vista geométrico, têm o aspecto de uma grande calha (telha com a concavidade voltada para cima). Por sua vez as anticlinais têm a forma de telhas com a convexidade voltada para o alto, como se fossem dobradiças expostas. Os primeiros setores de um conjunto de camadas dobradas que se expõem à erosão são as anticlinais. Por isso mesmo, elas são as mais atingidas pelos processos de erosão desde o início do levantamento da área dobrada. 60/PROJETO BRASILEIRO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA Figura 38 — Esquema de relevo dobrado ANTES DA EROSÃO Anticlinal Parte convexa da dobra Parte côncava da dobra APÓS A EROSÃO Figura 39 — Anticlinal e sínclinal — Erosão FORMAS DO RELEVO/TEXTO BÁSICO/61 Figura 40 — Sinclínal soerguida ou monte sinclínal Figura 41 — Anticlinal esvaziada e sinclinal soerguida RELEVOS ORIUNDOS DE FALHAS Os relevos originados por falhamentos dependem muito diretamente do arranjo e extensão dos deslocamentos que afetaram a área onde eles ocorrem. Se um bioco se alteou enquanto outro se abateu pela acao de falhas, entre eles restará um paredão alongado e via de regra muito retílíneo, que receberá o nome de escarpa de falha. Se um bloco regional, na forma de uma verdadeira fatia da crosta terrestre, abater-se por falhamentos, teremos no local uma fosse tectôníca (graben, rift-valley), ladeada por dois paredões frente a frente. Ao contrário, se um bloco for soerguido por falhas, permanecendo por quase todos os lados saliente topogra- ficamente em relação às áreas circunvizinhas, ter-se-á uma montanha de blocos falhados, que receberá o nome de pilar tectônico ou horst. Todas as feições to p ogra f i ca me n te relacionadas com a intervenção de falhas recebem o nome de relevos de falhas, ou ainda, mais adequadamente, relevos de tectôníca quebravel. A expressão quebravel foi introduzida para dar uma ideia mais ofojetiva do tipo das deformações primárias que afetam uma região sujeita a esforços capazes de quebrar e/ou deslocar os blocos. De preferência, porém não exclusivamente, as falhas e fraturas afetam regiões de massas rochosas cristalinas, que sendo muito rígidas para se dobrar sofrem um tipo regional de estilha- camento tectôníco, constituído por associações ou famílias regionais de falhas e fraturas. Reservou-se, por oposição, o nome de tectônica plástica para-o outro domínio de deformações peculiares a determinadas bacias sedimentares, em que a plasticidade relativa das camadas sedimentares possibilita a intervenção de dobras de diversos tipos. Nesse caso, a expressão tectônica plástica é sinónimo de orogênese, ou seja, processo de formação de montanhas por dobramentos. É fácil visualizar-se os dois tipos de processos (tectônica quebravel e tectônica plástica), através de exemplos simples: um pedaço de vidro plano sujeito a um esforço forte se estilhaça, ou seja, quebra-se; ao contrário, uma série de panos ou materiais similares superpostos, sujeita a esforços laterais (tangenciais), sofre os mais diversos tipos de dobras. As grandes massas rochosas, constituídas por granitos, gnaisses e xistos de consolidação muito antiga, podem envergar-se até certo ponto por arqueamentos; ultrapassada a sua capa- cidade natural de arquear-se, sofrerão estilhaçamento por intervenção da tectônica quebravel, acompanhado ou não por deslocamentos dos blocos fraturados. Simples redes de rachaduras profundas das rochas, sem deslocamentos, recebem o nome de fraturas. Nos locais onde se processaram deslocamentos ao longo das fraturas, diz-se que houve falhamentos. Af podem ocorrer verdadeiros relevos oriundos da tectônica quebravel: escarpas de falha, montanhas de blocos falhados, fossas tectônicas. Uma falha implica sempre deslocamento de massas rochosas ao longo de um alinhamento de planos de fratura. Durante o esforço que determinou o deslocamento, os "lábios" dos planos de fratura sofrem uma fricção tão forte, que às vezes se formam faixas de rochas especiais ao longo das linhas de falhamento (milonitos, por exemplo). Pode-se ter como certo FORMAS DO RELEVO/TEXTO BÁSICO/63 que as falhas jamais se formam de um modo isolado numa área qualquer. Pouco antes ou durante o processo de falhamentos, a região sofre intensa fraturação tectónica (fraturas, tam- bém chamadas diaclases ou juntas ,tectônicas). Nos lugares onde se processaram as falhas principais, pode ocorrer apenas um alinhamento de rochas modificadas peia forte fricção dos blocos que se deslocaram à força. Os diversos tipos de falhas formados ern uma área sujeita à ação da tectónica quebrável compõem um sistema regional de falhas ou uma família de fathamentos. Tais sistemas ou famílias de falhas englobam falhas principais (as de maior deslocamento e extensão), falhas secundárias ou complementares (aquelas que completam o esquema de deslocamento centra- lizado pela falha principal) e falhas vicariantes ou em tesoura, que são descontínuas no terreno. Em seu conjunto, os sistemas regionais de falhas podem ter arranjos muito especiais, comportando padrões paralelos (fossas tectônicas, falhas em escadaria, montanhas de blocos falhados alongados), padrões radiais (falhas de irradiação centrífuga, falhas cruzadas) e pa- drões concêntricos (falhas associadas, parte radiais e parte concêntricas). Numerosos são os casos em que os sistemas regionais de falhas associam-se a complexos fenómenos de vulcanismo regional. Ao longo do tempo geológico, os sistemas regionais de falhas podem comportar fases de reativação tectónica sucessiva. Quando em áreas de antigas falhas ocorrem retomadas de falhamentos, copiando parcialmente o tectonismo anterior, diz-se que estão se processando falhas reativadas, ou ainda, fenómenos de tectónica resídua/. Muitas áreas sujeitas à ação de terremotos intensos não passam de locais sujeitos à atuação da tectónica residual. Para a geomorfologta interessa conhecer as formas de relevo associadas aos falhamentose o desenvolvimento das feições erosivas sobre os blocos falhados. Em outros termos, o essencial, no caso, são as relações entre o arranjo geométrico das falhas e o arranje) efetívo tomado pelos blocos falhados sujeitos à ação dos rios e dos outros processos erosivos peculiares a cada área de falhamentos. Quando um bloco se desloca em relação a outro, por intermédio de falhas, um deles, o mais elevado, deixa exposto um paredão rochoso primário que receberá em seu estado de origem o nome de espelho de falha. Os fenómenos erosivos fluviais e climáticos modelam esse paredão rochoso exposto, ao longo do tempo, criando uma escarpa modificada pela erosão, que recebe o nome de escarpa de falha. Os rios posteriores ao falhamento, que cortam de espaço a espaço a escarpa de falha, contribuem para seccionar a continuidade do paredão rochoso original, transformando a escarpa de falha em uma série de frentes alinhadas com feições trapezoidais ou triangulares. Eventualmente, após um longo lapso de tempo geológico, a velha escarpa de falha pode ser totalmente aplainada pelos processos erosivos, restando apenas a linha de falha como fato objetivo, marcando o alinhamento original do falhamento. Se a região de uma falha assim nivelada por aplaínamento for sujeita a um soerguimento de conjunto, poderá haver a fixação de um rio ao longo da linha de falha (rio de linha de falha] e, eventualmente, uma restauração da escarpa de falha, através de um novo paredão oriundo do reentalhamento fluvial da linha de falha. Tal escarpamento oriundo da redissecação recente receberá o nome de escarpa de Unha de falha ou escarpa restaurada. Muitas vezes a restau- ração de uma velha escarpa de falha já apagada pela erosão pode ser provocada parcialmente pela tectónica residual. O escarpamento que separa a cidade alta daxridade baixa em Salvador (Bahia) parece ser um misto entre escarpa de linha de falha e escarpa restaurada por tectónica residual. Os altos paredões da Serra da Mantiqueira, pelo contrário, são escarpas de falha de tipo clássico. O mesmo parece ser o caso de notáveis escarpamentos da Serra do Mar, na fachada atlântica do Brasil de Sudeste. 64/PROJETO BRASILEIRO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA -r -<W> r^ Faíha normal vertical / x t — 7*—7~ - minnni X / "^- --_-—_ -^ -./ . . : . . . . . . S ^/^-/Xxxx/x ^ i Falha nivelada — a'". - -X. |y-^ x.-^ r> II 1 ( H M 1 n 1 1 \Í 0 - " 0 0 ^ 0 0 = - ^/ S////SS/ S f f , ^cJroLoy^) V* Figura 42 — Tipos de falhas FORMAS DO RELEVO/TEXTO BÁSICO/65 Olhar da falha Figura 43 — Bloco falhado Figura 44 — Fossa tectônica (graben) ( Figura 45 - Pilar tectònico (horst) J >( . 66/PROJETO BRASILEIRO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA Figura 46 — Espelho de falha 1 v''r-Vl--'?"/" ^ lr^ ''•\Wí'/-7,72-í Figura 47 — Escarpa de falha com facetas trapezoidais e facetai triangulares. Drenagem de rios isolados fortemente encaixados, de origem postcedente. . FORMAS DO RELEVO/TEXTO BÁSICO/67 \a 48 — Escarpa de falha em uma região de "mares de morros" tropicais úmidos (tipo Mantiqueira). Figura 49 — Falha morfologicamente conforme. 68/PROJETO BRASILEIRO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA Falha morfologicamente contrária com rio barrado e desviado A / / / //--N-V. - ' \ / X f / \ ^ / \ ' Falha morfologicamente contrária com formação de lago tectônico de ângulo de falha. No bloco superior:*vale suspenso e rio subadaptado (Rio MISFIT} Figura 50 — Falhas morfologicamente contrárias. Figura 51 — Vale de Unha de falha e escarpa de linha de falha em formação. FORMAS DO RELEVO/TEXTO BÁSICO/69 ESTRUTURA REGIONAL Feições topográficas típicas Designação dos tipos de relevos estruturais representados [Casos de estruturas concordantes] Planaltos tabultformes Planaltos cuestiformes Montanha dòmica Montanha de dobramento Montanha de bloco falhado Figura 52 - Estruturas regionais e feições topográficas.
Compartilhar