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1 Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Geociências Departamento de Geografia Disciplina: Geomorfologia Tectônica e Estrutural (GEO-367) Professor: Valadão Direção de Estudo 03 Estruturas em Rochas A Geologia Estrutural, disciplina das Ciências da Terra, estuda os processos deformacionais da litosfera e as estruturas decorrentes dessas deformações. Investiga, de maneira detalhada, as formas geométricas que se desenvolvem em decorrência do dinamismo de nosso Planeta, abrangendo da escala microscópica à macroscópica; portanto, deformações desde a escala dos cristais formadores de rochas até a escala continental, neste último caso voltando-se ao exame do deslocamento de blocos de grandes dimensões. Há dois domínios deformacionais caracterizados pela formação de estruturas geológicas distintas: o superficial e o profundo. Esses domínios decorrem dos contrastes verificados entre temperatura e pressão hidrostática/litostática na crosta terrestre. O domínio superficial caracteriza-se por uma deformação essencialmente rúptil, enquanto o domínio profundo caracteriza-se por uma deformação dúctil. Neste último, a rocha pode sofrer fusão parcial, se a temperatura for suficientemente elevada. Portanto, as estruturas formadas a cerca de 40 km de profundidade são muito diferentes de estruturas formadas em subsuperfície. Isto significa dizer que, para o estudo das estruturas geológicas, é necessário levar em consideração o nível crustal em que ela foi formada. Cada nível apresenta estruturas com geometria e mecanismos de formação similares que, no entanto, são diferentes de outros níveis crustais. Denominamos níveis estruturais os diferentes domínios da crosta, onde ocorrem os mesmos mecanismos dominantes da deformação. Entende-se, aqui, como mecanismos da deformação, a deformação rúptil, isto é, a formação de falhas, fendas e fraturas marcadas por planos de descontinuidades, enquanto a deformação dúctil é entendida como deformação sem perda de continuidade, porém com a rocha sofrendo distorção. 1. Formando Dobras As dobras são deformações dúcteis que afetam corpos rochosos da crosta terrestre. Acham-se associadas a cadeias de montanhas de diferentes idades e possuem expressão na paisagem, sendo visíveis em imagens de satélite. São caracterizadas por ondulações de dimensões variáveis e podem ser quantificadas individualmente por parâmetros como amplitude e comprimento de onda. A sua formação se deve à existência de uma estrutura planar anterior, que pode ser o acamamento sedimentar ou a foliação metamórfica (clivagem, xistosidade, bandamento gnáissico). Figura 01: Elementos geométricos de uma superfície dobrada: Sa- superfície axial; Lc- linha de charneira; Li- linha de inflexão; Zc- zona de charneira; Fl- flanco. 2 Classificação das Dobras Classificação com base na superfície dobrada Esta classificação leva em consideração o ângulo interflancos de uma dobra (Fig. 3a). Isto é determinado a partir de duas tangentes que passam nos pontos de inflexão da superfície dobrada (Fig. 3b). As dobras são assim classificadas em suaves (180 - 120º), abertas (120 – 70º), fechadas (70 – 30º), apertadas ou cerradas (30 – 0º) e isoclinais. Embora essa classificação seja muito simples e de aplicação imediata, ela não fornece informações sobre variações morfológicas da superfície dobrada, pois nela são englobadas, sob mesma denominação, dobras com estilos diferentes. Classificação com base em critérios geométricos e estratigráficos O sentido de fechamento de uma superfície dobrada é um critério geométrico muito simples utilizado para classificar dobras. Segundo este critério, são distinguidas dobras com fechamento para cima, antiforme ou, para baixo, sinforme (Fig. 4a e 4b). Contudo, esta classificação apresenta duas restrições importantes: (a) deixa de fora determinados tipos de dobra e (b) enquadra sob a mesma denominação dobras com posições espaciais distintas. Figura 02: Mecanismos de formação de dobras: Flambagem (a) e Cisalhamento (b). Figura 03: Classificação das dobras com base no ângulo interfrancos. 3 A classificação das dobras em sinclinal e anticlinal é muito antiga e encontra-se extremamente arraigada na literatura. Embora seja uma classificação que implica o uso de critérios estratigráficos, nem sempre isto é seguido. Neste caso, ela passa a ter o mesmo significado da classificação acima. Define-se sinclinal como uma dobra que possui camadas mais novas no seu interior, e mais antigas, no exterior (Fig. 5a). No anticlinal, é o oposto, as camadas mais antigas estão no núcleo (Fig. 5b). Figura 04: Classificação de dobras com base no sentido de fechamento da superfície dobrada: antiforme (a) e sinforme (b). Figura 05: Classificação de dobras com base na estratigrafia das camadas: sinclinal e anticlinal. Sequência estratigráfica das camadas: 1 mais antiga, 2 intermediária, 3 mais nova. Em a, sequência normal, em b, sequência invertida. 4 Anticlinório: Estrutura dobrada complexa com dimensões regionais de dobras sinclinais e anticlinais que compõem em seu conjunto uma grande dobra anticlinal. Sinclinório: Estrutura dobrada complexa com dimensões regionais de dobras sinclinais e anticlinais que compõem em seu conjunto uma grande dobra sinclinal. Evolução do relevo em estrutura dobrada: Evolução do Relevo Jurássico A evolução do relevo denominado Jurássico ocorre mediante sequência dos seguintes eventos, representados na figura: 1. O ataque da denudação se inicia geralmente a partir dos ruz que, por erosão regressiva, acabam por abrir canyons nos flancos do anticlinal; 2. A continuidade da denudação abre uma cluse e há captura da ravina menor pela maior e mais alimentada; 3. O trabalho de alargamento da cluse é facilitado pela camada tenra situada abaixo da resistente, no anticlinal. Surgem ravinas afluentes da cluse ao longo do dorso do anticlinal que, devido ao maior desnível, tem o trabalho da denudação acelerado. Abre-se uma combe ao longo do anticlinal; 4. A evolução nas camadas tenras do anticlinal (combe) é mais rápida do que o cavamento dos vales situados sobre as camadas duras no fundo dos sinclinais. Os rios, cavando mais na combe, aprofundam o seu nível de base, abaixo dos rios situados nos sinclinais. Chega-se à verdadeira inversão de relevo, porque os anticlinais, por alargamento das combes, são escavados abaixo dos sinclinais. Os sinclinais passam a dominar na paisagem devido à proteção da camada dura: são os sinclinais alçados. Trata-se aqui, também, da inversão de relevo. O fundo do vale passa a constituir topo de planalto. 5. Essa evolução é sempre comandada pela erosão diferencial. Uma vez retirada toda a camada tenra pode aflorar novamente uma camada resistente mais profunda, do anticlinal; surge novo mont. (Adaptado de: PENTEADO, M.M. Fundamentos de Geomorfologia. Rio de Janeiro: IBGE, 1983. 185p.) http://sigep.cprm.gov.br/glossario/verbete/anticlinal.htm http://sigep.cprm.gov.br/glossario/verbete/sinclinal.htm 5 (Fonte: Pomerol et al. Princípios de Geologia. Porto Alegre: Bookman, 2013. p: 399) 2. Formando Falhas As falhas resultam de deformações rúpteis nas rochas da crosta terrestre. São expressas por superfícies descontínuas com deslocamento diferencial de poucos centímetros a dezenas e centenas de quilômetros, sendo esta a ordem de grandeza para o deslocamento de grandes falhas. As falhas são encontradas em vários ambientes tectônicos, sendo associadas a regimes deformacionais compressivos, distensivos e cisalhantes. Podem ser rasas ou profundas. Elementos de uma falha A posição no espaço da superfície de uma falha é fundamental para sua classificação geométrica. Outro parâmetro importante é a estria de atrito desenvolvida no plano de falha. Ela permite deduzir o tipo de movimento ocorridono mesmo. É comum a falha exibir uma superfície brilhante, conhecida como espelho de falha ou slickenside. Em uma falha inclinada, os blocos separados são denominados capa ou teto e lapa ou muro (Fig. 06). A capa corresponde ao bloco situado acima do plano de falha, e a lapa, ao bloco situado abaixo. Figura 06: Elementos geométricos de uma falha: blocos de falha: muro ou lapa e teto ou capa; escarpa e plano de falha. O deslocamento entre dois pontos previamente adjacentes, situados em lados opostos da falha, medido no plano de falha, corresponde ao seu rejeito. 6 Classificação das Falhas As falhas são classificadas com base em seus elementos geométricos e mecânicos. . Classificação geométrica A classificação geométrica leva em conta o mergulho do plano de falha, a forma da superfície de falha, o movimento relativo entre os blocos e tipo de rejeito: a) Mergulho da superfície de falha – é uma classificação muito simples, que divide as falhas em dois grupos: falhas de alto ângulo, quando o mergulho do plano de falha é superior a 45º, e falhas de baixo ângulo, quando é inferior a 45º. b) Forma da superfície de falha – esta classificação permite dividir as falhas em planares e curvas. Uma falha é planar, em termos estatísticos, quando a variação de direção da superfície encontra-se no intervalo de aproximadamente 5º. Esta superfície pode ser vertical ou inclinada. As falhas curvas são denominadas falhas lístricas, e são relacionadas a regimes distensivos. Em perfil, variam desde uma falha de alto ângulo até baixo ângulo, podendo mesmo horizontalizar-se. São conhecidas como falhas em forma de “pá” ou “colher” (Fig. 7). Figura 07: Bloco diagrama mostrando uma falha lístrica. c) Movimento relativo – nesta classificação as falhas são divididas em vários tipos: falhas normais (ou de gravidade) e falhas reversas ou de empurrão (Fig. 8). Numa falha de empurrão a capa é o bloco que sobe em relação à lapa, ao passo que numa falha normal ocorre o inverso, ou seja, a capa desce em relação à lapa. Figura 08: Classificação de falhas com base no movimento relativo entre blocos adjacentes. a) falha normal; b) falha inversa; c) falha transcorrente; d) falha oblíqua. 7 d) Tipos de rejeito – esta classificação leva em conta os componentes geométricos do deslocamento entre dois pontos previamente contíguos, em lados opostos da falha, e que são medidos no plano de falha. . Classificação mecânica A classficação mecânica leva em consideração o quadro de tensões que produziu a falha e distingue quatro tipos: normal, inversa ou de empurrão, transcorrente (ou direcional) e oblíqua. Na falha normal as forças de tensão resultam em extensão. Na falha inversa ou de empurrão as foças são compressivas e resultam em encurtamento. Na falha transcorrente (ou direcional) as forças são de cisalhamento. Já a falha oblíqua sugere uma combinação de cisalhamento, compressão ou extensão. Componentes Geomorfológicos em Estrutura Geológica Falhada A originalidade geomorfológica da estrutura falhada é a sua reprodução, no relevo, em forma de escarpas.O estilo dos falhamentos origina no relevo tipos característicos de formas. Além disso a estrutura falhada tem influência capital sobre a hidrografia. A estrutura falhada caracteriza-se por rupturas da crosta, criando compartimentos rebaixados ou soerguidos. Uma falha é uma superfície de fratura que sofreu deslocamento. Os deslocamentos podem-se dar no sentido vertical ou horizontal. Elementos de uma falha Num bloco falhado distinguimos os seguintes elementos: ▪ Traçado: é a orientação na superfície, em relação aos pontos cardeais. Pode ser contínuo, interrompido, retilíneo, quebrado ou sinuoso. ▪ Plano de falha (P): é a superfície segundo a qual se dá o deslocamento. O atrito causado pelo movimento pode produzir uma superfície lisa com brilho, devido ao polimento – é o espelho de falha. ▪ Espelho de falha (e): é o escarpamento inicial voltado para o compartimento rebaixado. É polido e apresenta estrias produzidas por riscos de atrito dos blocos. As estrias e a rugosidade escalonada do espelho de falha indicam o sentido do deslocamento. ▪ A zona do plano de falha pode apresentar milonitização: trituramento do material rochoso entre os dois blocos, constituindo uma zona intensamente pulverizada. Se soluções carregadas de sílica e outros elementos penetram o material pulverizado, produzindo a cimentação, origina-se uma rocha de granulação muito fina e escura – o milonito. ▪ Se o fraturamento é menos intenso, as rochas formadas são particularmente quebradas e constituem as brechas de atrito. ▪ A milonitização afeta qualquer tipo de rocha e tem a aparência de um dique. ▪ Rejeito (R): é a medida do deslocamento linear resultante da falha. A maneira mais simples de medir um rejeito normal é através de uma camada guia. ▪ Capa e lapa: termos aplicados para falhas inversas, quando um bloco remonta outro. O bloco de cima é a capa e o de baixo, a lapa. Classificação de falhas Segundo os planos distinguem-se os seguintes tipos de falhas: ▪ Falha Vertical: um bloco deprimido em relação a outro e o plano de falha vertical. ▪ Falha normal: o bloco deprimido acompanha a direção do mergulho do plano de falha (em torno de 45°). Resulta de tensões da crosta. O plano oblíquo da falha normal pode terminar em plano vertical junto à superfície. Tem-se, então, aí, a falha vertical. 8 ▪ Falha inversa: criada por compressão, que tende a encurtar a crosta. Um bloco é empurrado sobre o outro. O plano é obliquo. ▪ Falha transcorrente ou de deslocamento horizontal: o plano de falha é vertical e o deslocamento é horizontal. ▪ Falha em acavalamento: o plano de falha é oblíquo. É o caso da falha inversa, na qual um bloco sobremonta o outro. As estruturas falhadas Estrutura falhada é o modo de agrupamento das falhas e orientação dos planos (espelhos) no espaço. A estrutura falhada implica num conjunto de falhamentos. Podemos distinguir vários tipos de estruturas falhadas. ▪ Estrutura em degraus: deslocamentos de amplitude pequena, terminando por criar, no conjunto, grandes desníveis, pela soma dos rejeitos. A mais simples dessas estruturas corresponde a falha paralelas. ▪ Estrutura em horsts: horst é um compartimento estruturalmente elevado, delimitado lateralmente por duas falhas ou por degraus de falhas. ▪ Estrutura em graben ou fossa tectônica: constitui o negativo do horst. São compartimentos da crosta afundados entre falhas ou degraus de falhas. Frequentemente a zona deprimida de uma fossa é preenchida por sedimentos. Exemplo: a fossa tectônica ocupada pelo Vale do Paraíba, preenchida de sedimentos terciário-quaternários. Os sedimentos acumulados numa fossa podem ser correlativos ao falhamento, e dar indicações da época do falhamento e do meio morfoclimático atuante durante a fase de preenchimento. Uma fossa tectônica não se acompanha necessariamente de horst mas pode se localizar deprimidamente entre planaltos. Normalmente, porém, a estrutura de horst se acompanha de fossas e, vice-versa. É muito difícil conhecer o movimento real que acasionou a estrutura de horst e grabens. Tanto um bloco pode ter subido e outro descido, como também, ambos podem ter subido ou descido, com diferentes deslocamentos, ou ainda, um deles pode ter permanecido estável e o outro ter descido ou subido. Evolução de Relevo de Falhas Devemos considerar dois casos: falhas que dão escarpas no terreno e falhas que não dão desníveis. No caso de falhas sem escarpa, o falhamento pode pôr em contato rochas de resistência diferente e a erosão desgastar a camada tenra. Nesse caso o plano de falha será exumado e surgirá uma escarpa. No caso de falhas com escarpamento, a evolução erosiva pode fazer o relevo passar por vários estágios conforme figuras a seguir. 9 Estágios erosivos de uma linha de falha Quantoaos diferentes estágios mostrados nessa figura: A: A escarpa original cria o desnível e a erosão é acelerada. Surgem ravinas e a erosão dá início ao recuo da escarpa. Entre as ravinas que sulcam subsistem restos do antigo espelho de falha em forma de facetas trapezoidais, que passam a triangulares, quando o estágio erosivo avança. Nesse estágio a escarpa ainda corresponde ao plano de falha e chama-se escarpa de falha. B: A erosão reduz as facetas triangulares e faz recuar a escarpa bem além da antiga linha de falha. A escarpa recebe então a designação de escarpa herdada de falha. C: A erosão pode nivelar o terreno e no bloco anteriormente deprimido pode aflorar uma camada mais resistente do que no compartimento falhado vizinho (anteriormente soerguido). A erosão será, então, mais ativa nos terrenos tenros no lado que correspondia ao bloco originalmente elevado, fazendo ressaltar uma escarpa nos terrenos resistentes do bloco oposto, outrora rebaixado. Designa-se essa escarpa de escarpa de linha de falha. D: A erosão pode arrasar novamente o ressalto, produzindo uma nova superfície aplainada, fazendo aflorar, do lado da primitiva escarpa (original), outra vez, material mais resistente ou o embasamento cristalino. E: A retomada da erosão diferencial, a partir do vale de linha de falha, porá, novamente, em ressalto, o plano de falha original. Nesse caso haverá o rejuvenescimento da escarpa de falha. Adaptado de: PENTEADO, M.M. .(1983). Fundamentos de Geomorfologia. Rio de Janeiro, IBGE, 185p. 10 Nappe de arraste (de cavalgamento) (Adaptado de: Pomerol et al. Princípios de Geologia. Porto Alegre: Bookman, 2013. p: 386) A partir da análise dos perfis geológicos X, Y e Z, FAÇA o que se pede: Perfil X NOMEIE e DEFINA as estruturas geológicas I, II e III. 11 Perfil Y NOMEIE a estrutura geológica IV. TRACE, no perfil, o plano axial da estrutura geológica IV. Perfil Z NOMEIE e DEFINA a estrutura geológica V. (Trabalho Individual. Após o término do trabalho, salve o arquivo em pdf e faça o upload dele no moodle, até 09/12/2021 às 23:59h)
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