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Uma introdução à geografia física 7ª Edição Robert W. Christopherson A diversidade é uma característica marcante da Terra viva. A diversidade de organismos na biosfera é uma resposta à interação da atmosfera, hidrosfera, litosfera, todas alimentadas pela energia solar. Este é o escopo da geografi a física, refl etido na estrutura em partes de Geossistemas. Parte I - O nosso planeta e as nossas vidas são alimentados por energia radiante do Sol. A atmosfera da Terra age como um fi ltro efi ciente. Os desiguais aportes diários de energia controlam balanços de energia atmos- férica e da superfície, dando origem aos padrões globais de temperatura e de circulação de vento e correntes oceânicas. Iceberg e gaivotas kittiwake perto da ilha Isispynten, Oceano Ártico Parte II - A Terra é o “planeta água”. Nós vemos a dinâmica da atmosfera – a poderosa interação de umidade e energia, de estabilidade e instabilidade, e a variedade de formas de nuvens –, como os padrões atmosféricos diários, o ciclo hidrológico, os recursos hídricos e o clima. Imagens de um Oceano Ártico sem gelo nos lembra da importância da ciência da mudança climática em geografi a física. Céu claro e refl exo da montanha na baía Hornsund sem gelo marinho, no sudoeste de Spitsbergen, Svalbard Parte III - A Terra é um planeta dinâmico modifi cado por agentes físicos ativos. Dois sistemas organizam es- ses agentes: o sistema endógeno engloba os processos internos e fl uxos de calor e material para a crosta, que responde pelo movimento, pela deformação e ruptura, algumas vezes, em episódios dramáticos. O sistema exógeno (processos externos) envolve o ar, a água e o gelo que esculpem, modelam e reduzem a paisagem. Arenito intemperizado no Parque Estadual Valley of Fire, sul de Nevada, EUA Parte IV - A Terra é o lar da única biosfera conhecida, um complexo de sistemas interativos abióticos (não vivos) e bióticos (vivos) que sustentam uma enorme diversidade de vida. Hoje enfrentamos questões cruciais na preservação dessa diversidade. A resiliência da biosfera, tal como a conhecemos, é testada em um expe- rimento em tempo real. Um antigo ecossistema fl orestal de musgos, samambaias, urzes e gramíneas exube- rantes cobrem o chão da fl oresta e o afl oramento de rocha na Escócia central. Foto da Terra, cortesia da NASA. Todas as outras fotos © Bobbé Christopherson. Uma introdução à geografia física 7ª Edição Robert W. Christopherson www.grupoa.com.br GEOGRAFIA U m a introdução à geografia física C hristopherson Planeta Terra, fotografado de aproximadamente 37.000 km, em dezembro de 1972. 100370 Geosssistema.indd 1100370 Geosssistema.indd 1 14/10/2011 11:17:1114/10/2011 11:17:11 Ao longo da baía de Hudson, Manitoba, Canadá, em novembro, estes dois machos lutam amigavelmente como uma forma de exer- cício, com abundantes ataques simulados. Espetacularmente, os dois ursos estão apoiados em suas patas traseiras e dão socos em seu parceiro de luta; em seguida, entram em corpo a corpo e voltam ao chão, cada um tendo sua vez como agressor. Há clipes feitos pelo autor no CD que acompanha este livro que mostra ursos polares. A mudança climática está reduzindo a extensão do gelo marinho, o que diminui a disponibilidade de alimentos para os ursos. As previsões apontam para um Oceano Ártico livre de gelo em menos de uma década; devastador para os ursos polares, uma vez que eles dependem do gelo. [Foto de Bobbé Christopherson.] C556g Christopherson, Robert W. Geossistemas [recurso eletrônico] : uma introdução à geografia física / Robert W. Christopherson ; tradução: Francisco Eliseu Aquino ... [et al.] ; revisão técnica: Francisco Eliseu Aquino, Jefferson Cardia Simões, Ulisses Franz Bremer. – 7. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2012. Editado também como livro impresso em 2012. ISBN 978-85-407-0106-9 1. Geografia. 2. Geografia física. I. Título. CDU 911.2 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 176 Parte II A Água e os Sistemas Meteorológico e Climático Neste capítulo: Examinamos a água na Terra e a dinâ- mica da umidade e da estabilidade atmosférica – os princí- pios básicos do tempo. As principais questões respondidas incluem: Qual é a origem da água? Quanta água existe? E onde a água está localizada? Ironicamente, embora seja um dos composto mais comuns, ela possui características físicas extraordinárias. As propriedades térmicas únicas da água e sua existência nos três estados na natureza são fundamentais no fornecimento de energia para os sistemas meteorológicos ter- restres. A condensação do vapor d’água e as condições atmos- féricas de estabilidade e instabilidade são essenciais à forma- ção de nuvens. Encerramos o capítulo com as nuvens, nossos belos indicadores de condições atmosféricas. A água na Terra A hidrosfera terrestre contém cerca de 1,36 bilhão de qui- lômetros cúbicos de água (especificamente, 1.359.208.000 km3). Segundo evidências científicas, grande parte da água da Terra se originou de cometas gelados e de detritos carre- gados de hidrogênio e oxigênio que faziam parte dos plane- tesimais que coalesceram para formar o planeta. Em 2007, o Telescópio Espacial Spitzer observou, pela primeira vez, a presença de vapor d’água e gelo à medida que os planetas se formam em um sistema a 1000 anos-luz da Terra. Essas descobertas provam que a água é abundante em todo o Uni- verso. Conforme o planeta se forma, a água do interior migra para sua superfície e ocorre a desgaseificação. O desgaseificação (desprendimento de gases) é um pro- cesso contínuo pelo qual a água e o vapor d’água emergem de camadas profundas e abaixo da crosta, 25 km ou mais abai- xo da superfície terrestre. A Figura 7.1 apresenta duas dessas áreas, entre muitos locais no mundo inteiro, na Nova Zelân- dia e na Islândia. A área geotérmica Geysir, no Haukadalur, fica a sudoeste da Islândia, cerca de 110 km de sua capital, Reykjavík (Figura 7.1b). Registros escritos de atividade em Um campo de água... continuamente recebendo das al- turas, vida nova e movimento. E, por sua natureza, é o inter- mediário entre o céu e a terra.* Assim Thoreau falou sobre a água tão estimada a ele – o Lago Walden, em Massachusetts, onde ele viveu ao longo de sua margem. A água é essencial a nossas vidas diárias e é um composto extraordinário na natureza. Diversos satélites detectaram gelo embaixo dos polos da Lua. Três espaçonaves em órbita e dois módulos de aterrissagem fizeram imagens e detectaram água corrente nos primórdios da história marciana. Os cientistas es- tão encontrando evidências em Marte de água subsuperficial existente, gelo polar e características erosionais modernas causa- das pela água. Mais distante do Sol, expansões glaciais podem ser vistas em duas das luas de Júpiter, Europa e Calisto – descobertas empolgantes sobre a água em nosso Sistema Solar. Apesar disso, no Sistema Solar, a água ocorre em quantidades significativas apenas em nosso planeta – a água cobre 71% da Terra por área. A água pura é incolor, inodora e insípida; ainda assim, por ser um solvente (dissolve sólidos), a água pura raramente ocor- re na natureza. A água pesa 1 g/cm3 (grama por centímetro cúbico), ou 1 kg/L (quilograma por litro). A água constitui aproximadamente 70% de nossos cor- pos por peso e é o principal ingrediente nas plantas, nos ani- mais e em nossos alimentos. Um humano pode sobreviver de 50 a 60 dias sem comida, mas apenas 2 ou 3 dias sem água. A água que usamos deve ser adequada, tanto em quantidade como em qualidade, para suas muitas tarefas – tudo, desde hi- giene pessoal até vastos projetos hídricos nacionais. De fato, a água ocupa aquele lugar entre a terra e o céu, mediando a energia e modelando a litosfera e a atmosfera, conforme Thoreau revelou. A água é o meio da vida. * Reimpresso com permissão de Merrill, uma impressão da Macmillan Publishing Company, de Walden, de Henry David Thoreau, pp. 192, 202, 204. Copyright © 1969 por Merrill Publishing.Originalmente publicado em 1854. (a) (b) Figura 7.1 Desgaseificação da água da crosta. Desgaseificação da água da crosta terrestre em áreas geotérmicas: (a) próximo a Wairakei, na Ilha do Norte da Nova Zelândia; e (b) a fonte em ebulição Smidur, na área de Geysir em Haukadalur, Islândia. [Fotos de (a) Bill Bachman/Photo Researchers, Inc.; (b) Bobbé Christopherson.] Christopherson_Book.indb 176Christopherson_Book.indb 176 29/09/11 14:0529/09/11 14:05 Capítulo 7 Água e Umidade Atmosférica 177 Geysir datam de 1294 e é o homônimo do termo gêiser usado hoje em dia. Na atmosfera inicial, quantidades consideráveis de vapor d’água desgaseificado condensaram e, posteriormente, caíram na Terra em chuvas torrenciais. Para que a água permanecesse na superfície da Terra, as temperaturas terrestres tiveram que ficar abaixo do ponto de ebulição de 100°C, algo que ocorreu há aproximadamente 3,8 bilhões de anos. Os lugares mais bai- xos na face terrestre, então, começaram a se encher de água – primeiro lagoas, lagos e mares e, finalmente, corpos hídricos do tamanho de oceanos. Fluxos enormes de água se espalha- ram sobre a superfície, carregando materiais sólidos e dissol- vidos para esses primeiros mares e oceanos. A desgaseificação da água continuou desde então, sendo visível em erupções vulcânicas, gêiseres e infiltração para a superfície. Equilíbrio mundial Hoje, a água é o composto mais comum na superfície terres- tre, tendo atingido o volume atual há cerca de 2 bilhões de anos. Essa quantidade permaneceu relativamente constante, embora a água seja continuamente perdida do sistema. Per- de-se água quando ela se dissocia em hidrogênio e oxigênio e o hidrogênio escapa da gravidade terrestre para o espaço, ou quando ele se quebra e forma novos compostos com outros elementos. A água pura que não estava previamente na super- fície, que emerge da crosta terrestre, substitui a água perdida no sistema. O resultado líquido dessas entradas e saídas de água é que a hidrosfera terrestre está em um equilíbrio de estado estacionário em termos de quantidade. Apesar desse equilíbrio líquido geral em quantidade de água, ocorrem mudanças globais no nível do mar. O concei- to eustasia descreve a condição global do nível do mar. As mudanças eustáticas relacionam-se ao volume de água nos oceanos, e não às mudanças na quantidade geral de água pla- netária. Algumas dessas mudanças resultam quando há varia- ção na quantidade de água armazenada em geleiras e mantos de gelo; esses são fatores glácio-eustáticos (ver Capítulo 17). Em épocas mais frias, quando há mais água agrupada nas ge- leiras (nas montanhas em todo o mundo e nas altas latitudes) e nos mantos de gelo (Groenlândia e Antártica), o nível do mar é reduzido. Quando o clima está mais quente, menos água é armazenada na forma de gelo, portanto, o nível do mar sobe. Algo em torno de 18.000 anos atrás, durante o pulso mais recente da idade do gelo, o nível do mar era mais de 100 m mais baixo do que o nível atual; há 40.000 anos, era 150 m mais baixo. Nos últimos 100 anos, a média do nível do mar tem aumentado de 20 a 40 cm e ainda está subindo no mundo inteiro a um ritmo cada vez maior conforme as altas temperaturas derretem mais gelo. A isostasia refere-se ao movimento físico vertical real nas massas de terra, como o soerguimento continental ou a subsidência. Essas mudanças de paisagem causam alterações aparentes no nível do mar referentes a ambientes costeiros. O Capítulo 11 discute essas mudanças de elevação terrestre. Distribuição atual da água na Terra De uma perspectiva geográfica, as superfícies oceânicas e ter- restres estão distribuídas de forma desigual. Se você examinar um globo, é óbvio que a maioria do território continental da Terra está no Hemisfério Norte, enquanto a água domina o Hemisfério Sul. De fato, quando se olha para a Terra de de- terminados ângulos, parece haver um hemisfério oceânico e um hemisfério continental (Figura 7.2). A Figura 7.3 mostra uma ilustração da localização atual de toda a água líquida e congelada da Terra – seja doce ou salga- da, superficial ou subterrânea. Os oceanos contêm 97,22% de toda a água (Figura 7.3a). Uma tabela na figura lista e detalha os cinco Oceanos – Pacífico, Atlântico, Austral, Índico e Ártico. As porções no extremo sul dos Oceanos Pacífico, Atlântico e Índico que circundam o continente Antártico são chamadas co- letivamente de “Oceano Austral”. Quarto em tamanho entre os cinco oceanos, o Oceano Austral não tem limites precisos, por isso o fundimos com seus três oceanos-pai na tabela. Apenas 2,78% de toda a água na Terra é doce (não salina e não oceânica). O gráfico circular no meio, junto com a Tabela 7.1, detalha essa porção de água doce – água superficial e sub- superficial (Figura 7.3b). Mantos de gelo e geleiras são o maior repositório individual de água doce de superfície; eles contêm 77,14% de toda a água doce da Terra. O lençol freático sub- superficial adicionado à água superficial congelada representa 99,36% de toda a água doce. A água doce restante, que está em lagos, rios e correntes de água bem conhecidos por nós, na verdade representa menos de 1% de toda a água (Figura 7.3c). Todos os lagos de água doce do mundo totalizam somente 125.000 km3, com 80% desse vo- lume em 40 dos maiores lagos e aproximadamente 50% conti- dos em apenas sete lagos (listados na Tabela 7.1). 60° N 30° N 30° S 60° S 90° S Nova Zelândia 0° Equador 12 0° W 18 0° 30° N 0° 90° N 180° 60° E Equador 0° M er id ia no d e O rig em 120° E 60° N 60° W 120° W 30 ° N Figura 7.2 Hemisférios terrestre e oceânico. Duas perspectivas que representam uma ilustração aproximada dos hemisférios oceânico e continental. Christopherson_Book.indb 177Christopherson_Book.indb 177 29/09/11 14:0529/09/11 14:05 178 Parte II A Água e os Sistemas Meteorológico e Climático Lençol freático profundo 11,02% Doce 2,78% Lençol freático 11,02% Lagos de água doce 0,33% Pacífico Atlântico Índico Ártico *Dados em milhares (103): inclui todos os mares marginais. 48 28 20 4 179.670 106.450 74.930 14.090 724.330 355.280 292.310 17.100 4280 3930 3960 1205 Oceano *Área (km2) *Volume (km3) Umidade do solo 0,18% Lagos salinos 0,28% Atmosfera 0,03% Rios e correntes de água 0,003% Porcentagem de água superficial apenasTabela 7-1 Gelo e geleiras 99,357% Superfície 77,78% Oceano 97,22% 1,321 bilhão km3 (a) (b) (c) Toda água 100% Água doce 2,78% de tudo Porcentagem de água superficial Profundidade média da bacia principal (m) Área oceânica da Terra (%) Figura 7.3 Distribuição de oceanos e de água doce na Terra. Os diagramas circulares mostram a loca- lização e as porcentagens de (a) toda a água, (b) água doce incluindo água subsu- perficial e (c) água superficial. Earth’s Water and the Hydrologic CycleANIMAÇÃO Tabela 7.1 Distribuição de água doce na Terra Localização Quantidade (km3) Porcentagem de água doce Porcentagem de água total Água superficial Mantos de gelo e geleiras 29.180.000 77,14 2,146 Lagos de água doce* 125.000 0,33 0,009 Lagos salinos e mares interiores 104.000 0,28 0,008 Atmosfera 13.000 0,03 0,001 Rios e correntes de água 1.250 0,003 0,0001 Total de água superficial 29.423.250 77,78 2,164 Água subsuperficial Lençol freático – superfície a 762 m de profundidade 4.170.000 11,02 0,306 Lençol freático – 762 a 3962 m de profundidade 4.170.000 11,02 0,306 Armazenamento de umidade do solo 67.000 0,18 0,005 Total de água subsuperficial 8.407.000 22,22 0,617 Total de água doce (arredondado) 37.800.000 100,00% 2,78% *Principais lagos de água doce Volume (km3) Área superficial (km2) Profundidade (m) Baikal (Rússia) 22.000 31.500 1620 Tanganica (África) 18.750 39.900 1470 Superior (EUA/Canadá) 12.500 83.290 397 Michigan (EUA) 4.920 58.030 281 Huron (EUA/Canadá) 3.545 60.620 229 Ontário (EUA/Canadá) 1.640 19.570 237 Erie (EUA/Canadá) 485 25.670 64 Christopherson_Book.indb178Christopherson_Book.indb 178 29/09/11 14:0529/09/11 14:05 Capítulo 7 Água e Umidade Atmosférica 179 O maior volume isolado de água doce encontra-se no Lago Baikal, na Rússia siberiana, com 25 milhões de anos. Ele contém quase tanta água quanto todos os cinco Grandes La- gos dos Estados Unidos combinados. O Lago Tanganica, na África, contém o segundo maior volume, seguido pelos cin- co Grandes Lagos. No geral, 70% da água de lagos está na América do Norte, África e Ásia, com aproximadamente 1/4 da água de lagos do mundo em pequenos lagos numerosos de- mais para contar. Há mais de 3 milhões de lagos somente no Alaska, e o Canadá tem mais de 750 km2 de superfície lacustre. Sem conexão com os oceanos estão os lagos salinos e os mares interiores salgados. Eles geralmente existem em re- giões de drenagem fluvial interna (sem vazão para o oceano), o que permite que os sais se tornem concentrados. Eles con- têm 104.000 km3 de água. Exemplos desses lagos incluem o Grande Lago Salgado de Utah, o Lago Mono da Califórnia, os Mares Cáspio e Aral no sudoeste asiático e o Mar Morto entre Israel e a Jordânia (Figura 7.4). Pense em toda a umidade na atmosfera e nos milhares de rios e correntes da Terra. Combinados, eles representam apenas 14.250 km3, ou somente 0,033% da água doce, ou 0,0011% de toda a água! Ainda assim, essa pequena quan- tidade é dinâmica. Uma molécula de água viajando por ca- minhos atmosféricos e de água superficial se move por todo o ciclo hidrológico (oceano-atmosfera-precipitação-escoa- mento) em menos de duas semanas. Contraste isso com uma molécula de água em circulação no oceano profundo, lençol freático ou geleira; movendo-se lentamente, ela leva milhares de anos para se deslocar pelo sistema (Figura 7.5). Propriedades únicas da água A distância da Terra em relação ao Sol a coloca em uma zona temperada incrível, quando comparada às localizações dos outros planetas, que permite que os três estados da água – sólido, líquido e gasoso – ocorram naturalmente. Embora a água seja o composto mais comum na super- fície terrestre, ela exibe propriedades extraordinárias. Dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, que se ligam de ime- Figura 7.4 Lago Mono, Califórnia, um lago salino. O Lago Mono encontra-se na Grande Bacia a oeste, com a cadeia montanhosa de Sierra Nevada como pano de fundo (a vista aérea é para o sudoeste em fevereiro). Formado há aproximadamente 3 milhões de anos, este lago não tem vazão além da evaporação. Em seu volume máximo, algo em torno de 18.000 anos atrás, o Lago Russell era cerca de cinco vezes maior e seis vezes mais profundo do que o atual Lago Mono – a bacia marcada por suas antigas margens. [Foto de Bobbé Christopherson.] (a) (b) O (+) (–) Molécula de água (polaridade) Pontes de hidrogênio H H O (+) (–) H H O (+) (–) H H Congelamento – Fusão + + Su bl im aç ão Vaporização/ evaporação Gasoso (vapor d’água) Líquido (água) (c) Sólido (gelo) – (d ep os iç ão ) Su bl im aç ão C ondensação – + Figura 7.5 Os três estados da água e suas mudanças de fase. Os três estados físicos da água: (a) gasoso ou vapor d’água, (b) água e (c) gelo. Observe a organização molecular em cada estado e os termos que descrevem as mudanças de uma fase para outra. Observe também como a po- laridade das moléculas de água se conectam, fracamente no estado líquido e firmemente no estado sólido. Os símbolos de mais e menos nas mudanças de estado denotam se a ener- gia térmica é absorvida (+) ou liberada (–). Water Phase Changes ANIMAÇÃO Christopherson_Book.indb 179Christopherson_Book.indb 179 29/09/11 14:0529/09/11 14:05 180 Parte II A Água e os Sistemas Meteorológico e Climático diato, compõem cada molécula de água (sugerido na Figura 7.5, parte superior esquerda). Uma vez que os átomos de hi- drogênio e oxigênio se juntam em uma ligação covalente, ou dupla, é difícil separá-los; portanto, produzem uma molécula de água que permanece estável no ambiente da Terra. Essa molécula de água é um solvente versátil e possui característi- cas térmicas extraordinárias. A natureza da ligação hidrogênio-oxigênio dá uma carga positiva ao lado do hidrogênio de uma molécula de água e, ao lado do oxigênio, uma carga negativa (ver Figura 7.5, parte superior direita). Como resultado dessa polaridade, as molé- culas de água se atraem: o lado positivo (hidrogênio) de uma molécula de água atrai o lado negativo (oxigênio) de outra. Essa ligação entre as moléculas de água é a ponte de hidrogênio. A polaridade das moléculas de água também explica por que a água “tem ação molhada”, grudando-se em coisas e dis- solvendo muitas substâncias. Por essa capacidade solvente, a água pura é rara na natureza, porque algo está geralmente dissolvido nela. Os efeitos da ligação de hidrogênio na água são obser- váveis na vida cotidiana. A ligação de hidrogênio cria a tensão superficial que permite flutuar uma agulha de aço na super- fície da água, mesmo que o aço seja muito mais denso do que a água. Essa tensão superficial permite que você exagere levemente no enchimento de um copo com água; teias de milhões de ligações de hidrogênio seguram a água um pouco acima da borda. As pontes de hidrogênio é a causa da capilaridade, que pode ser observada quando “secamos” algo com um papel- -toalha. O papel retira água por meio de suas fibras porque as pontes de hidrogênio fazem com que cada molécula atraia sua vizinha. Nas aulas de laboratório de química, os alunos observam o menisco curvado, ou a superfície da água, que se forma em um cilindro ou tubo de ensaio porque as pontes de hidrogênio permitem que a água “escale” levemente as late- rais do vidro. A ação capilar é um componente importante dos processos de umidade do solo, discutidos nos Capítulos 9 e 18. Sem pontes de hidrogênio para manter as moléculas jun- tas na água e no gelo, a água seria um gás em temperaturas superficiais normais. Propriedades térmicas Para que a água se transforme de um estado para outro (só- lido, líquido ou gasoso), a energia térmica deve ser absorvida ou liberada. A fim de causar uma mudança de estado, a quantida- de de energia térmica deve ser suficiente para afetar as pontes de hidrogênio entre as moléculas. Essa relação entre a água e a energia térmica é importante para os processos atmos- féricos. Na verdade, o calor trocado entre os estados físicos da água fornece mais de 30% da energia que impulsiona a circulação geral da atmosfera. A Figura 7.5 apresenta os três estados da água e os ter- mos que descrevem uma mudança de um estado para outro, ou seja, uma mudança de fase. Na parte inferior da ilustra- ção, a fusão e a solidificação descrevem a conhecida mudança de estado entre sólido e líquido. À direita, os termos conden- sação e evaporação (ou vaporização na temperatura de ebulição) se aplicam à mudança entre líquido e gasoso. À esquerda, o termo sublimação refere-se à mudança direta do gelo para vapor d’água ou do vapor d’água para gelo; embora quando o vapor d’água se liga diretamente a um cristal de gelo isto seja chamado de deposição. A deposição de vapor d’água para gelo pode formar geada nas superfícies. Notícias 7.1 Quebrando estradas e encanamentos e afundando navios As pessoas que trabalham na manutenção de estradas ficam ocupadas no verão con- sertando os danos às ruas e rodovias em regiões onde os invernos são rigorosos. Uma grande contribuição a esses danos vem da mudança de estado expansiva da água para o gelo. A água da chuva se infil- tra nas rachaduras da rodovia e depois se expande à medida que congela, quebran- do o pavimento. Talvez você tenha nota- do que as pontes sofrem o maior dano. O motivo para isso é que o ar frio pode cir- cular por baixo de uma ponte e produzir mais ciclos gelo-degelo na ponte do que no leito da estrada na rocha e no solo. A expansão da água congelada exerce uma força tremenda – suficiente para ra- char o encanamento, um radiador de au- tomóvelou um bloco de motor (Figura 7.1.1). A proteção de canos de água com isolamento para prevenir danos é uma ta- refa comum no inverno em muitos luga- res. As pessoas que vivem em climas muito frios usam anticongelante e aquecedores para o bloco do motor e para a bateria a fim de evitar danos aos veículos. Historica- mente, essa propriedade física da água foi usada na quebra de rochas para materiais de construção. Buracos foram perfurados e enchidos com água antes do inverno, de forma que, quando o clima frio chegasse, a água congelaria e se expandiria, partindo a rocha em formatos fáceis de manusear. Um grande risco para os navios em altas latitudes é o gelo flutuante. Uma vez que o gelo tem aproximadamente 0,86 vezes a densidade da água, um ice- berg permanece com cerca de 6/7 de sua massa abaixo do nível da água. As bordas irregulares de gelo submarino podem impactar a lateral de um navio em movi- mento. A colisão com um iceberg entortou placas e rebites precários na lateral do RMS Titanic em sua viagem inaugural, em 1912, fazendo com que ele afundasse e talvez desencadeando uma breve dimi- nuição da fé da sociedade na tecnologia. Figura 7.1.1 Mais forte que ferro fundido. Este cano estourado demonstra o poder inegável da água à medida que ela congela, expandindo em até 9% de seu volume. As pessoas que vivem em climas frios devem tomar precauções para evitar esses da- nos. [Foto de Steven K. Huhtala.] Christopherson_Book.indb 180Christopherson_Book.indb 180 29/09/11 14:0529/09/11 14:05 Capítulo 7 Água e Umidade Atmosférica 181 Gelo, o estado sólido Conforme a água resfria, ela se comporta como a maioria dos compostos e se contrai em vo- lume. Entretanto, ela atinge sua maior densidade não como gelo, mas como água a 4°C. Abaixo dessa temperatura, a água se comporta diferentemente de outros compostos. Ela começa a se expandir conforme mais pontes de hidrogênio se formam entre as moléculas que se movem mais devagar, criando as estruturas hexagonais (seis lados) mostradas nas Figuras 7.5c e 7.6a. Essa preferência de seis lados aplica-se a cristais de gelo de todos os formatos: placas, colunas, agulhas e dendritos (formas de galhos ou de árvores). Os cristais de gelo demonstram uma interação singular entre o caos (todos os cristais de gelo são diferentes) e o determinismo dos prin- cípios físicos (todos têm uma estrutura de seis lados). Essa expansão de água e gelo que começa a 4°C continua até uma temperatura de �29°C (um aumento de volume de até 9% é possível). Essa expansão é importante no intem- perismo de rochas, nos danos a estradas e pavimentos e na quebra de encanamentos. Notícias 7.1 discute alguns efeitos do gelo. Para saber mais sobre os cristais de gelo e os flo- cos de neve, acesse http://www.its.caltech.edu/~atomic/ snowcrystals/ ou http://emu.arsusda.gov/snowsite/ default.html. A expansão de volume que acompanha o processo de so- lidificação resulta em um decréscimo na densidade (o mesmo número de moléculas ocupa um espaço maior). Especifica- mente, o gelo puro tem 0,91 vezes a densidade da água, por isso ele flutua. Sem essa mudança na densidade, grande parte da água doce na Terra ficaria presa em massas de gelo no fun- do do oceano. Na natureza, essa densidade varia levemente em razão da idade do gelo e do conteúdo de ar. Portanto, os icebergs flu- tuam com pouca variação de deslocamento, em média, cerca de 1/7 (14%) de sua massa exposta e aproximadamente 6/7 (86%) da porção submersa escondida por baixo da superfície oceânica (Figura 7.6d). Com porções submersas derretendo mais rápido do que aquelas acima da água, os icebergs são ine- rentemente instáveis e emborcarão. Vemos, na Figura 7.6b, o gelo com caneluras e ondulações que anteriormente estava submerso. (a) (c) (b) (d) Figura 7.6 A singularidade das formas de gelo. (a) A foto processada por computador revela padrões de cristais de gelo ditados pela estrutura interna entre as moléculas de água. (b) Icebergs que emborcaram ao longo da costa da Groenlândia, expondo porções submersas que foram esculpidas por correntes e canais de derretimento. (c) Agulhas de gelo formam-se no processo de solidificação de um córrego de água de derretimento na Gro- enlândia. (d) Um pequeno iceberg na costa da Antártica ilustra o estado de densidade-flutuabilidade do gelo que boia. [(a) Manipulação da foto © Scott Camazine/Photo Researchers, Inc., com base em W. A. Bentley; fotos (b), (c) e (d) de Bobbé Christopherson.] Christopherson_Book.indb 181Christopherson_Book.indb 181 29/09/11 14:0629/09/11 14:06 182 Parte II A Água e os Sistemas Meteorológico e Climático O Capítulo 13 discute a ação de congelamento do gelo como um importante processo de intemperismo físico e, o Capítulo 17, a ação de gelo-degelo da água superficial e subsuperficial que afeta aproximadamente 30% da superfí- cie terrestre em paisagens periglaciais, produzindo diversos processos e geoformas. Água, o estado líquido Como um líquido, a água assume a forma de seu recipiente e é um fluido não compressível. Para que o gelo se transforme em água, a energia térmica deve aumentar o movimento das moléculas de água a fim de quebrar algumas das ligações de hidrogênio (Figura 7.5b). Apesar de não haver muita mudança de temperatura sensível entre o gelo a 0°C e a água a 0°C, 80 calorias* de energia tér- * Lembre-se do Capítulo 2: uma caloria é a quantidade de energia necessária para aumentar a temperatura de 1 g de água (a 15°C) em 1 grau Celsius e é igual a 4,184 joules. mica devem ser absorvidas para que a mudança de estado de 1 g de gelo resulte em 1 g de água (Figura 7.7, parte superior esquerda). A energia térmica envolvida na mudança de estado é o calor latente e está escondido na estrutura da água. Ele é liberado sempre que o estado é revertido e uma grama de água congela. O calor latente da solidificação ou o calor latente da fusão envolve 80 calorias. Para elevar a temperatura de 1 g de água a 0°C até a ebu- lição a 100°C, devemos adicionar 100 cal, ganhando um au- mento de 1°C para cada caloria adicionada. Não há mudança de estado nesse ganho de temperatura. Vapor d’água, o estado gasoso O vapor d’água é um gás invisível e compressível no qual cada molécula se move independentemente das outras (Figura 7.5a). A mudança de estado de líquido para vapor na temperatura de ebulição, sob pressão normal ao nível do mar, exige a adição de 540 cal para cada grama, o calor latente de vaporização (Figu- Vapor d’água 1 grama 100°C Calor latente de fusão +80 calorias (absorvidas) +100 calorias (absorvidas) Calor latente de vaporização +540 calorias (absorvidas) Gelo 1 grama 0°C Água 1 grama 0°C Água 1 grama 100°C –540 calorias (liberadas) Calor latente de condensação –100 calorias (liberadas) –80 calorias (liberadas) Calor latente de solidificação –585 calorias (liberadas) Calor latente de condensação para 1 grama de água 20°C +540 calorias (absorvidas) Calor latente de evaporação para 1 grama de água Figura 7.7 Características de energia térmica da água. As mudanças de estado da água absorvem ou liberam bastante energia térmica latente. Para transformar 1 g de gelo a 0°C em 1 g de vapor d’água a 100°C são necessárias 720 cal: 80 � 100 � 540. A paisagem ilustra as mudanças de estado entre a água (lago a 20°C) e o vapor d’água sob condições típicas no ambiente. Christopherson_Book.indb 182Christopherson_Book.indb 182 29/09/11 14:0629/09/11 14:06 Capítulo 7 Água e Umidade Atmosférica 183 ra 7.7). Quando o vapor d’água se condensa em um líquido, cada grama libera as suas 540 cal armazenadas como calor latente de condensação. Talvez você tenha sentido a libe- ração do calor latente de condensação do vapor em sua pele quando escoou vegetais ou massa cozidos no vapor, ou ao en- cher uma chaleira. Em resumo, pegar 1 g de gelo a 0°C e mudar seu es- tado para água, e depois para vapor d’água a 100°C – de um sólido para um líquido e para um gás –absorve 720 cal (80 cal � 100 cal � 540 cal). Revertendo o processo, ou mudando o estado de 1 g de vapor d’água a 100°C para água, e depois para gelo a 0°C, libera 720 cal no ambiente circundante. O CD do Aluno com Animações que acompa- nha este livro tem uma excelente animação ilustrando esses conceitos. Propriedades térmicas da água na natureza Em um lago ou em água corrente, a 20°C, cada grama de água que se quebra da superfície por evaporação deve ab- sorver do ambiente aproximadamente 585 cal como calor la- tente de evaporação (ver Figura 7.7). Isso é um pouco mais de energia do que seria necessário se a água estivesse em uma temperatura mais alta, como a da ebulição (540 cal). Pode- mos sentir essa absorção de calor latente como resfriamento evaporativo na pele quando ela está molhada. Essa troca de calor latente é o processo de resfriamento predominante no balanço de energia terrestre. O processo é revertido quando o ar resfria e o vapor d’água condensa de volta ao estado líquido, formando gotícu- las de umidade e liberando 585 cal para cada grama de água como calor latente de condensação. Quando se percebe que uma pequena nuvem cumulus inflada em um dia de tempo bom mantém 500-1000 toneladas de gotículas de umidade, pense no enorme calor latente liberado quando o vapor d’água se condensou em gotículas. Os meteorologistas estimaram que a umidade no Fura- cão Katrina (2005) pesava mais de 30 trilhões de toneladas métricas em sua potência e massa máximas. Com 585 cal li- beradas para cada grama como calor latente de condensação, um evento meteorológico como um furacão envolve uma quantidade absurda de energia. O calor latente de sublimação absorve 680 cal à me- dida que uma grama de gelo se transforma em vapor. O va- por d’água se solidificando diretamente em gelo libera uma quantidade comparável de energia. Umidade Umidade refere-se ao vapor d’água no ar. A capacidade do ar para vapor d’água é principalmente uma função da tem- peratura – as temperaturas do ar e do vapor d’água, que ge- ralmente são as mesmas. Há diversas maneiras de expressar umidade, conforme discutido nesta seção. Estamos cientes da umidade no ar, pois sua relação com a temperatura do ar determina nosso senso de conforto. Os norte-americanos gastam bilhões de dólares por ano para ajustar a umidade, ou com ar condicionado (extraindo vapor d’água e resfriando) ou com umidificadores de ar (adicionan- do vapor d’água). Discutimos a relação entre umidade e tem- peratura e o índice de calor no Capítulo 5. Para determinar a energia disponível para impulsionar o clima, é preciso saber o conteúdo de vapor d’água do ar e relacionar isso em uma razão com o equilíbrio de saturação do ar em uma determinada temperatura. Umidade relativa Depois da temperatura do ar e da pressão atmosférica, a in- formação mais comum no noticiário sobre o tempo meteo- rológico é a umidade relativa. Umidade relativa é uma razão (expressa como porcentagem) da quantidade de vapor d’água que de fato está no ar comparada ao vapor d’água máximo possível no ar em uma determinada temperatura. A umidade relativa varia por causa do vapor d’água ou de mudanças de temperatura no ar. A fórmula para calcular a razão de umidade relativa e expressá-la como porcentagem coloca a umidade como numerador e o vapor d’água possível no ar como denominador. O ar mais quente aumenta a taxa de evaporação das superfícies líquidas, ao passo que o ar mais frio tende a au- mentar a taxa de condensação de vapor d’água em superfícies líquidas. Como há uma quantidade máxima de vapor d’água que pode existir em um volume de ar em determinada tem- peratura, as taxas de evaporação e condensação podem atin- gir o equilíbrio em algum momento; o ar, então, fica saturado com umidade. A umidade relativa nos diz a proximidade do ar em relação à saturação e é uma expressão de um processo constante de moléculas de água se movendo entre superfícies aéreas e úmidas. Na Figura 7.8, às 17h, a taxa de evaporação excede a con- densação nas maiores temperaturas desse horário do dia, e a umidade relativa está a 20%. Às 11 da manhã, as taxas de evaporação ainda excedem a condensação, embora não tanto, uma vez que as temperaturas durante o dia não são tão altas, então o mesmo volume de vapor d’água agora ocupa 50% da capacidade máxima possível. Às 5 da manhã, no ar matinal mais frio, existe o equilíbrio de saturação e qualquer resfria- mento posterior ou adição de vapor d’água produz conden- sação líquida. Quando o ar está saturado com vapor d’água máximo para sua temperatura, a porcentagem de umidade relativa é de 100%. Saturação Conforme mencionado, o ar está saturado, umidade relativa de 100%, quando a taxa de evaporação e a taxa de condensação – a transferência líquida de moléculas de água – atingem o equilíbrio. A saturação indica que qualquer adição de vapor d’água ou qualquer diminuição da tempera- tura que reduz a taxa de evaporação resulta em condensação ativa (nuvens, nevoeiro ou precipitação). A temperatura em que determinada massa de ar se torna saturada e a condensação líquida começa a formar gotículas de água é a temperatura de ponto de orvalho. O ar está sa- turado quando a temperatura de ponto de orvalho e a temperatura do ar são as mesmas. Quando as temperaturas estão abaixo de zero, o termo ponto de congelamento às vezes é usado. Christopherson_Book.indb 183Christopherson_Book.indb 183 29/09/11 14:0629/09/11 14:06 184 Parte II A Água e os Sistemas Meteorológico e Climático Uma bebida gelada em um copo é um exemplo comum dessas condições. As gotículas de água que se formam no ex- terior do copo se condensam do ar porque a camada de ar ao lado do copo é resfriada abaixo de sua temperatura de ponto de orvalho e, portanto, torna-se saturada (Figura 7.9). A Fi- gura 7.9 mostra dois exemplos adicionais de ar saturado e condensação ativa acima de uma superfície rochosa e em uma formação de nevoeiro sobrejacente a uma superfície oceânica fresca. Ao caminhar para a aula em algumas manhãs, talvez você perceba gramados úmidos, uma indicação de condições de ponto de orvalho no ar fresco matinal. Satélites que usam sensores infravermelhos rotineira- mente percebem vapor d’água na baixa atmosfera. O vapor d’água absorve comprimentos de onda longos (infraverme- Figura 7.8 Vapor d’água, temperatura e umi- dade relativa. O vapor d’água máximo possível no ar quente é maior (evaporação líquida) do que o do ar frio (condensação líquida), por isso a umidade relativa muda com a temperatura, embora neste exemplo o vapor d’água real presente no ar fi- que o mesmo durante o dia. Vapor d’água Vapor d’água 20% umidade relativa 17 horas 50% umidade relativa 11 horas Máximo vapor d’água possível Vapor d’água 100% umidade relativa 5 horas Saturação Ar mais frio – menor capacidade máxima de vapor possível Ar mais quente – maior capacidade máxima de vapor possível (b) (c) (a) O copo frio resfria a camada de ar circundante até a temperatura de ponto de orvalho. Orvalho (condensação ativa) Figura 7.9 Exemplos de temperatura de ponto de orvalho. (a) A baixa temperatura do copo resfria a camada de ar circun- dante até atingir a temperatura de ponto de orvalho e a simultâ- nea saturação. Dessa forma, o vapor d’água condensa do ar e para o copo como orvalho. (b) O ar frio acima das rochas ensopa- das de chuva está no ponto de orvalho e saturado. A água eva- pora da rocha para o ar e se condensa em um véu de nuvens em constante transformação. (c) A fria superfície oceânica resfria a camada de ar úmido até o ponto de orvalho e a saturação; forma- -se um denso nevoeiro. À noite, quando as temperaturas baixam nas terras costeiras, forma-se um nevoeiro mais para o interior do continente, à medida que as temperaturas do ponto de orvalho se movem para o continente, dando a aparência de que o nevoeiro está se movendo em direção à costa. [Fotos do autor.] Christopherson_Book.indb 184Christopherson_Book.indb184 29/09/11 14:0629/09/11 14:06 Capítulo 7 Água e Umidade Atmosférica 185 lho), possibilitando distinguir áreas de vapor d’água relati- vamente alto de áreas de vapor d’água baixo. A Figura 7.10 inclui imagens do Furacão Michelle e do Hemisfério Oci- dental mostrando o conteúdo do vapor d’água gravado por sensores do “canal de vapor d’água”. Essa capacidade é im- portante para a previsão, pois mostra a umidade disponível aos sistemas meteorológicos e, portanto, a energia térmica latente disponível e a precipitação potencial. Padrões diários e sazonais de umidade relativa Ocor- re uma relação inversa durante um dia típico entre a tempe- ratura do ar e a umidade relativa – conforme a temperatura sobe, a umidade relativa cai (Figura 7.11a). A umidade relativa tem seu pico ao amanhecer, quando a temperatura do ar é menor. Se você deixa o carro estacionado na rua, conhece a umidade do orvalho que condensa sobre seu carro ou bicicle- ta durante a noite. Em sua própria experiência, você provavel- mente observou esse padrão – o orvalho matinal nas janelas, nos carros e nos gramados evapora no final da manhã confor- me a evaporação líquida aumenta com a temperatura do ar. A umidade relativa é menor no final da tarde, quando as temperaturas maiores aumentam a taxa de evaporação. Con- forme mostrado na Figura 7.8, o vapor d’água real presente no ar pode permanecer o mesmo durante o dia. Porém, a umidade relativa muda porque a temperatura e, portanto, a taxa de evaporação, varia da manhã para a tarde. (a) (b) Figura 7.10 Imagens em infravermelho do vapor d’água na atmosfera feitas pelo satélite GOES-8. (a) Na escala usada para essa imagem, a cor denota os topos de nuvens de grande altitude que são mais frios sobre o Golfo do México e Caribe. O Furacão Michelle e seu forte desenvolvimento vertical são claramente visíveis indo para o oeste de Cuba e pró- ximo à Flórida, em 4 de novembro de 2001. (b) Vapor d’água sobre a totalidade do Hemisfério Ocidental com maior conteúdo de vapor d’água indicado por tons de cinza mais claro; observe a circulação de baixa pressão subpolar. [imagens do GOES cortesia da Divisão de Serviços de Satélites NESDIS/NOAA.] Christopherson_Book.indb 185Christopherson_Book.indb 185 29/09/11 14:0629/09/11 14:06 186 Parte II A Água e os Sistemas Meteorológico e Climático A variação sazonal em umidade relativa por hora do dia confirma a relação entre temperatura e umidade relativa (Figura 7.11b). No Hemisfério Norte as leituras de janeiro são maiores do que as de julho porque as temperaturas do ar são geralmente menores no inverno. Registros semelhantes de umidade relativa na maioria das estações meteorológicas demonstram a mesma relação entre estação do ano, tempe- ratura e umidade relativa. Expressões de umidade Há diversas maneiras de expressar umidade e umidade rela- tiva e cada uma tem sua própria utilidade e aplicação. Duas medidas envolvem pressão de vapor e umidade específica. Pressão de vapor À medida que as moléculas de água evaporam das superfícies para a atmosfera, tornam-se vapor d’água. Agora parte do ar, as moléculas de vapor d’água exer- cem uma porção da pressão atmosférica junto com moléculas de nitrogênio e oxigênio. A parte da pressão atmosférica que é composta de moléculas de vapor d’água é a pressão de va- por, expressa em milibares (mb). Conforme explicado anteriormente, atinge-se a saturação quando o movimento das moléculas de água entre a super- fície e o ar está em equilíbrio. O ar que contém o máximo possível de vapor d’água a uma determinada temperatura está em pressão de saturação de vapor. Qualquer aumento ou redu- ção de temperatura mudará a pressão de saturação de vapor. A Figura 7.12 mostra um gráfico da pressão de saturação de vapor em diversas temperaturas do ar. O gráfico ilustra que, para cada aumento de temperatura de 10°C, a pressão de satu- ração de vapor d’água no ar quase dobra. Essa relação explica por que o ar tropical quente sobre o oceano pode reter tanto vapor d’água, fornecendo muito calor latente para podero- sas tempestades tropicais. Também explica por que o ar frio é “seco” e por que o ar frio em direção aos polos não produz muita precipitação (ele contém muito pouco vapor d’água, embora esteja próximo à temperatura de ponto de orvalho). Conforme indicado no gráfico, o ar a 20°C tem pressão de saturação de vapor de 24 mb; ou seja, o ar está saturado se a parte de vapor d’água da pressão atmosférica também for de 24 mb. Desta forma, se o vapor d’água realmente pre- sente estiver exercendo uma pressão de vapor de apenas 12 mb no ar a 20°C, a umidade relativa é de 50% (12 mb � 24 � 0,50 � 100 � 50%). A inserção na Figura 7.12 compara a pressão de saturação de vapor sobre superfícies com água e com gelo a temperaturas abaixo do ponto de congelação. Vemos que essa pressão de saturação de vapor é maior acima de uma superfície com água do que sobre uma superfície com gelo – isto é, mais moléculas de vapor d’água são necessárias para saturar o ar acima da água do que acima do gelo. 35° 30° 25° 15° 10° 5° 0° –5° –10° U m id ad e re la tiv a (% ) T em pe ra tu ra ( °C ) Meia- -noite Meio- -dia 18 horas Meia- -noite Meio- -dia 18 horas Meia- -noite 22 de julho 23 de julho (a) 100 80 60 40 20 0 20° 22 horas 4 horas 10 horas 16 horas 22 horas (b) U m id ad e re la tiv a (% ) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Janeiro Abril Outubro Julho 22 horas 4 horas 10 horas 16 horas 22 horas Hora do dia Leituras mais altas de umidade relativa quando o ar é mais frio Leituras mais baixas de umidade relativa quando o ar é mais quente Temperatura mais alta Temperatura mais baixa Maior umidade relativa Menor umidade relativa Figura 7.11 Padrões diários e sazonais de umidade relativa. (a) Variações diárias típicas demonstram relações entre temperatura e umidade relativa; (b) variações sazonais em umidade relativa diária. Christopherson_Book.indb 186Christopherson_Book.indb 186 29/09/11 14:0629/09/11 14:06 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.