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VIABILIDADE ECONÔMICA EM ENER- GIAS RENOVÁVEIS Sumário Unidade 1: Viabilidade econômica de sistemas fotovoltaicos no Brasil e possíveis efeitos no setor elétrico .......................................................................... 5 Seção 1.1: Introdução ................................................................................................. 5 Seção 1.2: Situação atual da energia fotovoltaica no Brasil ........................................ 6 Seção 1.3: Dimensionamento do sistema FV.............................................................. 8 Seção 1.4: Custo da energia fotovoltaica .................................................................. 11 Seção 1.5: Estrutura tarifária da energia elétrica convencional................................. 14 Seção 1.6: Viabilidade da energia solar fotovoltaica distribuída................................ 16 Unidade 2: A Viabilidade Econômica da implantação de Energia Solar Fotovoltaica para a redução dos custos com energia elétrica das famílias com diferentes níveis de renda ...................................................................................... 23 Seção 2.1: Introdução ............................................................................................... 23 Seção 2.2: Energias Renováveis .............................................................................. 25 Seção 2.3: A Matriz Elétrica Brasileira ...................................................................... 27 Seção 2.4: Principais políticas públicas voltadas à produção de energia renovável no Brasil ......................................................................................................................... 28 Seção 2.5: Crescimento Econômico, Classes de Renda e Consumo de Energia ..... 30 Seção 2.6: Descrições dos Dados, Procedimentos e Instrumentos de Pesquisa ..... 31 Seção 2.7: Modelo Teórico para Análise de Viabilidade Econômico-financeira ........ 32 Seção 2.8: A Estatística Descritiva e o Modelo de Regressão Linear ....................... 33 Seção 2.9: As Características de Renda e Consumo de Energia Elétrica nas Residências em Estudo ............................................................................................. 35 Referências .............................................................................................................. 41 Unidade 1: Viabilidade econômica de sistemas fotovoltaicos no Brasil e possíveis efeitos no setor elétrico Seção 1.1: Introdução A busca por fontes de energia renováveis é um dos grandes desafios enfrentados pela humanidade nos últimos anos e vem ganhando mais importância com a intensificação do efeito estufa. Uma das formas mais promissoras de contornar esse problema é aproveitar a energia fornecida pelo sol, fonte limpa e gratuita de energia. Atualmente, existem duas formas de gerar energia elétrica a partir dos raios solares, conhecidas como fotovoltaica e heliotérmica. A heliotérmica utiliza espelhos e lentes para concentrar os raios solares em um ponto específico, aquecendo uma solução que gera vapor e aciona uma turbina que é utilizada para produzir eletricidade. Já a fotovoltaica consiste na geração de energia elétrica por meio de materiais semicondutores que apresentam o efeito fotovoltaico. Esse fenômeno químico/físico pode ser definido como a formação de tensão elétrica ou corrente em um material que é exposto à luz. Os avanços tecnológicos recentes na área de semicondutores e o aumento da produção de células solares ajudaram a diminuir o preço de sistemas fotovoltaicos (FVs). Esse fato é ilustrado no gráfico 1, no qual se pode observar que o valor por watt de energia produzido caiu de US$ 79,67 para U$$ 0,36 em menos de quarenta anos (Diamandis, 2014). A diminuição dos preços é um dos principais fatores que impulsionam o crescimento do mercado fotovoltaico. Em 2015, a produção mundial chegou à marca de 230 GW, mais de quarenta vezes a produção de 2006 (Schmela, 2016). As projeções apontam até 700 GW de potência instalada em 2020. O principal objetivo deste estudo é analisar a viabilidade financeira da implantação de sistemas FVs no Brasil, mais especificamente nas regiões menos favorecidas socioeconomicamente, e estudar seu impacto na estrutura tarifária atual. As regiões mais vulneráveis economicamente são atraentes, pois apresentam, em geral, as maiores incidências solares do país, fator fundamental para a geração fotovoltaica. Outra finalidade deste trabalho é atualizar os dados obtidos no Texto para Discussão do Ipea intitulado Energia Fotovoltaica Ligada à Rede Elétrica: atratividade para o consumidor final e possíveis impactos no sistema elétrico, publicado em fevereiro de 2013 (Cabello e Pompermayer, 2013). Desde então, o barateamento dos equipamentos, o aumento das tarifas cobradas pelas distribuidoras de energia elétrica e a atualização dos dados disponíveis sugeriram um novo trabalho acerca do mesmo tema. Seção 1.2: Situação atual da energia fotovoltaica no Brasil Em abril de 2012, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) publicou a Resolução Normativa no 482/2012, que regulamentou a geração distribuída de energia. Isso se deu por meio da definição do sistema de compensação, conhecido internacionalmente como net metering, um arranjo no qual a energia ativa injetada na rede por uma unidade distribuidora é cedida à distribuidora e posteriormente compensada com o consumo de energia. Este esquema incentiva o desenvolvimento de sistemas FVs em outros países da América Latina. O México entrou 2016 com mais de 100 MW instalados. Além dele, Costa Rica, Panamá e República Dominicana são outros países nos quais a energia solar vem sendo explorada. Ao fim do mês, se a geração for maior que o consumo, o saldo restante, chamado crédito de energia, pode ser usado para abater o consumo em algum mês subsequente, restando ao consumidor somente o pagamento da tarifa básica (30 kWh para instalações monofásicas, 50 kWh para bifásicas e 100 kWh para trifásicas). Se o consumo for maior que a geração, o consumidor paga a diferença entre a energia total consumida e a gerada. A geração distribuída apresenta diversos benefícios ao sistema elétrico, como o baixo impacto ambiental, a redução das cargas na rede, a diversificação da matriz energética e a diminuição das perdas. Apesar do enorme potencial de geração fotovoltaica no Brasil, a quantidade de energia produzida dessa forma ainda não é significativa. O país conta com cerca de 176 MW de potência centralizada instalada, totalizando 0,1% da potência total. Esse valor é bem inferior ao dos países líderes do ranking de produção, como Estados Unidos, China e Alemanha. Entretanto, é evidente o crescimento desse tipo de geração no Brasil. Foram registradas mais de 3,5 mil novas conexões de sistemas FVs em 2016 e projeções apontam o país entre os vinte maiores produtores de energia solar em 2018. Em 2015, a ANEEL publicou a Resolução Normativa no 687/2015, que acrescentou alguns benefícios aos micro geradores. Entre eles, a possibilidade de geração distribuída conjunta, isto é, a energia gerada pode ser repartida entre várias residências de acordo com seus interesses, desde que elas façam parte da mesma área de concessão. Além disso, a validade dos créditos de energia passou de 36 para 60 meses, a potência máxima de geração por unidade aumentou de 1 MW para 5 MW e o processo de adesão para conectar a geração distribuída à rede de distribuição foi simplificado. Essa resolução normativa parece ter contribuído bastante para o crescimento no número de instalações de sistemas FVs nos últimos dois anos. Atualmente, os estados que apresentam o maior número de conexões à rede elétrica são Minas Gerais e São Paulo. Já os estados do Norte e alguns do Nordeste não apresentamum número significativo de usuários com sistemas FVs conectados. As regiões mais interessantes para a instalação desses sistemas serão expostas adiante neste trabalho. O gráfico 2 mostra como era a distribuição de conexões nos estados ao final de 2015. Seção 1.3: Dimensionamento do sistema FV Para avaliar a atratividade da energia fotovoltaica, é fundamental conhecer o custo dos equipamentos, de instalação e manutenção. Para isso, é necessário analisar previamente a carga desejada do sistema FV, ou seja, quanta energia será produzida por ele. Inicialmente, o intuito era dimensionar sistemas FVs para suprir parcial, total e excessivamente a demanda de energia elétrica média residencial. No caso em que a produção é maior que o consumo, a diferença é injetada na rede de distribuição, caracterizando uma instalação do tipo grid-tie. Esse modelo de sistema é conectado diretamente na rede elétrica, exigindo equipamentos mais complexos que os de sistemas isolados (off-grid), que utilizam baterias para armazenar a energia sobressalente. Um dos principais componentes de um sistema FV é o inversor de frequência. Sua função é transformar a corrente contínua que é gerada pelas placas solares em corrente alternada, que pode ser usada pelos aparelhos elétricos convencionais. Por estar conectado diretamente na rede elétrica, um inversor do tipo grid-tie deve fazer a sincronização de frequência da energia produzida com a fornecida da rede pública de eletricidade. Esse é o principal fator que torna os preços de inversores de frequência desse tipo de sistema maiores que os de off-grid. A tabela 1 mostra um comparativo do preço dos inversores para as duas configurações fotovoltaicas existentes. Existem modelos de inversores mais sofisticados, que contam com suporte à conexão para comunicação de dados sem fio, para administrar e acompanhar a geração do sistema. Esses modelos não foram considerados devido ao seu elevado custo e por essas funcionalidades não serem essenciais a este trabalho. Em virtude do alto valor do inversor, o intuito de gerar energia para suprir parcialmente uma residência foi abandonado. Com o aumento do número de placas no sistema, o preço do inversor é diluído no valor total. O custo unitário do sistema por unidade de potência, ou seja, por watt-pico (Wp), fica mais barato à medida que a capacidade de geração aumenta. Esse fato pode ser observado na tabela 2. As placas solares contidas na tabela 2 foram escolhidas levando em consideração alguns aspectos, como preço, reputação da marca no mercado, eficiência e geração de energia. A tabela 3 apresenta três modelos de placa analisados. A placa Globo Brasil é de uma empresa brasileira de painéis solares. O seu valor foi bastante superior ao das concorrentes, que apresentaram o mesmo custo por watt-pico. Optou-se, para fins de simulação, pela utilização da placa Canadian CSI CS6P-265P, visto que sua disponibilidade no mercado nacional é maior que a da Yingli. O último equipamento necessário para o sistema FV é o quadro de proteção de corrente contínua para esse tipo de sistema, conhecido como stringbox. Esse dispositivo serve para protegê-lo de eventuais distúrbios elétricos que podem afetar as placas e o inversor. O modelo que apresentou o melhor custo-benefício foi o ABB 02 Strings 1000V, por R$ 1.757, encontrado na loja Minha Casa Solar. Esse equipamento suporta todas as configurações de sistemas que serão testados neste trabalho. A tabela 4 mostra os valores totais dos sistemas FVs, para seis, dez e dezoito placas solares. O custo da instalação foi aproximado com base em um valor de R$ 250 por placa, já considerando o suporte físico, a partir de entrevistas a empresas e profissionais do ramo. O gráfico 3 mostra a constituição dos custos referente a cada parte do sistema, em que as placas fotovoltaicas correspondem a quase metade do valor total. Ainda há bastante espaço para o barateamento do sistema, uma vez que o preço das células de silício vem caindo ano após ano. Apesar do valor elevado dos sistemas FVs, esses são conhecidos pela longa vida útil, podendo chegar a mais de 25 anos de funcionamento pleno. Seção 1.4: Custo da energia fotovoltaica Com os custos de implantação definidos, pode-se calcular o valor da energia produzida pelo sistema FV utilizando o total de gastos iniciais e de manutenção divididos pelo total de energia produzida. Foram considerados três horizontes de tempo de dez, quinze e vinte anos. A fórmula utilizada para o cálculo do custo unitário por energia gerada é apresentada a seguir. Em que N é o número de anos considerado; Invi é o investimento no ano i; CO&Mi são os custos de operação e manutenção no ano i; EneProd é a energia produzida no ano i; h é o fator de decaimento anual da eficiência da placa; e taxa é a taxa de desconto ao ano. Os investimentos ocorrem em dois momentos distintos: no ano inicial (i = 0) no qual são comprados todos os equipamentos necessários no valor especificado na tabela 4 e ao final do 15o ano, quando o inversor e o stringbox são substituídos. Não existem dados sobre os custos de manutenção e operação de um sistema FV. A única recomendação é retirar a poeira das placas de tempos em tempos. Adotou- se, então, R$ 20, R$ 30 e R$ 40 como os valores anuais desse parâmetro para os sistemas de seis, dez e dezoito placas, respectivamente. A taxa de desconto utilizada foi de 5% ao ano. Esse valor se aproxima do rendimento real de um título da dívida pública, depois de descontada a inflação do período e o imposto de renda. Essa taxa foi adotada tendo em vista a condição de que o indivíduo que for investir no sistema já possua os recursos financeiros para tal, e que eles estejam aplicados em algum título da dívida pública. Outra opção é considerar o custo de empréstimos junto a bancos, que em geral seriam superiores. Entretanto, há linhas específicas de crédito no Banco do Nordeste, com custo menor. Para o cálculo da energia anual produzida foram considerados diversos aspectos. O primeiro deles é o decaimento da potência de saída máxima da placa (h), cerca de 0,7% por ano (Canadian Solar, 2016). Os dados de radiação solar média incidente no território são fornecidos em quilowatt-hora por metro quadrado (kWh/m2), logo, era necessário calcular a área do painel solar e descobrir sua eficiência. Essas informações foram encontradas nas especificações da placa disponibilizadas pelo fabricante (Canadian Solar, 2016). A geração diária em kWh por placa é dada pela equação a seguir. Geração = Radiação Incidente x Eficiência x Área A geração calculada pela equação (2) não leva em conta as perdas inerentes a qualquer sistema FV. Fatores como eficiência do inversor, perdas de sincronismo e no circuito, térmicas, por reflexão, entre outros, diminuem a quantidade de energia aproveitada pelo sistema. Para modelar essas perdas, adotou-se um fator de aproveitamento de 75% da energia gerada em (2), com base em estudos semelhantes como Cabello e Pompermayer (2013) e EPE (2012). Uma das métricas mais utilizadas para se referir à geração de uma placa solar é o número de horas de sol pleno, período no qual a placa consegue fornecer sua potência máxima. Esse valor pode ser calculado dividindo a geração efetivamente obtida em um dia representativo (em kWh) pela potência de pico da placa (em kW). Com o número de horas de sol pleno é possível calcular a produção total do sistema FV, multiplicando esse número pela potência de pico total das placas. A média de incidência solar diária nos municípios do Brasil é de 5,26 kWh/m2.3 Considerando esse valor no cálculo da geração fotovoltaica, os custos unitários para os cenários considerados são apresentados na tabela 5. Os menores custos unitários foram obtidos no investimento que considera o horizonte detempo de quinze anos, no qual não há necessidade da reposição de equipamentos. Como esperado, quanto maior o número de placas solares no sistema, menor o custo unitário (em R$/kWh). Os valores de incidência solar diária média podem ser observados no mapa 1. Apesar dos diferentes tipos de clima existentes no país, a irradiação solar apresenta boa uniformidade. O valor máximo de irradiação global – 6,5 kWh/m² – é identificado no norte do estado da Bahia, na fronteira com o Piauí. Além disso, essa região apresenta uma baixa média anual de cobertura de nuvens (Pereira, 2006). Já a menor irradiação é encontrada no litoral de Santa Catarina. Entretanto, a região Sul recebe mais radiação solar durante o verão do que a Norte, mesmo estando mais próxima da linha do Equador. No inverno, a tendência se inverte, a maior variação entre estações do ano é observada na região Sul do país. A tabela 6 apresenta os custos unitários médios em cada estado brasileiro. Esses valores foram calculados com base na fórmula (1), com a energia produzida estimada a partir da irradiação média de cada estado. É possível observar que os custos são menores onde a radiação solar é maior, como no Nordeste. Seção 1.5: Estrutura tarifária da energia elétrica convencional O valor pago pela energia elétrica vai muito além do preço de aquisição da energia, paga-se também pela sua disponibilidade 24 horas por dia, sete dias por semana. A tarifa deve ser suficiente para arcar com os custos de operação e expansão de todo sistema de transmissão e distribuição, desde onde a energia é gerada até o consumidor final. Além disso, existe a compensação pelas perdas e os tributos cobrados pelo governo. Resumidamente, a tarifa é composta por cinco partes: • custos com a aquisição de energia elétrica; • custos relativos ao uso do sistema de distribuição; • custos relativos ao uso do sistema de transmissão; • perdas técnicas e não técnicas; e • encargos diversos e tributos. Os custos com a aquisição de energia são resultantes de processos de contratação de valores de energia por meio de leilões regulados, nos quais a empresa distribuidora compra a quantidade suficiente para atender os consumidores de sua área de concessão. Os custos dessa operação são repassados integralmente ao consumidor, sem margem de lucro para a distribuidora. Os custos relativos ao uso de sistema de distribuição e transmissão estão inseridos na tarifa para cobrir as despesas de capital e os custos de operação e manutenção tanto do sistema de distribuição quanto do de transmissão de energia. As perdas elétricas são divididas em duas porções, técnicas e não técnicas. A energia dissipada pelos condutores quando há passagem de corrente é considerada uma perda técnica, inerente a qualquer circuito elétrico. Esse tipo de perda é ocasionado pelo próprio consumo dos usuários. Já as não técnicas são resultantes de furtos e problemas com os medidores. A última parte da composição da tarifa é referente aos tributos e aos encargos setoriais. O objetivo destes é garantir o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos das distribuidoras, compensando alguns subsídios dados a grupos específicos de usuários. Os tributos incidentes na tarifa são o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). A incidência de impostos e encargos pode representar mais de 40% do valor total da tarifa, dependendo do estado. Outro fator que influencia o valor da tarifa é a bandeira tarifária, que representa o custo sazonal na geração de energia. Ou seja, a variação do custo para gerar energia com relação a aspectos que mudam de acordo com a época do ano, como volume de chuva, disponibilidade hídrica e outras variantes. Existem três bandeiras atualmente que são acionadas dependendo do custo variável de geração térmica: verde (sem acréscimo na tarifa), amarela (acréscimo de R$ 0,02 por kWh) e vermelha (patamar 1 gera um acréscimo de R$ 0,03 por kWh e patamar 2, de R$ 0,035). A tarifa média cobrada pelas concessionárias do Brasil em março de 2017 foi de R$ 0,45 por kWh,4 sem a incidência de ICMS e PIS/Cofins. Considerando os impostos, o valor da tarifa aumenta significativamente. Esses fatores são levados em conta na seção seguinte, que trata do estudo da viabilidade do sistema descrito. O gráfico 4 mostra a composição média da conta de luz dos brasileiros. Seção 1.6: Viabilidade da energia solar fotovoltaica distribuída Para avaliar a viabilidade da adoção do sistema FV por consumidores residenciais, devemos levar em consideração dois aspectos principais: o custo da energia produzida por esse sistema e o custo da energia fornecida pela concessionária no local em questão. O valor da energia produzida foi calculado pela metodologia apresentada anteriormente neste trabalho, levando em conta os custos dos equipamentos e da instalação e a incidência solar de cada município brasileiro (mapa 1). O cálculo do custo da energia fornecida pela concessionária foi feito tendo em vista o valor fornecido pela ANEEL para cada distribuidora, acrescido dos impostos incidentes na tarifa. O ICMS varia de estado para estado e de acordo com a faixa de consumo em kWh. Todos esses fatores foram considerados para uma melhor estimativa do valor da tarifa. Como já mostrado na tabela 5, o sistema FV que produziu a energia com menor custo foi o de dezoito placas em um horizonte de investimento de quinze anos. Esse valor é utilizado para calcular a razão do custo da energia produzida pela tarifa correspondente. Essa proporção é fundamental para avaliar onde a energia fotovoltaica pode ser competitiva. O mapa 2 apresenta os valores atualmente cobrados pelas distribuidoras, sem considerar ICMS e PIS/Cofins. A tarifa média é de aproximadamente R$ 0,46 por kWh. Pará, Rio de Janeiro e Minas Gerais são os estados que apresentam a maior tarifa média; Roraima e Amapá, por sua vez, são os que exibem a menor. O mapa 3 expõe os valores médios das tarifas com a incidência de tributos. Pará e Rio de Janeiro continuam com as tarifas mais elevadas, assim como Roraima e Amapá com as mais baixas. Diferentes alíquotas de ICMS fazem alterar a ordem entre os estados. O mapa 4 mostra as regiões onde a utilização de energia fotovoltaica é mais economicamente viável quanto mais verde escuro, mais viável. O estado do Pará apresenta uma das melhores razões, o que se deve ao valor da tarifa da distribuidora, a quarta mais cara do país de acordo com dados da ANEEL, e ao fato da incidência solar ser razoavelmente alta. Já Roraima, apesar de apresentar bons índices de radiação, não possui uma relação tão vantajosa, visto que a tarifa e o ICMS incidente estão entre os menores do país. De qualquer forma, em todos os municípios brasileiros o custo de geração fotovoltaica é menor que o da energia fornecida pelas distribuidoras na tarifa residencial com tributos, conforme o gráfico 5. O Convênio ICMS no 16, de 22 de abril de 2015, autorizou alguns estados a conceder isenção de ICMS incidente sobre a energia elétrica fornecida pela distribuidora à unidade consumidora. Isso devia ser feito na quantidade correspondente à soma da energia elétrica injetada na rede de distribuição pela mesma unidade consumidora com os créditos de energia ativa originados nesta própria unidade no mesmo mês, em meses anteriores ou em outra unidade consumidora do mesmo titular, nos termos do Sistema de Compensação de Energia Elétrica, estabelecido pela Resolução Normativa no 482, de 17 de abril de 2012. Nos casos em que os créditos de energia são consumidos por outro titular (geração remota), não há isenção de tributos. Desse modo, o gráfico 6 mostra a distribuição da razão de custos de energia fotovoltaica e da tarifacobrada pela concessionária sem tributos. Apesar de menos viável economicamente, mais de 40% dos municípios estão com uma razão menor que 0,9. Apesar de a demanda por energia elétrica variar ao longo do dia, o valor cobrado dos consumidores residenciais pelas concessionárias é o mesmo, independentemente do horário. Visando beneficiar os usuários que consomem energia fora dos horários de pico, a ANEEL estabeleceu a possibilidade de adesão a uma nova modalidade de cobrança, chamada tarifa branca. Essa metodologia adota valores de tarifa menores que o convencional para horários fora de ponta e maiores para períodos intermediários e de ponta. No momento, essa modalidade aplica-se somente a pessoas jurídicas. Existem dois picos de consumo durante o dia, um de manhã (por volta das 7h/8h) e outro no início da noite (18h/19h), mas somente este último é considerado como horário de ponta na cobrança da tarifa branca. Segundo a Resolução Normativa no 733/2016, o consumidor pode solicitar a mudança para esse método tarifário a partir de 1o de janeiro de 2018. A implantação desse novo modelo é extremamente relevante no que tange à energia fotovoltaica. A geração desse tipo de energia é concentrada no período das 9h às 15h, quando a tarifa fornecida pela concessionária é mais barata na modalidade branca, por ser, geralmente, do tipo fora de ponta. Em outras palavras, a energia gerada pelo sistema FV é considerada mais barata que o valor convencional. Por esse motivo, outra comparação foi realizada, utilizando o custo de geração solar e os valores de tarifa branca fora de ponta. Cada concessionária adota um valor diferente para os postos tarifários. O preço fora de ponta é, em média, 17% menor do que a tarifa convencional cobrada pelas distribuidoras. De modo geral, não houve notável diferença na distribuição espacial dos municípios onde a utilização da energia fotovoltaica é mais vantajosa economicamente. Todavia, a razão entre o custo da energia produzida e o valor cobrado pela concessionária aumentou como um todo, visto que a tarifa fora de ponta é mais barata que a convencional, utilizada na comparação anterior. Apesar de os cálculos serem um tanto simplificados, considerando valores médios de tributos e tarifas das distribuidoras, eles indicam uma alta viabilidade dos sistemas FVs conectados à rede. Ressalta-se, também, que o custo da energia fotovoltaica foi calculado considerando preços de equipamentos divulgados por sites especializados, mas nenhuma negociação de valor foi realizada. É possível que preços ainda menores possam ser obtidos, o que aumentaria ainda mais a atratividade da energia fotovoltaica. Para consumidores que usufruem de tarifas subsidiadas, como os de baixa renda e os rurais, a atratividade é, naturalmente, menor. Unidade 2: A Viabilidade Econômica da implantação de Energia Solar Fotovoltaica para a redução dos custos com energia elétrica das famílias com diferentes níveis de renda Seção 2.1: Introdução A utilização da energia elétrica sem dúvida foi um passo importante para a melhoria da qualidade de vida da humanidade. Sua utilização tornou-se essencial para países em desenvolvimento, uma vez que, quanto maior for a oferta de energia elétrica maior será o crescimento econômico, sendo a sua utilização também relacionada a questões sociais, tais como: a redução da pobreza, o crescimento populacional e o grau de urbanização. Dada a importância da energia elétrica para o ser humano, sua utilização tornou-se vital e seu uso indispensável para todas as classes sociais, até mesmo para os que dispõe de menos recursos financeiros. (NADIMI; TOKIMATSU, 2018a). Para a população, energia elétrica significa qualidade de vida, e está ligada as condições de saúde, trabalho, habitação, etc. Portanto, não podendo ser relacionado tão somente ao conforto, logo a quantidade de energia que cada família utiliza influência na renda e no nível de pobreza. Assim, os consumidores com menor renda enfrentam diversos obstáculos, pois o consumo de energia elétrica é inevitável e, parte da sua renda está vinculada com as despesas desta. (NADIMI; TOKIMATSU, 2018b; PASTEN; SANTAMARINA, 2012). Um outro tema que vem sendo discutido com maior intensidade nos dias atuais é a preocupação socioambiental dos impactos ambientais causados durante os processos de geração de energia elétrica no mundo, no qual as atuais preocupações perpassam a atual forma de sua geração, entretanto, faz-se necessário encontrar outras formas de geração de energia que reduzam ou limitem a degradação ambiental, em que pese respeitar os recursos naturais torna-se uma questão fundamental para a vida humana (HOSENUZZAMAN et al., 2015). O racionamento enfrentado no ano de 2001 evidenciou que o setor elétrico brasileiro, necessitava ser modificado. Novas fontes de energia elétrica precisavam ser incentivadas. Neste sentido, buscou-se a implantação de um novo modelo, este efetivado a partir do ano de 2004 através das leis nº 10.847 e 10.848 buscando alterar e fundamentar o sistema elétrico brasileiro em prol de uma melhor segurança energética, diferentes tarifas e atendimento universalizado. Embora tenha ocorrido uma maior diversificação da matriz elétrica brasileira, os dados apresentados no Balanço Energético Nacional (BEN), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) (2018a), a composição da matriz energética brasileira está pautada na exploração dos recursos hídricos (65,2% da capacidade instalada), seguida pela geração termoelétrica (25,3%) e o restante (9,43%) pela geração de energia nuclear, eólica e solar. Números que evidenciam uma matriz energética com predominância hidráulica na sua geração. Na contramão, a escassez de chuvas no período entre 2013-2015 contribuiu para aumentar a crise hídrica e por consequência impactando negativamente a produção da energia elétrica, sendo necessário o acionamento de inúmeras usinas termoelétricas para suprir a demanda por energia, porém, a custos mais elevados. Além disso, a decisão governamental a partir da medida provisória 579 do ano de 2012 contribuiu para acelerar o problema estrutural na geração de energia elétrica no Brasil, pois promoveu a redução das tarifas de energia elétrica reduzindo assim a receita, sendo essas tarifas, modificadas apenas no ano de 2015 com a criação das bandeiras tarifárias de energia. Em detrimento das modificações políticas relacionadas ao consumo de energia elétrica no Brasil, dados da Agência Internacional de Energia (International Energy Agency – IEA) apontam que a demanda global por energia deverá aumentar aproximadamente 36% entre 2015 e 2050, sendo que, deste total, as fontes renováveis deverão representar em torno de 29,6% do fornecimento da matriz energética mundial em 2050, e, considerando esse prognóstico para o Brasil, a demanda por energia deverá aumentar em 40% no período entre 2015 e 2050 (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY - IEA, 2014). Dentre as fontes consideradas renováveis, a energia solar vem se consolidando no mercado, despertando interesse mundial. Sua exploração recebeu inúmeras melhorias tecnológicas possibilitando seu máximo proveito energético. Entretanto, a energia solar abastece apenas uma pequena parcela na matriz energética. (DUPONT; GRASSI; ROMITTI, 2015). Neste sentido, a energia solar é caracterizada por ser uma fonte de energia limpa e renovável, cujos impactos causados ao meio ambiente são menores do que as de uma usina hidrelétrica, nuclear ou termelétrica no ato da geração elétrica, que são responsáveis por grande parte das emissões de CO2 na atmosfera. O objetivo da revolução energética é reduzir as emissões de CO2 em torno de 50% e 80% até 2050. (MENEGUZZO et al., 2015). Dentre as demais fontes renováveis, a energia solar revela ser uma fonte com recursos inesgotáveis,se tornando a fonte energética mais abundante do planeta (KEMERICH et al., 2016). Segundo Nakabayashi (2014) e Medeiros, Villalva e Siqueira (2018), por se tratar de uma fonte renovável em expansão, seu custo de geração continua elevado comparado a outras fontes energéticas. No entanto, um novo cenário demonstra as perspectivas de competitividade da energia fotovoltaica no Brasil, motivado por diversos fatores tais como rápida redução dos custos e, principalmente, questões relacionadas a mudanças climáticas. Em função da interligação entre a maior parte do país, os aproveitamentos mais baratos tendem a ser priorizados e complementados por soluções que garantam a segurança. A incidência dessa transmissão, da distribuição, de encargos e tributos leva, atualmente, a eletricidade representar cerca de 1/3 do valor pago pelo consumidor final em suas contas mensais. Os recentes avanços tecnológicos internacionais, associados à introdução da compensação energética, através da Resolução 482/2012, da ANEEL, possibilitaram a geração distribuída a custos competitivos para o consumidor final, que também passou a exercer o papel de produtor. Diante do exposto, este estudo busca verificar a existência de viabilidade econômica para a geração de energia elétrica a partir de um sistema solar fotovoltaico visando a redução dos custos com a energia elétrica para famílias de classe baixa, média e alta localizadas no município do Sinop/MT. De forma complementar, buscou- se verificar também a existência de uma relação econométrica entre o aumento da renda e consumo de energia tradicional e os indicadores financeiros para a implantação da energia fotovoltaica nos domicílios de acordo com a renda familiar. Seção 2.2: Energias Renováveis A preservação do meio ambiente se tornou uma preocupação dos habitantes de todos os recantos do planeta, pois a estrutura energética se encontra constituída basicamente por combustíveis não renováveis, considerados uma ameaça ao meio ambiente. A fim de que haja desenvolvimento sustentável se faz necessária a ampliação das fontes renováveis na matriz energética mundial. A busca por fontes alternativas se tornou uma solução viável tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental, tornando-se fator essencial para o desenvolvimento econômico de um país causando o mínimo impacto possível ao meio ambiente. Além dos benefícios sociais, econômicos e ambientais, o uso das fontes renováveis diversifica a matriz energética, reduzindo os riscos em abastecimento e possíveis crises energéticas (BORAN; BORAN; MENLIK, 2012; KABAK; DAǦDEVIREN, 2014). As pesquisas de Andrade Guerra et al., (2015) e Goldemberg e Lucon (2007) evidenciam que os padrões de produção e consumo de energia são representados por combustíveis fosseis, ou seja, energia não renovável. Encontrados na natureza em quantidades limitadas e não regeneráveis, os combustíveis fosseis, em sua maioria provenientes da extração de carvão, petróleo e gás natural, emitem gases poluentes locais e globais, tais como o dióxido de carbono, provocando mudanças climáticas que causam danos ao meio ambiente. A inserção das fontes de energia renováveis na matriz energética tem papel fundamental para que os padrões de consumo sejam alterados. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética – EPE (2017) as fontes de energia renováveis são fontes inesgotáveis geradas a partir de recursos naturais, podendo se renovar naturalmente e serem rapidamente repostas. A composição atual da matriz energética nacional tem destacada participação da energia hidráulica, ainda que o país tenha grande potencial para exploração de outras fontes de energias renováveis, como a eólica, a solar e a biomassa. Energia eólica - produzida a partir do vento; biomassa, energia gerada através do processo de combustão de produtos (insumos ou resíduos) orgânicos; e energia solar, aquela proveniente do efeito da luz e do calor do sol sobre materiais semicondutores, que podem ser transformados em energia térmica ou elétrica (GUERRA et al., 2015). Em se tratando da energia solar, dois processos de geração merecem destaque. O primeiro resulta a partir do efeito termoelétrico que ocorre através da conversão da temperatura em tensão elétrica. O segundo processo de transformação ocorre a partir do efeito fotovoltaico, onde a irradiação solar é convertida em energia elétrica, por meio de células solares. A utilização destas duas tecnologias ainda representa uma pequena parcela na matriz energética mundial, no entanto, suas perspectivas de crescimento se mostram positivas. A energia fotovoltaica em especial, tem sido reconhecida internacionalmente como uma tecnologia bastante promissora. Experiências em outros países contribuíram para a expansão da capacidade instalada deste mercado nos últimos anos, apontando ganhos na escala de produção e uma redução de custos para os investidores, razões pelas quais a energia solar fotovoltaica passou a ser vista como alternativa rentável no suprimento de energia (EPE, 2012). Seção 2.3: A Matriz Elétrica Brasileira Frente às demandas ambientais o governo brasileiro instituiu em 2002 o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), com a finalidade de aumentar o aproveitamento das fontes eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas disponíveis na matriz energética brasileira. Considerando o ano base 2017, as principais fontes energéticas são: hidráulica, gás natural, biomassa, petróleo, carvão e energia eólica. Os combustíveis fósseis representam 17,1% (2,5% petróleo e derivados, 10,5% gás natural e 4,1% carvão e derivados), e as energias renováveis representam cerca de 80,4% da matriz elétrica nacional, evidenciando a grande vantagem do Brasil, que se posiciona com uma menor dependência de recursos energéticos não renováveis. (EPE, 2018a). Em 2002, ano de criação do PROINFA, essa composição apresentava dados bem diferentes. A Figura 1 evidencia a composição da matriz elétrica brasileira em 2002 e 2017. Passados 15 anos, a diversificação das fontes da matriz elétrica brasileira é significativa. Com base na ilustração, verifica-se a predominância ainda da fonte hidráulica, com 65,2% de participação, sendo, as fontes renováveis (biomassa, eólica, solar e hidráulica) responsáveis por 80,4% da oferta de eletricidade brasileira, contrastando significativamente com a média mundial, que é de 12,6% (EPE, 2018a). Segundo IEA (2014) a demanda por energia no Brasil deverá aumentar em 40% entre 2015 e 2050. Nesse período, o petróleo deverá sofrer uma redução de aproximadamente 12%, o que é um indicativo de que as fontes renováveis de energia elétrica devam intensificar sua participação. Dentre as fontes renováveis existentes, a energia solar vem despertando grande interesse mundial. A exploração desta fonte recebeu inúmeras melhorias tecnológicas possibilitando seu máximo proveito energético. A energia solar é caracterizada por ser uma fonte de energia limpa e renovável, cujos impactos causados no meio ambiente são significativamente menores do que as de uma usina hidrelétrica, nuclear ou termelétrica, que são as grandes responsáveis pela maioria das emissões de CO2 na atmosfera. O objetivo da revolução energética é reduzir as emissões de CO2 em torno de 50% e 80% até 2050 (TESKE et al., 2010). Ademais, a energia solar conta com recursos energéticos inesgotáveis, se tornando a fonte energética mais abundante do planeta (KEMERICH et al. 2016). Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL (2015), por se tratar de uma fonte renovável em expansão, seu custo de geração, embora elevado, se comparado a outras fontes energéticas, demonstra perspectivas de competitividade na modalidade de exploração fotovoltaica no Brasil. Seção 2.4: Principais políticas públicas voltadas à produção de energia renovávelno Brasil O Brasil possui grande potencial para exploração das fontes eólica, biomassa, pequenas centrais hidrelétricas e solar fotovoltaica. Entretanto essas fontes enfrentam dificuldades, principalmente da ordem econômica para se inserir no mercado e expandir a sua atuação na matriz energética brasileira. Neste contexto, se faz necessário que o poder público crie programas de incentivos que possibilitem condições para que haja desenvolvimentos tecnológicos que possibilitem a implantação dessas fontes renováveis (WORLD WIDE FUND FOR NATURE - WWF- BRASIL, 2012). Já foram implantados programas de incentivos às fontes renováveis de energia no país, a exemplo do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), criado em 2002 pelo Ministério de Minas e Energia, essa política tem como objetivos diversificar a matriz energética brasileira, aumentar a segurança no abastecimento, valorizar as capacidades regionais e locais (pequenas centrais hidrelétricas, usinas eólicas e empreendimento termelétricos a biomassa), e reduzir as emissões de gases de efeito estufa (ANEEL, 2017). Outra ação institucional que possibilitou a inserção de projetos de geração solar, especificamente a fotovoltaica no Brasil, foi o Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) estratégico, que deu origem à chamada nº 013/2011, da ANEEL, que tem como principal finalidade a geração de energia elétrica de modo integrado e sustentável, visando alcançar o desenvolvimento tecnológico necessário para que esta fonte possa ser inserida na matriz energética brasileira (ANEEL, 2011). Na mesma linha de atuação, o Ministério de Minas e Energia promoveu o primeiro leilão para contratar de energia solar fotovoltaica no ambiente de contratação regulada – ACR (EPE, 2014). Com propósito adverso, mas não menos importante, a criação e aprovação em 2012, da Resolução Normativa nº 482, estabeleceu as condições gerais para o acesso de micro e mini geração distribuída. Dentre as oportunidades ofertadas por esta resolução, a principal foi à possibilidade de conexão dos sistemas que utilizam fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada à rede de distribuição das concessionárias, gerando um sistema de compensação às centrais geradoras e que possibilitou o consumo por meio de instalações de unidades consumidoras à população (ANEEL, 2012). Esse sistema de compensação ofertado pela Resolução nº 482 é conhecido como On Grid. Ele possibilita que toda energia excedente proveniente de uma central geradora de até 1 MW, seja injetada de imediato à rede das concessionárias. Portanto, caso a quantidade de quilowatthoras de energia gerada por uma fonte local (residencial) seja superior à demanda, o sistema envia esse excedente de energia para a rede da concessionária responsável, e poderá ser compensado, caso haja necessidade, no período de trinta e seis meses, em qualquer ponto de consumo registrado com mesmo CPF ou CNPJ do ponto de injeção, desde que na área de concessão da distribuidora. Em sendo a geração de energia inferior à demanda, a diferença é fornecida e cobrada pela concessionária. Este projeto foi de extrema importância para o Brasil, pois permitiu que o país fosse percebido por investidores e grandes empresas multinacionais (CASTRO; JANNUZZI; DRUMOND JUNIOR, 2016). Em 2015 ocorreu uma alteração na Resolução Normativa nº 482, dando origem a Resolução Normativa nº 687, de 24 de novembro de 2015. Esta nova resolução possibilitou uma ampliação do sistema de micro e mini geração, até 75 kW e daí até 5 MW, respectivamente, possibilitando que outros consumidores compensem a energia injetada, de acordo com alguns critérios. Uma outra alteração refere-se à ampliação do sistema de compensação da energia injetada que passa a expirar em sessenta meses. Esta resolução entrou em vigor 1º de março de 2016 (ANEEL, 2015). Em 2015 foi alterada a legislação sobre chamadas públicas, permitindo que as distribuidoras contratem empreendimento mais caros que os ofertados nos leilões, limitados a 10% de seus mercados, para resolver questões locacionais. Em 2018 foram publicados valores para diversas fontes (EPE, 2018b). A redução de impostos estaduais e federais também é um estímulo às fontes renováveis na medida e que reduz os custos de uma nova instalação. Percebe-se que, em virtude da abundância de fontes energéticas renováveis e baratas, os incentivos advindos de políticas públicas são cruciais para o desenvolvimento e uso de tecnologias mais eficientes e assim, promover a inserção das fontes renováveis distribuídas diversificando a matriz energética brasileira (EPE, 2018d; WWF-BRASIL, 2015). Seção 2.5: Crescimento Econômico, Classes de Renda e Consumo de Energia O consumo de energia elétrica é considerado um dos principais indicadores do desenvolvimento econômico e social de um país (AHMED; AZAM, 2016; NADIMI; TOKIMATSU, 2018a). O aumento no consumo de energia influencia o nível de produção e da renda da população, impactando todos os setores da economia, tais como o setor industrial, comercial e de serviços. A população passa a adquirir bens e serviços com tecnologia mais avançada e com aparelhos mais sofisticados que exigem o acesso à rede elétrica, fazendo com que ocorra um aumento no consumo de energia. Fatores estes que foram fundamentais para o crescimento acelerado no consumo mundial de energia registrado nos últimos anos (ANEEL, 2008). Uma vez que o consumo de energia elétrica exerce um papel fundamental no crescimento econômico e no nível de renda da população, as diferentes classes sociais se distinguem através de seu padrão de consumo, que demonstram o estilo de vida e o padrão de renda da sociedade (NADIMI; TOKIMATSU, 2018a), estando direta e indiretamente ligado ao processo de produção, pois o aumento no consumo de energia acarreta um aumento no PIB (FRANCISCO, 2010; NETO; CORRÊA; PEROBELLI, 2016), comprovando mais uma vez a importância da energia na economia de um país. Embora a expansão do consumo de energia esteja diretamente relacionada a expansão da economia de um país e a qualidade de vida da sua população, ela também pode afetar negativamente por três motivos. O primeiro se refere à possibilidade de esgotamento das fontes utilizadas para a produção de energia, que é o caso das fontes não renováveis. Um segundo motivo se refere ao impacto que estas fontes causam no meio ambiente e, por fim, um último motivo refere-se aos elevados investimentos em pesquisa de novas fontes alternativas e para a construção de novas usinas geradoras de energia elétrica (ANNEL, 2008). Tais motivações sugerem que novos investimentos no setor deem preferência às fontes renováveis de energia elétrica, no sentido de alinhar crescimento econômico, bem-estar da população e conservação do meio ambiente. Seção 2.6: Descrições dos Dados, Procedimentos e Instrumentos de Pesquisa O universo da pesquisa consiste em identificar a viabilidade econômica para a implantação de um sistema solar fotovoltaico conectado à rede concessionária (On Grid) para geração de energia elétrica, com o intuito de reduzir o custo deste serviço convencional para famílias de baixa, média e alta renda no município de Sinop/MT. Para tanto, foram selecionados domicílios localizados nos bairros Jardim Maringá (alta renda), Jardim Botânico (média renda) e Jardim Boa Esperança (baixa renda), escolhidos de acordo com as características socioeconômicas das famílias ali residentes no ano de 2017. Esses dados dividem-se entre investimento para instalação do sistema fotovoltaico (custos dos equipamentos) coletados junto às empresas A e B instaladas no município de Sinop/MT, estratificação de classes (baixa, média e alta) com base na renda domiciliar a partir dos dados disponibilizados pelo Instituto Brasileirode Geografia e Estatística - IBGE (2016), e as médias de energia elétrica faturada em 2017 em cada bairro, fornecidas pela concessionária de distribuição de energia elétrica no Estado de Mato Grosso, a empresa Energisa Mato Grosso – Distribuidora de Energia S.A.. Utilizou-se também uma análise de regressão para estimar os resultados dos coeficientes do modelo, a fim de verificar a existência de uma relação entre as variáveis: despesas com energia elétrica, quantidade de cômodos, quantidade de moradores, renda total do domicílio, material que predomina as paredes dos domicílios, material da cobertura dos domicílios, todas extraídas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011) através dos dados disponibilizados pelo IBGE em sua última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009). Neste aspecto, este estudo utilizou-se do método descritivo e quantitativo. Segundo Sampieri, Collado e Lucio (2013), o método descritivo caracteriza-se em especificar as propriedades, as características e os perfis de pessoas, grupos, comunidades, processos, objetos ou qualquer outro fenômeno que se submeta a uma análise. Já o enfoque quantitativo utiliza a coleta de dados para testar hipóteses, baseando-se na medição numérica e na análise estatística para estabelecer padrões e comprovar teorias. Seção 2.7: Modelo Teórico para Análise de Viabilidade Econômico- financeira Para a tomada de decisão de um investimento é fundamental a avaliação das variáveis financeiras em conjunto, para isso, utiliza-se uma ferramenta que auxilia no agrupamento das mesmas, denominada “Fluxo de Caixa”. A partir dos fluxos de caixa gerados, obtêm-se os valores de indicadores econômico-financeiros que auxiliam na avaliação da viabilidade de um investimento. Para os fins deste estudo, os indicadores utilizados foram o payback descontado, Taxa Interna de Retorno (TIR), Valor Presente Líquido (VPL), Valor Presente líquido Anualizado (VPLA), Índice Custo Benefício (B/C) e o Índice de Rentabilidade (IR). Seção 2.8: A Estatística Descritiva e o Modelo de Regressão Linear A Tabela 1 apresenta a estatística descritiva das variáveis coletadas para as informações de média, desvio padrão e os valores mínimos e máximos relativos. De acordo com os dados da tabela é possível identificar a discrepância entre os valores da média das variáveis. Analisando o desvio padrão das variáveis, verifica- se que as variáveis de intervalos mais estreitos tendem a ter um desvio padrão menor que as demais. Em relação a análise de regressão, essa diz respeito ao estudo da dependência de uma variável, a variável dependente, em relação a uma ou mais variáveis, as variáveis independentes, visando estimar e/ou prever o valor médio (da população) (GUJARATI; PORTER, 2011). O modelo pode ser representado da seguinte forma: Onde: Y𝑖= Despesa com energia elétrica; 𝑋2= Material que predomina as paredes dos domicílios; 𝑋3= Quantidade de cômodos; 𝑋4= Quantidade de moradores no domicílio; 𝑋5= Material da cobertura dos domicílios; 𝑋6= Renda Total do domicílio; 𝑢𝑖= Termo de erro; 𝛽1 = Coeficiente linear; 𝛽2, 𝛽3, 𝛽4, 𝛽5, 𝛽6= coeficientes angulares. O método de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) consiste na escolha dos valores dos parâmetros desconhecidos de maneira que a soma dos quadrados dos resíduos (SQR) ∑ �̂�𝑖2 seja minimizada (GUJARATI; PORTER, 2011). Os estimadores de MQO possuem as seguintes propriedades estatísticas para validar as premissas do MCRL: os estimadores são não visados; são eficientes, ou seja, variância mínima; são consistentes, pois convergem aos verdadeiros valores da população; e a amostra segue uma distribuição normal, ou seja, com média zero e variância constante Z ~ N (0, 1) (GUJARATI e PORTER, 2011). Agora, para estimar os coeficientes do modelo de regressão múltipla com três variáveis considera-se primeiramente o método dos mínimos quadrados ordinários (MQO), para assim obter os estimadores parciais de regressão populacional �̂�1, �̂�2 e 𝛽 ̂3 do modelo (GUJARATI; PORTER, 2011). O modelo de regressão linear múltipla parte da mesma dinâmica do modelo de regressão linear simples, ou seja, continua a operar com base nas premissas do MCRL onde: o modelo é linear nos parâmetros; os valores fixos de X ou valores de X independentes do termo de erro; o termo de erro 𝑢𝑖 tem média igual a zero; homocedasticidade ou variância constante de 𝑢𝑖; ausência de autocorrelação, entre os termos de erro; o número de observações n deve ser maior que o número de parâmetros a serem estimados; não há colinearidade exata entre as variáveis X, não há relação linear exata entre 𝑋2 e 𝑋3; e ausência de viés de especificação (GUJARATI; PORTER, 2011). A velocidade com a qual as variâncias e covariâncias aumentam pode ser vista pelo Fator de Inflação da Variância (FIV), por isso, usa-se o teste de FIV para detectar a presença de multicolinearidade no modelo, definido como (GUJARATI; PORTER, 2011): O Teste de White será usado para verificar a variância do erro do modelo, essa homocedástica ou heterocedástica, neste caso, apresenta-se como hipótese nula a presença de homocedasticidade e como hipótese alternativa a heterocedasticidade. O primeiro passo para executar o teste é obter os coeficientes da regressão, em seguida obter os resíduos, �̂�𝑖. O segundo passo consiste em obter a regressão auxiliar: �̂�𝑖 = ∝1+ ∝2 𝑋2𝑖 + ∝3 𝑋3𝑖 + ∝4 𝑋22𝑖 + ∝5 𝑋32𝑖 + ∝6 𝑋2𝑖𝑋3𝑖 + 𝑣𝑖 Sob a hipótese nula de que não há heterocedasticidade, pode-se mostrar que o tamanho da amostra n multiplicado pelo R2 da regressão auxiliar segue assintoticamente a distribuição qui-quadrada com graus de liberdade iguais ao número de regressores (excluindo-se o termo constante) na regressão auxiliar (GUJARATI; PORTER, 2011). 𝑛 ∙ R2 ~ X2gl Utilizou-se o teste de Breusch-Pagan para detectar se os resíduos são homocedástico ou heterocedástico, ou seja, se a variância do erro se comporta de forma constante (GUJARATI; PORTER, 2011). Para estimar os coeficientes da regressão foi utilizado o Software Stata®. Seção 2.9: As Características de Renda e Consumo de Energia Elétrica nas Residências em Estudo Para o dimensionamento dos sistemas fotovoltaicos a serem instalados, foram adotados procedimentos de análise pautados nos indicadores de renda e de consumo de energia elétrica domiciliar. Para tanto, utilizamos a metodologia comumente empregada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que estratifica as classes com base na renda familiar auferida, conforme apresentado na Tabela 2. Com base na classificação disposta, os bairros residenciais do município de Sinop-MT, segundo dados do censo do IBGE (2010) obtidos no Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA, somam 59 (cinquenta e nove). Dos quais, 3 (três) bairros foram escolhidos visando contemplar a estratificação por classe de rendimento domiciliar, sendo eles: Jardim Maringá (Classe alta); Jardim Botânico (Classe média); e, Jardim Boa Esperança (Classe baixa). Os dados retornaram 567 domicílios habitados no bairro Jardim Maringá. Destes, 10 desses possuem renda mensal domiciliar entre ½ à 2 salários mínimos, outros 58 detém de uma renda domiciliar entre 2 a 4 salários mínimos, 168 compreendem uma renda de 4 a 10 salários mínimos, 205 com renda entre 10 a 20 salários mínimos, além de outros 118 domicílios ocupados com renda domiciliar superior a 20 salários mínimos, e apenas 6 domicílios não possuem nenhum rendimento, assim o bairro Jardim Maringá enquadra-se, segundo metodologia do IBGE como um bairro de classe alta. Outro bairro considerado na pesquisa, o Jardim Botânico, possui um total de 1.394 domicílios. Dos quais, 167 apresentam renda domiciliar entre ½ a 2 salários mínimos, outros 489 destes apresentaram renda domiciliarentre 2 à 4 salários mínimos, 435 domicílios apresentaram renda entre 4 à 10 salários mínimos, outros 164 possuem renda domiciliar entre 10 a 20 salários mínimos, 58 possuem rendimento domiciliar de mais de 20 salários mínimos, e por fim 23 domicílios não possuem nenhum tipo de rendimento mensal. Dados que segundo classificação do IBGE, o enquadram como sendo um bairro de classe média. Por último, pesquisou-se o bairro Jardim Boa Esperança, o qual segundo informações do IBGE (2010) conta com um total de 1.536 domicílios, sendo 895 com renda mensal domiciliar entre ½ a 2 salários mínimos, 442 possuem uma renda de 2 a 4 salários mínimos, outros 142 dispõe de 4 a 10 salários mínimos, apenas 2 domicílios usufruem de uma renda de mais de 20 salários mínimos, e os outros 46 domicílios que não possuíam nenhum tipo de rendimento mensal, enquadrando este bairro como sendo de classe baixa. As informações detalhadas da renda mensal domiciliar são importantes para que se possa verificar posteriormente a relação de viabilidade econômica quando da implantação dos painéis fotovoltaicos em relação ao consumo tradicional de energia elétrica. Os domicílios em estudo são caracterizados por residencial bifásico e trifásico. Para dimensionar a potência necessária para suprir a demanda por energia elétrica alguns aspectos técnicos devem ser levados em consideração ao se instalar um sistema fotovoltaico, tais como o consumo médio em kWh e a irradiação solar média. As tabelas a seguir apresentam as médias de consumo e dos custos de energia fornecidas pela concessionária Energisa Mato Grosso, referentes ao ano de 2017, dos bairros participantes da pesquisa. Neste sentido, a Tabela 4 destaca esses dados para os domicílios localizados no bairro Jardim Maringá. A partir dos valores apresentados torna-se possível analisar a variação do consumo de energia elétrica ao longo do ano de 2017 para o bairro Jardim Maringá, tornando este consumo base para a realização do dimensionamento do sistema fotovoltaico a ser instalado. Verifica-se que domicílios localizados neste bairro apresentam um consumo médio de 1.447 kWh/mês com custo médio de R$ 1.121,20 ao mês. Além desses dados, verifica-se que o consumo médio total anual de 17.365 kWh/ano, apresentando um custo médio anual de R$13.454,30. Este consumo médio de energia elétrica é considerado elevado visto que a média mensal brasileira de consumo residencial foi de 157,9 kWh/mês em 2017, ou seja, um consumo anual de aproximadamente 1.894,8 kWh segundo (EPE, 2018c). A Tabela 5, apresenta dados dos domicílios localizados no bairro Jardim Botânico, evidenciando consumo médio anual de 7.733 kWh, ou seja, um consumo médio mensal de 644 kWh/mês, a um custo médio de R$ 504,00 ao mês e de R$ 6.049,28 anualmente. Em relação ao bairro anterior, de elevada renda, nota-se que o consumo médio foi 44,51% menor, além do custo ser menor em 44,95%. Cabe ressaltar que os domicílios deste bairro são em sua maioria estratificados como de classe média. Para o bairro Jardim Boa Esperança, considerado na pesquisa como sendo de baixa renda, o consumo médio total foi de 2.350 kWh/ano, com média de 196 kWh/mês a um custo de R$ 141,24 ao mês, e de R$ 1.694,80 anualmente, dados apresentados na Tabela 6. Com base nas informações sobre o consumo médio dos domicílios nos três bairros, torna-se possível determinar o tamanho do sistema fotovoltaico para cada categoria de domicílio suprir sua demanda por energia elétrica. Para esse cálculo, é preciso considerar a irradiação solar média incidente na localidade. De acordo com Braun-Grabolle (2010), a irradiação solar é utilizada no cálculo para estimar a quantidade de energia elétrica que um sistema fotovoltaico é capaz de produzir, logo a média de irradiação solar é fundamental para a eficiência dos painéis fotovoltaicos, pois quanto maior for a quantidade de luz e calor recebida pelos painéis maior será a produção de energia elétrica, sendo que o aproveitamento da irradiação solar para geração de eletricidade varia ao longo dos meses de acordo com as estações do ano e a localização geográfica. Sendo assim, os domicílios estão localizados no município de Sinop/MT, com latitude 11.855812º Sul e longitude 55.571828º Oeste, coordenadas geográficas para obtenção dos valores de irradiação média diária fornecida pelo Centro de Referência para as Energias Solar e Eólica Sérgio de S. Brito (CRESESB) como apresentado na Tabela 3. Baseados nas informações fornecidas pelo CRESESB, observa-se que a irradiação solar média para o município foi de 4,80 kWh/m².dia, logo, era necessário calcular a área do painel solar e descobrir sua eficiência. Com relação a área, essa informação foi obtida nas especificações do produto. Quanto a sua eficiência, adotou- se um fator de aproveitamento de 75% da energia gerada, baseado em estudo realizado pela Empresa de Pesquisa Energética EPE (2012), que considerou fatores como a eficiência do inversor, perdas de sincronismo e no circuito, térmicas, por reflexão, entre outras, como perdas de quantidade de energia aproveitada pelo sistema fotovoltaico. Realizados os cálculos para obter o número de placas necessárias para suprir 100% da demanda dos domicílios em estudo, a Tabela 7 demonstra ainda a potência gerada de cada equipamento e o preço médio de cada kit segundo informações das empresas A e B que revendem esses equipamentos em Sinop/MT. Cada kit fotovoltaico inclui painel solar (placas), cabo fotovoltaico, conector, grampos, perfil perfurado, junção do perfil, StrigBox e inversor monofásico. Além do preço do kit, as empresas cobram uma taxa de 30% sobre o preço, referente à custos com transporte, mão-de-obra e projeto elétrico para a instalação do sistema solar fotovoltaico. Conforme já mencionado, os sistemas fotovoltaicos propostos terão capacidade para suprir 100% da demanda dos domicílios. Situações de produção além da demanda necessária podem ocorrer a qualquer momento. Nesses casos, por tratar de um sistema conectado à rede (On Grid), o excedente de energia é injetado à rede elétrica da concessionária e fica como crédito por um período de até 60 (sessenta) meses, podendo ser compartilhada dentro de uma mesma área de concessão ou permissão, ou deverá ser utilizada pela distribuidora local. No entanto, deve-se ressaltar que mesmo que o sistema seja capaz de suprir 100% da demanda, a conta de energia elétrica nunca terá valor igual a zero, pois o consumidor tem de pagar a concessionária a taxa mínima de disponibilidade da rede elétrica (ANEEL, 2015). Apresentados os cálculos e custos necessários para a implantação dos painéis fotovoltaicos, o próximo passo da pesquisa foi analisar sua viabilidade econômica em relação a renda domiciliar e o consumo de energia tradicional. Referências ABRADEE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISTRIBUIDORES DE ENERGIA ELÉTRICA. Tarifas de energia elétrica. Brasília: Abradee, [s.d.]. AHMED, M.; AZAM, M. Causal nexus between energy consumption and economic growth for high, middle and low income countries using frequency domain analysis. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 60, p. 653–678, 2016. ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica. Consumo. In: ______. Atlas de Energia Elétrica do Brasil, 3. ed. 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