Buscar

Ensaio sobre a cegueira e estado de natureza

Prévia do material em texto

Se pode ver claramente no filme Ensaio sobre a Cegueira traços de como as coisas em uma determinada sociedade sai de controle quando não se tem o poder de ‘Leviatã’ assim como disse Hobbes. O a sociedade para se compor como Estado, deve ser politicamente organizado, de forma jurídica visando o bem comum. No caso do filme, não se tem um Estado porque homens se organizaram, tinha um líder, mas não tinha organização jurídica e nem visava o bem comum de todos.
	O estado de Natureza assim como Hobbes trata, é quando homens deixam de ser civilizados e voltam ao homem animal. Ou seja, não é mais a ordem, sociedade, educação e hierarquia que prevalece, mas sim os extintos, lei da força, medo e a incerteza. Todos são iguais em corpos e espírito, embora na força nem tanto. Isso vemos no filme quando todos cegos se tornam iguais que causa uma cegueira ainda pior, a cegueira de sociedade onde o mais forte domina o mais fraco, o mais esperto domina o mais néscio. Mas se houver uma organização e uma companhia dos mais fracos da sociedade e dos mais néscio, estes podem derrubar o poder do mais forte e esperto. Dito isso no livro Leviatã de Hobbes. “Porque quanto à força corporal o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo”. Essa visão de aliança é visto no filme quando no ponto em que a esposa do médico resolve se vingar de tudo que lhe acontecera. Ela se alia com outros fracos e traz uma liberdade da prisão e de correntes opressoras. Os homens são tão iguais ao ponto de ninguém é capaz de dominar o outro por completo, pois dentro dele (o homem) sempre há o animal que ele é escondido por dentro, mesmo ele sendo político e socializado. Ele nunca perde os seus extintos e seu pensamento primitivo.
	Na história da humanidade o homem era apenas um animal comum como outros animais, só apenas deu um grande passo quando mulheres que ainda eram animais e tratavam por extintos, descobriram a agricultura. A partir daí o homem em geral se tornou um animal agora que raciocina, mas ainda não político. A invenção do fogo, descobrimento do ferro e invenção de primeiras ferramentas ajudaram o homem que era primitivo na agricultura. Um dos passos importantes enquanto a isso foi o sedentarismos dele, onde foi capaz a criação de polis e agora sim um animal político. Primeiras normas, leis e regras foram capazes de organizar politicamente a sociedade que antes era tudo pela lei da força. O homem que era lobo do próprio homem, agora era apenas mais um socializado e seus instintos foram se escondendo, mas não perdendo. Violências feitas por outros, agora eram tratadas com uma outra dimensão. A dimensão de ter um poder de agir e coagir com a força tratando quem perturbou a ordem pública, poder tal chamado de Polícia. A guerra de todos contra todos agora quase não existe, porque nesse estágio de sociedade existe alguém que protege, mantém a ordem e pune quem merece.
	No filme ensaio sobre a cegueira, tudo sobre a sociedade e o homem politizado saí do comum e desperta o homem como animal. As suas necessidade como: comer, dormir e relacionamentos, de forma que impulsiva e pela razão. Vemos isso claramente quando o médico não identifica a sua esposa como alguém que lhe ama (se os sentimentos existissem no homem como animal) e se relaciona com outra mulher. No estágio de homem que utiliza a força é visto quando um deles se elege como líder e dita as ordens. Seus interesses eram saciados e quem não obedecesse ao que lhe era dito era morto. Todos estavam sob a ameaça de uma arma. No primitivo, quando o homem usava a lei da força era tratado desta mesma forma, de quem não cumprisse o que lhe é dito era morto e agredido. Em um estado de governo vemos isso em uma Ditadura, embora ‘socializado’, mas é usada a lei da força onde o mais forte (o ditador) assume o poder ilimitado de governo, mas limitado como homem sobre outros (a sociedade). Em um sentido histórico, vemos o que aconteceu no Brasil durante o governo Militar (1964-1985) em que a lei da força prevaleceu, não tão forte e primitiva, mas prevaleceu. Voltando ao filme, a falta de normas e contratos sociais que visavam o bem comum de todos prevaleceu. Vemos quando o líder dita uma de suas ordens que apenas uma das alas receberia duas caixas de alimentos. Depois todos os bens valiosos de todos deveriam ser entregues pela alimentação. A necessidade de se alimentar prevalece, o homem esquece de tudo que se tem, do que é e de como ele é, tudo apenas que ele quer é saciar a sua fome e sede. Maslow define as necessidade em uma pirâmide, podemos usar o primeiro estágio da mesma para definir quais as necessidade instintivas do homem. Nisso ele é despertado como animal interior que é lobo do próprio homem.
	Quando esse lobo é despertado no homem a única forma de frear isso e socializar novamente o homem, é com a criação de normas, regras e de um contrato social. Esses contratos sociais usam o poder da força de forma jurídica legal e visam o bem-estar de todos. Se alguém usa a força própria para julgar alguém ou para fazer justiça própria, esse contrato intervém na causa como Leviatã dizendo o que pode e o que não pode. O Jus naturale e a lex naturale, não se é usada como contrato do Leviatã, mas sim o homem como lobo e primitivo. Daí se temos um Estado social político juridicamente organizado que objetiva a justiça legal para o bem estar e comum de todos. O poder de polícia e da polícia é usado por ele para manter a ordem pública, no Brasil vemos isso no Art. 144 da CF/88. São contratos sociais todas as leis do estado e são elas aceitas pela sociedade a partir do seu nascimento quando é registrado no determinado país. Esse homem que nasce, agora não pode usar a sua própria razão para seu bem, mas sim pensar no coletivo. No filme, a falta dessas regras para regulamentar não dá como estado e sociedade todos aqueles que estavam no isolamento, já que não era dado o bem comum, bem-estar, não havia interesse público, mas sim particular, leis e regras não positivadas e o primitivo era que prevalecia.	
	O mesmo podemos ver nas obras de filosofia do Direito, o Caso dos exploradores de cavernas e Antígona de Sófocles. Onde no primeiro caso o homem lobo é despertado, no ato do homicídio do Whetmore para saciar a fome de outros exploradores. A lei da força usada para matar a vítima não foi permitida pelo estado e a condenação do que o mataram é certa, embora sendo para saciar a fome e o medo de morrer. Quando o medo prevalece a esperança não existe deixando assim o homem capaz de realizar tudo o que lhe pensar e o que sentir. Quando se sentimos ameaçados a primeira coisa a fazer é procurar algo para se defender ou usar membros do corpo para se defender. Isso não é ensinado a alguém, mas sim está escondida dentro do homem e é despertado nessas emoções como extintos. A esperança de viver só é dada quando se sentimos seguros e confiamos a nossa vida no Estado, que por sua vez promete a segurança e a vida do homem. Em Antígona de Sófocles quando o rei dita a ordem de não enterrar o irmão de Antígona, o rei sacia o próprio eu e o próprio desejo de vingança, causando um mal-estar na sociedade. Trago esses dois casos para se explicar melhor a o estado de natureza vista no filme. A fome saciada pela força, exemplo no filme na hora da divisão de comida todos entram em guerra contra todos para ter um pouco de alimento, quando a personagem principal entra no supermercado e é violentada fisicamente por outros por está com alimentos. E o estado de medo de perder o poder, quando o líder dita ordens que traz medo de viver a outros e a força de matar e espancar quem não o obedecesse. Como foi dito antes e Hobbes diz o mesmo, o mais fraco pode derrubar o mais forte se ele aliar-se com outros mais fracos, e foi exatamente isso que aconteceu no filme, quando a personagem principal resolve se aliar com outros oprimidos e faz uma revolução de liberdade, e leva a todos a serem libertos do poder opressor e autoritário.Mas nem tudo foi dado como era pra ser, o homem liberto das forças opressoras se torna alguém opaco, sem ordem, sem sociedade e sem norma. Prevalece novamente a lei natural do inicio sendo dessa vez pior do que antes, que havia pelo menos uma lei. Agora podemos ver claramente que o homem primitivo é despertado, sem leis, sem pudor e sem organização. Nessa parte do filme o Leviatã que é o estado é inexistente, a lei da força e do egoísmo é quem prevalece e cada um por um e guerra de todos contra todos. Podemos também dizer que é um estado de desobediência civil, quando teoricamente existe um Estado, mas na prática não. Isso é algo paradoxal, quase que confuso de se entender, mas existe.
A vida de um animal político não se pode ser comparada pelo animal primitivo, embora esse ultimo esteja dentro do primeiro. Basta apenas uma oportunidade e os extintos humanos são liberados que podem ser repreendidos por apenas uma forma que é o Leviatã que tem a força e poder total de organizar e criar normas para o bem de todos. Somente o Estado é capaz de organizar tudo de forma que traga o bem de todos legalmente. Por isso o homem deve desprezar as suas próprias razões e a sua própria lex naturalis para viver em harmonia com a sociedade e com os outros homens. Desprezar o próprio jus naturale para que o estado intervenha e faça a justiça na medida certa é o que se deve fazer. Constituições de regras e normas feitas pelo poder Legislativo de um estado, que por sua vez o Executivo põe em prática e repreendendo o lobo do homem com força legal e manda para o Judiciário julgar e definir a sua punição, todo esse circulo vicioso é capaz de fazer o homem abandonar o egoísmo, força bélica de conseguir as coisas e o bestial que ele é deixando ser oprimido por alguém que é igual a si mesmo. Portanto, confiar no estado, nas leis e nas promessas feitas pelo estado é importante para se ter uma harmonia de todos na sociedade.

Continue navegando