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RESENHA CRÍTICA: DESENHOS CURRICULARES INTERNACIONAIS: CINCO EXPERIÊNCIAS PARA REFLEXÕES SOBRE O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO SUMÁRIO Introdução ……………………………….………………………………………………………. 03 Desenvolvimento …………………………………………………………..…………………… 04 Conclusões ……………………………………………………………………………………… 08 Referência Bibliográfica ……………………………………………………………………….. 08 Introdução O currículo, segundo os estudos desenvolvidos ao longo do presente quadrimestre, deve ser compreendido como um elemento central e estruturante no processo de ensino-aprendizagem, assumindo o papel de eixo organizador das práticas pedagógicas. Trata-se de um instrumento normativo e político que sistematiza os conhecimentos socialmente relevantes, orienta a seleção e a organização dos conteúdos escolares, define os objetivos educacionais e direciona as estratégias metodológicas e os critérios avaliativos a serem adotados pelos educadores. Nesse sentido, o currículo não apenas reflete uma determinada concepção de educação e sociedade, mas também exerce influência direta sobre a qualidade e a efetividade do ensino, contribuindo para a construção de percursos formativos coerentes, equitativos e significativos. Além de sua função pedagógica, o currículo cumpre uma função social e cultural, ao mediar as relações entre os saberes escolares e os contextos socioculturais dos educandos. Ao permitir a contextualização dos conteúdos à realidade vivida pelos estudantes, o currículo pode favorecer a inclusão, o reconhecimento da diversidade e o desenvolvimento integral dos sujeitos. Também é um instrumento dinâmico, que deve acompanhar as transformações históricas, sociais, econômicas e tecnológicas, oferecendo respostas educativas às novas demandas da contemporaneidade. Dessa forma, constitui-se como referência para toda a comunidade educacional para professores, gestores, famílias e alunos, orientando o planejamento didático, o monitoramento do progresso escolar e a formação de competências e habilidades necessárias à cidadania crítica e participativa. Considerando a centralidade do currículo nas discussões educacionais contemporâneas e sua relevância para a formulação de políticas públicas, o presente estudo tem como objetivo apresentar uma resenha crítica do artigo Desenhos curriculares internacionais: cinco experiências para reflexões sobre o sistema educacional brasileiro, de Maximiliano Moder (2015). O autor realiza uma análise comparativa de cinco experiências curriculares adotadas por diferentes países: Coreia do Sul, Austrália, Colômbia, Chile e África do Sul, buscando identificar elementos comuns e divergentes nos processos de concepção, implementação e avaliação curricular. A intenção é oferecer subsídios teóricos e práticos para repensar os caminhos do currículo no Brasil, contribuindo com o aprimoramento das políticas educacionais à luz de experiências internacionais que dialogam com os princípios da equidade, da qualidade e da contextualização da educação. A proposta do estudo parte do entendimento de que os currículos não devem ser apenas repositórios de conteúdos, mas instrumentos dinâmicos e contextualmente situados, capazes de promover aprendizagens significativas e de responder às exigências contemporâneas da educação, seguido de reflexão sobre os desafios e as estratégias de implementação curricular em diferentes realidades. Desenvolvimento O texto é estruturado a partir da apresentação dos critérios teóricos e metodológicos adotados por Moder (2015), que define currículo como uma série de disposições acordadas pela sociedade sobre o que os estudantes devem aprender nas escolas. Essa de!nição é encontrada nos documentos curriculares dos Ministérios de Educação. Na concepção de Moder (2015) os curriculos são articuladas em políticas públicas. Já o "desenho curricular" é compreendido como a forma de operacionalização dessas decisões, ou seja, como o Estado organiza, implementa e sustenta o currículo. Segundo Moder (2015) o desenho curricular refere-se à maneira como o Estado ou a autoridade educacional competente estrutura e operacionaliza a implementação das aprendizagens previstas no currículo dentro do sistema de ensino. Os diferentes modelos de organização curricular buscam promover o êxito educacional a partir das particularidades socioculturais, econômicas e políticas de cada país ou região. Existem diversas formas de desenho curricular. Algumas delineiam os componentes estruturais do currículo e suas inter-relações; outras organizam sequencialmente os objetivos de aprendizagem, os conteúdos, as habilidades a serem desenvolvidas e as orientações pedagógicas. Há ainda modelos que se fundamentam na definição de padrões de aprendizagem para cada etapa da escolarização, bem como na criação de condições que possibilitem o desenvolvimento desses padrões. Em síntese, os desenhos curriculares são construções influenciadas por distintos referenciais teóricos e ideológicos e, por isso, dificilmente se apresentam em formas puras ou homogêneas. Sua configuração reflete, de modo inevitável, a complexidade e as especificidades do contexto político, histórico e social no qual estão inseridos. Moder (2015) seleciona os cinco países com base em dois critérios principais: - Alto desempenho nos estudos internacionais sobre êxito em aprendizagens e qualidade da Educação (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – Pisa; "e Trends in International Mathematics and Science Study – Timmss; "e Learning Curve); -Consideração de contextos comparáveis – os casos observados são comparáveis à realidade brasileira em diferentes tópicos, como o das complexidades envolvidas na elaboração de políticas públicas ou os contextos políticos, culturais, econômicos e sociais. O estudo elencou países cujas características consideram um ou vários desses critérios, onde cada caso é analisado em profundidade, considerando elementos como estabilidade institucional, centralização ou descentralização curricular, participação docente, padronização de conteúdos, e a inclusão de competências socioemocionais e cognitivas. O primeiro caso escolhido é o da Coreia do Sul. A continuidade e estabilidade do desenvolvimento curricular, os distintos mecanismos utilizados nesse processo, os bons resultados obtidos em todas as medições e avaliações internacionais fazem dessa nação um caso interessante a ser observado. O segundo caso é o da Austrália, que nos últimos anos, além de ser uma das nações de cultura ocidental com melhor rendimento nas avaliações educacionais, muito acima da média dos países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Austrália decidiu iniciar um processo de reformas e mudanças profundas no seu sistema de ensino. O terceiro caso é o da Colômbia, um país não federativo, com uma longa tradição de centralização das decisões por parte do governo da capital, em Bogotá. Em 1991, foi promulgada uma nova Constituição que outorgou grande autonomia aos departamentos, como uma forma de garantir um processo de descentralização. Ao mesmo tempo, foi dada autonomia às escolas para desenvolver seus currículos. O Chile é o quarto caso de estudo. O país possui um desenvolvimento estável e acelerado da Educação, fazendo parte da OCDE. Ainda se encontra abaixo dos níveis educacionais dos países membros, embora o desempenho dos estudantes chilenos, segundo as últimas provas do Pisa, seja um dos que apresentaram maior evolução. O quinto caso analisado é o da África do Sul, que nos últimos anos, tem empreendido grande esforço para levar adiante uma reforma educacional com importantes mudanças curriculares. A dedicação para estabelecer uma organização no sistema educacional, focada na implementação do currículo nacional sul-africano, em um país com ampla diversidade cultural e altamente agrícola, e as soluções que o governo tem proposto para isso o tornam um caso que merece ser observado. Nesta análise Moder (2015), identifica tendências comuns, como a centralidade do aluno, o foco em competências, a busca por equidadee a valorização da formação docente. Em todos os casos bem-sucedidos, observa-se a existência de um "alinhamento curricular", ou seja, uma coerência entre os objetivos educacionais, os conteúdos, as metodologias e os sistemas de avaliação. Um dos principais aportes do artigo está na defesa do alinhamento curricular como estratégia central para o fortalecimento dos sistemas educacionais. Esse conceito remete à articulação entre diferentes componentes do processo educativo como currículo prescrito, currículo implementado, formação docente e avaliação, de modo a garantir coerência interna e eficácia na aprendizagem. Concordamos com o autor ao considerar que o alinhamento curricular é fundamental para dar solidez às políticas educacionais. Em contextos marcados por desigualdades e descontinuidade institucional, como ocorre no Brasil e em outros países da América Latina, o alinhamento entre os elementos da política educacional é essencial para assegurar que as intencionalidades do currículo cheguem efetivamente à prática pedagógica. Como apontado no artigo, países como Coreia do Sul e Austrália conseguiram instituir mecanismos técnicos e políticos que preservam o currículo das oscilações partidárias e das pressões conjunturais, o que contribui para a sua consolidação como política de Estado. No entanto, para que o alinhamento curricular produza efeitos positivos, é necessário ir além da uniformização de conteúdos e metas. É preciso garantir que o processo de construção curricular seja participativo e sensível às especificidades locais. Nesse sentido, o alinhamento deve ser entendido não como padronização rígida, mas como articulação entre os diferentes níveis e sujeitos do sistema educacional, respeitando a autonomia pedagógica e as realidades socioculturais dos territórios. No atual contexto educacional brasileiro, insere-se a discussão sobre as políticas curriculares voltadas à Educação Básica, cujo principal objetivo é fomentar o debate acadêmico em torno da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Trata-se de um documento normativo e orientador que integra o conjunto de políticas educacionais do país, estabelecendo referenciais comuns para a organização curricular em nível nacional. A BNCC é, portanto, uma política de Estado que define direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para cada etapa da Educação Básica, constituindo-se como referência obrigatória para a formulação dos currículos nos sistemas de ensino estaduais, distrital e municipais, bem como para os Projetos Político-Pedagógicos (PPPs) das instituições escolares. Enquanto documento orientador, a BNCC tem como um de seus principais propósitos promover a equidade e a qualidade educacional, contribuindo para a superação das desigualdades históricas no acesso ao conhecimento escolar. Além disso, sua função estruturante busca articular diferentes políticas públicas, como a formação inicial e continuada de professores, a avaliação educacional, a produção de materiais didáticos e os critérios de infraestrutura, atuando como eixo integrador das ações desenvolvidas nas esferas federal, estadual e municipal. A proposta é fortalecer o regime de colaboração entre os entes federativos e mitigar a fragmentação das políticas educacionais historicamente observada no país (BRASIL, 2017). No entanto, em meio às transformações sociais e às exigências de um mundo globalizado, observa-se a predominância de abordagens curriculares com forte viés tecnicista e produtivista, que tendem a reduzir a função da escola à mera preparação para o mercado de trabalho, e por vezes ignora os múltiplos contextos socioculturais que permeiam a realidade escolar. Dessa forma, torna-se urgente problematizar a centralidade da BNCC a partir de uma perspectiva crítica que considere os princípios da justiça social como fundamentos ético-políticos do currículo. É necessário refletir sobre o sentido de educar em uma sociedade marcada por desigualdades, compreendendo o ensino e a aprendizagem como práticas sociais que envolvem escolhas, critérios de valor, responsabilidades e consequências. Nesse sentido, as políticas curriculares precisam reconhecer a autonomia das escolas e dos profissionais da educação nos processos de construção curricular, valorizando sua capacidade de decisão frente às especificidades do território e das comunidades escolares. A efetiva concretização de um currículo que promova justiça social exige a superação de modelos homogêneos e prescritivos, abrindo espaço para a elaboração de propostas contextualizadas, que respeitem a diversidade e potencializem o protagonismo de estudantes e professores. Para isso, é imprescindível garantir condições institucionais e formativas que fortaleçam a participação coletiva e a autoria docente na elaboração curricular, permitindo que os saberes escolares dialoguem com as experiências e necessidades dos sujeitos da educação. Dentre os aspectos positivos do currículo, destaca-se sua função organizadora e orientadora do processo de ensino-aprendizagem. Um currículo bem estruturado estabelece uma sequência lógica e progressiva dos conteúdos, favorecendo a construção do conhecimento de forma sistemática e coerente. Também proporciona diretrizes claras e objetivas que norteiam o trabalho docente, contribuindo para a efetividade do ensino e para a garantia dos direitos de aprendizagem dos estudantes. Ao alinhar padrões educacionais, o currículo pode promover a equidade e a uniformidade na qualidade do ensino, sem necessariamente inviabilizar abordagens pedagógicas flexíveis e inovadoras. Além disso, o currículo possibilita o planejamento, o acompanhamento e a avaliação do desempenho discente, permitindo a identificação de lacunas e o redirecionamento das práticas pedagógicas. Contudo, também é preciso reconhecer os limites impostos por currículos excessivamente prescritivos e conteudistas, que restringem a atuação docente e priorizam a memorização de conteúdos em detrimento do desenvolvimento de habilidades críticas, criativas e socioemocionais. Essa rigidez curricular pode gerar desmotivação entre professores e estudantes, além de dificultar a integração de saberes interdisciplinares e a atualização dos conteúdos frente às transformações tecnológicas, culturais e sociais contemporâneas. O distanciamento entre a realidade vivida pelos sujeitos da escola e os referenciais propostos por um currículo engessado compromete o caráter significativo da aprendizagem. Ao limitar a autonomia pedagógica, tais propostas acabam por invisibilizar os saberes locais e enfraquecer a capacidade da escola de responder aos desafios do presente. Assim, a construção de um currículo relevante, dinâmico e dialógico exige a constante revisão dos documentos normativos, bem como a valorização do debate coletivo e da escuta ativa no interior das comunidades escolares. Em síntese, embora o currículo represente uma ferramenta indispensável para o planejamento e a organização do trabalho pedagógico, sua eficácia depende da articulação entre normatividade e flexibilidade, entre padronização e contextualização. Para que possa atender às demandas contemporâneas da educação, o currículo deve ser compreendido como um campo em disputa, permeado por diferentes concepções de sociedade, de sujeito e de conhecimento. Conclusões O artigo de Moder (2015) é uma importante contribuição para o campo das políticas curriculares comparadas. Ao apresentar modelos de diferentes países, com suas especificidades e estratégias, o autor permite ao leitor ampliar o olhar sobre os possíveis caminhos para a formulação e implementação de currículos mais eficazes e equitativos. A ideia de alinhamento curricular, defendida como eixo articulador das políticas educacionais, revela-se pertinente e necessária, desde que não se torne uma ferramenta de controle ou homogeneização cultural. No contexto brasileiro, onde a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ainda enfrenta desafios de implementação e legitimação, o estudo oferece insights valiosos sobre a importância de fortalecer as instituiçõescurriculares, promover a participação docente, respeitar as diversidades locais e garantir estabilidade nas políticas públicas. Em suma, a resenha demonstra que o currículo deve ser mais do que um documento normativo: deve ser um instrumento vivo, construído coletivamente, sensível aos contextos e capaz de promover uma educação emancipadora e transformadora. Referência Bibliográfica Brasil. Ministério da Educação. (2017). Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em: https://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 2 jul. 2025. Moder, Maximiliano. (2015). Desenhos curriculares internacionais: cinco experiências para reflexões sobre o sistema educacional brasileiro. Disponível em: http://movimentopelabase.org.br/wp-content/uploads/2015/09/MODER_Benchmark-internacional.pdf. Acesso em: 30 Jun 2025. 1