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 INTRODUÇÃO 
 
O filme Freud: Além da Alma (1962) retrata os primeiros anos da carreira de Sigmund 
Freud, mostrando sua transição da neurologia para a criação da psicanálise. A narrativa 
acompanha Freud lidando com pacientes histéricos, especialmente mulheres com sintomas 
físicos sem causa orgânica, como paralisias e convulsões, que revelam conflitos emocionais 
reprimidos. 
Durante uma viagem a Paris, ele estuda com Jean-Martin Charcot, que utilizava a 
hipnose para tratar a histeria, percebendo que os sintomas físicos eram manifestações do 
inconsciente. De volta à Viena, Freud desenvolve o método da associação livre, incentivando 
os pacientes a falar espontaneamente, permitindo que memórias reprimidas e desejos 
inconscientes venham à tona. O tratamento de Cecily Koertner, paciente emblemática no 
filme, exemplifica como sintomas histéricos são expressões legítimas de traumas e conflitos 
internos. 
O filme também aborda conceitos centrais da psicanálise, como inconsciente, 
repressão, transferência e interpretação dos sonhos, destacando a importância do vínculo 
terapêutico e da escuta empática. Além disso, mostra os desafios enfrentados por Freud diante 
do ceticismo médico da época, reforçando que a prática clínica exige ética, sensibilidade e 
atenção à singularidade do paciente. 
1- O INCONSCIENTE NA NARRATIVA FÍLMICA 
Um dos elementos centrais de Freud: Além da Alma é a forma como o inconsciente se 
manifesta na narrativa. No filme, essa dimensão psíquica aparece principalmente por meio de 
sonhos, lapsos de linguagem, atos falhos e recordações reprimidas, refletindo a maneira como 
Freud compreendia o funcionamento da mente humana. A personagem Cecily, em particular, 
exemplifica essa dinâmica: suas crises histéricas, hesitações e lembranças fragmentadas 
revelam conflitos internos que permanecem ocultos à consciência, mas que se expressam 
simbolicamente por meio de sintomas físicos e comportamentos inesperados. 
Essa representação cinematográfica conversa diretamente com a teoria freudiana do 
inconsciente, segundo a qual os conteúdos reprimidos — desejos, traumas e experiências de 
infância — são mantidos fora da consciência imediata, mas exercem influência sobre 
pensamentos, sentimentos e comportamentos. No filme, os diálogos e cenas de terapia 
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ilustram como Freud observa essas manifestações com atenção, buscando interpretá-las e 
conectá-las à história de vida do paciente. 
No pouco que pude perceber até o momento, é que na prática clínica, a compreensão 
do inconsciente se traduz na capacidade do terapeuta de identificar padrões, significados 
simbólicos e relações entre sintomas e experiências reprimidas. Ao ouvir relatos de sonhos, 
lapsos ou comportamentos repetitivos, o psicoterapeuta consegue acessar conteúdos psíquicos 
que o paciente não consegue expressar diretamente, utilizando essas informações para 
promover elaboração, insight e transformação emocional. Assim, o filme não apenas 
dramatiza o conceito de inconsciente, mas também evidencia sua relevância prática, 
mostrando como a escuta cuidadosa e a interpretação clínica são instrumentos fundamentais 
para compreender e tratar o sofrimento humano. 
2- OS SINTOMAS HISTÉRICOS E SUA COMPREENSÃO PSICANALÍTICA 
Nas cenas do filme, os sintomas histéricos ocupam um papel central, ilustrando a 
maneira inovadora com que Freud compreendeu o sofrimento psíquico. O filme retrata 
pacientes, especialmente Cecily, apresentando paralisias, convulsões, desmaios e dores físicas 
sem causa orgânica identificável, provocando perplexidade na comunidade médica da época. 
Diferentemente do modelo médico tradicional, que atribuía tais manifestações a fraqueza, 
fingimento ou desequilíbrios fisiológicos, Freud observa que esses sintomas são, na realidade, 
expressões simbólicas de conflitos internos e traumas reprimidos. 
A personagem Cecily exemplifica esse processo: suas crises físicas surgem em 
contextos emocionais específicos, e ao explorar suas memórias e experiências de infância, 
Freud identifica eventos traumáticos que permaneceram reprimidos no inconsciente. Dessa 
forma, o corpo passa a funcionar como uma linguagem simbólica, na qual cada sintoma 
contém significado psíquico e emocional. O filme mostra que a interpretação clínica desses 
sintomas exige paciência, escuta atenta e a capacidade de conectar manifestações físicas a 
experiências subjetivas, permitindo que o terapeuta compreenda a história do paciente de 
maneira integrada. 
Essa perspectiva inaugura uma mudança paradigmática na compreensão do sintoma: o 
sofrimento psíquico não precisa se expressar apenas pela fala, mas pode se manifestar 
corporalmente, sendo passível de interpretação no processo analítico. Na prática clínica 
contemporânea, essa concepção reforça a importância de considerar a inter-relação entre 
mente e corpo, reconhecendo que sintomas físicos podem ser portadores de significados 
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inconscientes. O filme evidencia, assim, que a investigação psicanalítica não se limita à 
identificação de sinais superficiais, mas busca compreender a lógica simbólica do sintoma, 
abrindo caminhos para a elaboração terapêutica e para a transformação emocional do 
paciente. 
3- O DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO PSICANALÍTICO 
O filme também ilustra o abandono progressivo da hipnose em favor da técnica da 
associação livre, na qual o paciente é convidado a falar sem censura, permitindo o acesso aos 
conteúdos inconscientes. Além disso, a obra apresenta elementos como a transferência, e a 
interpretação dos sonhos, apontada como via privilegiada para a compreensão do 
inconsciente. As cenas mais evidentes em que ele atende pacientes com paralisias, convulsões 
e outros sintomas físicos sem causa orgânica, aparente perceptível na relação médico paciente 
estabelecida entre Freud e Cecily Koertner (paciente principal do filme). Tais recursos 
consolidam o método psicanalítico e marcam um novo paradigma no entendimento do 
sofrimento humano, centrado não apenas nos sintomas, mas no sentido subjetivo que eles 
carregam. 
Alguns pontos específicos: 
1. Cenário da clínica inicial: 
Freud observa Cecily apresentando episódios de paralisia e desmaios. Ele percebe que 
os sintomas não são simulados, mas manifestações de conflitos emocionais e traumas 
reprimidos da infância. Essa cena ilustra a noção freudiana de que os sintomas 
histéricos são expressões físicas do inconsciente, traduzindo conflitos psíquicos em 
sinais corporais. 
2. Sessões de diálogo: 
Durante as conversas com Cecily, Freud questiona e encoraja a paciente a falar sobre 
lembranças reprimidas, medos e traumas. As resistências e relutâncias da paciente 
revelam a força da repressão, um conceito central na teoria freudiana da histeria. 
3. Cenas com hipnose: 
Freud utiliza inicialmente a hipnose para explorar os sintomas, mostrando que eles 
podem ser temporariamente aliviados ou trazidos à consciência. Essa abordagem 
demonstra que os sintomas histéricos têm um sentido psicológico, e não uma causa 
puramente orgânica. 
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Para mim a cena mais emblemática é quando Cecily apresenta crises histéricas em 
meio à narrativa clínica, e Freud, analisando suas reações físicas e emocionais, compreende 
que as manifestações somáticas são uma linguagem do inconsciente, refletindo conflitos 
reprimidos e experiências traumáticas. 
4- REFLEXÕES E CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE 
A experiência de assistir ao filme provoca importantes reflexões sobre a prática 
clínica, mostrando que a psicanálise exige ética, conhecimento técnico e sensibilidade. A 
escuta ativa e a criação de um espaço seguro permitem que o paciente explore seus conflitos 
internos, revelando conteúdos inconscientes e promovendo transformação emocional. 
A obra evidencia que a psicanálise não oferece respostas prontas, mas fornece 
ferramentas para que o terapeuta compreenda e acolha o sofrimento psíquico, ajudando o 
paciente a desenvolverautonomia e elaborar suas experiências. Assim, o filme reforça que a 
prática psicanalítica integra ciência e humanidade, com o vínculo terapêutico como elemento 
central para promover mudanças significativas e duradouras na vida do indivíduo. 
5- CONCLUSÃO 
Freud: Além da Alma apresenta, ainda que de forma dramatizada, um panorama 
significativo do surgimento da psicanálise e de seus conceitos fundamentais. Ao retratar os 
desafios enfrentados por Freud, as resistências científicas e o impacto das descobertas sobre o 
inconsciente, a obra permite refletir sobre a importância da escuta clínica e sobre as bases 
teóricas que sustentam a prática psicoterapêutica até os dias atuais. Assim, a narrativa 
contribui não apenas para a compreensão histórica da psicanálise, mas também para o 
reconhecimento de sua relevância no campo da saúde mental. 
Compreender a trajetória de Freud e suas observações clínicas nos proporciona um 
conhecimento profundo sobre o funcionamento do inconsciente e a relação entre sintomas e 
experiências reprimidas. Esse aprendizado oferece importantes subsídios para nossa formação 
como futuros psicólogos, mostrando como a escuta atenta, a interpretação dos sinais psíquicos 
e o respeito à singularidade de cada paciente são fundamentais para uma prática clínica ética, 
sensível e transformadora. 
6- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
FILME. FREUD: ALÉM DA ALMA. Disponível no AVA. 
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ESPAÇO MUTABIS, Canal do Youtube. Sigmund Freud | 'A Invenção da Psicanálise' | 
Documentário 1997. Acesso em 18 ago. 2025. 
BARATTO, Geselda. A Descoberta do Inconsciente e o Percurso Histórico de sua 
Elaboração. Artigo. Universidade Regional de Blumenau. Disponível no AVA. 
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da psicanálise. 4. ed. São Paulo: Martins 
Fontes, 2012. 
FREUD, Sigmund. Estudos sobre a histeria. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 
FREUD, Sigmund. Cinco lições de psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 
FREUD, Sigmund. Conferências introdutórias à psicanálise. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2014.

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