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Sumário Detalhado sobre Avaliação Pré-Anestésica e Anestesiologia Veterinária Este briefing detalha os principais aspectos da avaliação pré-anestésica e os fundamentos da anestesiologia em medicina veterinária, conforme os materiais fornecidos. Abrange desde os objetivos e etapas da avaliação até a compreensão da dor e os tipos de anestesia, com ênfase na individualização do protocolo anestésico e na comunicação com o tutor. 1. Objetivos da Avaliação Pré-Anestésica A avaliação pré-anestésica é uma etapa crucial com múltiplos objetivos, visando a segurança e o sucesso do procedimento: Determinar a condição física do paciente: Avaliar o estado geral de saúde do animal. Escolher o protocolo anestésico: Selecionar os fármacos e técnicas mais adequadas para o paciente e o procedimento. Estimar o risco anestésico do procedimento: Classificar o paciente de acordo com o risco envolvido na anestesia. Diminuir a morbidade e mortalidade: Reduzir complicações e óbitos relacionados à anestesia. Obtenção do consentimento do proprietário: Informar o tutor sobre os riscos e obter sua autorização. 2. Etapas da Avaliação Pré-Anestésica A avaliação segue um roteiro sistemático: Identificação do paciente: Coleta de dados básicos como espécie, raça, temperamento, idade, sexo, estado reprodutivo e peso. Anamnese: Histórico detalhado fornecido pelo proprietário. Exame físico: Avaliação clínica do animal. Avaliação dos exames complementares: Análise de resultados laboratoriais e de imagem. A frase "A CLÍNICA É SOBERANA" enfatiza a importância da avaliação clínica em conjunto com os exames. 3. Fatores Relevantes na Identificação do Paciente Diversos aspectos individuais do animal influenciam o protocolo anestésico: 3.1. Espécie Cada espécie possui particularidades: Cães, Felinos, Equinos, Bovinos, Caprinos: Cada um reage de maneira diferente aos fármacos e ao estresse. "A espécie que a gente vai anestesiar, gente, é completamente diferente da espécie da a Cães, gatos, tudo a mesma coisa, gente. Gatos são os maiores apostos que para mim tem, principalmente na anestesia. Eles não são nada parecidos, eles não são nada iguais." Gatos e Bovinos: Tendem a demonstrar dor apenas quando o quadro é muito grave. "O bovino e o gato são duas espécies que para demonstrar dor eles têm que tá morrendo." Cavalos: Considerados "a espécie mais fresca", demonstrando dor com mais intensidade e exigindo manejo cuidadoso. 3.2. Raça Algumas raças apresentam particularidades genéticas ou anatômicas: Braquicefálicos (cães e gatos): "Resposta acentuada aos fenotiazínicos, palatos longos." Possuem trato respiratório comprometido, necessitando de atenção especial. A relaxamento muscular pela anestesia pode agravar a obstrução das vias aéreas. Boxer: "Alta atividade vagal," predispondo à bradicardia. O eletrocardiograma é um exame pré-anestésico imprescindível. Collie: "Alta permeabilidade de membrana," o que faz com que fármacos administrados IV cheguem mais rapidamente ao cérebro, exigindo doses menores. Galgos: "Pouco tecido adiposo," o que pode levar a uma maior fração livre de fármacos lipossolúveis na circulação, agindo como uma sobredose. Têm deficiência da enzima P450, que afeta a metabolização de fármacos. 3.3. Temperamento O comportamento do animal impacta a fase pré-anestésica: Calmo: Pode exigir menos sedação. Agressivo/Medroso: Necessitam de maior sedação pré-anestésica para segurança da equipe e conforto do animal. "Se eu tenho um paciente calmo, às vezes eu nem preciso fazer um cenativo, eu faço só um analgésico." mas se for bravo, "eu vou pesar a mão um pouco ativo." 3.4. Idade Filhotes e idosos têm sistemas fisiológicos mais vulneráveis: Filhotes (Neonatos): "Dificuldade de manter a temperatura," "dificuldade de compensar as oscilações de PA, FC e FR," e "SISTEMAS IMATUROS." O metabolismo é acelerado, mas a metabolização hepática e renal é imatura. Idosos: "Dificuldade de manter a temperatura," "dificuldade de compensar as oscilações de PA, FC e FR," e "SISTEMAS EM FALÊNCIA." Frequentemente apresentam comorbidades (cardíacas, renais, etc.). A idade por si só não é um impedimento, mas as comorbidades associadas podem ser. 3.5. Estado Reprodutivo Fêmea no cio: Maior risco de sangramento devido à vasodilatação uterina. Fêmea gestante: O protocolo anestésico deve considerar a viabilidade dos fetos. "Se eu tenho fatos vivos e viáveis, quem é a minha prioridade? Certo. Eu vou fazer o meu protocolo mais estético pensando no oferto, obviamente dando todo o conforto para a mãe, mas usando fármacos que interfiram menos no filhote." 3.6. Peso/Estado Nutricional Caquético/Hipoproteinêmico: A baixa concentração de proteínas plasmáticas resulta em maior fração livre de fármacos, o que pode levar a uma "sobredose". Obeso: Grande quantidade de tecido adiposo, que absorve fármacos lipossolúveis, prolongando o tempo de recuperação da anestesia, pois o fármaco é liberado lentamente. "Tecido de pouso é um tecido pouco vascularizado. Não adianta." 4. Anamnese A anamnese é a coleta de informações detalhadas do proprietário: Jejum: Fundamental para evitar regurgitação e broncoaspiração. Alimentar: 8 horas (cães e gatos), 24-48 horas (grandes ruminantes). Hídrico: 2 horas (cães e gatos). Neonatos: 30 minutos (risco de hipoglicemia). Pacientes emergências, geralmente, não fazem jejum. "Qual é o problema de não ter jejum? ... comprometimento da expansão do diafragma." devido ao peso das vísceras. Histórico de doenças: Tosse, desmaios, diarreia, vômito. Medicações em uso: Saber quais fármacos o animal está tomando e se precisam ser suspensos. Histórico anestésico: Complicações em anestesias anteriores. "Sempre falem a verdade [para o proprietário]" sobre intercorrências. 5. Exame Físico O exame físico avalia a condição atual do animal: Avaliação da desidratação:Ressecamento de mucosas. Turgor de pele. Tempo de Preenchimento Capilar (TPC). Retração do globo ocular. VG (Volume Globular) e Pt (Proteínas Totais): Podem estar falsamente aumentados em desidratados. Em animais anêmicos e hipoproteinêmicos desidratados, o valor real pode estar mascarado. Frequência Cardíaca (FC) e Qualidade de Pulso: Paciente desidratado pode ter FC aumentada para compensar a diminuição do volume circulante (pré-carga). "Para tentar manter a pressão arterial, que que o organismo faz? Aumenta [a frequência cardíaca]." Pressão Arterial (PA): PA = Débito Cardíaco x Resistência Vascular Sistêmica. O Débito Cardíaco = Volume Sistólico x Frequência Cardíaca. O Volume Sistólico é influenciado pela pré-carga, contratilidade (inotrópico) e pós-carga. 6. Exames Complementares Ajudam a traçar um perfil completo do paciente: Hemograma Completo: Avalia células sanguíneas, auxiliando na identificação de anemia, infecções, etc. Bioquímico Sérico:Renal: Avalia função renal (ureia, creatinina). Hepático: Avalia função hepática (enzimas hepáticas). Proteínas e Frações: Importante para a ligação de fármacos. Eletrocardiograma (ECG): Avalia "ritmo cardíaco," "tamanho das ondas" (sugere sobrecarga de câmaras) e "arritmias." Imprescindível para raças como o Boxer. Raio-X de Tórax e US Abdominal: Pesquisa de metástases, áreas de troca gasosa diminuídas no pulmão (interferência na anestesia). 7. Classificação do Risco Anestésico (ASA) A classificação da American Society of Anesthesiologists (ASA) é utilizada para categorizar o risco do paciente. Embora mencionada, os detalhes da escala não são fornecidos nos excertos. 8. Compreensão da Dor e Analgesia A diferenciação entre dor e nocicepção é fundamental para a anestesia: Dor: Exige que o paciente esteja consciente e envolve um componente emocional. "Para eu sentir a palavra dor, eu tenho que estar acordado." Nocicepção: É a ativação da via neurológica da dor, que pode ocorrer mesmo em pacientesanestesiados. "O paciente anestesiado, ele só não tem às vezes a última etapa da dor, que é a percepção dessa dor." No entanto, o corpo responde ao estímulo nociceptivo com "aumento de frequência cardíaca, aumento de frequência respiratória, aumento de pressão arterial." Etapas da Dor:Transdução: Conversão de estímulo (mecânico, químico, térmico) em estímulo elétrico pelos nociceptores. Transmissão: Condução do estímulo elétrico até a medula espinhal. Modulação: Processamento do estímulo na medula, podendo haver um arco reflexo ou ascensão ao cérebro. Percepção: Ocorre no córtex cerebral, resultando na sensação de dor e em uma atitude do animal. Objetivo da Anestesia: "Fazer com que todas essas etapas sejam cobertas. Cobertas o quê? De analgésico." 9. Anestesia Balanceada e Multimodal Anestesia Balanceada: Associação de "vários fármacos de classes farmacológicas diferentes" com objetivos distintos para uma anestesia completa. "Eu nunca vou anestesiar um paciente com um fármaco só, porque esse fármaco só, que na maioria das vezes é um anestésico geral, o próprio anestésico geral, ele não faz analgesia." Anestésicos gerais (isoflurano, sevoflurano, tiopental) não promovem analgesia. Neuroleptoanalgesia: Associação de um fármaco sedativo/tranquilizante com um analgésico. Anestesia Multimodal: Utilização de vários fármacos analgésicos que atuam em "pontos distintos da via nociceptiva" (transdução, transmissão, modulação, projeção) para garantir um controle eficaz da dor. Vantagem da Anestesia Balanceada/Multimodal: Permite o uso de "dose baixa desses fármacos" e, consequentemente, "diminuir os efeitos colaterais," que são dose-dependentes, aumentando a segurança do paciente. Analgesia Pré-emptiva: Administração de analgésicos antes do estímulo doloroso (e.g., medicação pré-anestésica - MPA) para dessensibilizar a via nociceptiva. 10. Fases da Anestesia A anestesia é dividida em três etapas principais: Pré-anestésica: O anestesista é o primeiro a atuar, realizando a avaliação física, solicitando exames, conversando com o proprietário ("Vocês precisam conversar com o proprietário. Isso é uma coisa que a faculdade não ensina.") e estabilizando o paciente ("A gente também é responsável por estabilizar o paciente antes da anestesia."). Transanestésica: Fase intraoperatória, onde o anestesista monitora o paciente constantemente. "Muitas vezes o trabalho do anestesista é muito mais mental do que braçal." Pós-anestésica: Recuperação do paciente, incluindo o controle da analgesia e a alta. 11. Tipos de Anestesia Anestesia Geral:Inalatória: Administrada por inalação. Intravenosa: Administrada por via intravenosa. Anestesia Dissociativa: Dissocia o corpo do cérebro. O animal fica com os olhos abertos, tosse, mas não sente dor. "É como se a pessoa ficasse acordada, só que ela não sente dor." Não é ideal para cirurgias, sendo mais usada como componente analgésico, exceto em cavalos por questões de logística. 12. Termos Importantes Tranquilização: O animal fica mais calmo e relaxado, mas ainda consciente e interage. Sedação: O paciente apresenta maior depressão do sistema nervoso central, podendo estar em decúbito, mas ainda pode responder a estímulos dolorosos. Nocicepção: Todo o processo neuronal da dor, que ocorre em pacientes conscientes e inconscientes. Dor: Senso de sofrimento, envolvendo o componente emocional, apenas em pacientes conscientes. 13. Protocolo Anestésico O protocolo é individualizado e abrange as seguintes fases: Avaliação Pré-Anestésica: Exames, anamnese, exame físico, estimativa de risco. Medicação Pré-Anestésica (MPA): Administração de analgésico e sedativo para acalmar o paciente, facilitar o manejo e a indução anestésica. Indução Anestésica: Início da anestesia geral. Manutenção Anestésica: Utilização de anestésico geral mais técnicas de analgesia. Recuperação: Despertar e controle pós-operatório. "A anestesia é uma receita de bolo" no sentido de seguir etapas, mas cada "bolo" (paciente) é único e exige ajustes. A consulta pré-anestésica com um anestesista ainda não é uma prática comum na veterinária, levando o anestesista a conhecer o paciente apenas no momento do procedimento. 14. Comunicação com o Proprietário É de suma importância que o médico veterinário converse abertamente com o proprietário sobre os riscos da anestesia. "Vocês precisam conversar com o proprietário... Vocês têm que deixar bem claro para ele que o animal dele pode morrer." É crucial obter o "consentimento de anestesia" por escrito, descrevendo os riscos potenciais (reação anafilática, hipotensão, parada cardiorrespiratória, óbito). Mesmo que legalmente o termo não isente totalmente de responsabilidade, ele serve como "termo de conscientização mais do que consentimento," garantindo que o tutor foi avisado.