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73UNIDADE IV Tópicos Avançados em Criminologia e Política Criminal
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bom chegamos ao final de mais uma unidade e aqui se encerram os estudos refe-
rente a disciplina de Criminologia e Política criminal. 
Você percebeu que a Criminologia Feminista possui uma proposta de uma análise 
sobre perspectiva de gênero acerca do fenômeno criminal. Como eu disse no início, a Cri-
minologia Feminista propõe uma análise da mulher enquanto vítima dos crimes e também 
como autora de um delito. Como vítima é necessário se perguntar como o Direito Penal 
revitimiza as mulheres, sobretudo, nos crimes sexuais. Já no plano de autoria delitiva, é na 
aplicação da pena que se nota um distanciamento das demandas femininas dentro de um 
presídio por não oferecer condições mínimas à saúde da mulher, como questões referente 
a menstruação, a gravidez e a lactação. 
Também abordei o chamado Direito Penal do Inimigo proposto por Günther Jakobs. 
A proposta quase matemática se distancia muito da realidade ao dizer que o Direito Penal 
deve fazer uma diferenciação entre o Direito Penal do Cidadão e o Direito Penal do inimigo. 
A consequência dessa proposta, sobretudo para os países mais periféricos como o Brasil, 
é a produção de inimigos de ocasião como as pessoas pobres, negras e as camadas mais 
vulneráveis da sociedade. Nesse sentido a teoria parece não ser positiva.
Outro tema que foi objeto de análise durante os estudos foi o superencarceramento. 
Hoje há um grande déficit de vagas disponíveis no sistema carcerário brasileiro o que acaba 
por repercutir em uma superlotação, condições desumanas e degradantes de cumprimento 
de pena e promove o surgimento de facções criminosas que se instalam dentro e fora dos 
muros das prisões. Se o cárcere brasileiro é ocupado por pessoas majoritariamente pobres 
e com baixa escolaridade é necessário pensar em políticas públicas que evitem que o 
sujeito seja aliciado para a criminalidade e isso passa necessariamente por um projeto de 
educação, saúde, assistência social etc. 
Finalmente, acabei por abordar a questão da homofobia e da transfobia. Apresentei 
como o Supremo Tribunal Federal se posicionou frente à questão já que o Brasil é um dos 
países que mais mata pessoas LGBTI+. O enfrentamento do problema não deve ser apenas 
jurídico, mas também de ações efetivas que eliminem o preconceito e a discriminação que 
em sua forma mais grave significam a morte de uma pessoa.
Assim, eu me despeço de você, espero que você tenha sido provocado durante os 
temas aqui trabalhados. Abraços!
74UNIDADE IV Tópicos Avançados em Criminologia e Política Criminal
LEITURA COMPLEMENTAR
DIREITO PENAL DE EFEITOS SIMBÓLICOS
Por André Luís Callegari e Daniela ScariotDe há muito Silva Sánchez alerta sobre o 
fenômeno da expansão do Direito Penal e seus efeitos globais sobre as legislações penais. 
Em sua concepção, a expansão pode ser caracterizada, especialmente, pela (i) criminaliza-
ção de novos bens jurídicos e incremento da pena dos já existentes, (ii) aumento de tipos de 
perigo abstrato e normas penais em branco, e (iii) flexibilização das regras de imputação e 
relativização das garantias processuais.As principais causas são o aparecimento de novos 
bens jurídicos penalmente relevantes, o efetivo surgimento de novos riscos trazidos pela 
sociedade pós-industrial, e o sentimento geral de insegurança social – dentro do conceito 
de sociedade de risco, introduzido por Beck.Neste último ponto, o papel exercido pela mídia 
de massas é crucial, pois por meio de suas opiniões leigas e desprovidas de fundamento 
jurídico, infla o discurso da impunidade e gera uma sensação de insegurança com a ex-
ploração sensacionalista de notícias envolvendo criminalidade. A consequência é o clamor 
social por medidas político-criminais mais severas e rápidas.O fenômeno da expansão do 
Direito Penal também se deve a busca incessante de resolução dos conflitos sociais atra-
vés de políticas populistas, isto é, que servem para aplacar o clamor social, mas que não 
apresentam qualquer resolução para o problema.Os legisladores de plantão estão sempre 
prontos com os seus pacotes de medidas de resolução da criminalidade que se traduzem, 
normalmente, em aumento de penas e restrições de garantias. A verdade é que o ganho 
político destas medidas é incomensurável, pois estamos diante de um tema que atinge 
a todos e qualquer proposta de uma possível solução sempre é atraente, ainda que nela 
venha dissimulada toda uma legislação de exceção.Esse fenômeno também é conhecido 
como populismo punitivo e as suas características são guiadas por três assunções: que as 
penas mais altas podem reduzir o delito; que as penas ajudam a reforçar o consenso moral 
existente na sociedade; e que há ganhos eleitorais que são produto deste uso. Também 
pode ser definido como aquela situação em que as considerações eleitorais primam sobre 
as considerações de efetividade. Acrescentando-se como marco deste populismo que as 
decisões de política criminal se adotam com desconhecimento da evidência e baseiam-se 
em assunções simplistas de uma opinião pública não informada. E, assim, abre-se espaço 
para oportunismos políticos e legislativos, que, em detrimento de uma política criminal 
séria, fornecem respostas céleres, porém desprovidas da necessária profundidade técni-

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