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69UNIDADE IV Tópicos Avançados em Criminologia e Política Criminal Figura 2 - Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – Período de Julho a Dezembro de 2019 Fonte: Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN). Além do altíssimo número, pesa o fator das condições prisionais ofertadas. Se a Constituição Federal propõe a necessidade de se dar um cumprimento da pena de maneira humana e com dignidade, o que se vê na prática é o oposto. O Supremo Tribunal Federal (STF) foi provocado a analisar a situação e propôs as seguintes medidas no julgamento da Medida Cautelar na ADPF 347: a) fundamentação da decretação da prisão preventiva e provisória, com a devida justificação da não aplicação das medidas cautelares contidas no artigo 319 do CPP; b) necessidade de implementação da audiência de custódia; c) que o diagnóstico do sistema carcerário sirva de fundamentação para impor cautelares, aplicar pena e decidir incidentes na execução penal; d) sempre que possível devem ser adotadas penas alternativas à prisão; d) mitigar os requisitos temporais para que o preso goze dos institutos da progressão de regime, livramento condicional, entre outros, quando se verificar que as condições de cumprimento de pena na prática são mais constritivas do que a previsão legal; etc. No mesmo sentido, há que se dizer que o encarceramento feminino também é uma realidade. Ao contrário do que se imagina, as mulheres delinquem. De acordo com o INFOPEN Mulheres de 2017, o crime de tráfico de drogas seria responsável por cerca de 59,6% das prisões femininas, agindo no transporte de drogas como as chamadas “mulas” do tráfico. É importante considerar que as mulheres representam uma fatia muito menor da população encarcerada, todavia, percebe-se uma violação ainda maior de direitos das mulheres presas, sobretudo quando se fala em gestantes, lactantes e mãe de filhos em sua primeira infância. Isso porque o cárcere é uma instituição construída por homens e para homens, pois, eram estes os sujeitos enviados para aquele local. Logo, a disposição arquitetônica de uma prisão é masculina e, quando muito, adaptada para a recepção de mulheres (DIAS, 2017, p. 16). 70UNIDADE IV Tópicos Avançados em Criminologia e Política Criminal 4. A TEORIA QUEER E A CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOTRANSFOBIA Sem dúvida alguma, a fobia ao grupo LGBTI+ produz graves consequências. Em sua vertente mais perversa, vê-se um grande número de mortes violentas cometidas contra o grupo. Por muito tempo, no Brasil, se discutiu se a criminalização da homofobia e transfobia seria adequada para enfrentar esse problema. Para trabalhar esse aspecto, apresentarei a Teoria Queer e o panorama jurídico atual da situação. O termo queer busca apontar algo estranho e esquisito no sentido de não se encaixar em determinado padrão (CARVALHO, 2012, p. 153). De outro vértice, o termo está associado com a homossexualidade, produzin- do uma conotação agressiva e homofóbica. Neste sentido, Salo de Carvalho: Como adjetivo, o significado de queer se aproxima de estranho, esquisito, excêntrico ou original. Como substantivo, normalmente é traduzido como ho- mossexual; mas o seu uso cotidiano e sua apreensão pelo senso comum denota um sentido mais forte e agressivo, com importantes conotações ho- mofóbicas: “gay”, “bicha”, “veado”, “boneca” (CARVALHO, 2017, p. 230). Em certa medida, a perspectiva queer atualmente já não assume mais um sentido agressivo ao depreciar o sujeito, mas busca-se reformular o significado de queer para tor- ná-lo positivo, bem como, denunciar que a heteronormativo produz violência. Neste sentido, Richard Miskolci (2012, p. 26 - 27) “o queer busca tornar visíveis as injustiças e violências implicadas na disseminação e na demanda do cumprimento das normas e das conversões culturais, violências e injustiças envolvidas tanto na criação dos ‘normais’ quanto dos ‘anormais’”.