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EPD – ESCOLA PAULISTA DE DIREITO
GRADUAÇÃO EM DIREITO
ABDULBASET JAROUR
A LEI DAS XII TÁBUAS: ANÁLISE JURÍDICA E HISTÓRICA
2025
SUMÁRIO
 
1 INTRODUÇÃO	3
2 DESENVOLVIMENTO	5
2.1 Corrupção ativa	5
2.2 Corrupção passiva	7
2.3 Prevaricação	8
3 CONCLUSÃO	10
REFERÊNCIAS	11
1 INTRODUÇÃO
A Lei das XII Tábuas é considerada a primeira codificação legal romana e um marco essencial na história do direito ocidental. Elaborada no século V a.C., durante a República Romana, essa legislação surgiu como resposta às tensões entre patrícios e plebeus, que reivindicavam maior segurança jurídica e previsibilidade nas relações sociais. A ausência de normas escritas favorecia a arbitrariedade dos magistrados, motivo pelo qual os plebeus exigiram a elaboração de um conjunto normativo acessível e público (Alves, 2021). 
A importância da Lei das XII Tábuas transcende o contexto romano. Ela se consolidou como referência jurídica fundamental, pois representava a institucionalização de princípios que ainda hoje ecoam em diferentes ordenamentos jurídicos, como o devido processo legal, a proteção da propriedade privada, a sucessão hereditária e a supremacia da lei frente a costumes não escritos (Amaral, 2018). Dessa maneira, estudar esse conjunto normativo é também compreender as raízes de conceitos que atravessaram séculos até influenciar os códigos civis modernos, inclusive o Código Civil brasileiro (Brasil, 2002).
O presente trabalho tem como objetivo realizar uma análise jurídica e histórica das Leis das XII Tábuas, com foco em algumas seções selecionadas: Tábua I (do chamamento a juízo), Tábua II (dos julgamentos e dos furtos), Tábua III (dos direitos de crédito), Tábua IV (do pátrio poder e do casamento), Tábua V (das heranças e tutelas), Tábua VI (do direito de propriedade e da posse), Tábua VII (dos delitos) e Tábua XI (da vontade popular como força de lei). 
2 DESENVOLVIMENTO
2.1. Contexto histórico da Lei das XII Tábuas
A origem da Lei das XII Tábuas remonta ao ano de 451 a.C., quando uma comissão de decênviros foi encarregada de redigir as normas legais de Roma. Esse processo resultou em uma codificação gravada em tábuas de bronze, expostas no Fórum Romano, garantindo publicidade e acesso às regras jurídicas (Alves, 2021). A promulgação atendeu a uma necessidade social: a plebe buscava conter o poder discricionário dos magistrados patrícios, assegurando maior igualdade na aplicação da justiça.
Segundo Coelho (2006), a Lei das XII Tábuas não era um código sistematizado nos moldes atuais, mas sim um compêndio de regras costumeiras fixadas por escrito. Ainda assim, sua importância é inegável, pois estabeleceu os alicerces do direito civil romano, influenciando institutos fundamentais, como a propriedade, o contrato, a família e a sucessão.
 
2.2. A Tábua I: Do chamamento a juízo
A Tábua I tratava do chamamento das partes ao processo judicial, regulamentando a obrigação de comparecimento perante o magistrado. O texto previa que, em caso de recusa, o demandado poderia ser conduzido à força pelo autor. Essa disposição revela a natureza formal e rígida do processo romano, ainda distante da concepção moderna de garantias fundamentais, mas já preocupada em assegurar a efetividade da jurisdição (Alves, 2021).
No direito contemporâneo, a coerção física deu lugar a mecanismos processuais como a revelia e as sanções processuais aplicadas em caso de não comparecimento. O princípio da obrigatoriedade da jurisdição, hoje assegurado pelo devido processo legal (art. 5º, LIV e LV, da Constituição Federal brasileira), pode ser identificado como herdeiro desse dispositivo romano. Para Amaral (2018), a codificação representou um avanço civilizatório, ao transformar conflitos privados em questões submetidas a instâncias formais de julgamento.
 
2.3. A Tábua II: Dos julgamentos e dos furtos
A Tábua II abordava aspectos processuais e materiais relacionados aos furtos. O direito romano distinguia entre furto manifesto (quando o ladrão era surpreendido em flagrante) e furto não manifesto. No primeiro caso, a sanção era mais severa, incluindo a possibilidade de escravização do réu; no segundo, aplicava-se a pena pecuniária (Alves, 2021).
O furto, entendido como subtração de coisa alheia, encontra paralelo direto no direito penal contemporâneo, embora as sanções atuais sejam pautadas por princípios de proporcionalidade e dignidade humana. A distinção entre flagrante e não flagrante ainda persiste no processo penal, influenciando medidas como a prisão em flagrante. Assim, observa-se que a preocupação romana com a proteção da propriedade ecoa no ordenamento jurídico atual (Diniz, 2025).
 
2.4. A Tábua III: Dos direitos de crédito
A Tábua III regulava as obrigações decorrentes de dívidas. Estabelecia-se que, caso o devedor não cumprisse a obrigação, poderia ser mantido preso pelo credor por até sessenta dias, findos os quais poderia ser vendido como escravo além das fronteiras ou até mesmo morto. Essa severidade ilustra o peso da responsabilidade pessoal no cumprimento das obrigações (Alves, 2021).
No direito contemporâneo, a responsabilidade patrimonial substituiu a responsabilidade pessoal. O art. 789 do Código de Processo Civil brasileiro dispõe que “o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros” (Brasil, 2002). Assim, a evolução legislativa demonstra a transição de uma lógica punitiva e corporal para uma lógica patrimonial, vinculada ao princípio da dignidade da pessoa humana.
 
2.5. A Tábua IV: Do pátrio poder e do casamento
A Tábua IV abordava o pátrio poder, concedendo ao pater familias autoridade quase absoluta sobre os membros da família, incluindo o direito de vida e morte sobre os filhos. Também regulava o casamento, especialmente no que se referia à autoridade do marido e à submissão da esposa (Alves, 2021).
Embora hoje tais disposições sejam inaceitáveis, a Tábua IV demonstra a importância que a família sempre teve como núcleo social e jurídico. No direito civil brasileiro contemporâneo, o poder familiar é compartilhado por ambos os genitores e exercido em função do melhor interesse da criança (arts. 1.630 e seguintes do Código Civil). Essa evolução reflete a passagem de um modelo patriarcal para um modelo democrático de relações familiares (Diniz, 2025).
 
2.6. A Tábua V: Das heranças e tutelas
A Tábua V tratava das sucessões e das tutelas. No caso de morte sem herdeiros diretos, o patrimônio era transmitido ao membro mais próximo da gens. Também havia previsão de tutela para órfãos e incapazes, garantindo a proteção patrimonial e pessoal (Alves, 2021).
Esse dispositivo se conecta diretamente com o direito sucessório moderno, que organiza a transferência patrimonial após a morte, buscando conciliar a autonomia privada (por meio do testamento) e a ordem legal de vocação hereditária. No Brasil, os arts. 1.829 a 1.844 do Código Civil regulam a sucessão legítima, assegurando prioridade a descendentes, ascendentes e cônjuges (Brasil, 2002). A tutela, por sua vez, encontra paralelo na proteção dos menores de idade e incapazes, assegurada por institutos como a guarda e a curatela (Fiuza, 2015).
 
2.7. A Tábua VI: Do direito de propriedade e da posse
A Tábua VI estabelecia normas sobre propriedade e posse, regulamentando institutos como a mancipatio (forma solene de transferência de propriedade) e a usucapio (usucapião). Essas previsões demonstram a centralidade da propriedade no direito romano e sua importância como fundamento econômico e social (Alves, 2021).
A usucapião, em especial, revela a preocupação com a função social da propriedade, princípio que se mantém vivo no direito contemporâneo. No Brasil, a usucapião está prevista no art. 1.238 do Código Civil e no art. 183 da Constituição Federal, garantindo regularização fundiária e o acesso à moradia (Diniz, 2025). Como observa Duarte (2018), a permanência desse instituto comprova a força histórica do direito romano em moldar soluções jurídicas ainda relevantes.
 
2.8. A TábuaVII: Dos delitos
A Tábua VII tratava dos delitos em geral, incluindo danos causados a outrem. Entre as disposições, havia previsão de penas pecuniárias para quem causasse prejuízo material, como cortar árvores alheias ou ferir animais de propriedade de outrem. Essa regulamentação demonstra a preocupação com a reparação dos danos e com a proteção da propriedade privada (Alves, 2021).
Esse aspecto encontra paralelo no direito civil contemporâneo, especialmente na responsabilidade civil. O art. 927 do Código Civil brasileiro estabelece que aquele que causa dano a outrem fica obrigado a repará-lo (BRASIL, 2002). Como ressalta Gonçalves (2025), a responsabilidade civil moderna se apoia no binômio dano-reparação, herdeiro direto da tradição romana.
 
2.9. A Tábua XI: Da vontade popular como força de lei
A Tábua XI reafirmava a importância da vontade popular como fonte normativa, estabelecendo que aquilo que o povo decidisse teria força de lei. Essa disposição reforça o caráter democrático das instituições romanas e a legitimidade da lei como expressão da coletividade (Alves, 2021).
Esse princípio encontra eco nas constituições modernas, que reconhecem a soberania popular como fundamento do Estado de Direito. No Brasil, o art. 1º, parágrafo único, da Constituição Federal dispõe que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente” (BRASIL, 1988). 
3 CONCLUSÃO
A Lei das Doze Tábuas foi um divisor de águas na história do Direito, especialmente por transformar em normas escritas o que antes era só tradição oral e costume do povo romano. Mesmo sendo uma legislação antiga, ainda deixa marcas em vários sistemas jurídicos modernos, principalmente em áreas como herança, propriedade, responsabilidade civil e a ideia de que ninguém está acima da lei.
Cada parte dessa lei mostra o surgimento de ideias que evoluíram com o tempo, mas que ainda estão presentes. O chamado à justiça (Tábua I) já indicava a importância do direito a um julgamento justo. As normas sobre crimes e furtos (Tábuas II e VII) deixavam clara a defesa da propriedade privada e a obrigação de reparar prejuízos. A parte que falava de dívidas (Tábua III) mostrava como a responsabilidade sobre bens materiais começou a ser organizada. Já os temas de família, como o poder do pai e o casamento (Tábua IV), apontavam a família como base do Direito. Herança e tutela (Tábua V) garantiam a transmissão dos bens e a proteção de quem não podia se defender sozinho. A posse e a propriedade (Tábua VI) reforçavam o papel da economia na sociedade. Por fim, a proibição de leis contra o povo (Tábua XI) já sinalizava a valorização da vontade coletiva, algo que mais tarde se tornou um dos pilares da democracia.
REFERÊNCIAS
ALVES, José Carlos Moreira. Direito romano. 20 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021.
AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Brasília, DF: Presidência da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm. Acesso em: 20 dez. 2024.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 20 dez. 2024.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. v. 4. São Paulo: Saraiva, 2006.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. 42 ed. São Paulo: Saraiva, 2025.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das coisas. 39 ed. São Paulo: Saraiva, 2025.
DUARTE, Nestor. Breve exame da usucapião no direito brasileiro. In: ESCOLA PAULISTA DA MAGISTRATURA. Estudos em homenagem a Clóvis Beviláqua por ocasião do centenário do direito civil codificado no Brasil. São Paulo: EPM, v. 2, 2018. Disponível em: https://www.tjsp.jus.br/download/EPM/Publicacoes/ObrasJuridicas/cc34.pdf?d=636808166395003082. Acesso em: 9 dez. 2023.
FIUZA, César. Direito civil. 18 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das coisas. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2025.

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