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TEORIA E FUNDAMENTOS 
DA CONSTITUIÇÃO
ORGANIZADORA CLARA COUTINHO
Teoria e Fundam
entos da Constituição
GRUPO SER EDUCACIONAL
Esta é uma obra fundamental para estudantes de direito, pois aborda os 
quatro pilares da matéria de Teoria e Fundamentos da Constituição: consti-
tucionalismo, teoria do poder constituinte, características de e�cácia e de 
aplicabilidade da norma e aspectos interpretativos da Constituição.
Depois de ler o conteúdo aqui disposto, o aluno estará apto a reconhecer os 
conceitos de Constitucionalismo e sua evolução histórica, entenderá a 
estrutura e as diversas classi�cações da Constituição, perceberá que nem 
toda alteração constitucional decorre da mudança do texto da Constitu-
ição, compreenderá como direitos e liberdades foram alçados à condição 
de cláusula pétrea, reconhecerá os direitos e garantias fundamentais que a 
lei prevê ao cidadão, entre outras informações.
Aproveite a leitura e bons estudos!
TEORIA E 
FUNDAMENTOS 
DA CONSTITUIÇÃO
ORGANIZADORA CLARA COUTINHO
gente criando futuro
I SBN 9788522129423
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TEORIA E 
FUNDAMENTOS DA 
CONSTITUIÇÃO
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou 
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo 
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de 
informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. 
Diretor de EAD: Enzo Moreira
Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato 
Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes
Gerente editorial: Noelma Brocanelli
Coordenadora educacional: Pamela Marques
Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, Laís Pessoa
Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha
Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi
Coutinho, Clara
Teoria e Fundamentos da Constituição / Clara Coutinho:
Cengage – 2020.
Bibliografia.
ISBN 978-85-221-2942-3
1. Fundamentos da Constituição 2. Direito 3. Constituição – teoria e fundamentos 
Grupo Ser Educacional
 Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro 
CEP: 50100-160, Recife - PE 
PABX: (81) 3413-4611 
E-mail: sereducacional@sereducacional.com
“É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com 
isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns 
anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também 
passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o 
aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino 
Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil.
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, 
tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar 
seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento 
da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da 
democracia com a ampliação da escolaridade.
Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar 
as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer-
lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no 
contexto da sociedade.”
Janguiê Diniz
PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL
Autoria
Clara Araujo Coutinho
Bacharela em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi monitora no Programa 
de Pós-Graduação Lato Sensu da FGV DIREITO SP (GVlaw) em disciplinas relacionada ao Direito 
Administrativo. É advogada do XVV Advogados, com atuação na área de Direito Público.
PREFÁCIO ..............................................................................................................................................9
UNIDADE 1 - Constitucionalismo ....................................................................................................10
Introdução.............................................................................................................................................11
Constitucionalismo ............................................................................................................................... 12
Conceito ................................................................................................................................................12
Evolução histórica ................................................................................................................................. 13
Direito Constitucional ........................................................................................................................... 16
Natureza e conceito .............................................................................................................................. 17
Objeto do Direito Constitucional ......................................................................................................... 19
Conteúdo científico do Direito Constitucional ...................................................................................... 19
Constituição ..........................................................................................................................................22
Conceito ................................................................................................................................................22
Classificações da Constituição............................................................................................................... 24
Conteúdo da Constituição ..................................................................................................................... 24
Formas da Constituição......................................................................................................................... 25
Modo de elaboração da Constituição ................................................................................................... 26
Origem da Constituição ........................................................................................................................ 26
Estabilidade da Constituição ................................................................................................................ 28
Outras classificações ............................................................................................................................. 28
Objeto da Constituição ........................................................................................................................ 30
Elementos da Constituição ................................................................................................................... 30
PARA RESUMIR ........................................................................................................... 32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 33
SUMÁRIO
UNIDADE 2 - Teoria do Poder Constituinte .....................................................................................35
Introdução.............................................................................................................................................36
Definição ...............................................................................................................................................37
Poder Constituinte e Poder Constituído ............................................................................................... 37
Tipos de poder constituinte .................................................................................................................. 40
Poder Constituinte Originário ............................................................................................................... 41
Poder Constituinte Derivado .................................................................................................................de intervenção federal, de estado de 
defesa ou de estado de sítio.
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, 
considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do 
Senado Federal, com o respectivo número de ordem.
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode 
ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
Como se verifica acima, além dos requisitos relacionados à competência para autoria da 
proposta e procedimento a ser observado, o artigo 60 trouxe também hipóteses em que o Poder 
Constituinte reformador não poderá atuar. Tais limitações ao Poder Constituinte reformador 
podem ser classificadas como materiais, circunstanciais ou temporais. No caso da Constituição de 
1988, há apenas limitações das duas primeiras espécies mencionadas.
Limitações materiais
O parágrafo 4º indica algumas matérias que foram disciplinadas pelos direitos previstos na 
Constituição, que não poderá ser alterada pelo Poder Constituinte reformador, ou seja, que 
apenas poderá ser alterada mediante atuação de uma nova Assembleia Constituinte. São as 
chamadas cláusulas pétreas da Constituição, não alcançadas pelo Poder Constituinte reformador.
Limitações circunstanciais 
Estabelecem circunstâncias em que o Poder Constituinte reformador estará impedido de 
atuar. Na Constituição de 1988, tais limitações estão previstas no parágrafo primeiro do artigo 
60, transcrito acima, que estabelece que caso haja vigência de intervenção federal, de estado de 
defesa ou de estado de sítio, a Constituição não poderá ser emendada.
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Limitações temporais 
Estão presentes quando é previsto expressamente período durante o qual a Constituição 
não poderá ser objeto de alterações, ou, do contrário, quando se estabelece expressamente 
um período para que referidas alterações ocorram. O objetivo do estabelecimento da limitação 
temporal é conferir ao diploma constitucional maior estabilidade após sua promulgação. 
No caso da Constituição de 1988, como dito, não há limitação desse tipo ao Poder Constituinte 
reformador. Houve, contudo, limitação temporal ao Poder Constituinte no que se refere à 
possibilidade de revisão da norma constitucional, como se depreende do artigo 3º do Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias.
Poder Constituinte Derivado Revisor
O Poder Constituinte derivado revisor diz respeito à possibilidade, prevista expressamente e 
de forma excepcional, de que seja promovida a alteração e a atualização da norma constitucional. 
A revisão é feita também por meio de emendas, denominadas emendas de revisão, que são 
editadas por meio de procedimentos mais simplificados do que os procedimentos destinados à 
sua reforma. Como mencionado, o artigo 3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias 
previu a revisão da Constituição após cinco anos de sua promulgação:
Art. 3º – A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da 
Constituição, pelo voto da maioria dos membros.
A revisão tinha como principal objetivo assegurar que o resultado do plebiscito previsto no 
artigo 2º do ADCT, para a definição da forma e do sistema de governo que deveriam vigorar no 
país, pudessem ser incorporados à Constituição. Com a conclusão do plebiscito e decorrido o 
prazo indicado na ADCT, a Constituição foi objeto de seis emendas constitucionais de revisão 
entre 1993 e 1994.
Poder Constituinte Derivado Decorrente
O Poder Constituinte derivado decorrente, por sua vez, nada mais é o do que o Poder 
Constituinte dos Estados para dispor sobre sua organização. Possui esse nome uma vez que 
decorre da própria Constituição e de sua organização na forma de República Federativa. Por 
se tratar de Poder Constituinte derivado, é naturalmente limitado pela própria Constituição, 
enfrentando circunscrição jurídica ainda mais restrita do que o Poder Constituinte derivado 
reformador. Isso se deve especialmente ao fato de que as normas Estaduais e Municipais não 
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poderão contrariar o disposto na Constituição Federal.
O Poder Constituinte derivado decorrente é exercido pelas Assembleias Legislativas Estaduais, 
uma vez que a Constituição assim determinou. No âmbito dos Municípios, não há Constituição, 
apenas leis orgânicas, de forma que não se fala em Poder Constituinte municipal. 
Com relação ao Distrito Federal, a princípio também não caberia falar sobre um Poder 
Constituinte distrital, uma vez que a Lei Orgânica do Distrito Federal também não teria a natureza 
de Constituição, pois não há Poder Constituinte distrital. Porém, o Supremo Tribunal Federal, no 
âmbito da ADI 980, entendeu pela possibilidade de que haja controle de constitucionalidade sobre 
a Lei Orgânica do Distrito Federal. Por essa razão, alguns doutrinadores admitem a existência de 
um Poder Constituinte distrital. Também há controvérsias acerca do Poder Constituinte estadual. 
Silva (2004) aponta que alguns doutrinadores negam o seu caráter constituinte porque este está 
sujeito a intensa limitação. Outros doutrinadores reconhecem o caráter constituinte, ressalvando, 
no entanto, se tratar de poder secundário, condicionado, subordinado. Para o autor, o Poder 
Constituinte estadual, ainda que não seja soberano, é autônomo:
A soberania consiste na autodeterminação plena, nunca dirigida por determinantes jurídicas 
extrínsecas à vontade do soberano, que é o povo na sua expressão nacional, enquanto a autonomia, 
como poder próprio dentro de um círculo traçado por outro, pressupõe ao mesmo tempo uma zona 
de autodeterminação, que é o propriamente autônomo, e um conjunto de limitações e determinantes 
jurídicas extrínsecas, que é o heterônomo, a zona de autodeterminação e o conjunto de limitações são 
impostos pela Constituição Federal, que assegurou aos Estados a capacidade de auto-organizar-se por 
Constituição própria, observados os princípios dela (SILVA, 2004, p. 617).
Nesse contexto, é certo que o Poder Constituinte derivado decorrente diverge substancialmente 
do Poder Constituinte originário, especialmente por estar subordinado a este.
MUTAÇÕES CONSTITUCIONAIS
Inseridas no contexto de alteração das Constituições estão as mutações constitucionais. 
Diferentemente do Poder Constituinte derivado reformador, que se refere à existência de 
procedimentos solenes e formais, pré-definidos e constitucionalmente estabelecidos para 
a alteração do texto constitucional, as mutações constitucionais referem-se aos processos 
informais e sociais de alteração das Constituições – não de seu texto, mas de sua interpretação 
e seu significado no âmbito da sociedade. Para Silva (2004, p. 63-64), as mutações constitucionais 
são um processo não formal de mudanças das constituições rígidas, por via da “tradição, dos 
costumes, de alterações empíricas e sociológicas, pela interpretação judicial e pelo ordenamento 
de estatutos que afetem a estrutura orgânica do Estado”.
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As mutações constitucionais ocorrem por diversas razões. Primeiro, porque a norma 
constitucional positiva é, frequentemente, aberta e abstrata, de forma que lhes é possível 
atribuir mais de uma interpretação. Segundo, porque a sociedade está em constante mudança e, 
uma vez que se alteram os ideais, naturalmente o sentido atribuído por uma sociedade à norma 
está igualmente sujeito a alterações. Com relação ao caráter amplo e abstrato da norma, que lhe 
permite diferentes interpretações, Tavares (2012, p. 106) indica que este se revela sobretudo pela 
linguagem adotada pelo constituinte.
A abstratividade ou abertura das normas revela-se pelos vocábulos vagos, pelas palavras 
imprecisas empregadas peloconstituinte, e que necessitam, inegavelmente, de um preenchimento ou 
integração para tornarem-se compreensíveis e imediatamente aplicáveis.
Em virtude de tais características, surgem as dificuldades de intepretação e, consequentemente, 
a necessidade de que haja intérpretes capacitados a identificar o sentido adequado da norma. Há 
se ter cuidado com o processo de interpretação de norma constitucional e com suas mutações. 
Se, por um lado, há a necessidade constante da adequação entre a norma e o que ela disciplina, 
de forma que esta corresponda à realidade constitucional, é necessário assegurar que a norma 
não contrarie os princípios estruturais, políticos e jurídicos da Constituição. Nesse sentido, 
observados tais limites, Canotilho admite a legitimidade das mutações constitucionais:
A recente concepção de constituição como concentrado de princípios, concretizados e 
desenvolvidos na legislação infraconstitucional, aponta para a necessidade da interpretação da 
constituição de acordo com as leis, a fim de encontrar um mecanismo constitucional capaz de salvar 
a constituição em face da pressão sobre ela exercida pelas complexas e incessantemente mutáveis 
questões econó mico sociais. Esta leitura da constituição de baixo para cima, justificadora de uma 
nova compreensão da constituição a partir das leis infraconstitucionais, pode conduzir à derrocada 
interna da constituição por obra do legislador e de outros órgãos concretizadores, e à formação de uma 
constituição legal paralela, pretensamente mais próxima dos momentos “metajurídicos” (sociológicos 
e políticos) (CANOTILHO 1993, p. 233).
Por outro lado, como visto, é necessário assegurar que a Constituição mantenha seu conteúdo 
jurídico protegido, uma vez que esta deve sobreviver às pressões exercidas pela sociedade. Deve-
se assegurar, assim, que as mutações constitucionais não conduzam a um processo de criação de 
uma constituição legal paralela.
FIQUE DE OLHO
A Teoria do Poder Constituinte analisa e discute as diferentes apresentações que o Poder 
Constituinte assume. Compreender a função de cada uma dessas espécies, bem como as 
limitações a que estão sujeitas, é essencial para diferenciá-las.
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APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
NO TEMPO
O ingresso de uma nova norma constitucional no ordenamento jurídico implica a instauração 
de uma nova realidade normativa. Essa nova realidade impõe a necessidade de compatibilização 
das normas já existentes com a nova constituição.
Nova Constituição e ordem jurídica anterior
De acordo com a Teoria Constitucional, a partir do surgimento de uma nova Constituição tem 
origem uma nova ordem jurídica. A partir desse momento, a ordem jurídica anterior é, portanto, 
superada, dando lugar a uma nova realidade normativa. De acordo com Tavares (2012, 197), 
surge, então, a necessidade de que sejam concebidas novas regulamentações jurídicas:
A realização de um novo sistema de normas jurídicas a partir da manifestação originária do poder 
constituinte provoca a necessidade imediata de conceber novas regulamentações jurídicas, por meio 
das fontes e instrumentos previstos pela Constituição para tanto. A renovação, pois, surge como 
necessidade premente com o aparecimento de uma nova Constituição.
As normas então vigentes devem ser analisadas em face da Nova Constituição, de modo que, 
se com esta forem compatíveis, serão consideradas recepcionadas nesse novo ordenamento 
jurídico. Não se trata da continuação da validade da norma infraconstitucional, uma vez que a 
existência de uma nova Constituição retira o fundamento de legalidade das legislações que lhe 
antecedem. É necessário assegurar-lhes nova validade, e a esse processo denomina-se recepção. 
Diante de uma nova realidade normativa, uma norma existente no ordenamento jurídico deve 
ter sua compatibilidade com a nova constituição assegurada, com o intuito de conferir-lhe 
validade. Havendo a compatibilidade, se estará diante de uma norma que será recepcionada pela 
Constituição. Caso não haja, a norma será considerada não recepcionada, por lhe faltarem meios 
de permanecer válida sob a vigência da nova Constituição.
É comum afirmar que as normas anteriores à Constituição permanecem válidas, desde que, 
como se viu, não sejam incompatíveis com a nova ordem estabelecida. Contudo, a expressão 
“permanecem válidas” não oferece a exata dimensão do fenômeno. De acordo com Tavares (2012, 
p. 206), o que ocorre é que os fundamentos de validade da norma anterior, agora recepcionadas, 
mudam para a nova ordem constitucional:
A ‘recepção’ é um procedimento abreviado de criação do Direito. As leis que, na linguagem 
comum, inexata, continuam sendo válidas são, a partir de uma perspectiva jurídica, leis novas cuja 
significação coincide com a das velhas leis. Elas não são idênticas às velhas leis, porque seu fundamento 
de validade é diferente (TAVARES, 2012, p. 205).
49
A esse procedimento, Tavares denomina novação. Para o autor, se trata de um revigoramento 
de leis antigas, as quais são submetidas a um processo de nova leitura em face da nova ordem 
constitucional e, consequentemente, são alvo de atribuição de significado. 
Revogação e inconstitucionalidade superveniente 
Revogação é o nome atribuído à substituição do direito antigo pelo novo. Alguns autores 
entendem que a não recepção da norma anterior pela Constituição configuraria sua revogação por 
não recepção. Outros, por sua vez, limitam-se a classificar essa situação de inconstitucionalidade 
superveniente.
A divergência com relação à classificação dos efeitos decorrentes da nova norma 
constitucional não traz consequências apenas doutrinárias. Isso porque entender que se trata 
de inconstitucionalidade superveniente significaria admitir a possibilidade de que o Supremo 
Tribunal Federal, na qualidade de corte constitucional, apreciasse a validade da norma pré-
constitucional, supostamente incompatível com a Constituição vigente, em sede de Ação Direta 
de Inconstitucionalidade. Por outro lado, se a compreensão for de que se trata de revogação, não 
seria necessário observar os procedimentos previstos na Constituição da República para afastar a 
incidência da regra no caso concreto (MENDES, 2014).
Sobre a divergência, Mendes (2014) recorda o debate havido no Supremo Tribunal Federal 
quando do julgamento da Ação Direta de inconstitucional ADI 02-DF. O Ministro Paulo Brossard, 
incumbido da relatoria, aduziu que a inconstitucionalidade da lei implica a sua nulidade absoluta, 
ou seja, sua invalidez desde sempre, como sustentado pela doutrina tradicional.
Contudo, se a nulidade da lei decorre tão somente da superveniência de novo texto 
constitucional, de forma que a lei era compatível com a ordem constitucional anterior, então não 
poderia se dizer que sua invalidez ocorre desde sempre: ela apenas passa a operar após a vigência 
da nova Constituição. Dessa forma, para o relator, não seria caso de inconstitucionalidade, mas 
sim de revogação.
Discordando do relator, o Ministro Sepúlveda Pertence sustentou que se tratava mesmo 
de inconstitucionalidade superveniente, uma vez que, de acordo com o ministro, a solução de 
conflitos de normas no tempo por meio do critério cronológico – normas posteriores derrogando 
normas anteriores – apenas se aplica quando se está diante de normas de mesma hierarquia. 
Assim, não poderia se dizer que uma norma constitucional teria o condão de revogar uma norma 
infraconstitucional anterior que com ela fosse incompatível. Deve-se destacar, no entanto, que 
a solução encontrada pela Corte Constitucional foi aquela proposta pelo Relator Ministro Paulo 
Brossard. Entendeu-se, assim, que a superveniência da Constituição implica a revogação de 
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normas anteriores que com esta sejam incompatíveis, não estando a análise sujeita ao controle 
constitucional concreto por meio de Ação Direta de Inconstitucionalidade.
Recepção Material das Normas Constitucionais
Com relação à recepção das normas constitucionais anteriores, fala-se em sua recepçãomaterial. Inicialmente, como já dito, a revogação é o instituto que alcança normas de mesma 
hierarquia, de forma que, diante do conflito cronológico de duas normas hierarquicamente 
equivalentes, a norma posterior prevalecerá sobre a norma anterior. Desse modo, a entrada de 
uma nova Constituição no ordenamento jurídico implica a revogação das normas constitucionais 
anteriores, o que ocorre de forma imediata após a manifestação do Poder Constituinte originário.
Por essa razão, para assegurar que uma norma constitucional anterior possa permanecer 
válida após a entrada em vigência de um nova Constituição, é necessário que haja sua recepção 
material, assegurando que lhes seja mantido o status de constitucionalidade que possuíam 
anteriormente.
A recepção material das normas constitucionais, portanto, é exceção à regra da revogação. 
Sua ocorrência está condicionada à existência de previsão expressa, no novo texto Constitucional, 
que lhe assegure novo fundamento de validade.
A Constituição de 1988 admitiu de forma expressa a permanência, ainda que temporária, de 
algumas normas constitucionais anteriores. No Ato das Disposições Constitucionais Transitórias 
(ADCT), por exemplo, foi previsto que o novo sistema tributário nacional entraria em vigor a 
partir do primeiro dia do quinto mês seguinte à promulgação da nova Constituição, e que, até 
aquela data, seria mantido o sistema tributário instituído pela Constituição de 1967. Ainda que 
em caráter transitório e por tempo limitado, houve recepção material de normas constitucionais.
Repristinação
Ainda sobre os conflitos das normas no tempo, existe o fenômeno denominado repristinação. 
A repristinação é o nome que se confere ao retorno da existência do fundamento de uma norma 
infraconstitucional que não havia sido recepcionado pela Constituição anterior.
Como exemplo, suponha-se que uma lei ordinária foi editada sob a égide de uma Constituição, 
sendo compatível com esta. Contudo, imagine-se que diante da superveniência de nova norma 
constitucional, esta lei ordinária não foi recepcionada, perdendo, portanto, o seu fundamento 
de validade. Durante a vigência dessa segunda Constituição, portanto, tem-se que a lei ordinária 
51
não foi recepcionada. Contudo, o que ocorreria diante da entrada em vigência de uma terceira 
Constituição, com a qual a antiga lei ordinária fosse compatível?
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:
De acordo com Mendes (2014), a repristinação, ou seja, a restauração da eficácia da norma 
pela superveniência de nova ordem constitucional com a qual seja compatível, não pode ocorrer 
de forma tácita. A repristinação apenas será possível se a nova Constituição estabelecer, de 
forma expressa, esta possibilidade. Isso porque, se a norma infraconstitucional deixou de existir 
no ordenamento jurídico anterior, instituído pela Constituição com a qual era incompatível, da 
mesma forma a norma não poderia ser recebida, posto que não existe.
Sobre o fenômeno da repristinação, Moraes (2017, p. 477) sintetiza o entendimento de 
impossibilidade de presunção da repristinação:
Repristinação é o nome que se dá ao fenômeno que ocorre quando uma norma revogadora de 
outra anterior, que, por sua vez, tivesse revogado uma mais antiga, recoloca esta última novamente 
em estado de produção de efeitos. Esta verdadeira restauração de eficácia é proibida em nosso Direito, 
em nome da segurança jurídica, salvo se houver expressa previsão da nova lei, conforme preceitua 
o art. 2º, § 3º, da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Assim, a legislação que tenha 
perdido sua eficácia anteriormente à edição da nova Constituição Federal não irá readquiri-la com sua 
promulgação. Nesse sentido, decidiu o STF que “existe efeito repristinatório em nosso ordenamento 
jurídico, impondo-se, no entanto, para que possa atuar plenamente, que a repristinação encontre 
suporte em cláusula normativa que a preveja expressamente, pois a repristinação não se presume”.
Desconstitucionalização
O conflito de normas no tempo torna possível, ainda, o fenômeno da desconstitucionalização. 
Esse é o nome atribuído ao efeito dado às normas constitucionais que, diante da superveniência 
de nova Constituição, perdem o valor constitucional sem, no entanto, deixarem de integrar o 
ordenamento jurídico.
Sobre o tema da desconstitucionalização, Moraes (2017, p. 477), sintetiza da seguinte forma:
52
Desconstitucionalização é nome técnico que se dá à manutenção em vigor, perante uma nova 
ordem jurídica, da Constituição anterior, que porém perde sua hierarquia constitucional para operar 
como legislação comum.
Em outras palavras, de acordo com a teoria da desconstitucionalização, uma norma que 
seja apenas formalmente constitucional – ou seja, que integra a Constituição sem, no entanto, 
versar sobre matéria constitucional, estará sujeita à desconstitucionalização na hipótese de 
superveniência de nova Constituição caso não seja incompatível com esta.
Contudo, a doutrina entende que, sem que haja expressa previsão constitucional para 
que tais efeitos alcancem a norma anterior, não se admite que tal fenômeno possa ocorrer no 
ordenamento jurídico brasileiro.
FIQUE DE OLHO
As diferentes formas de tratamento às normas constitucionais e infraconstitucionais 
em face da superveniência de nova Constituição são relevantes para o estudo da Teoria da 
Constituição, uma vez que é preciso conhecer os fenômenos e seus efeitos para compreender 
as mudanças do ordenamento jurídico ao longo do tempo.
53
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• aprender que o Poder Constituinte pode ser classificado em originário ou derivado, e 
que este pode ser compreendido como Poder Constituído, e não Constituinte;
• entender que o Poder Constituinte derivado pode se apresentar como reformador, 
revisor ou decorrente;
• perceber que nem toda alteração constitucional decorre da mudança do texto da 
Constituição: é o caso das mutações constitucionais;
• compreender porque, diante da superveniência de uma nova ordem constitucional, 
as normas antes existentes precisam de fundamento na Nova Constituição para 
continuarem a integrar o ordenamento jurídico;
• observar que as normas podem ser recepcionadas ou não recepcionadas pela 
Constituição.
PARA RESUMIR
CANOTILHO, J. J. G. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993.
KELSEN, H. Teoria Pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
MENDES, G. F. Curso de direito constitucional. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 
2014.
MORAES, A. de. Direito Constitucional. 33. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2017.
NOVELINO, M. Direito Constitucional. 3. ed. São Paulo: Método, 2009.
SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed. rev. e atual. São Paulo: 
Malheiros, 2004.
TAVARES, A. R. Curso de direito constitucional. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 
2012.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNIDADE 3
Características de eficácia e de 
aplicabilidade da norma
Introdução
Você está na unidade Características de eficácia e de aplicabilidade da norma. Conheça 
aqui as classificações das normas constitucionais com relação à executoriedade e à 
eficácia de seu conteúdo, imprescindíveis para a adequada interpretação e aplicação dos 
predicados constitucionais.
Bons estudos!
57
EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS 
CONSTITUCIONAIS
Como já abordado nas Unidades anteriores, a Constituição brasileira de 1988 é uma 
Constituição classificada como rígida, o que significa que a reforma do texto constitucional 
apenas pode ocorrer se observada uma série de limitações formais. Uma vez que a Constituição 
é soberana e não pode ser facilmente alterada, todas as demais regras jurídicas do ordenamento 
jurídico devem estar aderentes ao que dispõe a Constituição. Em virtude desse contexto, se 
faz imprescindível o exercício da hermenêutica jurídica, ou seja, de interpretação do conteúdo 
jurídico do texto normativo.
O objetivo da hermenêutica jurídica é sempre conferir à norma conteúdo,sentido e objetivo 
à disposição normativa. A interpretação das regras jurídicas deve obedecer sempre a premissa 
de que as normas existem em um sistema jurídico, em um ordenamento, do qual a Constituição 
é a regra maior. Na verdade, a unidade do Direito decorre da própria Constituição, uma vez que 
“o intérprete é obrigado a partir sempre das normas constitucionais, adequando, sempre que 
necessário, as normas infraconstitucionais ao conteúdo específico da Constituição” (TAVARES, 
2012, p. 102).
A hermenêutica é a atividade que alcança todo o ordenamento jurídico, mas em virtude 
das particularidades das normas constitucionais, a doutrina faz referência à existência de uma 
hermenêutica constitucional. Sobre o assunto, Tavares (2012, p. 104) leciona: 
Os autores indicam diversas peculiaridades do Direito Constitucional que justificam a existência 
ou menção de uma hermenêutica constitucional, além da já mencionada “jurisdição constitucional”. 
Dentre os elementos apontados, têm-se: a supremacia da Constituição, a utilização de normas 
abstratas, de princípios, o tratamento dos direitos fundamentais e dos poderes e a regulamentação 
da esfera política. Assim, a supremacia normativa da Constituição é um fator que não se faz presente 
em nenhum outro ramo do Direito, não podendo ser ignorado na elaboração dos instrumentais 
adequados à interpretação da Constituição. A atividade do intérprete, por força desse dado, deverá 
ser sempre comedida, porque suas intervenções despertam uma sensibilidade muito maior do que 
nos demais ramos do Direito.
A interpretação da Constituição se inicia, obviamente, pela interpretação do texto na língua 
em que se encontra redigido. De acordo com Bastos (1999 apud TAVARES, 2012), a letra da lei 
constitui sempre ponto de referência obrigatório para a interpretação de qualquer norma. Ocorre 
que, na interpretação da Constituição, a interpretação do texto da lei pode se relevar tarefa 
árdua, uma vez que as normas envolvem a exposição de conceitos abstratos, aos quais podem 
ser conferidos diversos significados.
Os termos adotados pelo Poder Constituinte originário, os quais muitas vezes podem se revelar 
vagos ou imprecisos, demandam, portanto, a atribuição de sentido por parte do intérprete da 
58
norma. Por óbvio, a interpretação não pode significar uma deturpação ou uma subversão do 
sentido original do texto, estando limitado ao que foi positivado na Constituição.
Deve-se destacar, ainda, que é o fato de o texto constitucional ser amplo e admitir 
interpretações que torna possível a ocorrência das mutações constitucionais, ou seja, sua 
alteração informal, a evolução do Direito Constitucional por meio da mudança da interpretação 
dada a determinados dispositivos.
Também deve-se considerar a possibilidade de que a interpretação da Constituição ocorra 
por meio da adoção de uma abordagem por meio de um critério teleológico, por meio do qual 
se considera não apenas o texto, mas também o que o legislador constituinte, ao criar a norma, 
pretendia alcançar.
Em busca do que seria o “espírito da norma” ou da “vontade do legislador” – a mens legis 
ou mens legislatoris, respectivamente –, o intérprete irá resgatar atas e registros da Assembleia 
Nacional Constituinte. A finalidade é compreender o que foi considerado pelo constituinte para a 
escolha do texto a fim de deduzir quais os objetivos do próprio texto.
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Validade, vigência e eficácia da norma
A aplicabilidade de uma norma jurídica depende de sua validade, de sua vigência e de sua 
eficácia. Esses três conceitos, embora possam soar como sinônimos, referem-se a diferentes 
aspectos.
Validade
Se refere especificamente à regularidade com que esta adentra o ordenamento jurídico. Isso 
porque os processos legislativos são formais, e não se poderia admitir que uma pretensa norma 
que não observasse os processos legislativos estabelecidos pudesse produzir efeitos. 
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Vigência
Tem relação com a sua presença no ordenamento jurídico, o que torna a norma exigível. 
Apenas são exigíveis os comportamentos prescritos em normas vigentes.
Eficácia
Há diferentes critérios para caracterizar a eficácia. Adiante, detalharemos a eficácia social e 
a eficácia jurídica.
De acordo com Tavares (2012, p. 1269), os requisitos que precedem a estabilização de uma lei 
no ordenamento implicam a validade da Lei:
A validade de uma lei pressupõe sua existência. Se a lei é inexistente, não se pode falar em validade 
ou invalidade, uma vez que não se aquilata a validade do que não se constituiu. Já a lei existente, 
juridicamente falando, pode ser ou não válida. Neste caso, é lei, embora possa ser lei irregularmente. 
Os conceitos não se confundem, uma vez que uma norma válida pode não ser vigente, pois 
o legislador pode determinar que a vigência apenas ocorrerá após determinada data. O período 
em que a norma é válida sem estar vigente se denomina vacatio legis. Da mesma forma, a 
norma pode estar vigente e não ser válida, seja por vício em seu processo de elaboração ou por 
incompatibilidade de conteúdo com outras normas. Contudo, se estiverem vigentes, ainda assim 
serão exigíveis, até que sejam retiradas do ordenamento jurídico (TAVARES, 2012). 
Eficácia social e eficácia jurídica
A doutrina estabelece diferentes critérios para caracterizar a eficácia da norma. Tavares 
ensina que Kelsen atribui a eficácia à sanção, entendendo que o que torna uma norma eficaz é a 
possibilidade de que esta seja cumprida pela sociedade.
[...] uma norma eficaz não significa que ela, sempre e sem exceção, é cumprida e aplicada; 
significa somente que ela geralmente é cumprida e aplicada. Sim, precisa existir a possibilidade de 
não ser cumprida e aplicada porque, se ela não existe (se o que deve acontecer de maneira natural 
e necessária, sempre e sem exceção, tem de acontecer), uma norma que fixa este acontecimento 
como devido, é supérflua. Assim como seria também inútil estabelecer uma norma que põe algo como 
devido, do qual se sabe, por antecipação, que, de modo natural, jamais poderia acontecer. (KELSEN 
apud TAVARES, 2012).
Esse conceito é compreendido como eficácia social, uma vez que alcança toda a sociedade, 
tanto o sujeito, que deve observância à norma sob pena de sofrer a sanção, quanto o Estado, a 
quem incube aplicar a sanção em virtude de seu descumprimento. Há, contudo, quem entenda 
que a eficácia da norma decorre não da sanção, mas da capacidade de que esta produza efeitos 
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a partir das condições reais identificadas na sociedade e sua adequação às demais normas do 
sistema. Para Ferraz Junior, a eficácia da norma se verifica em virtude das condições fáticas que 
permitam sua observância, e a isso se denomina eficácia jurídica (FERRAZ JUNIOR apud TAVARES, 
2012, p. 1270). Temer sintetiza o assunto:
Eficácia social
Se verifica na hipótese de a norma vigente, isto é, com potencialidade para regular 
determinadas relações, ser efetivamente aplicada a casos concretos. (TEMER, 2008, p. 25).
Eficácia jurídica
Significa que a norma está apta a produzir efeitos na ocorrência de relações concretas, mas 
já produz efeitos jurídicos na medida em que sua simples edição resulta na revogação de todas 
as normas anteriores que com ela conflitam. Embora não aplicada a casos concretos, é aplicável 
juridicamente no sentido negativo antes apontado. Isto é: retira a eficácia da normatividade 
anterior. É eficaz juridicamente, embora não tenha sido aplicada concretamente. (TEMER, 2008, 
p. 25).
Classificação de José Afonso Da Silva: Normas de eficácia plena, contida 
e limitada
As normas constitucionais foram classificadas pela doutrina de acordo com a sua eficácia. 
Em alguns sistemas jurídicos, a classificação das normas quanto à eficácia se limita a estabelecer 
se esta é uma norma autoexecutável ou não-autoexecutável. No Brasil, prevalece a distinção 
formulada por José Afonso da Silva, que classificou as normas quanto à eficácia em normas de 
eficácia plena, de eficáciacontida e de eficácia limitada.
Normas constitucionais de eficácia plena
São as normas que, desde o momento em que ingressam no ordenamento jurídico, estão 
aptas a produzir todos os efeitos essenciais pretendidos, porque lhe foram especificadas todas as 
particularidades necessárias à sua aplicação. Como exemplo, Mendes indica o art. 12, inciso I, por 
meio do qual a Constituição qualifica como brasileiros aqueles “nascidos na República Federativa 
do Brasil, ainda que de paises estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país”. 
Esse dispositivo prescinde de complementações ou informações para produzir imediatamente os 
efeitos que pretende.
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Normas constitucionais de eficácia contida
São aquelas que, embora tenham sido objeto de caracterização pelo constituinte, em algum 
grau contêm em seu texto mecanismos que serão utilizados pelo legislador para estabelecer 
especificidades e particularidades. Ou seja, poderão ter seus efeitos restringidos pelo legislador 
infraconstitucional – mas apenas naquilo que lhe foi atribuído. Moraes (2017) exemplifica a norma 
de eficácia contida com o que dispõe o art. 5º, XIII, uma vez que o constituinte estabeleceu que “é 
livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais 
que a lei estabelecer”. Uma vez que caberá ao legislador estabelecer quais são as qualificações 
profissionais exigidas para o exercício dos trabalhos, ofícios e profissões, a eficácia da norma é 
reputada contida.
Normas constitucionais de eficácia limitada
São aquelas, como o nome sugere, que possuem limitação em sua aplicação, uma vez que 
dependem da existência de uma norma posterior, infraconstitucional, que lhe confira possibilidade 
de aplicação. Os exemplos apresentados por Moraes são o art. 37, inciso VII, que estabelece que 
o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica – portanto, 
condicionando o seu exercício à legislação a ser elaborada; e o art. 7º, inciso XI, que prevê a 
participação dos empregados nos lucros, ou resultados da empresa, conforme definido em lei – já 
que, sem que haja definição legal de como ocorrerá a participação dos empregados nos lucros, 
não é possível assegurar a referida participação.
Destaca-se que tanto a norma de eficácia plena quanto a norma de eficácia contida são 
classificadas como autoexecutáveis, uma vez que podem produzir efeitos no mundo. Enquanto 
o legislador infraconstitucional não estabelecer as limitações ou exigências para o exercício das 
profissões, todas elas serão de livre exercício. Já a eficácia limitada da norma constitucional 
depende do exercício de um poder constituído, como ensina Mendes (2014, p. 83):
Estas somente produzem os seus efeitos essenciais após um desenvolvimento normativo, a 
cargo dos poderes constituídos. A sua vocação de ordenação depende, para ser satisfeita nos seus 
efeitos básicos, da interpolação do legislador infraconstitucional. São normas, pois, incompletas, 
apresentando baixa densidade normativa. Nessa categoria de normas se listam as de princípio 
institutivo, referentes às que contêm um apanhado geral, um início de estruturação de institutos 
e instituições, entidades e órgãos.
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Outras classificações
Além da classificação proposta por José Afonso da Silva, existem outras classificações 
propostas pela doutrina, ainda que possuam adesão menor. Como exemplo, mencionam-se 
as normas constitucionais de eficácia absoluta. Diniz (ref faltando) as classifica como normas 
intangíveis, por serem inalcançáveis pela reforma do legislador infraconstitucional. Como 
exemplo, mencionam-se os dispositivos que ampararam a federação; o voto direto, secreto, 
universal e periódico; a separação de poderes; e os direitos e garantias individuais que, por serem 
insuscetíveis de emenda, são intangíveis, por força dos artigos. 60, § 4º, e 34, VII, a e b (MORAES, 
2017). 
Também possuem eficácia limitada as normas constitucionais classificadas como normas 
programáticas. Como o nome sugere, essas normas indicam ao Estado uma atividade a ser 
executada futuramente, a qual pode depender de elaboração de normas infraconstitucionais ou 
de esforços materiais, não raro exigindo uma combinação de tais medidas. Contudo, o caráter 
programático de uma norma constitucional não significa que o preceito esteja destituído de força 
jurídica. De acordo com Canotilho,
[as normas programáticas] não são simples programas, exortações morais, programas futuros, 
juridicamente desprovidos de qualquer vinculatividade. Às normas programáticas é reconhecido 
hoje um valor jurídico constitucionalmente idêntico ao dos restantes preceitos da constituição. 
(CANOTILHO, 1993, p. 184).
Como exemplo de norma programática, menciona-se o artigo 196 da Constituição de 1988:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e 
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e 
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO 
BRASILEIRO
A evolução histórica do constitucionalismo brasileiro é caracterizada por diversas rupturas 
em um curto espaço de tempo. O Brasil vivenciou sete Constituições vigentes entre 1824 e 1988, 
ou seja, em pouco mais de 160 anos. Entre constituições outorgadas e promulgadas, em meio 
a obstáculos à ordem constitucional, como golpes militares e regimes ditatoriais, observa-se a 
evolução do Estado até a configuração que hoje assume. 
Política do império do Brasil de 1824
A primeira Constituição do Brasil foi outorgada em 25 de março de 1824, ainda na época do 
Império. Sua elaboração, contudo, não ocorreu conforme inicialmente planejado. Em 1823, foi 
instalada a Assembleia Nacional Constituinte com o intuito de editar a primeira Constituição 
política do Brasil. Ocorre que uma série de conflitos políticos existentes entre os deputados que 
integravam a constituinte e o Imperador Dom Pedro I fez com que a Assembleia fosse dissolvida 
antes que pudesse elaborar o texto constitucional. Em um discurso realizado no dia da instalação 
da Assembleia Nacional Constituinte, Dom Pedro I frisou a importância de uma Constituição 
que se preocupasse em limitar poderes do povo e da classe política. O discurso não agradou os 
deputados liberais, grupo do qual faziam parte brasileiros e portugueses que desejavam maior 
autonomia para as províncias, bem como o esvaziamento político das funções do monarca e a 
manutenção da escravidão.
Contudo, o discurso de Dom Pedro I encontrava apoiadores entre os deputados conservadores, 
que defendiam a manutenção de uma monarquia forte e dos privilégios políticos de uma classe 
econômica e socialmente superior, bem como a abolição da escravidão. Isso porque o Imperador 
não tinha interesse em exercer um papel meramente figurativo, ainda que não desejasse exercer 
as funções de um monarca absolutista. A Assembleia Nacional Constituinte elaborou uma versão 
da Constituição a partir de um texto que continha fortes influências da Constituição francesa 
e norueguesa, mas diversos conflitos internos entre os grupos que integravam a constituinte e 
Dom Pedro I levaram à denominada noite de agonia, em que o Imperador determinou a reunião 
de tropas em virtude de uma insurgência capitaneada por deputados liberais, que acusavam o 
Imperador de cometer excessos contra o povo brasileiro. 
Diante da reunião de tropas por Dom Pedro I, a Assembleia Nacional Constituinte exigiu 
esclarecimentos ao Imperador, o que culminou em um decreto de dissolução da constituinte. 
Com o intuito de dar continuidade ao trabalho iniciado pela Assembleia, Dom Pedro I nomeou 
um grupo pequeno de pessoas de sua confiança para integrar o Conselho Imperial. Em virtude da 
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ausência de participação popular na elaboração da Política do Império do Brasil de 1824, diz-se 
que a Constituição foi outorgada.Com relação às suas características, a Constituição de 1824 estabeleceu a monarquia 
hereditária como regime de governo. Por sua vez, a divisão de poderes contemplava o Poder 
Executivo, o Poder Legislativo, o Poder Judiciário e um quarto poder, denominado Poder 
Moderador, a ser exercido pelo próprio Imperador. Cumpria ao Imperador o exercício do Poder 
Executivo e do Poder Moderador, enquanto o Poder Judiciário ficava a cargo de juízes indicados 
pelo próprio Imperador.
O Poder Moderador dava ao Imperador o direito de que exercesse intervenção direta nos 
outros três Poderes. De acordo com a Constituição, o Imperador poderia, se assim desejasse, 
dissolver o parlamento e interferir diretamente no processo legislativo por meio de sanção ou 
veto a leis. Poderia, ainda, nomear e depor ministros e magistrados.
Os juízes integrantes do Poder Judiciário eram indicados diretamente pelo Imperador, e 
exerciam os cargos de forma vitalícia, exceto se fossem removidos pelo próprio Imperador ou 
removidos por decisão do próprio judiciário.
O Poder Legislativo era exercido pelo parlamento, organizado em Câmara dos Deputados e 
Senado. Os deputados que integravam a Câmara eram eleitos por voto censitário, ao passo que 
os integrantes do Senado eram nomeados diretamente pelo Imperador.
Com relação ao voto censitário, a eleição dos representantes era precedida de eleições 
primárias, nas quais homens livres – incluindo escravos libertos –, maiores de 25 anos e que 
comprovassem renda, estavam aptos a votar nos candidatos que poderiam eleger os seus 
representantes. Os homens libertos não podiam ser candidatos a eleitores nem representantes; 
e apenas homens brasileiros e católicos poderiam ser candidatos a representantes (deputados 
e senadores). Os critérios censitários para participar das primárias, para ser eleitor e para ser 
representante eram progressivamente mais restritivos.
Constituição de 1891
A Constituição de 1891 deve ser compreendida no contexto político de transição entre 
regimes. O Brasil, que antes organizava-se sob o regime monárquico, caminhava para o regime 
republicano, o que exigia a alteração da Constituição de forma a refletir sua nova realidade 
política. Após a proclamação da república em 15 de novembro de 1889, o governo provisório 
designou uma comissão especial para que fosse elaborado um projeto de Constituição. O projeto 
elaborado tinha inspiração nas constituições da Argentina e dos Estados Unidos, inclusive 
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aproveitando desse último o nome “Estados Unidos do Brasil”, além de instituir uma República 
Federativa por meio da transformação das antigas províncias em estados autônomos, os quais 
poderiam editar suas próprias leis e atos de governo. 
O projeto que havia sido elaborado pela Comissão Especial não sofreu alterações significativas 
por parte da constituinte, de forma que, em menos de três meses após a instalação da Assembleia, 
houve a promulgação da Constituição Republicana, em 24 de fevereiro de 1891. A Constituição 
previa eleições para os cargos de presidente e de vice-presidente, mas excepcionalmente 
determinava que, para o primeiro período, a eleição dos representantes ocorreria de forma direta 
pela Assembleia Constituinte. Com a instauração da República, o Poder Moderador foi extinto. Os 
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário organizavam-se em independência e harmonia. Sobre 
a Constituição de 1891, Mendes (2012, p. 112) aduz:
A Constituição de 1891 criou a Justiça Federal, ao lado da Estadual, situando o Supremo 
Tribunal Federal no ápice do Poder Judiciário. Ao STF cabia, além de competências originárias, julgar 
recursos de decisões de juízes e tribunais federais e recursos contra decisões da Justiça estadual que 
questionassem a validade ou a aplicação de lei federal. Também lhe foi atribuída competência recursal 
para os processos em que atos estaduais fossem confrontados com a Constituição Federal. Os juízes 
não mais poderiam ser suspensos por ato do Executivo, tendo-lhes sido asseguradas a vitaliciedade 
e a irredutibilidade de vencimentos. A Constituição de 1891 reservou uma zona de 14.400 km², no 
Planalto Central, para a fixação da futura Capital. As antigas Províncias passaram a ser chamadas de 
Estados-membros, e a elas se reconheceu competência para se regerem por constituições próprias, 
respeitados, sob pena de intervenção federal, os princípios constitucionais da União. Os Estados eram 
livres para adotar regime legislativo bicameral, e muitos tinham deputados e senadores estaduais.
O voto deixou de ser censitário, podendo alistar-se para eleitores os cidadãos maiores de 
21 anos alfabetizados. Os que não pudessem se alistar para eleitores, da mesma forma, não 
poderiam se candidatar aos cargos eletivos. A Constituição afastou privilégios de nascimento, 
desconhecendo foros de nobreza e extinguindo as ordens honoríficas existentes. Todas as 
prerrogativas e regalias e os títulos nobiliárquicos e de conselho foram igualmente extintos. 
Além de prever a liberdade de culto para todas as religiões, havia clara separação entre Igreja 
e Estado. Tal separação era evidenciada, entre outros fatores, pelo reconhecimento exclusivo do 
casamento civil, o caráter secular dos cemitérios e o ensino leigo e gratuito nos estabelecimentos 
públicos. A Constituição de 1891 veio a ser alterada uma única vez, pela Emenda Constitucional 
de 03 de setembro de 1926, depois da qual permaneceu vigente por apenas mais quatro anos.
Constituição de 1934
Em 1930 ocorreu, no Brasil, a Revolução de 1930, por meio da qual o então presidente 
Washington Luís foi deposto e o presidente eleito, Júlio Prestes, foi impedido de empossar-
66
se no cargo. A revolução se insere em um contexto de crise econômica mundial, causada 
principalmente pela Quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929, o que afetava o Brasil em virtude 
de sua participação no mercado internacional como exportador de café, assim tendo sido 
afetado pelo contexto externo. A crise fez com que a denominada política do café com leite, 
aliança política entre mineiros e paulistas, fosse rompida. As oligarquias paulistas indicaram o 
paulista Júlio Prestes à presidência e, em retaliação, os mineiros apoiaram o candidato Getúlio 
Vargas, gaúcho. Mesmo tendo sido eleito, Júlio Prestes foi impedido de assumir o governo, e 
Getúlio Vargas tomou posse como líder do Governo Provisório. O parlamento foi dissolvido e a 
Constituição de 1891 foi cassada.
Apenas dois anos depois eclodiria a Revolução Constitucionalista de 9 de julho de 1932, 
movimento armado por meio do qual poderes políticos pressionavam pela instalação de 
assembleia constituinte e fim do Governo Provisório de Getúlio Vargas. Sem o apoio necessário, o 
movimento foi derrotado. Antes da deflagração da Revolução, Getúlio Vargas já havia convocado 
eleições para uma Assembleia Nacional Constituinte, que ocorreria em 3 de maio de 1933, e 
nomeado um interventor, ou seja, as principais reivindicações da Revolução de 1932 estavam 
atendidas.
Foi editado um Código Eleitoral para a eleição da constituinte, segundo o qual as mulheres 
poderiam votar pela primeira vez no Brasil. Foram eleitos 214 representantes entre mais de 800 
candidatos. A constituinte foi instalada em 15 de novembro de 1933, e a princípio observava 
um regimento interno editado pelo Governo Provisório. Segundo o regimento, os trabalhos da 
Assembleia seriam precedidos da atuação de uma Comissão Constitucional, que tinha como 
objetivo estudar o anteprojeto do Governo Provisório. Assim surgiu a chamada Comissão dos 26 
- que era composta por um representante de cada bancada estadual e dos grupos profissionais. O 
seu nome vem do fato de que contava com 26 integrantes.
Concluídos os trabalhos da Comissão dos 26, foi apresentado um substitutivo ao anteprojeto 
do Governo Provisório. Mais de mil emendas ao anteprojeto original foram apresentadas, o que 
tornou complexo o processo de elaboração de um único texto.
Uma vez definido o substitutivo, teve início a segundafase do processo constituinte. As 
forças que compunham a Assembleia Nacional Constituinte eram, na maioria, voltadas para 
a continuação do Governo Vargas. No fim das atividades da Assembleia, os atos do Governo 
Provisório foram aprovados, ficou definida a elegibilidade dos interventores e foram realizadas 
as eleições, nas quais Getúlio Vargas foi eleito presidente constitucional. A nova Constituição foi 
outorgada em 15 de julho de 1934.
Diferentemente das Constituições anteriores, a Constituição de 1934 inspirava-se na 
Constituição alemã. Fortemente caracterizada por direitos sociais, especialmente com relação à 
legislação trabalhista, trazendo ainda em seu texto constitucional referência aos serviços notariais 
67
e registrais. Ainda, eram perceptíveis as influências de ideais socialistas. Getúlio Vargas foi forte 
crítico da Constituição, por entender que os direitos sociais impunham graves ônus ao Estado e 
aos setores privados.
A Constituição, considerada progressista, adotava o Código Eleitoral que havia sido formulado 
e confirmava a possibilidade do voto feminino. Ainda, o voto passou a ser secreto e obrigatório 
para maiores de 18 anos – antes era obrigatório para maior de 21 anos. Os princípios básicos 
da Constituição anterior foram mantidos: o Brasil permanecia como uma república federativa, 
em que a autonomia dos Estados era reduzida. Sobre o controle de constitucionalidade na 
Constituição de 1934, Mendes (2014, p. 113) leciona:
A Constituição de 1934 buscou resolver o problema da falta de efeitos erga omnes das decisões 
declaratórias de inconstitucionalidade do STF, instituindo o mecanismo da suspensão, pelo Senado, das 
leis invalidadas na mais alta Corte. No campo do controle de constitucionalidade, ainda, a intervenção 
federal em Estados-membros por descumprimento de princípio constitucional sensível foi subordinada 
ao juízo de procedência, pelo STF, de representação do Procurador-Geral da República. A Constituição 
previu expressamente o mandado de segurança.
A carta, contudo, permaneceu vigente por curto tempo, uma vez que em 1937 o presidente 
Getúlio Vargas outorgou nova Constituição.
Carta política de 1937
Em 10 de novembro de 1937, o presidente Getúlio Vargas outorgou a nova Constituição, em 
substituição à constituição anterior. A Constituição outorgada recebeu o apelido de “polaca”, em 
virtude da influência que recebia da Constituição polonesa de 1935, caracterizada por aspectos 
fascistas e totalitários. Nos termos da Constituição, o Presidente da República atuava como 
“autoridade suprema do Estado”, centralizando o exercício dos poderes executivo e legislativo na 
figura do presidente, a quem era facultado adiar as sessões do parlamento, ou mesmo dissolvê-
lo, bem como legislar por decreto-lei.
Tanto a Justiça Eleitoral quanto os partidos políticos existentes foram extintos, e o mandado 
de segurança e a ação popular não mais encontravam previsão constitucional. Com relação 
ao controle de constitucionalidade, o artigo 96, parágrafo único, estabelecia que as decisões 
do Supremo Tribunal Federal que declarassem a inconstitucionalidade de lei poderiam ser 
submetidas pelo Presidente à revisão pelo Parlamento. Na prática, o parlamento poderia afirmar 
a constitucionalidade da lei declarada inconstitucional, o que tornaria a decisão do STF sem efeito.
A Carta de 1937, em seu art. 96, manteve a previsão encartada na Constituição anterior, 
acerca da necessidade de manifestação da maioria absoluta dos membros do Tribunal sobre a 
inconstitucionalidade, mas trouxe, em seu bojo, precisamente no parágrafo único do referido artigo, 
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uma inusitada modalidade de “reconstitucionalização” de lei inconstitucional, para fazê-la prevalecer 
contra a Constituição. O preceito citado possibilitava ao Presidente da República, com fundamento no 
bem-estar do povo ou na promoção ou defesa do interesse nacional de alta monta, submeter uma vez 
mais ao Parlamento a lei já reconhecida como inconstitucional e, assim, com maioria de 2/3, retirar os 
efeitos da decisão proferida pela Suprema Corte, que ficava, assim, subjugada aos interesses políticos 
momentâneos. (TAVARES, 2012, p. 304).
As eleições para presidente passaram a ser indiretas, com mandato de seis anos. E, por meio 
de emenda constitucional do mesmo ano, os partidos políticos foram extintos. Com o término 
da Segunda Guerra Mundial, porém, os governos que se fundavam em princípios ditatoriais 
totalitários perderam força. No Brasil, o cenário levou à deposição de Getúlio Vargas em 1945, 
havendo instalação de nova Constituinte no ano seguinte. 
A Constituição de 1946
Em 1945, com o fim da segunda guerra e a derrota dos países totalitários, o Brasil passou 
a alinhar-se com os Estados Unidos. Aos poucos, o país retornava ao caminho da democracia e 
abandonava os preceitos ditatoriais que haviam sido instaurados com a Constituição de 1937. 
Foi editada a Lei Constitucional nº 9, de 28 de fevereiro de 1945, que editou radicalmente a 
Constituição vigente, alterando 36 de seus dispositivos originais. A Lei Constitucional estabeleceu 
regramento transitório, determinando que fossem fixadas datas de eleições para presidente e 
governador, bem como para o legislativo federal e estadual.
No mesmo ano, o presidente Getúlio Vargas foi deposto pelas forças armadas, e o Governo 
passou a ser provisoriamente exercido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, o que fez 
com que o período fosse denominado Governo do Poder Judiciário. A reconstitucionalização 
do Estado brasileiro contemplou a eleição dos representantes do executivo e legislativo, nas 
esferas federal e estadual. Recompostos os órgãos da Câmara dos Deputados e do Senado, os 
representantes eleitos compuseram a Assembleia Nacional Constituinte de 1946, a qual foi 
instalada em 5 de fevereiro de 1946.
A elaboração do projeto constitucional foi competência delegada a uma Comissão composta 
por representação dos partidos nacionais, observada a ocupação proporcional de tais partidos no 
parlamento. Encerrado o projeto, este foi submetido à apresentação de emendas, e após extensa 
discussão, a Constituição foi promulgada.
De acordo com Mendes (2012, p. 114):
Na vigência dessa Constituição, foi instituída a representação por inconstitucionalidade de lei, 
reforçando o papel do Judiciário no concerto dos três Poderes. Da mesma forma, proclamou-se que 
nenhuma lesão de direito poderia ser subtraída do escrutínio desse Poder. Ficaram excluídas as penas 
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de morte, de banimento e do confisco. A Constituição ocupava-se da organização da vida econômica, 
vinculando a propriedade ao bem-estar social e fazendo dos princípios da justiça social, da liberdade 
de iniciativa e da valorização do trabalho as vigas principais da ordem econômica. O direito de greve 
apareceu expresso no Texto.
A organização do Estado na forma delineada pela Constituição de 1946 se encerrou com 
o Golpe Militar de 1964, ocorrido durante o governo de João Goulart. Diante de uma série de 
emendas constitucionais que subvertiam o seu sentido original, a Constituição de 1946 perdeu 
seu sentido original, até ser substituída pela Constituição de 1967. Destacam-se as alterações 
trazidas pelos Atos Institucionais Um, Dois e Três.
Ato institucional número um
Foi editado em 1964, e atribuía ao Presidente poderes de submeter emendas à Constituição 
e de cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais sem qualquer interferência 
judicial. Ainda, determinava eleições indiretas para a presidência.
Ato institucional número dois
Criado em 1965, dissolveu os partidos políticos que haviam se organizado em 1945. Estabeleceu 
a possibilidade de que o Presidente pudesse decretar estado de sítio, sem necessidade de 
aprovação legislativa, bem como suspendeu garantias constitucionais ou legais de vitaliciedade, 
inamovibilidade e estabilidade, o que tornava possível o afastamento de opositores ao regime.
Ato institucional número três
Estabelecia regras para a eleição indiretade governadores e seus respectivos vices, bem 
como o processo de indicação dos prefeitos das capitais pelos governadores.
Constituição de 1967 e sua Emenda 1
Durante a década de 60, as discussões políticas se inseriam no contexto da Guerra Fria, o 
que fazia com que a segurança nacional fosse tema levado à máxima importância. No Brasil, o 
regime ditatorial que já havia descaracterizado a Constituição de 1946 incumbiu-se da edição 
de uma nova Constituição. A convocação do Congresso Nacional para elaboração de uma nova 
Constituição se deu por meio da edição do Ato institucional quatro. Sobre o assunto, Mendes 
(2012, p. 114) aduz:
Em 1967, o Congresso Nacional, que se reuniu de dezembro de 1966 a janeiro de 1967, aprovou 
uma nova Constituição, gestada sem mais vasta liberdade de deliberação. A Constituição era marcada 
pela tônica da preocupação com a segurança nacional – conceito de reconhecida vagueza, mas que 
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tinha por eixo básico a manutenção da ordem, sobretudo onde fosse vista a atuação de grupos de 
tendência de esquerda, especialmente comunista. A Constituição de 1967 tinha cariz centralizador e 
entregava ao Presidente da República copiosos poderes. Possuía um catálogo de direitos individuais, 
permitindo, porém, que fossem suspensos, ante certos pressupostos. O Presidente da República voltou 
a poder legislar, por meio de decretos-leis.
A separação dos três poderes continuava prevista na Constituição, mas ao Poder Executivo 
foram atribuídas prerrogativas sobre os demais poderes que, na prática, o tornavam sensivelmente 
mais relevante. Os atos institucionais editados até o momento foram incorporados ao diploma 
constitucional; também foram incorporados os Atos Institucionais Um, Dois e Três, os quais já 
integravam o ordenamento. Com o objetivo de instituir de forma definitiva o Regime Militar 
instaurado desde o Golpe de 1964, a Constituição previa o controle dos Poderes Legislativo 
e Judiciário pelo Poder Executivo. A competência para legislar em matéria de segurança e de 
orçamento foi atribuída exclusivamente ao Poder Executivo.
Embora ainda se classificasse como uma República Federativa, as ingerências do Governo 
Federal sobre os Governos Estaduais e Municipais evidenciavam seu caráter centralizador. A 
Constituição de 1967, portanto, se caracterizava pela possibilidade de cassação e suspensão de 
direitos políticos pelo Poder Executivo, pelo estabelecimento do bipartidarismo, além de instituir 
a pena de morte para crimes contra a segurança nacional e restringir o direito de greve. Em 1968, 
o Regime Militar editou o Ato institucional número cinco, por meio do qual ficou expressamente 
prevista a possibilidade que o Presidente da República decretasse o recesso do Congresso 
Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, em estado de sítio ou fora 
dele. Os órgãos legislativos só voltariam a funcionar quando convocados pelo Presidente da 
República.
Previa, ainda, a possibilidade de suspensão de direitos políticos de quaisquer cidadãos 
pelo prazo de 10 anos e a cassação de mandatos eletivos federais, estaduais e municipais, a ser 
determinada pelo Presidente da República, ouvindo o Conselho de Segurança Nacional, e sem as 
limitações previstas na Constituição.
FIQUE DE OLHO
Das sete constituições que estiveram vigentes no Brasil, foram outorgadas as constituições 
de 1824, 1937 e a de 1967, ou seja, quase metade dos diplomas constitucionais foram 
editados sem participação popular e legitimidade democrática.
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Em 1969 sobreveio a Emenda nº 01 à Constituição de 1967. Outorgada pelos Ministros da 
Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica, a Emenda mais se assemelhava à uma nova 
Constituição, em virtude de sua estrutura e de seu conteúdo. Assim reconhece o Supremo 
Tribunal Federal, que assim se manifestou sobre a Emenda nº 01 de 1969:
Apresenta a Constituição de 1967, reformulada pela Emenda 1, de 1969, outorgada pelos Ministros 
da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica. A Emenda 1, de 1969, equivale a uma nova 
Constituição pela sua estrutura e pela determinação de quais dispositivos anteriores continuariam 
em vigor. Formalmente, porém, continuava em vigor a Constituição de 1967, com as manutenções 
e alterações da Emenda 1. Vigoraram no período os atos institucionais. Primeiro como comandos 
autônomos de subversão e corrupção e depois como normas incorporadas à Constituição, no seu art. 
182. (STF, 2017).
A Constituição de 1967/1969 permaneceu vigente até o fim do Governo Militar. As eleições 
para a Assembleia Nacional Constituinte ocorreram em 1986, e em 1988 foi elaborada nova 
Constituição.
72
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• entender a retomada democrática que houve com a Constituição de 1988;
• visualizar a primeira vez na história deste constitucionalismo em que os direitos 
fundamentais e as liberdades fundamentais foram privilegiados; 
• compreender como tais direitos e liberdades foram alçados à condição de 
cláusula pétrea.
PARA RESUMIR
CANOTILHO, J. J. G. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993.
MENDES, G. F. Curso de direito constitucional. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 
2014.
MORAES, A. de. Direito Constitucional. 33. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2017.
NOVELINO, M. Direito Constitucional. 3. ed. São Paulo: Método, 2009.
SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed. rev. e atual. São Paulo: 
Malheiros, 2004.
STF. Guia de Direito Constitucional. Constituições Brasileiras 
Anteriores a 1988. Brasília, última atualização em 18/01/2017. 
Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.
ervico=bibliotecaConsultaProdutoBibliotecaGuiaDC&pagina=constituicaoanterior1988. 
Acesso em: 17 nov. 2019.
TAVARES, A. R. Curso de direito constitucional. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 
2012.
TEMER, M. Elementos de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNIDADE 4
Aspectos interpretativos da 
Constituição
Você está na unidade Aspectos interpretativos da Constituição. Conheça aqui a 
interpretação que é possível atribuir conteúdo, sentido e objetivo ao diploma que ocupa a 
máxima hierarquia em nosso ordenamento jurídico. Ainda, nesta unidade serão vistos os 
direitos fundamentais assegurados na Constituição, sua abrangência e suas classificações.
Bons estudos!
Introdução
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INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
Anteriormente, ressaltamos a importância da hermenêutica jurídica, ou seja, de interpretação 
do conteúdo jurídico do texto normativo. A hermenêutica jurídica tem como objetivo conferir 
à disposição normativa conteúdo, sentido e objetivo. Especificamente com relação às normas 
constitucionais, a doutrina indica a existência de uma hermenêutica constitucional, por meio da 
qual a Constituição é interpretada. 
Hermenêutica Constitucional
As normas constitucionais envolvem a exposição de conceitos abstratos, aos quais podem 
ser conferidos diversos significados e, em virtude de os termos adotados pelo Poder Constituinte 
originário frequentemente se revelarem vagos ou imprecisos, os conceitos demandam, portanto, 
a atribuição de sentido por parte do intérprete da norma. Para que a tarefa de interpretação seja 
possível, é imprescindível que se considere a Constituição com um sistema, ou seja, um conjunto 
coeso de normas. Significa dizer que a Constituição, por uma questão principiológica, não pode 
conter contradições. Não é possível haver normas inconstitucionais dentro da Constituição, e 
todas as normas presentes devem ser passíveis de coexistência harmônica. Sobre o assunto, 
Canotilho (1993, p. 226-227) esclarece que “a constituição deve ser interpretada de forma a evitar 
contradições (antinomias, antagonismos) entre as suas normas”. Ocorre que isso significa que 
nenhuma norma constitucional poderá ser interpretada sem que se compreenda o contexto em 
que se insere. Para tanto, Tavares (2004, p. 109) destaca a existência de normas constitucionaisque, em virtude de sua generalidade, servem como vetores capazes de guiar a compreensão das 
demais normas:
Não obstante todas as normas constitucionais sejam dotadas da mesma natureza e do mesmo 
grau hierárquico, algumas, em virtude de sua generalidade e abstratividade intensas, acabam por 
servir como vetores, princípios que guiam a compreensão e a aplicação das demais normas, devendo-
se buscar sua compatibilização.
A necessidade de coordenação das normas faz com que, portanto, a norma mais específica 
seja interpretada de forma que seu sentido coexista harmonicamente com normas mais abstratas. 
Essa orientação normativa decorre da unidade da Constituição como um sistema normativo 
coerente, que impõe a consideração de bens jurídicos de forma a evitar o sacrifício total de uns 
em relação a outros:
Nenhum direito, nenhuma garantia, nenhuma liberdade, poderá ser tomada como absoluta. 
Todas sofrem restrição nas outras garantias, nos outros direitos, igualmente declarados e assegurados. 
Existe, ainda, um segundo significado da unidade da Constituição. Considera-se insustentável uma 
dualidade de Constituições, não podendo conviver, simultaneamente, em um único ordenamento 
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jurídico, duas ou mais Constituições. (TAVARES, 2004, p.109-110).
A hermenêutica constitucional, portanto, exige que a interpretação das normas considere 
a necessidade de coexistência harmônica entre os postulados constitucionais. Diante dessa 
realidade, enfrentam-se diferentes métodos de interpretação da Constituição, os quais serão 
vistos adiante.
Métodos de interpretação
Diante da necessidade de que seja conferida à Constituição e às suas normas conteúdo, 
sentido e objetivo, torna-se indispensável a adoção de métodos de interpretação capazes de 
extrair esses elementos do texto constitucional. Isso porque, ainda que a Constituição seja 
compreendida como um conjunto de dispositivos normativos que têm como finalidade última 
decidir casos concretos, nem sempre a solução decorrerá da simples leitura do texto (MENDES, 
2014).
Sobre os métodos de interpretação existentes, Mendes apresenta a descrição crítica dos 
métodos elaborada por Ernst-Wolfgang Böckenförde. De acordo com o autor, são feitas distinções 
entre os métodos hermenêutico-clássico, tópico e hermenêutico-concretizador (MENDES, 2014, 
p. 102).
Método hermenêutico-clássico
A Constituição está sujeita à interpretação pelos mesmos recursos utilizados para a 
interpretação das demais leis, ou seja, está sujeita à interpretação sistemática, histórica, lógica 
e gramatical - esses são os recursos utilizados para a interpretação das leis ordinárias, segundo 
as fórmulas desenvolvidas por Savigny (MENDES, 2004, p. 102). Por essa compreensão, apesar 
da posição hierarquicamente superior que a Constituição ocupa no ordenamento jurídico, os 
padrões de interpretação a que o texto normativo está sujeito são os mesmos a que se submete 
a legislação infraconstitucional. Para Mendes, contudo, essa compreensão da hermenêutica 
constitucional enfrenta obstáculos na medida em que as normas infraconstitucionais são, 
frequentemente, dotadas de menor grau de abstração. Ou seja, as normas legais “ostentam, 
habitualmente, alto grau de densidade normativa – vale dizer, mais precisa determinação do seu 
conteúdo” (MENDES, 2004, p. 103).
Método tópico
Tem como foco a existência de um problema para o qual o intérprete buscará solução dentre 
o conjunto aberto de regras e princípios que é a Constituição. Assim, para a solução justa do caso 
concreto, cabe ao aplicador selecionar aquele que seja mais adequado. Contudo, também esse 
79
método enfrenta problemas, uma vez que parte da premissa de que exista um consenso sobre 
o conteúdo da Constituição e sobre os valores que estão contidos em seu texto, o que não se 
verifica em uma sociedade caracterizada pela pluralidade de valores políticos e morais.
Método científico espiritual
Compreende a Constituição como um sistema cultural e de valores de um povo de forma 
que a interpretação deve extrair o resultado pretendido desse sentido presente no sistema 
constitucional. Uma vez que tais valores são fluidos, da mesma forma, a interpretação da 
Constituição revela-se elástica e flexível.
De acordo com Mendes (2014, p. 109):
Esse método ganhou desenvolvimento em Müller, no que se denominou método jurídico-
estruturante. Enfatiza-se que a norma não se confunde com o seu texto (programa normativo), mas 
tem a sua estrutura composta também pelo trecho da realidade social em que incide (o domínio 
normativo), sendo esse elemento indispensável para a extração do significado da norma. 
Assim, a interpretação da Constituição não pode se distanciar da realidade social em que esta 
se insere. Ainda, em virtude da superioridade hierárquica da Constituição em face das demais 
regras do ordenamento jurídico, a interpretação da Constituição impõe uma série de limitações a 
seu intérprete, como a interpretação conforme.
Interpretação conforme a Constituição
A interpretação conforme a Constituição não diz respeito a um método de interpretação de 
norma constitucional. Na verdade, se refere especificamente a um postulado de interpretação 
de normas infraconstitucionais, segundo o qual sempre que diante de diferentes possíveis 
interpretações normativas, deve-se privilegiar aquela que atribua à norma conteúdo, sentido 
e objetivo que sejam compatíveis com a Constituição. De acordo com Tavares, a necessidade 
da interpretação conforme decorre da compreensão de que as leis são expressão da vontade 
popular e, portanto, devem ser preservadas pelo Poder Judiciário (2012, p. 111):
Não se trata propriamente de um método específico ou diferenciado de interpretação da 
Constituição, mas sim das leis. Assim, quando uma norma infraconstitucional contar com mais 
de uma interpretação possível, uma (no mínimo) pela constitucionalidade e outra ou outras pela 
inconstitucionalidade, múltipla interpretação dentro dos limites permitidos ao intérprete, este deverá 
sempre preferir a interpretação que consagre, ao final, a constitucionalidade. E isso é assim porque as 
leis são consideradas expressão da vontade popular, e, pois, se possível, devem ser preservadas pelo 
Judiciário. 
No mesmo sentido leciona Canotilho (1993, p. 1012), para quem, diante de um caso de 
80
polissemia de um ato normativo, ou seja, diante de um caso em que haja múltiplos sentidos 
atribuíveis a um ato normativo, a norma não deve ser reputada inconstitucional enquanto puder 
ser interpretada de acordo com a Constituição. A interpretação das leis conforme a Constituição 
é um mecanismo por meio do qual os tribunais, e especialmente o Tribunal Constitucional, 
inibem violações constitucionais, escolhendo a alternativa interpretativa capaz de abarcar a 
compatibilidade do ato normativo com a Constituição. Destaca-se que o oposto não é admitido 
em nosso ordenamento jurídico. A Constituição não pode ser interpretada de acordo com o que 
dispõem as leis ordinárias. Embora a atividade possa parecer por vezes tentadora, em virtude da 
maior densidade jurídica conferida às normas infraconstitucionais, não se pode exprimir conteúdo, 
sentido e objetivo de norma constitucional a partir do que dispõe a legislação ordinária. Não 
obstante referida impossibilidade, a compatibilidade entre a norma infraconstitucional e a norma 
constitucional é necessária à validade desta no ordenamento jurídico. O que deve acontecer, 
contudo, é a identificação de fundamento da norma infraconstitucional na própria Constituição, 
de forma que a lei integre a vontade da lei maior (TAVARES, 2012, p. 111).
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS FUNDAMENTAIS
O artigo primeiro da Constituição dispõe que a República Federativa do Brasil é formada 
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, e que se constitui em 
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade 
da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e o pluralismopolítico. 
Ainda, nos termos de seu parágrafo único, todo o poder emana do povo, que o exerce por meio 
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (BRASIL, 1988). Além 
de estabelecer a existência de uma República, indica a existência de uma democracia direta, em 
que o povo é o responsável pela tomada de decisões, por meio de representantes eleitos ou 
diretamente. Os princípios constitucionais fundamentais previstos na Constituição serão vistos 
a diante.
Princípio republicano
A palavra república deriva do latim res publica, que significa coisa pública. O princípio 
republicano está previsto no caput do artigo 1º da Constituição de 1988, e a previsão 
constitucional apenas consagra a forma de governo sob a qual o Brasil se organiza desde 1889, 
com a proclamação da República. Há previsão constitucional da organização do Estado sob a 
forma republicana desde a Constituição de 1891.
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É imprescindível que a República seja compreendida não apenas como uma oposição 
à Monarquia, uma vez que a forma republicana é caracterizada por uma série de aspectos 
relevantes que lhe são atributos fundamentais. O mais lembrado dos aspectos é a manifestação 
do Estado em três poderes – Legislativo, Executivo e Judiciário –, que se viabiliza por meio da 
existência de mecanismos de freios e contrapesos. A separação dos poderes do Estado, contudo, 
não é suficiente para que seja caracterizada a República como forma de governo em um Estado. 
É fundamental que os Poderes Legislativo e Executivo sejam ocupados por representantes eleitos 
em pleitos populares, capazes de conferir-lhes legitimidade democrática. Sobre o assunto, Silva 
(2004, p. 105-106) coloca que:
[...] a forma republicana implica a necessidade de legitimidade popular do Presidente da 
República, Governadores de Estado e Prefeitos Municipais (arts. 28, 29, I e II, e 77), a existência de 
assembleias e câmaras populares nas três órbitas de governos da República Federativa (arts. 27, 29, I, 
44, 45 e 46), eleições periódicas por tempo limitado que se traduz na temporariedade dos mandatos 
eletivos (arts. cits.) e, consequentemente, não vitaliciedade dos cargos políticos, prestação de contas 
da administração pública (arts. 30, III, 31, 34, VII, d, 35, II, e 70 a 75).
Ainda, o princípio republicano se manifesta a partir da previsão constitucional de legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência como pautas constitucionais direcionadas 
à Administração Pública.A Constituição de 1988 não protegeu a forma de governo República 
como cláusula pétrea, admitindo inclusive no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias a 
realização de plebiscito com o de que a população escolhesse a forma de governo – República ou 
Monarquia. No plebiscito ocorrido em 1992, a República foi a escolha popular.
Princípio do Estado Democrático de Direito
O princípio do Estado Democrático de Direito, também estabelecido no caput artigo 1º da 
Constituição, deriva de dois conceitos fundamentais que o compõem, cuja compreensão se faz 
necessária. De um lado, o conceito e Estado de Direito; e de outro, o conceito de democracia. 
O Estado de Direito é um conceito originalmente liberal, dotado de algumas características 
fundamentais. A primeira, a submissão do Estado à Lei – sendo esta compreendida como ato 
formal, emanado do Poder Legislativo representativo do povo-cidadão. A segunda, a separação 
de poderes, de forma independente e harmônica, entre o Poder Legislativo, o Poder Executivo 
e o Poder Judiciário. Por fim, a terceira característica é a existência de proteção e garantia às 
liberdades e aos direitos individuais.
Passa a ser um Estado Social de Direito à medida que, distanciando-se de uma lógica 
individualista de consecução de direitos, passam a ser afirmados os direitos sociais. Há, portanto, 
uma busca pela compatibilização do capitalismo como forma de produção e a consecução do 
bem-estar social geral (SILVA, 2004, p. 117). Contudo, nem sempre o Estado Social de Direito 
82
observará a democracia. É necessário compreender a democracia como realização de valores de 
igualdade, de liberdade e de dignidade da pessoa para alcançar o Estado Democrático de Direito 
a que a Constituição faz referência em seu artigo 1º.
Princípio da dignidade da pessoa humana
O princípio da dignidade da pessoa humana está expressamente previsto no inciso III do 
artigo 1º da Constituição. Ao incluir o princípio no primeiro artigo da carta constitucional, o Poder 
Constituinte estabeleceu como objetivo que o Estado proporcionasse meios para que as pessoas 
vivam de forma digna (TAVARES, 2012, p. 585).
A efetivação do princípio constitucional, contudo, enfrenta obstáculo na própria definição 
do que seria dignidade ou, ainda mais especificamente, como o Estado deve atuar para que esse 
status possa ser alcançado pelas pessoas que dele fazem parte. A dignidade da pessoa humana 
é compreendida como inerente à condição humana e, ainda que não seja fácil delimitar sua 
existência por meio de aspectos mais ou menos específicos, não é difícil identificar quando a 
dignidade da pessoa humana é violada. Sobre o assunto, Lewandowkski (apud TAVARES, 2012, 
p. 586) explicita:
[...] os problemas relativos à institucionalização dos direitos humanos não se encontram no plano 
de sua expressão formal, posto que, nesse campo, grandes avanços foram feitos desde o surgimento 
das primeiras declarações a partir do final do século XVIII. As dificuldades localizam-se precisamente 
no plano de sua realização concreta e no plano de sua exigibilidade.
De acordo com Canotilho (1993, p. 363), especificar quais são os direitos, as liberdades e as 
garantias asseguradas é mais fácil do que buscar uma determinação do sentido específico do 
princípio da dignidade da pessoa humana. Por sua vez, Tavares (2012, p. 586) indica que, entre o 
que seria a consecução de um ideal e o que de fato se depreende da expressão, é possível definir 
a dignidade da pessoa humana como o princípio por meio do qual o homem deve ser considerado 
como “ser em si mesmo” e não como “instrumento para alguma coisa”. Esse é o valor supremo, 
que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida aos 
direitos sociais, de acordo com as lições de Silva (2004, p. 107):
Dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos 
fundamentais do homem, desde o direito à vida. “Concebido como referência constitucional 
unificadora de todos os direitos fundamentais [observam Gomes Canotilho e Vital Moreira], o conceito 
de dignidade da pessoa humana obriga a uma densificação valorativa que tenha em conta o seu amplo 
sentido normativo-constitucional e não uma ideia qualquer apriorística do homem, não podendo 
reduzir-se o sentido da dignidade humana à defesa dos direitos pessoais tradicionais, esquecendo-a 
nos casos de direitos sociais, ou invocá-la para construir teoria do núcleo da personalidade individual, 
ignorando-a quando se trate de garantir as bases da existência humana”.
83
Princípio da separação dos poderes
Como já mencionado, o princípio da separação de poderes consiste na previsão de que 
o Estado, embora seja um só ente, executa suas atribuições por meio de três poderes: Poder 
Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário. A separação tem como finalidade assegurar 
que o ente responsável por formular as normas não será o mesmo ente a quem incumbirá 
executá-las. Ainda, o ente competente para a execução não terá como atribuição determinar se 
essas as leis são constitucionais ou não. A separação de poderes como postulado republicano é 
frequentemente atribuído como idealizado por Montesquieu. No entanto, é sabido que desde a 
Idade Antiga filósofos se dedicaram ao estudo das diversas funções do Estado e a necessidade de 
que tais funções fossem exercidas de forma independente e harmônica.
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:
O constitucionalismo vinculou-se à separação tripartite de poderes pela42
Poder Constituinte Derivado Reformador ............................................................................................ 43
Poder Constituinte Derivado Revisor .................................................................................................... 45
Poder Constituinte Derivado Decorrente .............................................................................................. 45
Mutações Constitucionais ..................................................................................................................... 46
Aplicabilidade das normas constitucionais no tempo...........................................................................48
Nova Constituição e ordem jurídica anterior ........................................................................................ 48
Revogação e inconstitucionalidade superveniente .............................................................................. 49
Recepção Material das Normas Constitucionais ................................................................................... 50
Repristinação ........................................................................................................................................50
Desconstitucionalização ........................................................................................................................ 51
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................54
UNIDADE 3 - Características de eficácia e de aplicabilidade da norma ...........................................55
Introdução.............................................................................................................................................56
Eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais ............................................................................ 57
Validade, vigência e eficácia da norma ................................................................................................. 58
Eficácia social e eficácia jurídica ............................................................................................................ 59
Classificação de José Afonso Da Silva: Normas de eficácia plena, contida e limitada ...........................60
Outras classificações ............................................................................................................................. 62
Evolução histórica do constitucionalismo brasileiro ............................................................................. 63
Política do império do Brasil de 1824 ................................................................................................... 63
Constituição de 1891 ............................................................................................................................ 64
Constituição de 1934 ............................................................................................................................ 65
Carta política de 1937 ........................................................................................................................... 67
A Constituição de 1946 ......................................................................................................................... 68
Constituição de 1967 e sua Emenda 1 .................................................................................................. 69
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................72
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................74
UNIDADE 4 - Aspectos interpretativos da Constituição ...................................................................75
Introdução.............................................................................................................................................76
Interpretação das normas Constitucionais ........................................................................................... 77
Hermenêutica Constitucional ............................................................................................................... 77
Métodos de interpretação .................................................................................................................... 78
Interpretação conforme a Constituição ................................................................................................ 79
Princípios constitucionais fundamentais .............................................................................................. 80
Princípio republicano ............................................................................................................................ 80
Princípio do Estado Democrático de Direito ......................................................................................... 81
Princípio da dignidade da pessoa humana ........................................................................................... 82
Princípio da separação dos poderes ..................................................................................................... 83
Princípio do pluralismo político ............................................................................................................ 84
Princípio da isonomia............................................................................................................................ 85
Princípio da legalidade .......................................................................................................................... 86
Direitos e garantias fundamentais ........................................................................................................ 87
Teoria Geral dos Direitos Humanos....................................................................................................... 88
Direitos e deveres individuais e coletivos ............................................................................................. 89
Direitos sociais ...................................................................................................................................... 89
Direitos de nacionalidade ..................................................................................................................... 90
Direito de cidadania (ou Direitos políticos) ........................................................................................... 91
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................94
Nesta obra, a autora Clara Coutinho faz um panorama da Teoria e Fundamentos 
da Constituição. 
A obra começa com a unidade Constitucionalismo, cujo texto aborda os aspectos 
fundamentais da Constituição ligados à compreensão e à evolução histórica do 
constitucionalismo, do Direito Constitucional e da própria Constituição, uma vez que 
compreender a sua importância e a de seus fundamentos é essencial para o estudante 
de Direito, pois o Direito Constitucional permeia todas as demais áreas do saber 
jurídico. Além disso, também são abordados os conceitos de Constitucionalismo e sua 
evolução histórica, as classificações da Constituição, a relevância da compreensão do 
Direito Constitucional e as diferentes formas de Constituições.
Em seguida, a segunda unidade, Teoria do Poder Constituinte, dá ao aluno a 
oportunidade de conhecer amplamente os principais aspectos relacionados ao Poder 
Constituinte, suas espécies e principais características, bem como aDeclaração Francesa 
dos Direitos do Homem, de 1789, que estabeleceu que toda a sociedade na qual a garantia de 
direitos não é assegurada, nem a separação de poderes determinada, não tem constituição. Os 
sistemas constitucionais que seguiram previram a organização do Estado com fundamento na 
separação dos poderes, ainda que, do ponto de vista prático, nem sempre isso tenha se verificado.
Não fosse apenas isso, a doutrina tem buscado esclarecer que a expressão “poder” não é o 
mais adequado, uma vez que Legislativo, Executivo e Judiciário são funções do Estado. Ainda, 
o conceito de “separação” não é preciso, uma vez que tais funções são exercidas de forma 
predominante pelos denominados Poderes, mas não de forma exclusiva.
A doutrina da separação dos poderes, contudo, serve atualmente como uma técnica de 
arranjo da estrutura política do Estado, implicando a distribuição por diversos órgãos de forma não 
exclusiva, permitindo o controle recíproco, tendo em vista a manutenção das garantias individuais 
consagradas no decorrer do desenvolvimento humano. E é na Constituição que se encontra o grau de 
interdependência e colaboração entre os diferentes órgãos existentes e as suas respectivas atribuições. 
Neste caso, tem-se uma teoria da separação de poderes como uma específica teoria acerca do arranjo 
institucional desenhado em cada Estado pela respectiva Constituição (TAVARES, 2012, p. 1202).
84
Destaca-se que a Constituição estabeleceu a separação dos poderes em artigo 2º, mas em 
diversos pontos de seu texto articulou orientações sobre as funções atribuídas aos órgãos. De 
acordo com Tavares (2012, p.1204), apenas pelo estudo sistemático da Constituição será possível 
compreender as funções exercidas pelos órgãos previstos constitucionalmente, que não são 
apenas três (função administrativa, governativa, política, judicial, legislativa, de controle, entre 
outras).
Princípio do pluralismo político
O princípio do pluralismo político insculpido foi insculpido na Constituição com o intuito 
de assegurar a participação da população na governança do Estado, seja diretamente seja por 
organização em partidos políticos. A sociedade é plural, e dela participam pessoas com diversas 
opiniões e orientações, as quais devem coexistir em uma democracia. Apenas serão coibidas 
as opiniões contrárias à ordem pública. O artigo 17 da Constituição prevê expressamente a 
existência do pluralismo partidário na ordem constitucional. O pluralismo partidário certamente 
integra o princípio do pluralismo político, e ofensas a esse princípio estão sujeitas ao controle 
constitucional:
Vislumbrando afronta ao princípio constitucional do pluripartidarismo, o STF, em decisão que 
provocou certa polêmica político-partidária, declarou a inconstitucionalidade de normas contidas na 
Lei n. 9.096, de 19-9-1995, que estabeleciam a chamada cláusula de barreira, consoante a qual os 
partidos políticos, que não alcançassem determinado desempenho eleitoral não teriam direito a certas 
prerrogativas do funcionamento parlamentar, adquiririam inferior participação no Fundo Partidário 
e receberiam menos tempo para a propaganda partidária (ADIn 1.351/DF e ADIn 1.354/DF, rel. Min. 
Marco Aurélio, j. 7-12-2006, Informativo n. 451). (TAVARES, 2012, p. 1059).
O conceito de pluralismo político apresentado no artigo 1º se desdobra em diversas 
outras manifestações plurais, além do pluralismo partidário previsto (art. 17). Como exemplo, 
mencionam-se o pluralismo de ideias e de instituições de ensino (art. 206, III), o pluralismo 
cultural (compreendido nos artigos 215 e 216) e o pluralismo dos meios de informação (art. 220, 
caput e §5º) (SILVA, 2004, p. 145).
Isso significa dizer que reduzir o princípio do pluralismo político à ideia de participação 
da população na sociedade apenas em seu aspecto eleitoral, ou seja, por meio do voto, é um 
equívoco. A democracia, que é a base do pluralismo político pretendido, manifesta-se de diversas 
formas, consolidando-se não apenas por meio da eleição de representantes. 
Sobre o assunto, Tavares (2012) frisa que a existência de diversas exigências para a candidatura 
de representantes frequentemente faz com que as eleições não tenham como resultado a escolha 
livre, pelo povo, de seus representantes. Mais ainda, não assegura que o governo ocorrerá por 
85
esses representantes, o que evidencia a crise do modelo democrático.
Princípio da isonomia
De acordo com o princípio da isonomia, o Estado deve assegurar que todos sejam iguais 
perante a lei, não se admitindo tratamentos que sejam arbitrariamente discriminatórios ou de 
exceção.
O princípio da isonomia está consagrado na Constituição por diversas formas. No campo 
processual, manifesta-se na instituição do juiz natural, a exemplo da determinação de que “não 
haverá juízo ou tribunal de exceção” (inciso XXXVII do art. 5º) e de que “ninguém será processado 
nem sentenciado senão pela autoridade competente” (inciso LIII do art. 5º).
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Mencionam-se, ainda, o inciso III, in fine, do art. 3º, o inciso I do art. 5º, que fala da igualdade 
entre homens e mulheres, o art. 7º, XXX e XXXI (proibição de diferença de salários etc.), XXXII 
(proibição de diferença entre o trabalho manual, técnico e intelectual) e XXXIV (igualdade 
entre o trabalhador permanente e o avulso), o art. 170, VII (redução das desigualdades sociais 
e regionais) e § 1º, II (regime jurídico das empresas públicas e sociedade de economia mista 
idêntico ao das empresas privadas), e o art. 226, § 5º (direitos e deveres referentes à sociedade 
conjugal) (TAVARES, 2012, p. 609).
86
A inter-relação entre o aspecto formal e o aspecto material ocorre, por exemplo, com as 
ações afirmativas:
As denominadas “ações afirmativas” compõem um grupo de institutos cujo objetivo precípuo é, 
grosso modo, compensar, por meio de políticas públicas ou privadas, os séculos de discriminação a 
determinadas raças ou segmentos. Trata-se de tema que tem ocupado posição central na pauta das 
ações políticas de diversos governos, demandando engenhosas soluções jurídico-políticas. (TAVARES, 
2012, p. 610). 
Princípio da legalidade
Nos termos do artigo 5º, II, da Constituição, ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer 
alguma coisa senão em virtude de lei. Assim se constitui o princípio da legalidade, cuja principal 
função é combater a arbitrariedade do Estado. Por meio do princípio da legalidade, apenas os 
comandos que sejam formulados por meio de procedimento legislativo específico, e que integrem 
o ordenamento jurídico, poderão vincular os indivíduos (MORAES, 2017, p. 51). Ainda, reputa-se 
violado o princípio da legalidade tanto pela inobservância da lei existente como pela inexistência 
de lei que fundamente a exigência imposta (TAVARES, 2012, p. 666).
O princípio da legalidade não se confunde com o princípio da reserva legal. Se, por um lado, 
o princípio da legalidade exige previsão legal para que haja criação de deveres ou direitos, a 
reserva legal se verifica diante da previsão expressa de que determinada matéria deverá ser 
regulamentada por lei.
Moraes (2017), ao falar sobre o princípio da legalidade e o princípio da reserva legal, 
estabeleceu as diferenças da seguinte forma:
O primeiro significa a submissão e o respeito à lei, ou a atuação dentro da esfera estabelecida 
pelo legislador. O segundo consiste em estatuir que a regulamentação de determinadas matérias 
há de fazer-se necessariamente por lei formal. Encontramos o princípio da reserva legal quando a 
Constituição reserva conteúdo específico, caso a caso, à lei. Por outro lado, encontramos o princípio 
da legalidade quando a Constituição outorga poder amplo e geral sobre qualquer espécie de relação.
FIQUE DE OLHO
Deve-se compreender, no entanto, que a igualdade – ou a isonomia – pode ser observada 
em seu aspecto formal e em seu aspecto material. Do ponto de vista formal, se admite 
a diferença, desde que esta tenha como objetivo assegurar a igualdade do pontode vista 
material. 
87
A reserva legal pode ser absoluta ou relativa:
Reserva legal absoluta
A reserva legal será absoluta quando a norma constitucional exigir lei específica para a integral 
regulamentação do que dispõe.
Reserva legal relativa
A reserva legal será relativa quando exigir lei formal permitindo regulamentação por normas 
infralegais.
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Os direitos e garantias fundamentais estão previstos no extenso rol do artigo 5º da 
Constituição, em setenta e sete incisos, além de outros que estão previstos em outros dispositivos 
da Constituição. A eles são atribuídos caráter imutável, ou seja, não podem ser abolidos pela 
reforma constitucional, possuindo o caráter de cláusula pétrea, por força do artigo 60, §4º.
Os direitos e garantias fundamentais estão apresentados na Constituição em cinco capítulos. 
O primeiro capítulo se dedica aos “Direitos e Deveres Individuais e Coletivos” (expressos no art. 
5º); o segundo capítulo, aos “Direitos Sociais”, consoante artigos 6º a 11; no terceiro capítulo, 
abordam-se os direitos de “Nacionalidade”, conforme artigos 12 e 13; por sua vez, no quarto 
capítulo, são apresentados os “Direitos Políticos”, nos termos dos artigos 14 a 16; e, por fim, no 
quinto capítulo, são apresentados os “Partidos Políticos”. Contudo, a Constituição não é exaustiva 
nos direitos e garantias fundamentais que previu, uma vez que nos termos do §2º do artigo 5º 
novos direitos e garantias poderão ser incluídos na Constituição mediante adesão do Brasil a 
tratados internacionais.
FIQUE DE OLHO
Os direitos e garantias fundamentais estão previstos na Constituição Federal, protegidos 
da reforma constitucional por serem classificados como cláusula pétrea. São direitos e 
garantias reputados como inerentes à pessoa humana, necessários à concretização da 
dignidade da pessoa humana. Contudo, uma vez que nenhum direito é absoluto, na hipótese 
de eventual conflito deve haver uma ponderação entre tais princípios.
88
Teoria Geral dos Direitos Humanos
De acordo com a Teoria Geral dos Direitos Humanos, são denominados direitos fundamentais 
aqueles positivados no ordenamento jurídico do país, e como Direitos Humanos aqueles que 
transcendem a norma interna dos Estados, ou seja, que estão positivados em normas e tratados 
internacionais.
Nos estudos de direitos humanos, estes são classificados em três gerações, ou três dimensões. 
A classificação parte do momento histórico de surgimento de tais direitos, de forma que pela 
classificação é possível perceber a evolução dos direitos humanos. A classificação foi proposta 
por Karel Vasak em 1979.
Direitos Humanos de primeira geração
São considerados direitos humanos de primeira geração aqueles que estão atrelados à 
liberdade. São os primeiros direitos humanos a que se faz referência, e o momento histórico 
remonta ao fim do século XVIII, marcado pela Independência dos Estados Unidos e pela Revolução 
Francesa. São considerados direitos humanos de primeira geração os direitos civis e políticos, por 
meio dos quais se exige do Estado que se abstenha de invadir a esfera de liberdade dos indivíduos.
Direitos Humanos de segunda geração
Por sua vez, são considerados direitos humanos de segunda geração os direitos atrelados à 
ideia de igualdade. Nesse segundo momento, não basta que seja assegurada a não-interferência 
do Estado na esfera de liberdade do indivíduo: é necessário que o Estado garanta oportunidades 
e condições para que os indivíduos possuam uma vida digna. São assim classificados os direitos 
sociais, econômicos e culturais, caracterizados pela titularidade coletiva. São direitos surgidos 
após a Primeira Guerra Mundial, cenário em que se passou a exigir do Estado ações e políticas 
públicas capazes de assegurar tais direitos.
Direitos Humanos de terceira geração
A partir dos anos 1960, ganham força os denominados direitos humanos de terceira geração, 
derivados da fraternidade. São assim classificados os direitos difusos, os quais são defendidos 
por titulares que se unem em decorrência das circunstâncias. A efetivação de tais direitos não 
ocorre por omissão ou ação do Estado – como ocorre nas duas primeiras gerações – mas por 
meio da ação coletiva dos representantes da sociedade. São considerados transindividuais 
porque ultrapassam o indivíduo, e só podem ser reconhecidos quando identificada a existência 
de grupo – determinado ou não – que seja titular. Como exemplo, mencionam-se o direito à paz, 
ao desenvolvimento, ao meio ambiente e à autodeterminação dos povos. Ainda, mencionam-se 
os direitos do consumidor, da criança e do adolescente, direito ao patrimônio artístico, histórico, 
89
cultural, entre outros.
Atualmente, fala-se na existência de Direitos Humanos de quarta geração, assim classificados 
aqueles que decorrem da globalização. Alcançam direitos relacionados à bioética, como direito 
ao aborto, direito à eutanásia e ao suicídio; bem como relacionados à informática, como direito 
à comunicação, à privacidade e à proteção de dados pessoais, direitos autorais e de propriedade 
intelectual.
Direitos e deveres individuais e coletivos
Os direitos e deveres individuais e coletivos estão arrolados no extenso artigo 5º da 
Constituição. Os direitos e garantias individuais alcançam todas as pessoas físicas, brasileiras 
ou estrangeiras residentes no Brasil, bem como as pessoas jurídicas brasileiras ou estrangeiras 
que atuam no Brasil. Os direitos coletivos a que o Capítulo I do Título II da Constituição faz 
referência não se confundem com os direitos transindividuais, ou seja, os direitos humanos de 
terceira geração. São, na verdade, direitos individuais exercidos coletivamente, como o direito 
de reunião e de associação (TAVARES, 2012, p. 527).
Direitos sociais
A Constituição estabelece, no artigo 6º, que são direitos sociais a educação, a saúde, a 
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a 
proteção à maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados. 
Tais direitos sociais refletem o Pacto Internacional das Nações Unidas de 1966, por meio do 
qual se reconheceu que tais direitos sociais decorrem da dignidade inerente à pessoa humana, e 
que, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o ideal do ser humano 
livre, liberto do temor e da miséria, não pode ser realizado a menos que se criem condições para 
que cada indivíduo possa gozar de seus direitos. Tavares (2012, p. 122) subdivide os direitos sociais 
em três grupos. Similarmente às gerações dos direitos humanos, o primeiro grupo considera uma 
abstenção do Estado para sua efetivação, o segundo grupo considera a necessidade de prestações 
positivas pelo Estado, e o terceiro depende de norma constitucional integradora:
Os direitos sociais, por sua vez, subdividem-se em três grupos de direitos, a saber: (i) aqueles 
que geram situações prontamente desfrutáveis, dependentes apenas de uma abstenção; (ii) os que 
ensejam a exigibilidade de prestações positivas do Estado; e (iii) os que contemplam interesses 
cuja realização depende da edição de norma infraconstitucional integradora. Quanto ao grupo (i), 
tais seriam semelhantes aos direitos individuais, na medida em que impõem ao Estado um não agir. 
Como exemplo, o autor cita o direito à greve, em que cabe ao Estado, apenas, reconhecer esse direito, 
90
estando impossibilitado de reprimir qualquer manifestação nesse sentido. No grupo (ii) residiriam 
os direitos exigíveis do Estado, como o direito à aposentadoria e à saúde. Nesses casos, a ausência 
da prestação estatal é sempre inconstitucional e sancionável. Por fim, enquadram-se no grupo (iii) 
os direitos sociais cuja aplicabilidade depende de lei, como é o caso da participação nos lucros da 
empresa pelos seus empregados (art. 7º, XI, da CF).
Direitos de nacionalidade
Os Direitos de nacionalidade dizem respeito ao direito de vínculo jurídico-político entre os 
indivíduos e o Estado. A nacionalidade pode serprimária ou secundária. A nacionalidade não se 
confunde com naturalidade, a qual está relacionada exclusivamente com o local de nascimento. O 
vínculo jurídico-político a que a nacionalidade se refere pode derivar da naturalidade ou de outros 
elementos. No ordenamento jurídico pátrio, são considerados brasileiros natos aqueles que 
possuam a nacionalidade primária (ou originária). São considerados brasileiros naturalizados 
aqueles que possuam a nacionalidade secundária (ou adquirida).
Nacionalidade primária
A nacionalidade primária decorre da territorialidade, por meio do critério ius solis. Significa 
dizer que aqueles nascidos no Brasil serão brasileiros, ainda que seus pais não sejam brasileiros 
– exceto se estiverem a serviço de seu país de origem. Ainda, a nacionalidade primária pode 
decorrer também da hereditariedade, ou seja, da consanguinidade – critério ius sanguinis. 
Aqueles nascidos de pai ou de mãe brasileira serão brasileiros, desde que qualquer um dos pais 
esteja a serviço da República Federativa do Brasil, que sejam registrados em repartição brasileira 
competente ou que optem pela nacionalidade a qualquer tempo após a maioridade.
Nacionalidade secundária
Por sua vez, a nacionalidade secundária decorre da naturalização, que depende de 
uma manifestação de vontade do estrangeiro (ou apátrida) que deseje se tornar brasileiro. A 
naturalização é ato discricionário do Poder Executivo, e depende de requerimento ao Ministro 
da Justiça, que avaliará, além do preenchimento dos requisitos legais, a oportunidade e a 
conveniência do ato. A naturalização pode ser ordinária ou extraordinária (quinzenária). A 
ordinária alcança os apátridas ou aqueles originários de países de língua portuguesa, exigindo-
se apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral. A extraordinária alcança os 
estrangeiros de qualquer nacionalidade, sem condenação penal, que residam no Brasil há mais 
de 15 anos ininterruptamente – razão pela qual também é chamada de quinzenária. Em qualquer 
caso, a naturalização deve ser requerida.
Por fim, deve-se mencionar a equiparação, que alcança os portugueses com residência 
91
permanente no país. A equiparação depende de reciprocidade em favor de brasileiros. Nesse 
caso, mesmo sem a naturalização, há equiparação de direitos a um brasileiro naturalizado.
Direito de cidadania (ou Direitos políticos)
Os direitos de cidadania, ou direitos políticos, são os direitos atribuídos aos indivíduos para 
o exercício da soberania popular. A expressão designa o conjunto de normas que disciplinam 
a participação, direta ou indireta, do indivíduo na governança do Estado. Os direitos políticos 
podem ser ativos ou passivos.
Direitos políticos ativos
Referem-se à atividade do eleitor, o direito de exercer a escolha por meio do voto, ou seja, 
de ativamente interferir nas orientações do Estado. É o direito ao sufrágio, ou seja, o direito de 
participação atribuído ao indivíduo, que integrará o processo eleitoral por meio de seu voto. 
Direitos políticos passivos
Dizem respeito à atividade de ser eleito, ou seja, à elegibilidade.
Os direitos políticos são adquiridos por meio do alistamento eleitoral, facultativo para 
maiores de dezesseis anos, tornando-se obrigatório para maiores de dezoito anos. Há uma escala 
constitucionalmente prevista por meio da qual os direitos políticos do indivíduo vão evoluindo 
com o passar dos anos. Sobre o tema, Tavares (2012) leciona:
A) aos dezesseis anos adquire o direito de votar, podendo propor ação popular; B) aos dezoito anos 
passa a ter o dever de votar, de apresentar-se perante o serviço militar e, ademais, pode apresentar-se 
como candidato a Vereador; C) aos vinte e um anos pode apresentar-se como candidato a Deputado 
Estadual, Distrital, Federal, Prefeito, Vice-Prefeito e Juiz de paz; D) aos trinta anos pode candidatar-se a 
Governador e Vice-Governador de Estado ou do DF; E) aos trinta e cinco anos é que passa a poder ser 
candidato a Presidente e Vice-Presidente da República, bem como a Senador.
Assim, a ideia é de que a evolução da cidadania se dá de acordo com o cumprimento de 
requisitos pelo indivíduo e com a sua consequente habilitação para o pleno exercício de todos 
os direitos e deveres políticos, momento em que a alcança a situação de máxima cidadania, 
podendo votar e ser votado para todas as funções públicas.
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93
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• entender porque a Constituição de 1988, promulgada após o fim da Ditadura 
Militar, é considerada a Constituição Cidadã; 
• observar as diversas garantias e proteções que tal Constituição trouxe ao indivíduo 
e à coletividade;
• compreender como se dá a interpretação das normas constitucionais;
• identificar princípios constitucionais fundamentais;
• reconhecer os direitos e garantias fundamentais que a lei prevê ao cidadão.
PARA RESUMIR
CANOTILHO, J. J. G. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993.
MENDES, G. F. Curso de direito constitucional. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 
2014.
MORAES, A. de. Direito Constitucional. 33. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2017.
NOVELINO, M. Direito Constitucional. 3. ed. São Paulo: Método, 2009.
SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed. rev. e atual. São Paulo: 
Malheiros, 2004.
TAVARES, A. R. Curso de direito constitucional. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 
2012.
TEMER, M. Elementos de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
96
Esta é uma obra fundamental para estudantes de direito, pois 
aborda os quatro pilares da matéria de Teoria e Fundamentos da 
Constituição: constitucionalismo, teoria do poder constituinte, 
características de eficácia e de aplicabilidade da norma e aspectos 
interpretativos da Constituição.
Depois de ler o conteúdo aqui disposto, o aluno estará apto a 
reconhecer os conceitos de Constitucionalismo e sua evolução 
histórica, entenderá a estrutura e as diversas classificações da 
Constituição, perceberá que nem toda alteração constitucional 
decorre da mudança do texto da Constituição, compreenderá como 
direitos e liberdades foram alçados à condição de cláusula pétrea, 
reconhecerá os direitos e garantias fundamentais que a lei prevê ao 
cidadão, entre outras informações.
Aproveite a leitura e bons estudos!aplicabilidade das 
normas constitucionais no tempo.
 A terceira unidade, Características de eficácia e de aplicabilidade da norma, 
aborda a matéria referente às classificações das normas constitucionais com relação 
à executoriedade e à eficácia de seu conteúdo, imprescindíveis para a correta 
interpretação e aplicação dos predicados constitucionais.
 A quarta e última unidade, Aspectos interpretativos da Constituição, fornece ao 
aluno a interpretação que é possível atribuir conteúdo, sentido e objetivo ao diploma 
que ocupa a máxima hierarquia no ordenamento jurídico brasileiro. Além disso, são 
abordados os direitos fundamentais assegurados na Constituição, sua abrangência e 
suas classificações.
 Com o estudo desta obra, o aluno estará apto a compreender a importância da 
Teoria e Fundamentos da Constituição, a fim de que consiga, de forma crítica, analisar 
os temas aqui abordados.
PREFÁCIO
UNIDADE 1
Constitucionalismo
Você está na unidade Constitucionalismo. Conheça aqui os aspectos fundamentais 
da Constituição, especialmente ligados à compreensão e à evolução histórica do 
constitucionalismo, do Direito Constitucional e da própria Constituição. Compreender a 
sua importância e de seus fundamentos é essencial para você, estudante de Direito, uma 
vez que o Direito Constitucional permeia todas as demais áreas do saber jurídico.
Bons estudos!
Introdução
12
CONSTITUCIONALISMO
O movimento político, jurídico e social denominado constitucionalismo se manifestou 
de diversas formas ao longo do tempo. Durante os anos, o constitucionalismo passou por 
transformações até atingir o que hoje se denomina constitucionalismo contemporâneo, tanto 
em seus aspectos materiais quanto formais.
Conceito
Constitucionalismo é o nome atribuído para o movimento político, jurídico e social que 
representou a organização da sociedade ao redor de um conjunto de normas – a Constituição 
–, de forma a limitar o poder arbitrário do Estado. Essa definição, no entanto, não é a única 
encontrada na doutrina.
Ao mesmo tempo que faz referência ao movimento político-social que tem por finalidade 
limitar o poder arbitrário, o constitucionalismo também pode representar a existência de 
Constituições escritas, positivadas. Ainda, o termo constitucionalismo pode dizer respeito aos 
propósitos e às funções das constituições nas diferentes sociedades, ou mesmo pode remeter à 
evolução da constituição de um Estado específico ao longo da história.
É fato que o constitucionalismo, ainda que represente diversos significados, manifestou-se 
de formas variadas ao longo do tempo. Isso porque o conceito representa as “instituições (ou 
técnicas) que devem estar contempladas nos diversos regimes políticos e que, portanto, acabam 
variando de época para época” (TAVARES, 2012, p. 25).
Novamente, está-se diante da ideia de que a finalidade precípua do Constitucionalismo é a 
de estabelecer limites e mecanismos de controle ao poder político. Ao mesmo, por meio do 
constitucionalismo tem-se a confirmação e o estabelecimento de direitos individuais. Cuida-se de 
uma ideologia, na qual o viés sociológico se manifesta por meio do estabelecimento de regras 
positivas que dizem respeito a aspectos da vida política, econômica e social do cidadão.
O constitucionalismo, portanto, pode ser caracterizado por alguns elementos, como 
soberania popular, supremacia da Constituição, existência de um sistema democrático e de um 
governo representativo, separação de poderes, respeito aos direitos civis, instituições capazes de 
assegurar a efetividade da Constituição e o direito de escolha política livre (TAVARES, 2012, p. 26).
13
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Evolução histórica
De acordo com Tavares (2012), o constitucionalismo afigura-se como um movimento 
representativo da organização do Estado de forma determinada e limitada, tendo sua origem 
ainda entre os hebreus. Isso porque, no âmbito do Estado teocrático instituído pelos hebreus, 
houve a adoção da denominada “lei do Senhor” de forma impositiva, a fim de limitar o poder 
político. O instituto apareceria embrionariamente ainda nessa época, embora de forma frágil.
A democracia constitucional, por sua vez, se manifestou originalmente nas cidades-estado 
gregas, em que os núcleos políticos instituídos adotavam a democracia direta para o exercício das 
funções estatais. Por meio do estabelecimento de regras de distribuição de cargos públicos para 
o exercício de diferentes competências, o que era feito por meio de sorteio, o constitucionalismo 
grego proporcionava uma identidade plena entre governantes e governados (TAVARES, 2012, 
p. 27). Com o passar dos séculos, o constitucionalismo deu lugar a regimes caracterizados pela 
concentração de poder, e sua reaparição ocorreu apenas no fim da Idade Média. As regras 
inicialmente expressadas pelo conjunto de princípios e práticas adotados pela Igreja e pela 
sociedade foram positivadas com a edição da Magna Carta em 1215.
14
Figura 1 - Carta Magna
Fonte: Por David Smart
#PraCegoVer: Na imagem, temos uma réplica da Magna Carta Libertatum de 1215, que é uma 
carta legal inglesa que exigia que o rei João da Inglaterra proclamasse certos direitos, respeitasse 
certos procedimentos legais, e aceitasse que sua vontade poderia estar vinculada pela lei.
A Carta tinha como principal objetivo proteger os privilégios dos barões e os direitos dos 
homens livres. Ainda que sua função seja tão especificada e destinada à manutenção de poderes 
15
estabelecidos, a Magna Carta tornou-se símbolo de liberdades públicas, da qual os fundamentos 
da ordem jurídica democrática viriam a ser extraídos futuramente (SILVA, 2014, p 154). Deve-se 
destacar, no entanto, que o conceito de “homens livres” até o momento era bastante limitado. 
Em verdade, os direitos tutelados pelo constitucionalismo até esse momento incidiam apenas 
sobre uma parcela muito pequena da população.
O movimento do constitucionalismo seguiu com a Petition of Rights (1628), o Bill of Rights 
(1688) e o Habeas Corpus Amendment (1679), todos elaborados na Europa, especificamente na 
Inglaterra. Assim, a monarquia absolutista antes vigente deu lugar à monarquia constitucional. 
A mudança de paradigmas “pode ser tomada como o renascimento do constitucionalismo, 
trazendo consigo a alteração da fonte do poder estatal, que passa das mãos do monarca (que 
possuía um poder fundado em sua própria imagem, compreendido como ilimitado) para o Texto 
Constitucional” (TAVARES, 2012, p. 29).
Em outras palavras, com a consolidação do constitucionalismo, o monarca, que antes agia 
de acordo com suas vontades e sem limitações expressas, passa a atuar de acordo com a Carta, 
observando as suas balizas e respeitando os ditames constitucionais. Assim, os governados que 
antes ocupavam o lugar de súditos passam, pouco a pouco, a figurarem como cidadãos (TAVARES, 
2012). 
Por óbvio, com o passar dos séculos, o constitucionalismo foi se aperfeiçoando e, para além da 
limitação do poder soberano, passou a caracterizar a organização do Estado e a definição do seu 
papel. O conceito moderno de constitucionalismo vem acompanhado de uma maior frequência 
da instrumentalização da Constituição na forma escrita, bem como de uma maior abrangência 
de suas normas que, se antes beneficiavam apenas uma parcela da população, passam a tutelar 
direitos de grupos cada vez mais plurais, até alcançarem a totalidade da população.
A partir da positivação das normas constitucionais, ou seja, a partir da consolidação das 
Constituições escritas, tem-se também a publicização e o estabelecimento, de forma clara, dos 
direitos e garantias individuais da população, bem como dos limites estabelecidos para o exercício 
do poder pelo Estado, além das instituições vigentes e dos mecanismos adotados. A forma escrita 
da Constituição, portanto, representa um sensível aumento de segurança jurídica aos cidadãos, 
que passam a ser capazes de exigir o cumprimento das regras postas.
Destaca-se, no entanto, que aforma escrita não é imprescindível à configuração do 
constitucionalismo. De acordo com Tavares (2012, p. 33), 
[...] desde que haja uma divisão do poder, o que fatalmente implicará sua limitação e controle, 
estar-se-á em harmonia com uma das principais exigências do constitucionalismo. Tal orientação, 
contudo, poderá não estar consubstanciada num documento escrito, mas sim arraigada na prática 
diuturna de uma comunidade, podendo-se, em tais circunstâncias, admitir uma Constituição em 
sentido material-substancial.
16
Isso significa dizer que o constitucionalismo surge muito antes da existência de uma 
constituição escrita, uma vez que os elementos necessários à configuração dos aspectos 
que caracterizam o movimento político, jurídico e social já estavam presentes. No entanto, é 
inquestionável que o movimento ganha nova força a partir da criação de constituições escritas, 
como a Constituição dos Estados Unidos, em 1787, e a Constituição da França, em 1791.
A primeira constituição francesa inspirou-se no constitucionalismo inglês, mas, sobretudo, 
inspirou-se nos textos constitucionais editados pelos norte-americanos. Por sua vez, o 
desenvolvimento constitucional verificado nos Estados Unidos foi influenciado diretamente pela 
Revolução Francesa e por sua doutrina – especialmente Montesquieu. Por essa razão, consideram-
se as influências de ambos os sistemas quase indissociáveis, em espécie de parceria doutrinária 
(TAVARES, 2012). De tais regimes, surgem institutos que até hoje pautam o constitucionalismo 
contemporâneo:
• Universalização dos direitos individuais.
• Divisão dos poderes.
• Princípio da soberania nacional.
• Princípio da igualdade.
O constitucionalismo, assim, expandiu-se pelos demais Estados contemporâneos, que 
abandonaram a ideia de um contrato social hipotético e passaram a adotar instituições 
estáveis, estabelecidas na forma de constituições escritas, para promover a aplicação do pacto 
fundamental social.
DIREITO CONSTITUCIONAL
O Direito Constitucional é a área do Direito que tem por objeto o estudo, a análise e a 
interpretação das normas constitucionais. Esse campo do saber se insere no Direito Público e é 
compreendido como uma área autônoma, ainda que se relacione de forma íntima com diversos 
outros campos do Direito, como se verá a seguir.
17
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Natureza e conceito
O conceito de Direito Constitucional se relaciona diretamente com o Direito Público. As 
normas constitucionais a que se destina o Direito Constitucional são compostas não só pelo texto 
positivado da Constituição, mas também pelas emendas à Constituição, editadas pelo Poder 
Legislativo após a promulgação do texto original; e pela jurisprudência constitucional definitiva 
que, no Brasil, é resultante da atuação do Supremo Tribunal Federal na qualidade de corte 
constitucional (TAVARES, 2012, p. 41).
Ao apresentar os diversos ramos do saber jurídico, Silva (2004) apresenta as divisões do 
Direito. Caracterizadas como ramos da ciência jurídica, o autor apresenta suas divisões da 
seguinte forma:
18
Figura 2 - Divisões do Direito
Fonte: SILVA, 2004
#PraCegoVer: Na imagem, temos um gráfico com as três divisões do Direito representadas 
na vertical: público, social e privado. Na primeira coluna, que representa o público, temos as 
subdivisões: Constitucional, Administrativo, Urbanístico, Econômico, Financeiro, Tributário, 
Processual, Penal e Internacional. Ma segunda coluna, representada pelo social, temos do 
Trabalho e Previdenciário. Por fim, na última coluna, representada pelo privado, temos Civil e 
Comercial.
O Direito Constitucional, além de representar ramo específico do ensino jurídico, com objeto 
e conteúdo definidos, relaciona-se de maneira muito próxima com outros ramos do Direito, 
dialogando com quase todos os ramos do saber jurídico. Isso porque o texto constitucional não 
se limita à disposição sobre a organização do Estado e sobre os direitos individuais e coletivos 
19
vigentes na sociedade. Ao contrário, a Constituição trata diretamente de temas como Direito 
Administrativo, Processual, Penal, Tributário, Econômico, Trabalhista, entre tantos outros.
Dessa forma, é na Constituição que estão as normas basilares, mais fundamentais, sobre cada 
um desses temas. A partir do tratamento constitucional que lhes foi dispensado, outros aspectos 
serão detalhados e especificados nas normas infraconstitucionais.
Objeto do Direito Constitucional 
O objeto do Direito Constitucional, como não poderia deixar de ser, é a Constituição e as 
normas que a integram. Contudo, estabelecer que o objeto do Direito Constitucional se encerra 
no estudo sistematizado de seu conteúdo normativo é uma acepção reducionista, que não reflete 
a totalidade do que pretende esse ramo da ciência jurídica. Nesse sentido, deve-se esclarecer 
que também é objeto do Direito Constitucional o estudo do valor das normas, da eficácia de 
seu conteúdo, e dos critérios de interpretação. São englobados, portanto, além da Constituição 
escrita do Estado, o contexto social e cultural em que a Constituição se insere.
Para Canotilho (1993), ao passo que o objeto da Ciência Política é o estudo do político, o 
objeto do Direito Constitucional é o estudo do estatuto jurídico do político. Isso significa dizer 
que a Constituição disciplina, por meio de regras normativas, postas ou impostas, diversas ações 
políticas, as quais são objeto de estudo do Direito Constitucional.
É possível verificar essa compreensão ao perceber que a Constituição se refere, de forma 
expressa, aos princípios políticos estruturantes de nossa sociedade – princípio da democracia, 
da separação de poderes, da república; bem como estabelece a forma e estrutura do Estado, 
ao estabelecer, no caso do brasil, uma República Federal; e ao estabelecer os órgãos do Estado 
aos quais incumbe a direção política do Estado, como a Presidência e os princípios, formas e 
processos que deverão ser observados pelas instituições e órgãos políticos (CANOTILHO, 1993).
Conteúdo científico do Direito Constitucional
A Teoria da Constituição, nesse contexto, é compreendida como a ciência dedicada a discutir 
os limites e as possibilidades do Direito Constitucional. Dessa forma, a Teoria da Constituição 
envolve a descrição e a explicação da realidade constitucional sob o ponto de vista das relações 
entre a realidade e o direito constitucional formal. Nesse sentido, o conteúdo científico do Direito 
Constitucional abrange, para Silva (2004), três aspectos centrais, os quais dão lugar às disciplinas 
de:
20
• Direito Constitucional Positivo (ou Particular). 
• Direito Constitucional Comparado.
• Direito Constitucional Geral.
O Direito Positivo tem como objeto o estudo da Constituição positivada, ou seja, da 
Constituição concreta de um determinado Estado. A partir da leitura e da interpretação do texto 
constitucional posto, é possível compreender as normas jurídico-constitucionais a que esse 
Estado se submete, a forma como se organiza, os direitos que estabeleceu, ou seja, sua realidade 
político-institucional.
Como exemplo, imagine que alguém deseja estudar Direito Constitucional brasileiro: esse 
estudante conseguirá compreender, a partir da leitura do texto constitucional, como o Estado 
brasileiro se organiza, quais são as limitações estabelecidas ao Estado em face das liberdades e 
garantias individuais, quais são as instituições que compõem o aparato estatal, os procedimentos 
que devem ser observados para a efetivação da democracia, entre outros.
Destaca-se que, ao fazer referência ao estudo do Direito Constitucional Positivo, não se 
pretende restringir o objeto à Constituição vigente. Uma vez que o Direito Constitucional 
Positivo propõe a interpretação e sistematização das regras de determinado Estado, é certo 
que o histórico constitucional por este vivenciado poderá ser englobado nos estudos. É possível, 
portanto, conhecer uma Constituição anterior a partir do estudo do Direito ConstitucionalPositivo, com o intuito de se conhecer a forma como um Estado já se organizou no passado. A 
compreensão da evolução histórica da Constituição e sua relação direta com a realidade político-
social vivenciada também integra o Direito Constitucional Positivado.
Além da possibilidade de deslocamento no tempo, da mesma forma, pode-se observar um 
estudo que se difere no espaço. Assim, ainda se referindo ao Direito Constitucional Positivo, o 
estudante poderia se propor a analisar os sistemas constitucionais francês, alemão ou americano. 
Em síntese, ao estudo particular das normas constitucionais postas para um Estado dá-se o 
nome de Direito Constitucional Positivo, independentemente do tempo ou do local a que se 
refere.
A ciência do Direito Constitucional Comparado é aquela responsável por estudar, descrever 
e explicar vários sistemas constitucionais positivos diferentes, buscando identificar o que torna 
tais sistemas semelhantes e diferentes. É a partir da comparação entre diferentes sistemas 
constitucionais que será possível compreender suas dimensões fundamentais e seus traços 
unificadores (CANOTILHO, 1993, p. 157). Portanto, se considerados os diversos aspectos 
abordados no Direito Constitucional Positivo a partir da promoção de um estudo comparado 
entre diferentes sistemas constitucionais constituídos para diferentes Estados, se estará diante 
de estudos de Direito Constitucional Comparado. Como exemplo, um estudante que compara a 
21
organização do Estado francês da forma como delineado em sua Constituição com a organização 
do Estado alemão, considerando o sistema constitucional da Alemanha, e que seja capaz de 
estabelecer-lhes as similaridades e diferenças, promoverá estudos de Direito Constitucional 
Comparado.
Idealmente, é a partir das diversas comparações entre sistemas constitucionais positivos que 
se torna possível identificar elementos estruturantes, culminando em uma melhor compreensão 
do Direito Constitucional Geral como teoria. Ainda, é a partir do estudo comparado que será 
possível o aprimoramento de sistemas constitucionais, identificando mecanismos e instituições 
que podem ser úteis à organização do Estado.
O Direito Constitucional Geral é responsável por analisar, organizar e sistematizar os 
princípios e conceitos que permeiam os diversos sistemas constitucionais positivos de diferentes 
Estados. O seu objetivo é, principalmente, generalizar os elementos que constituem o Direito 
Constitucional, facilitando a análise e a compreensão (SILVA, 2004). Se em um primeiro momento 
o Direito Constitucional Positivo permite e análise de um sistema constitucional estabelecido e, 
por meio do Direito Constitucional Comparado, é possível identificar elementos estruturantes 
comuns a diversos sistemas constitucionais, o resultado será o objeto do Direito Constitucional 
Geral.
Como elementos a que se refere o Direito Constitucional Geral, faz-se referência às fontes, à 
evolução do constitucionalismo, às categorias gerais de Direito Constitucional, às classificações da 
Constituição quanto às suas formações, origens, tipos, estruturas. Em síntese, todos os aspectos 
que puderem ser resultado de uma abstração e aplicados em uma análise genérica poderão ser 
compreendidos como elementos caracterizadores do Direito Constitucional Geral. De posse de 
tais elementos abstratos e genéricos, seria possível compreender a existência de um Direito 
Constitucional ideal. Esse Direito, não positivado e fruto de uma análise teórica, tem o condão de 
representar as formas jurídicas puras, a priori (TAVARES, 2012). Nesse contexto, compreender o 
Direito Constitucional geral é relevante para que seja possível estabelecer caminhos que podem 
ser utilizados para compreender os vários sistemas constitucionais existentes.
Ainda, é certo que a partir dos estudos de Direito Constitucional Comparado será possível 
concluir aspectos relevantes do Direito Constitucional Geral. Por sua vez, esse fluxo de 
conhecimento contribui para a evolução e o aprimoramento dos sistemas constitucionais 
internos.
22
CONSTITUIÇÃO
“Constituição”, em português, é o ato de estabelecer, de firmar. No Direito, o conceito não 
é muito diverso: a Constituição é a lei por meio da qual o Estado se estabelece e se estrutura a 
partir da materialização do exercício do poder constituinte. Por meio da atividade constitucional 
originária, são estabelecidas as normas jurídicas fundamentais de um Estado.
Conceito
De acordo com Moraes, Constituição deve ser entendida como a lei fundamental e suprema 
de um Estado. É a lei que contém normas referentes à sua estruturação, bem como à formação 
dos poderes públicos, à forma de governo e à aquisição do poder de governar. Ainda, é na 
Constituição que estão disciplinadas a distribuição de competências, os direitos, as garantias e 
os deveres dos cidadãos (MORAES, 2017, p. 28). Silva (2004), por sua vez, estabelece o seguinte 
conceito para a Constituição:
A constituição é algo que tem, como forma, um complexo de normas (escritas ou costumeiras); 
como conteúdo, a conduta humana motivada pelas relações sociais (econômicas, políticas, religiosas 
etc.); como fim, a realização dos valores que apontam para o existir da comunidade; e, finalmente, 
como causa criadora e recriadora, o poder que emana do povo. Não pode ser compreendida e 
interpretada, se não se tiver em mente essa estrutura, considerada como conexão de sentido, é tudo 
aquilo que integra um conjunto de valores.
Ainda, para Canotilho (1993):
De todas as discussões, atuais e passadas, sobre a noção de leis fundamentais, as respostas sobre 
FIQUE DE OLHO
Como visto, o conteúdo científico do Direito Constitucional pode ser compreendido 
como uma evolução: inicia-se com o estudo de um único sistema constitucional (Direito 
Constitucional Positivo); na sequência, compara-se esse sistema a outros (Direito 
Constitucional Comparado); para, então, exprimirem-se os aspectos fundamentais que os 
compõem (Direito Constitucional Geral).
23
os elementos caracterizadores dessas leis apontam em duas direções: (1) são leis fundamentais (leges 
fundamentales) as leis de natureza contratual determinadoras dos direitos de participação no poder 
por parte do rei e por parte dos estados do reino; (2) são leis fundamentais as leis de natureza superior 
(hierarquia superior), por regularem matérias referentes à “constituição” do reino. Possivelmente, os 
dois elementos estariam presentes (embora com acentuações diversas) para se poder afirmar que as 
“leges fundamentalis” teriam uma força superior às outras porque o próprio soberano estava por elas 
vinculado, não as podendo alterar ou modificar unilateral mente (ideia central), e porque essas leis 
eram a “causae eficiente” e fundamental da majestade pessoal do monarca, referindo-se a “coisas 
essenciais do governo” (ideia constitucional).
É inegável que a Constituição, como lei fundamental, possui diversas funções. De início, 
podem-se mencionar a função de garantia e de proteção, a função organizativa ou estruturante 
do Poder político, a função limitativa, a função procedimental, a função instrumental, a função 
ordenadora ou conformadora da ordem sociopolítica, a função legitimadora ou legitimante da 
ordem política, entre outras. Ao discorrer sobre as diversas funções da Constituição, tem-se a 
aproximação do conceito subjetivo de constituição em sentido material, uma vez que as funções 
estão diretamente relacionadas ao conteúdo das normas constitucionais e às finalidades a que 
servem.
Também conceitualmente, a Constituição pode ser compreendida em sua dimensão formal, 
substancial ou material. Sob o aspecto formal, Constituição é um conjunto especial de normas 
jurídicas, que detêm mais relevância do que outras normas, não se submetendo a nenhuma 
outra. Formalmente, essas normas devem decorrer de um evento solene, a Constituinte 
originária. Isso significa dizer que se estará diante de normas constitucionais ainda que a norma 
não verse sobre assuntos consideradosconstitucionais. Se ela derivar do Poder Constituinte e 
estiver positivada no texto constitucional, integrará a Constituição do ponto de vista formal. 
Do ponto de vista substancial, as normas organizacionais da sociedade política caracterizam a 
Constituição. Significa dizer que a norma que pretende disciplinar juridicamente a organização 
política do Estado de forma fundamental caracterizará, substancialmente, normas constitucionais 
– ainda que tais normas estejam em outros textos normativos que não a Constituição.
Por fim, com relação à sua compreensão material, a Constituição é o aspecto da norma 
constitucional que se verifica no mundo fático. Os fatores sociais, políticos, econômicos, 
religiosos e ideológicos que configuram a sociedade é que compõem a Constituição em sentido 
material (TAVARES, 2012). Deve-se destacar, contudo, que mesmo com suas diversas funções, é 
imprescindível compreender a Constituição em sua unidade. Esse corpo normativo máximo de 
conteúdo plural deve compreender todas as regras necessárias à sua interpretação sistemática.
24
Classificações da Constituição
As Constituições podem ser classificadas de diferentes formas, segundo diferentes critérios. A 
doutrina de Silva (2004) adota a seguinte classificação:
Figura 3 - Classificação das constituições
Fonte: SILVA, 2004.
#PraCegoVer: Na imagem, temos o gráfico com as classificações das constituições. São elas: 
estabilidade (que podem ser rígidas, flexíveis e semirrírrigdas), origem (democráticas ou 
outorgadas), modo de elaboração (dogmáticas e históricas), forma (escritas e não escritas) e 
conteúdo (que podem ser materiais ou formais). 
Abaixo, serão analisadas as diferentes classificações a que se submetem as constituições, 
partindo-se principalmente das diferenciações apresentadas por Silva (2004).
Conteúdo da Constituição
Como já visto, com relação ao conteúdo, fala-se de constituições materiais e constituições 
formais:
Constituições materiais
Se referem aos temas constitucionais que, independentemente de onde estejam dispostos – 
seja na Constituição ou em normas infraconstitucionais – compõem a Constituição sob o aspecto 
material. Assim, se o tema disser respeito à organização do Estado e às limitações ao seu poder, 
se estará diante de norma reputada materialmente constitucional.
25
Constituições formais
São aquelas resultantes do Poder Constituinte democraticamente legitimado. Ainda, é 
requisito do estabelecimento da Constituição formal que seja observado um procedimento 
específico e idôneo, que possua intenção normativa – ou seja, que decorra diretamente do desejo 
expresso de se estabelecer uma nova Constituição (CANOTILHO, 1993).
Formas da Constituição
As Constituições podem ser escritas ou não escritas (ou seja, costumeiras):
Escritas
Uma vez que possa ser identificado o texto constitucional como resultado da positivação das 
normas constitucionais, em uma ordenação racional, por meio de um documento escrito, se está 
diante de uma constituição escrita ou instrumental. Atualmente, a maior parte dos diplomas 
constitucionais se apresenta na forma escrita.
Não escritas
Por sua vez, a constituição não escrita diz respeito ao conjunto de regras a que costumeiramente 
se atribui a força de norma constitucional. As normas constitucionais, nesse caso, originam-se da 
sociedade, sem que haja uma instituição ou órgão solenemente constituído para essa finalidade. 
A partir de orientações derivadas da jurisprudência e dos costumes, têm-se regras constitucionais 
não positivadas.
Quando escrito, o texto da Constituição como lei fundamental organiza-se em partes, títulos, 
capítulos, preâmbulos, princípios. O corpo textual que servirá de fonte de Direito Constitucional 
é, portanto, organizado e sistematizado. 
A Inglaterra é frequentemente lembrada como exemplo de sistema constitucional que não 
possui uma Constituição escrita. Contudo, de acordo com Tavares, “hoje o ordenamento jurídico 
inglês compõe-se do denominado Direito estatutário e das convenções constitucionais, ao lado 
da jurisprudência e dos costumes (especialmente parlamentares)” (2012, p. 92). Para o autor, não 
há mais na contemporaneidade Constituições puramente consuetudinárias.
26
Modo de elaboração da Constituição
Quanto ao modo de elaboração, as Constituições podem ser dogmáticas ou históricas. Esses 
conceitos estão intrinsecamente relacionados com os conceitos de Constituição escrita e não 
escrita. A constituição dogmática é caracterizada por ser sempre escrita. O texto do documento 
constitucional dogmático apresenta, de forma sistemática, os dogmas que devem disciplinar a 
organização do Estado e da Sociedade. Para Tavares (2012, p. 97):
“As Constituições chamadas de dogmáticas, também denominadas “sistemáticas”, são fruto da 
elaboração levada a efeito por um corpo destinado a sua confecção: as Assembleias Constituintes. Em 
geral, são tecidas a partir de institutos e instituições já consagrados na teoria, na doutrina.”
A constituição histórica, por sua vez, é caracterizada pela formação lenta, ao longo do tempo, 
das normas que pautam a sociedade. A evolução sociopolítica das tradições e costumes dá origem 
às normas fundamentais de organização de um Estado e, também nesse caso, o exemplo mais 
popular é o exemplo da Constituição da Inglaterra. De acordo com Tavares (2012, p. 98):
A constituição histórica é aquela resultante da gradativa sedimentação jurídica de um povo, 
por meio de suas tradições. É o caso da Constituição da Inglaterra. Pode-se dizer que é também o 
caso da Constituição dos Estados Unidos da América do Norte, baseada no texto escrito em 1789 
e em sua jurisprudência constitucional.
Origem da Constituição
Silva (2004) divide as Constituições quanto à origem em Constituições democráticas e 
outorgadas. Enquanto as constituições democráticas decorrem da organização de um órgão 
constituinte, representativo da população, as constituições outorgadas são elaboradas e 
estabelecidas sem a participação do povo, mas como resultado da vontade de um governante 
ou instituição.
Constituições democráticas (ou populares)
São então promulgadas como consequência da atividade legislativa do Poder Constituinte 
democraticamente legitimado pelo povo, com o intuito de atender seus interesses. A participação 
popular representativa é característica central das Constituições democráticas. A Constituição 
Francesa, de 1791, possui essa característica e é historicamente o primeiro exemplo de 
constituição popular.
FIQUE DE OLHO
As diversas classificações das constituições podem variar de autor para autor. Mas, de 
modo geral, estão sempre preocupadas em representar as principais características dos 
diplomas constitucionais, de acordo com o conteúdo, a forma, o modo de elaboração, a 
origem e a estabilidade que apresentam.
27
Constituições outorgadas
Destaca-se o seu caráter impositivo. Sem que haja legitimidade popular, tais normas passam a 
ter vigência. Como forma de diferenciá-las das Constituições promulgadas, constantemente lhes 
é atribuído o nome de Carta. Tavares (2012) menciona como exemplos brasileiros a Constituição 
de 1824, outorgada pelo Imperador D. Pedro I; a Constituição de 1937, outorgada pelo Presidente 
Getúlio Vargas; e a Carta de 1967 e 1969.
Destaca-se que, no caso da Carta de 1967, esta foi elaborada pelo Congresso Nacional, 
mas a função de poder constituinte lhe foi outorgada por meio do Ato Institucional nº 4, após 
o afastamento dos membros da oposição ao Regime Militar. Ou seja, ainda que do ponto de 
vista formal tenha sido elaborada por Poder Constituinte, lhe faltava a legitimidade popular 
necessária para se configurar como uma Constituição promulgada ou democrática. Da mesma 
forma, em alguns casos há a elaboração de um texto constitucional por um Imperador ou Ditador 
que, com o intuito de validar popularmente sua vontade, submete o texto à aprovação popular 
por meio de plebiscito. Nesses casos, ainda que haja uma participação popular, a Constituição 
nãoé considerada democrática, uma vez que não foi facultado à sociedade participar de sua 
elaboração. São denominadas constituições cesaristas.
No Brasil, a Constituição de 1937, outorgada por Getúlio Vargas, previa a realização de um 
plebiscito com o intuito de referendar o conteúdo da carta constitucional. Contudo, como esse 
plebiscito nunca foi realizado, a Constituição que poderia ter sido cesarista permaneceu apenas 
como constituição outorgada, diante da inexistência de participação popular em sua concepção 
e elaboração.
28
Estabilidade da Constituição
Com relação à sua estabilidade, as Constituições podem ser classificadas como rígidas, 
flexíveis ou semirrígidas. Inicialmente, é necessário esclarecer que toda Constituição pode ser 
alterada, uma vez que é seu papel organizar a sociedade em que se insere, e que essa mesma 
sociedade está em constante evolução e alteração. Ainda que seja possível assim se caracterizar, 
na prática não há Constituição que seja imutável, inalterável.
Constituições rígidas
São assim consideradas quando a possibilidade de alteração da norma constitucional é 
limitada por normas e procedimentos específicos, exigindo-se solenidades especiais, as quais 
que só poderão ser iniciadas se atendidos os requisitos previamente estabelecidos. Esses 
procedimentos divergem sensivelmente do processo legislativo ordinário.
Constituições flexíveis
São assim classificadas quando a alteração do texto Constitucional depender de procedimentos 
corriqueiros, como aqueles estabelecidos para a edição de leis ordinárias. Assim, elas podem ser 
livremente modificadas pelo legislador ordinário, não havendo necessidade de procedimento 
solene ou específico.
Constituições semirrígidas
São aquelas Constituições em que parte do texto é caracterizado como rígido, e a outra parte 
é caraterizada como flexível. Estas também podem ser denominadas semiflexíveis.
A Constituição da República de 1988 é considerada uma constituição rígida, sendo que 
Moraes (2017) ainda a classifica como super-rígida. Isso porque, além da previsão de que a 
Constituição só poderá ser alterada por um processo legislativo específico, por meio de emendas 
constitucionais, como previsto em seu artigo 59, inciso I, a Constituição é imutável em alguns 
pontos, nos termos de que dispõe o seu artigo 60, parágrafo 4º.
Outras classificações
As Constituições podem ainda ser classificadas quanto à sua extensão e finalidade, como 
Constituições analíticas e sintéticas. Ao passo que as constituições analíticas se prestam a dispor 
sobre diversos assuntos relevantes à organização do Estado e da sociedade, as constituições 
sintéticas se limitam aos princípios basilares e às garantias sociais fundamentais. São bons 
exemplos: 
29
• Constituição do Brasil: Constituição analítica
• Constituição dos Estados Unidos: Constituição sintética
Ainda sobre a constituição dos Estados Unidos, com apenas sete artigos e vinte e sete 
emendas, é a mais sucinta constituição em vigor.
Com relação à ideologia, as Constituições podem ainda ser classificadas em liberais ou sociais. 
No caso das constituições liberais, estas são marcadas pela divisão de poderes com declaração 
expressa da liberdade do cidadão, estabelecendo claros limites à atuação do Estado. Em um 
momento posterior, tem-se as constituições sociais, em que, além da previsão de liberdades 
individuais, há previsão de atuação do Estado com o intuito de corrigir desigualdades sociais, 
visando à efetivação da igualdade material entre os cidadãos. Também é possível classificar as 
constituições em dualistas ou pactuadas, sendo estas as constituições derivadas de um pacto 
entre o regente e o Poder Legislativo, o que tem como consequência a sujeição do monarca 
aos esquemas constitucionais, e resultando a constituição de dois princípios: o monárquico e o 
democrático. Segundo Tavares (2012, p. 94):
“Com Paulo Bonavides poder-se-ia invocar a existência de constituições “pactuadas”, termo 
empregado pelo constitucionalista para nominar aquelas cartas originadas de um “compromisso 
instável de duas forças políticas rivais”25, de maneira que o equilíbrio fornecido por tal espécie de 
Carta é precário: “O pacto selado juridicamente mal encobre essa situação de fato, ‘e o contrato se 
converte por conseguinte numa estipulação unilateral camuflada’”. Os exemplos mencionados para 
esse conjunto específico de Constituições são, em primeiro lugar, a Carta Magna, de 1215, momento 
no qual se observou a supremacia dos barões ingleses em relação ao poder real; também foi o caso da 
Constituição da Grécia, de 1844, elaborada por assembléia popular e ratificada pelo Rei.”
Por sua vez, constituição nominalista é a que apresenta direcionamentos para os problemas 
concretos, a serem resolvidos mediante aplicação pura e simples das normas constitucionais. 
Nesse sentido, o aplicador da Constituição deve apenas interpretar a norma de forma literal. No 
caso da constituição semântica, se está diante de diploma que demanda interpretação e análise 
de seu conteúdo sob aspectos sociológicos, ideológicos, metodológicos, possibilitando uma maior 
aplicabilidade político-normativa-social do texto constitucional (MORAES, 2017, p. 31). Deve-se 
ressaltar, contudo, que também é compreendida como semântica a constituição que apenas 
formaliza a existente situação do poder político, atuando como instrumento de estabilização. 
Ou seja, por essa classificação, a constituição semântica tem como objeto perpetuar no poder 
aqueles atores que o detêm.
30
OBJETO DA CONSTITUIÇÃO 
De acordo com Canotilho (1993), o processo e a forma da Constituição, em um Estado 
Democrático, só têm sentido quando relacionados com um determinado conteúdo. Decerto, a 
lei fundamental não pode ser vazia de significado e conteúdo. É preciso que compreenda, no 
mínimo, alguns aspectos relevantes para que esteja configurada.
Elementos da Constituição
Canotilho (1993) apresenta em sua obra alguns elementos materiais caracterizadores e 
distintivos do que seria o conceito ideal de constituição, identificado fundamentalmente com os 
postulados político-liberais. São os seguintes elementos:
“(a) a constituição deve consagrar um sistema de garantias da liberdade (esta essencialmente 
concebida no sentido do reconhecimento de direitos individuais e da participação dos cidadãos 
nos actos do poder legislativo através do parlamento);
(b) a constituição contém o princípio da divisão de poderes, no sentido de garantia orgânica contra 
os abusos dos poderes estatais;
(c) a constituição deve ser escrita (documento escrito).”
A partir desse conceito ideal, surge a distinção entre os Estados constitucionais e os Estados 
não-constitucionais:
Estados constitucionais
São aqueles em que há uma constituição que contém os elementos reputados essenciais 
para a configuração da Constituição. Ou seja, um documento escrito, por meio do qual direitos e 
liberdades individuais são assegurados e que, ao mesmo tempo, visa limitar o poder e disciplinar 
a atuação do Estado, por meio do estabelecimento de instituições e procedimentos.
Estados não-constitucionais
São todos os outros, remetendo-se especificamente ao que dispõe o artigo 16º da Declaração 
Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. De acordo com o dispositivo, “a 
sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação 
dos poderes não tem Constituição”.
31
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Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• conhecer os conceitos de Constitucionalismo e sua evolução histórica;
• ser introduzido ao Direito Constitucional e a aspectos fundamentais relacionados à 
ciência jurídica desse ramo do saber; 
• entender a estrutura e as diversas classificações da Constituição;
• perceber a relevância de uma adequada compreensão do Direito Constitucional; 
• iniciar seus estudos sobre as diferentes formas de Constituições.
PARA RESUMIR
CANOTILHO, J. J. G. Direito Constitucional. 6.ed. Coimbra: Almedina, 1993.
MORAES, A. de. Direito Constitucional. 33. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2017.
SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed. rev. e atual. São Paulo: 
Malheiros, 2004.
TAVARES, A. R. Curso de direito constitucional. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 
2012.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNIDADE 2
Teoria do Poder Constituinte
Você está na unidade Teoria do Poder Constituinte. Conheça aqui os principais aspectos 
relacionados ao Poder Constituinte, suas espécies e principais características, bem como 
a aplicabilidade das normas constitucionais no tempo.
Bons estudos!
Introdução
37
DEFINIÇÃO
A Teoria do Poder Constituinte remonta à teoria da origem da Constituição e do seu 
fundamento de validade. Não há, no ordenamento jurídico, norma que seja superior à 
Constituição. Mas qual a origem da superioridade hierárquica da norma? É o que a Teoria do 
Poder Constituinte se propõe a explicar.
Poder Constituinte e Poder Constituído
Qual o fundamento da Constituição? O que a torna a mais relevante das normas em um 
ordenamento jurídico? A resposta para essas perguntas passa pela compreensão do procedimento 
da elaboração da norma constitucional a partir do denominado Poder Constituinte.
Ao Poder Constituinte foi assegurada, de forma legítima e democrática, a função de elaborar 
normas constitucionais, às quais são conferidas o caráter normativo máximo. A Constituição, base 
do ordenamento jurídico e hierarquicamente superior a todas as outras normas, será, portanto, 
aquela derivada do Poder Constituinte. A superioridade hierárquica da Constituição decorre, 
justamente, de seu fundamento. Em sua Teoria Pura do Direito, Kelsen (2011, p. 217) estabelece 
que a Constituição é o fundamento para todas as demais normas de um ordenamento jurídico; é 
a Constituição que torna as demais regras vigentes válidas. Contudo, o que torna a Constituição 
válida como a norma mais elevada é o que Kelsen denomina norma fundamental:
[...] tem de terminar numa norma que se pressupõe como a última e a mais elevada. Como 
norma mais elevada, ela tem de ser pressuposta, visto que não pode ser posta por uma autoridade, 
cuja competência teria de se fundar numa norma ainda mais elevada. A sua validade já não pode 
ser derivada de uma norma mais elevada, o fundamento da sua validade já não pode ser posto 
em questão. Uma tal norma, pressuposta como a mais elevada, será aqui designada como norma 
fundamental (Groundnorm).
A teoria de Kelsen pode ser sintetizada em sua pirâmide de hierarquia de normas, que assim 
se representa:
38
Figura 1 - Pirâmide de hierarquia de normas
Fonte: KELSEN, 2011.
#PraCegoVer: Na imagem, temos uma pirâmide que representa a hierarquia de normas. 
Ela se divide em três níveis. Do topo para a base, temos a Constituição, no meio, as normas 
infraconstitucionais e, na base, as normas infralegais.
A norma fundamental se relaciona com o Poder Constituinte diretamente, uma vez que este 
depende de legitimidade para atuar na elaboração e edição de uma Constituição. De acordo com 
Tavares (2012), o referencial teórico de um Poder Constituinte está atrelado à sua delimitação no 
tempo, caracterizado pela manifestação de uma vontade social representada numa assembleia 
constituinte, ainda que a manifestação do referido Poder não esteja restrita a esse momento 
único. Mais importante do que conceituar o que é Poder Constituinte, é imprescindível que seja 
possível compreender quais são as suas funções. A partir da evolução do Constitucionalismo como 
movimento político, jurídico e social, surge a necessidade de edição de regras que disciplinem a 
separação de poderes do Estado, bem como regras capazes de traduzir sua organização e arranjo 
institucional. Apenas um poder superior ao próprio Estado poderia ser capaz de estabelecer sua 
organização e impor-lhe limites, e é esse o Poder Constituinte.
Mais importante do que conceituar o que é Poder Constituinte, é imprescindível que seja 
possível compreender quais são as suas funções. A partir da evolução do Constitucionalismo como 
movimento político, jurídico e social, surge a necessidade de edição de regras que disciplinem a 
separação de poderes do Estado, bem como regras capazes de traduzir sua organização e arranjo 
institucional. Apenas um poder superior ao próprio Estado poderia ser capaz de estabelecer sua 
organização e impor-lhe limites, e é esse o Poder Constituinte.
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O Poder Constituinte é, portanto, a força criadora, orientada pela vontade social que se 
destina a elaborar as regras de uma Constituição. Sua atuação não está restrita, no entanto, 
apenas à edição de textos constitucionais inéditos: como será visto adiante nesta Unidade, a 
criação de normas constitucionais de que se incumbe o Poder Constituinte pode ocorrer tanto no 
momento primeiro da lei fundamental quanto posteriormente. 
Como não poderia deixar de ser, após a edição da lei fundamental, o poder de criação sofre 
limitações. A partir desse momento, a capacidade de edição e de criação de normas constitucionais 
pelo Poder Constituinte torna-se restrita. Assim, com relação aos limites que se aplicam, o Poder 
Constituinte pode ser compreendido em Poder Constituinte e Poder Constituído.
Poder Constituinte
É autônomo e incondicionado, derivado da legitimidade democrática que lhe confere poder 
para a criação de leis e normas fundamentais à organização do Estado. É, portanto, inicial.
Poder Constituído
Uma vez vigentes as normas constitucionais, estas estabelecem regras específicas para que 
seja possível a inclusão e a alteração das regras constitucionais já instituídas anteriormente. 
A esse poder que tem a faculdade de editar e de reformar as normas constitucionais dá-se o 
nome de Poder Constituído, uma vez que é conferido a um órgão já constituído – pela própria 
Constituição – o poder de emendar a Constituição ou de criar normas constitucionais em outras 
esferas de poder (como ocorre com o Poder Constituinte derivado decorrente, que será estudado 
adiante). Esse Poder Constituído é, por sua vez, condicionado às regras exigentes, e limitado às 
regras de modificação e alteração previstas (SILVA, 2004).
As diversas apresentações do Poder Constituinte são abordadas por Moraes (2017), que 
apresenta quadro sintético para descrever os diferentes tipos de Poder Constituinte, de acordo 
com suas principais características, em sua compreensão ampla:
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Figura 2 - Apresentações do Poder Constituinte
Fonte: MORAES, 2017.
#PraCegoVer: Na imagem, temos um gráfico representando o Poder constituinte que está 
bifurcado em dois tipos: originário e derivado. No primeiro, temos a revolução convenção 
subdividida em inicial, ilimitado, incondicionado e permanente. No segundo, temos secundário, 
limitado e condicionado que se subdividem em reformador e decorrente. 
TIPOS DE PODER CONSTITUINTE
Conheça, a seguir, os tipos de poder constituinte de acordo com suas características e 
limitações.
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Poder Constituinte Originário
Chama-se de Poder Constituinte originário aquele que é característico de momentos 
de quebras de paradigmas e rupturas com as ordens institucionais vigentes. Revoluções, 
movimentos separatistas e de independência, por exemplo, são momentos em que o Poder 
Constituinte originário se manifesta em sua forma mais pura. Também se denomina Poder 
Constituinte originário aquele que decorre de convenção, ou seja, aquele que existe em virtude 
de uma Assembleia Nacional Constituinte. 
Tanto em face de revolução quanto em face de convenção se estará diante de um Poder 
Constituinte originário que se pretende inicial, ilimitado, incondicionado e permanente. Cabe 
ao Poder Constituinte originário o estabelecimento de uma nova ordem constitucional, e ele é 
inicial por estabelecer a base da ordem jurídica; é ilimitado e autônomo por não se submeter a 
nenhuma outra norma jurídica anterior, não se vinculando a limites anteriormente estabelecidos;e, também por essa razão, é incondicionado por não estar sujeito a nenhuma forma ou 
procedimento prefixado do qual dependa a validade e a legitimidade de sua atuação (MORAES, 
2017). Ao discorrer sobre as características do Poder Constituinte originário, Canotilho (1993, p. 
94) explica o que segue:
[O Poder Constituinte originário] é inicial porque não existe, antes dele, nem de facto nem de 
direito, qualquer outro poder. É nele que se situa, por excelência, a vontade do soberano (instância 
jurídico-política dotada de autoridade suprema). É um poder autônomo: a ele e só a ele compete 
decidir se, como e quando, deve ‘dar-se’ uma constituição à Nação. É um poder omnipotente, 
incondicionado: o poder constituinte não está subordinado a qualquer regra de forma ou de fundo.
Deve-se destacar que, para parte da doutrina, o Poder Constituinte originário resultado de 
convenção estará sujeito a limitações a que o Poder Constituinte originário resultante de um 
movimento revolucionário não está. Isso porque, diante de uma ordem vigente, ainda que se 
pretenda a edição de novas leis fundamentais que organizem um Estado, se estará diante de 
limitações e impedimentos de ordem fática:
Se há uma ordem vigente, ela condiciona o Poder Constituinte, ainda que originário. Nunca é 
demais lembrar, sobretudo no caso brasileiro, que o Poder Constituinte não se confunde com o Poder 
Estatal. A nova Constituição não ensejará um novo Estado. O Brasil já existe, com esta ou com outras 
eventuais e futuras Constituições. Então, pelo menos por isso, a Constituinte tem limitações. Não 
poderá ela, por exemplo, incorporar o território brasileiro, ou parte dele, a outro Estado. Não lhe será 
permitido abrir mão da soberania nacional. (POLETTI apud TAVARES, 2012).
Por fim, devem ser observados alguns requisitos para que o Poder Constituinte possa, de 
fato, ser reputado como Poder Constituinte originário. Sobre o tema, Mendes (2014, p. 118) 
estabelece com clareza a necessidade de que o Poder Constituinte originário seja democrática e 
legitimamente estabelecido para que possa assim ser considerado:
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Se o poder constituinte é a expressão da vontade política da nação, não pode ser entendido sem 
a referência aos valores éticos, religiosos, culturais que informam essa mesma nação e que motivam 
as suas ações. Por isso, um grupo que se arrogue a condição de representante do poder constituinte 
originário, que se dispuser a redigir uma Constituição que hostilize esses valores dominantes, não 
haverá de obter o acolhimento de suas regras pela população, não terá êxito no seu empreendimento 
revolucionário e não será reconhecido como poder constituinte originário. Afinal, só é dado falar em 
atuação do poder constituinte originário se o grupo que diz representá-lo colher a anuência do povo, 
ou seja, se vir ratificada a sua invocada representação popular.
Poder Constituinte Derivado
As leis constitucionais resultantes da atividade do Poder Constituinte originário trazem, em 
seu conteúdo, os mecanismos previstos para o surgimento de novas regras constitucionais ou 
mesmo de alteração das regras vigentes. A esse Poder Constituinte que se insere na Constituição 
atribui-se o nome de Poder Constituinte constituído, ou Poder Constituinte derivado. De acordo 
com Moraes (2017, p. 43), o Poder Constituinte derivado pode ser descrito como um poder 
subordinado e condicionado:
É derivado porque retira sua força do Poder Constituinte originário; subordinado porque se 
encontra limitado pelas normas expressas e implícitas do texto constitucional, às quais não poderá 
contrariar, sob pena de inconstitucionalidade; e, por fim, condicionado porque seu exercício deve 
seguir as regras previamente estabelecidas no texto da Constituição Federal.
O Poder Constituinte derivado pode, ainda, ser classificado de acordo com duas subdivisões, 
espécies, as quais se identificam de acordo com os aspectos característicos que lhe são atribuídos. 
Ainda mais, tais espécies estão diretamente relacionadas com a finalidade do Poder Constituinte 
derivado que lhe foi conferida pelo texto constitucional.
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Poder Constituinte Derivado Reformador
O Poder Constituinte de reforma, ou Poder Constituinte reformador, diz respeito à 
competência atribuída a determinado órgão para alterar as disposições constitucionais 
estabelecidas pelo Poder Constituinte originário. O conceito se relaciona com a classificação 
das Constituições em rígidas, flexíveis e semirrígidas. No caso das Constituições flexíveis, 
estas podem ser alteradas mediante processo legislativo ordinário, o mesmo que se destina à 
edição de normas infraconstitucionais. No caso das Constituições rígidas, estas apenas podem 
ser alteradas se presentes requisitos específicos, observados procedimentos solenes previstos 
constitucionalmente. As Constituições semirrígidas, por sua vez, possuem partes rígidas e partes 
flexíveis.
Por óbvio, o Poder Constituinte reformador apenas existe em Constituições rígidas ou 
semirrígidas, nas quais este é necessário para a promoção de alterações e mudanças na ordem 
constitucional. É o Poder Constituinte reformador que se manifestará quando estabelecidos os 
requisitos que permitem a edição de regras constitucionais mesmo diante de uma ordem já 
estabelecida. Deve-se ter em mente, no entanto, que o Poder Constituinte reformador é, diferente 
do que ocorre com o Poder Constituinte originário, limitado e regulado pela própria Constituição. 
Por essa razão, parte da doutrina sequer considera o Poder Constituinte reformador como um 
poder constituinte de fato, pois, por se tratar de um poder constituído pela ordem constitucional 
vigente, não poderia ser, ao mesmo tempo, Poder Constituinte.
A utilização da expressão Poder Constituinte para se referir ao Poder Constituinte derivado 
reformador, no entanto, encontra defensores no fundamento de que, não obstante esteja 
subordinado à Constituição, também de sua atuação surgem novas normas constitucionais, 
as quais integrarão a ordem constitucional vigente sem qualquer hierarquia entre as normas. 
Sobre o assunto, Moraes (2017, p. 466) esclarece que os limites atribuídos ao Poder Constituinte 
reformador estão diretamente relacionados à necessidade de que seja mantido o seu sistema 
originário:
A alterabilidade constitucional, embora se possa traduzir na alteração de muitas disposições da 
constituição, sempre conservará um valor integrativo, no sentido de que deve deixar substancialmente 
idêntico o sistema originário da constituição. A revisão serve, pois, para alterar a constituição mas não 
para mudá-la, uma vez que não será uma reforma constitucional o meio propício para fazer revoluções 
constitucionais. A substituição de uma constituição por outra exige uma renovação do poder 
constituinte e esta não pode ter lugar, naturalmente, sem uma ruptura constitucional, pois é certo 
que a possibilidade de alterabilidade constitucional, permitida ao Congresso Nacional, não autoriza o 
inaceitável poder de violar o sistema essencial de valores da constituição, tal como foi explicitado pelo 
poder constituinte originário.
Assim, uma vez limitado pelos procedimentos estabelecidos pela própria Constituição, 
verifica-se a impossibilidade de que o Poder Constituinte reformador seja utilizado para violar o 
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sistema constitucional vigente. Também por essa razão, o Poder Constituinte reformador encontra 
limitações. Na Constituição de 1988, verifica-se a presença do Poder Constituinte reformador no 
artigo 60, o qual estabelece os critérios para que a Constituição possa ser emendada:
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, 
cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência

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