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Inibição, sintoma e angústia - qual a relação entre Inibição, Sintoma e
Angústia?
● Para essa aula vamos utilizar três referências:
● Freud, 1926 - inibição, sintoma e angústia
● Lacan, seminário 10 - A angústia
● artigo "Sobre a psicopatologia dos atos" de Roberto Calazans da
Universidade Federal de São João del-Rei, São João del-Rei
● Sobre esquema da angústia
● No seminário da Angústia Lacan no apresenta o esquema da Angústia onde
ele retoma, nesse esquema, a distinção de Freud entre inibição, sintoma e
angústia colocando em um sistema de coordenadas cartesianas no qual
encontramos, num eixo, o movimento e, no outro, a dificuldade. Nessa
ordenação, constatamos que a angústia está no ponto máximo das
dificuldades e do movimento e a inibição está no ponto oposto ao da angústia
no esquema.
● As localizações da inibição, do sintoma e da angústia tem o objetivo de
demonstrar, graficamente, que existem gradações de respostas em relação à
inibição, ao sintoma e à angústia. O esquema se completa com a introdução
dos três registros; real, simbólico e imaginário (RSI). Os registros RSI podem
impactar tanto do que causaria a inibição, o sintoma e a angústia
(acontecimentos reais, simbólicos ou imaginário) quanto no modo em que
estas aparecem como respostas (RSI) do sujeito.
● Ao longo de todo o seminário da angústia Lacan definirá, uma a uma, cada
palavra do esquema, começando pela primeira coluna:
● "Tudo isso deve fazê-los sentir com clareza que as nuanças ou versões
lingüísticas aqui evocadas servem para nos guiar a definir pela efusão o
terceiro lugar no sentido do que significa a inibição na vertente do mo vimento,
assim como, na vertente da dificuldade, destacamos a referên cia
correspondente com o termo embaraço. A efusão é a perturbação, o
perturbar-se como tal, o perturbar-se mais profundo na dimensão do
movimento. O embaraço é o máximo da dificuldade atingida." (Lacan, sem.
10)
Vamos articular primeiramente as três palavras principais:
● A inibição não é, necessariamente, patológica, “pode-se também chamar de
inibição a restrição normal de uma função. Já o sintoma indica a existência
de um processo patológico” (Freud, 1926)
● A inibição não é equivalente a um sintoma, mas podem eventualmente se
encontrar num mesmo acontecimento, numa mesma manifestação.
● A inibição é uma renúncia às funções do Eu para se proteger de um possível
estado insuportável de angústia.
● "Sobre as inibições podemos dizer que são limitações das funções do Eu, por
precaução ou devido ao empobrecimento de energia. Agora é fácil perceber
que a inibição e o sintoma se distinguem um do outro" (Freud, 1926)
● No caso do Pequeno Hans: "O incompreensível medo dos cavalos é o
sintoma, a incapacidade de sair à rua é uma inibição, uma restrição que o Eu
impõe a si próprio, para não despertar o sintoma da angústia" (Freud, 1926)
● “a inibição está na dimensão do movimento, no senti do mais amplo desse
termo. (...) Existe movimento, pelo menos metaforicamente, em toda função”
do Eu. “Na inibição, é da paralisação do movimento que se trata” (Lacan,
sem. 10)
● “A pri meira fileira horizontal, que começa com a inibição e continua com o
impedimento, leva à forma leve de angústia a que se chama embaraço”
(Lacan, sem. 10).
● Estar impedido é um sintoma. Ser inibido é um sintoma posto no museu.(…)
O acting out é um sintoma(…) O que é o sintoma? É o vazamento da
torneira. A passagem ao ato corresponde a abri-la, mas abri-la sem saber o
que se está fazendo” (Lacan, sem. 10)
● Apresento a divertida e elucidativa construção metafórica de Lacan sobre os
usos de uma banal torneira. No seminário 10, da Angústia, Lacan nos
apresenta “A torneira do Piaget”. Após explicar a teoria de Piaget, Lacan se
apropria do objeto Torneira e de sua função prática para construir uma
interessante metáfora. A metáfora da torneira nos permite entender o
sintoma, a passagem ao ato e acting out.
● “O efeito da tornei ra, como sendo uma coisa que fecha, e o resultado, ou
seja, que, graças à torneira, pode-se encher uma bacia sem que ela
transborde. Em suma, é o surgimento da dimensão da torneira como causa
● “Uma coisa é certa: é que, em se tratando da torneira como causa, não se dá
uma boa explicação ao dizer que o manuseio da torneira ora abre, ora fecha.
A torneira foi feita para fechar.”
● “Já que falei em rolha, vocês podem reconhecer nela a função mais primitiva
da torneira, introduzida na discussão da função da causa. (...)A causa. A
observação indica que a relação com a causa - que quê-isso? que é que se
pode fazer com uma torneira?”
● “O que é o sintoma? É o vazamento da torneira.”
● “A passagem ao ato corresponde a abri-la, mas abri-la sem saber o que se
está fazendo. Produz-se alguma coisa na qual se libera uma cau sa, por
meios que nada têm a ver com essa causa, pois, como lhes assi nalei, a
torneira só exerce sua função de causa na medida em que tudo que pode
sair dela vem de outro lugar.”
● “Quanto ao acting out, se quisermos situá-lo em relação à metáfora da
torneira, diremos que ele não é o fato de abrir a torneira, mas sim plesmente a
presença ou não do jato. O acting out é o jato, ou seja, é aquilo que sempre
se produz a partir de um fato que vem de outro lu gar que não a causa com
base na qual se age. (...) Em outras palavras, não se deve apoquentar
irrefletidamente a causa do desejo.”
Vamos agora dissecar cada palavra desse esquema:
Inibição.
● A inibição só existe porque não somos livres para manifestar nossos desejos.
A cultura impõe limites que nos levam a ocultar, na inibição, os atos que
denunciariam os desejos inconscientes.
● A inibição demarca a fronteira, o limite, a estagnação, ou seja, o ponto para
além do qual o sujeito supõe que não se pode passar.
● “Na inibição, é da paralisação do movimento que se trata” (Lacan, sem. 10).
O sujeito freia ou até paralisa determinadas funções do eu.
● O desejo está ali onde se apresenta a inibi ção que, por sua vez, funciona
como uma rolha que bloqueia a manifestação do desejo.
● “o desejo deve ser situado ali (…) no nível da inibição. É por isso que o
desejo pode assumir a função do que chamamos de uma defesa” (Lacan,
sem. 10).
● “Sobre as inibições podemos dizer que são limitações das funções do Eu”.
(Freud, 1926). São consideradas funções do eu, por exemplo, a função
motora, função sexual, social, de trabalho etc.
● “A inibição tem uma relação especial com a função e não significa
necessariamente algo patológico, pode-se também chamar de inibição a
restrição normal de uma função”. (Freud, 1926)
● Nossa relação com o mundo é marcada por limites. “Constituídos esses
limites, constitui-se, ao mesmo tempo, a possi bilidade, pela fantasia ou pelo
desejo, de uma transgres são desses limites”. A inibição tem a função de frear
ou paralisar o sujeito diante desses limites. (Lacan, sem. 4)
● “O que é a inibição senão a introdução numa função - em seu artigo, Freud
toma como exemplo a função motora, mas pode ser qualquer uma-, a
introdução de quê? De um desejo diferente daquele que a função sa tisfaz
naturalmente” (Lacan, sem. 10)
● “convidam-nos a reconhe cer o lugar da inibição como o lugar em que, falando
propriamente, o desejo se exerce (…). A ocultação estrutural do desejo por
trás da inibição (…) é que nos instiga a pôr em jogo no mesmo lugar estes
três termos, inibição, desejo e ato” (Lacan, sem. 10)
● “O ato é uma ação na medida em que nele se manifesta o próprio desejo que
seria feito para inibi-lo. É so mente fundamentando a idéia de ato em sua
relação com a inibição que se pode justificar que demos o nome de atos a
coisas que, em prin cipio, não parecem se relacionar com o que podemos
chamar de ato, no sentido pleno, ético, da palavra - o ato sexual, por um lado,
ou o ato testamental, por outro.” (Lacan, sem. 10)
Sintoma
● Vamos falar sobre sintoma, partindo do conceito como compreendido na obra
de Freud e revisitado nos primeiros seminários de Lacan.
● Tanto para Freud quanto para Lacan, em seus primeiros textos, o sintoma
pode ser decifrado porque eleporta um sentido. Isso implica haver no
sintoma um sentido aprisionado que a interpretação deverá tentar libertar.
(Lacan, 1953)
● Alguns anos mais tarde, para Lacan em 1957, o sintoma deixaria de ser
entendido apenas como uma mensagem para entrar num sistema de escrita,
nesse sentido não podemos mais reduzi-lo a um efeito semântico, como
significação do Outro. Há algo no sintoma que ultrapassa a significação, algo
inerte, fixo e resistente à interpretação. Isso que ultrapassa será nomeado,
mais tarde, por Lacan como gozo.
● Se o sintoma advém do inconsciente isso equivale a dizer que ele é
interpretável, decifrável. Ao mesmo tempo em que o sintoma é extremamente
resistente à interpretação, afinal, sua função ficaria comprometida pela
interpretação. Na prática clínica percebemos que ao mesmo tempo em que o
sintoma é interpretável, ele é inerte, repetitivo e intocável pelo interpretação.
Essa resistência é da própria estrutura do sintoma, justamente devido aos
ganhos primários e secundários ligados a ele, ou, ainda, por causa da
satisfação pulsional conquistada através do sintoma.
● Há uma importante relação entre sintoma, sofrimento e satisfação, por isso
Freud escreve sobre o ganho secundário. Chama-se secundário pois vinha
depois do primário, não sei se sabiam disso. Os Sintomas possuem ganhos
primários e secundários. O ganho ou benefício primário é a fuga para a
doença que leva a uma aparente resolução do conflito psíquico, a própria
doença parece solucionar o conflito pulsional entre a busca de satisfação e a
censura. O Eu, não sabendo solucionar o conflito, adoece. O ganho
secundário são os benefícios do próprio adoecimento, depois que já se
adoeceu e que, apesar do enorme sofrimento do adoecimento, é possível
encontrar um retorno de alguma satisfação.
● O que é sintoma? O sintoma é como uma metáfora do que foi recalcado, a
construção metafórica de um resto do recalcado que tenta se fazer expressar.
● O conteúdo recalcado, para se manter recalcado, precisa encontrar uma
forma de descarga, de vazão, e esta acontece através do sintoma.
● Na vida do sujeito, o “sintoma gradualmente se torna o representante de
importantes interesses, adquire valor para a afirmação de si, entrelaça-se
cada vez mais intimamente com o Eu, torna-se imprescindível…” (Freud,
1926)
● Há, no sintoma, sofrimento mas, também, satisfação.
● Uma vez que “o sintoma já está presente e não pode ser eliminado; é
necessário haver-se com esta situação e dela tirar a melhor vantagem
possível”. (Freud, 1926)
● O sintoma é uma das produções do inconsciente, logo, o sintoma é
interpretável, decifrável. Ao mesmo tempo em que o sintoma é extremamente
resistente à interpretação.
● O sintoma é uma saída do Eu diante do recalque e, por isso, não é possível
fazer com que o sintoma desapareça. Ele é uma solução para o conflito
psíquico entre o desejo e a censura.
● Embora muito do sintoma desapareça com a análise, há sempre algo do
sintoma que não cessa e, o que não cessa, só resta ao sujeito saber servir-se
do sintoma.
● “O sintoma gradualmente se torna o representante de importantes interesses,
adquire valor para a afirmação de si, entrelaça-se cada vez mais intimamente
com o Eu, torna-se imprescindível para ele.” (Freud, 1926)
● A análise consiste em que o sujeito possa “dar um pouco o seu sintoma. É
por essa razão que uma análise, como dizia Freud, começa por uma
configuração dos sintomas. Esforça mo-nos por apanhá-lo em sua própria
armadilha” (Lacan, sem 10)
● “O sintoma só se constitui quando o sujeito se apercebe dele, (...) sem o que
não haverá meio de sair dele, porque não haverá meio de falar dele, porque
não há como agarrar o sintoma pelas orelhas. O que é a orelha em questão?
É o que podemos chamar de o não-assimilado do sintoma, não assimilado
pelo sujeito” (Lacan, sem 10).
● Dentre todas as formações do inconsciente a mais persistente e duradoura é
o sintoma. O ato falho dura um segundo, o sonho dura uma noite, o chiste
alguns minutos e o Sintoma, quanto dura? O sintoma dura uma vida inteira! É
necessário saber algo sobre ele, para dele se falar e dele poder tirar alguma
satisfação possível, não só prejuízos.
Algumas ressalvas:
Primeiro ponto:
● Sintoma no senso comum não é o mesmo que sintoma para a psicanálise. o
que no senso comum se chama de sintoma são, regularmente manifestações
psicossomáticas (corpo) ou de pensamento (obsessivo). Para a psicanálise
essas manifestações advém do sintoma, são a ponta do iceberg do sintoma e
só temos notícia do sintoma por causa dessa ponta do iceberg que fica de
fora e pode ser vista. O sintoma é o iceberg inteiro, a pequena parte fora da
água e a enorme parte dentro da água, capaz de afundar um titanic.
Segundo ponto: então o que é o sintoma para a psicanálise
● Para a psicanálise o sintoma é um retorno do recalcado. Se o recalque é o
resultado do conflito entre o desejo e a censura em que, não sendo possível
nem abrir mão do desejo, nem romper com toda censura, o Eu, para
preservar algo do desejo e se preservar diante da censura, lança tal conteúdo
para inconsciente. Uma vez inconsciente esse conteúdo se esforça por
retornar nas formações do inconsciente: sintomas, sonhos, chistes, atos
falhos, lapsos, esquecimentos.
● O sintoma é a mais persistente e duradoura de todas as formações do
inconsciente. O ato falho dura um segundo, o sonho dura uma noite, o chiste
alguns minutos e o Sintoma, quanto dura? O sintoma dura uma vida inteira!
Terceiro ponto:
● Porque é que colocamos o sintoma entre estas formações do inconsciente,
senão porque o sintoma pode ser interpretado interpretamo-lo. Mas é
importante lembrar que o sintoma não é um enigma pronto para ser
plenamente interpretado. Há algo no sintoma que ultrapassa a significação,
algo inerte, fixo e resistente à interpretação.
Quarto ponto:
● se “o sintoma já está presente e não pode ser eliminado; é necessário
haver-se com esta situação e dela tirar a melhor vantagem possível”. (Freud,
1926). É necessário saber algo sobre ele, para dele se falar e dele poder tirar
alguma satisfação possível, não só prejuízos. Nomeamos essa vantagem de
ganho secundário
Quinto ponto: o que pode a análise diante do sintoma
● Como sabemos, a partir de Freud: “O sintoma gradualmente se torna o
representante de importantes interesses, adquire valor para a afirmação de
si, entrelaça-se cada vez mais intimamente com o Eu, torna-se imprescindível
para ele.” (Freud, 1926)
● Assim, Embora muito do sintoma desapareça com a análise, há sempre algo
do sintoma que não cessa e, o que não cessa, só resta ao sujeito saber
servir-se do sintoma.
● A análise consiste em que o sujeito possa “dar um pouco do seu sintoma”
● “O sintoma só se constitui quando o sujeito se apercebe dele, (...) sem o que
não haverá meio de sair dele, porque não haverá meio de falar dele, porque
não há como agarrar o sintoma pelas orelhas. (Lacan, sem 10).
Angústia
● A angústia possui, segundo Freud, três aspectos fundamentais: a) marcado
por enorme desprazer; b) manifestado por atos de descarga; c) a constatação
pelo sujeito tanto da experiência de desprazer quanto desses atos de
descarga.
● O afeto experimentado pela angústia é anterior ao recalque, o que significa
que a angústia não encontra significantes na linguagem para organizar, dar
unidade ou limite. Os significantes oferecidos ao sujeito após o recalque
poderão construir amarrações para a angústia, o tratamento analítico conta
com isso.
● Para explicar a angústia, seguindo a proposta de Freud e Lacan, vamos
retornar para a infância. A experiência de angústia é uma experiência afetiva
que repete, diante do perigo, o estado primordial de desamparo.
● Lacan aponta que a angústia é a falta da falta ou, ainda, o excesso de
presença, quando esta se impõe de forma tão maciça que não resta espaço
para o sujeito advir. O sujeito, como sabemos, é efeito de linguagem e
marcado pelo desejo. O desejo, para haver, precisa da falta. Ali onde há a
falta da falta, como fica o desejo?
● “O que provoca a angústia é tudoaquilo que nos anuncia, que nos permite
entrever que voltaremos ao colo. Não é, ao contrário do que se diz, o ritmo
nem a alternância da presença-ausência da mãe. A prova disso é que a
criança se compraz em renovar esse jogo de presença-ausência. A
possibilidade da ausência, eis a segurança da presença. O que há de mais
angustiante para a criança é, justamente, quando a relação com base na qual
essa possibilidade se institui, pela falta que a transforma em desejo, é
perturbada, e ela fica perturbada ao máximo quando não há possibilidade de
falta, quando a mãe está o tempo todo nas costas dela, especialmente a lhe
limpar a bunda, modelo da demanda, da demanda que não pode falhar.”
(Lacan, sem. 10).
● O modelo de mãe em que se exige atender, sem falhas, todas as demandas,
é um modelo para a angústia, tanto do bebê quanto, potencialmente, da mãe.
A mãe perfeita não falta, sem falta não há a possibilidade de sujeito. A falta
possibilita o jogo entre presença e ausência necessário para a linguagem,
para o desejo, para o sujeito e para se proteger da angústia.
● A angústia é uma experiência afetiva semelhante ao estado de desamparo.
Se o desamparo é nossa primeira e mais antiga cicatriz, anterior ao recalque,
é dessa experiência que advirá a base para a angústia.
● “A angústia é, em primeiro lugar, algo que se sente. Nós a denominamos um
estado afetivo. (...) Como sensação, ela tem caráter obviamente
desprazeroso” (Freud, 1926)
● “Que é a angústia? Afastamos a ideia de que seja uma emoção. Para
introduzi-la, direi que ela é um afeto.(…) o que eu disse sobre o afeto foi que
ele não é recalcado. (...) O que é recalcado são os significantes que o
amarram. (Lacan, sem. 10)
● “A postura angustiada do Eu é sempre o elemento primário e instigador do
recalque. A angústia não provém jamais da libido recalcada.” (Freud, 1926)
● Para se proteger da angústia, o Eu aprendeu que poderia manter a angústia
suspensa por algum tempo fazendo uma amarração desta com a formação
de sintomas.
● “A angústia é a reação à situação de perigo; dela é poupado o Eu ao fazer
algo para evitar a situação ou subtrair- se a ela. (...) Os sintomas são criados
para evitar a situação de perigo que é sinalizada pelo desenvolvimento da
angústia.” (Freud, 1926)
● “A angústia tem uma inconfundível relação com a expectativa: é angústia
diante de algo”. Mas o que é esse algo? “A angústia é a angústia ante um
perigo que não conhecemos”. (Freud, 1926)
● “A angústia é um fenômeno de borda, um sinal que se produz no limite do Eu,
quando este é ameaçado por alguma coisa que não deve aparecer.” (Lacan,
sem. 10)
● “A angústia deve ser definida como o que não engana, precisamente na
medida em que todo e qualquer objeto lhe escapa. A certeza da angústia é
fundamentada, não ambígua.” (Lacan, sem. 10)
● “Tomando a sequência “angústia-perigo-desamparo (trauma)”, podemos
agora fazer o seguinte resumo. A situação de perigo é a reconhecida,
recordada, esperada situação de desamparo. A angústia é a original reação
ao desamparo no trauma, que depois é reproduzida na situação de perigo
como sinal para ajuda.” (Freud, 1926)
Acting out e Passagem ao ato
● A diferença entre a passagem ao ato e acting out é a diferença entre
“deixar-se cair e subir no palco” (Lacan, sem. 10)
● Há “acting out quando há uma cena que é a fala, e o sujeito se põe a agir
diante do Outro nessa cena. É preciso o Outro, é preciso o espectador.”
(Miller, 2014)
● “Na passagem ao ato não há mais espectador. Há o desaparecimento dessa
cena e digamos que o sujeito está eventualmente morto. É ele, morto, quem
olha os outros e lhes dirige sua questão, e lhes faz sentir o porquê de seu
olhar.” (Miller, 2014)
● “O sujeito se encaminha para se evadir da cena. É isso que nos per mite (...)
distingui-la de algo que é totalmente diferente, a saber, o acting out” (Lacan,
sem. 10)
● O acting out sempre aponta para um impasse, se manifesta no sintoma
fundamental da dúvida que nos permite intervir através da interpretação e
corte.
● A passagem ao ato não nos permite interpretação pois é uma tentativa
desesperada de sair do impasse pela via da ação, não do pensamento.
● O acting out está direcionado ao Outro, movido pela perqunta: O que o Outro
quer de mim? Localizado no simbólico, como sintoma, ele é interpretável e,
ao interpretá-lo, desvelamos a estrutura da fantasia.
● A passagem ao ato aponta para a morte pois o sujeito extrai da angústia uma
certeza, um ato, uma decisão, rompendo com a possibilidade de elaboração.
● Na passagem ao ato “se abandonam os equívocos do pensamento, da fala e
da linguagem pelo ato. No ato (...) o sujeito se subtrai, digamos, aos
equívocos da fala como a toda dialética (...) por isso o propósito do ato não é
cifrável” (Miller, 2014)
● A passagem ao ato “é sempre “auto”. Um ato de autopunição” (Miller, 2014)
● Neste carrossel de hoje vamos falar de mais dois conceitos que compõem o
esquema da angústia no seminário 10 de Lacan, os conceitos de Acting out e
Passagem ao Ato.
● Para a compreensão desses dois conceitos retomem os conceitos anteriores
de sintoma e angústia e a compreensão de que podemos pensar nossa
relação com o mundo a partir de dois lugares em que nos encontramos no
mundo e que nos trazem duas diferentes experiências: “de um lado, o
mundo, o lugar onde o real se comprime, e, do outro lado, a cena do Outro,
onde o homem como sujeito tem de se constituir, tem de assumir um lugar
como portador da fala, mas só pode portá-la numa estrutura que, por mais
verídica que se afirme, é uma estrutura de ficção” (Lacan, sem. 10).
● Esse lugar onde o real se comprime é, justamente, o lugar no mundo que nos
gera um embaraço insuportável que conduz o sujeito para a passagem ao ato
e para a angústia: “O momento da passagem ao ato é o do embara ço maior
do sujeito, com o acréscimo comportamental da emoção como distúrbio do
movimento. É então que, do lugar em que se en contra (...) ele se precipita e
despenca fora da cena” (Lacan, sem. 10). É, justamente, neste despencar da
cena que consiste o morrer.
● Acting out é o oposto da passagem ao ato. O acting out pode ser visto em
todas as condutas do sujeito em que ele busca segurar pela mão, para não
deixar cair, os principais acontecimentos da sua vida. No acting out o sujeito
se esforça para não sai da cena. “O acting out é, em essência, a mostração,
a mostragem” (Lacan, sem. 10) do desejo que, para se afirmar como
verdade, busca se manifestar de uma maneira singular a cada sujeito.
Emoção, efusão, impedimento e embaraço
● “A emoção refere-se ao movimento que se desa grega, a reação a que
chamamos catastrófica.”
● “A efusão nada tem a ver com a emoção. (...)“A efusão é a perturbação, o
perturbar-se como tal, o perturbar-se mais profundo na dimensão do
movimento.”
● O impedimento está ligado a “este círculo que faz com que, no mesmo
movimento com que o sujeito avança para o gozo, (...) ele depare com essa
fratura íntima, muito próxima, por ter-se deixado apanhar, no caminho, em
sua própria ima gem, a imagem especular. É essa a armadilha.”
● “O embaraço é o máximo da dificuldade atingida”.
● “No lugar da emoção está o não saber. (...) A emoção em pau ta aparece no
confronto com a tarefa, quando o sujeito não sabe onde responder. É a isso
que se liga o nosso não saber.”
● “No lugar do impedimento encontra-se não poder. Com efeito, o impedimento
- é se (...) apanhar na armadilha. (...) Trata-se de que o sujeito fica realmente
impedido de se ater a seu desejo”.
● Na pri meira fileira horizontal está o desejo de não ver, “que começa com a
inibição e continua com o impedimento, leva à forma leve de angústia a que
se chama embaraço.”
● Na segunda linha está “O desconhecimento, como estrutural no nível do não
saber”. Na linha da emoção, sintoma e passagem ao ato.
● Na terceira fila, composta por efusão, acting out e angústia, percebemos que,
como efusão, está “o ideal do eu, ou seja, aquilo que é mais cômodo
introjetar do Outro”
● Falaremos sobre Emoção, efusão, impedimento e embaraço para
concluirmostodos os conceitos e termos que compõem o esquema da
angústia. ( esquema completo na última imagem desse carrossel)
● Estudamos os conceitos de: Inibição, Sintoma, Angústia, Passagem ao Ato,
Acting out e, agora, os termos que completam o esquema: Emoção, Efusão,
Impedimento e Embaraço.
● Percebam que o esquema possui duas direções, horizontal e vertical que nos
mostram as diferentes gradações de respostas até chegar na angústia.
● O esquema inicia na inibição, como uma resposta que o sujeito pode oferecer
com menor movimento e menor dificuldade. Do outro lado do esquema, ao
final, no nível máximo da dificuldade e do movimento, encontramos a
angústia.
● No esquema completo (último item do carrossel) e busquem localizar as
seguintes constatações:
● No eixo vertical, do aumento do movimento, constatamos que:
● A emoção faz barra à emergência da efusão em relação à inibição;
● O sintoma faz barra à emergência do acting-out em relação ao impedimento;
● A passagem ao ato faz barra à emergência da angústia em relação ao
embaraço.
● No eixo horizontal, em relação ao aumento das dificuldades:
● O impedimento faz barra à emergência do embaraço em relação à inibição;
● O sintoma faz barra à emergência da passagem ao ato em relação à
emoção;
● O acting-out faz barra em relação à emergência da angústia em relação à
efusão.

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