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Resumo da Lei das Organizações Criminosas - DIRIGIDO MP

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LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS (Leis 12.694-12 e 12.850-13)
PARTE DE DIREITO PENAL (Rogério Sanches). Introdução. No ano de 1995, o Brasil editou a Lei 9.034-95, que regulou a utilização de técnicas especiais de investigação das ações praticadas por organizações criminosas. Apesar de louvável, a iniciativa veio acompanhada de falhas, chamando a atenção a ausência de definição do próprio conceito de organização criminosa.
A omissão legislativa incentivou parcela da doutrina a fazer uso da definição dada pela Convenção de Palermo. Isso foi aceito pelo STJ. Porém, o STF. no HC 96.007, entendeu que esse conceito não poderia ser utilizado, pois: 1) a definição dada pela convenção era ampla e genérica, violando a taxatividade (desdobramento da legalidade); 2) a definição dada pela convenção não poderia ser usada para criar crimes e cominar sanções (direito penal incriminador); os tratados só podem ser usados para o direito penal não incriminador.	Comment by Agis Macedo: Não há crime sem lei certa (principio da taxatividade ou da determinação): as leis, particularmente as penais, devem ser escritas de forma simples, inteligível, de tal maneira que todos os cidadãos possam compreendê-las. Lei clara, portanto, é a lei inteligível, compreensível. Hanz Welzel, a propósito, observa que o verdadeiro perigo que ameaça o princípio nulla poena sine lege não decorre da analogia, senão de lei penais indeterminadas. Ex.: a doutrina sustenta que o artigo 20, da Lei 7.170/83 , viola a certeza que deve ser exigida da lei penal, pois ela não define o que se considera ato de terrorismo.
Em função disso, foi editada a Lei 12.694-12, definiu organização criminosa e criou a possibilidade do julgamento por órgão colegiado de 1a instância das causas envolvendo organizações criminosas (não se trata da figura do “juiz sem rosto”, pois todos juízes são identificados).	Comment by Agis Macedo: Como a associação de 3 ou mais pessoas, com estrutura ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes (não abrange contravenções penais) cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 anos ou que tenham de caráter transnacional.
Porém, logo depois, surgiu a Lei 12.850-13, que trouxe novo conceito de organização criminosa, definiu as técnicas especiais de investigação (agente infiltrado etc.) e criou novos delitos. 
Vejamos um resumo cronológico:
	Lei 9.034-95
	Lei 12.694-12
	Lei 12.850-13
	Definiu técnicas especiais de investigação, a exemplo da infiltração de agentes.
	-x-
	Definiu técnicas especiais de investigação (agente infiltrado etc). Com isso, houve a revogação da única parte ainda vigente da Lei 9.034-95.
	-x-
	Definiu organização criminosa. 
	Trouxe novo conceito de organização criminosa, revogando a definição trazida pela Lei 12.694-12.
	-x-
	Definiu a possibilidade de julgamento por órgão colegiado de 1o grau.
	-x-
	-x-
	-x-
	Criou novos delitos.
Na atualidade, devemos trabalhar no combate à organização criminosa com duas leis básicas: Lei 12.694-12 (no que tange ao julgamento por órgão colegiado de 1o grau) e Lei 12.850-13 (no que tange às técnicas especiais de investigação, ao conceito de organização criminosa e aos novos delitos). Assim, hoje, a Lei 9.034-95 encontra-se totalmente revogada.
Hoje, organização criminosa é a associação de 4 ou mais pessoas com estrutura ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais (crimes e contravenções) cujas penas sejam superiores a 4 anos, ou que tenham de caráter transnacional.
	4 ou mais pessoas
	Estrutura ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas
	Objetivo de obter vantagem de qualquer natureza
	Prática de infrações penais com pena superior 4 anos ou de caráter transnacional
É possível trabalhar com a Lei 12.850-13 (e seus instrumentos de investigação), mesmo que ausente a organização criminosa? Sim, em caráter excepcional, o §2o, do artigo 1o, da Lei 12.850-13, autoriza a utilização dos instrumentos da Lei 12.850-13 em duas situações: 1) Infração penal transnacional: infração penal esteja prevista em tratado internacional + desde que, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou ainda, iniciada a execução do estrangeiro, o resultado tenha ou devesse ocorrer no Brasil. Ex.: tráfico internacional de pessoas para fins sexuais (artigo 231, do CP) e tráfico internacional de armas, por exemplo, são infrações previstas em tratado internacional do qual o Brasil faz parte; 2) organização terrorista: quando se tratar de organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as normas de direito internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, + cujos atos de suporte ao terrorismo, bem como os atos preparatórios ou de execução de atos ao terrorismo, ocorram ou possam ocorrer em território nacional.	Comment by Agis Macedo: § 2o  Esta Lei se aplica também:I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;II - às organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as normas de direito internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo, bem como os atos preparatórios ou de execução de atos terroristas, ocorram ou possam ocorrer em território nacional.	Comment by Agis Macedo: Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)Art. 231.  Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)§ 1o  Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)§ 2o  A pena é aumentada da metade se: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)§ 3o  Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
	Infração penal prevista em tratado internacional
	Organização terrorista
Novo crime de organização criminosa. Até o advento da Lei 12.850-13, organização criminosa não era crime, mas apenas forma de se praticar crime, que poderia implicar em consequências penais (causa de aumento de pena na Lei 9.613-98 [lei de lavagem de capitais]; perda do benefício da diminuição de pena do artigo 33, §4o, da Lei de Drogas) e processuais penais (ex.: aplicação do RDD). Hoje, porém, a organização criminosa configura crime autônomo punido com pena de reclusão de 3 a 8 anos. Temos, desta forma, uma novatio legis incriminadora, irretroativa, que não alcança os fatos esgotados antes de sua vigência). Vejamos:	Comment by Agis Macedo: § 4o  Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agenteseja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.     (Vide Resolução nº 5, de 2012)	Comment by Agis Macedo: Art. 52. (…)§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.
“Art. 2o  Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas”.
	Antes da Lei 12.850-13
	Depois da Lei 12.850-13
	Organização criminosa não era crime e não tinha pena, mas apenas uma forma especial de praticar um crime e que poderia implicar em consequências de natureza penal. Ex.: aplicação de RDD ao membro dessa organização.
	Hoje, organização criminosa é crime autônomo com pena privativa de liberdade, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas.
Bem jurídico. O bem jurídico tutelado pelo crime de organização criminosa é a paz pública (como em todo tipo de associação criminosa). Trata-se de crime de perigo abstrato ou presumido.
Sujeitos do crime. No que diz respeito ao sujeito ativo do crime, deflui do artigo 2o, da Lei 12.850-13, que o crime pode ser praticado por qualquer pessoa (=crime comum). Além disso, é crime plurissubjetivo (pois exige número plural de agentes) e de condutas paralelas (pois exige uma conduta auxiliando as outras). No número mínimo de agentes se computam inimputáveis e pessoas não identificadas, exceto o agente infiltrado (pois ele não tem o animus associativo).
O sujeito passivo do crime é a sociedade (sujeito passivo direto ou imediato) e o Estado (sujeito passivo indireto ou mediato).
Condutas. Promover (trabalhar a favor), constituir (formar, criar), financiar (custear despesa) ou integrar (fazer parte), pessoalmente (de forma direta) ou por interposta pessoa (de forma indireta), de organização criminosa. 
Partindo da definição do artigo 1o, §1o, da Lei 12.850-13, exige-se para a configuração da organização criminosa: 1) pluralidade de agentes (4 ou mais de quatro pessoas); 2) reunião estável e permanente; 3) estrutura ordenada e divisão de tarefas (ainda que a divisão de tarefas ocorra informalmente); 4) objetivo de obter vantagem de qualquer natureza (porém, a vantagem deve ser ilícita); 5) mediante a prática de infrações penais (crime ou contravenção); 5) que as infrações tenham pena superior a 4 anos ou caráter transnacional. Se faltar algum desses requisitos, não haverá organização criminosa, podendo a situação configurar o crime de associação criminosa (artigo 288, do CP) ou mero concurso de agentes.
É imprescindível, em qualquer caso, que a reunião em organização criminosa seja efetivada antes da deliberação sobre os delitos. 
	Organização criminosa
	Agentes se reúnem em organização criminosa
	Depois, eles deliberam sobre os delitos e os executam
Obs. 1: Embora a Lei alcance as contravenções penais, a princípio não será possível a punição de uma organização criminosa voltada à prática delas, pois não há contravenção com pena máxima superior a 4 anos. Porém, se tiver caráter transnacional, será possível sua punição.
Distinções importantes:
	Concurso de agentes (artigo 29, do CP)	Comment by Agis Macedo: Distinções importantes:Concurso de agentes (artigo 29, do CP)Pluralidade de agentes culpáveisRelevância causal das condutasLiame subjetivo Unidade Associação criminosa (artigo 288, do CP)
	Pluralidade de agentes 
Reunião de caráter eventual 
Liame subjetivo 
	Associação criminosa (artigo 288, do CP)	Comment by Agis Macedo: Art. 288.  Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:     (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013)     (Vigência)        Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.     (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013)     (Vigência)        Parágrafo único.  A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.  
	3 ou mais agentes
Reunião estável ou permanente
Liame subjetivo
Objetivo específico de cometer crimes
	Organização criminosa
(Lei 12.850-13)
	4 ou mais agentes
Reunião estável ou permanente
Liame subjetivo
Estrutura ordenada e divisão de tarefas
Objetivo de obter vantagem de qualquer natureza
Mediante a prática de infrações penais com pena superior a 4 anos ou de caráter transnacional
Elementos subjetivo. O crime é punido a título de dolo (animus associativo). Exige-se, porém, um fim especial: objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza.
Consumação. Consuma-se o delito com a formação da societas criminis. É infração permanente, de modo que sua consumação se protrai no tempo enquanto não cessada a sua permanência. Isso implica em três consequência relevantes: 1) o agente pode ser preso em flagrante enquanto não desfeita ou abandonada a associação (artigo 303, do CPP); 2) o termo inicial da prescrição se dá com o fim da permanência (artigo 111, III, do CP); 3) enquanto não cessada a permanência, aplica-se a lei nova, ainda que mais grave (Súmula 711, do STF).	Comment by Agis Macedo: Art. 303.  Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência.
IMPORTANTE: Trata-se de delito autônomo, de modo que a punição da organização independe da prática de qualquer crime pela organização, o qual, ocorrendo, gera o concurso material (artigo 69, do CP; ex.: crime de organização criminosa e roubo a banco), cumulando as penas. O que já era tranquilo na doutrina e na jurisprudência, agora está expresso na Lei 12.850-13:
É possível tentativa de crime de organização criminosa? De acordo com a maioria, não é possível a tentativa. E os atos praticados com a finalidade de formar a organização? Marcação da data para a reunião dos prováveis membros etc. configuram atos preparatórios impuníveis.
§ 1o  Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a INVESTIGAÇÃO de infração penal que envolva organização criminosa. 
O §1o, da Lei 12.850-13, prevê como crime a conduta do agente que IMPEDE ou EMBARAÇA a INVESTIGAÇÃO da infração penal que envolva organização criminosa. O referido dispositivo tutela a administração da justiça (bem jurídico). Pode ser sujeito ativo qualquer pessoa (crime comum). Porém, exige-se pessoa estranha à organização, pois, caso contrário, o agente teria que produzir prova contra si mesmo. O sujeito passivo é o Estado-administração. São condutas típicas (tipo objetivo): 1) impedir a investigação da infração penal; ou 2) embaraçar, de qualquer forma, a investigação da infração penal que envolva a organização criminosa. O crime é de execução livre, podendo ser praticado com violência, grave ameaça, fraude etc. POLÊMICA: o legislador omitiu a obstrução ou o embaralho do processo judicial. Pode o legislador suprir essa omissão ou o fato é atípico? Existem duas correntes: 1) a omissão não pode ser suprida pelo intérprete, pois seria analogia incriminadora, violando o princípio da legalidade (Bittencourt); por isso, se houver impedimento ou embaraço do processo judicial, o agente responderá por coação no curso do processo, cuja pena é de reclusão de 1 a 4 anos (artigo 344, do CP); 2) a omissão pode ser suprida por meio de interpretação extensiva ou teleológica, para evitar o absurdo de admitir o crime na fase do inquérito policial e não admiti-lo na fase da ação penal (Sanches, LFG e NUCCI); isso impede a proteção insuficiente do direito penal; logo, o agente responderá pelo crime em estudo; vale dizer que a interpretação extensiva já é usada em desfavor do réu diversas oportunidades: a) conceito de arma no crime de roubo; b) para alcançar o cárcere privado no crime de extorsão mediante sequestro etc. No que pertine ao tipo subjetivodo crime, entende-se que ele somente é punido a título de dolo. No que diz respeito à consumação, pode-se afirmar que no verbo impedir ela ocorre com o impedimento da investigação ou do curso do processo, sendo possível a tentativa; no verbo embaraçar, a consumação ocorre com qualquer conduta indicativa de empecilho, também admitindo tentativa.	Comment by Agis Macedo: Coação no curso do processo        Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral:        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência.	Comment by Agis Macedo: É possível a interpretação extensiva contra o réu? Há três correntes: 1a posição) a interpretação extensiva é possível, independente se prejudicial ou benéfica o réu, pois a tarefa do intérprete não é prejudicar ou beneficiar o réu, mas evitar injustiça; a CF-88, além disso, NÃO proíbe interpretação extensiva contra o réu (NUCCI e Luiz Régis Prado; é a posição a ser adotada em concurso do MP); ex.: no crime de roubo, o que significa arma? Abrange apenas instrumento bélico (interpretação restritiva) ou alcança também o instrumento sem finalidade bélica (interpretação extensiva); na interpretação restritiva, faca de cozinha não majora o crime de roubo; porém, na interpretação extensiva, faca de cozinha é capaz de ser considerada arma; os tribunais pátrios consideram arma qualquer instrumento apto ao ataque ou defesa; outro exemplo é o artigo 159, do CP, que prevê a extorsão mediante sequestro, que também abrange a extorsão mediante cárcere privado; 2a posição) não se admite em nenhum caso a intepretação extensiva contra o réu, em virtude da função garantista do direito penal (princípio da legalidade); só se admite a interpretação extensiva benéfica ao réu; essa proibição tem por base o artigo 22, do Estatuto de Roma; é a posição do STF: o princípio da legalidade estrita, de observância obrigatória em matéria penal, impede a interpretação extensiva ou analógica das normas penais; 3a posição) não cabe interpretação extensiva contra o réu, em face do princípio da legalidade, salvo em casos excepcionais, a exemplo de quando interpretação diversa resultar num escândalo por sua notória irracionalidade (Zaffaroni).
	CRIME:
IMPEDIR ou EMBARAÇAR a investigação (e o processo) que envolve organização criminosa
	PENA: 3 a 8 anos
Causa de aumento do crime de organização criminosa em função do emprego de arma de fogo (artigo 2o, §2o: as penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização criminosa houver emprego de arma de fogo). Não abrange instrumento diverso de arma de fogo. A causa de aumento incide mesmo que o armamento não seja apreendido e periciado, conforme entendimento da jurisprudência majoritária, admitindo prova por qualquer outro meio (posição do STJ). São consideradas pelo magistrado na 3a fase do cálculo da pena (artigo 68, do CP).	Comment by Agis Macedo: § 2o  As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização criminosa houver emprego de arma de fogo.
	Causa de aumento de pena da organização criminosa com o emprego de arma de fogo
	Aumento de pena até a metade
Agravante do crime de organização criminosa para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução (artigo 2o, §3o: trata-se de agravante semelhante a do artigo 62, I, do CP, a ser considerada pelo magistrado na 2a fase do cálculo da pena (=autor que domina o fato).	Comment by Agis Macedo: § 3o  A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução.	Comment by Agis Macedo: Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
	Agravante do crime de organização criminosa para quem exerce comando, individual ou coletivo, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução
	A lei não estabelece parâmetro, tendo em vista tratar-se de agravante. Deve ser levada em consideração na 2a etapa da dosimetria da pena
Outras causas de aumento (artigo 2o, §4o). As disposições do referido dispositivo são autoexplicativas: 1) se há participação de criança ou adolescente; 2) se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição para a prática de infração penal; 3) se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior; 4) se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas independentes; 5) se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização. Deve-se destacar apenas que o inciso V prevê causa de aumento (transnacionalidade) que já figura como elementar do crime de organização criminosa (caráter transnacional), o que configura bis in idem. Logo, o aumento em questão ficará sem aplicação.	Comment by Agis Macedo: § 4o  A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):I - se há participação de criança ou adolescente;II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição para a prática de infração penal;III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior;IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas independentes;V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização.
Medida cautelar (artigo 2o, §5o). O dispositivo em questão repete medida cautelar que já tinha previsão no artigo 319, VI, do CPP (medida cautelar diversa da prisão de afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à investigação ou instrução processual, do funcionário público que integrar organização criminosa). O dispositivo, vale destacar, não menciona o afastamento cautelar de mandato eletivo.	Comment by Agis Macedo: § 5o  Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra organização criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à investigação ou instrução processual
Efeito extrapenal da sentença condenatória definitiva por crime de organização criminosa. Prevê o artigo 2o, §6o que: “A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da pena”. Diferentemente o artigo 92, parágrafo único, do CP, que exige decisão motivada do juiz para declarar a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo, a Lei 12.850-13 prevê a perda como efeito automático, dispensando decisão motivada (vale lembrar que a Lei de Tortura também prevê o efeito automático). No que tange à perda do mandato eletivo, o STF definiu isso é matéria interna corporis do Legislativo.
Comunicação ao MP (artigo 2o, §7o). Se houver indícios de participação de policial nos crimes previstos na Lei de organização criminosa, a Corregedoria de Polícia instaurará IP e comunicará ao MP, que designará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão (artigo 2o, §7o). A finalidade do dispositivo é garantir a eficiência da investigação policial, impedindo o corporativismo institucional. Essa comunicação é um desdobramento lógico do controle externo da polícia exercido pelo MP (garantia fundamental do cidadão, prevista no artigo 129, VII, da CF). A atuação da corregedoria da polícia acompanhada pelo MP, porém, não impede o promotor ou procurador de conduzir investigação de forma autônoma. Por fim, vale dizerque o membro do parquet que atuar na investigação não está impedido de atuar na ação penal.	Comment by Agis Macedo: § 7o  Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Público, que designará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão.
Outros crimes definidos na Lei 12.850-13. O legislador criou crimes que buscam inibir comportamentos que prejudiquem a investigação e obtenção de prova. Vejamos: 
artigo 18, da Lei 12.850-13: o artigo 5o, II, da Lei 12.850-13 assegura ao agente colaborador sigilo de sua identidade. O artigo 5o, V, também assegura ao agente colaborador o direito de não ter sua identidade revelada por qualquer meio, nem ser filmado ou fotografado sem sua prévia autorização por escrito. A finalidade de tais segredos é não apenas preservar o meio de obtenção de prova, mas também a segurança do agente colaborador. Desta forma, os bens jurídicos tutelados pela norma penal são a administração da justiça e a integridade do agente colaborador. O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa (crime comum). O sujeito passivo é o Estado e o agente colaborador. O crime é de conduta alternativa (tipo objetivo): 1) revelar; 2) fotografar e 3) filmar. É imprescindível, em qualquer caso, que o agente aja sem prévia autorização por escrito do agente colaborador. O crime só é punido a título de dolo (tipo subjetivo). E se houver dúvida se a pessoa é um agente colaborador ou não? A dúvida pode caracterizar dolo eventual. O crime se consuma com a prática de qualquer um dos núcleos, sendo perfeitamente possível a tentativa;	Comment by Agis Macedo: Art. 18.  Revelar a identidade, fotografar ou filmar o colaborador, sem sua prévia autorização por escrito:Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.	Comment by Agis Macedo: Art. 5o  São direitos do colaborador:II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados;V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito;
artigo 19, da Lei 12.850-13: trata-se do crime de falsa colaboração. Os bens jurídicos tutelados são a administração da justiça e a honra da pessoa inocente. O sujeito ativo do crime é o agente colaborador, que tem o compromisso de dizer a verdade (artigo 4o, §14o). Os sujeitos passivos são o Estado e, quanto à parte do tipo penal que trata da atribuição inverídica de crime a outrem, a pessoa alvo da injusta imputação. O tipo objetivo incrimina dois comportamentos alternativos: 1) colaboração caluniosa (consiste em imputar falsamente, sob o pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser inocente. Haverá o crime quando o agente colaborador imputar a alguém [pessoa determinada] fato imputado jamais ocorreu [falsidade que recai sobre o fato] ou quando, real o acontecimento, não foi a pessoa apontada o seu autor [falsidade que recai sobre a autoria do fato]. O crime é punido a título de dolo [tipo subjetivo]. É indispensável, assim, que o sujeito ativo saiba que a imputação é falsa. A dúvida implica em fato atípico. Diferentemente da denunciação caluniosa [artigo 339, do CP], o crime em estudo dispensa que da falsa imputação ocorra a instauração de procedimento em face do inocente. Trata-se de crime que se consuma com a falsa imputação, dispensando efetivo prejuízo para a administração da justiça [=crime formal]. É possível a tentativa); 2) colaboração fraudulenta (consiste em revelar informações sobre a estrutura de organização criminosa que sabe inverídicas. Isso pode confundir as autoridades na difícil investigação para desmantelar o grupo criminoso. Por isso é que a lei orienta, sempre que possível, que sejam registrados os atos da colaboração, para que tenhamos a materialidade do crime em estudo. O crime é punido a título de dolo [tipo subjetivo]. É indispensável que o sujeito ativo tenha consciência de que a imputação é falsa. A dúvida implica em fato atípico. Trata-se de crime que se consuma com a revelação de informações não verdadeiras, dispensando efetivo prejuízo para a administração da justiça. É possível a tentativa);	Comment by Agis Macedo: Art. 19.  Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar informações sobre a estrutura de organização criminosa que sabe inverídicas:Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.	Comment by Agis Macedo: § 14.  Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.
artigo 20, da Lei 12.850-13: Com o objetivo de garantir o êxito das investigações, o artigo 20 incrimina a conduta consistente em descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam ação controlada e infiltração de agentes [tipo objetivo]. Os bens jurídicos tutelados são a administração da justiça e a segurança dos protagonistas das diligências. Figura como sujeito ativo do crime o personagem que atua na investigação de organização criminosa (trata-se de crime próprio). Porém, nada impede que o particular concorra para o crime. É sujeito passivo o Estado-administração. A conduta punida consiste em descumprir determinação legal ou judicial de sigilo das investigações que envolvam a ação controlada e a infiltração de agentes (artigos 8o e 10o). O crime pode ser praticado por ação ou omissão. Existe o crime mesmo que a revelação se dê a outro funcionário sem acesso ao segredo. Aqui protege-se o sigilo das investigações, não abrangendo o processo (sigilo processual configura o artigo 325, do CP). Havendo justa causa para a revelação do sigilo, pode-se excluir a ilicitude do fato. O crime é punido a título de dolo. Consuma-se com a revelação do sigilo. Se praticado por ação, admite tentativa;	Comment by Agis Macedo: Art. 20.  Descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam a ação controlada e a infiltração de agentes:Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.	Comment by Agis Macedo: Violação de sigilo funcionalArt. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)I - permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
artigo 21, da Lei 12.850-13: temos aqui o crime daquele que recusa ou omite dados cadastrais, registros, documentos e informações requisitadas pelo juiz, MP ou Delegado de Polícia, no curso de investigação ou do processo. O bem jurídico é a administração da justiça. O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa a que se dirija a requisição e que tenha o dever de fornecê-la. Agente público não pratica esse crime, mas eventualmente pode incorrer no crime de prevaricação. Sujeito passivo do crime é o Estado-administração. A conduta [tipo objetivo] é a recusa (não aceitar) ou omissão (deixar de fazer). As informações requisitadas devem se restringir, única e exclusivamente, aos dados cadastrais, pois o mero acesso aos dados cadastrais não implica em quebra do sigilo pessoal, quer de ordem fiscal, quer mesmo de comunicação. O crime é punido a título de dolo [tipo subjetivo]. A consumação ocorre com a recusa ou omissão (trata-se de crime omissivo próprio, que não admitetentativa). Por fim, o uso indevido das informações obtidas configura crime, na forma do parágrafo único, do artigo 21: “Na mesma pena incorre quem, de forma indevida, se apossa, propala, divulga ou faz uso dos dados cadastrais de que trata esta Lei”.	Comment by Agis Macedo: Art. 21.  Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos e informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou delegado de polícia, no curso de investigação ou do processo:Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.Parágrafo único.  Na mesma pena incorre quem, de forma indevida, se apossa, propala, divulga ou faz uso dos dados cadastrais de que trata esta Lei.	Comment by Agis Macedo: Prevaricação        Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:        Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
PARTE DE DIREITO PROCESSUAL (Renato Brasileiro). O objeto da Lei é definir organização criminosa, dispor sobre a investigação criminal, os meios de obtenção de prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado (artigo 1o, da Lei 12.850-13).
Meios de obtenção de prova. No que pertine ao tema, a Lei 12.850-13 estabelece que, em qualquer fase da persecução penal (investigação e fase judicial), serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção de prova (técnicas investigativas especiais):
colaboração premiada (IMPORTANTE);
captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;
ação controlada (IMPORTANTE); 
acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais;
interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica;
afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica;
infiltração, por policiais, em atividade de investigação (IMPORTANTE);
cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal.
Embora a Lei 12.850-13 permita a utilização dos referidos meios de obtenção de prova, nem todos eles estão disciplinados em seu texto. Na verdade, a Lei em estudo apenas disciplina os seguintes meios de obtenção de prova: a colaboração premiada, a ação controlada, o acesso a dados cadastrais e registros de ligações telefônicas e a infiltração de agentes. A interceptação telefônica e o afastamento de sigilo financeiro, bancário e fiscal, porém, são regulados por outras leis.
Distinção entre meios de obtenção de prova e meios de prova. Vejamos as principais diferenças entre: 
“prova” no sentido de fonte de prova: é tudo aquilo de onde se pode extrair prova, ou seja, de onde se pode extrair informações sobre o fato delituoso. São fontes de prova: as pessoas, as coisas e os fenômenos exteriores ao processo (ex.: barulho, gravidez, lágrima etc.). Logo, é correto afirmar que a testemunha é uma fonte de prova;
“prova” no sentido de meio de prova: é o instrumento através do qual a fonte de prova é introduzida no processo. É uma atividade endoprocessual, que se desenvolve perante o juiz com a participação das partes, em fiel observância ao contraditório e a ampla defesa. Ex.: perícia, inspeção judicial, depoimento etc. CLÁSSICO CONCURSAL: enquanto a testemunha é fonte de prova, o testemunho é um meio de prova. No Brasil vigora o princípio da liberdade dos meios de prova. Pode-se produzir prova por qualquer meio, previsto (típico) ou não em lei (atípico), desde que os meios sejam lícitos (ainda que não previstos em lei) e moralmente legítimos (=limite da liberdade dos meios de prova). No Brasil, assim, admite-se a prova atípica. Exemplo de prova atípica: reconstituição do ilícito civil, prova emprestada etc. Além disso, pode-se afirmar que não é a prova que é ilícita, mas sim o meio de prova. O meio de prova é ilícito quando viola o direito de alguém (contrario ao direito);	Comment by Agis Macedo: CESPE: Ainda que não previstos em lei, os meios moralmente legítimos de produção de prova serão aceitos para a demonstração da verdade dos fatos. CERTO!
“prova” no sentido de meio de obtenção de prova (=procedimento investigatório): são procedimentos investigatórios, realizados sem o conhecimento prévio do investigado, cujo objetivo é obter fontes de prova. Tem as seguintes características: é uma atividade extraprocessual; são realizados por pessoas diversas do juiz; são medidas sigilosas; contraditório diferido. Ex.: busca domiciliar, interceptação telefônica etc. No contexto dos meios de obtenção de prova, hoje tem-se dado especial atenção às técnicas especiais de investigação (TEI), entendidas como ferramentas sigilosas postas à disposição do Estado para apuração e persecução de crimes graves, que exijam emprego de estratégias investigativas distintas das tradicionais. Elas surgiram após a constatação de que o CPP apenas previa meios de obtenção de prova desatualizados diante da realidade das organizações criminosas. São características dessas novas técnicas: 1) sigilo; 2) dissimulação. Ex.: agente infiltrado, ação controlada etc. São essas técnicas especiais que serão estudadas.
	Fonte de prova
	Local de onde se pode extrair a prova. Ex.: testemunha
	Meio de prova
	Instrumento destinado a levar a prova obtida ao processo. Ex.: prova testemunhal.
	Meio de obtenção de prova
	Técnica investigativa destinada à descoberta das fontes de prova. Ex.: busca e apreensão etc.
COLABORAÇÃO PREMIADA. Tem relação com a ideia da traição. A colaboração premiada teve origem no direito anglo-saxão, em especial nos EUA, onde era denominada crow witness (=testemunha da coroa). A colaboração nada mais é do que uma técnica especial de investigação por meio do qual alguém confessa seu envolvimento na infração penal e fornece informações relevantes para a persecução penal em troca de um prêmio legal. É uma negociação do Estado entre um coautor ou partícipe da infração penal para o esclarecimento dos fatos que envolvem organizações criminosas, que são de difícil apuração.
Há distinção entre colaboração premiada e delação premiada? Muitos doutrinadores ainda usam o termo delação premiada (=chamamento de corréu). Hoje, porém, o correto é usar colaboração premiada, que é um gênero do qual a delação premiada é uma das espécies. A delação pressupõe uma incriminação dos comparsas por um dos coautores ou partícipes. Porém, a colaboração premiada não se resume a isso, pois ela também alcança outras situações: colaboração para a localização da vítima (=é um tipo de colaboração sem delação).
Natureza jurídica da colaboração premiada. Tem natureza jurídica de direito premial.
Ética, moral e motivação do colaborador. Alguns doutrinadores são contrários à colaboração premiada, pois que não seria permitido ao Estado incentivar um comportamento contrário à ética e à moral. Afirma-se, ainda, que a colaboração premiada é uma forma do Estado barganhar com o criminoso, postura que não seria adequada. Porém, predomina que falar em ética e moral dentro de uma organização criminosa é contraditório, pois elas não se pautam nesses valores. Além disso, numa ponderação de interesses, a colaboração é medida indispensável ao combate da criminalidade organizada, sendo, portanto, legítima, já que não viola nenhum direito ou garantia fundamental. Essa é a posição de NUCCI. Por oportuno, vale destacar que a história revela que o instituto da colaboração foi imprescindível para que a Itália conseguisse punir alguns dos integrantes do grupo mafioso siciliano “Cosa Nostra” na chamada operação “Mãos Limpas” (nela, um dos mafiosos, Tommaso Buscetta, após ser preso, celebrou acordo de delação premiada com o promotor Giovanni Falconi, aceitando delatar seus comparsas e revelar toda a estrutura e os planos da organizaçãocriminosa).
No que pertine à motivação do colaborador (arrependimento etc.), prevalece que ela não interessa ao acordo de colaboração, mas apenas a relevância das informações prestadas pelo criminoso, que devem ser objetivamente eficazes para atingir um dos 5 resultados previstos em lei:
a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas (=delação);
a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa (ainda que sem identificar e coautores ou partícipes);
a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;
a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
Colaboração premiada e o direito ao silêncio. O direito ao silêncio tem previsão no artigo 5o, LXIII, da CF: o preso será informado de seus direitos, dentre os quais o de permanecer calado (...). É um reflexo do direito à não autoincriminação. A colaboração premiada é compatível com o direito ao silêncio? Obviamente, a colaboração pressupõe a confissão da prática delituosa + a prestação de informações objetivamente eficazes para atingir um dos resultados previstos em lei. Mesmo diante disso, prevalece que a colaboração é compatível com o direito ao silêncio, pois, no caso, o indivíduo opta pelo seu não exercício para ter direito aos benefícios legais. Hoje, inclusive, a Lei 12.850-13 prevê como obrigatória a presença de defensor em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração.
Obs. 1: Cuidado com o artigo 4o, §14o, da Lei 12.850-13, que estabelece a renúncia do colaborador, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e a sujeição ao compromisso legal de dizer a verdade. O direito ao silêncio é um direito fundamental, cuja característica, dentre outras, é a irrenunciabilidade por seu titular. Por isso, o ideal é entender que haverá apenas o não exercício do direito ao silêncio pelo colaborador, e não a renúncia.
Previsão legal da colaboração premiada no ordenamento jurídico brasileiro. No Brasil, a colaboração premiada surgiu na Lei dos crimes contra o sistema financeiro nacional (Lei 7.492-86), em seu artigo 25, §2o (nos crimes cometidos em quadrilha ou coautoria, o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá sua pena reduzida de 1 a 2/3). Depois, a colaboração foi prevista na Lei dos crimes hediondos (Lei 8.072-90, artigo 8o: o participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou a quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá pena reduzida de um a dois terços). Em seguida, ela foi prevista na Lei dos crimes contra a ordem tributária (Lei 8.137-90, artigo 16, parágrafo único). Depois, em 1996, o CP foi alterado para incluir a colaboração (artigo 159, §4o: se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços). Até aqui a colaboração implicava apenas na redução da pena, o que não incentivava a sua realização pelos criminosos. Depois, foi editada a Lei dos crimes de lavagem de capitais (Lei 9.613-98), que ampliou os benefícios que poderiam ser concedidos aos casos de colaboração premiada (a pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto [independente dos requisitos do artigo 33, do CP], facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la [=perdão judicial] ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos [independente da observância dos requisitos do artigo 44, do CP], se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente [=a espontaneidade implica na ideia de que a colaboração deve partir do agente; porém, o que se exige é apenas a voluntariedade, ou seja, a colaboração mesmo diante da influência de terceiros; o que não se admite é que ela seja fruto de coação ou promessa de vantagens ilegais não previstas no acordo] com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam [objetivos alternativos]: 1) à apuração das infrações penais, 2) à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou 3) à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime). Na Lei de proteção à testemunha (Lei 9.807-99) também há previsão de colaboração premiada (poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, tendo em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso, conceder perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado pela prática de qualquer crime que, sendo primário (+), tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo penal, desde que dessa colaboração tenha resultado: identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa, a localização da vítima com a sua integridade física preservada, a recuperação total ou parcial do produto do crime; doutrina entende que tal dispositivo pode ser usado para qualquer crime, pois a colaboração prevista nas outras leis apenas é aplicável aos crimes nelas previstas). A Lei de Drogas (Lei 11.343-06) também prevê a colaboração premiada em seu artigo 41 (o indiciado ou acusado que colaborar com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime + e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços). A Lei 12.529-11, que trata de proteção da concorrência, também prevê a colaboração premiada (previsto nos artigos 86 e 87; denomina-se acordo de leniência, de brandura ou doçura a espécie de colaboração premiada prestada em crimes contra a ordem econômica). Por fim, há a Lei 12.850-13, objeto do presente estudo, que prevê a colaboração premiada em seu artigo 4o, senão vejamos:
Art. 4o  O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
Benefícios da colaboração. A lei prevê três possíveis benefícios da colaboração premiada: 1) perdão judicial; 2) diminuição da pena privativa de liberdade em até 2/3 (a lei não fixa o patamar mínimo de diminuição; por isso, a doutrina se vale do patamar mínimo previsto em outras leis: 1/6 da pena); 3) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. 
	Prêmios da colaboração premiada
	perdão judicial	Comment by Agis Macedo: A concessão do perdão judicial exige processo? Alguns doutrinadores afirmam que o perdão judicial poderia ser concedido independente da existência do processo. Outros doutrinadores entendem que o benefício poderia ser concedido no início do processo, implicando na absolvição sumária do réu pela extinção da punibilidade. Inicialmente, o STF entendeu que a colaboração premiada só pode ser reconhecida ao final do processo (a decisão foi proferida no caso do mensalão, sendo que toda análise foi feita a partir da análise da Lei da Lavagem de Capitais). Hoje, porém, a Lei das organizações criminosas prevê expressamente que o MP poderá deixar de oferecer denúncia se: 1) o colaborador não for o líder da organização criminosa+ 2) for o primeiro a prestar efetiva colaboração (requisitos cumulativos), de modo que os benefícios decorrentes da colaboração podem ser concedidos até mesmo antes do processo.
diminuição da pena
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos
É possível a concessão de benefícios não previstos em lei? Rogério Sanches entende que é possível, pois se trata de interpretação benéfica ao réu, desde que isso não afronte o ordenamento jurídico e esteja dentro da razoabilidade. Assim, seria possível, v.g., propor ao juiz conceder a libertação do investigado, em liberdade provisória. 
Em qualquer caso, para concessão dos benefícios da colaboração o juiz também deve levar em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração. Não se exige, porém, a primariedade ou bons antecedentes do colaborador. Isso resulta no princípio da individualização do prêmio na colaboração premiada, de modo que competirá o juiz decidir qual será o prêmio a ser concedido ao colaborador, e não o Delegado ou o MP no bojo do acordo de colaboração premiada (ainda que pactuado o perdão judicial, o juiz poderá decidir, v.g., pela redução da pena, considerando a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração).
Não há direito subjetivo do colaborador em realizar o acordo, ou ainda, em receber os benefícios.
A voluntariedade e eficácia da colaboração premiada. A colaboração premiada se preocupa com a voluntariedade (ela não pode ser obtida mediante coação) e a eficácia das informações prestadas (ex.: informação da localização da vítima com sua integridade física preservada; se a vítima foi localizada, mas já estava morta, o colaborador não poderá ser beneficiado). Há, assim, uma “obrigação de resultado”, de sorte que somente se os resultados forem efetivamente atingidos é que o colaborador poderá ser beneficiado com os prêmios legais.
	A colaboração premiada deve ser voluntária (sem coação) e as informações fornecidas devem ser eficazes para um dos objetivos exigidos por lei (identificação dos demais coautores e partícipes etc.)
A colaboração se aplica apenas aos crimes praticados pela organização criminosa? Prevalece que ela se aplica a todos os crimes praticados pela organização criminosa, inclusive ao crime de organização criminosa, pois a lei não restringiu o alcance dos benefícios. Pensar o contrário é inviabilizar o instituto da colaboração premiada, já que, por vezes, a pena dos outros crimes são muito superiores à pena do crime de organização criminosa.
A colaboração pode se referir a fatos que não são objeto da investigação? Exemplo: um doleiro está sendo investigado ou processado por crime contra o sistema financeiro e resolve colaborar com investigações relativas a outros fatos criminosos. Isso é possível? Não há proibição. O que é relevante para a colaboração premiada é a eficácia da contribuição para a persecução penal, atingindo um dos fins do artigo 4o, seja em relação a fato próprio ou alheio.
Acordo de colaboração premiada. Até a Lei 12.850-13, não havia regramento quanto às formalidades do acordo entre o Estado e o criminoso. Antigamente, o acordo era feito de maneira informal. Hoje, porém, ela deve observar um procedimento formal, o que confere maior segurança ao colaborador (artigo 6o). O juiz não participa da formalização do acordo (para assegurar sua imparcialidade; decorre do sistema acusatório), que será efetuado apenas entre o investigado e seu defensor, de um lado, e o delegado (com a intervenção do MP; como titular da ação penal pública, não pode ser aceito um acordo feito pela Polícia sem a participação ativa do MP; nada impede que o MP ratifique acordo já feito pelo Delegado, devendo ter a cautela de verificar a voluntariedade do agente; se o MP não concordar com o acordo feito pelo Delegado, caberá ao juiz decidir) ou MP (isoladamente), de outro lado. O termo de colaboração premiada será formalizado e, em seguida, será remetido ao juiz para homologação. 	Comment by Agis Macedo: Art. 6o  O termo de acordo da colaboração premiada deverá ser feito por escrito e conter:I - o relato da colaboração e seus possíveis resultados;II - as condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia;III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor;IV - as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de polícia, do colaborador e de seu defensor;V - a especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando necessário.
	Acordo entre o colaborador (assistido por advogado) e o Delegado de Polícia (com intervenção do MP) ou MP (isoladamente)
Scarance Fernandes entende que a exigência da aceitação do colaborador e do seu advogado em relação ao acordo de colaboração premiada implica na chamada “dupla garantia”. Por isso, havendo divergência entre o colaborador e seu advogado, o acordo não poderá ser realizado.
	Remessa do acordo formalizado ao juiz para homologação
A Lei 12.850-13 estabelece que: considerando a relevância da colaboração prestada, o MP, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do IP, com a manifestação do MP, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o artigo 28, do CPP. Logo, ainda que as partes tenham proposto um benefício, nada impede que depois, a depender da colaboração, seja concedido um benefício maior. Isso será decidido pelo juiz.	Comment by Agis Macedo: Essa parte final não tem cabimento, pois a concessão do perdão é decidida pelo juiz, ainda que o Delegado de Polícia ou Ministério Público não concordem.
Obs. 1: O acordo poderá conter medidas de proteção ao colaborador e sua família (inciso V, do artigo 6o, da Lei 12.850-13: o termo de acordo da colaboração premiada deverá ser feito por escrito e conter a especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando necessário). 	Comment by Agis Macedo: Art. 5o  São direitos do colaborador:I - usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica;II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados;III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes;IV - participar das audiências sem contato visual com os outros acusados;V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito;VI - cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou condenados.
Obs. 2: A doutrina majoritária entende que o Delegado de Polícia não pode firmar acordo de colaboração premiada, apesar da previsão legal, pelos seguintes fundamentos: 1) o acordo precisará ser homologado em juízo, e o Delegado não tem capacidade postulatória para peticionar em juízo; 2) a CF conferiu ao MP a titularidade da ação penal pública e, com isso, a decisão sobre a viabilidade ou não da persecução penal; alguns prêmios implicam no não exercício da ação penal, decisão essa que só pode ser tomada pelo MP; logo, só o MP pode tomar o acordo. 
Tratativas ou propostas. Como ocorre o 1o passo em um acordo de colaboração premiada? A questão passa pela necessidade do estabelecimento de confiança entre o Delegado ou MP e o colaborador. Para tanto, pode ser firmado um pré-acordo, indicando que somente após a realização do acordo definitivo (por escrito e homologado) é que o membro do MP estará autorizado a utilizar as provas e elementos apresentados pelo colaborador. Foi essa ideia, aliás, que orientou o legislador no artigo 4o, §10o: as partes podem retratar-se da proposta [até antes de sua homologação pelo juiz], caso em que as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor. Havendoretratação, pode o MP usar essas provas em desfavor de outros agentes? Também não. É como se aquelas provas não tivessem nunca chegado ao conhecimento do MP. Tal situação, porém, é diferente da situação de um acordo homologado que é rescindido pelo acusado, em razão de seu descumprimento. Nessa hipótese, não há nenhum óbice a que as provas sejam usadas em desfavor do acusado ou de terceiros.
Formalização do acordo. Concluído o acordo, as partes devem formalizá-lo por escrito, nos termos do artigo 4o, §7o, e artigo 6o. Há um verdadeiro contrato, com cláusulas contratuais entre as partes. Há quatro vantagens nisso: i) traz maior segurança para as partes; ii) estabelece maior clareza aos limites do acordo; iii) permite o consentimento informado do imputado; iv) dá maior transparência e permite o controle pelo magistrado e demais interessados. 
Papel do juiz no acordo. De acordo com a Lei 12.850-13, o juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de colaboração. Isso visa preservar as regras do sistema acusatório. Porém, o juiz deverá homologar o acordo formalizado (o juiz deverá verificar a regularidade, legalidade e voluntariedade do acordo formalizado, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor). 
O pedido de homologação deverá ser sigilosamente distribuído, contendo apenas as informações que não possam identificar o colaborador e seu objeto. As informações pormenorizadas serão dirigidas diretamente ao juiz a que recair a distribuição, que decidirá em 48h.
O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto. Porém, o juiz não poderá fazer juízo de valor sobre o conteúdo das declarações do colaborador, ou seja, avaliar se elas são verdadeiras ou não, pois isso ainda será objeto de apuração.
Embora não haja previsão legal, contra a não homologação do acordo cabe RESE (Pacelli).
Uma vez homologado e cumprido o acordo, o juiz está obrigado a conceder o prêmio previsto (STF, HC 127.483).
O acordo, segundo o STF, não pode ser impugnado por terceiros, mesmo que seja uma pessoa citada na delação, pois o acordo é personalíssimo e, por si só, não vincula o delatado nem afeta sua situação jurídica. Negar o direito de impugnar, porém, não significa impedir o direito ao contraditório, pois a lei 12.850-13 estabelece expressamente que nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações do agente colaborador
O acordo de colaboração deixará de ser sigiloso assim que for recebida a denúncia (artigo 7o). Porém, nada impede que o juiz decrete o sigilo para garantir a segurança dos colaboradores e de seus familiares.
Obs. 1: A Lei 12.850-13 prevê que: o prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional. Isso pode servir de medida para evitar a ação penal enquanto o acordo é cumprido.
Momento para a celebração do acordo de colaboração premiada. A colaboração premiada pode ser celebrada: 1) durante a fase investigatória (colaboração pré-processual; nesse caso, poderá o MP, preenchidos os requisitos legais, deixar de oferecer a peça acusatória; artigo 4o, §4o); 2) durante a instrução processual penal (colaboração processual/ a pena pode ser reduzida em até 2/3); 3) depois de transitada em julgado a sentença penal condenatória (durante a execução penal; colaboração pós-processual; poderá haver a redução de pena até a metade ou da progressão de regime, ainda que não presentes os requisitos legais do artigo 44, do CP). Vale destacar, por oportuno, que desde a edição Lei de Lavagem de Capitais já havia a discussão quanto à possibilidade da colaboração após a sentença penal condenatória transitada em julgado. Com a alteração promovida pela Lei 12.683-12, porém, essa dúvida foi solucionada, uma vez que o artigo 1o, §5o, passou a prever que pode o juiz conceder o benefício a qualquer tempo (dispositivo incluído pela Lei 12.683-12). Ex.: o agente, durante a execução da pena, faz, voluntariamente, revelação que permite a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa. E a quem compete homologar o benefício concedido depois de transitada em julgado a sentença? Ao juiz da execução penal. 	Comment by Agis Macedo: Hoje, porém, a Lei das organizações criminosas prevê expressamente que o MP poderá deixar de oferecer denúncia se (requisitos cumulativos): 1) o colaborador não for o líder da organização criminosa + 2) for o primeiro a prestar efetiva colaboração.§ 4o  Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador:I - não for o líder da organização criminosa;II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.	Comment by Agis Macedo: E se a colaboração ocorrer depois da sentença? Nesse caso, a pena poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.	Comment by Agis Macedo: § 5o  A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
Valor probatório da colaboração premiada. Isoladamente, as informações prestadas pelo colaborador não podem servir para condenar alguém. Esse sempre foi o entendimento da jurisprudência, o qual foi positivado pela Lei das organizações criminosas (cf. dispõe o artigo 4o, §16o). 	Comment by Agis Macedo: § 16.  Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador.
IMPORTANTE: Regra de corroboração. Não basta que o colaborador confesse a prática delituosa e identifique os demais coautores ou partícipes do crime, pois nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações do agente colaborador (cf. artigo 4o, §16). O colaborador também precisa indicar fontes de prova capazes de confirmar suas declarações. Ex.: número do telefone dos comparsas, local do depósito de drogas etc.
AÇÃO CONTROLADA (=flagrante retardado, prorrogado ou diferido). Conceito. Consiste no retardamento da intervenção do aparato estatal, para que ocorra no melhor momento sob o ponto de vista da colheita de provas. Ex.: tráfico de drogas; há informações de que um indivíduo está com drogas indo em direção a outro Estado; é possível, logicamente, efetuar a prisão em flagrante naquele momento; porém, efetuada a prisão naquele momento, haveria pouca eficácia para efeito de repressão à organização criminosa; nesse caso, com base na ação controlada, é possível retardar a prisão para outro momento melhor, sob o ponto de vista da colheita de provas, mediante acompanhamento. Trata-se de exceção à prisão em flagrante obrigatória (artigo 301, do CPP: não há juízo de discricionariedade sobre a realização da prisão em flagrante; se há flagrância, a prisão deve ser efetuada imediatamente).
Previsão legal. A ação controlada é prevista: 1) no artigo 2o, da revogada Lei 9.034-95 (em qualquer fase da persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de prova: I- a ação controlada, que consiste em retardar a interdição policial do que se supõe ação praticada por organizações criminosas ou a ela vinculado, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz do ponto de vista daformação de provas e fornecimento de informações; trata-se de Lei já revogada pela nova Lei das organizações criminosas); 2) artigo 4o-B, da Lei 9.613-98 (é a Lei de Lavagem de Capitais; a ordem de prisão de pessoas ou as medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o MP, quando a sua execução imediata puder comprometer as investigações; essa hipótese, porém, não pode ser denominada de flagrante prorrogado, pois não versa sobre a prisão em flagrante, mas somente sobre a prisão mediante prévia ordem judicial: prisão preventiva ou temporária); 3) artigo 53, da Lei 11.343-06 (em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o MP, os seguintes procedimentos investigatórios: II- a não atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível); 4) artigo 8o, da Lei 12.850-13 (consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações; pelo visto, a Lei também permite o retardamento da intervenção administrativa, a exemplo a intervenção da corregedoria do órgão do servidor que faz parte da organização criminosa etc.).
Necessidade ou desnecessidade da prévia autorização judicial para a ação controlada. A revogada Lei das organizações criminosas (Lei 9.034-95) não exigia autorização judicial. Por isso, alguns doutrinadores chegavam a afirmar que havia, na verdade, uma ação controlada descontrolada (sem controle judicial). Na Lei 9.613-98, porém, passou-se a exigir autorização judicial. Na Lei 11.343-06 também há previsão de autorização judicial. Hoje, na Lei da organização criminosa, há previsão apenas de uma prévia comunicação ao juiz competente (§1o, da Lei 12.850-13: o retardamento será previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao MP). Logo, não há necessidade de prévia autorização judicial, mas apenas de uma comunicação prévia (IMPORTANTE).
	Ação controlada (=flagrante retardado, prorrogado ou diferido)
	Necessita apenas de prévia comunicação ao juiz
No momento posterior, quando a prisão for efetuada, há necessidade de autorização judicial? Supondo que o agente, que transportava drogas, já efetuou a entrega do material ilícito e encontra-se em viagem de retorno. Podem os agentes policiais efetuar a prisão do meliante depois, mesmo diante da cessação do estado flagrancial? Logicamente, se não há mais estado flagrancial, há necessidade de ordem judicial para que seja possível realizar a prisão.
O que é a entrega vigiada? É uma espécie de ação controlada que consiste em permitir que remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais Estados, os atravessem ou neles entrem, com o conhecimento e sob o controle das suas autoridades competentes, com a finalidade de investigar infrações e identificar as pessoas envolvidas na sua prática (conceito da Convenção de Palermo). A entrega vigiada pode ser: 1) entrega vigiada limpa (haverá a substituição do conteúdo da entrega); 2) entrega vigiada suja (não há alteração do conteúdo da entrega). 
AGENTE INFILTRADO (undercover agent). Conceito. É uma técnica especial de investigação, surgida nos EUA, por meio da qual um agente do Estado é inserido dissimuladamente no seio de uma organização criminosa, com o objetivo de indicar fontes de provas capazes de levar à desarticulação da organização criminosa.
Previsão legal. O agente infiltrado é previsto: 1) no artigo 2o, V, da revogada Lei 9.034-95 (em qualquer fase da persecução criminal [processo e IP] são permitidos, sem prejuízo dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de prova: V- infiltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes, mediante circunstanciada autorização judicial; o STJ, no HC 149.250, entendeu que agentes da ABIN não podem participar de investigação criminal sem autorização judicial, sob pena de ilegalidade); 2) no artigo 53, I, da Lei 11.343-06 (em qualquer fase da persecução criminal [processo e IP] relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o MP, os seguintes procedimentos investigatórios: I- a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes); 3) no artigo 10, da Lei 12.850-13 (infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo MP, após manifestação técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso de IP, será precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites; é importante dizer que a Lei 12.850-13, fez a regulação da infiltração de agentes de forma muito mais completa do que as leis anteriores).
	Agente infiltrado
	Exige prévia autorização do juiz, que estabelecerá os limites de sua atuação
Atribuição para a infiltração. Hoje, podem funcionar como agentes infiltrados no seio de uma organização criminosa apenas agentes de polícia. Logo, a atribuição é exclusiva de agentes de polícia. No caso de crime da competência da Justiça Comum, a atribuição vai recair sobre agentes de polícia judiciária (civil e federal). Policial militar, em tese, não pode funcionar como agente infiltrado, salvo quando no exercício de funções de polícia judiciária militar. 
Em regra, particulares não podem atuar como agente infiltrado em organização criminosa. Porém, alguns doutrinadores entendem que é possível no contexto de uma colaboração premiada. Ex.: um agente colaborador permanece na organização criminosa e, a partir de então, na qualidade de agente infiltrado, passa a fornecer elementos de prova. Há, nesse caso, colaboração premiada usada de forma simultânea à infiltração do particular (integrante da organização).
Requisitos para a infiltração policial. São requisitos (§2o, do artigo 10): 	Comment by Agis Macedo: § 2o  Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o art. 1o e se a prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis.
prévia autorização judicial circunstanciada pelo juízo competente. Cuidado com a teoria do juízo aparente: por vezes, no início das investigações, o juízo competente aparenta ser um; porém, com o prosseguimento das investigações, verifica-se que a competência é de outro juízo; nesse caso, a providência será inválida? O STJ entendeu que não, pois o que importa é que, de acordo com os elementos existentes por ocasião da decisão, aquele seria o juízo correto; porém, verificada a incompetência superveniente, os autos devem ser remetidos imediatamente ao juízo competente; 
o juiz deve estabelecer os limites da atuação do agente infiltrado (crime que podem ser praticados pelo agente infiltrado); 
devem existir indícios de crime de organização criminosa (bastam indícios de infração penal, não se exigindo indícios de autoria). Vale lembrar que a Lei 12.850-13 também se aplica, inclusive quanto às técnicas de investigação, às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional e às organizações terroristas internacionais; 
exige-se que a prova não possa ser produzida por outros meios disponíveis (proporcionalidade); 
concordância do agente de polícia (artigo 14, I: o agente pode recusar a atuação).	Comment by Agis Macedo: Art. 14.  São direitos do agente:I - recusar ou fazer cessara atuação infiltrada;
Duração da infiltração. A Lei das organizações criminosas prevê o prazo máximo de 6 meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade (artigo 10). Eventual prova produzida fora o prazo da autorização judicial é considerada prova ilícita.
Agente infiltrado e agente provocador (distinção). Agente infiltrado é o agente de polícia, que obtém uma autorização judicial, para integrar de forma dissimulada uma organização criminosa, com o objetivo de indicar fontes de provas capazes de levar à desarticulação da organização criminosa. Ele não incentiva novas práticas delituosas, devendo atuar um comportamento passivo, no sentido de tomar conhecimento da infrações penais em andamento ou futuras. A futura prisão dos membros da organização criminosa realizada pelo agente infiltrado configura hipótese de flagrante esperado. Por outro lado, agente provocador é o agente policial ou particular que, independente de autorização judicial, induz o criminoso a praticar delitos, mas, ao mesmo tempo, toma precauções para evitar a consumação do crime. Haverá, no caso, um flagrante preparado (=flagrante provocado, crime de ensaio ou delito putativo por obra do agente provocador), que é hipótese de crime impossível em virtude da ineficácia absoluta do meio. Nesse sentido, dispõe a Súmula 145, do STF: não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.
Responsabilidade criminal do agente infiltrado. Quando o juiz defere a autorização judicial para infiltração do agente, ele deve fixar os limites de atuação. Mas quais são esses limites? O agente infiltrado responde pelo crime? Logicamente, uma vez inserido na organização criminosa, os comparsas irão esperar que o agente pratique crimes. Por isso, ele terá que praticar crimes. Em relação ao crime de organização criminosa, o agente infiltrado não irá responder (artigo 2o, da Lei 12.850-13). No que diz respeito a outros crimes, a doutrina entende que o agente poderá praticar apenas crimes de perigo (concreto ou abstrato). Ex.: tráfico de drogas. Porém, não se pode admitir que o juiz autorize a prática de crimes de dano, pois que, nesse caso, os fins não justificam os meios. Ex.: crimes de homicídio, lesões corporais etc. E se, diante da situação fática, o agente se encontrar obrigado a praticar o crime de dano? Nesse caso, doutrina entende que o agente não responderá pelo crime, em função da presença de uma excludente da culpabilidade (inexigibilidade de conduta diversa). Trata-se, inclusive, de conclusão positivada na Lei 12.850-13 (artigo 13, parágrafo único). Porém, o agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com a finalidade da investigação, responderá pelos excessos praticados.	Comment by Agis Macedo: Parágrafo único.  Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa.
Mecanismos de proteção do agente infiltrado. Hoje, o agente dispõe de diversas garantias: 1) ele pode recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada (ele pode, assim, solicitar ao juiz a suspensão imediata da infiltração); 2) ter sua identidade alterada, bem como usufruir das medidas de proteção à testemunha; 3) ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações pessoais preservadas durante a investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão judicial em contrário (com base nesse dispositivo, poderemos fazer o uso da testemunha anônima, cuja qualificação não será informada nos autos; o STF, no HC 90.321, já entendeu que é válida, desde que haja decisão do juiz demonstrando a importância na preservação dos dados pessoais dela; no caso, a qualificação da testemunha foi anotada fora dos autos com acesso restrito aos juízes de direito, promotores de justiça e advogados constituídos e nomeados); 4) não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de comunicação, sem sua prévia autorização por escrito (configura crime, inclusive, revelar a identidade, fotografar ou filmar o colaborador, sem sua prévia autorização por escrito; cf. dispõe o artigo 18, da Lei 12.850-13).
Obtenção de dados cadastrais (artigos 15 e 17). A Lei 12.850-13 dispõe que o Delegado de Polícia e o MP terão acesso, independente de autorização judicial, aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras da cartão de crédito. Esse artigo é semelhante ao artigo 17-B, da Lei 9.613-98 (Lei de Lavagem de Capitais). Essas informações não violam a intimidade e vida privada. Outras informações continuam protegidas, só podendo ser fornecidas mediante ordem judicial.	Comment by Agis Macedo: Art. 15.  O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso, independentemente de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito.Art. 16.  As empresas de transporte possibilitarão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, acesso direto e permanente do juiz, do Ministério Público ou do delegado de polícia aos bancos de dados de reservas e registro de viagens.Art. 17.  As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades mencionadas no art. 15, registros de identificação dos números dos terminais de origem e de destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais.
No que se refere ao artigo 17, porém, há questionamentos doutrinários no sentido de sua inconstitucionalidade, pois ele dá a entender que o Delegado de Polícia e o MP poderia ter acesso ao registros de dados telefônicos independente de autorização judicial (PACELLI), o que não é possível.
FORMAÇÃO DO JUÍZO COLEGIADO PARA O JULGAMENTO DE CRIMES PRATICADOS POR ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS. É tema regulado pela Lei 12.694-12. A origem dessa Lei está relacionada ao homicídio de 4 juízes, os quais eram responsáveis por processos envolvendo organizações criminosas. A ideia da criação de juízos colegiados, inclusive, constou do II Pacto Republicano de Estado, em 2009. O objetivo básico é conseguir tornar a decisão judicial um pouco mais impessoal (despersonalizar a decisão), já que ela será tomada por 3 juízes. Na decisão judicial, em todo caso, não deve haver menção ao voto divergente.
Historicamente, também é citada a ADI 4.414, julgada pelo STF em 2012, oportunidade em que foi apreciada uma Lei Estadual de Alagoas (Lei 6.806-07). Essa lei previu a criação de varas especializadas para julgar organizações criminosas (indiretamente, ela estabeleceu o conceito de organização criminosa, fazendo uso do conceito da Convenção de Palermo), bem como de órgãos colegiados de julgamento formado por 5 juízes. Na época, não havia conceito de organização criminosa tratado por lei federal. O STF decidiu que: 1) Lei Estadual não pode definir organização criminosa, ainda que repetindo o conceito da Convenção de Palermo. Isso só pode ser feita por Lei Federal; 2) Lei Estadual pode dispor sobre a criação de varas especializadas para julgar organizações criminosas, pois que é tema relacionado à organização judiciária dos Estados; 3) não há problema na criação de juízos colegiados em 1a instância (não há violação ao princípio do juiz natural).
Distinção entre juízo colegiado e “juiz sem rosto”. Na época do surgimento da Lei 12.694-12, alguns afirmaram que o Brasil teria criado a figura do “juiz sem rosto” (=juiz secreto). A figura do juiz sem rosto já foi usado em alguns países da América do Sul, em especial na Colômbia e no Peru. Trata-se da figura do juiz desconhecido das partes, inclusive quanto à sua qualificação. A decisão será, além disso, apócrifa. O juízo

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