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Professor(a) Esp. Nicole Bechelli Menolli
INVESTIGAÇÃO 
FORENSE E PERÍCIA 
CRIMINAL APLICADA
2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie.
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva
dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da
obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la
de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
REITORIA Prof. Me. Gilmar de Oliveira
DIREÇÃO ADMINISTRATIVA Prof. Me. Renato Valença
DIREÇÃO DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Me. Daniel de Lima
DIREÇÃO DE ENSINO EAD Profa. Dra. Giani Andrea Linde Colauto
DIREÇÃO FINANCEIRA Eduardo Luiz Campano Santini
DIREÇÃO FINANCEIRA EAD Guilherme Esquivel
COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Profa. Ma. Luciana Moraes
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Profa. Ma. Luciana Moraes
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Me. Jeferson de Souza Sá
COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal
COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO E PROCESSOS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA EAD Profa. Ma. Sônia Maria Crivelli Mataruco
COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Luiz Fernando Freitas
REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Caroline da Silva Marques
Eduardo Alves de Oliveira
Isabelly Oliveira Fernandes de Souza
Jéssica Eugênio Azevedo
Louise Ribeiro
Marcelino Fernando Rodrigues Santos
Vinicius Rovedo Bratfisch
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Bruna de Lima Ramos
Carlos Firmino de Oliveira
Hugo Batalhoti Morangueira
Giovane Jasper
Vitor Amaral Poltronieri
ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz
DE VÍDEO Carlos Henrique Moraes dos Anjos
Pedro Vinícius de Lima Machado
Thassiane da Silva Jacinto
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP
M534i Menolli, Nicole Bechelli
Investigação forense e perícia criminal aplicada / Nicole
Bechelli. Paranavaí: EduFatecie, 2024.
84 p.: il. Color.
1. Perícia (Exame técnico). 2. Investigação criminal. 3. Prova
pericial. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de
Educação a Distância. III. Título
.
CDD: 23. ed. 341.4648
Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577
As imagens utilizadas neste material didático
são oriundas do banco de imagens
Shutterstock .
UNIDADE 1
UNIDADE 2
UNIDADE 3
UNIDADE 4
Professor(a) Esp. Nicole Bechelli Menolli
INVESTIGAÇÃO 
FORENSE
UNIDADE
9
O tema é bastante atrativo, sendo categoria de lmes e séries, presente no noticiário
da TV e rádio, fazendo parte do cotidiano das pessoas e, consequentemente, despertando
no público o interesse por seus métodos e desfechos.
Porém, nem tudo aquilo que se vê nas telas é realidade, bem como nem todo juízo de
valor carrega, de fato, experiência e ciência no assunto. Por isso, se faz necessário entender
o que é investigação forense no contexto de disciplina cientíca, abrangendo o Direito, a
Biologia, a Química, a Física e outras disciplinas que atuam como suas colaboradoras.
Antes de contextualizá-lo como disciplina e para uma melhor análise, um estudo
etimológico da palavra se apresenta adequado. Do Latim INVESTIGARE, “procurar, ir atrás,
tentar descobrir”, de IN, “em”, mais VESTIGARE, “seguir a pista, ir atrás”, de VESTIGIUM,
“pegada, marca deixada no chão” (Investigar, 2024).
Assim, investigação, como o próprio nome sugere, está ligada ao ato de inquirir,
descobrir, revelar uma verdade. A investigação forense está relacionada a técnicas
especícas aplicadas diante de um delito, de modo a esclarecer uma série de quesitos tais
como: quando, onde, por que, por quem, etc.
A investigação, em um primeiro momento, é pesquisa e indagação, examinando,
interrogando, buscando rastros, vestígios que levem a um veredicto (Pereira, 2022).
Para haver investigação forense, parte-se da existência de um crime e seu
consequente desdobramento para o Direito Penal, que tem por pressuposto, a partir
desse fato, o acionamento de prossionais e o uso de técnicas capazes de precisar o
acontecimento e orientar os rumos de um processo.
CONCEITO E DISCIPLINAS 
COPARTICIPANTES
TÓPICO
INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 1
10
O Direito Penal é o ramo do Direito Público responsável, por assim dizer, pelo
estabelecimento de normas jurídicas capazes de coibir crimes e contravenções por meio
da aplicação de sanções e garantir com isso a ordem pública e o respeito aos direitos
fundamentais (Rodrigues, 2024).
O Direito Penal é aplicado através do Direito Processual Penal, que instrumentaliza
o direito de punir do Estado equilibrando com o direito à liberdade do indivíduo, resultando
em uma ação com complexos atos. É a atividade jurisdicional com vistas à solução das
lides (Demercian; Maluly, 2023).
Associada ao Direito Penal e Processual Penal, a Criminalística aparece muitas
vezes como sinônimo de investigação criminal, embora este seja um processo mais amplo
que aquele.
No século XIX, o austríaco Hans Gross sistematizou o conceito e a organização
interna da investigação criminal em sua célebre obra – Manual para juízes de instrução –
demonstrando a criminalística como sinônimo de investigação criminal em seus elementos
conceituais (Santos, 2022).
Mas o que é criminalística? É uma disciplina forense que estuda a cena do crime
buscando evidências físicas, utilizando-se de técnicas cientícas para chegar a análises
igualmente cientícas capazes de embasar uma investigação.
Também não se pode estudar investigação criminal sem mencionar a Medicina
Legal, um ramo da Medicina, área biológica, intrinsecamente ligada ao Direito.
Medicina Legal, nas palavras de Gomes (2004):
É o conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos, destinados a
servir ao Direito, cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e
colaborando na execução dos dispositivos legais, no seu campo de atuação
da medicina aplicada (Gomes, 2004, p. 21).
Bittar (2023) ainda faz um paralelo entre Medicina Legal e Criminalística, em que,
enquanto a Medicina Legal se ocupa com os vestígios intrínsecos do crime, presente nas
pessoas, a Criminalística analisa os vestígios extrínsecos, materiais do crime, tais como
local, arma, etc. Outra área que contribui para a investigação criminal é a psicologia, que
fornece, por exemplo, perl psicológico do criminoso a partir da análise dos fatos.
A química é amplamente solicitada com os exames toxicológicos no organismo
das pessoas indicando elementos químicos nocivos que podem ou não serem causadores
de morte, ou apontar algum tipo de entorpecimento, além de inúmeras outras análises
químicas capazes de fornecer informações essenciais para o desfecho da investigação.
INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 1
11
Quando há disparo de arma de fogo, na análise chamada de balística, a física é
solicitada para esclarecer o percurso feito pelo projétil, indicando entrada e saída da bala e
os ferimentos causados. Em acidentes automobilísticos, igualmente, a física é fundamental
na indicação do trajeto, velocidade, colisão, dano, etc. e em inúmeras outras situações se
mostra auxiliadora da investigação criminal.
Portanto, comprovadamente, a investigação criminal se faz com o auxílio de outras
especialidades para trazer mais precisão no exame dos elementos que formam a cena
de um crime e, consequentemente, ajudar na conclusão das investigações e no rumo do
processo penal.
Embora tenham sido mencionadas algumas disciplinas, sabe-se que, se for
esmiuçar bem, cabem mais especialidades, devendo ser avaliado caso a caso.
Por outro lado, o auxílio imprescindível de outras áreas de conhecimento não indica
que a investigação é uma ciência vazia, desprovida de conteúdo próprio, sendo mera junção
de váriasde direitos, os que tiverem prestado depoimento no processo ou
opinado anteriormente sobre o objeto da perícia (artigo 279 do CPP).
Estende aos peritos os casos de suspeição aplicados aos juízes, conforme dispõe
o artigo 280 do CPP.
Suspeição trata-se de relação de foro íntimo com pessoas envolvidas na causa,
impedindo que o juiz e, no caso, os peritos, possam atuar com liberdade e imparcialidade,
como ser amigo íntimo ou inimigo de alguma das partes, ser sócio, credor ou devedor de
alguma das partes, etc.
Os médicos peritos além de se sujeitar às regras do CPP estão subordinados ao
Código de Ética Médica, sendo impedidos, por exemplo, de realizar perícias em pessoas
que tenham atendido na qualidade de pacientes ou realizar exames de corpo de delito
dentro de presídios, unidades militares, delegacias a m de não constranger o perito e o
examinado (Bittar, 2023).
Sempre que possível a perícia deve ser realizada dentro de órgãos ociais em
repartições do governo onde serão encaminhadas a pessoa e os objetos que devam ser
periciados, não se tratando por óbvio de perícias realizadas no local do crime, quando as
circunstâncias assim as exigem (Hercules, 2014).
Explanados sobre os peritos e os assistentes técnicos de uma maneira geral, o
próximo tópico abordará algumas habilidades técnicas dos peritos.
59
Como já foi vistonaunidade I, sãováriasasdisciplinascolaboradorasda investigação
forense, da mesma maneira pode-se considerar com a perícia.
Prossionais de engenharia, medicina, contabilidade, psicologia, química e outros
podem ser convocados para exercer a atividade de perito, tanto na esfera penal como na
cível (Hercules, 2014).
Os peritos são nomeados por serem detentores de especialidade cuja área está
relacionada com o crime, podendo ocorrer a necessidade de diversas especialidades e, por
isso, diversos peritos, para um único crime.
Asespecialidadesdosperitosassociadasaconhecimento jurídico, aplicabilidadedas
técnicas, análise crítica, precisão e uma série de outros atributos podem ser denominadas
de habilidades técnicas.
Dentre as inúmeras habilidades técnicas, está a do perito médico legista no
processo de identicação de um cadáver, que busca sinais particulares ao indivíduo de
modo que possa separá-lo dos demais. Esses sinais, como cor dos olhos e do cabelo, tipo
do cabelo, estatura, etc. isolados nada representam, mas em conjunto passam a denir a
pessoa (Hercules, 2014).
A união desses sinais característicos obedece a certos requisitos no processo de
identicação. São eles:
• Unicidade: elemento escolhido como identicador é especíco de cada
indivíduo (único);
• Imutabilidade: não podem se alterar pelo tempo, doença ou ação do ambiente;
• Praticabilidade: obtido e registrado com facilidade;
HABILIDADES 
TÉCNICAS
TÓPICO
PERÍCIA CRIMINALUNIDADE 3
Professor(a) Esp. Nicole Bechelli Menolli
TIPOS DE PERÍCIAS
UNIDADE
67
As perícias, como já estudado na unidade anterior, são meios de prova de grande
valor no processo judicial, sendo produzidas não só na fase processual, mas também na
investigação, denominada fase pré-processual.
As perícias podem ser realizadas tanto no âmbito judicial como extrajudicial, sendo
neste último, não só o caso da perícia feita em fase de inquérito policial, como também
casos de investigação interna ou de caráter preventivo.
A perícia judicial decorre de uma demanda legal na qual se apresenta como
necessária prova técnica especíca com objetivo de esclarecer questões alheias ao
conhecimento do juiz (Alvarenga, 2020).
Já a perícia extrajudicial ocorre antes que um caso seja formalmente iniciado na
justiça, podendo servir de base para uma futura ação penal ou não, podendo ser realizada
pela Polícia Cientíca, laboratórios forenses ou outros prossionais qualicados.
IMAGEM 01: COLETANDO EVIDÊNCIAS
Fonte: Schutterstock (2024)
PERÍCIAS
TÓPICO
TIPOS DE PERÍCIASUNIDADE 4
68TIPOS DE PERÍCIASUNIDADE 4
Amais comum no presente estudo é a realizada na investigação criminal, mas pode
ocorrer em outras situações, como quando assume caráter preventivo, a m de prevenir as
partes de eventual dano, analisa as reais condições de determinadas situações e constata
possíveis prejuízos (Alvarenga, 2020).
As perícias extrajudiciais podem ser solicitadas, sendo contratado prossional com
conhecimento técnico no assunto para investigação interna em uma empresa, por exemplo,
a m de vericar possíveis crimes de fraude.
Outro exemplo são as perícias feitas em projetos e obras de construção civil com
o intuito de averiguar possíveis danos ambientais e prevenir para que infrações penais de
cunho ambiental não sejam cometidas.
Conclui Alvarenga (2020, p. 20):
Independentemente do formato utilizado, a perícia judicial ou extrajudicial,
como visto, tem como principal fundamento constituir elementos de forma
técnica e acessível às partes interessadas, com a nalidade de serem
afastadas dúvidas e obscuridades acerca do negócio contratado, de situações
pretéritas ou, ainda, de riscos existentes ou futuros.
As perícias judiciais podem ser, ainda, aplicadas tanto na esfera penal como na
cível.
Na esfera penal, conforme abordado desde a primeira unidade, a perícia tem por
escopoanalisar vestígiosdeumcrime,apresentandoconclusõesassertivasecienticamente
embasadas, auxiliando o órgão julgador a formar sua convicção e resolver o caso.
Naesfera cível, aperícia traz conhecimento técnicoemalgumaquestãocontrovertida
de matéria cível, como perícias contábeis, análise em contratos, danos em propriedade, etc.
Em caso de interrupção de energia elétrica, por exemplo, em que a ausência de
energia provoque prejuízos em um estabelecimento comercial e este entre com uma ação
contra a empresa fornecedora de energia elétrica, poderá o juiz da causa nomear perito
técnico com especialidade em engenharia elétrica.
Cabe ao perito realizar diligências no local e determinar suas causas, estabelecendo
nexo de causalidade com a má prestação de serviço da companhia ou não.
São inúmeros os casos em que cabe prova pericial no juízo cível, sempre lembrando
que o juiz, da mesma forma que no juízo criminal, não ca restrito ao laudo pericial, podendo
decidir de forma diversa, devidamente fundamentada.
As perícias também podem ser tipicadas segundo a disciplina especíca que a
determina ou os propósitos a que se destina.
69TIPOS DE PERÍCIASUNIDADE 4
Uma das mais comuns e já bastante comentada é a perícia médica, responsável
por avaliar crimes de homicídio, lesão corporal, estupro, entre outros.
Cabe ao perito médico avaliar a extensão do dano nos casos de lesão corporal
e acidentes de trabalho; se houve conjunção carnal, contaminação por doença, parto,
puerpério, diagnóstico de gravidez; exames em cadáveres para identicar o morto,
determinar a causa e o tempo da morte e se esta foi realmente provocada por terceiro, se
foi acidente ou suicídio (Esteves, 2019).
Na cena do crime, as impressões digitais são colhidas e avaliadas por peritos
denominados papiloscopistas, prossionais estes com formação acadêmica em química,
biologia ou áreas ans, sendo necessária aprovação em concurso público para exercer o
cargo.
Os papiloscopistas são especialistas em coletar e identicar impressões digitais
das mãos e dos pés por meio da comparação com as registradas em bancos de dados
(Bittar, 2023).
Faz parte da papiloscopia a dactiloscopia, que é especicamente o estudo dos
desenhos que as linhas das mãos e dos pés apresentam e são únicas nos indivíduos
(Bittar, 2023).
Existem também as perícias laboratoriais que após a coleta realizada pela polícia
cientíca, analisa manchas de sangue, secreções e DNA.
Bittar (2023) ensina que para identicar a presença de sangue no local, é
recomendável a utilização de algumas substâncias indicadoras que alteram a cor ou se
tornam luminescente em contato com o sangue como a fenolftaleína (Kastle-Meyer), a
benzidina (Adler-Ascarelli) e o Luminol (5-amino-2,3-di-hidro-1,4-ftalazinadiona).A fenolftaleína ca incolor na ausência de sangue e rósea na presença, a benzidina
torna-se azul na presença de sangue e o Luminol produz uma reação de quimiluminescência
com luz azul quando em contato com ferro. Tendo o sangue grande quantidade de ferro, é
possível sua identicação com o uso do Luminol (Bittar, 2023).
Dentre as substâncias indicadoras de sangue no local do crime, o Luminol é o mais
utilizado, pois é capaz de captar o sangue mesmo após o local ter sido limpo e desinfetado
com água sanitária, por exemplo. Porém, sua desvantagem é que torna imprestável ou diminui
a precisão de outras análises nos materiais submetidos à sua ação, além de não poder ser
utilizado em superfícies metálicas, uma vez que indica presença de ferro (Bittar, 2023).
Outra análise a ser feita no sangue é sua morfologia das manchas, porque,
determinada a trajetória das manchas de sangue, será possível traçar a dinâmica do crime
(Bittar, 2023).
70TIPOS DE PERÍCIASUNIDADE 4
Segundo Bittar (2023), as manchas como gotas e salpicos são manchas de
projeção, devido à atuação apenas da força da gravidade. Já as manchas por escorrimento
apresentam-se como poças ou letes devido àmaior intensidade do sangramento, indicando
que a vítima se encontrava parada.
Quanto às secreções, é feita dosagem da glicoproteína P30, especíca do esperma,
para conrmar sua presença no corpo ou local periciado, servindo de indícios nos casos de
crimes sexuais (Bittar, 2023).
É possível identicar leite e colostro indicando gravidez, líquido amniótico existente
na bolsa fetal ou induto sebáceo que é uma substância gordurosa protetora da pele do feto,
podendo servir de indícios nos crimes de infanticídio (Bittar, 2023).
O exame de DNA sem dúvida é o mais difundido por ser possível sua análise até
em corpos carbonizados ou muito deteriorados e sua precisão é altíssima.
Emprestando os conceitos da medicina e biologia para uma melhor compreensão,
pode-se dizer que cada indivíduo é formado por características próprias herdadas
geneticamente de sua família, chamadas de genes (unidades básicas da herança), segundo
Hercules (2014).
Os genes são compostos por ácido desoxirribonucleico, o DNA, que forma todas as
proteínas do corpo e são diferentes para cada indivíduo, exceto gêmeos idênticos (Bittar,
2023).
Como acontece nos demais métodos de identicação, é feita uma comparação
entre um registro prévio do DNAe o material atual a ser analisado, porém, o DNAapresenta
uma vantagem em relação aos outros métodos, pois na ausência de material prévio do
próprio indivíduo, a análise do DNA dos familiares suprirá a falta (Bittar, 2023).
O reconhecimento pela arcada dentária constitui importantemétodo de identicação,
pois os dentes têm grande durabilidade e resistem a altas temperaturas, além de ser possível
extrair DNA deles (Bittar, 2023).
Pela dentição se consegue averiguar a idade da vítima, bem como por outros
detalhes do palato, lábios, etc.
Mesmo com tantos tipos de perícias com predomínio nas áreas biológicas, tem-se
como fundamental nos crimes cometidos com emprego de arma de fogo, a balística, um
tipo de perícia em que a física é a matéria dominante.
No exame de balística, os peritos preocupam-se em recolher os projéteis, a arma
quando localizada, identicar através dos registros a quem pertence à arma, determinar a
origem e a trajetória da bala.
71TIPOS DE PERÍCIASUNIDADE 4
Simular o disparo com a arma e munição para comparar com as deixadas na cena
do crime e analisar as peculiaridades do projétil capaz de guardar correspondência com a
arma especíca.
A Grafoscopia, por sua vez, é responsável por um estudo minucioso de sinais
característicos da letra, pois assim como DNAe impressões digitais, cada caligraa é única,
sendo muito raro pessoas desenvolverem letras idênticas.
Assim, a Grafoscopia se preocupa em estabelecer provas de autoria e autenticidade
da graa por meio da comparação de letras.
É bastante particular o modo como cada um desenvolve sua escrita, desde a pegar
na caneta ou lápis, contendo sinais muito particulares de linhas, tracejados, rmeza, retidão,
além de revelar aspectos pessoais como personalidade, grau de instrução, etc.
Explorados os diversos tipos de perícia, embora não exauridos, o próximo capítulo
se encarregará dos métodos utilizados para realização dos exames, indicando os válidos e
os que acarretarão as nulidades periciais.
72
NULIDADES 
PERICIAIS
TÓPICO
TIPOS DE PERÍCIASUNIDADE 4
Após a apresentação de variados tipos de perícias, a forma com que os exames
são realizados e as conclusões proporcionadas pelas análises, é possível compreender a
existência de regras que permeiam as perícias de modo a garantir a não inviabilização ou
adulteração dos resultados.
Judicialmente, em uma ação já em curso ou ainda extrajudicialmente na fase de
inquérito, as perícias devem seguir algumas regras jurídicas para serem admitidas como
provas em um processo.
IMAGEM: 02 - CERTO E ERRADO
Fonte: Schutterstock (2024)
Conforme explica Mendroni (2013), o artigo 5º, LVI da Constituição Federal traz em
seu texto a inadmissibilidade no processo de provas obtidas por meios ilícitos, concluindo
que todas as provas são lícitas, pois servem para demonstrar a verdade dos fatos ou
provocar dedução a respeito de sua existência, mas se as condutas pelas quais são obtidas
não são corretas, as provas não serão aceitas.
73TIPOS DE PERÍCIASUNIDADE 4
As ações e condutas utilizadas para se obter as provas não podem ser obtidas
a qualquer custo, violando os direitos e garantias individuais do cidadão previstos na
Constituição Federal, como a polícia, sem mandado judicial, ingressar na residência da
pessoa e coletar material a ser periciado (Mendroni, 2013).
A admissibilidade no processo está diretamente relacionada com a análise da
origem da prova, como foi produzida, sua idoneidade, circunstância esta capaz de atribuir
maior ou menor valoração em face do convencimento do juiz (Mendroni, 2013).
Mendroni (2013, p. 273) ainda observa que: “Basta referir que quanto maior o grau
de imparcialidade e de detalhes observados, maior será a sua delidade em razão do
factum probandum.”
Assim, se o perito guarda algum interesse na causa, mantém relação pessoal
com alguma das partes, incorrendo em impedimento ou suspeição para atuar e não alega
quando nomeado, efetiva uma causa de nulidade pericial.
As provas de modo geral são consideradas nulas quando obtidas por meios ilícitos,
seja pelo aspecto formal ou material.
Por vício formal entende-se a obtenção da prova sem observância das formas
disciplinadas pela lei que regulam o procedimento próprio a ser seguido e não guardam
qualquer alternativa de convalidação. Exemplo: Interceptação telefônica sem autorização
judicial (Mendroni, 2013).
Por vício de origem ou material, entende-se a prova obtida com violação de direito
material do indivíduo. Exemplo: Conssão obtida por meio de coação física ou moral da
polícia (Mendroni, 2013).
Incorre em nulidade, por vício formal, a perícia realizada sem observância das
regras contidas no Código de Processo Civil ou Criminal, conforme a área de atuação, o
desrespeito aos prazos e demais normas legais reguladoras das perícias.
O vício formal no laudo passível de nulidade ocorre quando o laudo pericial deixa
de atender a certos requisitos formais, como a descrição clara dos métodos utilizados e a
apresentação das conclusões de forma fundamentada, não esclarecendo o perito como se
chegou àquelas conclusões.
Vícios materiais na perícia advêm de métodos ou técnicas inadequadas, sem
reconhecimento cientíco, sem observância dos quesitos formulados pelas partes ou
conclusões contraditórias e/ou duvidosas.
A nulidade da perícia por vícios materiais também pode acontecer por adulteração,
violação ou perda do objeto a ser periciado, inuenciando nos resultados da perícia.
74TIPOS DE PERÍCIASUNIDADE 4
Sala (2018) orienta que, quando o isolamento e a preservação do local docrime
não são feitos de forma adequada, prejudica consideravelmente os exames laboratoriais
complementares, interferindo na produção de provas e nos resultados periciais.
A sequência de preservação do local, coleta, transporte, logística e exame laboral
são importantes para garantir a qualidade na elaboração do laudo, mas a conscientização
de conhecimento forense, dos procedimentos e dos requisitos normativos de atuação
pericial são essenciais para evitar nulidade das perícias (Sala, 2018).
Sala (2018) ainda defende que laudos periciais inconclusivos ou que haja nulidade
por provas ilícitas abrem brecha para a impunidade e invalidação do ato processual.
A qualicação prossional do perito também é requisito importante para validação
da perícia, pois a ausência de formação especíca na matéria ou experiência na área de
atuação, bem como a ocupação em cargo público conforme exigido em alguns casos,
ensejará víciomaterial, impactandonaprecisãoecredibilidadedo laudoeconsequentemente
ocasionará nulidade pericial.
Outra questão a ser observada é a exigência legal de que algumas perícias sejam
acompanhadas de fotograas, desenhos, grácos e ans, como perícias realizadas no local
do crime e de homicídio, em que o corpo deve ser fotografado na posição em que for
encontrado.
Não há só casos de nulidade pericial, como existem casos em que a falta de perícia
ocasiona nulidade de sentença condenatória. É o que a leitura do artigo 564, III, b do
Código de Processo Penal dispõe ao considerar que nos crimes de que deixam vestígios, a
falta de exame de corpo de delito enseja nulidade, exceto nos casos do artigo 167 em que
prova testemunhal pode suprir-lhe a falta (Esteves, 2019).
Diante de todo o exposto, resta evidente a importância do trabalho do perito e o
zelo com que deve desempenhar sua função, cercando-se de conhecimento em sua área
de atuação e nas normas jurídicas para atender aos anseios da justiça e contribuir com a
sociedade.
75
QUESTÕES 
PRÁTICAS
TÓPICO
TIPOS DE PERÍCIASUNIDADE 4
Além dos exames periciais propriamente ditos, a elaboração dos quesitos técnicos
é de extrema importância para garantir orientação da perícia a ser realizada e a satisfação
com o resultado.
Alvarenga (2020, p. 60) bem explica: “isso porque, apesar de o perito realizar um
trabalho técnico imparcial, é por meio dos quesitos que o expert tem um balizamento do que
as partes pretendem demonstrar.”
Lembrando que, além do juiz, serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente
de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos §3º do
artigo 159 do CPP (Brasil, 1941).
Sendo a perícia médica uma das mais utilizadas na investigação forense, com
aplicabilidade em diversos exames relacionados ao crime, vale aprofundar o conhecimento
no laudo médico e seus quesitos.
Na Medicina Legal, o laudo médico é a narração detalhada da perícia e se compõe
dos seguintes elementos:
• Preâmbulo: uma introdução com a qualicação da autoridade solicitante, dos
peritos, do diretor que os designou, examinando, local, data, horário e tipo da
perícia.
• Quesitos: são perguntas sobre fatos relevantes que originaram a ação penal.
São padronizadas pelas instituições médico-legais de cada Estado para serem
respondidas negativamente ou armativamente pelo perito. Nas perícias
psiquiátricas e de exumação não existem quesitos padronizados, assim como
nas perícias cíveis.
76TIPOS DE PERÍCIASUNIDADE 4
• Histórico ou comemorativo: relato sucinto dos fatos narrados pela vítima ou
indiciado quando submetidos à perícia, ou dados transcritos de remoção do
cadáver e das suspeitas do caso em análise.
• Descrição: parte mais importante, em que o perito descreve minuciosamente
tudo o que observou no exame.
• Discussão: as lesões encontradas e descritas são analisadas cienticamente
e comparadas ao histórico, originando a formulação de hipóteses sobre o crime.
• Conclusão: é a tomada de postura quanto à ocorrência ou não do fato, de
forma concisa e clara, com deduções armativas, negativas ou impossibilidade
de armar no caso de dúvidas.
• Resposta aos quesitos: estabelecer a existência de um fato típico, respondendo
o perito objetivamente, podendo alegar, na falta de elementos signicantes e
conclusivos, que o quesito está prejudicado (Bittar, 2023).
Acompanhandoasetapasdo laudopericial, como foimencionadoacima, osquesitos,
exceto os relativos a exames psiquiátricos, cíveis e de exumação, são padronizados pelas
instituições médicas e, a título de conhecimento prático, segue alguns deles:
• Exame de lesão corporal:
01. Há ofensa à integridade corporal ou à saúde?
02. Qual o instrumento ou meio que a produziu?
03. Foi produzido por meio de veneno, fogo, explosivo, asxia ou tortura, ou
por outro meio insidioso, ou cruel? (resposta especicada)
04. Há perigo de vida?
05. Resultou em incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30
(trinta) dias?
06. Resultou em incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade
incurável, debilidade permanente de membro, sentido ou função, aborto ou
aceleração de parto, ou deformidade permanente? (resposta especicada)
(Bittar, 2023).
Com a leitura dos quesitos, é possível avaliar que a resposta do perito ao examinar
a vítima contribuirá para a conguração do crime, da constatação de causas agravantes e
desdobramentos no âmbito previdenciário e trabalhista.
• Exame para vericação de embriaguez:
01. O examinado está embriagado?
02. Que espécie de embriaguez?
77TIPOS DE PERÍCIASUNIDADE 4
03. No estado em que se encontra, põe em risco a segurança própria ou
alheia?
04. Ele se embriaga habitualmente?
05. Qual o prazo, aproximadamente, em que deve car internado para
necessária desintoxicação? (Bittar, 2023).
Estes quesitos demonstram preocupação em averiguar a possibilidade de
cometimento de crime em caráter preventivo, ou não, no caso do periciado ser suspeito de
ter cometido crime (já consumado), bem como estimar causa de interdição cível.
• Exame cadavérico:
01. Houve morte?
02. Qual a causa da morte?
03. Qual o instrumento ou meio que produziu a morte?
04. A morte foi provocada por meio de veneno, fogo, explosivo, asxia ou
tortura, ou por outro meio insidioso, ou cruel? (resposta especicada) (Bittar,
2023).
Os quesitos do exame cadavérico tendem por óbvio apurar as causas da morte, o
instrumento utilizado e possíveis causas de agravamento do crime.
No que tange o laudo indireto, sua produção se dá a partir do exame pelo perito
de documento, qual seja, boletim de atendimento médico ou prontuário hospitalar. Bittar
(2023) considera que tal exame pericial restringe o trabalho do perito, pois normalmente a
tipicação nesses documentos é aproximada e será difícil tirar conclusões sobre o que não
se examinou e que não foi descrito.
Outro documento que pode ser realizado por perito é o parecer médico-legal,
documento este utilizado para esclarecer divergências na interpretação de uma perícia,
valendo-se pelo conceito cientíco de quem o subscreve, podendo o juiz optar pela
orientação do parecer (Bittar, 2023).
O parecer é mencionado no inciso II, §5º do artigo 159 do CPP (Brasil, 1941), como
possibilidade de ser apresentado pelos assistentes técnicos indicados pelas partes.
O atestado médico é um documento que o médico concede a seu paciente
relatando de forma simples e objetiva um fato médico e suas consequências ou um estado
de sanidade (Bittar, 2023).
Estabelece o parágrafo único do artigo 3º da Resolução do Conselho Federal de
Medicina que:
84
MENDRONI, Marcelo B.Curso de investigação criminal, 3ª edição . Rio de Janeiro: Grupo
GEN, 2013. E-book. ISBN 9788522476947. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.
com.br/reader/books/9788522476947/pageid. Acesso em: 29 atrás. 2024.
MOSSIN, Heráclito A. Garantias Fundamentais na Área Criminal . Barueri: Editora
Manole, 2014. E-book. ISBN 9788520448519. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.
com.br/reader/books/9788520448519/pageid.Acesso em: 29 atrás. 2024.
OABPR - Comissão da Advocacia Criminal. Investigação Defensiva. Coleção Comissões
- Curitiba: OABPR, 2022.
PEREIRA, Eliomar da S. Teoria da Investigação Criminal . São Paulo: Grupo Almedina,
2022. E-book. ISBN 9786556275802. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/
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Crítica, 5ª edição. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2016. E-book. Disponível em: https://
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SALA, Davi. A perícia criminal: evidências, prossional perito e nulidade pericial–uma
revisão literária. Revista Brasileira de Criminalística, v. 7, n. 3, p. 28-31, 2018.
SANTOS,CélioJacintodos.Teoriada InvestigaçãoCriminal. 2. ed.BeloHorizonte:DelRey,
2022. E-book. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/203815.
Acesso em: 17 maio 2024.
TALON, Evinis. Investigação Criminal Defensiva. Livro eletrônico. 1ª ed. Rio Grande do
Sul: ICCS, 2020.
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Praça Brasil , 250 - Centro
CEP 87702 - 320
Paranavaí - PR - Brasil
TELEFONE (44) 3045 - 9898disciplinas.
Esta colaboração tem por função diminuir a margem de erro e chegar à verdade
dos fatos com a maior exatidão possível, mas todo procedimento é ordenado pelas regras
e técnicas próprias da investigação criminal, conforme será detalhado em outro tópico da
apostila.
Célio Jacinto dos Santos, Delegado de Polícia Federal aposentado e Mestre em
Criminologia e Investigação Criminal, em seu Livro intitulado A Teoria da Investigação
Criminal, com grande propriedade, conclui, nos seguintes termos:
Conclui-se que a investigação criminal é uma disciplina cientíca autônoma
que emprega saberes e técnicas para descoberta e denição de delitos, com
estrita observância dos limites e formas jurídicas aplicáveis ao processo
investigativo, e é auxiliada por outras disciplinas, mas possui um núcleo
próprio de saberes (...) (Santos, 2022, p. 1).
Por conseguinte, após conceituar a investigação criminal, estudar sua evolução ao
longo da história revela aspectos interessantes para compreendê-la tal qual se revela na
atualidade.
INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 1
12
2.1 Evolução da investigação no mundo
Considerando a investigação criminal como um mecanismo que visa a punição do
criminoso, o Código de Hamurabi século XVIII a. C., a Arthasastra, hindu do século IV a. C.
e o Código de Manu do século II a. C. podem ser considerados os primeiros indícios de uma
investigação, segundo Fentanes (1979, p. 25 e 33, apud Santos, 2022, p. 1).
Porém, foi na Grécia Antiga e no Império Romano com as questiones perpetua que
passaram a desenvolver uma investigação e uma instrução criminal feita pelo acusador e
entregue ao chamado pretor, mais tarde, irenarcha, curiosi, estartionare, responsáveis pela
investigação, em crimes da época como furto e roubo, por exemplo (ibidem).
IMAGEM 01 - INVESTIGAÇÃO
Fonte: OWSLEG. 22 de ago. de 2023. Disponível em: https://owlesg.com/2023/08/22/what-is-an-esg-audit-
and-why-is-this-necessary/. Acesso em 26 de ago. de 2024.
HISTÓRICO
TÓPICO
INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 1
13
A investigação do assassinato do Imperador Romano Julius Cesar, datado do ano
de 44 a.C., foi o primeiro relato documentado de uma investigação criminal, sendo realizado
o primeiro exame médico de uma vítima de assassinato relatado na história. Seu corpo foi
examinado por Antistius, um médico pertencente ao seu círculo de amizades (Hercules,
2014).
A investigação criminal tencionava encontrar os culpados pela morte de Cesar,
envolvendo mais uma questão de conspiração política na época do que envolta por técnicas
de investigação forense. Apesar disso, é inegável a publicidade desse acontecimento
histórico e o início de exame médico em cadáver, alimentando a trilha investigativa.
Avançando um pouco mais na história, até o século VII, o direito germânico era
baseado na vingança privada entre as famílias da vítima e do agressor e, então, evoluiu
para o sistema de composição com reparação econômica da ofensa pelo agressor à família
da vítima (Santos, 2022).
Santos (2022) nos traz ainda que o direito germânico foi substituído posteriormente
pelo direito romano-canônico, sendo o processo público e com inuência da Igreja e mais
tarde, com o Papa Inocêncio, no século XVIII, a investigação e a justiça passaram a ser
mais secularizadas.
Percebe-se na evolução da investigação criminal a preocupação inicial em encontrar
o culpado para aplicação da punição, partindo da ideia de violência privada entre famílias
até chegar à prática onde os responsáveis pela investigação, ao nal, entregavam suas
conclusões ao poder público para que este exercesse o direito de punir.
O ápice do progresso investigativo, sem dúvida, se deu no século XVIII e XIX com
a Revolução Industrial na Inglaterra e com a Revolução Francesa, quando surge pequenos
grupos de polícia investigativa especializada para conter o aumento da criminalidade oriundo
da expansão da população, resultado dos movimentos sociais, econômicos e políticos da
época (Santos, 2022).
Santos (2022) aponta dois grandes destaques para a investigação criminal, o
primeiro, a atividade de catalogação de criminosos presos e de vigilância política, a partir
das Gendarmaria, polícia francesa centralizada sob o comando de Joseph Fouché. O
segundo, em 1812, com a organização de um sistema de registro e arquivo de informações
em chas e o uso de técnicas especícas para identicar e localizar criminosos, inclusive
com uso de informantes e inltração no ambiente criminoso através da criação da Sûreté,
também francesa e dirigida por Eugène-François Vidoc.
Em 1950, em Londres, Henry Fielding criou os chamados “Bow Street Runners”
um grupo de voluntários, sem uniforme, que atuavam como detetives, obtendo informações
sobre os crimes, investigando e capturando criminosos. Mendroni (2013) menciona que se
INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 1
14
tornou interessante a prática de publicar no jornal, de maior circulação da época, a foto dos
procurados pela polícia.
Outra gura de destaque é Robert Peel, criador da “Metropolitan Police Force for
London” em 1929, que por conta dos treinamentos e da formação dos policiais na força real
escocesa passaram a ser denominados “Scotland Yard” (Mendroni, 2013).
Mais um aspecto relevante em se observar o histórico da investigação é a ampliação
de atribuições da mesma, uma vez que se passou a especializar os investigadores,
surgindo a gura da polícia investigativa, bem como a utilizar novos e ecazes métodos de
investigação.
Ao encontro do desenvolvimento urbano com aumento da população e dos conitos,
a ciência também responde aos apelos da época e contribuições valiosíssimas para a
investigação forense despontam dos avanços cientícos.
Na Medicina legal merece destaque Lacassagne com o estudo de manchas de
sangue e as marcas em projéteis, inspirado no trabalho de Ambroise Paré em 1575, com
o primeiro livro ocidental de Medicina Legal, onde apresenta, dentre outros estudos, as
feridas provocadas por armas de fogo (Hercules, 2014).
Alphonse Bertillon, no século XIX, contribuiu com a identicação do criminoso com
a criação da fotograa sinalética - são tiradas duas fotos do indivíduo, uma de perl e outra
de frente, quando então são comparadas por superposição da recente com a constante
no arquivo - e com a antropometria - um método denominado bertilhonagem, associando
medidas do esqueleto com sinais particulares e com impressões digitais (Hercules, 2014).
Destarte, a Medicina Legal trouxe contribuições grandiosas para a investigação
criminal, tais como o exame de balística e toxicológico, impressão digital, utilização de
raios ultravioletas e infravermelhos no caso de falsicação de documentos, análises
microscópicas, entre outros (Santos, 2022).
Nas palavras de Santos, ao mencionar os contributos da Medicina Legal:
(...) passaram a auxiliar a polícia na análise de vestígios e indícios,
possibilitando o esclarecimento de crimes com informações dedignas pela
polícia judiciária, superando os métodos arcaicos de investigação como
àqueles baseados apenas na pesquisa do criminoso, na conssão e, também,
englobava tortura (Santos, 2022, p. 1).
Explanados os avanços investigativos no mundo, desde os tempos mais remotos
até chegar mais próximo à realidade atual da investigação, é importante conhecer sua
evolução em território nacional.
2.2 Evolução da investigação no Brasil
INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 1
15
Voltando à época de colônia, o Brasil não possuía estrutura investigativa, nem
tampouco força policial especializada, mas a investigação era feita por autoridades locais
sem métodos a serem seguidos.
Com a vinda da família real para o Brasil, em 1808, foi criada a Intendência-Geral
de Polícia da Corte e do Estado do Brasil (Santos, 2022) com a função de estruturar a
polícia, organizar o judiciário, garantir a segurança pública e a manter a ordem.
Após a Independência e na fase de Império, buscou-se estruturar melhor o sistema
jurídico, criado o juiz de paz com a tarefa de constituira formação de culpa e o julgamento
criminal, mas com a reforma introduzida pela Lei 3 de dezembro de 1841 foi denida as
funções de Chefe de polícia, delegado, subdelegado tais como atualmente (Santos, 2022).
A função dos delegados e subdelegados era investigar crimes, conduzir inquéritos,
prender suspeitos e zelar pelo cumprimento das leis.
Por m, em 1871, Santos narra a consolidação do sistema de investigação criminal
com a Lei 2.033 e o Regulamento n.° 4.824, surgindo organização especializada para
administrar a função investigativa exercida pela Polícia Judiciária e legislação contendo
procedimentos próprios para a matéria (Santos, 2022).
No Brasil, atualmente, não há uma lei especíca que trate da investigação criminal
de modo exclusivo. Em vez disso, a investigação é regida por vários regulamentos e leis
que abordam aspectos diferentes do processo investigativo.
Na Medicina legal, o Brasil não deixou a desejar em relação aos demais países,
apresentando grande evolução cientíca e de métodos de investigação, seguindo uma
fase de estrangeirismo, transição e nacionalização, conforme explana Oscar Freire (apud
Hercules, 2014, p. 10).
Após um breve relato dos principais pontos de evolução da investigação criminal
no país, parece correto adentrar ao histórico da investigação associada ao processo penal
ao passo que se completam.
2.3 Evolução da investigação ligada ao Processo Penal
Uma vez que a investigação criminal serve de suporte para uma posterior ação
judicial, compreender a evolução dos sistemas processuais penais ao longo da história
revela os ditames investigatórios adotados em cada um deles.
Os sistemas processuais penais podem ser divididos em acusatório, inquisitivo e
misto ou formal, mas anal, o que é sistema processual penal? O doutrinador Paulo Rangel
explica:
Sistema processual penal é o conjunto de princípios e regras constitucionais
e processuais penais, de acordo com o regime político de cada Estado, que
INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 1
16
estabelece as diretrizes a serem seguidas para a aplicação do direito penal a
cada caso concreto (Rangel, 2016, p. 146).
Assim, no início dos tempos, o sistema adotado era o acusatório privado, em que o
ofendido ou qualquer pessoa do povo recebia do juiz autorização para realizar a investigação
e confrontar o acusado, cando o Estado a parte da investigação (Rangel, 2016).
Segundo Rangel, este sistema era insuciente no quesito justiça, pois acabava se
voltando para a vingança privada, quando o ofendido tinha livres poderes para punir ou
a impunidade do criminoso, quando faltavam condições ao ofendido de realizar os atos
necessários à investigação (Rangel, 2016).
Por essas situações, buscando maior justiça nas demandas, o sistema acusatório
privado deu lugar ao inquisitivo, em que o Estado assumiu para si o dever de investigar e
resolveu aparentemente o problema anterior.
Porém, o juiz, assumindo para si o poder-dever de investigar, julgar e punir, colocou
em risco o direito de defesa do acusado, que se viu totalmente nas mãos do Estado.
O sistema inquisitivo foi adotado por quase toda Europa nos séculos XVI, XVII
e XVIII, tendo surgido na época da monarquia e se aperfeiçoado com o direito canônico
(Rangel, 2016, p. 216).
Com as conquistas sociais e os avanços dos direitos e garantias fundamentais,
surge então um novo sistema, o acusatório público, em que o Estado permanece com o
poder de julgar, mas se cria um novo órgão responsável pela investigação: o Ministério
Público (Rangel, 2016). Dessa forma, a imparcialidade do juiz e o direito ao contraditório e
ampla defesa do acusado permanecem protegidos.
No Brasil, adotamos o sistema acusatório público, com o juiz imparcial e livre na
apreciação das provas, o réu com direito a defender-se da acusação, processo público e
órgão independente faz a investigação: o Ministério Público.
Na França, com o Código Napoleônico, adotou-se uma mistura do sistema
acusatório com o inquisitivo e passou a se chamar sistema misto, com inquisitivo na fase
de investigação e acusatório na fase de instrução (Rangel, 2016).
A Europa adota atualmente o sistema misto, com o juiz participando ativamente
da fase de investigação e o Ministério Público representa a acusação na fase instrutória,
quando o juiz assume a função de julgador e então são assegurados os direitos de defesa
do acusado.
INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 1
17
Percorrendo o caminho da investigação criminal, quer em seu conceito, quer em
sua evolução histórica, depreende-se que o objetivo investigativo sempre foi pautado na
punição do criminoso.
A vingança privada dos primórdios foi dando espaço ao direito de punir exclusivo do
Estado até chegar à preocupação em garantir justiça e, para isso, voltaram-se aos direitos e
garantias inerentes ao acusado. Independentemente de a investigação ser conduzida pelo
ofendido, pelo estado ou por órgão especíco, nota-se que não houve evolução somente
dos detentores do poder de investigar, mas dos métodos investigativos.
A partir desse desenvolvimento, os objetivos da investigação também passaram
a ser mais complexos e detalhados, ainda que a ideia central de punir o autor do crime
permaneça como principal objetivo.
Nos ensinamentos de Eliomar Silva Pereira, a concepção teórica da investigação
criminal como atividade cienticamente orientada tempor nalidade a obtenção de respostas
utilizando para esse m, conhecimentos teóricos anteriores, organização de dados obtidos
e registrados e meticulosamente analisados (Pereira, 2022).
Ainda segundo o mesmo autor, as respostas que a investigação busca a partir de
uma notitia criminis são: o que (que crime, sua existência e espécie), quem (sua autoria) e,
por último, quando, onde, como, por que e para que (suas circunstâncias) (Pereira, 2022).
Seguindo o roteiro acima, a investigação deve focar em coletar as evidências do
crime, como impressões digitais, marcas de sangue, testemunhas, documentos, entre
outros.
OBJETIVOS DA 
INVESTIGAÇÃO
TÓPICO
INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 1
18
Após a coleta dos vestígios, por assim dizer, deve-se ocupar em identicar os
autores e coautores, quando houver, determinar quem são e relacioná-los por meio das
provas à prática do delito.
A última pergunta a ser esclarecida é a circunstância em que o crime ocorreu,
incluindo o local, o horário, o motivo e as motivações, como aconteceu, estabelecendo uma
narrativa coerente dos fatos.
Desvendados os caminhos da investigação e preenchidos seus objetivos
preliminares, resta o múltimoaque a investigação objetiva: a imputação penal do criminoso.
Discorre Pereira (2022) que o m da investigação pressupõe uma interpretação
fática das provas e jurídica das normas e de uma teoria do crime para chegar à imputação
jurídica, ou seja, à responsabilização penal do agente.
Concluindo a investigação criminal, a descoberta da verdade dos fatos é preciso
fazer justiça com a punição do criminoso, mas sem se descuidar da garantia de seus direitos,
permitindo um equilíbrio entre o direito da vítima de reparação e a preservação dos direitos
fundamentais do criminoso.
Também pode ser considerado um objetivo da investigação, ainda que secundário,
prevenir futuros crimes, através da identicação de padrões de comportamento criminoso
(auxiliado pela psicologia forense), áreas de risco e métodos das operações criminosas,
ajudando no desmembramento de organizações e auxiliando em outras investigações.
A garantia da ordem pública, igualmente, demonstra à sociedade a não impunidade
e o cumprimento da lei, gerando sentimento de segurança jurídica e respeito às instituições
da justiça.
Em suma, os objetivos da investigação criminal consistem em coletar evidências,
identicar os autores do crime, esclarecer os fatos, prevenir futuros crimes e promover a
justiça e a ordem pública, contribuindo com o sistema judiciário.
INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 1
19
Evidenciados os objetivos da investigação criminal e ressaltada a necessidadede
proteção e garantia dos direitos fundamentais do acusado, sem, contudo, se descuidar dos
direitos essenciais da sociedade, resta claro que a investigação se permeia por princípios
e normas, tanto em sua esfera de disciplina autônoma, como integrante do direito penal e
processual penal.
José Cretela Junior (p. 7, apud Mossin, 2014, p. 10) bem expõe: “princípios de
uma ciência são as proposições básicas, fundamentais, típicas que condicionam todas as
estruturações subsequentes. Princípios, nesse sentido, são os alicerces da ciência”.
Assim, como ciência independente e, ao mesmo tempo, integrada aos ramos do
direito, interessante parece a classicação principiológica apresentada pelo autor Santos,
em que a investigação se norteia em princípios técnicos, jurídicos e lógicos.
Por princípios técnicos, pode-se entender os práticos, utilizados durante o processo
investigativo, podendo ser citados: princípio da correspondência, transferência, imediatismo,
oportunidade, surpresa, equilíbrio e controle, representação racional do fato e contingência
(Santos, 2022).
• Princípio da correspondência: analisar a interação entre dois objetos que deixam
marcas entre si em uma relação causal;
• Princípio da transferência: analisar o vínculo causado pela transferência de
resíduos do autor, da vítima e da cena do crime reciprocamente;
• Princípio do imediatismo: iniciar a investigação tão logo se tem a notícia do
crime para não perder evidências;
PRINCÍPIOS DA 
INVESTIGAÇÃO 
CRIMINAL
TÓPICO
INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 1
20
• Princípio da oportunidade: liberdade do investigador para determinar diligência,
avaliando aptidão, necessidade, conveniência e efetividade para o mpretendido;
• Princípio da surpresa: reposta imediata, eciente, no curso da investigação,
que pode alterar seus rumos para se obter resultado satisfatório;
• Princípio do equilíbrio e controle: em que o investigador conhece todas as
ações e informações, mantendo estável e controlado o desenvolvimento da
investigação;
• Princípio da representação racional do fato: o investigador faz um exercício
mental de reconstrução do crime, no tempo, espaço, levando causa e efeito em
consideração para apresentar uma teoria;
• Princípio da contingência: admite que a conclusão da investigação é possível e
não necessariamente uma verdade.
No tocante aos princípios jurídicos, além de inúmeros, são bastante conhecidos,
principalmente pelos estudantes do Direito. Dessa forma, não será despendido tempo aqui
para detalhá-los, apenas serão citados alguns deles.
Norteiam a investigação criminal os princípios do investigador natural, da integridade
física e moral do investigado, estado de inocência, idoneidade dos meios, igualdade das
partes, eciência, etc.
Enquanto investigação associada ao direito penal e processual penal, pode-se
acrescentar, ainda, da legalidade, do devido processo legal, moralidade, vedação de prova
ilícita, proporcionalidade, entre outros.
No que tange aos princípios lógicos, são aqueles utilizados pelo investigador em
seu diálogo com o raciocínio lógico durante o processo investigativo, sendo eles a abdução
e melhor hipótese (Santos, 2022).
• Princípio da abdução: diante de um evento criminal, o investigador constrói
hipóteses explicativas e elabora consequências experimentais ou diligenciais
para observar no nal se a consequência esperada foi ou não atingida.
• Princípio da melhor hipótese: o investigador analisa dentre as hipóteses aquela
que melhor se encaixa conforme as provas legítimas e éticas, descartando as
hipóteses prematuras e desprovidas de embasamento legal.
Desse modo, pautados nos princípios técnicos, jurídicos e lógicos, a investigação
forense “costura” suas técnicas próprias com as normas jurídicas e, ao mesmo tempo, sua
estrutura lógica capaz de fornecer, com excelência, conclusões legítimas para embasar
uma ação penal.
INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 1
Professor(a) Esp. Nicole Bechelli Menolli
TÉCNICAS DE 
INVESTIGAÇÃO 
FORENSE
UNIDADE
28
Como já estudado anteriormente, um dos objetivos da investigação é dar suporte
a uma futura ação penal. Dessa forma, pode-se chamar a fase de investigação de pré-
processual, onde serão juntadas provas e serão apresentadas conclusões que servirão de
base para a instrução processual.
Todo crime deixa vestígios, estes devemser coletados e analisados comoevidências
do fato ocorrido na tentativa de se descobrir como ocorreu, quando, onde e por quem.
IMAGEM 01 - EVIDÊNCIAS
Fonte: SHUTTERSTOCK. s/d. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/evidence-bag-
police-scientific-laboratory-conceptual-1311861737. Acesso em: 05 de set. de 2024.
TÉCNICAS DE 
INVESTIGAÇÃO 
FORENSE
TÓPICO
TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 2
29TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 2
Uma vez coletadas e bem embasadas, as evidências constituem provas a serem
apresentadas e, demonstrados indícios sucientes de autoria e da materialidade delitiva,
estão congurados os requisitos fundamentais para instaurar uma ação criminal.
Entretanto, por ser a investigação forense uma ciência dotada de técnicas emétodos
próprios para descoberta dos delitos, não ca a arbítrio de quem investiga criar métodos
ou agir como melhor lhe convém, mas seguir técnicas condizentes com a disciplina forense
sob pena de inviabilizar uma futura ação.
Assim, é fundamental que a investigação seja conduzida por autoridade competente,
que sejam aplicadas as técnicas próprias, pois quanto mais credibilidade e menor margem
de erro apresentarem, maior sua ecácia e aproveitamento para o futuro processo.
Mas uma pergunta que surge é: Quem pode conduzir uma investigação?
O artigo 4° do Código de Processo Penal estabelece que cabe à polícia judiciária
apurar as infrações penais e sua autoria.
No âmbito da União, a atribuição investigativa é da Polícia Federal (artigo 144, § 1°,
inciso IV, da Constituição Federal), nos Estados, da Polícia Civil (artigo 144, § 4° da CF), e
em crimes militares, da Polícia Judiciária Militar, órgão normalmente integrante da própria
corporação da Polícia Militar (Demercian; Maluly, 2023).
CabeentãoàPolíciaasprimeirasprovidênciasaseremtomadasquandocomunicada
da ocorrência de um delito. É tarefa do policial atuar tanto na repressão dos crimes como
na investigação dos mesmos.
Bem explica a importância da atuação policial, o doutrinador Marcelo Mendroni:
Nos casos em que não seja possível perseguir o autor do delito, também é a
Polícia quem recebe, – normalmente, a notitia criminis, e deve, em seguida,
sendo o caso, tão pronto possa, trabalhar para tentar preservar intacto o
locus delicti, bem como coletar os dados que possam ter qualquer relação
com a sua prática, é dizer, tudo o que possa orientar posteriormente a Justiça
a entender “como”, “quem” e o “porque” da prática do delito, valendo-se para
tanto do importantíssimo trabalho da Polícia técnica-cientíca (Mendroni,
2013, p. 322).
A polícia, chamada de técnico-cientíca, é uma divisão, por assim dizer, da polícia,
responsável por conduzir a investigação, utilizando-se de técnicas forenses para coleta de
dados, análise das evidências, realização de perícias e formulação de relatórios criminais.
Mendroni (2013) ressalta a necessidade de o agir imediato da polícia para que
nenhuma evidência se perca no tempo e que quanto mais indícios consiga apurar, maior a
chance de desvendar o crime.
30TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 2
Em um segundo momento, após a atuação policial na investigação, entra a
atuação do Ministério Público, órgão responsável por analisar as informações e evidências
coletadas pela Polícia, devendo atuar em cooperação, cada um dentro de sua esfera de
responsabilidades na investigação.
No próximo tópico, será aprofundado o assunto da investigação conduzida pelo
Ministério Público.
Esclarecido quem detém o poder de conduzir a investigação criminal, passa-se a
apreciação do tema principal deste tópico. Se a investigaçãoforense precisa obedecer a
técnicas e métodos próprios, quais são eles?
Santos (2022) apresenta uma interessante linha de técnicas de investigação
divididas quanto ao tempo, ao modo, à matéria e aos sujeitos:
A. Quanto ao tempo – o imediatismo e a oportunidade seriam instigadores do
agente para agir antes que os vestígios sejam dispersos no tempo e no espaço,
buscando aomesmomomento amelhor tática a ser seguida para o caso concreto.
B. Quanto ao modo – seria a análise do crime sob a reconstrução da forma como
ele ocorreu, cabendo também os meios, sendo as armas empregadas no delito,
de forma que conrmem ou não as hipóteses levantadas, em um verdadeiro
exercício mental bastante difundido nas academias policiais.
C. Quanto a matéria – o autor faz sua relação com as disciplinas coparticipantes,
como já apresentado na unidade 1 da apostila, em que as matérias da psicologia,
química, física, medicina forense, entre outras se associam a investigação
criminal, dando-lhe suporte e conclusões dedignas baseadas no conhecimento
especíco de cada disciplina participante.
D. Quanto o sujeito – refere-se à legitimidade para conduzir a investigação,
subdividindo-a em típica, sendo a realizada pela polícia investigativa; atípica,
sendo realizada acidentalmente por órgãos de scalização (exemplos: Bacen,
SRFB, CADE, INSS) quando detectam crimes; e subsidiário, sendo feito pelo
Ministério Público como órgão acusador e pelo advogado como parte defensiva.
Aprofundando a classicação de Santos (2022), quando se refere ao tempo da
investigação, a autoridade policial pode agir reconstruindo no presente o crime ocorrido no
passado através dos vestígios deixados na cena do delito, ou pode percorrer o inverso, em
que busca no passado indícios criminais semelhantes que possam servir de embasamento
para esclarecer o crime ocorrido no presente.
Uma terceira possibilidade seria para a polícia preventiva, na tentativa de evitar
novos crimes, utilizar-se de vestígios do presente e do passado para prevenir crimes futuros,
31TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 2
tendo por base circunstâncias comuns a certos tipos de crimes que constituem sua base
fenomenológica.
Desse modo, o investigador consegue, por sua experiência e técnica aprendida,
identicar, pela cena do crime, o melhor método a ser aplicado, bem como a delimitar, em
determinadas situações, que tipo criminal tem diante de si e quais fatores integram seu
modus operandi.
A investigação pode concentrar-se mais no sujeito criminoso, por meio de traçado
de seu perl psicológico, ouvindo testemunhas, examinando o meio, o modo e a execução
do crime na tentativa de delimitar possíveis autores (Santos, 2022).
Pode, também, concentrar-se mais no objeto do crime com a análise dos vestígios
materiais deixados na cena e na vítima, buscando detalhes de como tudo aconteceu e do
porquê, mais do que focar em quem cometeu o delito.
Pereira (2011, p. 47, apud Santos, 2022, p. 5) defende uma organização e uma
descrição sistemática de meio, modo e motivo de alguns tipos penais para consulta e
exploração pelos criminalistas. Veja o exemplo de tabela:
TABELA 1 - FENOMENOLOGIAS CRIMINAIS
CRIME MEIO MODO MOTIVO
HOMICÍDIO
Arma de fogo.
Arma branca. Veneno.
Fogo.
Asxia.
Atropelamento.
Crueldade. Traição.
Emboscada.
Premeditação.
Vingança, Futilidade,
Torpeza, Ódio,
Vaidade, Poder,
Avareza, Vilania,
Amor, Piedade,
Infâmia, Político.
ROUBO
Arma de fogo, arma
branca, explosivo,
soco, pontapé,
porrete.
Ameaça, violência,
rompimento,
destruição, agressão.
Avareza, desejo de
lucro, inveja, torpeza,
vingança, miséria,
ganância.
COLARINHO
BRANCO
Difuso, compra de
imóvel, veículos,
joias, obras de arte,
falsidade ideológica,
laranjas.
Sonegação, lavagem
de dinheiro, negócios
fraudulentos,
corrupção, lobby.
Sucesso prossional,
prestígio, poder,
ganância,
egoísmo, político,
enriquecimento fácil.
Fonte: Adaptado de Santos (2022).
Segundo Santos (2022), o uso desse tipo de tabela de natureza descritiva e analítica
tem por objetivo compor as orientações internas de uma unidade investigadora, podendo
32TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 2
até ser composta conforme a especialização das unidades policiais e, não, presunção de
ser utilizada em caráter normativo externo.
Esses são alguns exemplos de técnicas forenses utilizadas na investigação criminal,
levando-se em conta um panorama de análise e interpretação do crime sob o aspecto mais
cognitivo.
Portanto, até o modo de agir e raciocinar da polícia cientíca é ordenado por
rigorosas técnicas colocadas em prática a partir da análise das evidências criminais e
formam relevante metodologia para se obter resultados satisfatórios na investigação.
Entretanto, quando mencionadas as técnicas de investigação forense, o que vem
logo à cabeça é o exame de DNA, de balística, etc., que são as técnicas mais práticas
propriamente ditas e também de suma importância para a investigação.
A maioria das técnicas práticas são denominadas de perícia e serão dedicadas as
duas próximas unidades da apostila a esses exames para haver uma melhor compreensão
no assunto.
Cabe aqui a menção de algumas, apenas para contextualização das técnicas
práticas:
• O exame de DNA é um exame biológico realizado com amostra de sangue,
cabelo ou saliva e permite com precisão a identicação de um indivíduo.
• O exame de balística utiliza-se da física para analisar o trajeto do projetil em caso
de disparo com arma de fogo, a entrada e saída da bala. Consegue identicar o
tipo, modelo e calibre da arma utilizada e uma série de outras peculiaridades do
projetil.
• O exame de impressão digital, permite identicar os sujeitos que estiveram da
cena do crime, mediante marcas deixadas em pessoas e objetos, por meio de
processos físicos e comparativos.
• Exames em documentos como cheques, contratos, cartas, permitem analisar
se há falsicação, alterações, como no exame chamado de grafoscopia, que
entre outras técnicas empregadas, consegue identicar o autor da letra por meio
de comparação entre os escritos.
Tem-se ainda como técnicas de investigação forense de cunho prático e não pericial,
a prova testemunhal, com o depoimento de pessoas envolvidas, e a prova documental,
levando-se em conta o conteúdo do documento.
Do ponto de vista legalístico, o Código de Processo Penal aponta o inquérito policial
como o instrumento da investigação e seu artigo 5° reza que, nas ações penais públicas a
33TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 2
polícia pode instaurar inquérito de ofício, por requisição do Juiz ou do Ministério Público, ou
ainda, por requerimento da vítima ou de seu representante.
Omesmo diploma legal, nos incisos do artigo 6°, enumera uma série de providências
a serem tomadas pela autoridade policial quando da noticação de um delito:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alteremo estado e conservação
das coisas, até a chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei n.º 8.862,
de 28.3.1994);
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos
peritos criminais; (Redação dada pela Lei n.º 8.862, de 28.3.1994);
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo
III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas
testemunhas que tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a
quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identicação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível,
e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, do ponto de vista individual, familiar
e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois
do crime e durante ele, e quaisqueroutros elementos que contribuírem para a
apreciação do seu temperamento e caráter.
X - colher informações sobre a existência de lhos, respectivas idades e se possuem
alguma deciência, e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados
dos lhos, indicado pela pessoa presas (incluído pela Lei n.º 13.257, de 2016)
(Brasil, 1941).
As providências elencadas acima são uma espécie de roteiro para a autoridade
policial seguir durante o inquérito, todas de ordem prática e de cunho bastante objetivo.
34TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 2
O artigo 7° autoriza a polícia a produzir uma simulação dos fatos para poder vericar
se o crime ocorreu deste ou daquele modo, mas deve garantir a manutenção da ordem
pública e da moralidade como pressupostos da autorização. Neste artigo, se vislumbra uma
técnica cognitiva da polícia buscando remontar o passado para entender o crime presente.
O inquérito deve ser todo redigido e terminar no prazo de 10 (dez) dias no caso de
ser o suspeito preso em agrante ou preso provisoriamente e em 30 (trinta) dias se estiver
solto (artigo 10, caput, do CPP).
Encerrado o prazo a autoridade policial fará um relatório minucioso para ser
encaminhado a autoridade judicial, devendo acompanhá-lo os instrumentos do crime
quando apreendidos e demais objetos que interessem a demanda, podendo ser inclusive,
indicadas testemunhas que não foram ouvidas no inquérito (§ 1° e 2° do artigo 10 e artigo
12 ambos do CPP).
Pela complexidade da investigação e não estando o investigado preso, a autoridade
policial pode requerer ao Juiz a devolução dos autos e a dilação do prazo para praticar
diligências (§ 3° do CPP).
A autoridade policial poderá decretar sigilo do inquérito, a seu critério, quando julgar
necessário ao bom andamento da investigação (artigo 20 do CPP).
O título II do Código de Processo Penal trata exclusivamente do inquérito policial
dos artigos 4° ao 23, além de diversas leis especiais que estabelecem outros procedimentos
que podem ser adotados pela autoridade policial com a devida autorização judicial, como
interceptação telefônica visando a verdade dos fatos investigados.
Apesar de ser uma fase pré-processual, o inquérito policial segue um conjunto
de princípios tais como legalidade, moralidade, indisponibilidade, celeridade, ocialidade,
entre outros, pois quanto mais validade tiver, maior seu aproveitamento na fase instrutória.
35
INVESTIGAÇÃO 
PELO MINISTÉRIO 
PÚBLICO
TÓPICO
TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 2
Após a investigação pela polícia judiciária com a coleta das evidências, passa-se
à investigação ao Ministério Público, que, como titular da ação penal pública, avalia as
evidências trazidas pela polícia e conrma se é caso ou não da propositura de uma ação.
IMAGEM 02:
Fonte:https://www.pexels.com/pt-br/foto/homem-de-jaqueta-preta-sentado-ao-lado-do-homem-de-jaqueta-
preta-6069511/. Acesso em: 05 de set. de 2024.
Existe divergência doutrinária acerca de a investigação criminal ser conduzida
diretamente pelo Ministério Público, pois alguns doutrinadores defendem que não há
previsão legal para tanto nem na Constituição Federal, nem no Código de Processo Penal,
sendo uma atribuição exclusiva da Polícia Judiciária. Nesta linha, seguem o advogado
36TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 2
Nélio Roberto Seidl Machado e o professor criminalista Antônio Evaristo de Moraes Filho
(Rangel, 2016).
Outra parte da doutrina defende a possibilidade, empregando como argumento
o parágrafo único do artigo 4° do Código de Processo Penal que, ao estabelecer que a
competência conferida à polícia não exclui a de outras autoridades administrativas as quais
a lei atribua igual função, estaria legitimando a atuação do MP (Rangel, 2016).
No caso de falta de investigação pela polícia ou de ser esta insuciente à elucidação
dos fatos, caberia ao Ministério Público tomar a frente das investigações, porquanto, se tem
a função de iniciar a ação penal pública, tem também a possibilidade de colher provas a m
de formar sua opinio delicti, defende o Promotor de Justiça do Estado da Bahia, Cristiano
Chaves de Farias (Farias apud Rangel, 2016, p. 163).
Nessa esteira segue o Professor Julio Fabbrinni Mirabete:
(...) Tem o Ministério Público legitimidade para proceder investigações e
diligências, conforme determinam as leis orgânicas estaduais. (...) Pode,
inclusive, intervir no inquérito policial em face da demora em sua conclusão
e pedidos reiterados de dilação de prazos, pois o Parquet goza de poderes
investigatórios e de auxílio à autoridade policial (Mirabete apud Rangel, 2016,
p. 162).
Bem fundamentada, parece a posição favorável da doutrina que autoriza o
Ministério Público a atuar subsidiariamente na investigação, trabalhando em cooperação e
complementação junto à polícia, a m de garantir a atividade jurisdicional.
A função, portanto, do MP é scalizar a legalidade da investigação e pode requisitar
à polícia provas que entender pertinentes, para que juntos no processo investigativo obtenha
indícios sucientes para encerrar as investigações e dar início a fase instrutória.
Na prática, diante de um crime, não sendo agrante delito, a vítima ou qualquer
interessado se dirige à Delegacia de Polícia onde é lavrado um Boletim de Ocorrência. A
partir de então, a polícia inicia a investigação, tomando o depoimento de pessoas envolvidas,
analisando documentos e demais coletas de evidências que julgar pertinentes para, ao
nal, fazer um relatório conclusivo (Mendroni, 2013).
Como já explicado no capítulo anterior, se o autor estiver preso, o prazo será
improrrogável de 10 (dez) dias para o término do inquérito, se estiver solto, 30 (trinta) dias,
admitindo prorrogação, se julgar conveniente.
Embora o pedido da autoridade policial seja dirigido ao Juiz, é aberto o prazo para
que o Ministério Público se manifeste acerca da dilação ou não, porque sendo o titular da
ação penal pública, é atribuição do MP oferecer a denúncia preenchidos os requisitos legais.
38
INVESTIGAÇÃO 
DEFENSIVA PELO 
ADVOGADO
TÓPICO
TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 2
Se a participação direta na investigação pelo Ministério Público divide opiniões,
quanto mais questionamentos são levantados com a possibilidade do advogado de defesa
participar do processo investigativo.
Por óbvio, a investigação criminal é atribuída ao poder público, representado
pela autoridade policial a priori e, como defendido no capítulo anterior, subsidiariamente,
pelo representante do Ministério Público, atuando com complementariedade ao trabalho
desenvolvido pela polícia.
IMAGEM 03 - ADVOGADO DE DEFESA
Fonte: Schutterstock (2024)
Porém, ter acesso à acusação somente na fase instrutória, após toda coleta de
evidências e provas contra o seu cliente, coloca o advogado, principalmente o de defesa,
em posição inferior ao órgão acusador.
39TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO FORENSEUNIDADE 2
Pensando em solucionar essa questão e evocando o princípio da paridade das
armas, princípio este que assegura igual direito à defesa e a acusação, o Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil, em 11 de dezembro de 2018, aprovou o Provimento
n.° 188 regulamentando o exercício da atividade investigativa no âmbito da advocacia,
denominada advocacia defensiva (OABPR, 2022).
O Código de Processo Penal autoriza em seu artigo 14 o requerimento de diligência
de advogado de defesa ou da vítima, podendo ou não ser deferido pela autoridade policial
e o que ocorre na maioria das vezes é o indeferimento (Talon, 2020).
Talon (2020) defende que, apesar de o inquérito policial ser fase pré-processual,
em que não há acusação formal e por esse motivo dispensa o contraditório e a ampla
defesa, inuência demasiadamente a fase instrutória.
Enquanto o órgão acusador direciona a investigação com o intuito de obter autoria
e materialidade delitiva, o advogado de defesa só consegue produzir provas na fase já de
instrução, quando poderia participar mais da investigação objetivandofavorecer o acusado
e justicar o arquivamento (Talon, 2020).
O Provimento n.° 188 respalda os advogados tanto da vítima quanto do acusado
a conduzirem sua própria investigação, produzindo provas, desde que sejam lícitas e
respeitadas as que dependam de autorização judicial para serem produzidas (OABPR,
2022).
Oartigo 4° do Provimento 188 enumera de forma exemplicativa alguns tipos de provas
que podem ser produzidas na investigação defensiva: colheita de depoimentos; pesquisa e
obtenção de dados e informações disponíveis em órgãos públicos e privados; determinar a
elaboração de laudos; exames periciais; e realizar reconstituições (OABPR, 2022).
O parágrafo único do artigo 4° do Provimento autoriza o advogado a contar com o
auxílio de outros prossionais, como detetives particulares, peritos, assistentes técnicos e
auxiliares de trabalho de campo (OABPR, 2022).
A investigação defensiva deve respeitar os deveres que norteiam a própria atividade
da advocacia, como os previstos no Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados
do Brasil, como respeitar a privacidade, honra, imagem e intimidade das pessoas; defender
com isenção, os direitos e as prerrogativas prossionais, zelando pela própria reputação da
classe; preservar o sigilo da informação, etc. (OABPR, 2022).
Como bem coloca Talon (2020), nem sempre o que interessa ao investigado estará
alinhado ao que as autoridades policiais pretendem provar com as investigações ociais,
por isso da importância da investigação conduzida pelo defensor.
Professor(a) Esp. Nicole Bechelli Menolli
PERÍCIA 
CRIMINAL
UNIDADE
47
Para iniciar este capítulo, é necessário esclarecer: O que é perícia?
Perícia é um exame realizado por determinada disciplina que detém especialidade
suciente e necessária na área de conhecimento exigida.
Davi Sala, em seu artigo publicado na Revista de Criminalística (2018), conceitua
perícia como sendo meio de prova produzido por expertise que testemunha sua impressão
sobre a possibilidade de fatos terem sido causados por acontecimentos reais e que
produzem outros que possam reetir em juízo de valor sobre esses mesmos fatos.
Hygino de Carvalho Hercules, professor de Medicina Legal e Deontologia, também
Perito Legista, com muita propriedade conceitua:
(...) se resultam vestígios duradouros dos fatos ocorridos, com a possibilidade
de serem detectados pelos nossos sentidos, o seu exame e registro devem
ser feitos obrigatoriamente. E por pessoas tecnicamente capacitadas para
fazê-lo. O exame desses elementos materiais, quando feito por técnico
qualicado para atender à solicitação de autoridade competente, é chamado
de perícia (Hercules, 2014, p. 17).
Vale destacar o conceito apresentado por Hercules (2014), que, ao se referir à perícia
criminal, menciona sua forma mais comum, que é a ocial. Essa perícia é realizada mediante
solicitação de uma autoridade, seja ela policial, do Ministério Público ou determinada pelo juiz.
O tema perito será abordado em outro capítulo desta unidade, motivo pelo qual se
prosseguirá sem maiores esclarecimentos aqui sobre a distinção de perícia ocial e não
ocial.
ASPECTOS 
GERAIS DA 
PROVA PERICIAL
TÓPICO
PERÍCIA CRIMINALUNIDADE 3
48PERÍCIA CRIMINALUNIDADE 3
E, como já mencionado na unidade anterior, a perícia integra o rol das técnicas de
investigação forense em seu aspecto mais prático e, na maioria das vezes, constitui prova
irrefutável, tamanha precisão de seus resultados.
As perícias realizadas na fase de investigação, chamada de pré-processual, são
apresentadas como meios de provas na fase processual, bem como podem ser realizadas,
também, novas perícias, durante o processo.
Então, se perícia é um tipo de prova, quais são as demais modalidades de provas
produzidas em um processo criminal?
Asprovas podemser classicadas emnominadas, aquelas previstas expressamente
na legislação penal ou processual penal, e inominadas, aquelas não previstas, mas que são
em Direito admitidas, em nome do Princípio da Busca da Verdade Real (Mendroni, 2013).
Entre as provas nominadas estão a testemunhal, reconhecimento de pessoas e
coisas, acareação, documental, indícios, busca e apreensão, interrogatório do acusado,
bem como exame de corpo de delito e as perícias em geral (Mendroni, 2013).
O depoimento de testemunhas é uma prova que pode ser produzida tanto na fase
de inquérito quanto na fase processual, como a maioria das provas, podendo inclusive o
Juiz da instrução ouvir outras testemunhas que não sejam as mesmas da fase de inquérito.
Enquanto a fase de investigação se preocupa em coletar indícios para servirem
de prova, sua consolidação e validação só serão efetivadas na fase processual com a
supervisão do Juiz.
Acareação é um procedimento em que se coloca duas pessoas com depoimentos
conitantes frente a frente, para ser esclarecido o(s) ponto(s) divergentes nos depoimentos
e a verdade dos fatos seja revelada (artigo 229 e parágrafo único do CPP).
Cabe acareação entre ofendido e acusado, entre testemunhas, entre testemunha
e acusado e entre ofendido e testemunha, geralmente em presença do Juiz, Promotor e
advogado das partes (artigo 230 do CPP).
Reconhecimento de pessoas e coisas está previsto nos artigos 226 a 228 do Código
de Processo Penal e permite que a testemunha ou o ofendido reconheça o suspeito da
prática de um crime, ou objetos que estejam relacionados ao crime.
O reconhecimento de pessoa pode ser feito por meio de descrição do suspeito pela
testemunha ou vítima; por meio de avaliação de fotograas ou lmagens com a indicação
do suspeito; ou ainda colocando o suspeito entre várias outras pessoas com características
semelhantes e convidando quem deve proceder o reconhecimento a apontá-lo.
49PERÍCIA CRIMINALUNIDADE 3
Neste último, caso o ofendido ou testemunha possa se sentir intimidado em apontar
o suspeito, poderá fazê-lo sem ser visto por ele, conforme estabelece o inciso III do artigo
226 do CPP.
Importante mencionar que o reconhecimento de coisas pode ser feito tanto por
testemunhas e/ou ofendido como por meio de exame pericial na tentativa de identicar
marcas distintivas e demais peculiaridades capazes de conrmar tal identicação.
Busca e apreensão: é o procedimento autorizado pelo Poder Judiciário para prender
criminosos, apreender pessoa vítima de crime, objetos falsicados, armas e munições,
cartas e documentos objetos de crime, bem como colher qualquer elemento de convicção
(parágrafo 1° do artigo 240 do CPP).
Disciplina: a busca e apreensão dos artigos 240 a 250 do Código de Processo
Penal, trazendo as regras para que tal medida seja permitida, como a necessidade de
mandado judicial para busca domiciliar quando não realizada pela autoridade policial ou
judiciária pessoalmente.
Essas são algumas das principais provas nominadas utilizadas nos processos
criminais e é preciso estudá-las, uma vez que a perícia é considerada meio de prova, sendo
assim, muitas das regras aplicadas para uma modalidade se aplicam subsidiariamente a
outra.
As provas inominadas, por seu turno, são inúmeras e dicilmente serão
desconsideradas, desde que não contrariem de maneira insanável os direitos e garantias
individuais constitucionais, não sejam meramente repetitivas ou procrastinatórias, ou
apresentadas em momento inoportuno dentro do processo (Mendroni, 2013).
Na fase de inquérito não há formalização de acusação, mas apenas investigação
que ocorre muitas vezes em sigilo, porém na fase processual cada prova produzida pela
parte deve dar oportunidade a outra de exercer o princípio do contraditório e da ampla
defesa, podendo rebater a prova, bem como produzir outra a seu favor.
Outro aspecto relevante das provas é sua admissibilidade, que como explica
Mendroni (2013) é a autorização do Juiz para sua ingressão aos autos, enquanto uma
primeira análise, cabendo no momento oportuno, da sentença de mérito, a segunda análise,
consistente no juízo de valoração da prova e na formação do convencimentodo Juiz.
Hercules (2014) defende que a perícia, por sua tecnicidade e embasamento
cientíco, tem valor probatório maior e pode se sobrepor a depoimento testemunhal e
conssão do acusado que sejam contraditórios à prova pericial, porém o juiz é livre para
apreciar as provas, sendo lícito que descarte laudo pericial mediante fundamentação.
50PERÍCIA CRIMINALUNIDADE 3
Trata-se do princípio do livre convencimento do Juiz, conhecido também como
princípio da persuasão racional ou da livre valoração das provas em que o Juiz tem
autonomia para apreciar as provas e valorá-las formando sua convicção de acordo com
sua experiência e razão na busca de uma decisão justa e imparcial.
As provas podem ser classicadas também como lícitas e ilícitas, sendo as lícitas
obtidas por meios legais, em consonância com o ordenamento jurídico, e as ilícitas de forma
contrária. Estabelecendo o artigo 157 do CPP, que são inadmissíveis as provas ilícitas,
assim entendidas como as obtidas com violação às normas legais e constitucionais.
Dispõe ainda, o parágrafo 5° do artigo 157 do CPP, a proibição ao juiz de proferir
sentença quando conhecer da prova declarada inadmissível.
Apreciando mais sobre as perícias e demais provas criminais, o próximo passo é
conhecer as modalidades de perícias que o CPP abarca.
51
O Código de Processo Penal, em seu título VII, capítulo II, regulamenta o exame de
corpo de delito, a cadeia de custódia e as perícias em geral, dos artigos 158 a 184.
O exame de corpo de delito é um exame pericial que deve ser realizado quando
do crime se resultam vestígios materiais, elementos que alteram o ambiente de modo
perceptível aos sentidos humanos, como homicídio e lesão corporal, por exemplo (Hercules,
2014).
IMAGEM 01 - VESTIGÍOS MATERIAIS
Fonte: PEXELS. s/d. Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/mao-asfalto-rua-levando-10481293/.
Acesso em: 20 set. 2024.
MODALIDADES 
PREVISTAS NO CÓDIGO 
DE PROCESSO PENAL
TÓPICO
PERÍCIA CRIMINALUNIDADE 3
52PERÍCIA CRIMINALUNIDADE 3
Nem todo crime deixa vestígiosmateriais como uma ameaça ou injúria, por exemplo,
mas todos os delitos capazes de deixar essas alterações devem ser objeto de corpo de
delito, não podendo o exame pericial ser substituído por outros meios de prova como a
conssão do acusado (caput do artigo 158 do CPP).
Hercules (2014, p. 18) sobre o exame de corpo de delito esclarece:
Esses elementos sensíveis, objetivos, devem ser alvo de prova, obtida pelos
meios que o direito fornece. Os técnicos dirão da sua natureza e estabelecerão
o nexo entre eles e o ato ou omissão por que se incrimina o acusado. O
exame de corpo de delito deve realizar-se o mais rapidamente possível, logo
que se tenha conhecimento da existência do fato (Hercules 2014, p. 18).
Pode-se citar aqui o princípio do imediatismo da investigação criminal, pois é
urgente que se faça a perícia antes que desapareçam no tempo e no espaço os indícios do
crime de forma irrecuperável.
Entretanto, se isso acontecer, o artigo 167 do CPP estabelece que a prova
testemunhal pode suprir a falta, tanto do exame em si como da sua complementação,
recebendo o nome de corpo de delito indireto.
Em casos de lesão corporal, estando incompleto o primeiro exame de corpo de
delito, poderá ser realizado exame complementar por determinação de autoridade judicial
ou policial, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido, do acusado ou
de seu defensor (artigo 168 do CPP).
O capítulo II, do título VII do CPP, se preocupa em regulamentar a cadeia de
custódia, que nada mais é do que todo procedimento utilizado desde a coleta até o descarte
das evidências de um crime que serão objetos de perícia.
Ou com mais detalhes, o artigo 158-A do CPP conceitua-se como sendo o conjunto
dos procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio
coletado, servindo para rastrear sua posse e manuseio a partir do reconhecimento até o
descarte.
O artigo 158-B do CPP e seus incisos especicam cada etapa da cadeia de custódia
que compreende:
• Reconhecimento (daquilo que realmente interessa ser submetido à perícia);
• Isolamento (evitar que se altere o estado das coisas);
• Fixação (descrição detalhada do vestígio);
• Coleta (recolher o vestígio);
53PERÍCIA CRIMINALUNIDADE 3
• Acondicionamento (embalar cada vestígio de forma individualizada para
posterior análise, com anotação de data, hora e nome de quem realizou o
acondicionamento);
• Transporte (transferência do vestígio garantindo a manutenção de suas
características originais);
• Recebimento (ato formal de transferência devidamente documentado);
• Processamento (exame pericial em si);
• Armazenamento (guarda em condições adequadas e seguras);
• Descarte (liberação do vestígio, respeitada a legislação vigente e mediante
autorização judicial quando necessário).
Todo o procedimento é minuciosamente descrito no CPP dos artigos 158-A a 158-F
com o m de impedir que as evidências sejam perdidas, alteradas ou acessadas por quem
não tenha a devida permissão, de modo a não adulterar as provas e consequentemente o
veredicto do processo.
Outro exame pericial disciplinado no CPP é a autópsia, exame este feito em cadáver
por médico legista para determinar a causa do óbito, horário aproximado e identicar demais
circunstâncias que possam ter contribuído ou estar relacionadas com a morte.
Enquanto o exame de corpo de delito pode ser realizado em qualquer dia e horário
(artigo 161 do CPP), a autópsia deve ser feita pelo menos 6 (seis) horas depois do óbito,
salvo se os peritos julgarem, pela evidência dos sinais de morte, que pode ser feita antes
(artigo 162 do CPP).
O parágrafo único do artigo 162 do CPP dispensa a necessidade de exame interno
no cadáver quando a morte foi violenta e não houver infração penal a apurar ou as próprias
lesões externas forem sucientes para determinar a causa mortis.
Aexumação do cadáver de que trata os artigos 163 a 166 doCPPéumprocedimento
pericial em um corpo já sepultado, sendo necessário desenterrar o cadáver para então
proceder novos exames e apurar novas evidências em dia e hora previamente marcados
pela autoridade que requisitou/autorizou a exumação.
O cadáver deve ser fotografado na posição em que for encontrado, bem como as
lesões e evidências externas deixadas na cena do crime (artigo 164 do CPP).
O artigo 166 e seu parágrafo único do CPP dispõem sobre o exame pericial de
identicação do cadáver exumado quando houver dúvida sobre sua identidade. Tal
identicação deverá ser feita pelo Instituto de Identicação e Estatística, repartição
congênere ou por testemunha.
54PERÍCIA CRIMINALUNIDADE 3
Após, será lavrado auto de reconhecimento e de identidade com a descrição
do cadáver e seus sinais característicos, também deverão ser guardados os objetos
encontrados que possam servir para identicação do morto.
A perícia no local da ocorrência do crime está prevista no artigo 169, caput e
parágrafo único do CPP, e estabelece que cabe à autoridade policial manter o local isolado,
impedindo que alterações ocorram na cena do crime até a chegada dos peritos para análise
do lugar.
Os peritos registrarão tudo em laudos, munidos com fotograas, desenhos e
esquemas elucidativos, inclusive alteração no estado das coisas e as consequências para
a dinâmica dos fatos.
Quanto às perícias realizadas em laboratórios, prevê o artigo 170 do CPP que seja
conservado o material para eventual repetição de perícia e seja acompanhando o laudo,
quando necessário, de provas fotográcas, microfotograas, esquemas ou desenhos.
Em delitos cometidos com destruição ou rompimento de obstáculos à subtração da
coisa, ou por escalada, cabe à perícia a descrição dos vestígios, indicação dos instrumentos,
porque meio e em que época se presume a ocorrência, artigo 171 do CPP (Brasil, 1941).
A perícia de avaliação econômica do bem destruído pode ser feita diretamente por
meio da avaliação do próprio objeto do crime ou indiretamente por meioda avaliação dos
elementos constantes nos autos, artigo 172, caput e parágrafo único do CPP (Brasil, 1941).
A perícia em casos de incêndio, artigo 173 do CPP, analisará quando e onde
começou, o perigo proporcionado à vida e ao patrimônio, extensão do dano e seu valor,
além de outros elementos relevantes à elucidação dos fatos.
Aúltima perícia explicitada no CPP é a realizada em documentos, também chamada
de perícia grafotécnica, em que a veracidade de documentos é colocada à prova por meio
de comparação de letras, artigo 174 do CPP (Brasil, 1941).
Na perícia grafotécnica, a pessoa da qual se pretende comprovar a veracidade
ou inveracidade dos escritos será chamada a comparecer à perícia, sempre que possível,
sendo utilizados para comparação da letra, escritos da pessoa dos quais não restam dúvidas
sobre a autenticidade.
Pode, também, ser requisitado de repartições públicas documentos escritos pela
pessoa, mas sendo inexistentes ou insucientes, a pessoa avaliada será requisitada para
escrever o que os peritos assim ditarem.
Esclarecido sobre os tipos de perícias, é imperativo saber sobre os prossionais
que realizam a perícia: os peritos.
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É interessante que, ao procurar o conceito de perito, o que se encontra é sua
inclusão no conceito de perícia, denido como parte de um mesmo conceito. Logo, se
perícia criminal é o exame realizado em vestígios relacionados a um evento criminoso por
prossional qualicado, este prossional recebe o nome de perito.
IMAGEM 02 - PERITOS EM AÇÃO
Fonte: Schutterstock (2024).
Nas palavras de Capez e Alvarenga:
O termo perícia, originário do latim peritia (habilidade especial), é um meio de
prova que consiste em um exame elaborado por pessoa, em regra prossional,
dotada de formação e conhecimentos técnicos especícos, acerca de fatos
necessários ao deslinde da causa (Capez, 1998, apudAlvarenga, 2020, p. 11).
PERITOS PROFISSIONAIS E 
ASSISTENTES TÉCNICOS
TÓPICO
PERÍCIA CRIMINALUNIDADE 3
56PERÍCIA CRIMINALUNIDADE 3
Corroborando com a denição de Capez, Alvarenga (2020) ensina que o perito é o
prossional que detém capacitação especíca em determinada matéria, objetivando coletar
informações e esclarecer questões relativamente à sua especialidade.
O Código de Processo Penal, em seu artigo 159, coloca que o exame de corpo
de delito e outras perícias devem ser realizados por perito ocial, portador de diploma em
curso superior.
Na falta do perito ocial, o parágrafo primeiro traz a opção de ser feito por dois peritos,
prossionais idôneos, também portadores de diploma em curso superior, preferencialmente
na área especíca, com conhecimento técnico relacionado à natureza do crime.
Mas qual a diferença entre perito ocial e não ocial?
Segundo a Lei 12.030/2009, artigo 2°, para o exercício da atividade de perícia
ocial criminal é exigido concurso público, com formação acadêmica especíca, para o
provimento do cargo (Bittar, 2023).
Assim, perito ocial é cargo público exigido para exercer a atividade pericial de
natureza criminal, mas na ausência de tal prossional, são admitidos dois peritos não
ociais com conhecimentos na área em que deva atuar.
Outra diferença é que o perito ocial só presta compromisso em dizer a verdade
no momento da sua investidura no cargo público, enquanto aos não ociais cabe prestar o
compromisso em cada nomeação, respeitando o parágrafo 2° do artigo 159 do CPP.
Tanto o perito ocial como o não ocial estão sujeitos às normas judiciárias e as
partes não poderão intervir na nomeação dos peritos (artigos 275 e 276 do CPP).
Ao lado do perito, existe a gura do assistente técnico que atuará no processo a
partir da autorização do juiz para sua ingressão e, após, a conclusão dos exames e do
laudo apresentado pelos peritos ociais (§4º, artigo 159 do CPP).
Com isso, permite a lei que as partes no processo possam ser acompanhadas por um
especialista, de sua escolha, com a função de orientar, acompanhar o trabalho dos peritos,
além de terem oportunidade de se manifestarem no processo e serem ouvidos pelo juiz.
OMinistério Público, o assistente de acusação, o ofendido, o querelante e o acusado
poderão indicar um assistente técnico e formular quesitos (§ 4º, artigo 159 do CPP).
Durante o processo, é facultado às partes, desde que respeitado o prazo mínimo
de 10 (dez) dias de antecedência, requerer a oitiva dos peritos para esclarecimentos ou
responder a quesitos (artigo 159, § 5°, I do CPP).
Indicando às partes assistente técnico, o juiz xará prazo para apresentarem
pareceres ou para ser inquirido em audiência (artigo 159, §5º, II do CPP).
57PERÍCIA CRIMINALUNIDADE 3
O parágrafo sexto do mesmo artigo traz a possibilidade dos assistentes técnicos,
caso as partes requeiram, analisarem o mesmo material examinado pelos peritos, desde
que no local ocial de conservação, na presença dos peritos ociais.
Em se tratando de perícias mais complexas que envolvam mais de uma área de
conhecimento especializado, o juiz poderá nomear mais de um perito ocial e as partes,
mais de um assistente técnico (artigo 159, §7º do CPP).
Havendo divergência entre os peritos, serão consignados nos autos ambos os
laudos com as respectivas declarações e respostas e a autoridade nomeará um terceiro. Se
o terceiro divergir dos dois primeiros, poderá a autoridade mandar proceder a novo exame
por outros peritos (artigo 180 do CPP).
É função do perito vericar o fato pelo qual foi nomeado, indicar a causa que o
motivou, dar sua opinião embasada cienticamente, elaborar um laudo minucioso de tudo
o que observou e responder aos quesitos formulados (Bittar, 2023).
Bem expõe Hercules (2014, p. 19) sobre a função do perito:
No exercício de sua alta missão, pode proceder a todas as indagações que
julgar necessárias, devendo consignar, com imparcialidade exemplar, todas
as circunstâncias, sejam ou não favoráveis ao acusado. Expondo sua opinião
cientíca, o perito age livremente, é senhor de sua vontade, das suas convicções,
não podendo ser coagido por ninguém, nem pelo juiz, nem pela polícia, no
sentido de chegar a conclusões preestabelecidas (Hercules 2014, p. 19).
Embora haja essa concordância da liberdade emque o perito tempara desempenhar
sua função, o Código de Processo Penal traz algumas regras a serem aplicadas ao trabalho
pericial, tais como prazos, sanções, impedimentos e suspeições do perito.
O parágrafo único do artigo 160 doCPPestabelece o prazomáximo de 10 (dez) dias,
podendo ser excepcionalmente prorrogável a requerimento do perito, para a elaboração do
laudo pericial.
Se for caso de exame complementar para classicar o delito em lesão corporal com
incapacidade para ocupações habituais, o exame deverá ser feito em 30 (trinta) dias da
ocorrência do delito (artigo 168, §2° do CPP).
Em caso de o laudo ser obscuro, contraditório ou omisso em algum aspecto, o juiz
poderá mandar que seja complementado, esclarecido ou suprido em alguma formalidade,
podendo requerer nova perícia por outro perito se julgar necessário (artigo 181, caput e
parágrafo único do CPP).
É obrigação do perito aceitar a nomeação sob pena demulta, salvo escusa atendível,
sendo aplicada a mesma multa se injusticadamente o perito deixar de atender à intimação
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ou ao chamado da autoridade, não comparecer em dia e local designados para o exame,
não entregar o laudo no prazo ou contribuir para a não realização da perícia (artigo 277,
caput e parágrafo único do CPP).
O artigo 278 do CPP ainda explicita que o não comparecimento injusticado do
perito pode acarretar sua condução pela autoridade competente.
A Lei 12.030/2009, em seu artigo 2°, diz que é assegurada autonomia técnica,
funcional e cientíca da atividade do perito ocial criminal, podendo escusar-se de fazer a
perícia caso se sinta pressionado, servindo de justa causa e afastando, portanto, a aplicação
de multa (Bittar, 2023).
Não poderão atuar como peritos osmenores de 21 (vinte e um) anos, os analfabetos,
os sujeitos à interdição

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