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Interpretação e Produção de Textos

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Interpretação e Produção de Textos
JOÃO OLINTO TRINDADE JUNIOR
1ª Edição
Brasília/DF - 2022
Autores
João Olinto Trindade Junior
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4
Introdução ............................................................................................................................................................................. 6
Capítulo 1
Elementos da produção textual .............................................................................................................................. 7
Capítulo 2
Compreensão e interpretação de enunciados ..................................................................................................31
Capítulo 3
O leitor ...........................................................................................................................................................................52
Capítulo 4
Coesão e coerência ....................................................................................................................................................83
Capítulo 5
Tipos e gêneros textuais .......................................................................................................................................109
Capítulo 6
Estilística ....................................................................................................................................................................140
Referências .......................................................................................................................................................................169
4
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, 
objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para 
reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, 
serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e 
pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro 
Didático.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar 
para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento 
equivocado.
Importante
Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é 
origem, a fonte primária sobre um determinado assunto.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
5
ORganIzaçãO DO LIvRO DIDáTICO
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das 
sínteses/conclusões sobre o assunto abordado.
Gotas de Conhecimento
Partes pequenas de informações, concisas e claras. Na literatura há outras 
terminologias para esse termo, como: microlearning, pílulas de conhecimento, 
cápsulas de conhecimento etc.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar 
para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento 
equivocado.
6
Introdução
Este Livro Didático é constituído de seis capítulos e define-se pela premissa da interação 
com o texto, em seus múltiplos níveis. Apresenta uma proposta de trabalhar o texto por 
meio de seus aspectos comunicativos, recorrento aos gêneros textuais como formas 
instrutivas de promover as competências de leitura e escrita, nos estudantes. Pensar 
a leitura e a escrita pelo viés do leitor é uma proposta que visa ao protagonismo do 
aprendente, e como ele pode passar a se ver como um coautor do texto que lê. O livro 
transita pelas propostas da produção textual, e como o texto é uma forma de produção de 
sentido dinâmica, profícua e lúdica.
Objetivos do Livro 
 » Identificar os elementos do texto.
 » Discriminar os gêneros textuais, e suas particularidades.
 » Desenvolver as competências da leitura e da escrita.
 » Aprimorar as competências interpretativas.
 » Explorar a função social do texto.
 » Compreender a relação entre texto e leitor.
7
Introdução
Neste primeiro capítulo, discutiremos os elementos da produção textual. Abordaremos o 
que é um texto, quais os diferentes tipos de texto e, principalmente, como ele configura uma 
forma de produção do cotidiano. Os indivíduos produzem textos a todo momento, tanto 
na modalidade oral quanto escrita, e é essencial que você, como futuro docente, entenda a 
importância de se tornar uma pessoa proficiente na arte da escrita. Teremos a oportunidade 
de abordar como o texto transita pelas diferentes esferas da sociedade, e como ele tem o que 
podemos chamar de “função social”.
Quando falamos em texto, devemos considerar que há todo um sistema comunicativo 
de significados e significantes que se estrutura com uma finalidade social, a de produzir 
sentidos. Para tanto, utiliza os signos que existem na sociedade para estruturar diferentes 
tipos de discursos, orais e escritos.
Além disso, teremos a oportunidade de abordar algumas noções essenciais de coerência 
textual. Afinal, as diferentes variedades do texto possuem elementos em comum, o que o 
define, essencialmente, como manifestação da língua portuguesa.
Por meio dessas observações iniciais, buscamos uma introdução aos estudos da língua e da 
linguagem, e como elas se manifestam por meio da produção textual.
Objetivos
 » Articular uma definição sobre o que é o texto.
 » Identificar a relação entre texto e seu contexto.
 » Compreender como funcionam os fatores que influenciam os conflitos.
 » Estabelecer as diferenças entre textos orais e escritos. 
 » Introduzir os elementos da coerência textual.
1CAPÍTULO
ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
8
CAPÍTULO 1 • ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
1.1 Conceito de texto
Imagine a seguinte situação: Você dá um livro de presente para alguém, e a pessoa se 
desculpa, dizendo que “leitura” não é a praia dela (!); ou pergunta para uma criança se ela 
tem o hábito de escrever, e ela responde “que a professora de redação pega muito no seu pé”.
Ler e escrever são faculdades essenciais à civilização humana, e ainda mais na 
contemporaneidade, desde que foram instituídos processos de alfabetização com política de 
Estado. Mas ler e escrever o quê?
É comum as pessoas falarem em ter contato com textos, mas sem uma abordagem 
aprofundada sobre o que ele é, de fato. Para Fiorin e Savioli (2016, p. 45), um texto é “um 
todo de sentido formado por partes solidárias”, ou seja, por elementos que se conectam.
Confuso? Isso porque essa explicação aborda a questão do texto de maneira geral, em suas 
manifestações orais e escritas, verbais e não verbais. Poderíamos, como é do interesse 
desta disciplina, abordar o que seria um texto se tentássemos responder a outra pergunta: 
o que é a escrita?
A palavra “escrita” vem de scriptura, scritura, ato ou efeito de escrever, trazero cinema e 
outras formas de se produzir o texto.
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
Se um texto é um espaço de produção de sentidos, tornam-se necessárias as devidas 
capacidades para lê-lo adequadamente. Não basta, obviamente, que o escritor tenha 
as habilidades para produzir o devido sentido planejado: seu leitor precisa possuir as 
competências mínimas de leitura, e isso só vem com o devido tempo, prática e persistência.
Todo texto tem o seu leitor, aquele que será capaz de decifrar seu código. Não é um leitor cuja 
existência seja física, mas presumida, capaz de interpretar o enunciado produzido. “Leia” 
atentamente os textos que se seguem, e compare-os:
Figura 15. a criação de adão.
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/a-
cria%C3%a7%C3%a3o-de-ad%C3%a3o-
michelangelo-4889767/.
Figura 16. Please, don`t touch! 
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/
creation-adam-please-dont-touch-1700003275. 
O que há em comum entre esses textos? 
“A criação de Adão”, de Michelangelo, é uma das imagens renascentistas presentes na Capela 
Sistina, no Vaticano. “Please, don’t touch” é mais recente. Observe que “Adam” parodia “Adão”, 
e isso é feito em determinado contexto (quem sabe, as epidemias que assolam o mundo, 
desde sempre). O bom leitor, para interpretar e dar novos sentidos, precisa ter determinado 
conjunto de saberes.
37
COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS • CAPÍTULO 2
Como você observou, os textos dialogam entre si. A isso se dá o nome de intertextualidade. 
Por isso, quanto mais lemos e participamos de atividades culturais, mais vamos aumentando 
nossa bagagem de conhecimento que, por sua vez, acaba por nos ajudar a compreender 
novos textos. Uma espécie de círculo vicioso. Dar sentido às palavras, criar palavras, é 
entrar em contato com outras. Dessa maneira, ampliamos nossa capacidade de interpretar e 
criar sentidos e significados. 
Cada palavra tem um sentido único, dado em determinado contexto comunicativo. Todo 
texto trava um diálogo com o seu leitor. Como já dissemos, o texto cria, presume, convoca 
seu intérprete. E isso vale para romances, contos, filmes... todo tipo de produção de 
sentidos é um verdadeiro convite para a sua devida interpretação. Imagine os homens das 
cavernas, desenhando símbolos, contando a história de suas caçadas. Eram registros para a 
posteridade e, principalmente, relatos que presumiam a capacidade interpretativa póstuma. 
Pense nisso da próxima vez que você se lançar ao primoroso ato da leitura, que todo ato de 
escrita, seja verbal ou não verbal, presume um ato de comunicação, um convite à leitura e 
interpretação. Aliás, chega a ser redundante a afirmação anterior, já que, se você lê, então 
você interpreta.
2.2 Língua, linguagem e elementos da comunicação
Pelo recurso aos sistemas complexos de comunicação, os indivíduos fazem uso da 
linguagem. E há vários tipos: verbal, não verbal, mista... é a base da atividade comunicativa 
humana!
Gráfico 1. Tipos de linguagem.
 
Verbal Uso de 
palavras
Ex.: Letras 
de música
Não verbal Sem uso de 
palavras
Ex.: Melodia, 
pintura
Mista
Mescla 
elementos 
das 
anteriores
Ex.: 
Campanhas 
publicitárias
Fonte: elaborado pelo autor (2022).
A Língua é um tipo de Linguagem?
Sim!
38
CAPÍTULO 2 • COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS
Antes, abordamos os elementos que caracterizam a língua como forma de linguagem. Dentre 
suas particularidades, temos:
Gráfico 2. Língua.
 
Língua
Sistema de 
Comunicação
Utilizados 
por uma 
comunidade
Transmite a 
identidade 
de um 
grupo
Conjunto de 
signos 
arbritários e 
convencionais
Fonte: elaborado pelo autor (2022).
Há, também, a fala, que é um uso particularizado da língua, mas está inserida dentro de 
dado sistema, sendo uma de suas possibilidades.
Interpretar um texto é um ato de negociação intercultural (FIORIN, 2008): interagimos com os 
sentidos que dominamos, e com aqueles que recebemos a todo momento.
É por isso que saber ler pressupõe fazer inferências sobre o texto, observar seu aspecto 
visual (parágrafos, estrofes, tamanho da letra etc.), conhecer ou não sobre o assunto, saber 
do que se trata. Para se escrever sobre algo há a necessidade de ter lido, ouvido, pensado, 
refletido sobre o que se propõe a redigir. Antes de escrever um texto propriamente dito, 
produzirmos sentido de maneira ativa, o fazemos de maneira passiva por meio da leitura.
A leitura está intimamente conectada à escrita. Como apontam Koch e Elias (2010), 
indivíduos com carência da habilidade de leitura refletem isso na escrita. Por vivermos em 
uma sociedade que preza essa habilidade, é comum acharmos que uma pessoa que sabe ler 
corretamente, também saberá se expressar com proficiência. Mas isso não é uma constante.
Para refletir
Alguém que domine a capacidade de decodificar, de reconhecer palavras e letras, mas não sabe usar com eficiência a escrita 
na sua vida e não consegue colocar suas ideias por escrito pode ser considerado um analfabeto funcional, alguém que 
frequentou a escola, mas não domina competências básicas que se desenvolvem com a correta apreensão da leitura, da 
compreensão e interpretação de textos escritos. 
39
COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS • CAPÍTULO 2
Você, então, futuro docente, deve ter concluído: leitores são escritores? Essa premissa não é 
tão simples assim. Porém, como já dizia Umberto Eco (1986), escritores são, acima de tudo, 
leitores. 
Provocação
Inclusive, há uma linha de pesquisa associada à alfabetização, conhecida como “Letramento”, a qual aborda de maneira 
muito mais direta a alfabetização por meio da compreensão do texto, sua interpretação e função social.
Então, para dar o passo inicial, precisamos entender alguns elementos da leitura, que, 
como dissemos, é uma forma de comunicação. Assim, vamos delimitar os Elementos da 
Comunicação.
Figura 17. Elementos da comunicação.
Fonte: adaptado de Jakobson (2010).
O sentido que a figura produz tem exatamente este sentido: os elementos da comunicação 
se unem para produzir um todo. Sem um deles, não temos esse todo. Vamos analisá-los:
Tabela 6. Elementos da comunicação.
Emissor: o emissor da mensagem, o 
produtor do sentido.
Mensagem: o que é enviado, produzido.
Receptor: quem recebe a mensagem, o 
sentido.
Contexto (referente): o assunto da mensagem.
Canal: o meio de transmissão: um e-mail, 
um livro, um outdoor. . .
Código: os sinais de comunicação para a transmissão da mensagem. 
Observe que podem ser verbais, como a língua portuguesa; ou visuais, 
como as cores da bandeira de determinado país.
Fonte: adaptada de Jakobson (2010).
Imagine o seguinte: você precisa produzir uma resenha crítica para conseguir horas de 
atividade complementar, e resolveu analisar “Senhora”, de José de Alencar. Você, obviamente, 
é o emissor. O docente que irá assinar a resenha, o receptor (e, até o pessoal da central de 
40
CAPÍTULO 2 • COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS
atividades complementares); a resenha é a mensagem, e o contexto é a crítica e a necessidade 
dessa atividade. O código é a língua portuguesa (mas se fosse uma resenha de “A midsummer 
night’s dream”, de Shakespeare, seria o inglês) e, para ser mais específico, o português formal 
utilizado no meio acadêmico (dependendo do que o professor exige, com direito ao uso das 
normas da ABNT); e o canal de transmissão é o papel utilizado, podendo, em outra situação, 
ser um texto digitalizado e enviado pelo ambiente virtual do estudante.
2.3 Funções da linguagem
Todos os elementos da comunicação são essenciais, mas para fins do desenvolvimento da 
habilidade interpretativa, devemos dar um pouco mais de ênfase ao contexto: é por meio do 
contexto que vamos entender, por exemplo, quando um desses elementos da comunicação é 
mais relevante do que o outro para determinada mensagem.
Como aponta Jakobson (2010), o contexto determina o uso particularizado da linguagem: nos 
comunicamos com intencionalidade. Pense, por exemplo, na intenção comunicativade um 
músico de rock; ou de um roteirista de videoaula; ou de um texto legendado em um jogo de 
videogame. Esse uso excepcional de um dos elementos da comunicação possibilita ao texto 
exercer determinada função comunicativa.
Imagine que você tem um estudante que gosta de desenhar paisagens, e ele explica para 
você que ele utiliza esse tipo de produção como forma imaginar como seria o lugar dos seus 
sonhos. Perceba que esse tipo de texto tem maior ênfase na mensagem transmitida, bem 
como os mecanismos utilizados. Simplificando:
Tabela 7. Funções da linguagem.
FUNÇÕES DEFINIÇÃO
Emotiva (ou 
expressiva)
Centrada do remetente (emissor). Ela pretende demonstrar a emoção ou opinião de quem 
fala.
Ex.: 
“Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio”
(adriana Calcanhoto)
Apelativa (ou 
conativa)
Centrada no receptor (destinatário). Ela pretende informar ou convencer o receptor de 
algo.
Ex.: Compre seu carro com a gente!
41
COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS • CAPÍTULO 2
FUNÇÕES DEFINIÇÃO
Poética Enfatiza a mensagem. nesse caso, o emissor seleciona cuidadosamente as palavras, 
sons, imagens que vão veicular a informação. O que importa é o sentido produzido e os 
recursos que são utilizados.
Ex.:
“Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos...”
(João Cabral de Melo neto)
Referencial (ou 
informativa)
Centrada no contexto. Ela busca informar o receptor sobre alguém ou algum 
acontecimento de forma objetiva.
Ex.: na porta da sala, placa com os dizeres “Entrada apenas de jaleco branco”.
Metalinguística É quando o foco está no código. É utilizar a linguagem para falar sobre ela mesma.
Obs.: não confundir “linguagem” como sinônimo perfeito de língua. Exemplo dessa 
função metalinguística é quando utilizamos um livro de ortografia para ensinar sobre a 
língua, ou uma tabela periódica para ensinar química, em suma, o código falando sobre 
o código. A linguagem científica sendo utilizada para explicar a ciência, a língua sendo 
utilizada para explicar a língua.
Fática É quando o elemento em destaque é o canal. Ela serve para prolongar ou verificar a 
comunicação.
Ex.: alô? você está me ouvindo?
Fonte: adaptada de Jakobson (2010).
A produção de sentidos não se esgota, bem como as estratégias que você pode utilizar para 
desenvolver a capacidade interpretativa dos seus estudantes. Retomaremos esse assunto 
mais adiante. Por ora, e uma vez que dedicamos um tempo ao processo de interpretação, 
vamos adentrar um pouco mais na produção textual.
 2.4 Produção textual e registros comunicativos
Os textos escritos não são produzidos apenas nas modalidades formal e informal: eles variam. 
Aliás, tenha em mente que “registro comunicativo” envolve a variação no uso da língua, falada 
e escrita. A norma culta é, por definição, um dos registros da língua.
42
CAPÍTULO 2 • COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS
Figura 18. Registro discursivo.
 
 
Eu é qui num posso nem pensá 
nisso! Quem mi dera! Eu vô é tê qui 
istudá muito! Inté mi formá numa 
universidade. Daí vô arrumá um 
trabaio qui ajude as pessoa a vivê 
mió! 
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
Como já apontamos, o nosso idioma, o português, tem como função transmitir uma 
mensagem, comunicar ideias. Na fala acima, observe como as palavras indicam o registro 
linguístico de quem as pronuncia. Observe, porém, que esse mesmo registro comunicativo 
não seria adequado, tomando como exemplo um gênero que já citamos, uma resenha crítica, 
e o registro linguístico “istudá”. 
Embora a situação indique o uso coloquial da língua, ainda assim são detectados elementos 
que o delimitam como língua portuguesa, no caso, o uso sintático. Observe como a oração 
“Eu é qui num posso nem pensá nisso” possui sujeito (“Eu”) e predicado (“é qui num posso 
nem pensá nisso”). Temos uma repetição fruto da oralidade, um pronome relativo (“qui”), 
alguns adjuntos adverbiais (“num”) e complementos verbais (“pensá”) e “nisso”). 
Importante
A adequação da linguagem também é chamada de “registro linguístico”, capacidade de utilizar determinados registros da 
língua (formal, informal etc.).
Esse domínio linguístico varia de acordo com diferentes elementos: geográfica, 
sociocultural e historicamente. Você pensou que o domínio da norma culta que você tem 
na sua região é o mesmo que o dos moradores de Sergipe? Ou que a língua escrita de hoje 
possui as mesmas características da época em que o Barão de Mauá construiu a Estrada de 
Ferro Mauá?
A língua varia. Mas... como?
Geograficamente, é um bom ponto de partida. A língua portuguesa não é pronunciada da 
mesma maneira em todas as regiões do Brasil, seja pela distância, seja pela influência dos 
diferentes tipos de colonização. Não precisamos ir muito longe: há uma diferença significativa 
do português urbano e do rural, aquele falado em áreas mais interioranas (COELHO; 
PALOMANES, 2016). Isso ocorre, dentre alguns motivos, pela quantidade de escolas e 
instituições que utilizam a norma culta como oficial.
43
COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS • CAPÍTULO 2
A língua também experimenta variações socioculturais. Nosso grau de escolaridade, as 
profissões nas quais atuamos, nossa idade, sexo etc. Cada um desses elementos conflui 
para particularizar nossa fala. Isso também ocorre de maneira situacional: tendemos a 
nos manifestar de maneira diferente sobre determinados temas, ou em outros ambientes; 
de acordo com a intimidade que temos com nossos receptores, bem como nosso estado 
emocional. É a nossa capacidade de utilizar a língua de maneira diferenciada em detrimento 
do momento, de transitar entre a formalidade e a informalidade.
E há, obviamente, a variação histórica, que, como dissemos anteriormente, associa-se à 
época. Você já ouviu falar que “você” vem de “Vossa mercê”? Isso é um exemplo de como a 
língua sofre transformações em diferentes contextos e períodos.
Esse processo interacional ocorre por meio das palavras, via fala ou escrita. De acordo com 
a situação comunicativa, os falantes podem se valer dos diferentes registros. Ou seja, há 
níveis de fala que o falante é capaz de perceber – embora nem sempre capaz de dominar – 
para distintas situações, de modo a favorecer a compreensão entre emissor e receptor.
Figura 19. as variedades linguísticas brasileiras.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Portugueselanguagedialects-Brazil.png. 
gotas de conhecimento
Aliás, aproveitamos para expor que aquilo que chamamos de norma culta é, de fato, um dialeto da língua, dentre tantos 
outros. A expressão “dialeto” costuma ter sentido pejorativo, mas ele significa isso mesmo, uma subcategoria daquilo que 
chamamos de “universo da língua portuguesa”. A norma culta, então, é o chamado “dialeto de prestígio”, “a variedade de 
prestígio”, de maneira que as gramáticas normativas avaliam os demais registros com base nela, pela noção de erro/acerto.
Caso você já seja docente, já se deparou com a situação que iremos expor. Caso não, com 
certeza o será: um estudante produz um texto, e você percebe que o registro linguístico é 
inadequado. Observe que essa inadequação refere-se à aderência à norma culta.
44
CAPÍTULO 2 • COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS
Cuidado
Não estamos, obviamente, desvalorizando a norma culta. É fato que o professor Marcos Bagno tece críticas ferozes na obra 
“Preconceito linguístico” sobre a norma culta e as gramáticas normativas. Porém, nesta disciplina damos ênfase ao processo 
de leitura nos diferentes registros comunicativos, e como vivemos em uma sociedade que valoriza a norma culta. É fato que 
iremos nos deparar constantemente com diferentes usos do português.Porém, desde a publicação do “Cancioneiro geral”, 
de Garcia de Resende, ocorre uma cristalização de determinados usos da língua em detrimento dos outros, principalmente 
em situações formais e, até, informais. Ao docente, é importante aproximar-se do universo sociocultural do estudante pela 
observação dos registros linguísticos que eles utilizam, e como podem representar formas discursivas amplamente válidas. 
Todavia, com raríssimas exceções, os estudantes têm no espaço escolar o espaço por excelência para a aprendizagem desse 
dialeto normativo da língua.
 
Alguns textos, como os artísticos, possuem o que chamamos de “licença poética”, pois têm 
liberdade para romper com a norma, ou seja, a “norma culta”. 
gotas de conhecimento
D. Pedro I emitiu um decreto, no século XIX, definindo o Português como a única língua permitida no Brasil. Ocorre que na 
época não havia um controle tão rígido e várias línguas eram faladas, dentre elas, uma criada pelos jesuítas, chamada de 
“Língua Geral”, a qual misturava elementos de línguas europeias com o Tupi. Porém, o decreto também teve um teor político: 
institui o Português como a língua administrativa do país recém-nascido.
As normas também se adéquam. Há a norma coloquial, que é mais dinâmica; a regional, 
que varia de acordo com o falante. Há o fenômeno das gírias, associado à fala, que tem 
vida mais curta do que outros elementos da língua. E a chamada “padrão informal”, que 
é uma aplicação da norma culta (falada ou escrita), com erros que, muitas vezes, não são 
percebidos.
Podemos simplificar essas – dentre tantas outras variedades – da seguinte maneira:
Tabela 8. variedades linguísticas.
Norma culta (ou 
norma padrão)
É regida pela gramática normativa;
É padronizada (deve ser entendida em qualquer lugar);
variedade de prestígio.
Linguagem 
coloquial
não é apegada à gramática normativa;
Busca a praticidade e a economia;
Pode sofrer preconceito linguístico.
Linguagem 
regional
variedades lexicais e outros elementos que podem mudar de acordo com a região do falante.
Gírias
Estão associadas à linguagem coloquial;
Certos grupos sociais;
São substituídas com o tempo.
Linguagem 
Padrão Informal
Busca seguir as regras da norma culta;
apresenta, ocasionalmente, erros em relação à norma;
Muitos desses erros não são percebidos como tal na linguagem cotidiana.
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
45
COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS • CAPÍTULO 2
Podemos, também, abordar essas variações da seguinte maneira:
Figura 20. variedades linguísticas.
Variedades Linguísticas 
1) Geográficas - Falares regionais ou dialetos. 
- Linguagem urbana x linguagem rural. 
 
 
2) Socioculturais 
 
Devidas ao falante: 
- Dialetos sociais. 
- Escolaridade, profissão, idade, sexo etc. 
Devidas à situação: 
- Níveis de fala/registro. 
- Tema, ambiente, intimidade, estado emocional etc. 
3) Históricas 
 
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
 2.5 a frase, o parágrafo, o texto
Fizemos uma progressão gradual dos elementos que compõem a língua, desde o seu 
uso prático até o teórico. Vamos abordar, de maneira bem introdutória, um elemento 
importantíssimo para a produção textual: a sintaxe. Saber escrever envolve também a 
prática da leitura e a capacidade de cada um.
A palavra “textus” tem uma raiz comum com o verbo latino “texo”, que significa “tecer, 
entrelaçar”. O texto é um tecido, é uma construção. E podemos apontar para os mais 
diferentes tipos de sentido, verbal ou não verbal. Se há texto, há sintaxe: a verbo-corporal 
entre um grupo musical e seus dançarinos; a verbo-espacial entre os elementos de uma 
história em quadrinhos, formados por palavras, imagens, onomatopeias...
Figura 21. Texto = sentido.
 
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
46
CAPÍTULO 2 • COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS
É imprescindível perceber certas particularidades que contribuem para a produção de 
textos claros, objetivos, coerentes, informativos. Escrever não é simplesmente ter boas 
ideias, é preciso saber agrupá-las, usar as palavras certas, as conexões necessárias para a 
“tessitura do texto”. A união da palavra escrita e do pensamento seria o resultado de uma 
produção concreta (KOCH; ELIAS, 2010) daquilo que se pensa e tenta – por meio de regras 
linguísticas e de organização de pensamento – colocar no papel.
O uso das palavras e dos conceitos estará ligado às escolhas que se faz no momento da 
produção textual. As leituras que você faz, as associações que percebe, tudo influenciará 
no seu estilo, sendo este uma marca de sua personalidade, uma concretização de seu 
pensamento.
Vamos observar três elementos de um texto: frase, período e parágrafo.
Quando produzimos um texto, ele deve seguir certas regras gramaticais. Essas impedem que 
uma nova língua seja criada, uma vez que limita nossa capacidade de produzir sentidos, de 
construir frases. Se isso não existisse, teríamos palavras que se chocariam, não teriam sentido. 
Por exemplo:
LIVRO SIMPÁTICAS AQUELAS UM BELO AMPLA DE SALA MENINAS ENCADERNADO EM 
ENCONTRARAM ESTAR UMA.
(Aquelas meninas simpáticas encontraram em uma ampla sala de estar um belo livro 
encadernado.)
Antes de serem embaralhadas, essas palavras formavam uma frase; tinham um sentido, 
conseguiam comunicar uma mensagem. Desordenadas, elas não conseguem estabelecer 
comunicação.
Desse modo, é preciso estar sempre atento à disposição das palavras na frase, seguindo, 
de preferência, a ordem direta: sujeito e predicado (verbo e complemento). A frase pode 
englobar tanto um período simples quanto composto, e abrange o espaço entre o início e o 
ponto de encerramento, formando orações de acordo com os verbos de ação.
O parágrafo, por sua vez, abrange um assunto dentro do texto. Como parte da construção 
do texto escrito, necessita de unidade, coerência, concisão, clareza e encadeamento. É uma 
unidade de composição em que se agregam ideias principais e secundárias, relacionadas 
entre si.
Para refletir
Essa noção é defendida por vários gramáticos, como Bechara, Fiorin e Ribeiro. Na verdade, essa noção de “encadeamento” é 
tão antiga que está presente na “novela literária”, a base para a novela televisiva: observe como é comum dizermos que uma 
novela/seriado está na metade, ou caminhando para o final.
47
COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS • CAPÍTULO 2
Você já viu um parágrafo no qual o autor começou a falar sobre uma temática e, de repente, 
entrou em outra, de maneira que seria necessário criar um parágrafo? É porque o parágrafo, 
de maneira mais simplista, é uma divisão de assunto. E, muitas vezes, um parágrafo 
igualmente grande precisa ser dividido em dois ou mais parágrafos, já que tende a abordar 
aspectos diferentes do mesmo tema.
Observe o parágrafo a seguir:
Tabela 9. Parágrafo-padrão.
A burocracia é uma exigência tipicamente urbana. Primeiro, a confiança nas pessoas e em sua palavra de 
honra tornou-se manga-de-colete. Para não se cair no conto-do-vigário ou no golpe do picareta, o jeito foi 
botar tudo preto-no-branco. Depois, mostrou-se impraticável a presença concreta dos bens patrimoniais a 
tiracolo, como se seu dono fosse cabide. Então, registrou-se por escrito o direito adquirido sobre móveis e 
imóveis. Finalmente, as leis foram-se multiplicando e complicando a vida do cidadão, os direitos e deveres 
na mesma proporção. a saída foi criar-se um meio capaz de garantir a legitimidade de cada um. Desse 
modo, devagar foi delineando-se um mecanismo necessário, funcional e legal, que mantivesse as pessoas 
relacionadas nos diversos níveis, como outrora acontecia na pacata vidinha do interior. a cidade com suas 
peculiares exigências foi o berço da burocracia.
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
Esse é um tipo de parágrafo-padrão que possui introdução – desenvolvimento – conclusão 
(FIORIN; SAVIOLI, 2016). Pode-se propor uma relação entre parágrafo e período: o parágrafo 
é um assunto, a frase é uma ideia. Assim, no parágrafo desenvolve-se uma ideia nuclear 
(às vezes, outrassecundárias). Nele há o tópico frasal, a frase/oração que possui sua ideia 
principal. Em outras palavras: o texto é um todo de sentido, e o parágrafo, enquanto assunto, e 
a frase, um elemento desse mesmo assunto.
Mais adiante, ao abordarmos a noção de coesão textual, aprofundaremos a forma como 
o texto está conectado, e o utiliza para produzir sentidos. Por ora, podemos simplificar essa 
relação hierárquica da seguinte maneira: 
Gráfico 3. Relação entre frase, parágrafo e texto.
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
48
CAPÍTULO 2 • COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS
2.6 a função dos gêneros textuais
Os textos, de maneira geral, possuem características: descrevem, dissertam, narram e 
orientam. Eles também possuem, como apresentamos, finalidades comunicativas. De acordo 
com o intento, ele assume determinada estrutura, gênero textual. 
Como você viu no índice, abordaremos o uso dos gêneros textuais no decorrer desta 
disciplina, pois temos como premissa a produção textual por meio do uso de gêneros textuais. 
Finalizamos esta unidade abordando um pouco mais dessa questão. Como aponta Fiorin 
(2008), ao refletir sobre os pensamentos de Bakhtin, os gêneros textuais são formas diluíves, a 
maneira como os tipos textuais se apresentam.
Todo texto possui uma tipologia, a qual é propagada por meio de um gênero textual. 
Figura 25. Relação entre tipologia e genealogia textual.
Tipo Exemplo de gêneros necessariamente vinculados ao tipo em termos de dominância
Descritivo
(descrever, 
caracterizar)
Bula de remédio
Dissertativo
(transmitir saberes 
e argumentar)
Tese, dissertação de mestrado, artigo acadêmico-científico, monografia, conferência, palestra, 
entrevista de especialista, verbete de enciclopédia e de dicionário, resenha, relatório científico, 
editorial de jornal, carta de leitor, carta de reclamação, resenha crítica, ensaio.
Injuntivo
(instruir e orientar)
Mensagem religioso-doutrinária, instruções, manuais de uso e/ou montagem de aparelhos 
e outros, receitas culinárias e receitas médicas, textos de orientação comportamental, 
regulamento.
Narrativo
(narrar e relatar)
Contos, contos de fadas, fábulas, apólogos, parábolas, mitos, lendas, anedotas, piadas, fofoca, 
caso, biografia, epopeia, poema heroico, biografia, peças de teatro, romances, novelas (literárias, 
de Tv), crônicas, diário pessoal, testemunho, curriculum vitae, notícias, reportagem etc.
Fonte: adaptado de Costa (2008).
Observe que nem todos os gêneros aos quais nos referimos podem ser considerados estáveis, 
no sentido de ainda serem produzidos: o gênero épico, responsável por trazer obras como 
“Ilíada”, de Homero, tem um período de produção específico, a antiguidade greco-latina; 
obras como “Os Lusíadas”, de Camões, resgatam esses elementos por meio da poesia épica, 
mas representam outro contexto, o das grandes navegações. Ou seja: da mesma forma que 
falamos sobre elementos da comunicação, os gêneros textuais estão associados a sua esfera de 
comunicação, sua função sociocomunicativa. 
Na maioria das vezes, é complexo apontar qual a tipologia. Uma receita de bolo é o que? Uma 
injunção, com as instruções; ou uma descrição, com os ingredientes? Aliás, se eu considerasse 
os programas de televisão como uma forma de transmitir conteúdo, ou seja, texto, então 
qual seria a tipologia de canais de gameplay, como aqueles que transmitem vídeos do jogo 
Minecraft? Transmitem informações (descrição), ensinam truques (injunção) e, em geral, 
contam uma história (narração), do tipo “o dia em que abri um buraco negro no meu quintal”.
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COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS • CAPÍTULO 2
Figura 22. Minecraft, espaço de criação de narrativas visuais.
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/minecraft-steve-espada-962586/. 
Observe que o próprio jogo “Minecraft” atua como um espaço de produção de sentidos. E é 
um exemplo de como um texto pode ter mais de uma tipologia, sendo alguma delas, em geral, 
dominante. É por isso que é mais dinâmico procurar detectar o gênero textual de um texto, a 
situação comunicativa por meio da qual ele transmite seu sentido.
Nossa intenção comunicativa determina o gênero que iremos utilizar, e o fazemos de 
maneira automática: se quero narrar um evento atemporal do cotidiano, utilizarei uma 
crônica; para contar uma história na qual quero transmitir uma moral por meio de 
animais falantes, optarei por uma fábula. E se quiser abordar uma história na qual várias 
sub-histórias se conectam a um núcleo, desenvolverei uma novela.
gotas de conhecimento
Por sinal, é esse o elemento da novela televisiva, com diferentes subplots que se conectam a um elenco principal.
Um ponto a ser considerado é que os gêneros, por representarem um contexto comunicativo, 
são estáveis dentro desse contexto. Muda-se o contexto, eles somem ou desaparecem.
Um exemplo é o gênero épico “clássico”, com heróis descendentes dos deuses, como 
Aquiles. A desfragmentação desse dá origem aos gêneros da narrativa, como o romance, 
a novela e, até, o conto. Porém, na atualidade, surge o épico moderno, uma reinvenção 
do épico, em prosa, a exemplo de personagens que realizam feitos sobrenaturais, como 
personagens mais contemporâneos, como Percy Jackson, Sam Winchester e Yoh Kneen.
Sugestão de estudo
Por sinal, muitas fanfics – um gênero escrito a partir de outros gêneros, e que foi a primeira experiência com a escrita de 
uma série de escritores consagrados – aproveitam e muito a ideia de um épico moderno, de um herói que tem uma missão 
impossível, guiado por uma força quase que sobrenatural – muitas vezes, sua própria determinação!. Um exemplo muito 
famoso em língua portuguesa é a fanfic “Mais do que palavras: guarde um tempo para viver”. A obra aborda como, em meio 
a uma série de eventos sobrenaturais, evitar guerras e salvar o mundo, as personagens precisam se preocupar com questões 
que os textos épicos não abordavam, como, por exemplo, ser um adolescente nos tempos atuais. Disponível em: https://
www.fanfiction.net/s/1687719/13/Mais-Do-Que-Palavras-Guarde-Um-Tempo-Para-Viver. 
50
CAPÍTULO 2 • COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS
Da mesma forma, não é incomum um mesmo assunto dar origem a gêneros diferentes. Leia 
os dois textos a seguir, que exemplificam esse ponto:
Texto I
Lavradores do Piauí vivem em cavernas
Cris gutkoski
Folha de São Paulo – 21/1/1996
Os lavradores que vivem na fronteira entre o Piauí e o Ceará encontraram uma forma inusitada para fugir da 
insegurança de se viver sob o teto de uma palhoça. Foram buscar abrigo em cavernas.
nesta região do Brasil, há dezenas de famílias de pequenos agricultores morando sob rochas, em grotas e cavidades 
insalubres das Serras da Ibiapaba e grande.
as cavernas que servem de habitação em Pimenterias (265 km a sudeste de Teresina) têm variados formatos, a que 
os moradores se adaptaram segundo as necessidades e tamanho da família.
Texto II
Uma história de caverna
(Moacyr Scliar)
Folha de S. Paulo – 25/1/1996
Tudo começou, moço, quando tivemos de abandonar a nossa casinha lá perto da Serra grande. Era linda, a casinha. a 
minha avó gostava tanto dela, que vivia cantando aquela música antiga, “Tu não te lembras da casinha pequenina/ 
onde o nosso amor nasceu...” ali morávamos todos, a minha avó, o meu pai, minha mãe, meus cinco irmãos e eu. Por 
incrível que pareça, não tinha lugar para todo mundo. Mas um dia desabou uma tempestade e a nossa casinha, que 
ficava no pé do morro, foi arrastada por uma avalanche de terra. Ficamos sem teto.
aí ouvimos falar do pessoal que morava nas cavernas. Minha mãe não gostou da ideia. Morar em caverna, num 
lugar escuro, abafado, úmido? Mas a gente não tinha muito o que escolher. Subimos a serra e começamos a procurar 
uma caverna. Difícil, porque todas já estavam ocupadas: com essa escassez de moradia, o pessoal se enfia em 
qualquer buraco. Finalmente, achamos uma caverna quase no alto da montanha. a vista era uma maravilha, mas nós 
estávamos completamente isolados.
E aí a nossavida começou a mudar. na casinha a gente tinha até tevê, mas como ligar tevê numa caverna? Com o 
rádio aconteceu a mesma coisa: quando as pilhas terminaram a gente não podia ouvir mais nada, nem a “voz do 
Brasil” que o meu pai gostava tanto.
Quando terminaram nossas provisões, surgiu o problema: onde arranjar comida? O jeito era caçar. Caça havia na 
região, mas arma de fogo a gente não tinha. De novo improvisamos: fizemos umas lanças e uns porretes e com isso 
a gente pegava os bichos e não passava fome.
O problema de verdade surgiu no dia em que terminaram os fósforos. Como é que a gente ia fazer fogo para assar a 
carne? Mesmo que a gente descesse a serra não resolveria: não tínhamos dinheiro. Meu irmão mais moço disse que 
a gente podia comer a carne crua. Minha mãe ficou furiosa, disse que aquilo era coisa de bugre, e que nós tínhamos 
de fazer fogo de qualquer jeito. O meu irmão mais velho, que sempre foi um cara muito jeitoso, pegou umas pedras 
e disse: eu vou fazer fogo como os índios. E ficou ali, batendo as pedras uma na outra para tirar faísca e acender a 
lenha. nós cansamos e fomos dormir.
no meio da noite ele nos acordou, gritando: consegui, consegui! De fato, tinha acendido o fogo, uma fogueira bem 
grande. nos sentamos ao redor, e minha avó contou histórias, e nós cuidávamos do fogo, que não podia apagar.
No dia seguinte, minha mãe notou que o meu pai estava ficando peludo. E ele andava de um jeito gozado, como se 
fosse um orangotango e de vez em quando soltava uns grunhidos. E então eu me lembrei dos homens das cavernas 
que uma vez vi num filme da tevê. Será que a gente...?
não sei. O futuro, o senhor sabe, a Deus pertence. a Deus e à caverna.
Observe como temos dois textos: o primeiro, uma notícia; e o segundo, uma crônica feita a 
partir do primeiro. Ambos são da tipologia narrativa, com um pouco de descrição. Mas 
observe como o segundo possui um pouco de dissertação, ao apontar a relação entre o lugar 
onde se habita, e o conceito de civilidade. Além disso, o segundo texto possui elementos 
literários, o que o difere de outros tipos de texto.
51
COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS • CAPÍTULO 2
Tabela 10. Texto literário x não literário.
LITERÁRIO
“Uma história de caverna”
 » Texto ficcional, inspirado em eventos do cotidiano;
 » Criação do escritor;
 » narrador livre indireto – alternância entre primeira e 
terceira pessoa.
NÃO LITERÁRIO
“Lavradores do Piauí vivem em cavernas”
 » Texto factual, transcrição de eventos reais;
 » Fonte jornalística;
 » narração impessoal.
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
Esses configuram exemplos do uso dos gêneros, e como eles assumem diferentes 
características. Cabe salientar como, na atualidade, o uso do conceito de narrativa está 
presente em diversos conteúdos, a exemplo das narrativas transmidiáticas.
Sintetizando
Vimos até agora:
 » Os elementos que fundamentam o ato da leitura.
 » A noção de língua enquanto forma de linguagem, e os elementos que possibilitam a sua realização.
 » As funções que a linguagem assume, dependendo do contexto comunicativo.
 » A produção de textos nos diferentes registros comunicativos.
 » A estrutura textual, e suas partes constitutivas.
 » A necessidade de uma aprendizagem direcionada para o uso dos gêneros textuais.
52
Introdução
Falaremos um pouco dessa figura emblemática que nos é tão cara: o leitor. Essa figura 
pragmática que parece ter estado sempre por aí, consumindo vorazmente todo tipo de 
conteúdo... só que não!
O que chamamos de “leitor” é quase uma sexta categoria da narrativa, pois, nas palavras 
de Umberto Eco (1994), é modelar para a produção da história, a quem ela é direcionada. E 
é nesse ponto que vamos observar como a ideia de um leitor não apenas era concebida de 
maneira diferente com o passar do tempo, como as formas de entender essa figura passou a 
permitir novas formas de interpretar o texto. 
Teremos a oportunidade de abordar as relações entre leitor, escritor e obra, e como cada 
texto é produzido numa relação entre o seu contexto sociocultural, e o perfil de leitores. E, 
principalmente, entender as características desse leitor é o que propiciam a posteridade de 
um texto.
Nesse mesmo contexto, teremos a oportunidade de entender características que perpassam 
a prática da leitura: o surgimento e desaparecimento dos gêneros textuais, sua atualização, 
a ideia de uma mídia que passa a ser digital e, além disso, os processos de letramento que 
levam a uma noção do que é ser um leitor em uma sociedade letrada.
Objetivos
 » Abordar o que é a estética da recepção.
 » Diferenciar os leitores pelos seus períodos.
 » Conceituar leitura transmidiática.
 » Aprofundar as relações de letramento na contemporaneidade. 
 » Expor o papel de leitor em uma sociedade letrada.
3CAPÍTULO
O LEITOR
53
O LEITOR • CAPÍTULO 3
3.1 a estética da recepção
Quem é aquele que lê? 
Figura 23. Leitura: atividade social.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/set-people-literature-fans-books-vector-1736944037.
Indivíduos na escola, na rua, usando audiolivros por meio de aparelhos de celular..., mas 
quando alguém escreve uma obra, a quem ele é direcionado?
Imagina um sujeito como o Neil Gailman escrevendo uma história em quadrinhos chamada 
“Os livros da magia”, contando a história da protagonista Timothy Hunter, e como ele 
estava destinado a se tornar “o maior mago da era moderna”. Isso parece familiar? Que tal 
substituir essa história de mago, e colocar uma espada fincada em uma pedra, dizendo 
que aquele destinado a ser o rei, irá puxá-la? Aliás, esse rei que irá tirar a espada da pedra 
também tem a missão de unir os povos da Grã-Bretanha contra a invasão, à época, dos 
Saxões. Assim como um “maior mago da era moderna” terá a missão de salvar o mundo.
Duas coisas que tiramos disso: em primeiro lugar, Neil Gailman está produzindo seu 
texto em diálogo com toda a tradição da literatura inglesa, a qual se conecta com o que 
chamamos de “Ciclo Arturiano”, as narrativas em torno da lenda do Rei Arthur, e a busca 
pelo Santo Graal. Embora muitos elementos se percam para o leitor comum, eles são bem 
explícitos para o leitor britânico. 
gotas de conhecimento
Neil Gailman é um artista britânico, com publicações no formato de romances, histórias em quadrinhos e roteiros. A 
personagem Timothy Hunter é oriunda de uma série de livros de sua autoria, intitulado “Os livros da magia”, e tem como 
base a tradição da literatura britânica de referenciar elementos da lenda do Rei Arthur, principalmente ao apontar uma 
personagem destinada a grandes feitos. Observe como essa premissa está presente em obras como Harry Poter, o qual 
não possui uma espada, mas sim uma varinha; não tem uma távola redonda como o Rei Arthur, mas tem a sua “Armada 
Dumbledore”. 
54
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
Figura 24. Elementos da literatura britânica.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/fairytale-scene-fantasy-sword-stone-3d-1395181985. 
Esse é um ponto fundamental: quem é o leitor? É uma pessoa física, ou um papel? Umberto 
Eco (1994) fala sobre o conceito de leitor-modelo, e o diálogo que há entre escritor e leitor: 
aquele que escreve, presume um leitor em seu processo de criação. Um exemplo clássico 
disso é quando Edgard Allan Poe cria o gênero “conto policial” e, ao fazê-lo, além de 
estabelecer as regras do que seria aquele gênero, também estabelece o que viria a ser o perfil 
do leitor que se lança vorazmente para acompanhar a solução de um enigma.
Anteriormente abordamos essa noção do leitor enquanto “coautor” de uma obra, com o qual 
ele interage. Há o que chamamos de “perfil”, no qual temos obras que o mercado editorial 
direciona para determinados leitores.
Saiba mais
O fenômeno dos best-sellers está associado a isso: quando obras como “O Código Da Vinci” foi lançado, observe como 
uma série de títulos com uma temática parecida, como “A conspiração franciscana”, ocupavam as prateleiras das livrarias, 
procurando dar conta dogosto de um público-leitor específico. “O Código Da Vinci” abordava o assassinato de um curador 
do museu do Louvre, na França. Porém, descobrir o assassino também levava o leitor a desvendar todo um mistério envolto 
em eventos (alguns verdadeiros, alguns fictícios) da história da formação da Igreja. Esse “filão” de livros que abordavam 
algum mistério associado à Igreja – a maioria, a Católica – atraiu vários leitores, os quais buscavam uma fonte recorrente 
para saciar seu desejo por novas leituras.
Mas se o leitor é uma espécie de coautor, é correto falar na sua imortalidade? Há obras 
escritas há mais de dois milênios, como os diálogos platônicos, direcionados para um 
público grego, mas são textos que nos parecem incrivelmente atuais. E, além disso, é 
indiscutível que hoje somos diferentes das pessoas as quais Platão se direcionava: temos 
acesso a todo um conhecimento sociocultural que não estava disponível naquele momento. 
55
O LEITOR • CAPÍTULO 3
Saiba mais
Platão era um filósofo grego que fundou a famosa Academia Platônica, ou simplesmente “A Academia”, e que seria uma das 
inspirações para o modelo de ensino superior que temos na atualidade. Os textos de Platão, em sua maioria, eram escritos 
em formato de diálogo, no qual havia um confronto de ideias.
Todavia, há dificuldades das pessoas, mesmo com textos tão debatidos, em interpretá-los. 
Aliás, a ideia que temos de um indivíduo que “consome” literatura é muito recente, pois 
remete a meados do século XIX, quando o texto ficcional passa a ser “vendido” como forma de 
entretenimento.
Figura 25. Prática da leitura.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/books-readers-happy-people-read-study-1856569078.
Ainda assim, hoje concebemos a ideia de que o leitor não se resume a um indivíduo físico, 
mas uma espécie de papel que alguém assume, e ao qual o texto se direciona (CARVALHAL; 
COUTINHO, 2011).
Mas a quem o texto se direciona?
Figura 26. Estante de livros, metáfora do acesso à leitura na atualidade.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/brighton-england-august-03-2019-white-1630338670.
56
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
A pergunta pode parecer repetitiva, mas pense: se um texto é escrito, digamos, no século 
XIX, significa que ele foi concebido pensando em um leitor do século XIX? Parece complexo, 
já que até hoje lemos contos de fadas, narrativas antiquíssimas que passaram por uma 
roupagem oitocentista para assumirem o formato que conhecemos, hoje, de gêneros 
orais para escritos. Mas é fato que há sobra de obras que abordam premissas, marcas e, 
principalmente, valores, que hoje nos são, pelo menos superficialmente, estranhos.
Mas, calma! Vamos analisar isso por parte! Em primeiro lugar, e como já apontamos, a ideia 
de que o texto literário é direcionado a um público-leitor é recente, e está associada ao fato de 
que as sociedades se tornam mais complexas. Quer um exemplo?
Canção da Penha
“Minha terra é a Penha
O medo mora aqui
Todo dia chega a notícia
Que morreu mais um ali
Nossas casas perfuradas
Pelas balas que atingiu
Corações cheios de medo
Do polícia que surgiu
Se cismar em sair à noite
Já não posso mais
Pelo risco de morrer
E não voltar para os meus pais
Minha terra tem horrores
Que não encontro em outro lugar
A falta de segurança é tão grande
Que mal posso relaxar
‘Não permita Deus que eu morra’
Antes de sair deste lugar
Me leve para um lugar tranquilo
Onde canta o sabiá”
Fonte: Alunos de Escola Pública do Rio de Janeiro
57
O LEITOR • CAPÍTULO 3
Esse texto, produzido por estudantes de uma escola do Rio de Janeiro, aponta elementos 
que para nós são comuns, mas, antes, dificilmente apareceriam no texto literário: a vida 
cotidiana da população. Os textos literários, desde sempre, contavam a história dos 
grandes heróis, reis e líderes. Até mesmo a literatura realista do século XIX contava a 
vida da classe alta do Rio de Janeiro. Lima Barreto nos legou a abordagem dos subúrbios 
cariocas, e escritores posteriores procuraram trabalhar as grandes questões da 
humanidade em textos que abordam a simplicidade do dia a dia.
Saiba mais
Afonso Henriques de Lima Barreto foi um escritor brasileiro que introduziu elementos que, hoje, são considerados essenciais 
para se entender marcas da identidade brasileira no texto literário: a língua portuguesa falada no Brasil, o tom irônico com 
as instituições e o deboche com indivíduos que têm uma autoridade mais teórica do que na prática. Crítico ferrenho da 
intelectualidade de sua época, a qual, em sua opinião, se fechava em nichos para se autoadular. É autor de várias obras, 
dentre elas, “Triste fim de Policarpo Quaresma”, na qual mostra uma personagem que era um nacionalista ferrenho, mas 
encontra seu fim diante de um Brasil preso a instituições e poderes que se prendem a padrões, a seu ver, arcaicos.
Um exemplo de intertextualidade está na obra “Ulisses”, de James Joyce. O texto possui um diálogo profundo com o texto de 
Homero, “A Odisseia”, mas no espaço de poucos dias, na cidade de Dublin. A obra procura apresentar um microcosmo de 
toda a experiência humana.
O texto literário passa a abordar temas que antes não abordava, e a perceber que os 
escritores, ao produzirem, consideram o diálogo com esse escritor. Afinal, observe como, em 
“Medeia”, peça de Eurípides, a personagem homônima mata os filhos de Jasão, eliminando 
sua descendência, algo essencial para a ideia grega de perpetuação. Assim, o escritor está 
envolvido com todo um conceito sociocultural no qual a obra é produzida. Já obras como “Os 
Lusíadas”, de Camões, embora resgate elementos da poesia clássica, apresenta diferenças por 
considerar alterações no perfil do leitor (EAGLETON, 2006). 
Gráfico 4. Relação autor/leitor/meio cultural.
 
Leitor
Mutabilidade 
cultural
Escritor
Fonte: elaborado pelo autor (2022).
Você lembra quando dissemos que o texto é um “todo de sentido”? Mas sentido para quem? 
A estética da recepção, linha de estudos oriunda do século XX, trabalha esse ponto, de para 
quem o texto é significativo, e como há um leitor implícito durante o processo de construção 
textual.
58
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
Figura 27. Jornal e leitor específico.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/newspaper-tablet-on-wooden-table-652051432.
Veja, por exemplo, jornais e revistas: eles buscam transmitir uma ideia, um consenso: gosto, 
preferência, estilos, padrões... são produções que estão em contato com seus leitores. Mas 
quando dizemos que há uma interação entre escritor e leitor, significa que essas revistas 
convidam aquele que interpreta o texto. Assim, o leitor não é apenas um consumidor, mas 
coparticipante. 
Há alguma publicação da qual você não gosta, que propaga informações por um perfil que 
você se afasta, digamos, jornais voltados para o mercado econômico, como se ignorasse 
a realidade concreta que o rodeia? Quando pensamos sobre a recepção do texto, somos 
levados a analisar a obra textual por meio do sistema que a cerca, o processo de produção, 
divulgação e leitura. Qual o perfil do leitor que está em contato com esse texto? E qual perfil 
eu preciso assumir, para apreciá-lo adequadamente?
Para refletir
Ao longo da nossa disciplina, temos abordado, por meio de pílulas, o elefante na sala: e as obras consideradas 
“ultrapassadas”?
O texto ficcional é o espaço da construção de múltiplos sentidos, pois ele parasita o mundo do qual é inspirado. O que 
devemos ter em mente é que não cabe o texto “ultrapassado” em uma obra ficcional: ele nos é, ou não, significativo. A obra 
literária tem a capacidade de responder a questões que incomodam o leitor e, por metonímia, a humanidade. Por isso, textos 
tão distantes no tempo e no espaço, como “Ilíada”, de Homero; ou “Macbeth”, de Shakespeare, nos dizem tanto. E, com 
certeza, Próspero e Caliban, personagens da peça “A tempestade”, de Shakespeare, seriam vistos com outros olhos. 
Na obra “Ilíada”, temos a história da Guerra de Troia, na qual um exército de gregos (ou “helenos”,um dos nomes que 
utilizavam) invadem o reino de Troia. Porém, nessa obra há elementos que demonstram qual era o ethos grego, ou seja, o que 
definia um indivíduo como grego, como história, costumes e ritos.
Nem toda obra está sujeita a um único tema: Em “Macbeth”, temos a história da morte do rei da Escócia, seu assassinato e 
a busca por justiça. Pode-se inferir, por exemplo, como a peça aborda princípios tão universais como a busca pela justiça, e 
como até mesmo há leis universais que atingem os indivíduos. 
59
O LEITOR • CAPÍTULO 3
“A tempestade” trata sobre o tema do amor, mas também da alteridade, a noção de que eu sou alguém na minha relação com 
outro. Próspero e Caliban, senhor e servo, são exemplos de questionamentos presentes na história da humanidade.
Afinal, o texto ficcional é o espaço da crítica, e essa é a palavra que optamos por adotar: estaria J. K. Rowling, na saga 
Harry Potter, debochando dos ativistas quando Hermione Granger monta um projeto para libertar os elfos domésticos, 
ou utilizando o espaço ficcional para denunciar que até mesmo dentro de uma sociedade na qual há discriminação por 
questões raciais – bruxos puros e não puros – é possível encontrar discriminações não claramente perceptíveis, espécies de 
“microagressões”, a exemplo dos abortos – filhos de bruxos sem poderes mágicos – são tratados?
Esse é o questionamento que assola muitos professores quando precisam trabalhar a leitura de obras mais antigas, que 
representam contextos culturais com valores estranhos aos estudantes, mas que são, ao mesmo tempo, igualmente 
significativos.
A corrente da estética da recepção aborda uma premissa simples: o texto pode ser o mesmo, 
mas as pessoas que participam do seu processo de criação, não. Além disso, como é possível 
que as canções “Todo amor que houver nessa vida” e “Narciso”, ambas de autoria de Frejat e 
Cazuza, tenham em mente uma categoria tão genérica como “fãs do Barão Vermelho”?
Quando entendemos que o escritor é uma categoria em processo – hoje eu escrevo contos 
de terror, amanhã, comédias românticas –, podemos perceber como um texto pode ser 
atualizado. Isso porque, se alguns textos nos parecem desatualizados, os pontos que eles 
abordam, mesmo com a escolha de recursos não mais em voga, são possíveis de serem 
adaptados. Aí está a universalidade de uma obra e, se não entendermos isso, perderíamos 
muito do elemento intertextual inerente aos textos.
Pense, por exemplo, em “Senhora”, de José de Alencar, e a premissa que traz sobre o 
casamento por dote. Há premissas pesadas no texto que nos são caras: perda da liberdade, 
inexistência de direitos, costumes sociais que hoje não fazem sentido para nós..., mas ao 
reler a obra pelos olhos do leitor de sua época, é possível perceber a crítica ali implícita, e 
como o autor denuncia como as elites do Brasil oitocentista tratavam o casamento como 
uma negociação comercial. 
Outro exemplo que nos parece tão atual é tentar imaginar o leitor de uma obra como “O 
Ateneu”, de Raul Pompeia, e como o autor procurou representar o que seria um colégio 
interno. Uma leitura atenta nos mostra como o autor concebeu um colégio com o 
propósito de preparar as elites do país, a futura elite intelectual (BOSI, 2004), o que ecoa 
na maneira como muitas instituições preparam seus alunos mais para passarem em 
concursos públicos e entrar no ensino superior, do que transmitir a eles uma educação 
mais humanitária. Assim, mesmo com o suposto anacronismo do texto, lê-lo pelo viés do 
leitor possibilita uma atualização dos seus sentidos, uma negociação com o presente.
60
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
Saiba mais
José de Alencar é considerado um dos mais importantes escritores da literatura brasileira. Autor de peças, romances, 
crônicas e tantas outras narrativas, possui um livro chamado “Como e porque sou romancista”, no qual apresenta a ideia 
de um projeto literário para representar a cultura de um país recém-nascido como o Brasil, após o 7 de setembro de 
1822. Escritor do movimento estético conhecido como Romantismo, produziu obras que possuem reflexo no imaginário 
cultural brasileiro até os dias de hoje, como “Senhora”, “O Guarani”, “Iracema” e “Lucíola”, dentre outras que também foram 
adaptadas para radionovela, novela televisiva, peças de teatro e seriados.
Essa negociação é a tensão existente entre as possíveis perguntas que o texto ficcional gera, 
e as respostas para as quais busca direcionar o leitor (CARVALHAL; COUTINHO, 2011). Essa 
é uma das definições de um texto “clássico”, pois ele sempre suscita essa tensão, podendo, 
inclusive, resgatar novos entendimentos. 
Tente imaginar o leitor oitocentista, tomado de obras cientificistas, fruto da influência do 
Realismo e do Naturalismo. Machado de Assis escreve “O Alienista” como uma crítica a isso, 
ao excesso de “doutores de todas as coisas” que circulavam pela cidade. 
Saiba mais
O Realismo e o Naturalismo foram movimentos estéticos associados ao século XIX, e possuíam a premissa de uma 
cientifização da literatura. O Realismo procurava representar a realidade pelo viés da objetividade, como se o escritor 
estivesse filmando o mundo e o representando; já o Naturalismo trazia a ideia de um “Romance de Tese”, na qual o escritor 
buscava provar uma ideia, e usava o romance como se fosse um laboratório. No Realismo, temos como grande representante 
Machado de Assis. No Naturalismo, Aluísio de Azevedo.
Importante
Aliás, é interessante observar que o próprio Machado tinha essa percepção de um leitor, a exemplo de diferentes trechos em 
“Memórias póstumas de Brás Cubas”, nos quais se direciona ao seu público.
Se não fazemos isso, corremos o risco de imaginar o sentido de um texto – lembrando, um 
texto é um todo de/com sentido – estagnado, discurso associado a um momento muito 
específico. 
Figura 28. Elementos atemporais do Cartum.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/silhouette-children-playing-desert-near-khartoum-2090661220.
61
O LEITOR • CAPÍTULO 3
Mas, sendo assim, o que seria do Cartum? Trata-se de um texto atemporal, o qual aborda 
questões que envolvem qualquer tempo e espaço e, por definição, não está associado a um 
tempo específico.
Voltemos à obra “Senhora”. A ideia de um enlace entre indivíduos como um jogo de interesses, 
embora seja tema de diferentes comédias românticas, parece uma desconstrução dos contos 
de fadas, nos quais as pessoas se uniam em nome do “amor verdadeiro”. 
Aliás, só para fins de comparação, essa ideia de um “amor por interesse” que vira um “amor 
verdadeiro” é muito presente na literatura, com reflexos na televisiva: filmes e séries como 
“O date perfeito” e “Business proposal” resgatam bem essa premissa. Cabe lembrar, aliás, que 
em “A bela e a fera”, o que viria a se tornar um sentimento amoroso entre as personagens, 
começou com uma espécie de “escambo”, no qual o pai fora trocado pela filha.
É verdade que há diferentes elementos da estética romântica presentes em “Senhora” – e 
em vários contos de fada – mas essas são as marcas estético-temporais, associados a um 
momento. O sentido que transmitem é o mais relevante. 
Se o leitor não for capaz de trazer essas relações, esses elementos essenciais que estão 
presentes no ato da leitura, ele teria problemas para entender, por exemplo, a relação 
entre obras como “Divergente” e “Ilíada”, na qual temos as figuras dos heróis épicos Tris 
e Aquiles, ambos com missões que, inevitavelmente, irão levá-los à morte. Ou, talvez, o 
quadrinho a seguir:
Figura 29. Relações de intertextualidade.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/last-supper-robots-sketch-engraving-vector-1620761293.
A piada na figura faz sentido quando a correlacionamos com um quadro famoso chamado “A 
última ceia”, de Leonardo da Vinci. Mas descartar o sentido levaria a ver a leitura como um 
emaranhado de elementos superficiais, e não como parte de um todo. Assim, a premissa 
inicial se mantém, mas se mantém a um leitor contemporâneo.
62
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
Dessamaneira, a estética da recepção enfatiza essa relação do leitor na produção textual, e 
como entender o contexto de produção de dada obra auxilia na interpretação dela. Afinal, 
como entender a obra “Gabriela”, sem entender o contexto no qual foi produzida, e o que ela 
diz para seu público-leitor? 
gotas de conhecimento
De fato, esse tipo de leitura aproxima-nos perigosamente do El señorito satisfecto, de Ortega y Gasset (2013), indivíduo 
pronto a julgar todo o passado como atrasado e inferior, colocando-se como o ápice do desenvolvimento humano e, por 
isso, delimitando o que deve ser esquecido. É um problema caro aos professores que precisam trabalhar Literatura em sala 
de aula, abordar textos pela crítica que fazem às questões polêmicas de sua época – como, por exemplo, a forma como “Bom 
crioulo”, de Adolfo Caminha, aborda a visão da época sobre homossexualidade –, ao invés de se limitar a criticar a obra em 
comparação a outras ditas superiores.
3.2 Leitor clássico x Leitor contemporâneo
Conforme Barthes (1987), texto é sentido, texto é mundo. É por isso que não é surreal a 
afirmação de que vivemos em uma “sociedade leitora”, formada por indivíduos que interagem 
com os sentidos – socialmente construídos – de seu tempo.
Transitamos em uma sociedade formada de/por textos. Físicos, digitais... hoje, há diferentes 
tipos de textos, os quais são direcionados para leitores específicos.
Figura 30. Outdoor e outras formas de divulgação.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/blue-outdoor-advertising-design-corporate-identity-1129336442.
Quando pensamos a relação da produção de sentido por meio do leitor, estamos tendo em 
mente a capacidade deste de resgatar significados nos espaços textuais. Aquela piada que 
deixamos anteriormente sobre o vulcão, lembra? É uma piada linguística que faz sentido para 
o falante da língua portuguesa. Assim como o seguinte provérbio:
63
O LEITOR • CAPÍTULO 3
“Adão precisa ter uma Eva, a quem acuse de seus próprios erros”
Observe como o provérbio procura ativar uma série de significados no leitor, bem como suas 
capacidades interpretativas: Quem são Adão e Eva? Por que Adão acusa Eva? Quais foram os 
erros? 
Observe que o texto está cheio de espaços vazios, que são completados na medida da 
capacidade de interpretação do leitor, ou seja, sentidos resgatados no ato da leitura. É com 
essa prática que o sentido final é mais amplo do que o inicial: não se trata de Adão ou Eva, 
mas da capacidade humana de transmitir a culpa pelas suas ações a outros. 
O leitor continua exercendo sua função, mas, hoje, passamos a compreendê-lo de maneira 
diferente. Antes, o víamos como uma tábula rasa, na qual cabia a ele deleitar-se com o 
texto literário, como um receptor passivo. Hoje, compreendemos essa relação leitor-texto 
(CARVALHAL; COUTINHO, 2011), e como o leitor preenche os espaços, influenciando, 
inclusive, a produção de sentidos.
Um exemplo do leitor enquanto produtor está presente na figura contemporânea do Papai 
Noel. Analise a figura a seguir, e veja o que está estranho.
Figura 31. Papai noel.
Fonte: https://images.rawpixel.com/image_600/
cznmcy1wcml2YXRlL3Jhd3BpegvsX2ltYWdlcy93zWJzaXRlX2nvbnRlbnQvbHIvcgQyMC00nC0yMy1qai5qcgc.jpg?s=Lir6s1
HYov9guhmOSpUeXhF0lDSM-1vEWQbngzTjJPs.
O que muita gente desconhece é que o Papai Noel (ou “Pai Natal”, em português de Portugal) 
já teve inúmeras versões, com cores (verde, azul, amarelo...) e formatos (alto, baixo, magro) 
diferentes. Mas em meados dos anos 1930, a empresa de refrigerantes Coca-Cola passou 
a utilizar uma das versões como seu garoto-propaganda, a do bom velhinho de roupas 
vermelha e gorro. Essa versão se popularizou e, atualmente, a maior parte da população 
64
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
não consegue conceber um Papai Noel diferente. Nesse caso, temos uma situação na qual o 
“escritor” criou estruturas no seu leitor, de modo a associar um padrão simbólico. Em muitas 
outras obras, há uma padronização desse perfil de Papai Noel.
Saiba mais
Uma indicação curiosa é o filme “Krampus”, de 2015 (a primeira versão), que aborda uma versão alternativa do Papai Noel. 
É um filme de comédia de horror natalino, o qual resgata algumas raízes germânicas de Santa Claus, e como determinadas 
características foram suavizadas. O filme traz diversos elementos que fazem referência direta ao “Bom Velhinho”, ao mesmo 
tempo em que dialoga com um público-leitor diferente, o de filmes de horror.
Assim, temos a ideia da leitura enquanto uma espécie de jogo ficcional, no qual o leitor 
atua, ou pelo menos deve atuar, em consonância com o texto. E o escritor, se não o tem, 
pelo menos deve ter essa ciência de que está convidando o leitor para esse jogo.
Esse jogo, como já apontado, aborda essa cocriação, e como o escritor cria espaços para o 
leitor completar com suas leituras prévias. E, de fato, há diferentes níveis de leitores.
Todavia, no passado o leitor era visto como uma figura estanque, alguém que só absorvia o 
texto. Hoje, tem-se a noção de um indivíduo que participa e, mesmo quando não tem uma 
formação literária, faz conexões.
Anteriormente falamos sobre o “amor romântico”, e como algumas obras desconstroem isso, 
abordando narrativas em que o amor é uma moeda de troca. Essas informações vão sendo 
transmitidas por uma espécie de “imaginário coletivo”, no qual certas situações vão sendo 
reconhecidas pelos leitores.
Talvez você tenha dificuldade em trabalhar estratégias de leitura em sala de aula, mas ao 
trabalhar como os sentidos – lembrando: texto é um todo de sentido – que circulam nos 
diferentes tipos textuais, poderá incentivar os estudantes a entender como obras, novas e 
antigas, se conectam.
Tome como exemplo a seguinte obra:
Figura 32. “a Megera Domada”.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/barnaul-russiadecember-17-2019-theater-actors-1624388146.
65
O LEITOR • CAPÍTULO 3
O filme “Dez coisas que eu odeio em você”, uma comédia adolescente romântica, conta 
a história de um jovem que quer namorar uma garota, mas ela só terá a autorização do 
pai quando a filha mais velha também arrumar um namorado. Esse filme é uma releitura 
moderna da obra “A Megera Domada”, de Shakespeare, na qual dois rivais pelo amor de uma 
garota se unem para conseguir um pretendente para a irmã mais velha. Em ambos os casos, a 
irmã mais velha tem “problemas de temperamento”. 
É curioso observar como há toda uma relação intertextual entre a obra de Shakespeare e 
a – já citada – obra “Senhora”: uma mulher com uma mágoa por uma decepção amorosa, 
o que motiva seus envolvimentos futuros. Gradativamente, os leitores vão sendo 
“alfabetizados” nessas estratégias literárias, de maneira que, antes de lerem “A megera 
domada”, já o fizeram por meio de suas reminiscências. Isso ocorre pela ressignificação de 
uma imagem presente nas três obras: a mulher magoada. Porém, no texto de Shakespeare, 
temos uma peça renascentista; em Alencar, a sociedade burguesa do século XIX. E em 
“Dez coisas que eu odeio em você”, jovens de classe média de uma cidade dos EUA.
O leitor – e principalmente o contemporâneo, que tem muito mais acesso ao texto do que 
no passado – não está adaptando ou hierarquizando informações, mas conectando-as. Ele 
cria sentidos a partir de outros, e, gradativamente, aprende a intuir novas informações com 
base em leituras prévias. 
Assim, se o leitor muda, como se produzem sentidos? Como aponta Gumbrecht 
(CARVALHAL, 2009), deve-se tomar cuidado com a normatização da leitura, na tentativa de 
estabelecer sentidos únicos – o texto possibilita múltiplas leituras. Isso acontece porque a 
leitura está inserida em situações comunicativas. E isso ocorre pela competência da língua, 
seja verbal, não verbal ou mista.
Figura 33. Intertextualidade visual.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/sao-paulo-brazil-portrait-ziraldo-brazilian-2125194008.
66
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
O que dá sentido, por exemplo, a uma obra como “O menino maluquinho”, de Ziraldo? 
Os códigossemióticos que o texto parasita do seu meio? A capacidade do escritor em 
manipular a língua a seu favor para a construção de sentidos? Leituras feitas em um 
tempo futuro, com novas questões em voga? Gumbrecht aponta como o leitor, mesmo 
não intencionalmente, não lê de forma aleatória, pois a cada leitura, traz questões 
envolvidas com o seu meio (EAGLETON, 2006). É por esse mesmo motivo que o leitor tem a 
capacidade de atualizar o texto. 
A forma como um texto é recepcionado pelo leitor não é simples, e nem sempre é explícita, 
mas, por outro lado, conecta-se à necessidade do escritor de responder às questões 
existentes, como o escritor se propõe a responder, e como ele propiciará leituras nos 
receptores.
Importante
É necessário cuidado com as leituras superficiais, as quais descontextualizam a obra. É fato que um texto é filho do seu 
tempo, e por isso que ele aborda questões atemporais pelo prisma do seu tempo. Não se pode esperar que as versões de “A 
moreninha”, obra de Joaquim Manoel de Macedo, tenham leituras similares à sua época, a exemplo da adaptação televisiva 
para novela, em 1975. Ou, como, por exemplo, essa mesma obra dialoga com uma lenda muito mais conhecida pelos 
moradores de Paquetá, sobre dois indígenas apaixonados. Ou tantas outras obras que, de certa forma, revisitam o mote do 
“amor impossível”, presente em obras como “Romeu e Julieta”.
3.3 gêneros textuais: ostracismo e contemporaneidade
Já que estamos falando sobre a relação entre texto e leitor, é importante falarmos como um 
interage com o outro. 
Nessa interação com o leitor, há uma transição de gêneros. Observe como há muitas pessoas, 
hoje, que leem mais nos aparelhos celulares e tablets – o fenômeno dos e-books – do que em 
livros físicos. Há os que preferem histórias mais longas e desenvolvidas – como os romances – 
e, devido às características da vida contemporânea, preferem textos mais curtos – os contos. 
Antes, enviávamos cartas. Hoje, usamos aplicativos de mensagens.
Quando escrevemos, escolhemos a forma como contactaremos nosso leitor. A escolha de 
um gênero textual está em diálogo com ele. É afetada pela comodidade da comunicação 
contemporânea, mas também pelo tipo de informação contida na mensagem.
É por isso que, como dito, os gêneros são estáveis em determinado contexto, mas eles sofrem 
alterações: morrem, nascem, são renovados e, às vezes, resgatados. A crônica é um gênero 
muito antigo, e remete a um tempo em que era um registro histórico puro e simples, apesar 
dos seus problemas. Hoje se reconhece seus elementos literários.
67
O LEITOR • CAPÍTULO 3
Provocação
Alguns gêneros antigos que são utilizados até hoje nem sempre tiveram as mesmas características. Era comum a crônica 
histórica apresentar elementos que, na atualidade, nos parecem um pouco surreais, como as aventuras de Dom Afonso 
Henriques, primeiro Rei de Portugal, ao lado de Carlos Magno e o Rei Arthur (!). Ou, até a crônica de Fernão Lopes, a qual 
possuía elementos da novela literária. E, tocando nesse assunto, vale lembrar que há textos que até hoje são de difícil 
classificação: para muitos, “O Alienista”, de Machado de Assis, é conto; para outros, é novela. Alguns classificam várias 
narrativas de Camilo Castelo Branco como contos; outros, como micronovelas.
Assim como os gêneros podem mudar de acordo com o perfil do leitor, significa que eles 
podem dar origem a novos gêneros. Atualmente, novas formas tecnológicas originaram 
novos processos de comunicação. Como já apontava Pierre Lévy (2012), o ser humano cria 
os meios de comunicação, e esses mesmos o modificam.
Imagine o gênero Podcast: hoje, temos podcasts famosos: Scicast, Nerdologia, Inteligência 
Ltda... mas observou que muitos deles, apesar do nome, não se resumem apenas a áudio? 
Temos podcasts em canais de streaming visual, uma forma de adaptação de um gênero 
para outro. Na verdade, o que temos é um “talk”, gênero muito comum onde há perguntas 
e respostas, uma entrevista mais formal. Todavia, e fora adaptado para o formato podcast, 
de maneira que as pessoas possam assisti-lo em televisores smart, ou escutá-lo em 
smartphones.
Em suma, até mesmo um gênero que já era relativamente conhecido no Brasil, o podcast, 
sofre uma modificação dentro de uma revolução tecnológica, dando origem a uma nova 
forma de textualidade, um gênero emergente que modifica os processos de linguagem. 
São gêneros que ciam suas próprias formas de comunicação, possibilitando, inclusive, um 
hibridismo comunicativo (COSTA, 2008).
Porém, devemos ter em mente o que realmente esses gêneros agregam. Um e-mail, 
essencialmente, pode ser uma mensagem enviada, como uma carta física, com a diferença 
da velocidade. Qual a função de um gênero live, se pensarmos nesse como uma virtualização 
de uma sala de reuniões?
Cada vez mais os gêneros emergentes não se limitam a serem, apenas, versões mais 
rápidas de seus correspondentes “físicos”, mas oferecem possibilidades comunicativas: 
maior informação, participação, e desierarquização das informações. Esses novos 
gêneros acumulam maior número de recursos, como som e imagem, ampliando 
suas possibilidades e, assim, dando maior liberdade para o indivíduo experimentar 
um potencial ainda maior de recursos. Ou seja, esse novo leitor, em seu processo de 
cocriação, tem a sua disposição novos recursos linguísticos – visuais, verbais e mistos – 
para produzir sentido!
68
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
As tecnologias digitais não propiciam apenas o meio, mas ampliam as possibilidades 
comunicativas.
Tabela 11. Relevância de novos gêneros textuais.
Surgimento, desenvolvimento e possibilidade de adentrar espaços mais informais.
Por muitas vezes serem uma atualização de outros gêneros, apresentam características ausentes em suas contrapartes.
Propiciam discussão entre o que é texto oral, e o que é texto escrito, por serem ora recriação, ora revisitação de 
gêneros já existentes.
a forma como se alimentam de diferentes tipologias textuais, até mais do que outros já existentes, propiciando 
dinamismo comunicativo.
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
Saiba mais
De maneira genérica, podemos observar o gênero “texto digital”, e como ele dá origem ao “livro digital”, influenciando, por 
exemplo, nas competências linguísticas contemporâneas. Observe, por exemplo, este livro que você está utilizando nesta 
disciplina, como ponto de partida. Analise suas características, e tente descobrir o que ele tem de diferente da sua versão 
física!
Hoje, vivemos em uma cultura letrada. Há toda uma série de dificuldades socioculturais 
responsáveis pelo fenômeno dos analfabetos e dos analfabetos funcionais, mas nossa 
sociedade passou a ser estruturada com base na premissa do domínio do código 
linguístico em sua modalidade escrita e, principalmente, a capacidade do indivíduo de 
interpretá-lo. Isso é uma herança direta de Gutenberg, da época em que imprimir livros 
em grande quantidade tornou-se algo menos complicado. Consequentemente, o acesso 
à internet na palma da mão pelos aparelhos smart – deu visibilidade a gêneros que já 
existiam.
Figura 34. Leitura de textos disponíveis nos smarts.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/hand-holding-smartphone-vector-icon-people-1792882240. 
Alguns gêneros fazem o mesmo que seus equivalentes físicos: um e-mail e uma carta mandam 
mensagens, com a diferença de que, naquele você pode anexar outras informações, como 
69
O LEITOR • CAPÍTULO 3
fotos e vídeos. É possível assistir a palestras no Youtube, um gênero textual da tipologia 
dissertativa, mas o texto final pode ser editado para ficar mais dinâmico. A música romântica 
enquanto gênero textual-musical já existia, mas agora há a possibilidade de ser acessada 
muito mais rapidamente, e por um preço mais próximo da realidade das pessoas, já que, hoje, 
em muitas situações, não compramos a posse de algo, mas o direito de acessar esse algo.
Claro que as relações de autoridade ainda se mantêm: alguns gêneros são vistos como mais 
adequados para determinadassituações comunicativas. Um relatório geral, em formato 
“word”, é mais adequado para transmitir o avanço semestral de uma empresa, do que um 
áudio de WhatsApp e, em muitas situações, até mesmo do que um slide de PowerPoint.
Provocação
Já ouviu aquela expressão “essa reunião poderia ter sido um e-mail ou uma mensagem do Whatsapp”? Embora pareça um 
fenômeno muito recente no qual as pessoas estão muito entusiasmadas com as possibilidades da tecnologia, de modo que 
as pessoas realizam lives para debater assuntos e se percebe que aquilo poderia ter sido transmitido de maneira mais simples 
e resumida, a ideia de usar um gênero textual que não seja adequado para tal informação não é nova. Ocasionalmente, no 
processo dialógico com o leitor, promovemos um ruído quando não escolhemos adequadamente o meio de transmitir uma 
informação. 
Ocorre que esses novos gêneros, via letramento digital, carecem do elemento da 
atemporalidade: um livro didático digital, por exemplo, passa por constante reescrita. Além 
disso. Diminuiu-se a defasagem espaço-temporal entre a obra em produção, e o material final. 
Isso decorre da cultura do hipertexto, da interação com diferentes tipos de mídias, 
como videoaulas, fóruns, muitos produzidos em tempo real e, às vezes, construídos 
coletivamente por equipes, envolvendo profissionais e, em muitos casos, alunos. São textos 
que apresentam uma desierarquização até mesmo na relação entre emissor e receptor. 
Porém, um efeito colateral – se é que podemos utilizar essa noção – é que, pelo progressivo 
uso do texto escrito no lugar da fala, como se fosse a própria fala, é a presença maior de 
elementos da oralidade.
Em tempo: na internet, escrever em caixa alta é interpretado como GRITAR!
Ocorre uma invasão dos elementos orais no texto virtual. Primeiro, essas novas tecnologias 
possibilitam o surgimento de novos gêneros textuais; segundo, novas formas de se ter 
contato com textos alteram, a cada etapa, a forma como nos relacionamos com a tecnologia 
que criamos. Usamos gêneros já consagrados pelo meio digital, mas eles são substituídos 
por novos, os quais se adéquam a esse novo contexto.
70
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
Figura 35. Exemplos de gêneros emergentes.
 
1. Correio 
Eletrônico 2. Chat 3. Hangout (agendado ou não, privado ou 
coletivo) 
4. Bate-papo virtual em salas 
privadas 5. Entrevista via meio virtual 
6. Web aulas 7. Fórum educacional 8. Videoconferência 
9. Lista de E-mail 10.Aula via aplicativo de 
mensagens 
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
Esses gêneros promovem uma comunicação mista, pois se adéquam a um leitor 
transmidiático. Utilizam recursos que já existiam, mas em outros contextos. Ainda 
assim, esses novos gêneros estão intimamente ligados a outros, sendo muitas vezes uma 
reinvenção/atualização, mas em outros contextos
Tabela 12. Relação entre gêneros textuais emergentes e consagrados.
Gêneros emergentes Gêneros já existentes
Correio eletrônico Carta
Chat Seminário
Hangout Debate
Bate-papo virtual Conversa informal
Entrevista virtual Entrevista de emprego
Web aula aula presencial
Fórum Texto acadêmico/Congresso
videoconferência Reunião
Lista de e-mail Lista de participantes
aula via aplicativo de mensagens Curso via correio
Fonte: adaptada de Costa (2008).
3.4 Leitura transmidiática
A tecnologia é a aplicação da técnica. É o uso de um método ou objeto para a resolução de 
problemas. Por esse viés, um audiolivro é um uso tecnológico de uma premissa, propiciar 
a leitura de livros, mas por áudio. Da mesma forma, uma página de internet que fala sobre 
algum tema, como envelhecimento populacional, pode possuir o mesmo conteúdo que um 
livro – outra tecnologia –, mas utilizando recursos mistos, como som, vídeo, imagens.
Hoje em dia, a leitura é transmidiática, na medida em que o leitor também o é. Em diferentes 
situações, os estudantes não têm mais os livros didáticos no formato que conhecemos: eles 
têm apostilas personalizadas, as quais possuem indicação de links, QR Codes e integração 
71
O LEITOR • CAPÍTULO 3
com plataformas virtuais. Assinam plataformas de leitura, as quais disponibilizam obras 
paradidáticas. E, muitas vezes, pelo contato com a língua inglesa, leem livros que nem foram 
publicados no Brasil, por meio de aparelhos de leitura.
Importante
Vale salientar que na nova estrutura do Ensino Médio – o “Novo Ensino Médio” – a língua inglesa não é trabalhada mais 
como língua estrangeira, mas língua franca. Essa mudança de postura a coloca num patamar de um idioma comum no qual 
todas as pessoas a dominam em algum grau, possibilitando que o estudante possa ter contato com o mundo, ao invés de 
depender apenas de cursos para aprimorar o seu uso. Premissa já existente em algumas profissões – como o Marketing e a 
Informática – e que passa a ser implementado a partir de 2022.
Quando falamos que há uma quebra de hierarquias na produção textual, também significa 
dizer que isso afeta o leitor e o escritor. Uma forma bem útil para abordarmos essa questão 
é o fenômeno conhecido como fanfiction.
Como aborda Murakami (2016), há registros de fanfics – outro termo para o mesmo 
gênero, a exemplo de “fics” – desde meados dos anos 1970, por ser um tipo de obra na qual 
uma pessoa cria um texto a partir de outro, como uma versão alternativa, aproveitando 
um “se”, “talvez” e “quem sabe”, tentando conceber como tal história teria acontecido. 
Na atualidade, as fanfics esbarram na questão de direitos autorais, motivo dos escritores, 
quando os produzem, fazerem uma declaração de que estão produzindo um texto 
baseado na obra de terceiros, e que os personagens usados, com exceção de outros que 
criaram, não lhe pertencem.
Saiba mais
Raquel Murakami é doutora pela USP, com pesquisa em gêneros textuais emergentes. Sua análise sobre fanfics procura 
abordar como muitos gêneros textuais surgem como consequência de novas questões da contemporaneidade, e, 
principalmente, novos meios de comunicação.
Mas, já diria o poeta, “na vida nada se cria, tudo se copia”. Esse conceito de autoria, para 
Foucault (apud FIORIN, 2008), é uma invenção da modernidade: passamos a precisar 
“culpar” alguém pelas suas ideias. O Homero de “Ilíada” é realmente o mesmo de 
“Odisseia”? Seriam todos os textos de Platão realmente do filósofo ateniense ou, alguns, 
uma contribuição de algum estudante? Vale lembrar que Leonardo da Vinci, bem como 
diferentes outros artistas renascentistas dos séculos XV e XVI, criavam ateliês nos quais 
treinavam seus alunos para auxiliar na produção de suas obras, mas tudo era considerado 
como criação do artista. Imagine, então, quantas esculturas, prédios e outras construções, 
associados a da Vinci, não foram, de fato, diretamente produzidas por ele?
72
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
Fanfics seguem essa premissa: quem lê a obra infantil de Monteiro Lobato, vai descobrir 
que o autor, em um dos livros, conta a história de Hans Staden, alemão que naufragou no 
Brasil, no século XVI. Mas essa “lenda” é oriunda de um livro. Mas Monteiro vai além: Em 
“Reinações de Narizinho”, o Gato Félix faz uma participação!
Tabela 13. alguns personagens de terceiros na obra de Lobato.
Obra Personagem(ns)
Reinações de narizinho gato Félix
Memórias de Emília Popeye, Peter Pan
Histórias Diversas Donald, Mickey, Pluto
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
Entusiastas da cultura americana, atualmente muitas dessas obras entram no problema 
do direito autoral. E muitas histórias nas quais nos atentamos até os dias de hoje, 
promovem uma relação intertextual implícita, como a releitura que Lima Barreto faz de 
Dom Quixote, na obra “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Ou como “Dom Casmurro”, 
de Machado de Assis, é fruto de uma releitura de “Otelo, o Mouro de Veneza”, em “Dom 
Casmurro”. Fanfics, então, dão continuidade a todo um processo criativo no qual a obra de 
arte dialoga com a arte. 
Basta lembrar as relações intertextuais explícitas entre “Ilíada”, de Homero, e “Eneida”, de 
Virgílio. Virgílio era um entusiasta da cultura grega,uma 
representação de palavras ou ideias com sinais gráficos, em papel ou outro tipo de 
superfície. Dessa maneira, o sistema alfabético também está associado ao campo 
semântico da palavra.
Figura 1. a escrita.
Fonte: https://pxhere.com/en/photo/1575575. 
A escrita em um documento oficial, legal, assinado, reconhecido ou não por testemunhas, 
pelo cartório, tem a função de legitimar uma negociação e garantir os direitos de ambas 
as partes. Em suma, a raça humana desenvolveu um sistema de comunicação conhecido 
como “escrita”, e esse fenômeno se dá pelo recurso sinais visuais (FIORIN, 2008). Nossos 
primeiros registros datam de mais de 4.000 anos a.C., e foi se desenvolvendo por meio de 
símbolos que representavam ações, conceitos e ideias, e também por meio dos sons, à 
medida que foram se desenvolvendo sinais que representavam os sons.
9
ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL • CAPÍTULO 1
A escrita é uma representação da fala? Não simples afirmar isso, porque, além disso, é preciso 
entender a fala também como produção essencialmente humana, que não se pode tomar 
como “dote especial” concedido por divindades ou por fatores biológicos. A oralidade deve 
ser entendida e concebida como um instrumento criado pelo ser humano para se comunicar, 
uma vez que, ao longo da história, havia a necessidade de se viver em comunidades para 
garantir a sobrevivência da espécie. Dessa maneira, o ser humano criou símbolos e seus 
significados, o que possibilitou a comunicação entre seus pares, e concedeu-lhe a liberdade 
de poder pensar e agir mesmo sem ser na presença daquele objeto a que se referia. Nessa 
mesma linha, criaram-se as ideias, as abstrações, ou seja, para cada ser concreto há também 
um som (grito, gesto ou ação) que o simboliza.
Podemos usar a seguinte explicação: a fala é uma maneira de representar diretamente as 
ideias porque ela não é planejada ou refeita como a escrita. Em razão disso, se diz que a 
escrita é uma representação de segunda ordem (KOCH; ELIAS, 2010). Nada é escrito que 
não tenha sido anteriormente concebido, produzido, pronunciado. É por isso que algumas 
palavras criadas na internet, por exemplo, desaparecem com o tempo, pois não são 
assimiladas pelos falantes, principalmente quando essas possuem uma pronúncia fora do 
comum, com poucas sílabas e sentidos complexos.
Importante
A confusão entre fala, escrita e suas variedades ocorre porque, em nossa sociedade, há a primazia da variedade escrita 
em relação à falada, de maneira que há uma tentativa progressiva de que migremos da escrita oralizada para a fala 
escrituralizada.
O texto é a produção de sentidos. E, como dissemos, escrever um texto envolve representar 
palavras ou “ideias”. Quando falamos em texto não verbal, englobamos desenhos, melodias 
e diferentes manifestações que não utilizam palavras, mas são uma representação direta de 
ideias ou conceitos. 
atenção
No decorrer da nossa disciplina daremos muita ênfase à modalidade verbal da língua no processo de produção textual. 
Porém, é importante ter em mente essa noção ampla do que é um texto, já que negociaremos com diferentes produções no 
decorrer dos nossos estudos.
Percebeu a que nos referimos quando falamos de escrita? Excelente! Vamos aprofundar 
agora a noção de “texto”.
10
CAPÍTULO 1 • ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
1.2 Espécies de texto
É muito importante que você, futuro docente, tenha em mente a amplitude do ato de 
produção textual. Seja em sala de aula, no preparatório para o vestibular ou gravando um 
vídeo para um canal de streaming, pessoas estão constantemente produzindo textos.
Porém, deve-se observar a importância do texto escrito e sua relação com a fala. Do 
contrário, não podemos conferir à língua escrita a importância e a função que ela deve 
ocupar no contexto social em que estamos inseridos. É claro que poderíamos explicar 
de maneira mais aprofundada essa preponderância da escrita sobre outras formas de 
produção textual, mas, por ora, vamos nos deter em uma premissa básica: nossa sociedade 
estruturou-se em torno do código escrito, de maneira que, findados 12 anos da Educação 
Básica, espera-se que a variedade linguística do indivíduo não seja a oral coloquial, mas a 
oral normativa formal.
Além disso, escrever é, também, ativar conhecimentos. Vamos falar um pouco sobre isso.
1.2.1 vida social
A produção escrita, para ativar o conhecimento, deve proporcionar a negociação com 
o leitor, uma vez que o texto produzido é direcionado a ele, e não se resume apenas a um 
conjunto de regras. Sendo assim, há uma interação entre escritor, texto e leitor, de maneira 
que a escrita tem a função de ativar saberes. Isso ocorre da seguinte forma: quando 
produzimos um texto escrito, recorremos a um conjunto de conhecimentos que estão 
guardados em nossa memória, de forma a desenvolver a escrita. Nossos conhecimentos 
linguísticos, enciclopédicos etc. e não apenas um conjunto de saberes, mas aqueles 
construídos ao longo de nossas interações sociais. É por isso que quem lê, sabe mais e tem a 
possibilidade de escrever cada vez melhor. 
Para refletir
Dizemos aqui “melhor” no sentido de textos de acordo com a norma padrão e, também, enunciados mais sofisticados. 
Reconhecemos a riqueza das variedades linguísticas, mas a norma-padrão culta formal apresenta uma série de elementos 
que favorecem o desenvolvimento de uma série de competências inerentes às sociedades contemporâneas. 
Compare, por exemplo, um relatório produzido por um gerente de um escritório a seus 
auxiliares, com um e-mail recebido por um candidato a uma vaga de emprego. Em muitas 
situações esse e-mail será enviado por um indivíduo que ou tem pouca experiência de 
trabalho, ou tem pouca experiência no campo de atuação profissional. Você poderá 
observar como o relatório estará impregnado de palavras e estruturas sintáticas próprias de 
determinado contexto trabalhista. Percebe a diferença?
11
ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL • CAPÍTULO 1
Isso aponta para uma informação fundamental: o domínio das regras de escrita envolve a 
prática dessas regras. Podemos nos lançar na aprendizagem de uma grande quantidade de 
regras e normas, mas elas são aprendidas – e apreendidas – no decorrer de sua prática. Essa 
premissa é tão verdadeira que se aplica a qualquer profissão quando um aluno precisa de 
alguma experiência prática antes de se formar, fazer um estágio.
Produzir texto é produzir sentido e, no sentido que queremos atribuir, significa também 
“escrever”. E, nesse caso aqui apresentado, texto escrito, tendo como base o nosso 
conhecimento enciclopédico, o qual é resgatado quando produzimos os mais diferentes 
tipos de enunciados verbais. E mesmo o texto mais formal e técnico possui elementos 
que um falante da língua, dotado de certo domínio dos registros e variações linguísticas, é 
capaz de compreender. Muitos textos de humor, como charges mistas, utilizam-se desse 
conhecimento enciclopédico para tornar os textos engraçados, mas o leitor só entenderá se 
também for conhecedor do assunto.
Figura 2. O leitor.
Fonte: https://pxhere.com/en/photo/1587787.
Escrever é promover diálogo constante com nossos conhecimentos sobre o mundo, 
conhecimento esse construído com base nas mais variadas experiências (COELHO; 
PALOMANES, 2016). Esses são fundamentais para que se compreendam certos textos 
como tirinhas, músicas, pois podemos recorrer a eles quando houver a necessidade. Aliás, 
o escritor estrutura o texto de acordo com uma intensão comunicativa, e isso ocorre por 
ele desejar atingir o seu leitor, que também objetiva compreender o texto. Quando escreve, 
cabe ao leitor ter em mente as informações necessárias para que o processo comunicativo 
seja bem-sucedido.
Você já passou por uma experiência em que um texto era maior do que o necessário? 
Utilizando um termo muito recorrente nos dias de hoje, já experimentou a sensação de que 
“aquela reunião poderia ter sido resumida a um e-mail”? É esse o princípio da produção 
textual e sua interação com os atores envolvidos, dee ao produzir sua obra, ele cria toda uma 
relação na tradição da poesia épica, na qual o novo canto é superior ao anterior, mas presta 
homenagem. Aliás, vale lembrar que na obra “Os Lusíadas”, de Camões, no canto I, primeira 
estrofe, temos o seguinte verso:
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Ao longo da obra, a narrativa camoniana não apenas referencia obras como Ilíada, Eneida 
e Odisseia, como apresenta seus cantos como uma continuidade das obras ali contadas. A 
história de Eneias, personagem presente em Ilíada, de Homero, é continuada em Eneida, 
73
O LEITOR • CAPÍTULO 3
de Virgílio. Seus descendentes, os romanos, serão a ligação que Camões utilizará para 
contar a saga dos portugueses, como se eles fossem, via romanos e Eneias, descendentes 
dos troianos é o elemento essencial do que chamamos de intertextualidade (GUIMARÃES, 
2012).
Figura 36. Homero.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/white-marble-bust-greek-poet-homer-39222733. 
As obras, desde tempos antigos, já se referenciavam. Basta lembrar como a mitologia 
romana citava a egípcia. Mas a ideia de uma obra como posse será consagrada entre os 
séculos XVIII e XII (FOUCAULT apud FIORIN, 2008). Nesse ponto, o autor de uma obra, 
pelos traços físicos do seu texto, seu estilo, suas marcas, não é nem o escritor, nem o 
narrador. 
Além disso, hoje há o que chamamos de “direito da obra” (MURAKAMI, 2016), de maneira 
que editoras, por exemplo, podem comprar o direito de uma obra e autorizar outros 
a escrevê-la. Veja o exemplo de “O mágico de Oz”, que possui uma série de livros – mais 
de 50 – mas poucos escritos pelo autor original, o qual, em um momento de dificuldades 
financeiras, vendeu os direitos para a editora. Em um caso mais recente, a famosa série “As 
tartarugas ninjas”, em suas múltiplas encarnações, surgem em uma história de quadrinhos 
de autoria de Kevin Eastman e Peter Laird, os quais venderam os direitos da obra, e todo 
o universo que surge a partir disso, tem uma direção dos editores, que expandem a obra. 
Seria essa obra uma fanfic do original? Se olharmos por esse viés, essas obras são “fanfics 
oficiais”.
atenção
E foi isso o que a escritora J. K. Rowling fez com uma peça de teatro chamada “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”, de 
autoria de Jack Thorne e John Tiffany. Primeiro, ela autorizou a peça a ser lançada. Depois, gostou tanto da história ali 
presente, que fez alterações no texto, numa espécie de coautoria, e a transformou em material canônico, continuação 
oficializada.
74
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
É por isso que fanfics, na atualidade, são uma espécie de “ficção expandida” (SIQUEIRA, 
2008, p. 35), pois não têm autorização legal, mas não visam obter lucro, só diversão. Eles já 
existiam antes, repassados por meio de fanzines. Atualmente, são divulgados na internet, 
aproveitando todo o espaço do texto digital. 
Observe que, como apontamos ao falar da estética da recepção, fanfics estão relacionadas 
à mudança do leitor, pois envolvem a forma como leitores contemporâneos recepcionam o 
texto e sentem vontade de interagir com ele. 
Sugestão de estudo
Há, inclusive, diferentes escritores que iniciaram suas carreiras assim: Cassandra Clare, conhecida pela saga “Os 
instrumentos mortais”, escreveu uma fanfic chamada “Draco dormiens” e continuações, sobre o universo de Harry Potter. 
Ainda aproveitando esse potencial, Lexas escreveu uma duologia – até o momento – sobre o universo de Harry Potter, mas 
tratando Hogwarts como aquilo que ela é, uma escola, na qual temos alunos com seus dramas, problemas, surtando por 
causa dos exames escolares, tendo que amadurecer e enfrentar situações como bullying, monoparentalidade (MURAKAMI, 
2016) e outros. Essas duas obras, “O poder versus a Astúcia” e “Mais do que palavras: guarde um tempo para viver” abordam o 
universo de Harry Potter não pelo viés da figura mítica do herói – no caso, o próprio Harry Potter – mas a subversão da figura 
da personagem, e como hoje as grandes questões existenciais podem ser representadas pelas frivolidades do cotidiano. 
Disponível em: https://bityli.com/GSqxo. 
Assim, fanfics são releituras de outras obras, e estão associadas à atualização tecnológica e 
discursiva (FIORIN, 2008), pois, na atualidade, a arte encontra novos caminhos para atingir 
diferentes parâmetros.
Esse ponto é fundamental para, enfim, entendermos o elemento da “liberdade criadora” da 
literatura transmidiática. Escrita e leitura estão em negociação com o passado e o presente, 
mesmo em novos formatos, a exemplo dos concursos de microcontos em redes sociais. 
Além disso, assim como os leitores faziam suas próprias adaptações, ou seja, fanfics, 
há todo um mercado editorial que compreende essa necessidade midiática criativa do 
indivíduo, e oferece caminhos para a coparticipação nessas novas produções. Hoje, quando 
determinada obra faz sucesso, ela recebe rapidamente uma adaptação para o cinema; 
posteriormente, busca-se toda uma série de obras para atender a esse mesmo perfil de 
leitor. 
Essa necessidade participativa cria novos caminhos: se há livros que dão origem a filmes, 
ocorre o inverso: séries, jogos e histórias em quadrinhos surgem de outros. Basta ver, por 
exemplo, a consagrada série “Star Wars”, que desde sua origem já produzia material paralelo.
Para refletir
Ou, até a consagrada série “The Walking Dead”, na qual alguns personagens, como aquele conhecido como “O governador”, 
ganhou até um romance no qual é contada a sua história, até a sua primeira participação na série.
75
O LEITOR • CAPÍTULO 3
McLuhan (2010) aponta para a libertação das energias criativas influenciada pelos meios de 
comunicação, de como nós queremos representar nossa criatividade, mas não estamos mais 
limitados ao espaço do livro físico.
Saiba mais
As relações midiáticas, e como os conteúdos são produzidos, hoje, são muito dinâmicas. Recomendamos o vídeo “Diferenças 
entre crossmídia e transmídia” para auxiliar no seu entendimento. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_
nK1NG8E2SA.
Outra forma é a noção de uma história que vai se conectando por diferentes caminhos, 
todos igualmente válidos. Se você gosta de filmes, então sabe que, nos últimos anos, surgiu 
o chamado “Universo Cinematográfico Marvel”, e que cada filme, série e, inclusive, livro, 
conta um pedaço da história, a qual continua e se perdura. O leitor, nesse caso, não está 
limitado apenas à tela da TV: ela transita por audiolivros, podcasts, jogos e, até histórias em 
quadrinhos. 
Provocação
Cabe salientar, aqui, o famoso “algoritmo do Netflix”, o qual analisa os gostos das pessoas e não se limita a indicar outras 
obras: com base nas preferências, ou seja, os hábitos do leitor, a plataforma produz diferentes materiais. Observe, para fins 
de comparação, como muitos atores, como Adam Sandler, dominam esse espaço, pois a sua comédia do tipo “pastelão” 
é algo que o público, em si, consome. E por seguir exatamente essa mesma lógica, é que atores brasileiros como Leandro 
Hassum têm ganhado muito espaço. Caso ainda não tenha entendido, assista aos filmes “Click”, de Adam Sandler, e “Tudo 
bem no Natal que vem”, os quais têm o mesmo mote sobre como as relações sociais no dia de hoje são afetados por uma 
sociedade capitalista, mas são igualmente divertidos, e atendem a um público-leitor-modelo (Umberto Eco que o diga!) que 
entra no jogo ficcional de se tornar o “leitor daquele tipo de obra”.
Ainda assim, diferente do que se esperava, a literatura transmidiática pelo menos até o 
momento, não substituiu a física: pelo contrário, deu origem a todo um novo “filão”, no qual 
um gênero textual, ao invés de substituir outro, o complementa e amplia suas possibilidades. 
3.5 noções de letramento
Para finalizarmos,é importante abordar dois elementos fundamentais que buscam, se não 
esgotar, pelo menos tratar do leitor: como ele é formado, na atualidade; e qual a sua real 
função em uma sociedade letrada?
É para abordar a questão da formação que optamos por falar não do processo de 
alfabetização, mas de letramento.
Em tempo:
76
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
Tabela 14. alfabetização x letramento.
Alfabetização Letramento
Domínio da técnica de leitura e escrita. Domínio da plurissignificação social da leitura e escrita 
enquanto prática do cotidiano.
Fonte: adaptada de Soares (2012).
Em oposição, o analfabeto seria o indivíduo que não domina a técnica da leitura e da 
escrita, a qual seria apontada como a única forma de aquisição de saberes. Porém, 
como apontamos, a leitura não está limitada ao código escrito, e as recentes legislações 
educacionais enfatizam a capacidade do indivíduo de interpretar as subjetividades do 
mundo.
Saiba mais
Aliás, a ideia de um Novo Ensino Médio altera e muito a percepção de como as atividades e competências linguísticas são 
desenvolvidas em sala de aula, principalmente com o conceito de itinerários formativos. Recomendamos a leitura do breve 
artigo que explica as principais mudanças. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=40361.
O letramento, então, busca trabalhar o texto para além do elemento normativo. Isso 
porque tem como premissa pedagógica a forma como o leitor interage com o texto em 
suas relações sociais, e como o indivíduo interage com diferentes tipos de texto (SOARES, 
2012). Exemplo disso é como o grafite, se para alguns é pichação, para outros é uma forma 
de se expressar socialmente por outros meios.
O texto, como dito, é espaço de produção de sentidos. Quando lemos, resgatamos uma série 
de símbolos que fazem parte do nosso processo formativo. Observe como as crianças, ao 
brincar de super-herói, colocam algum pano amarrado no pescoço para criar uma capa. 
Essa “capa” é um elemento simbólico, que em tempos antigos, era a “espada mágica” dos 
grandes heróis. 
Provocação
Observe que narrativas como “Betty, a feia”, e sua versão mais recente, “Betty em NY”, resgatam as leituras prévias que 
tivemos de obras como “A gata borralheira”.
A leitura não é uma prática isolada: o leitor o faz em diálogo com suas experiências. Toda 
leitura de um texto, o é na medida em que dialoga com outros. É por isso que trabalhar 
o domínio do código escrito tendo como premissa a função social do texto, propicia 
uma dimensão ampla. Produzimos sentido durante o ato da leitura, e o fazemos, 
principalmente, à medida em que o texto dialoga com nossos conhecimentos prévios. 
Essas leituras podem ser aproveitadas em diferentes contextos, como o escolar (SOARES, 
2012).
77
O LEITOR • CAPÍTULO 3
Observe como diferentes estudantes têm suas próprias experiências socioculturais: família 
com ou sem formação, níveis econômicos diferentes, círculos de amizade [...] nossas 
concepções de leitura e escrita não formal começam antes da escola. Um exemplo disso é 
como a criança tem uma capacidade incrível de criar narrativas, inventando histórias via 
imaginação.
Assim, ao abordar o domínio do texto não apenas como forma de dominar o código escrito, 
mas entender as relações socioculturais da língua, é possível superar as limitações da escola, a 
qual, muitas vezes, trabalha com gêneros textuais como desassociados da realidade.
Imagine que você está ensinando metrificação para seus estudantes do 9º ano, ao 
abordar o gênero poesia. Ao invés de abordar esse conteúdo como um texto isolado 
– conhecimento em si, ao invés de conhecimento como um meio para se atingir um 
objetivo – pode ser muito vantajoso, por exemplo, trabalhar a tradição da poesia satírica 
em Língua Portuguesa, partindo das cantigas satíricas, passando por Gregório de Matos e, 
até algum funk que seus estudantes gostem.
Por meio do letramento, é possível utilizar o texto como forma de abordar questões 
relacionadas com o contexto do estudante. O estudante pode participar via práticas 
discursivas orais enquanto desenvolve a competência linguística (SOARES, 2012). Além 
disso, possibilita ao professor trabalhar com a desierarquização do texto, do discurso 
autorizado, e possibilita transmitir a noção de texto enquanto construção coletiva. 
Assim, passa-se a resgatar não apenas diferentes textos, mas diferentes possibilidades de 
leitura, em um processo transdisciplinar. Ao se apropriar do texto escolar, e correlacioná-lo 
com seu texto prévio, o estudante gradativamente desenvolve a competência para construir 
do discurso do “eu”, em suma, se apropria do texto para construir seu próprio discurso. Essa 
premissa é fundamental para entender o texto não apenas por um viés normativo, forma 
de construir saberes por meio de regras sociais: mas traçar relação entre os discursos que 
transitam pela sociedade. 
Dessa forma, o indivíduo desenvolve a competência linguística que é tão cara para o 
falante: observe como muitos dos seus estudantes têm dificuldade na interpretação dos 
enunciados. Isso ocorre porque, para eles, o texto é o espaço do ensino da norma culta, 
não do desenvolvimento das práticas discursivas. Porém, via letramento, o ensino da 
língua não passa a ser visto por um viés de trajetória – da forma que ocorre no decorrer da 
Educação Básica – mas com idas e vindas, interações com diferentes tipos de discursos, de 
modo a desenvolver tanto o domínio do código escrito, em diferentes registros, como dos 
usos da fala. É isso que permite que ele retome, inclusive, textos anteriores – manifestações 
discursivas – para dar a elas nova abordagem.
78
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
Magda Soares (2012) aponta para o problema da desfragmentação dos saberes, prática 
replicada na escola: o estudante aprende as normas da língua como algo isolado, sem 
contextualizar o idioma na sua relação com disciplinas como a Sociologia e a Filosofia. Isso 
o impede de correlacionar o que aprendeu, com outros elementos que concebem o seu 
meio social. Porém, pela prática do letramento, é possível que esse mesmo estudante vá 
além das leituras superficiais, entender os elementos significativos do texto em si.
Sugestão de estudo
Por exemplo, já que os estudantes gostam muito de filmes de super-herói, que tal pedir uma redação para a turma, na 
qual eles analisam as relações entre Thor e Loki, dos filmes da Marvel, sobre o viés da alteridade, o princípio de que nos 
completamos nas nossas diferenças?
A capacidade de entender os enunciados para além de uma leitura superficial nos leva a 
outro ponto: a função do leitor na sociedade.
3.6 a função social do leitor
Desde pequenos, aprendemos a relação entre leitura e livro físico. Ao longo deste capítulo, 
tivemos como objetivo enfatizar a relação do leitor com o meio ao seu redor.
Porém, como tanto apontamos, vivemos em uma sociedade letrada, a qual se estrutura por 
meio do código escrito. A capacidade de entender os enunciados para além de uma leitura 
superficial nos leva a outro ponto: a função do leitor na sociedade.
O leitor é o criador e, também, o intérprete. É ele quem intermedia significados, e os traduz 
em algo plausível. Não muito diferente dos sacerdotes da antiguidade, das comunidades 
tradicionais, e até mesmo dos tempos modernos, no qual ele é investido de uma autoridade 
espiritual por ser o único capaz – e autorizado, vale salientar – de ler e dar a interpretação 
correta. Observe como nossa sociedade, hoje em dia, possui muito marcada a imagem do 
“comentarista”, do indivíduo que lê algo (texto, situação, acontecimento) e dá sua opinião, 
a qual tem caráter de autoridade. Nós os chamamos de intérpretes, críticos literários, 
comentaristas políticos e outros diferentes termos. 
Assim, numa visão deveras hierarquizada, numa sociedade que busca o domínio pleno 
do texto escrito, tentando criar um ambiente de letrados, é inevitável que a leitura cria 
suas autoridades, a ponto de gerar um efeito que Walter Benjamin chamaria de “aura”.Associamos alguém que lê muito a uma pessoa muito inteligente, embora muitas vezes não 
se questione a qualidade dessas leituras.
79
O LEITOR • CAPÍTULO 3
Mas, e principalmente agora, qual é a função do leitor? Não há uma resposta objetiva, e ela 
estará de forma paralela ao próprio ato da leitura. Mas devemos entender o leitor como 
alguém que assume um posicionamento de acordo com os textos que lê, e como ele utiliza 
em situações discursivas diferentes.
Figura 37. Leituras.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/different-people-spend-time-home-during-1680511264.
É importante salientar que, cotidianamente, a leitura tem algumas funções bem claras: 
informar, conhecer, deleitar. Observe como essas são motivações situacionais, e, portanto, 
podem ser modificadas. Isso porque se o leitor trava contato com o texto de forma 
pessoal, inevitavelmente ele terá leituras com relação diferente do que o planejado.
Assim, nossa sociedade, previamente, os diferencia por essas práticas:
Tabela 15. Tipos de leitor.
Informacional » Leitura enquanto forma de atualização. 
 » Maior contato com gêneros textuais que prezam pela velocidade da informação, como sites e 
podcasts.
 » acompanha diariamente publicações.
 » Leitor atento ao cotidiano, e busca se posicionar criticamente.
 » Ocasionalmente tem acesso a mais quantidade de informações, do que qualidade, o que gera 
uma abordagem superficial dos temas.
 » É o tipo de leitor usado como padrão, em uma sociedade letrada.
Estudioso » Tende a se encontrar em determinado assunto para suas leituras.
 » Busca algo mais do que a informação resumida.
 » Muito da busca associada ao seu contexto.
 » Parte do seu cotidiano envolve busca e reflexão sobre essas informações, envolvendo 
questões socioculturais etc.
 » Pelo hábito, costuma ser tomado por um sentido de intranquilidade frente ao que busca 
aprender. Esse incômodo não é a curiosidade, mas pela vontade de aprender mais. 
 » Tende a frequentar eventos acadêmicos, a exemplo de professores de língua portuguesa que 
participam de seminários sobre variedade linguística.
80
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
Diletante » Pensa a leitura como forma de deleite.
 » Tem preferência por gêneros literários.
 » no contato com outros textos, carrega uma bagagem mais ampla de signos linguísticos.
 » Transita por diferentes escritores.
 » Ocasionalmente entra em conflito com a leitura tecnicista da escola.
 » Efeito prazeroso x obrigação da leitura
Fonte: adaptada de Koch e Elias (2010).
Observe como alguns perfis podem, inclusive, se mesclar: um leitor informacional pode 
ser, esporadicamente, um estudioso. E um estudioso pode ser, também, um diletante, e 
vice-versa. Porém, se interacional enxerga a leitura como forma de obter informações, os 
dois outros, como forma de interação. Além disso, o estudioso e o diletante têm formas 
diferentes de interagir com diferentes leituras. Se o estudioso se adapta bem às diferentes 
leituras por fazer parte da sua busca, o diletante tende a entrar em conflito com a 
obrigatoriedade da leitura.
Alguma vez você já viu um estudante que não participa muito da aula de literatura, ou não 
gosta de ler o texto indicado, mas você o viu, em diversos momentos, lendo um calhamaço 
de mais de 400 páginas (!), às vezes utilizando um registro linguístico muito mais 
normativo do que aquele utilizado na sala para o nível da turma. É um tipo de estudante 
que gosta da literatura enquanto prazer, não enquanto disciplina escolar. 
Resgatando brevemente o que falamos sobre o letramento: muitas vezes, a leitura em 
sala de aula é uma prática desautorizada, na qual prevalece a explicação do professor. 
Obrigatória, pois o estudante pode desenvolver um receio e resistência com aquele tipo de 
texto. Aproximar o texto, na sala de aula, envolve como você aproxima esse conteúdo do 
contexto desse estudante.
Aliás, há uma série de elementos – transculturais, transmidiáticos, dialógicos – utilizados 
para aproximar o leitor ocasional, como as próprias adaptações cinematográficas de obras 
consagradas, de maneira que o mercado editorial relança livros com novas capas, ou efeitos 
hiperdigitais – um QR Code na contracapa, por exemplo. E, às vezes, releituras de obras 
consagradas.
atenção
Essa forma de aproximar o leitor é muito presente. Muitas vezes jogamos com signos literários para dialogar com nossos 
estudantes. Observe, por exemplo, o filme “O espaço entre nós”, sobre um garoto que nasce em uma missão feita a Marte, e 
16 anos depois, toda a população retorna para a Terra. É baseado em um livro de Robert H. Heinlein, chamado “Um estranho 
numa terra estranha”, na qual um garoto nascido durante uma viagem a Marte, é criado por marcianos após os terráqueos 
morrerem, mas posteriormente ele é levado para a terra pela chegada de uma espaçonave vinda de lá.
81
O LEITOR • CAPÍTULO 3
Ler, então, se tona mais do que uma maneira de estar no mundo: mas de exercer papéis 
sociais. Daí a ideia de uma função social do leitor, de um indivíduo que exerce plenamente 
sua cidadania, desenvolve seu potencial formativo, à medida que se torna proficiente na 
capacidade ledora, do código verbal e não verbal. 
Figura 38. Interação da capacidade ledora com o mundo.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/sketch-illustration-back-school-books-stationery-2014803845.
Como aponta Paulo Freire, é por meio do texto que o leitor atravessa o primeiro 
degrau para começar a observar, de forma crítica e aprofundada, o contexto social, 
dele e nosso. Confronta-se a premissa de que só alguns leem, pois nós o fazemos pelos 
diferentes sistemas linguísticos, e assim “parasitamos” o mundo ao nosso redor, criando 
múltiplas semioses. Nossa função como leitor engloba apreender competências que nos 
permitam traduzir o mundo ao nosso redor – e, por assim dizer, tornarmo-nos tradutores 
intersemióticos (ECO, 1986) –, o que representam, e como negociam com diferentes 
aspectos do mundo.
Há uma frase atribuída a Lobato, na qual ele teria dito que “um país se faz de homens e livros”. 
Podemos ir além, e dizer que, com base no conteúdo abordado neste capítulo, um país se faz 
de leitores.
Figura 39. Leitores.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/illustration-stickman-kids-sitting-on-planets-1028726320.
82
CAPÍTULO 3 • O LEITOR
Sintetizando
Vimos até agora:
 » Os conceitos circundam do leitor.
 » Toda uma estética que considera o leitor como parte essencial na produção do texto.
 » As mudanças socioculturais que modificam o perfil do leitor, e como ele interage com o texto.
 » A relação entre os leitores e as modificações nos gêneros textuais.
 » O surgimento de novas formas de leitura influenciada pelas tecnologias digitais.
 » Os processos de domínio do texto por meio do letramento.
 » O leitor enquanto função social.
83
Introdução
Chegamos à metade do curso, no nível intermediário do ciclo de conteúdos!
Nos capítulos anteriores abordamos de maneira bem aprofundada a produção de sentido sob 
o viés do leitor, esse papel assumido por você e seus futuros alunos durante o processo de 
leitura e interpretação do mundo.
Porém, o texto não é apenas uma atividade do leitor, o sentido é produzido na interação 
autor-texto-leitor. Dessa maneira, é muito significativo entender como esses processos 
ocorrem.
Além disso, deve-se salientar como o texto vai construindo significados na interação com o 
mundo que nos cerca. É importante resgatarmos uma premissa fundamental dos estudos 
sobre o letramento: a relação entre o texto e o meio no qual é produzido. 
O escritor é um intérprete intersemiótico, um negociador entre o mundo em que havia, e sua 
transposição textual. Dessa maneira, poderemos abordar formas diferentes de se produzir 
sentido, e como isso pode ser utilizado de maneira ampla na transposição de ideias.
Objetivos
 » Observar as relações entre forma e sentido do texto.
 » Aprofundar os mecanismos de criação de sentido.
 » Apresentar exemplosde ruído na criação de sentido.
 » Delimitar mecanismos de coerência e coesão textual. 
 » Estudar alguns exemplos de sentido.
4CAPÍTULO
COESãO E COERÊnCIa
84
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
4.1 O formato do texto
Forma e conteúdo. Coesão e coerência. São dois elementos indissociáveis, pois é por meio 
da forma que costuramos o conteúdo, e o conteúdo dá sentido à forma escolhida.
Pense no bom e velho formato da redação argumentativa, com tópico frasal, tema, parágrafo 
introdutório, corpo do desenvolvimento e síntese. A defesa de uma ideia segue um formato, 
uma estrutura. 
Isso não está restrito apenas ao formato escrito: relatórios, liminares, receitas, pareceres... a 
forma importa. Os elementos estilísticos de um texto estão inseridos tanto no conteúdo 
quanto no formato desse conteúdo.
É fato que alguns formatos são padronizados: trabalhamos em sala de aula gêneros como o 
conto, o romance e os poemas. Mas alguns formatos ocasionalmente são retomados, como a 
novela, ou o documentário digital. 
Mas, repetimos: é um sentido construído. Para abordarmos os sentidos que queremos 
construir, devemos ter em mente o que queremos construir. Uma imagem verbal não é 
construída apenas pela transposição de palavras em um caderno: é preciso ter em mente os 
sentidos almejados.
Pense, por exemplo, um conto. Ele é dinâmico, conciso e centrado mais na ação das 
personagens. Observe como os elementos verbo-visuais (a roupa da chapeuzinho vermelho, 
a ideia de três irmãos por ordem de esforço, nos três porquinhos) produzem um sentido. Em 
obras como “Chapeuzinho Vermelho”, precisamos construir visualmente a personalidade do 
antagonista, o lobo, somos inseridos numa visão de sua personalidade devido ao adjetivo que 
acompanha seu nome, “mau”. 
Figura 40. Lobo mau.
Fonte: https://freesvg.org/bad-wolf-found-streetart-outline-2014090502.
85
COESãO E COERÊnCIa • CAPÍTULO 4
O efeito conotativo da linguagem não é produzido apenas pelo tamanho do texto, mas 
durante o processo de criação de sentidos, ele é uma parte fundamental. 
No decorrer deste livro, abordamos constantemente os aspectos comunicativos da língua, 
e como há formas de comunicação verbal, não verbal e misto. Para fins de progressão dos 
nossos estudos, neste capítulo abordaremos de maneira mais centrada a língua em sua 
variedade verbal, e como os sentidos do texto estão conectados à forma do texto.
4.2 O sentido do texto
Dito isso, é importante salientar o caráter metafórico da língua: colocamos frequentemente 
algo no lugar de outra coisa, ou seja, criamos imagens verbais para atingir o sentido que 
queremos criar. Faça um teste e tente lembrar quantas palavras utilizamos, pelo menos em 
língua portuguesa, para nos referirmos a “bumbum”, no português brasileiro.
A palavra é um signo linguístico, e pode ser plurissignificativo: da mesma maneira que 
um conceito pode assumir diferentes formas verbais (BAKHTIN, 2003), uma forma verbal 
pode assumir diferentes significados, fenômeno também conhecido como polissemia. 
Muitas vezes, estamos utilizando um sentido mais literal, denotativo, no qual a palavra 
pode significar aquilo que indica, como “pedra”. Mas podemos estar utilizando um sentido 
figurado, conotativo, no qual a palavra assume um sentido diferente de acordo com o 
contexto no qual é exposta. É o nosso bom e velho contexto que fará com que a expressão a 
seguir tenha outro significado: 
“Aquele que não tem pecados, que jogue a primeira pedra.”
Lembrando: esse processo está associado aos seus respectivos interlocutores, os indivíduos 
que interagem no processo comunicativo. É por isso que escrever um texto é travar um 
diálogo com outros, pois sempre temos um público-alvo, um leitor, o qual é presumido para o 
sentido que se quer atingir.
Ocasionalmente, podemos perder o sentido de algo, na medida em que ele não é claro, 
ambíguo. Exemplo:
“Jacqueline disse para Sofia que o namorado dela foi embora.”
Mas o namorado é de Jacqueline, ou de Sofia? Como bons intérpretes, somos levados 
a pensar que é de Jacqueline, já que ela não iria se dar ao trabalho de avisar à Sofia que 
o namorado da amiga fora embora. Mas... tem certeza? O problema da ambiguidade 
não é que ele pode significar uma coisa e outra, mas pela incapacidade de indecisão: 
um enunciado deve possuir um sentido pleno, não um meio-termo. É por isso que esse 
86
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
problema na comunicação é chamado de vício de linguagem, que vamos abordar mais 
adiante. E isso serve para indicar que a ideia de produzir sentido envolve uma intenção.
Por exemplo, às vezes queremos opor sentidos, criar linguisticamente uma ideia de 
oposição, e para isso utilizamos um recurso linguístico chamado de antonímia. Expressões 
como “quente e frio” são exemplos disso (COELHO; PALOMANES, 2016). Mas quando dizemos 
“ele se veste muito bem, apesar da personalidade”, temos um exemplo de frase antonímica, 
pois criamos semanticamente a ideia de oposição entre duas características de uma pessoa.
O fenômeno da sinonímia está muito relacionado ao fato de tentarmos não nos repetir, 
usamos palavras que podem substituir outras: casa, residência, moradia. Observe, por 
exemplo, que não há sinônimos perfeitos, mas adequados ao contexto:
Ela é uma bela garota.
Ela é uma bela mulher.
Ela é uma bela moça.
Observe que, de maneira geral, “garota”, “mulher” e “moça” podem ser sinônimos, sendo 
que, se por um lado “garota” tem um sentido mais amplo, “mulher” pode ter o sentido tanto 
de “sexo feminino” quanto de “adulta”; da mesma forma, “moça” também transmite uma 
ideia de “pessoa em formação”, daí a expressão “menina-moça” ou “ficando mocinha”. Os 
sentidos que criamos, reiteramos, não são universais. Dependem de um contexto.
Você observou algo em comum nessas palavras? O radical ónyma, de origem grega, que 
significa “nome”, antecedido por prefixos que indicam como ele funciona. Um hiperônimo, 
por exemplo, é um nome que indica uma palavra bem ampla que engloba um grupo grande, 
por exemplo, “mamíferos”. Já um hipônimo indica uma palavra que faz parte de um conjunto, 
no mesmo exemplo, “vaca”. 
Há uma série de maneiras de se criar sentido, mas o ponto principal é: fazemos isso a todo 
momento, a todo instante. Criamos uma série de figuras verbais como forma de dar sentido ao 
mundo, e torná-lo significativo. 
4.3 Criando sentidos: figuras de linguagem
Utilizar a linguagem é criar sentido, como já dissemos. Mas a língua possibilita que utilizemos 
seus recursos estilísticos para criar efeitos específicos, e o fazemos pela transmissão dos 
pensamentos, por recursos sonoros, por colocações frasais e por meio de diferentes recursos. 
Assim, criamos um número infinito de imagens verbais (FIORIN, 2008). 
87
COESãO E COERÊnCIa • CAPÍTULO 4
Importante
Você, estudante, deve estar se perguntando: quantas figuras de linguagem – ou de estilo – existem? 20? 34? 55? Ocorre que 
diferentes gramáticos dão definições diferentes para as figuras em grupos: semânticas, sintáticas, sonoras e de palavras. 
Mas tomemos as figuras de linguagem “catacrese”, considerada como “de palavra”, e “eufemismo”, apontada como “de 
pensamento”. Ambas têm um caráter metafórico, ou seja, algo que substitui outra coisa, que está no lugar de outra coisa. 
A catacrese é uma metáfora desgastada; o eufemismo é uma metáfora suavizadora. Se fôssemos seguir ao pé da letra essas 
classificações, poderíamos, inclusive, falar de figuras de linguagem metafóricas, nas quais ocorre, em algum grau, algum 
tipo de substituição. 
Da mesma forma que para determinadas questões gramaticais há discordância entre os 
especialistas, é possível encontrarmos com relação à classificação das figuras de linguagem, 
variando de gramática para gramática (o que tem uma classificação em um Manoel Pinto 
Ribeiro, pode estar em outro grupo em um texto de uma Tânia Câmara, por exemplo). 
Assim, optamos aqui por abordar as figuras de linguagem mais por progressão do que por 
conjunto. 
Figura 41. Tipos de figurasde linguagem.
Tipos de figuras de linguagem 
A – Comparação N – Sinestesia 
B – Metáfora O – Elipse 
C – Metonímia P – Silepse 
D – Catacrese Q – Anacoluto 
F – Prosopopeia/personificação R – Assíndeto 
G – Perífrase S – Inversão/hipérbato 
H – Antomásia T – Apóstrofe 
I – Antítese U – Onomatopeia 
J – Paradoxo V – Paranomásia 
K – Hipérbole W – Aliteração 
L – Ironia X – Assonância 
M – Gradação 
 
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
 » Comparação: quando você associa duas palavras por meio de uma qualidade comum 
a ambas. Exemplo: “Alto e musculoso como um armário”. Veja que o conectivo 
“como” associa características de um armário grande a um indivíduo, no sentido de 
algo grande e espaçoso. Aqui, “ele era grande e corpulento como um armário é”.
Figura 42. Ele é como um super-herói.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/business-man-superhero-on-his-shadow-1095362762.
88
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
 » Metáfora: a metáfora é, essencialmente, uma substituição. Não apenas 
comparamos algo de maneira abreviada: tem muito de pessoal e subjetivo nisso. 
Na língua, pode-se dizer que a metáfora tem um caráter de signo linguístico, pois 
nós temos, por exemplo, as metáforas literárias.
Se eu digo “O Tietê é uma estrada que conecta o estado de São Paulo”, estou fazendo uma 
comparação de duas maneiras: primeiro, ao não usar o “como”; segundo, ao aproximar o 
signo “estrada” de “rio”, no sentido de “trajeto”, “caminho”.
Saiba mais
Alberto da Costa e Silva, pesquisador brasileiro e membro da Academia Brasileira de Letras, possui um livro cujo título 
principal é “Um Rio Chamado Atlântico”, o que configura um exemplo de metáfora. Mais sofisticado, observe como o 
título do livro faz referência às relações comerciais entre Brasil e África durante os séculos do período colonial, e como os 
portugueses dominavam esses espaços de tal forma que parecia estarem cruzando mais um rio do que um oceano. 
Figura 43. “Um Rio Chamado atlântico”.
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_0nzyPduWjtE/SPYQ4MlcaaI/aaaaaaaaBgg/MWYmvgp9R64/s1600-h/Livro+Um+Rio+C
hamato+atl%C3%83%C2%a2ntico.jpg.
A língua tem caráter altamente metafórico, pois criamos, como já dito, imagens verbais para 
substituir outra coisa, ou dar maior ênfase (FIORIN; SAVIOLI, 2016). Tente imaginar, por 
exemplo, algum apelido que damos a alguém, com base em alguma característica que pode 
ser associado a outro ser. 
89
COESãO E COERÊnCIa • CAPÍTULO 4
 » Metonímia: outra figura de linguagem do campo das metáforas. Aqui substituímos 
uma palavra por outra, com base em uma relação de sentido estreitada. Se eu digo 
“Gosto de danone de chocolate”, na verdade eu gosto de um “Iogurte”, mas estou 
tomando o produto, pela marca, fazendo uma substituição.
 » Catacrese: há palavras que são palavras sem que percebamos que o são, seja 
porque utilizamos há tanto tempo que não nos damos conta, ou porque não temos 
uma palavra melhor para utilizar no lugar. Quando eu digo “Enterrei o dinheiro no 
colchão”; primeiramente, eu tenho o uso de “enterrar”, “inserir/enfiar na terra”, usado 
no sentido de “afundar algo”, mas o sentido de “enterrar”, em diversas situações, se 
perdeu. Da mesma forma, “embarcar no ônibus” é uma catacrese, pois reaproveita o 
sentido de “entrar no barco”.
Provocação
Já percebeu como algumas palavras podem estar à mercê de mais de uma figura de linguagem? Se eu digo “braço da cadeira”, 
estou utilizando uma catacrese ou, como iremos abordar mais adiante, uma personificação?
Já que falamos em substituições, vamos abordar outra figura: a personificação.
 » Prosopopeia/personificação: como diria uma famosa cantora, “a lua me traiu”. Mas 
observe que estamos atribuindo características, ações e, até, sentimentos, a seres 
inanimados, irracionais e, algumas vezes, abstratos. Observe o exemplo a seguir:
Tecendo o amanhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
(João Cabral de Melo Neto)
90
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
A linguagem poética, das “Cantigas de amigo” até as produções mais recentes, é carregada de 
elementos personificativos (GUIMARÃES, 2012). Veja que o trecho atribui uma intenção aos 
galos, como se, tal qual engenheiros, planejassem o processo de evocar os raios do sol. 
Figura 44. Exemplo de personificação: “braço da poltrona”.
Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/bra%C3%a7o-de-cadeira-grande-branco-308350/.
 » Eufemismo: muitas vezes há uma ideia sendo utilizada de forma mais sutil, de 
forma a suavizar o que está sendo dito. Expressões populares como “ele é de 
escorpião” fazem relação às posturas e temperamentos de uma pessoa; outras, 
como “meu amigo virou estrelinha”, no sentido de “faleceu”, exemplificam o caráter 
extremamente contextual dessa figura de linguagem. 
Saiba mais
Há, inclusive, uma figura de linguagem considerada como o inverso do eufemismo, com o uso de expressões mais vulgares: 
disfemismo. Há, ainda, uma substituição, mas não existe a intenção de “dourar a pílula”, a exemplo de expressões como “foi 
comer capim pela raiz” ou “foi dar de comer aos vermes”. Porém, o disfemismo perde seu efeito grosseiro quando ele tem a 
pretensão de evocar o humor, sendo muito mais utilizado no texto oral do que escrito.
Da mesma forma que o eufemismo e o disfemismo, há duas outras figuras muito relacionadas: 
perífrase e antonomásia.
 » Perífrase: ocorre a substituição de uma palavra por outra, numa relação de 
características. Se eu chamo a cidade pernambucana de Recife pela alcunha 
de “Veneza brasileira”, estou associando-a as suas chuvas. Observe que essa 
aproximação não é tão subjetiva como uma simples metáfora. Se, por exemplo, 
chamarmos a Bíblia de “Livro Sagrado”, estamos remetendo a um gênero textual 
chamado “livro sagrado”, composto por outros livros de procedência religiosa.
 » Antonomásia: praticamente uma variação da perífrase, mas está relacionada apenas 
à pessoas. Observe que, quando eu falo, no Brasil, “o Rei”, posso estar me referindo 
tanto a Pelé quanto ao cantor Roberto Carlos, devido às suas conquistas em seus 
respectivos campos. Castro Alves recebe a alcunha de “poeta dos escravos” pelo 
seu envolvimento com o processo de abolição e seus poemas sobre a escravidão. 
José Bonifácio é conhecido como “O Patriarca da Independência”, pela sua atuação 
política. 
91
COESãO E COERÊnCIa • CAPÍTULO 4
Figura 45. “O Rei do Futebol”, exemplo de antonomásia.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/soccer-king-1105097.
Saiba mais
No campo semântico, não é incomum uma mesma perífrase ou antonomásia ser resgatada de tempos em tempos para se 
referir a pessoas ou indivíduos diferentes (KOCH, ELIAS, 2010). Vários impérios já receberam o título de “O império onde o 
sol não se põe”, em relação à sua extensão territorial; assim como termos famosos como “pai dos pobres”. 
Há figuras de linguagem que são do campo da estrutura sintática, pois são criadas figuras 
verbais mais pela ordenação das palavras do que pelo sentido implícito a cada uma. 
 » Antítese: figura na qual ideias estão ao mesmo tempo em oposição, mas possíveis 
de se aproximarem no sentido que constrói. Exemplo: “Por ter vivido de esperança, 
morreu de fome”. Observe que as palavras – “vivido” e “morreu” – indicam elementos 
contrários, mas, no contexto da frase, são possíveis e se complementam.
 » Paradoxo: outra figura que tem semelhança com outra. Mas aqui as expressões se 
opõem. Exemplo: “não é doce, mas salgado”. 
 » Hipérbole: expressão na qual há um exagero para dar maior ênfase a ideia. 
Exemplo: “Mil anos não é o suficiente para você chegar aos meus pés”.
Saiba mais
A hipérbole é um exagero intencional, mas nem sempre é uma frase.Há palavras que, de acordo com o uso, agregam um 
exagero (BECHARA, 2015), algo que está além da média, que transcende, a exemplo de termos como “o escolhido”. Eventos 
históricos costumam receber, a posteriori, esses termos, como “Segunda Guerra Mundial” ou “Operação Justiça Infinita”.
92
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
Figura 46. Um workaholic, exemplo de hipérbole visual.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/funny-portrait-businessman-many-arms-1823847374.
 » Ironia: novamente um jogo de palavras no qual dizemos algo, mas ao contrário 
(RIBEIRO, 2017). Utilizamos palavras que querem dizer o contrário do que 
realmente significam. A expressão “bonitinho” não necessariamente está 
relacionada à beleza, assim como “seus pais devem ter orgulho de você”, pode 
indicar um sentimento de decepção.
 » Gradação: há situações nas quais um efeito é apresentado pela forma como as ideias 
vão sendo apresentadas de maneira crescente ou decrescente (RIBEIRO, 2017):
Metade
Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim
Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será
Que você está agora?
(Adriana Calcanhoto)
93
COESãO E COERÊnCIa • CAPÍTULO 4
Importante
É comum a “gradação” em um texto narrativo, no qual os eventos vão progredindo até atingir um clímax. Poeticamente 
falando, pode-se dizer que “O curioso caso de Benjamin Button”, de Scott Fitzgerald, ao contar a história de um homem que 
nasce velho e vai rejuvenescendo, é um efeito literário de gradação.
 » Sinestesia: figura na qual aproximamos palavras pelo efeito que causam aos nossos 
sentidos, como a visão e o olfato: “tem um gosto amarelo nesse feijão”. Curioso, 
talvez. A frase pode associar o gosto à cor, e aproximar o gosto a um alimento como 
fubá, por exemplo (RIBEIRO, 2017). Observe que, nesse caso, há, ainda, um elemento 
metafórico no termo. Se eu disser “esse café tem um gosto de verde”, posso estar 
usando “verde” como sinônimo de “mato”.
 » Elipse: figura de linguagem que cria sentidos pela omissão de termos em uma frase: 
“No corredor, [estão] quatro pessoas”.
Saiba mais
A elipse é, também, um elemento sintático e coesivo (BECHARA, 2015), pois evita a repetição de termos pela supressão de 
palavras que já apareceram no texto. 
Por sinal, há um tipo de elipse que trabalha com a omissão de um termo que já apareceu na oração, que é a zeugma: “ele lê 
durante o dia; ela, à noite”.
Existe, também, a reticência, na qual uma frase é deixada incompleta intencionalmente, de forma que o interlocutor possa 
completar as lacunas do sentido: “venha agora, senão...”.
Cabe lembrar que, enquanto elemento sintático, a elipse é muito recorrente em redações de 
concursos, visto que tem como funcionalidade a construção de textos concisos, evitando-se, 
assim, a prolixidade.
Saiba mais
Além de figuras de linguagem baseadas em supressão, há aquelas que têm como princípio para a criação de sentidos a 
repetição, como a anáfora (não confundir com o elemento de coesão anáfora), que repete um termo que já apareceu: 
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer? 
(Legião Urbana)
Há também o Pleonasmo, no qual se repete um termo para enfatizar a ideia em si:
“É rir meu riso e derramar meu pranto.” 
(Vinicius de Moraes)
94
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
Observe que há figuras que, por construírem sentidos pelo processo de construção frasal, o 
fazem ora pela interrupção, ora pela omissão de termos:
 » Silepse: é comum confundir a silepse com um erro de concordância, já que é uma 
figura de linguagem – alguns usam o termo “figura sintática” – que promove uma 
concordância ideológica (BECHARA, 2015). Quando dizemos “São Paulo é lotada de 
vida”, o predicativo “lotada” concorda não com o Estado de São Paulo, mas com a 
“cidade”.
 » Anacoluto: figura de linguagem muito mais utilizada na oralidade do que na escrita, 
na qual ocorre uma interrupção da sequência lógica do pensamento: “Eu, assim que 
eu chego, como você me vê?”
Importante
Observe que, como dissemos anteriormente, algumas figuras de linguagem são muito mais utilizadas na produção textual 
oral do que na escrita (RIBEIRO, 2017).
 » Assíndeto: cria um efeito dinâmico ao omitir conectivos em uma frase: “Àquele 
sujeito, devo tudo; aos outros, nada.”
Saiba mais
Há outra figura de linguagem que é o inverso do assíndeto, é o polissíndeto. Synd vem do grego “conectivo” (RIBEIRO, 2017), 
e é uma figura que utiliza a repetição de um termo para criar um efeito em sequência.
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Índios e padres e bichas, negros e mulheres
E adolescentes fazem o carnaval
(Podres Poderes – Caetano Veloso)
 » Inversão/hipérbato: figura de linguagem em que a expressão é utilizada na ordem 
inversa. Muito comum em hinos nacionais, como em “Ouviram do Ipiranga às 
margens plácidas, De um povo heroico o brado retumbante”.
 » Apóstrofe: quando se cria o sentido de alguém a ser evocado. Sintaticamente, ele é 
similar a um vocativo: 
“Tende piedade de mim, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade.” 
(Vinícius de Moraes)
95
COESãO E COERÊnCIa • CAPÍTULO 4
Para fecharmos nosso ciclo, não podemos nos esquecer das figuras que são formas de 
representar ou imitar efeitos sonoros, que em algumas gramáticas são classificadas como 
figuras sonoras.
 » Onomatopeia: recurso estilístico para imitar sons, como “o gato faz miau”, uma 
onomatopeia que imita o som emitido pelo felino.
Oinc oinc!
Au au!
 » Paronomásia: quando se usa a repetição de sons semelhantes, mesmo que com 
significados distintos, ou seja, parônimos (RIBEIRO, 2017). 
Aquela cativa
Aquela cativa
que me tem cativo
porque nela vivo
já não quer que viva.
(Camões)
 » Aliteração: envolve a repetição de sons consonantais:
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
(Cruz e Souza)
 » Assonância: assim como a aliteração, mas com a repetição de sons vocálicos:
O último dia 
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?
96
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
Ia manter sua agenda
De almoço, hora, apatia?
Ou esperar os seus amigos
Na sua sala vazia?
[...]
Corria prum shopping center
Ou para uma academia?
Pra se esquecer que não dá tempo
Pro tempo que já se perdia?
[...]
Abria a porta do hospício?
Trancava a da delegacia?
Dinamitava o meu carro?
Parava o tráfego e ria?
(Paulinho Moska e Billy Brandão
Provocação
Poderíamos apontar, até, tantas outras figuras de linguagem, associadas à criação de sentido via transposição de ideias, 
supressão de termos, efeito sonoro e substituição. Com essa “pequena listinha” que montamos, você pode desenvolver 
algumas atividades para sua turma, o que acha? E que tal pesquisar outras possíveis figuras que não foram mencionadas 
aqui?
4.4 Ruído: vícios de linguagem
Figura 47. Problemas de comunicação.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/problems-communication-couple-concept-frustrated-
young-2070670994.
97
COESãO E COERÊnCIa • CAPÍTULO 4
Bocage, poeta português associado ao movimento estético Árcade, teria ajudado um poeta 
que carecia de talentos literários. Tentou fazer alguns ajustes no texto que recebeu, mas não 
obteve um resultado satisfatório. Daí, segundo a lenda, teria surgido o seguinte ditado:
A emenda saiu pior que o soneto
Nem sempre a comunicação é perfeita. Estudamos anteriormente os elementos da 
comunicação, e pudemos aprender como ocorre, às vezes, ruído: um dos elementos 
apresenta erros de sentido. É o elemento “mensagem”, o qual não atinge a plenitude da sua 
proposta (JAKOBSON, 2010). Chamamos essa falha de comunicação de vício de linguagem. 
Decorre de uma falha, algo indevido que prejudica o sentido ou atrapalha elementosessenciais de todo processo comunicativo: coerência e coesão.
Figura 48. vícios de linguagem.
a) Tautologia 
b) Ambiguidade 
c) Cacofonia 
 e) Arcaísmo 
f) Prolixidade 
g) Chavão 
h) Obscuridade 
i) Preciosismo 
j) Vulgarismo 
 
 c.1) Colisão 
c.2) Parequema 
c.3) Eco 
c.4) Hiato 
c.5) Cacófato 
c.6) Cacoépia 
 j.1) Fonético 
j.2) Morfológico/sintático 
 
d) Barbarismo k) Queísmo 
l) Solecismo 
 
 d.1) Gráfico 
d.2) Ortoépico 
d.3) Prosódico 
d.4) Semântico 
d.5) Morfológico 
d.6) Mórficos 
 l.1) De Concordância 
l.2) De Regência 
l.3) De Colocação 
 
Fonte: elaborado pelo autor (2022).
Nesse momento, abordaremos alguns dos mais comuns. Alguns, por sinal, refletem uma 
óbvia influência da oralidade na escrita:
 » Tautologia: ele é como um pleonasmo, mas envolve uma ênfase desnecessária: 
“Hoje terá uma surpresa inesperada”. Hora, toda surpresa é inesperada! 
No pleonasmo, é comum usar uma palavra acompanhada de um adjunto adnominal 
(RIBEIRO, 2017) cuja característica já está presente na palavra:
98
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
Tem uma gota no teto
A gota é no teto! Se fosse no chão, seria poça; no parede, seria corrimento! Assim, “elo de 
ligação”, “hemorragia de sangue” e outras expressões são exemplos de tautologia. Também 
pode ser chamado de “pleonasmo vicioso” ou “redundância”.
Figura 49. Subir para cima, descer para baixo.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/graph-going-down-sign-green-red-2028691598.
Importante
Mas há expressões que dependem do contexto. Se eu dissesse “ele é um japonês do Japão”, posso estar me referindo a um 
japonês nascido no Japão, em oposição a descendentes de japoneses nascidos em outros países, e que possuem dupla 
nacionalidade. Da mesma maneira, usar a expressão “o português de Portugal” tem o sentido da língua portuguesa da forma 
que é utilizada em Portugal.
 » Ambiguidade: “Jacqueline disse para Sofia que o seu namorado foi embora”. Usamos 
uma frase similar a essa anteriormente, e apresenta esse elemento: o que ela quer 
dizer? A ambiguidade é uma falta de clareza, não por ter dois sentidos, mas pela 
incapacidade de se decidir sobre qual é o correto.
Saiba mais
Há o chamado paradoxo vicioso, no qual temos uma antítese de significado vazio (RIBEIRO, 2017). Atualmente, é muito 
utilizado para fins de humor: “Eu quero que você me inclua fora disso”.
Figura 50. ambiguidade.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/traveler-try-find-location-compass-people-1921950023.
99
COESãO E COERÊnCIa • CAPÍTULO 4
 » Cacofonia: ocorre que alguns vícios de linguagem, por influência da oralidade, 
causam uma repetição sonora desagradável. Ocorre que há mais de um tipo de 
cacofonia:
Tabela 16. Tipos de cacofonia.
Colisão Quando temos uma repetição de sons vocálicos, semelhantes ou idênticos. Ex.: “Pede o Papa paz ao povo.”
Parequema Efeito oriundo do encontro entre duas sílabas iguais ou sonoramente semelhantes, entre o final de uma 
palavra e o início de outra. Ex.: “mala laranja”.
Eco nesse caso, as palavras em uma frase têm terminações parecidas ou iguais, criando o efeito da 
dissonância: “O Marcão roubou pão na casa do João”.
Hiato Outro caso de fonemas em sequência, nesse caso, vogais: “Ou eu ou a outra chegará cedo”.
Cacófato acidente no qual outra palavra é formada por acidente: “Me dá uma mão”.
Cacoépia Pronúncia incorreta dos fonemas, viciosa: “framengo”.
Fonte: adaptada de Ribeiro (2017).
 » Barbarismo: trata-se de um vício que muitos confundem com a cacofonia, mas não 
está associado ao choque de fonemas, mas uso incorreto das palavras com relação a 
características como significado, pronúncia, flexão, formação ou grafia, e possui mais 
de um tipo:
Tabela 17. Tipos de barbarismo.
Gráfico Desvio na escrita: “cazamento”, “jesso”.
Ortoépico Desvio na pronúncia: “pertubar” (perturbar).
Prosódico Desvio na acentuação: “nóbel” (nobel).
Semântico Desvio no significado: “comprimento” (“extensão”, usado no sentido de “saudação”).
Morfológico Desvio na flexão da palavra “pãos”, ao invés de “pães”.
Mórficos Desvio na forma correta: “amoral”, (ausência de moral), como sinônimo de “imoral” (contrário à moral).
Fonte: adaptada de Bechara (2015).
Observe que um barbarismo prosódico também pode ser, no exemplo que apresentamos, 
ortoépico.
 » Arcaísmo: comunicação é entendimento. Uma vez que a língua tem todo um caráter 
sociocultural, é comum o léxico sofrer modificações com o tempo. Assim, o uso de 
certas expressões, como “quiçá”, ao invés de “talvez”.
Importante
Um arcaísmo pode ser literário, a exemplo da linguagem utilizada no parnasianismo, o que configura tanto elemento estético 
quanto forma de licença poética.
Além disso, o arcaísmo tem uma relação profunda na transição de elementos orais para os escritos. Observe como, 
atualmente, o pretérito mais-que-perfeito é preterido em detrimento do pretérito perfeito (“comeu” com o sentido de 
“comera”), o que pode configurar um tipo de barbarismo, mas exatamente pelo elemento transgeracional do idioma, trata-se 
de um caminho que a língua segue, de maneira que certos usos se mantêm nas regras da norma culta.
100
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
 » Prolixidade: muitas pessoas não percebem como a prolixidade é um vício terrível 
para a compreensão do texto, pois evita que se entenda a mensagem, devido à 
quantidade de informações desnecessárias que só fazem com que o texto dê voltas 
e mais voltas para dizer que há mais palavras do que o necessário. É por isso que 
devemos ter um texto conciso, sem excesso de palavras; do contrário, teremos todo 
um texto prolixo, sem precisão e com um uso extensivo de informações para dizer 
poucas coisas. Esse problema do texto prolixo afeta sua capacidade comunicativa por 
causa da quantidade de palavras, frases e outros elementos. Para evitar isso, deve-se 
fugir da prolixidade, a qual atrapalha a compreensão textual.
 » Chavão: “frases feitas”. Muito comuns na oralidade, resgatadas de maneira mais 
sofisticada na literatura, mas empobrecem o texto formal ao usar expressões 
desgastadas. Deve ser evitado a todo custo em dissertações, por exemplo. 
Recentemente, em um programa de TV que avaliava projetos trazidos por jovens 
empreendedores, um grupo de mulheres, diante de uma equipe formada por grandes 
empresários – do qual fazia parte Luiza Trajano, do grupo Magazine Luiza – finalizou 
a apresentação das suas ideias alegando que “vocês deveriam nos patrocinar, 
pois o futuro é feminino”, utilizando um chavão que tem sido muito utilizado há 
algum tempo nas redes sociais. Além de não ter sido aprovado, esse chavão foi uma 
simplificação extrema que não transmitiu, de maneira crítica, todo o ideal do projeto 
delas.
 » Obscuridade: É um vício de linguagem que mescla outros vícios, como o arcaísmo, 
por exemplo. Mas ele é muito afetado pela sintaxe, principalmente quando 
utilizamos construções frasais longas. Em aulas de redação, você vai se deparar 
com estudantes que constroem parágrafos frasais, o que afeta a estrutura do 
texto: “No dia de ontem, chegamos devagar para entrar no porto com antecipação”. 
Nem sempre uma obscuridade é tão explícita, mas ela demonstra uma forma 
desnecessária de se escrever o texto, prejudicando o entendimento.
Importante
Em determinadas situações, o que pode ser considerado um vício de linguagem pode ser uma figura de linguagem. O 
exemplo utilizado, em um contexto adequado, seria um exemplo de inversão.
 » Preciosismo: similar ao arcaísmo, mas envolve o uso de uma linguagem 
extremamente formal em todas as situações, a exemplo de “pretérito”, “progenitor” e 
“enlaçamento”, ao invés de “passado”, “pai” e “namoro”.
 » Vulgarismo: um barbarismo diretamente associado à transgressão da norma culta, 
pois envolve o uso de expressões e construções frasais populares em contextos 
inadequados. 
101
COESãO E COERÊnCIa • CAPÍTULO 4
Tabela 18. Tipos de vulgarismo.
Fonético Uso da escrita que imita a pronúncia informal.
Ex.: “Quero muito fazê esse curso”.
Morfológicoe sintático Problemas na escrita e na construção dos enunciados:
Ex.: “Os cara chegaram cedo” (os caras).
“Eu vi ela passeando por aí” (Eu a vi).
Fonte: adaptada de Bechara (2015).
Nota: observe como esse vulgarismo também configura um exemplo de cacofonia.
Saiba mais
Um vício de linguagem que utiliza gírias, termos informais em contextos formais, é o chamado plebeísmo, no qual vemos 
frases como “Tá ligado, morou?”.
 » Queísmo: vício de linguagem associado ao uso prolixo do que: “Eu quero que você, 
que está cansado, venha até aqui já que precisamos conversar sobre esse assunto, que 
é do seu interesse”.
 » Solecismo: outro vício de linguagem sintático. 
Tabela 19. Tipos de solecismo.
De Concordância Fazem duas horas que chegamos (faz).
De Regência Irei na Bahia o mais rápido possível (à).
De Colocação Me faça um favor (faça-me).
Fonte: adaptada de Bechara (2017).
Observe que, em outros termos, também são considerados erros sintáticos. Para fins de 
construção de sentidos, são chamados de vícios de linguagem.
4.5 Costurando: coesão referencial e sequencial
Como você já deve ter observado, nesta unidade abordamos algumas questões mais 
técnicas do processo de construção de sentido, mas de forma suficientemente didática 
para que você possa colocá-las em prática. Esperamos que possa resgatar esse conteúdo 
em futuras oportunidades. Quem sabe, quando precisar montar sua aula de estágio?
Falamos sobre a (im)produção de sentidos. Mas como esses sentidos se interligam no 
ambiente frasal? Pela conexão entre as suas partes, o que chamamos de coesão.
102
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
Quando dizemos que um bom texto é coeso e coerente, estamos falando sobre como ele tem 
sentido, e esse está costurado, ou seja, as ideias estão interligadas (FIORIN; SAVIOLI, 2016). 
E esse interligar pode ocorrer de diferentes maneiras. Vamos abordar o que chamamos de 
coesão referencial e coesão sequencial.
4.5.1 Coesão referencial
Vínculo estabelecido para ligar palavras, orações, períodos e parágrafos; retomada de um 
elemento da superfície do texto (ou seja, de dentro dele). O referente é o nome ou sintagma 
nominal que vai ganhando novos traços semânticos, à medida que ele vai sendo retomado e o 
texto progredindo.
Exemplo:
Montei uma biblioteca! Lá, passo várias horas do dia.
O menino chora copiosamente. Que sentia o pequenino?
Observe como os termos “Lá” e “pequenino” resgatam, respectivamente, “biblioteca” e 
“pequenino”. Além disso, temos o uso de classes gramaticais diferentes para retomar o 
referente. Isso agrega fluidez ao texto, riqueza textual e criticidade. 
Ocorre que a coesão referencial pode ser endofórica ou exofórica: naquela, aponta para 
elementos na superfície do texto, elementos anteriores ou posteriores, ao referente; nesta, 
há o apontamento para informações externas, ou seja, as que não aparecem diretamente no 
texto, mas são implícitas.
Tabela 20. Função endofórica.
Anáfora; Referencia termo anterior. Ex.: não vi seu pai. Quando cheguei, ele já tinha partido
Catáfora: Referencia termo posterior. Ex.: Eu a vi, minha amiga.
Fonte: adaptada de Koch e Elias (2010).
Nota: não confundir o uso da anáfora na coesão referencial, quando repetimos o referente 
com palavras diferentes, à figura de linguagem “anáfora”, na qual a mesma palavra é repetida 
para dar ênfase.
gotas de conhecimento
Breve dica para uso dos pronomes esse/este:
Este, esta, isto – catáfora: No Brasil, o problema é este: corrupção.
Esse, essa, isso – anáfora: Fui assaltado. Isso tem que parar.
103
COESãO E COERÊnCIa • CAPÍTULO 4
Tabela 21. Função exofórica.
Também chamada de “função dêitica”.
Ex.: Ali será amarelo (onde é ali?)./Como assim, Diego? (como assim o quê?)/Aqui está muito frio. (onde é aqui?)/Ontem 
fui ao cinema. (Ontem em relação a quando?)/Na semana que vem, comprarei os livros. (Em que momento estamos 
para dizer “semana que vem”?).
Fonte: adaptada de Koch e Elias (2010).
4.5.2 Coesão sequencial
Coesão mais voltada para a progressão textual, considerando as flexões, os conectivos etc. 
Grosso modo, os famosos conectivos que aprendemos a utilizar nas redações.
Importante
Cabe lembrar, inclusive, que embora seja a Competência 4 do critério de correção da Redação do ENEM, isso também 
influencia as Competências 2 e 3, pelo uso da tipologia dissertativa, e a capacidade argumentativa do candidato.
Essa coesão aborda:
 » a articulação das informações no texto;
 » a progressão temática das ideias;
 » estruturar o interior do texto.
Tabela 22. Termos utilizados na coesão sequencial.
Adição/inclusão/continuidade além disso, também, e, pois, agora, por sua vez, outrossim etc.
Ex.: vou ao mercado e já volto.
Oposição Embora, entretanto, mas, no entanto, porém, por outro lado etc.
Ex.: Ele fez, entretanto, não gostou.
Afirmação/igualdade Felizmente, na verdade, de igual forma, semelhantemente etc.
Ex.: Felizmente, foi assim que aconteceu.
Exclusão Sequer, exceto, apenas, mas, excluindo, apenas etc.
Ex: Todos concordam, exceto Pedro.
Enumeração Em primeiro lugar, a princípio etc.
Ex.: não fizemos, a princípio.
Explicação Com efeito, como se nota, é óbvio que, portanto, isto é, por exemplo, a saber, de fato etc.
Ex.: Estudo, porque gosto.
Conclusão Em suma, por fim, em síntese, posto isso, assim, consequentemente, concluindo etc.
Ex.: Depois de tudo, em suma, a culpa dele está determinada.
Fonte: adaptada de Ribeiro (2017).
Vamos abordar alguns exemplos dos mecanismos coesivos:
104
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
Figura 51. Progressão.
 
João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro 
que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos 
refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara 
nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em 
pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava 
dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro. Proprietário e 
estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda com mais 
ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as 
mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de 
uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. 
Fonte: adaptado de guimarães (2012).
No texto, a narrativa progride por meio dos marcadores verbais (foi/enriqueceu/economizou/
ganhara/retirar-se/estava/estabelecido/atirou-se/possuindo-se/afrontava/dormia), os quais 
determinam a passagem de tempo. A coesão sequencial organiza os fatos do tempo.
Figura 52. Sequência.
 
Não obstante, ao lado dele a crioula roncava, de papo para o ar, gorda, 
estrompada de serviço, tresandando a uma mistura de suor com cebola crua 
e gordura podre. Mas João Romão nem dava por ela; só o que ele via e 
sentia era todo aquele voluptuoso mundo inacessível vir descendo para a 
terra, chegando-se para o seu alcance, lentamente, acentuando-se. Houve 
um silêncio, no qual o desgraçado parecia arrancar de dentro uma frase que, 
no entanto, era a única ideia que o levava a dirigir-se à mulher. Afinal, 
depois de coçar mais vivamente a cabeça, gaguejou com a voz estrangulada 
de soluços. 
Fonte: adaptado de guimarães (2012).
Já no trecho acima, os conectivos permitem estabelecer uma sequência de ideias. No texto, 
são advérbios, preposições e conjunções.
Exemplo particular são os termos “não obstante”, “mas” e “no entanto”, que estabelecem uma 
relação de oposição e causam o efeito de opor ideias dentro do texto; por outro lado, o “e” 
estabelece uma relação de adição, pois acrescenta algo ao texto; e “afinal” estabelece/indica 
relação de temporalidade, buscando situar o leitor na sequência de fatos/argumentos.
Importante
Você, docente, tem uma vantagem ao trabalhar a coesão sequencial em sala de aula: a depender do ciclo escolar, os 
estudantes tiveram contato com muitos desses conectivos no estudo das conjunções e do período composto por 
coordenação e subordinação.Ao invés de recapitular todo um conteúdo com o qual já tiveram contato, planeje uma 
atividade em consonância com outra disciplina (português/redação) para tornar o tema mais dinâmico. Vale lembrar 
também, e principalmente no 9º ano do Fundamental II e na 3ª série do Médio, que os alunos estudaram massivamente esse 
conteúdo nos anos anteriores, e o recapitularam, para concursos de ingresso a instituições de ensino.
105
COESãO E COERÊnCIa • CAPÍTULO 4
4.6 Conectando: colocação pronominal
Finalizando nossa sequência didático-pedagógica, abordando os elementos da coesão, neste 
último subtópico vamos tratar sobre uma forma particular de coesão que pode ser utilizada 
como estudo inicial para seus alunos.
Você sabia que os pronomes têm “cadeira cativa” em uma frase? Não?
Pois bem, chamamos de colocação pronominal a posição que os pronomes pessoais 
oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao verbo a que se referem.
Vamos observar isso com muita atenção, pois muitas pessoas confundem o uso dos 
pronomes em uma redação. EX.: Vamos dar um passo de cada vez, para que você aprenda 
isso na prática. Na verdade, nossa intenção é trazer alguns exemplos que você possa 
utilizar na sua prática docente. É muito comum estudantes perderem tempo decorando 
listas e mais listas de conectivos, e muito disso tem origem no estudo dos usos das 
conjunções para a construção do período composto. É por isso que vamos usar uma coesão 
pronominal, forma bem dinâmica de auxiliar o estudante no processo de desenvolvimento 
da competência sintática.
Em suma: nossa intenção não é que o estudante tenha mais material para decorar, mas 
que possa compreender sua aplicação. Vamos dividir essa “trilha formativa” em partes.
 » 1ª parte – Pronomes oblíquos
Em uma frase, um pronome pessoal do caso oblíquo tem a função sintática de complemento 
(verbal ou nominal).
Ex.: Entregaram-nos ameixas (objeto direto).
Nosso interesse aqui envolve o uso dos pronomes oblíquos átonos. Recebem esse nome por 
dois motivos: a acentuação tônica é fraca; e não são precedidos de preposição.
Ex.: Você me quer bem?
Tabela 23. Pronomes oblíquos átonos.
Pessoa Singular Plural
1ª me nos
2ª te vos
3ª o, a, lhe os, as, lhe
Fonte: adaptada de Bechara (2015).
106
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
Saiba mais
Acompanhados de determinadas terminações verbais, os pronomes o(s) e a(s) se flexionam de maneira diferente.
 » após conjugações terminadas em “z”, “s” ou “r”, assumem a forma lo(s) e la(s), e a terminação do verbo será suprimida.
Ex.: diz + o = di-o; comeis + o = comei-lo; cozer + a = cozê-la.
 » mas se a terminação verbal é em fonema nasal, a forma assumida será na(s) e no(s).
Ex.: fizeram + o = fizeram-no; dispõe + as = dispõe-nas.
 » 2ª parte – Aqui, entre ou ali?
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram 
rapidamente, pois não havia tempo.
(Clarice Lispector)
Nos versos de Clarice Lispector, o pronome se ora aparece antes do verbo, ora depois do 
verbo, de acordo com a norma culta da língua. Nas duas primeiras orações e na última, 
a autora colocou-o antes do verbo. Isso se justifica porque as conjunções e os advérbios 
atraem o pronome. Na terceira oração, usou-o depois do verbo, obedecendo ao preceito de 
não se iniciar oração com pronome átono. Ainda que na linguagem falada, descontraída, 
as recomendações de colocação pronominal não sejam rigorosamente seguidas, deve-se 
observar algumas normas, sobretudo na linguagem escrita.
Em relação ao verbo, os pronomes oblíquos átonos podem ocupar três posições:
 » Antes do verbo – próclise: Não te observei.
 » Depois do verbo – ênclise: Observo-te há dias.
 » No interior do verbo – mesóclise: Observar-te-ei sempre.
Para refletir
Tem uma piada no meio dos estudos linguísticos que é mais ou menos assim: “Portugueses amam a ênclise (amo-te); 
brasileiros, a próclise (te amo), e pela mesóclise, um dia, alguém, quem sabe (amar-te-á)”.
 » 3ª parte – Regras dinâmicas
Trabalhar coesão textual em sala de aula com o recurso colocação pronominal pode 
ser uma tarefa bem dinâmica e simples, já que, por se tratar de pronomes pessoais, seu 
uso não engloba um conhecimento tão aprofundado como a aplicação dos pronomes 
relativos. Mas vamos abordar esse assunto em outra aula. 
Simplificamos algumas regras para facilitar seu planejamento didático:
107
COESãO E COERÊnCIa • CAPÍTULO 4
 » Não se começa um período usando um pronome átono.
Em outras palavras, nada de começar um período com a próclise.
Exemplo: A vi muito abalada depois do encontro (errado). 
Vi-a muito abalada depois do encontro (certo).
Lembrando: uma oração pode ter início após uma vírgula, como em “Ali, faz-se a melhor 
carne de sol da região”. Observe que a ênclise foi utilizada de maneira correta. 
 » Palavras atrativas
Em determinadas situações, o pronome oblíquo é atraído para antes do verbo. Dessa forma, 
em determinadas situações a próclise é obrigatória.
Tabela 24. Palavras atrativas.
De sentido negativo nada, nem, nunca, não, jamais etc.
Ex.: Jamais se envolva nisso.
Advérbios (sem uso da 
vírgula)
Bem, mal, ontem, apenas etc.
Ex.: amanhã a verei na festa.
Obs.: com vírgula, sem atração: “amanhã, verei-a na festa”.
Pronomes 
indefinidos
algum, todo, ninguém etc.
Ex.: ninguém se apresentou diante de nós.
Pronomes/advérbios 
interrogativos
Quando? Onde? Quanto? Etc.
Ex.: Quanto lhe devo?
Pronomes relativos Cujo, quando, como, o qual etc.
Ex.: Isso é o que lhe disseram?
Conjunções 
subordinativas
Embora, ainda que, caso, conforme etc. 
Ex.: Era cedo quando se percebeu a confusão.
Em + gerúndio Pronome entre “em” e “gerúndio”. Seu uso se justifica por expressar 
hipótese, tempo ou condição.
Ex.: Em se tratando de culinária, a portuguesa é divina!
Fonte: adaptada de Bechara (2015) e Ribeiro (2017).
 » Pronomes átonos não devem vir após o uso do particípio.
Deve-se analisar todos os contextos, mas é de consenso entre os gramáticos que o pronome 
átono não pode preceder a forma nominal particípia.
Ex.: Tínhamos nos apresentado na hora exata./Havia-me julgado com imparcialidade.
 » O uso da mesóclise
A mesóclise é um uso à parte, e por um motivo simples: ela é pouco utilizada na forma oral. 
Usamos muito a próclise na fala, atentamos mais ao uso da ênclise na escrita, mas a mesóclise 
é, muitas vezes, deixada de lado. E seu uso restrito, inclusive na escrita, deve-se a um motivo 
em particular: só deve ser utilizada nos tempos que indicam o futuro do indicativo.
108
CAPÍTULO 4 • COESãO E COERÊnCIa
Exemplo: “Entregar-vos-ei uma enorme quantia de dinheiro.”
“Fá-lo-ia uma grata surpresa.”
Observe que, em ambos os casos, os pronomes oblíquos átonos “vos” e “lhe” são 
inseridos no meio do verbo após as formas infinitivas “entregar” e “fazer”, e antes das 
flexões modo-temporais “ei” e “ia, indicando, respectivamente, os futuros do presente e 
do pretérito.
Observe que, pela regra da mesóclise e das palavras atrativas, há situações nas quais podemos 
ter verbos no futuro que usam próclises, mas nunca ênclises.
Ex.: Jamais se vangloriará daqueles feitos.
Isso nos remete a uma observação essencial: o pronome oblíquo átono atua normalmente 
como ênclise. É necessária uma provocação para que seja utilizado como próclise ou 
mesóclise. Há uma tendência na fala para o uso da próclise:
Te amo
Amo-te
Além disso, é possível situações em que se permite tanto o uso da próclise quanto da ênclise:
 » O verbo não estar conjugado no tempo futuro; 
 » O verbo não estar no início da frase.
Assim:
Eu te amo
Eu Amo-te
Sintetizando
Vimos até agora:
 » A relação entre forma e sentido de um texto.
 » A criação de sentidos.
 » As figuras de linguagem.
 » Os vícios de linguagem.
 » Os tipos de coesão.
 » O uso da colocação pronominal.
109
Introdução
Chegamos ao nível final do ciclo de conteúdo.
Dando continuidade aos conteúdos de produção textual, teremos a oportunidade de abordar 
como a relação de sentidos está ligada ao espaço de circulação dostextos.
O texto engloba todo um caráter comunicativo, e sua necessidade de se adaptar ao leitor. 
Aliás, por falar em leitor, é interessante considerar que há todo um espaço comunicativo 
por meio do qual os sentidos são transmitidos, e os textos, detentores de determinadas 
características, assumem formatos que favorecem essa transmissão. 
Assim, abordaremos os tipos textuais e seus respectivos gêneros, nos mais diferentes 
contextos comunicativos. De gêneros literários a publicitários, passando por digitais, 
jornalísticos e acadêmicos, exploraremos algumas das possibilidades do processo 
comunicativo.
Além disso, teremos a chance de abordar um pouco de um tema muito recorrente na 
atualidade: o que é fato, e o que é opinião? E quais são as suas implicações em uma sociedade 
na qual os mecanismos de comunicação estão acessíveis de maneira mais ampla?
Objetivos
 » Abordar os tipos textuais.
 » Aprofundar o conhecimento sobre gêneros textuais literários.
 » Promover uma relação entre gêneros textuais jornalísticos e publicitários.
 » Apresentar os gêneros textuais digitais e acadêmicos mais recorrentes. 
 » Salientar a relação entre fato e opinião.
5CAPÍTULO
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
110
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
5.1 Descrição, narração, dissertação e injunção
Anteriormente, abordamos a relação entre tipos e gêneros textuais, sobre como os gêneros 
são a forma como os tipos se propagam. Mas podemos ir além, já que, para Bakhtin (2003), 
a necessidade de construir enunciados gera uma forma de comunicação individual. 
Todavia, até mesmo essa individualidade se manifesta por meio de um formato considerado 
relativamente estável, ou seja, os gêneros.
Quantos gêneros existem? Tantos quanto a necessidade comunicativa. 
Tipos textuais = ∞ gêneros textuais
Embora haja um número limitado de tipologias – de acordo com a intencionalidade 
comunicativa – é razoavelmente correto afirmar que o número de gêneros textuais é infinito 
ou, pelo menos, beira ao, se considerarmos que esses gêneros nascem e morrem, de acordo 
com sua utilidade, período e intencionalidade. 
Por isso que se torna mais simples identificar as tipologias, como narrar, descrever, injuntar 
e dissertar. Alguns, inclusive, dividem o ato de dissertar em exposição(expositiva) e defesa de 
uma ideia (argumentativa).
Podemos tomar como base alguns exemplos significativos:
Tabela 25. Tipos textuais.
Narrativo “Ficava reclamando da vida como sempre fazia. Dia após dia, sol após sol. Para ele, a vida diária era 
um eterno purgatório.”
Dissertativo a capacidade humana de se reunir é um dos seus grandes diferenciais das demais espécies. nossas 
diferentes faculdades, como a linguagem, tornaram-se tão diferentes das de outros seres, pela 
necessidade de nos reunirmos, estabelecermos algum tipo de comunicação. Daí para a ideia de 
cultura, um passo.
Descritivo a televisão é um aparelho com a capacidade de transmitir informações, grosso modo. Já a Tv Smart, 
é uma Tv que executa alguns procedimentos de um computador, com opções interativas, entrada 
USB, adaptadores para wi-fi e HDMI, dentre outros recursos.
Injuntivo Baratas são, na verdade, uma consequência do acúmulo de lixo nos centros urbanos, o que 
justificava as infestações. Para evitar isso, procure separar seu lixo e levá-lo para fora quando o 
caminhão passar. além disso, faça manutenções periódicas no seu sistema de esgoto, evitando 
surpresas como entupimentos.
Fonte: adaptada de Fiorin (2008).
Observe que os exemplos dados não podem ser analisados como “puros”: há mescla de 
elementos entre um e outro. De fato, uma forma mais precisa de se classificar um texto é 
pelo seu gênero textual, o qual pode ser composto por mais de uma tipologia.
111
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
Tabela 26. Tipos e gêneros textuais.
Tipologia Exemplos de gêneros que possuem predominantemente essas características tipológicas
Descrição Bula de remédio, lista de compras, lista de componentes de um produto, curriculum vitae etc.
Dissertação Dissertação, tese, monografia, palestra, verbete, relatório, carta de reclamação, ensaio, conferência, 
entrevista etc.
Injunção Mensagem religiosa, livros de teor religioso, manuais, receitas médicas, receitas culinárias, textos de 
orientação, manuais de montagem, manuais de cursos, regulamentações etc.
Narração Romances, contos, fábulas, lendas, biografias, poesia épica, peças de teatro, novelas televisivas e 
literárias, diário pessoal, reportagem etc.
Fonte: adaptada de Fiorin e Savioli (2016).
Importante
Você deve ter percebido que o gênero textual curriculum vitae aparece como um exemplo da tipologia descritiva. E, embora 
ele seja uma forma de narrar a trajetória formativo-profissional de um indivíduo, veja como nem sempre essas informações 
estão tão bem organizadas. Além disso, ele procura mais descrever os elementos que justificam a contratação de alguém, 
elencando itens, do que simplesmente contar a história da vida profissional de um indivíduo.
Cabe salientar, conforme Koch e Elias (2010), que a heterogeneidade linguística favorece o 
surgimento dos mais diferentes gêneros textuais. E embora estudos, como os de Bakhtin, 
Fiorin e outros abordem a relação dos gêneros por meio das suas esferas comunicativas, 
é relevante observarmos que muitos gêneros orais não são percebidos como gêneros pela 
maioria da população.
Sabemos que o “conto” é uma narrativa menor. Mas e a “fofoca”? Ela engloba elementos 
narrativos e descritivos, e pela sua função comunicativa, é majoritariamente narrativo. Já 
a “mentira”, por envolver convencimento, possui elementos dissertativo-argumentativos, 
narrativos e descritivos.
É a partir dessas tipologias que os gêneros textuais surgem. Podemos observar, com isso, que 
não há o que muitos chamam de “gêneros puros”, por dois motivos: em primeiro lugar, os 
gêneros nascem e morrem, de acordo com a sua necessidade comunicativa; são estáveis no 
seu período de comunicação, mas sofrem variações com o tempo.
Saiba mais
Vale lembrar uma discussão clássica sobre a obra “O alienista”, de Machado de Assis: romance, novela ou conto? O que 
delimita suas características, o tamanho, o enredo ou os núcleos narrativos? Disponível em: https://teses.usp.br/teses/
disponiveis/8/8149/tde-24012014-111506/pt-br.php.
112
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
5.2 gêneros textuais literários
Os gêneros literários são aqueles que, de forma muito simplificada, têm comprometimento 
mais com o mundo ficcional que representam, do que com o meio do qual se alimentam. 
São narrativas que representam mundos possíveis e dizem respeito a sua coerência interna, 
embora possam apresentar elementos incoerentes em si.
Parece estranho um lobo falando com uma garota e dando conselhos? Bom, no gênero 
conto literário, da categoria conto de fadas, isso é plenamente aceitável. E, ao ler obras como 
“Eurico, o presbítero”, verá a ficcionalização dos eventos que mostram o fim do reino dos 
visigodos, na península ibérica. 
Saiba mais
Obviamente, às vezes é possível encontrar muitas incoerências. É clássica a discussão entre Machado de Assis e Eça de 
Queirós, quando aquele analisou a primeira versão de “O crime do Padre Amaro”, tecendo tamanhas críticas que dariam 
origem a mais de uma versão final da obra hoje consagrada. Disponível em: https://ge.fflch.usp.br/sites/ge.fflch.usp.br/
files/inline-files/2018%20-%20De%20onde%20tudo%20come%C3%A7ou%20-%20a%20cr%C3%ADtica%20sobre%20
E%C3%A7a%20de%20Queir%C3%B3s%20no%20Brasil%20-%20Cristiane%20Navarrete%20Tolomei.pdf. 
Antes de ampliar essa discussão, gostaríamos de fazer uma breve representação para que 
possamos entender como os gêneros literários se subdividem. 
Gráfico 5. Árvore dos gêneros literários.
 
GÊNEROS LITERÁRIOS 
LÍRICO 
» Mundo interior do poeta, do 
“eu”; 
» Expressa reflexões sobre temas 
sociais, políticos, filosóficos etc. 
» Presença de subjetividade e 
objetividade nos textos. 
Elementos: 
» Eu lírico (voz que se manifesta 
no texto, espécieque cada texto tem um escritor, e este 
produz um leitor presumível, específico, em dado contexto comunicativo.
12
CAPÍTULO 1 • ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
É isso que significa dizer que um texto possui “vida social”, pois, enquanto forma de 
transmitir e corporificar ideias, possui uma função social (FIORIN, 2008), já que representa 
o contexto no qual está inserido.
gotas de conhecimento
Um exemplo pode ser visto nas piadas: elas têm sentido na medida em que estão inseridas em dado contexto. Como 
esta aqui: “O vulcão é a montanha mais limpa: primeiro solta cinzas; depois, lava”. Brincadeiras à parte, o elemento 
plurissignificativo da linguagem permite que seja construída, intencionalmente, uma ambiguidade entre “lava” (substantivo) 
e “lava” (verbo).
Outro exemplo de como texto tem uma vida social, também está na expressão If you do not tell, It won´t do the spell. Em 
suma, “se você não contar, nossa mágica não vai rolar”. Mas o texto realiza dois trocadilhos linguísticos que só fazem sentido 
no seu devido contexto: primeiro, ao rimar tell com spell. Segundo, uma rima semântica, pois tell significa “contar”; e spell é 
tanto “feitiço” quanto o verbo to spell, “soletrar”.
1.2.2 Cotidiano
Escrever é parte do nosso dia a dia. Se pensarmos em um contexto amplo, da produção 
de sentido, “escrevemos” a todo momento: palavras, vídeos, áudios de aplicativos de 
mensagens... e de maneira mais estrita, é o que conecta o nosso cotidiano: de simples 
recados na porta da geladeira e papéis de post-it, recados em redes sociais ou instruções 
para equipes. Nosso cotidiano é registrado e comunicado pela modalidade escrita e, em 
muitas dessas relações, por meio de certas modalidades da língua escrita.
Dessa maneira, considerando que a linguagem é um sistema pronto, pode-se dizer 
que o sujeito torna-se apenas o receptor de dada informação, não tendo a permissão 
de intervir de maneira alguma na fala de quem escreve, por se tratar de uma voz pronta 
e preconcebida. Inclusive, para que a escrita cumpra seu papel de interação é preciso 
observar determinados fatores, como os elementos da gramática da língua, que são 
considerados essenciais na interpretação, cabendo ao leitor a decodificação dos códigos 
trazidos pela escrita.
Figura 3. Leitura e interpretação.
Fonte: https://pxhere.com/pt/photo/1446009. 
13
ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL • CAPÍTULO 1
Por exemplo: se observarmos um texto tendo como ponto de partida quem o escreve, 
então o uso linguístico é tratado como “representação do pensamento e de sujeito como 
senhor absoluto de suas ações e de seu dizer.” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 9). A escrita é 
uma forma de expressão discursiva, de como nos fazemos entender. Mas esse “produtor 
textual” não pode ignorar como se espera que o leitor interprete o texto. Como já dizia 
Umberto Eco (1986), “o texto é aberto, mas não é escancarado”. Diferentes níveis de 
domínio linguístico geram leitores mais ou menos competentes. Todavia, há elementos 
mínimos no texto para guiar o leitor. É por isso que o escritor cria uma espécie de leitor 
presumido, um receptor textual.
Provocação
Quando trabalhar com seus estudantes práticas de produção textual, aborde essa questão: todo texto tem um leitor. Ele não é 
necessariamente um leitor físico, mas a presunção de um perfil. Qual o perfil de leitor de novelas televisivas? Ou de romances 
realistas? Ou de histórias em quadrinhos?
Quando o foco textual se baseia na interatividade, a imagem e a presença do sujeito 
considerado agente do processo representam papel relevante. Isso se deve ao fato de sua 
inserção ocorrer no sentido de ampliar a discussão, destacando ou diminuindo a fala 
do autor, introduzindo as falas dos interlocutores, ou outras vozes. Portanto, a partir da 
observação desses aspectos, se consegue extrair das entrelinhas inúmeras ideias jamais 
imaginadas por aquele que lhes deu origem.
Escrever envolve uma relação intertextual com todo um universo sociocomunicativo, a forma 
como o texto interage com as capacidades ledoras de cada um. À medida que os elementos 
implícitos a dada leitura se tornam explícitos para o leitor, maiores as informações a serem 
acessadas, bem como as ideias transmitidas.
Você já retornou a um texto e teve uma experiência diferente? É a isso que nos referimos. O 
amadurecimento do leitor pela prática da leitura possibilita uma reatualização da ideia 
presente. 
Tome como exemplo o seguinte trecho da música “Cálice”, de Chico Buarque:
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
14
CAPÍTULO 1 • ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
Como beber dessa bebida amarga?
Tragar a dor, engolir a labuta?
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Fonte: Tomazi (2014).
Em uma primeira leitura, o texto traça uma relação bíblica, referenciando a noite em que 
Jesus, prestes a ser traído, pede a Deus que lhe poupe de todo aquele sofrimento. O texto 
leva a essa interpretação, a julgar pelos elementos textuais, como “tragar a dor”, “De que me 
vale ser filho da santa”. Porém, uma leitura mais competente mostra como Chico Buarque 
realiza um jogo linguístico, recorrendo a semelhança sonora e gráfica entre “cálice” e “cale-
se”. Assim, nessa segunda leitura, temos uma música que faz uma dura crítica ao período 
da ditadura que tomou o Brasil em 1964, e como o escritor precisou usar desse tipo de 
subterfúgio para realizar sua crítica social.
atenção
“Paronomásia” é uma figura de linguagem do tipo figura sonora, na qual o escritor utiliza palavras que têm som e escrita 
semelhantes – parônimos – para criar determinado efeito de sentido. Exemplo está na expressão “quem conta um conto 
aumenta um ponto”.
O ato da leitura é uma prática de interpretação e, conforme Koch e Elias (2010), ao se sentir 
elemento constitutivo da leitura, o ser humano sente-se mais à vontade para participar da 
produção de sentidos. E quando isso é feito, o texto já não é mais de quem o escreve, mas 
daqueles que com ele interagem. É por isso que a produção textual engloba também as 
possibilidades de ampliar os efeitos da leitura, de acrescentar significativamente ao universo 
de quem lê.
atenção
Exemplo disso envolve os contos de fadas publicados por escritores como os irmãos Grimm: histórias ancestrais sem autoria 
definida, hoje recebem diferentes versões, como “Fita verde no cabelo”, versão de Guimarães Rosa do Clássico “Chapeuzinho 
Vermelho”, no qual os leitores expandem a história.
15
ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL • CAPÍTULO 1
Uma das maneiras de estabelecer a comunicação humana se dá por meio de textos, e estes 
aparecem sob diversos formatos, preenchendo funções em variadas situações cotidianas. 
Por sua vez, o texto só se realiza por intermédio de gêneros que, na verdade, ordenam as 
bases da estrutura social. Sendo assim, na aquisição da língua, se faz muito mais do que 
simplesmente dominar formas. Domina-se, inclusive, a comunicação nas práticas sociais 
cotidianas, uma vez que é inconcebível que a comunicação verbal não esteja permeada por 
algum gênero.
Em suma, mais do que uma afirmação, é interessante fazermos uma pergunta: para que servem 
os gêneros textuais?
Os textos produzidos no nosso cotidiano são transmitidos por meio de gêneros: de 
reportagens, memoriais, relatórios, até os mais informais, como receitas de bolo, fofocas e 
mentiras!
Você acredita que nos damos conta da infinidade de situações comunicacionais cotidianas? 
Em um único dia, as relações sociais se desenvolvem em distintos contextos e cenários que 
exigem determinado comportamento linguístico (COSTA, 2008). A linguagem é o mais 
eficiente meio de comunicação e pode-se dizer que ela permite a interação com o outro, 
além de oportunizar a alteração do discurso utilizado de acordo com as necessidades de 
determinado contexto.de narrador); 
» Sílabas métricas; 
» Rimas (pobres, ricas e 
preciosas) 
Ex.: “Canção do Exílio”, de 
Gonçalves Dias. 
ÉPICO 
» Narrativa feita em versos; 
» Longos poemas narrativos; 
» Gira em torno de grandes 
acontecimentos. 
Ex: “Os Lusíadas”. 
 
Elementos: 
» Personagem (protagonista, 
coadjuvante ou antagonista); 
» Tempo (linear ou não linear); 
» Espaço; 
» Enredo (introdução, conflito, 
desenvolvimento, clímax e desfecho); 
» Narrador (em 1ª pessoa –protagonista 
ou coadjuvante –, ou 3ª pessoa – 
observador ou onisciente). 
DRAMÁTICO 
» Texto para atuação. 
 
Elementos: 
» Personagens (que atuam); 
» Espaços (lugares em que 
a ação ocorre); 
» Rubricas (como a peça 
deve ser interpretada e 
encenada; reação das 
personagens e organização 
do espaço); 
Ex.: “Romeu e Julieta”, 
“Thirteen Reasons Why”, 
“O auto da compadecida”. 
Narrativo 
» Desmembramento do gênero Épico; 
» Em prosa; 
Não gira em torno de grandes 
acontecimentos/grandes personagens. 
Ex.: “O menino do pijama listrado”, “Fala 
sério, mãe!”. 
Épico Moderno 
» Em prosa; 
» Alguns exemplos de texto épico 
moderno: 
A saga “Percy Jackson” (Percy), 
“Sobrenatural” (irmãos Winchester), Jogos 
Vorazes (Katniss), “The 100” (Clarke 
Griffin). 
Fonte: elaborado pelo autor (2022).
113
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
Procuramos delimitar nesse gráfico de forma dinâmica e didática a origem dos gêneros 
literários, e como muitas dessas características estarão presentes em diferentes obras até a 
atualidade.
Quando falamos em “Camões lírico” em contraponto a “Camões épico”, por exemplo, fazemos 
distinção entre a poesia lírica e a épica do mesmo autor. 
Observe, então, o texto a seguir:
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá,
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
114
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá
(Gonçalves Dias)
Tal como um texto do gênero lírico, “Canção do exílio” busca refletir o mundo interior do 
poeta, e como visão externa, posicionamentos sociais, filosóficos etc. Assim, surge um amplo 
escopo para a produção de literatura objetiva e subjetiva. 
Diferentemente da estrutura em texto corrido dos gêneros da prosa, é um tipo de texto 
dividido em estrofes e versos, silabas métricas, além de diferentes tipos de rimas.
Saiba mais
Uma breve olhada na estrutura do gênero lírico já nos possibilita associá-lo à estrutura de uma música. De fato, com o 
advento da poesia palaciana muito da poesia deixou de ser musicalizada, mas a poesia nunca esteve ausente da música.
Já a poesia épica envolve o uso de grandes poemas narrativos, os quais contam a história 
de um povo, representado na figura de um herói, o qual atua em um grande evento. 
Em “Ilíada”, de Homero, temos o povo grego invadindo Troia, e o seu grande herói, 
Aquiles. Em “Eneida” tem a figura de Eneias. E, dentre algumas possibilidades da língua 
portuguesa, temos o poeta-mor, Camões, na obra “Os Lusíadas”
Figura 53. Luís de Camões.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/lisbon-portugal-december-27-2015-beautiful-1386872975. 
115
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
Os Lusíadas (Canto I)
As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
116
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
Que outro valor mais alto se alevanta.
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene. 
(Camões)
A obra “Os lusíadas” apresenta os elementos típicos de uma poesia épica: o protagonista 
é Vasco da Gama, representando o ideal navegador do povo português; os membros da 
embarcação são os coadjuvantes, e Baco, além de outras personagens, são os antagonistas 
que buscam atrapalhar a viagem dos navegantes. O tempo é não linear, pois a narração da 
obra começa após o início da viagem, e ele transita entre passado e presente para contar 
a história dos portugueses. O espaço é tanto o território europeu, os oceanos atlântico 
e índico e outros; o enredo, com sua introdução, conflito, desenvolvimento, clímax e 
desfecho busca apresentar o grande feito dos portugueses ao conquistar a rota das Índias. 
E a obra, em sua maior parte, é contada por um narrador heterodiegético, pois não 
participa dos eventos que narra.
Saiba mais
Recomendamos o acesso ao verbete “Narrador”, do “E-Dicionário de Termos Literários”, coordenado por Carlos Ceia, no qual 
ele aborda os diferentes tipos de narrador de uma obra. Disponível em: https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/narrador. 
Cabe salientar, principalmente, que o gênero épico tem um período histórico específico: 
originário na poesia da antiguidade, retomado durante o período do classicismo com 
experimentações durante o arcadismo e o parnasianismo, ele é um exemplo de gênero que 
desaparece, mas sofre mutações. Bakhtin (2003) observa como os gêneros da prosa surgem 
como uma desfragmentação dos gêneros clássicos, mas, na atualidade e dentre diferentes 
gêneros, ele dá origem a dois gêneros voltados para a narração de grandes eventos: o 
narrativo, com suas subdivisões (romance, conto, novela etc.) e o épico moderno.
Na atualidade há uma série de narrativas que giram em torno de eventos do cotidiano, muitas 
vezes, com contornos diatópicos: obras como “O lado bom da vida”, “A barraca do beijo” e 
117
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
outros são bons exemplos. Apresentam os elementos da narrativa de um poema épico, mas 
não necessariamente apresentam grandes histórias, com grandes heróis, sobre grandes 
eventos.
Saiba mais
Vale lembrar que o gênero fanfic, abordado anteriormente, é uma possibilidade dos gêneros narrativos, inclusive, previsto 
na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como prática de linguagem contemporânea, bem como, dentre outras, nas 
habilidades EF69LP46 e EM13LP54. Retomaremos essas informações ao falarmos sobre os gêneros digitais. Por ora, busque 
mais informações. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.
pdf.
Ocorre que, como forma de revitalização do gênero épico, surge o “Épico Moderno”, no qual 
são contadas grandes histórias sobre heróis e seus respectivos eventos. Além disso, muitos 
desses heróis têm elementos sobrenaturais, como os semideuses da saga “Percy Jackson” e a 
luta para evitar a guerra dos deuses; os irmãos Winchester, da saga “Sobrenatural”, e sua luta 
para salvar o mundo”; Katniss, de “Jogos vorazes”, Tris, de “Divergente”, e outros.
Importante
Você deve ter percebido que citamos uma série de TV, “Sobrenatural”.Cabe lembrar que a literatura também assume 
contornos audiovisuais, e essas obras herdam as características literárias.
Tabela 27. alguns gêneros da prosa literária.
Romance » Relata uma história que apresenta todo um mundo, centrado em um núcleo narrativo, mas com 
histórias paralelas menores;
 » admite vários núcleos;
 » É mais versátil para temas que exigem maior extensão de tratamento;
 » narrativa maior, dividida por episódios.
Conto » apresenta uma história centrada nas ações das personagens. Preza pela concisão. Pode ser conto de 
costumes, de fadas, fantástico, científico etc.
Novela » Menor que um romance, maior que um conto. além disso, apresenta um núcleo narrativo principal, 
célula dramática, mas outras que a essa se interligam. 
 » apresenta um enredo de forma sequencial, podendo ter uma quebra esporádica dessa sucessividade.
Fonte: adaptada de Eagleton (2006).
Por fim, temos o gênero dramático, o qual é voltado para a atuação. A obra é planejada 
considerando personagens que atuam, o espaço no qual a ação se desenrola, e a forma de se 
atuar.
Esse gênero está mais vivo do que nunca, pois deu origem a uma série de subgêneros 
literários que se adequaram aos novos contextos: peças de teatro, filmes, séries, autos etc. 
Se você já assistiu a uma novela, ou teve a chance de assistir a uma das inúmeras versões do 
clássico de Ariano Suassuna, “O auto da compadecida”, então poderá observar como é um 
gênero que sempre se renova.
118
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
gotas de conhecimento
Cabe lembrar que a ideia de uma literatura performática já era presente, por exemplo, nas cantigas trovadorescas, na qual 
havia um músico contratado que as representava em público. Ou, na Grécia antiga, o rapsodo, um “narrador performático” 
de determinada obra, ou versos.
Isso decorre de um elemento principal: a ideia de uma população plenamente alfabetizada 
é recente. Durante muito tempo, os textos eram encenados para uma população 
majoritariamente analfabeta.
Saiba mais
Vale lembrar que a ideia de um público que conhece uma obra mais pela sua adaptação, do que pelo texto original, não é 
recente. José de Alencar já tecia críticas sobre como a população conhecia seus textos mais pelas adaptações para o teatro, do 
que as leituras em si.
5.3 gêneros textuais jornalísticos
Há alguns gêneros textuais que têm como propósito um alcance comunicativo maior, os 
chamados “gêneros jornalísticos”. 
São textos produzidos de acordo com o sentido a ser produzido, mas considerando, 
principalmente, a marca temporal: diferente de textos literários, que têm como um de seus 
elementos a atemporalidade (abordam temas universais ao ser humano), esses gêneros 
apresentam elementos do agora. 
Alguns desses elementos mesclam bem mais de uma tipologia. Porém, cabe lembrar que, 
da mesma forma que os gêneros textuais sofrem modificações, nascendo e desaparecendo 
nesse processo, isso também é diretamente afetado pelos novos meios de comunicação. 
Como aponta Lévy (2009), as novas formas de comunicação atualizam a capacidade 
comunicativa do ser humano, e interferem na maneira como passamos a nos comunicar.
Um deles é a notícia, a qual possui muitos elementos narrativos, pois transmite uma noção de 
tempo ao contar uma história, e se direciona a um leitor específico de acordo com o perfil do 
jornal, relacionando, às vezes, personagens envolvidos e causalidade. 
119
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
Figura 54. notícia.
Fonte: https://pxhere.com/pt/photo/1437885. 
Saiba mais
Vale salientar como, muitas vezes, os gêneros jornalísticos possuem características dos gêneros literários. A notícia, em 
muitas situações, aproxima-se da novela literária, na medida em que ela não é dada de maneira pura e simples, mas 
construída a partir de diferentes elementos para fazer sentido. Não é por acaso que, entre as décadas de 1960 e 1970, surgiu 
um movimento chamado New Jornalism, no qual técnicas de jornalismo eram utilizadas para produzir textos ficcionais. Um 
bom exemplo é o livro “A fogueira das vaidades”, de Tom Wolfe.
Na notícia, há um desenvolvimento, uma progressão narrativa de a informação ser passada. 
Mas diferentemente da versão televisiva, na escrita há uma busca maior pela concisão das 
informações em prol do espaço. 
O gênero textual notícia tem elementos que o diferenciam de outros, a saber:
Tabela 28. Elementos da notícia.
Espaço atenção à quantidade de caracteres e o espaço do jornal onde será publicado. Ex.: notícias 
em cadernos de moda, esportes, economia etc.
Manchete Título da notícia, voltada para captar a atenção do leitor.
Olho Texto breve que resume o assunto da notícia.
Fonte: adaptada de goldstein (2009).
Em suma, a notícia é também similar a outro gênero textual, o resumo¸ por sintetizar eventos, 
buscando responder o “onde”, “quando”, quem” e “o quê” de cada informação. Ela deve ser 
breve, imparcial e, ocasionalmente, agregar detalhes, como personagens, local, data etc.
Com a constante profissionalização dos meios comunicativos, muitos desses gêneros 
jornalísticos tendem a ser produzidos por profissionais específicos, como jornalistas e 
profissionais de imprensa. Todavia, com a transformação dos meios de comunicação, há 
o uso desses gêneros de maneira massiva em redes sociais, como o Twitter, de modo que 
muitos criam variações, como jornais digitais. Ou, como exemplo, jornalistas que têm seus 
perfis nas redes sociais, e usam isso como espaço livre para suas matérias.
120
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
A reportagem é um gênero que também possui elementos narrativos, mas em geral 
possui maior espaço para desenvolvimento, podendo, inclusive, ter mais de um autor 
(GOLDSTEIN, 2009). Um bom exemplo são programas como o “Conexão repórter”, do 
apresentador Roberto Cabrini, que conta uma grande equipe para auxiliá-lo. Pode, 
inclusive, mesclar gêneros no seu interior, ou seja, um gênero textual formado a partir de 
outros: entrevistas, relatórios, resgate de notícias anteriores etc.
Figura 55. Reportagem da capa.
Fonte: https://publicdomainvectors.org/photos/tabloidcover.png. 
Diferentemente da notícia, as reportagens tendem a ser mais chamativas. Há, inclusive, 
o termo “reportagem da capa”, para abordar alguma pela qual se tem interesse maior na 
divulgação. É um gênero que busca levar o leitor à informação por meio da robustez.
Tabela 29. Elementos da reportagem.
Autoria De um a mais autores.
Temática Mais ampla, devido ao espaço disponível.
Organização Pode mesclar outros gêneros em seu interior para dar maior profundidade, como entrevistas, 
gráficos e outros.
Divulgação Simples ou complexa. Em alguns casos, pode ocupar a primeira página de um jornal, ou a 
capa de uma revista.
Recursos Imagens, descrições, depoimentos, relatos etc.
Fonte: adaptada de goldstein (2009).
Tome como uma suposta invasão alienígena, bem como os elementos para captar a atenção, 
como pessoas observando os acontecimentos, transmitindo um ar de veracidade.
Saiba mais
Vale salientar como, muitas vezes, os gêneros jornalísticos possuem características dos gêneros literários. A notícia, em 
muitas situações, aproxima-se da novela literária, na medida em que ela não é dada de maneira pura e simples, mas 
construída a partir de diferentes elementos para fazer sentido. Não é por acaso que, entre as décadas de 1960 e 1970, surgiu 
um movimento chamado New Jornalism, no qual técnicas de jornalismo eram utilizadas para produzir textos ficcionais. Um 
bom exemplo é o livro “A fogueira das vaidades”, de Tom Wolfe.
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TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
Inclusive, da mesma forma que é comum, na literatura, contos serem posteriormente transformados em novelas e, até, 
romances, em versões futuras, é recorrente nos gêneros textuais jornalísticos reportagens surgirem por meio de notícias 
expandidas e, até, a produção de novas reportagens a partir de outras, antigas.
Considerando que os meios de comunicação muitas vezes mesclam vários gêneros, há um 
gênerotextual muito utilizado que é a capa, que tem a função de ser o primeiro contato 
do leitor/público com a informação. Usa diferentes elementos visuais, o que inclui tanto 
o uso de palavras como imagens. Improvável pensar nas capas como exemplo de gêneros 
jornalísticos? Lembre-se do que dissemos anteriormente: os textos se agrupam de acordo 
com sua função social, e as capas têm exatamente essa função, agrupar elementos 
chamativos para captar a atenção do leitor. 
Há ordem em uma capa, de modo a manter a coerência interna. Além disso, é muito 
recorrente o uso conativo da linguagem, pois se direciona com maior ênfase a um leitor, 
considerando as imagens e, por exemplo, o tamanho das letras: o título usa letras grandes; 
informações, pequenas. Sua principal função é captar a atenção, considerando que há 
outras informações ali que não necessariamente são do interesse do leitor. Algumas capas 
apontam parte dos assuntos do veículo de comunicação, como as revistas. Outras, como 
jornais, tendem a apresentar os assuntos principais.
Figura 56. Capa.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/newspaper-on-wooden-table-656482822. 
Tabela 30. Elementos da capa.
Função Chamar a atenção, tem papel comercial.
Organização Centrada no apelo por meio de elementos visuais.
Estrutura Coerência entre os elementos gráficos, escritos e imagens.
Linguagem Uso predominante da função conativa da linguagem.
Informações varia de acordo com o tipo de veículo
Fonte: adaptada de goldstein (2009).
122
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
Observou como, essencialmente, estamos falando de textos que possuem características 
narrativas? Pois bem, há textos jornalísticos de caráter mais opinativo, mais especificamente 
dissertativos argumentativos, e representam a defesa de um ponto de vista, do grupo 
editorial ou de uma pessoa específica. Vamos abordar aqui três deles: a carta do leitor, o 
editorial e o artigo de opinião.
Carta do leitor não é apenas o texto: é comum existir seções do jornal com esse título, 
criando um espaço para diálogo com o público-leitor, no qual esses comentam matérias e 
reportagens, de maneira positiva ou negativa. É um texto à disposição de todos, publicado 
em cada edição. Também tem um caráter quantitativo, pois possibilita que se avalie a 
repercussão de um texto (GOLDSTEIN, 2009), podendo, até, causar uma mudança no foto 
de certas matérias. É um exemplo explícito e, até, extremo de interação.
Saiba mais
Em tempos de informação midiática, os comentários de sites, redes sociais e demais canais são uma atualização da carta do 
leitor, motivo de empresas utilizarem outros recursos para atender às atualizações tecnológicas.
O editorial é uma forma de o meio jornalístico expressar o posicionamento do grupo 
em relação a algum tema. Embora ele seja costumeiramente assinado por um indivíduo, 
representa a opinião do grupo como um todo, podendo ser o posicionamento da equipe 
jornalística, por exemplo. É costume usar temas em voga. Uma revista que fala sobre 
Educação, por exemplo, pode emitir um editorial comentando sobre a legislação que delimita 
os alimentos que podem ser disponibilizados na merenda escolar. É comum ocupar o espaço 
inicial de uma publicação, após a capa (GOLDSTEIN, 2009).
Temos, ainda, o artigo de opinião, um texto de teor opinativo – assim como o editorial.
Importante
Vale lembrar que todo editorial é uma espécie de artigo de opinião, mas o inverso não é necessariamente verdadeiro.
Em geral, esse tipo de artigo é redigido em primeira pessoa (COELHO; PALOMANES, 2016), 
embora ocasionalmente se encontre alguns em discurso indireto, direto ou ambos. Ocorre 
de, às vezes, encontrarmos artigos de opinião que utilizam o discurso direto, indireto 
e, até, ambos. Abordam temas sensíveis da contemporaneidade. Por isso, uma de suas 
principais características é ser datado, pois algo considerado polêmico em uma época, não 
necessariamente o é em outra. Certos direitos civis que eram impensáveis no século XX, por 
exemplo, não seriam tema de um artigo de opinião nos dias de hoje.
Esses artigos são decorrentes de temas polêmicos na atualidade. Portanto, um tema 
que hoje é polêmico para um artigo de opinião, amanhã poderá não ser. Pelo seu caráter 
123
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
argumentativo, ele busca aderência a um conjunto de ideias, e segue uma estrutura similar 
a uma redação argumentativa. Porém, escrever um artigo de opinião, às vezes, é pisar em 
vidro: deve-se tomar o cuidado com as informações que se faz.
Saiba mais
Você já percebeu como, às vezes, é comum aparecer em meios de comunicação a expressão “a opinião dessas pessoas 
não representa necessariamente a do nosso grupo editorial”? Isso é um indicativo do teor de um artigo de opinião. 
Inevitavelmente, seu ponto de vista confronta o de outra pessoa, e isso é uma forma de o meio de comunicação se isentar de 
quaisquer problemas jurídicos, ou ser acusado de atacar sua base de leitores.
Tabela 31. Textos jornalísticos opinativos.
Carta do Leitor Texto publicado pelo leitor, em espaço cedido pelo veículo jornalístico, tecendo 
comentários sobre dada informação divulgada.
Editorial Posicionamento do grupo jornalístico sobre algum assunto. Mesmo com um autor 
individual, apresenta uma visão coletiva. Em geral, publicado no início do jornal/revista.
Artigo de Opinião Texto opinativo. Redigido em primeira pessoa. abordagem de temas polêmicos à sua época 
de redação. Busca convencer leitores acerca de dada opinião.
Fonte: adaptada de goldstein (2009).
gotas de conhecimento
Você observou como muitos gêneros textuais possuem um ou outro elemento da narração? Isso ocorre porque, à medida 
que as sociedades vão se tornando mais sofisticadas, passamos a ter uma percepção maior de como funcionam os elementos 
comunicativos. Exemplo disso é a capacidade humana para estar atento a histórias. Migramos de sociedades orais, nas quais 
os conhecimentos eram transmitidos por meio de histórias curtas, até as atuais, nas quais os conhecimentos não dependem 
exclusivamente da memória humana, mas armazenados em verdadeiros repositórios. Mas a ideia de abordar temas que 
nos são caros, trazer informações, conceitos e promover debates por meio de narrativas é algo que nunca conseguimos 
abandonar. Observe, mais adiante, como isso é marcante em outros gêneros textuais.
5.4 gêneros textuais publicitários
Os gêneros textuais publicitários englobam produções que têm como finalidade divulgar 
uma ideia/produto, e estimular o interlocutor/consumidor/leitor a consumi-la/aderir 
a ela, o que significa que ele deve passar por uma mudança de comportamento. Possui 
um caráter persuasivo, o que significa que é construído de forma argumentativa, explora 
bastante a função conativa da linguagem e utiliza os diferentes recursos linguísticos, 
verbais e não verbais, para construir seu sentido.
PORQUE VOCÊ MERECE
Usando elementos psicológicos centrados no “reforço” (positivo ou negativo), ele costuma 
apresentar vantagens (ou desvantagens) em grupos temáticos: 
124
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
Tabela 32. Como um texto publicitário formula as vantagens de um produto.
Quantitativas Produto com menor preço, o desconto que você perde ao não comprar até determinada data.
Qualitativas Melhor marca, melhor gosto; é caro, mas é bom.
Ideológicas “a roupa faz o indivíduo”, as ideias que você apoia, o que aquela marca diz sobre você.
Fonte: adaptada de goldstein (2009).
gotas de conhecimento
Um reforço é um artifício psicológico que funciona como uma espécie de gatilho para que tal prática seja realizada, ou não 
seja. Um exemplo é a ideia de que comprar uma roupa reflete o estilo que você quer atingir (positivo). Ou, se não comprar a 
roupa, não estará na moda (negativo).
Esses textos possuem a intencionalidade de despertar a atenção. É muito comum a figura da 
“garota-propaganda”, na qual uma instituição associa, de maneira remunerada ou não, uma 
garota a uma marca. 
Saiba mais
Curioso é ocaso do ex-apresentador Yudi Tamashiro, que estava lanchando com amigos numa lanchonete e, após fãs que o 
reconheceram pedirem que ele fizesse alguns passos de dança, e ele atendê-los, foi convidado pela rede de lanchonetes na 
qual estava para ser o garoto-propaganda, pois, na visão deles, o artista representava os valores da empresa.
Tabela 33. Características do gênero textual publicitário.
Linguagem Mista, com elementos verbais e não verbais.
Argumentação Comunicação persuasiva: “venha até aqui, você merece muito mais!”.
Variedade linguística adequada ao público-alvo.
Formulação Uso de verbos no imperativo.
Recursos Figuras de linguagem, construções frasais etc. Uso de frases de impacto, com a 
presença do nome de marcas, produtos, slogans etc.
Frases eufêmicas/hiperbólicas Exagero ou suavização de ideias, de acordo com o contexto. Observe que há 
propagandas nas quais a “morte” pode ser mostrada como algo positivo. E 
o ato de ter um xampu melhor pode ser exagerado como se fosse o grande 
momento de emancipação da humanidade.
Antagonismo Quando uma marca se coloca em oposição a outra coisa, a exemplo do uso de 
repelentes contra insetos, ou o protetor solar, contra o sol. Cria a ideia de um 
combate, da solução para um problema.
Autoridade Muito comum o uso de testemunhos, principalmente de garotos-propaganda 
que representam uma ideia à qual a marca quer se associar. Engloba 
indivíduos que possuem reconhecimento social pelo que transmitem na marca. 
Ex.: uma famosa vegana sendo garota-propaganda de uma marca de carne de 
soja.
Afirmação/repetição de 
conceitos
Uso de frases afirmativas, verbos no presente, transmitindo a noção de 
uma verdade. Essa repetição busca fixar a necessidade de determinado 
posicionamento por parte do interlocutor.
Fonte: adaptada de goldstein (2009).
125
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
Alguns exemplos de gêneros publicitários:
 » Anúncio publicitário
Sua principal característica é promover um produto ou uma ideia pelos meios de 
comunicação, como jornal, revista, internet etc. É muito comum o uso de linguagem simples e 
humorística. Utiliza, quando muito, textos curtos, apelando muito para o uso das cores.
Ex.:
Título: “Novo chocolate Monte: Delícia!!!!”
Corpo do texto: “Experimente o delicioso chocolate Monte: o único com 0% de gordura 
saturada”!
Marca: “Chocolate Monte Ltda.”
Contato: www.chocolatemonte.com.br
 » Propaganda: gênero publicitário voltado para a divulgação de ideias. 
gotas de conhecimento
Os meios de comunicação utilizam os termos “publicidade” e “propaganda” como se fossem sinônimos. A publicidade visa 
tornar algo público para que seja vendido, diferentemente da propaganda, que busca influenciar o comportamento pela 
divulgação de ideias sociais, políticas e religiosas. O objetivo da publicidade é o lucro. O da propaganda, a persuasão para 
fins ideológicos.
E por que as pessoas confundem tanto, a ponto de o próprio mercado utilizá-los como sinônimos? Ocorre que o Conselho 
Executivo de Normas-Padrão (CENP) define ambos como “qualquer forma remunerada de difusão de ideias, mercadorias, 
produtos ou serviços por parte de um anunciante identificado” (2019).
Todavia, nesta disciplina diferenciamos publicidade de propaganda não pelo fato de ser paga, mas com base naquilo a que 
se propõe. A Coca-Cola faz publicidade no dia das Mães não para divulgar “valores familiares”, mas para associar sua marca 
a tal coisa, e ter como retorno um aumento nas suas respectivas vendas. Todavia, o Governo Federal investe dinheiro público 
em campanhas de propaganda em prol de divulgar sua Política Nacional de Alfabetização. 
Figura 57. Propaganda estatal.
Fonte: https://alfabetizacao.mec.gov.br/. 
126
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
Observe como há uma escola de cores e disposição espacial dos elementos mistos, de 
forma a divulgar a informação. O termo “ABC”, em letra de forma, sendo semicirculado por 
uma transição de cores entre o azul e o laranja. Além disso, mais acima o slogan “Tempo 
de aprender”, com o desenho de um relógio na palavra “tempo”, mostra como cores, letras, 
formas, geram efeitos de sentido e cumprem a função de expressar a intencionalidade do 
autor. Essa disposição de itens, para além das palavras, são recursos estilísticos e semióticos 
presentes na propaganda.
Tendo como base esses elementos que diferenciam propaganda e publicidade, vamos 
apresentar alguns exemplos de gêneros textuais publicitários:
Gráfico 6. Outros gêneros textuais publicitários.
 
Cartaz
Fonte: 
https://www.shutterstock.com/pt/i
mage-vector/rock-music-festival-
flyer-vector-illustration-641256826.
Outdoor
Fonte: 
https://i0.statig.com.br/bancodeimage
ns/4b/2y/p6/4b2yp6g48b3qtizyny50h7
7wd.jpg.
Banner
Fonte: 
https://www.shutterstock.com/pt/ima
ge-vector/business-roll-standee-
design-banner-template-583761550.
Flyer
Fonte: 
https://pxhere.com/pt/photo/5999
28.
Letreiro
Fonte: 
https://letsflyaway.com.br/inaugur
acao-do-letreiro-iloverio/
Brinde
Fonte: 
https://img.elo7.com.br/product/z
oom/11DC1AE/canecas-cumplices-
de-um-resgate-canecas-acrilico.jpg
Fonte: elaborado pelo autor (2022).
5.5 gêneros textuais digitais
Logo nas primeiras páginas da BNCC, ao se tratar das competências gerais da Educação 
Básica, temos, na competência 5, a seguinte informação: 
127
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e 
comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas 
práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e 
disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e 
exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. (BRASIL, 2018, 
p. 11)
Isso estará presente na competência 6 das competências específicas de linguagens para o 
Ensino Fundamental, bem como na competência 10 das competências de Língua Portuguesa 
do mesmo Ciclo Escolar. E é uma competência recorrente nos demais anos e séries. 
Introduzimos essa informação para salientar a forma como os estudos didático-pedagógicos, 
bem como a referida documentação existente, aborda a relação do estudante com a produção 
de textos no contexto digital.
Mas o que é um gênero textual digital? É coerente presumir que o fato de um texto ser digitado 
em um computador, como um relatório, uma carta ou uma receita, não o transforma em 
gênero digital, afinal, teríamos, assim, “e-relatórios”, “e-cartas” e “e-receitas”. Do contrário, 
cartas escritas à mão e por meio de máquinas de datilografia seriam gêneros textuais 
diferentes. O que se pode presumir disso é que não basta a mudança do meio de produção 
para o surgimento de um gênero textual novo, é necessário que ele interfira nas características 
desse mesmo gênero (MARCUSCHI, 2019). Dessa maneira, podemos apontar diferenças 
essenciais entre uma carta e um e-mail.
Figura 58. Live, atualização audiovisual do bate-papo, da palestra e outros gêneros.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/live-webinar-button-video-internet-conference-1852660849.
Marcuschi (2019) aborda a relação dos gêneros textuais com temporalidade, como reflexo 
da sociedade na qual se propagam. Em suma, eles sofrem transformações devido às 
complexidades da vida humana.
Na mesma premissa, um gênero tem: local de interação social; espaço de uso entre os 
interlocutores e enunciadores; e finalidade comunicativa. Por essa premissa, um gênero 
digital engloba modalidades textuais que dão suporte ao uso de novas tecnologias.
128
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
Saiba mais
Pense, por exemplo, na “radionovela”, uma adaptação da novela literária para o formato comunicativo da rádio. Com o 
surgimento e popularização dos televisores, à época, surge a novela televisiva, com elementos que ainda não existiam, 
dentre eles, a necessidade de dar algo para as personagens fazerem enquanto falam. Se antes apenas escutávamos as vozes, 
ou imaginávamos as interações e formas de falar por meio do textoescrito, agora era necessário que atores utilizassem 
roupas adequadas ao personagem, praticassem ações enquanto se movimentam em cena, carregassem coisas como copos, 
cigarros etc. Além disso, agora os coadjuvantes tinham seus núcleos narrativos mais desenvolvidos, considerando o tempo 
de duração de cada episódio. Dessa forma, a novela televisiva é um exemplo de como o gênero textual novela literária se 
reinventou devido ao novo meio comunicativo.
Além disso, foi possível uma hibridização acelerada entre elementos da escrita e da leitura. 
Exatamente pelo seu formato desierarquizado, gêneros digitais por vezes fogem de certos 
modelos formais. Assim, ambientes virtuais são os espaços por excelência nos quais esses 
gêneros são abrigados (MARCUSCHI, 2019).
Pense no e-mail: ele não existe por si, mas está abrigado em um servidor de e-mail. Vídeos do 
Youtube só existem e são produzidos na medida em que são hospedados e propagados.
Tabela 34. gêneros existentes e emergentes.
Gêneros já existentes Gêneros emergentes 
Carta Correio eletrônico 
Seminário Chat
Debate Hangout
Conversa informal Bate-papo virtual
Entrevista de emprego Entrevista virtual
aula presencial Web-aula
Texto acadêmico/Congresso Fórum
Reunião videoconferência
Lista de participantes Lista de e-mail
Curso via correio aula via aplicativo de mensagens
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
É verdade que, essencialmente, gêneros digitais são versões da internet de outros 
preexistentes, mas que assumem novas características. Vamos, então, abordar alguns deles.
Vlog, contração de “vídeo blog”, é um canal digital que tem formato similar a um diário. Com 
a popularização da internet, surgiram canais que as pessoas utilizavam como diários digitais, 
os blogs. Com o advento de novos recursos, bem como aumento da velocidade da internet, 
surgiu a ideia de um canal filmado. Muitos canais do Youtube, em sua origem, começaram 
com esse formato, no qual as pessoas davam opiniões sobre coisas do seu cotidiano 
(MARCUSCHI, 2019). Hoje, apesar do nome, é uma prática mais popularizada: os vlogs são 
129
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
conhecidos mais como “canais”, e abordam temas como culinária, esportes, videogames e 
outros assuntos.
Figura 59. Vlog.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-woman-vlogger-baking-recording-video-1398389966.
O chat é, provavelmente, um dos gêneros que mais sofreu alterações e, ao mesmo tempo, se 
popularizou. Se antes era oriundo dos seminários nos quais cada um acrescenta algo, em uma 
sociedade na qual a comunicação pode ser realizada em uma velocidade cada vez maior, é um 
dos gêneros por excelência, pois propicia a troca de mensagens rápidas, em tempo real.
Figura 60. Chat.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/chat-messages-smartphone-sms-on-mobile-1744210046.
Cabe lembrar que, na atualidade, o chat é mais uma interface do que o “produto” em si 
(MARCUSCHI, 2019). Diferentes mecanismos de comunicação, como Telegram, Whatsapp, 
Messenger e outros são, essencialmente, chats. É um gênero que também costuma se 
associar a outros. Há salas de bate-papo, e há canais do Youtube que abrem um chat para 
discussões.
O meme é, provavelmente, a expressão mais contemporânea da internet, na qual uma 
informação pode ser divulgada, atualizada, mesclada e adaptada. É basicamente uma forma 
de propagar um conceito (FIORIN; PLATÃO, 2016), e pode utilizar diferentes modelos: 
imagens, gifs, vídeos etc. Utiliza comumente linguagem humorística, e costumam agregar 
informações diferenciadas. Muitas vezes o meme pode incluir imagem comum, na qual, após 
edição, pode ser inserido um texto. 
130
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
Figura 61. Meme.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/accra-ghana-april-12-2020-vector-1713398410. 
Por sinal, o meme tem um elemento viral, podendo, inclusive, ser atualizado. Não é incomum 
memes antigos ressurgirem com novos formatos.
Figura 62. atualização do meme.
Fonte: https://www.flickr.com/photos/bionicteaching/39289048900. 
Um wiki, por sua vez, engloba uma construção colaborativa de informações (MARCUSCHI, 
2019). Existe a linguagem wiki, é o conceito de enciclopédia digital. Por meio da linguagem 
wiki, é possível, em uma página da internet, construir e interligar hipertextos, informações, 
vídeos e novos sites. 
Figura 63. Wiki.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/wiki-website-database-key-knowledge-information-375020728. 
131
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
A Wikipédia, considerada a maior enciclopédia digital do mundo, é um grande wiki, com 
milhões de conexões. Mas um exemplo mais fácil de entender são as wikis temáticas, como 
a Harry Potter Wiki, a qual busca ser uma grande enciclopédia com as informações sobre 
Harry Potter. 
Saiba mais
Por sinal, a Harry Potter Wiki, assim como outras enciclopédias, reúne conteúdo escrito em diversos idiomas, interligando 
em um espaço só as diferentes contribuições dos fãs. Disponível em: https://harrypotter.fandom.com/pt-br/wiki/
P%C3%A1gina_Principal.
O Fanfic é um gênero textual digital que já foi abordado, mas vale a pena uma breve 
recapitulação: engloba a capacidade dos indivíduos de produzir histórias baseadas em 
textos de terceiros, apresentando possibilidades, abordando outros pontos de vista, 
procurando abordar, inclusive, temas não tão aprofundados pelos seus escritores. No 
Brasil, fanfics – também chamadas de fanfictions – começaram até mesmo antes do 
advento da internet, com produções de fandons, como os fãs de Star Trek. Posteriormente, 
a internet propiciou um crescimento. 
Atualmente, as fanfics utilizam uma mescla de mídias. Alguns possuem até imagens 
associativas.
Figura 64. Capa de fanfic.
Fonte: https://bityli.com/nhuLED. 
Outro gênero muito comentado na atualidade é o podcast. Como você observou, gêneros 
digitais são mais um formato, do que um gênero com regras rígidas. Por sua vez, o Podcast 
é um programa sonoro à semelhança das rádios, com a diferença que, em geral, grava-se um 
programa com temática variada. Podcasts como o Scicast, por exemplo, tratam de ciências 
(humanas, exatas etc.) em geral; outros, como Xadrez Verbal e Gazetadopovo são associados 
a sites e revistas, promovendo discussões sobre temas de política nacional, internacional 
132
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
e questões culturais. Há Casts (abreviatura também utilizada) que abordam variedades, 
como o PeeweeCast, que enfatiza cinema e seriados em geral; o Meu Sucesso.com, que 
constantemente traz entrevistas com grandes empresários brasileiros; o EngeCast, o qual 
promove debates sobre a área de Engenharia Química; e o Voguecast, podcast da revista 
Vogue. Você pode encontrar esses sites no Google, ou instalar no seu celular um agregador de 
podcasts para baixá-los e escutá-los no formato MP3.
É possível encontrarmos um número quase que infindável de gêneros textuais digitais. E 
embora tenhamos abordado alguns dos mais populares, é relevante observarmos como 
a BNCC enfatiza como a produção de discursos hipertextuais é uma das bases para se 
conceituar uma educação digital e tecnológica (BRASIL, 2018).
5.6 gêneros textuais acadêmicos
Há textos que estão diretamente associados ao espaço de divulgação científica: são usados 
em eventos acadêmicos, universidades e centros universitários, publicações digitais e 
outros espaços cuja premissa é estruturar uma informação seguindo premissas de pesquisa. 
São, em geral, textos que circulam em espaços acadêmicos, utilizados por estudantes, 
pesquisadores e professores, podendo ter diferentes propósitos comunicativos, como 
divulgação de resultados, resumo de ideias, sinopse de um evento acadêmico etc.
É possível encontrar uma série desses gêneros: relato de experiência, notícia acadêmica, 
currículo lattes, artigo científico, resenha crítica etc. Esses gêneros, pelo espaço que ocupam, 
são majoritariamente dissertativos.
Saiba mais
Com exceção da resenha¸ a qual pode assumircaracterísticas diferentes, de acordo com o espaço que circula: pode ser uma 
resenha técnica, científica, literária... se os textos jornalísticos agregam características narrativas e argumentativas, a resenha 
possui, em geral, elementos de descrição, argumentação e, principalmente, análise crítica. Daí que temos diferentes tipos de 
resenhas. Abordaremos, dentre as possibilidades, dois tipos: a resenha crítica e a acadêmica. 
A resenha crítica enfatiza produtos culturais diversos. “Resenhar” tem o sentido de expor 
minuciosamente (COELHO; PALOMANES, 2016). Esse caráter “crítico” indica uma premissa 
argumentativa.
Por abordar um produto cultural, ela possui elementos narrativos por meio de um resumo, no 
qual apresenta brevemente o objeto resenhado. Apresenta um resumo inicial que condensa 
as ideias principais da obra, e pode assumir diferentes características de acordo com o foco 
que assume. Podemos, por exemplo, resenhar um livro tendo como foco as personagens 
femininas, e o que elas representam para o desenvolvimento do enredo.
133
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
Outro ponto fundamental é o elemento dissertativo da resenha, o que agrega sua 
criticidade, a opinião de quem analisa um texto (KOCH; ELIAS, 2010). Isso porque a 
resenha não é um gênero neutro, mas se posiciona de maneira positiva – ou, até, negativa 
– em relação a outro texto. Em sala de aula, é interessante solicitar que os estudantes 
teçam comentários ora negativos, ora positivos, visando trazer uma abordagem 
aprofundada sobre determinada obra.
Veja o texto a seguir, exemplo de resenha do filme “Marley e eu”:
O filme conta a história dos recém-casados John e Jenny. Numa tentativa de aplacar o relógio biológico de 
Jenny, John a presenteia com um filhote da raça labrador. Como em um bom filme de comédia, o casal ignora por 
completo os alertas de “aquilo vai dar ruim”, como quando o dono do canil diz que o cachorro “assanhado” estava 
em promoção, por um preço de 200 dólares, ou seja, $75 abaixo do preço! Jenny, com olhar maternal, o apelida de 
“filhote de liquidação”. Mas, como diz o ditado, “o barato sai caro”. Os tapetes despedaçados, os móveis destruídos, 
as paredes arranhadas – além de problemas com vizinhos e joias engolidas – levariam a nova “mamãe” a reavaliar o 
valor de um desconto!
Podemos, com base nesse texto, observar as seguintes características: referência à obra 
original; uso de uma linguagem que transita entre o formal e informal, adaptando-se a um 
público-alvo; extensão e concisão, tendo em vista o veículo no qual será publicada.
A resenha acadêmica, também conhecida como resenha científica, difere principalmente 
com relação ao seu espaço de circulação (KOCH; ELIAS, 2010). Se a crítica transita por 
jornais e revistas de circulação geral e, em alguns casos, específica – como cadernos de 
cinema – a acadêmica tem como espaço revistas científicas, e visa divulgar pesquisas em 
diversas áreas do saber. Remetendo ao caráter crítico da resenha, costuma trazer novas 
leituras sobre obras, de modo que, diversas vezes, é comum certos livros trazerem, já em sua 
pesquisa inicial, uma resenha inclusa de um convidado que tece suas críticas sobre a obra. 
Importante
Há, inclusive, o termo “prefaciar um texto”, em que é feita uma análise introdutória breve sobre uma obra de circulação 
acadêmica. Pelo seu caráter crítico, no qual analisa alguns pontos importantes da obra em si, tem caráter de resenha.
Diferente da resenha crítica, na resenha acadêmica, a linguagem adotada é formal e, em casos 
específicos, utiliza uma variedade de acordo com a área que aborda: revistas da área de Saúde, 
de Direito, Contabilidade etc. 
Saiba mais
Revistas acadêmicas recebem resenhas com uma variada periodicidade, de acordo com a publicação de seus números. De 
igual forma, pelo espaço em si, há equipes de avaliação que julgam a relevância da resenha para o espaço. Há, inclusive, 
situações nas quais uma resenha só pode ser feita de um material produzido há, até, dois anos, considerando a velocidade de 
surgimento de novas discussões e conhecimentos sobre dado assunto. Em outras palavras, uma resenha acadêmica tende a 
ser datada.
134
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
Outro gênero acadêmico muito utilizado é o relatório. Trata-se de um gênero centrado 
na coleta de informações, apontando dados relacionados a determinado período de 
tempo. Em geral, o relatório é associado a uma atividade – prática ou teórica –, no qual há 
um detalhamento do que fora realizado. Assim, pormenoriza-se determinado assunto, a 
forma como fora realizado (COELHO; PALOMANES, 2016). É por isso que seus elementos 
variam de acordo com a pesquisa e a área na qual é utilizada. Todavia, deve-se utilizar 
o português formal culto, de forma concisa, recorrendo à escrita técnica da área, com o 
intuito de manter um raciocínio coeso e coerente. Outro ponto a ser abordado no relatório 
é que, à medida que ele registra uma atividade, os objetivos apresentados sejam parcial ou 
totalmente atingidos.
Figura 65. Relatório.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/creative-writing-storytelling-brief-contract-terms-1983139877.
Importante
Há, por fim, um gênero textual acadêmico conhecido como resumo. Ele será alvo do nosso próximo capítulo, no subtópico 
“como resumir ideias”. Mas cabe salientar que ele não se trata de um recorte textual, mas uma síntese dos elementos 
essenciais. É uma forma de aplicar estratégias de concisão durante sua prática produtiva. Não é por acaso que toda resenha, 
no seu momento inicial, possui um resumo. Por sinal, diversos gêneros textuais possuem, em seu(s) parágrafo(s) inicial(s) 
um resumo.
5.7 Distinção e implicações entre fato e opinião
Para finalizar este capítulo, trazemos uma abordagem sobre um tema muito caro à 
população em geral, na atualidade: o que é fato, e o que é opinião.
É comum usar a expressão “contra fatos, não há argumentos”, trazendo a ideia de que um fato 
é algo comprovado por si.
Se eu saltar de um barco no mar, numa região funda, sem saber nadar, é fato que irei me 
afogar, ou coisa pior.
A assertiva acima é um fato. E, em tese, a opinião é uma interpretação de dado fato. Mas talvez 
seja melhor observamos essa questão por outro ângulo: “todo fato é, de fato, um fato?”
135
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
Resgatando Barthes (1987), vivemos em uma sociedade feita de palavras. E como falamos 
sobre Foucault, a sociedade é mantida, sua estrutura, por meio dos discursos que circulam. 
Nietzsche, por sua vez, aponta a verdade como uma ilusão, algo que delimita nossos 
pensamentos e indica o que é digno de atenção, ou não (FIORIN, 2008).
Quando pensamos em “verdade”, numa visão foucaultiana, pensamos nos discursos de 
verdade, as instituições que recebem uma autoridade para serem consideradas, assim 
como os padres medievais, detentores da “verdade revelada”. E tal como os sacerdotes, 
essa função, a partir da modernidade, foi sendo absorvida pela imprensa. Nossa sociedade 
criou instituições com a função social de transmitir ideias e valores, e deu-lhes o status 
de “portadoras da verdade”. Mas o que acontece quando adentramos um período no qual 
a opinião de todos é divulgada com maior facilidade, e os antigos portadores da verdade 
perdem seu espaço?
Nossa sociedade passou a registrar eventos, acontecimentos e fenômenos, de forma a superar 
os problemas da memória (FIORIN; SAVIOLI, 2016). Afinal, como já apontava Aristóteles, “a 
memória é a fonte da história”. Porém, como bem sabemos atualmente, quando lembramos 
de algo, não acessamos um grande banco de dados, pelo contrário, recriamos essa 
informação. Não é por acaso que gostamos tanto de narrativas: a cada momento, quando 
resgatamos nosso passado, estamos recriando-o com nossas próprias palavras. 
Tradicionalmente, passamos a registrar e organizar as informações, buscar pela veracidade. 
Acostumamo-nos a ter, inclusive, a interpretação de determinados acontecimentos. Porém, 
devido a uma herançacartesiana da modernidade, assumimos a necessidade de registrar, 
confirmar e afirmar aquilo que registramos.
Com base nesses pressupostos, podemos, inicialmente, traçar uma breve relação entre fato e 
opinião:
Tabela 35. Fato x opinião.
Elementos Fato Opinião
O que é algo que é verdadeiro em si. não é verdadeiro em si, mas por elementos externos.
Base Observação, comprovação Ponto de vista, suposições.
Fonte Realidade objetiva Realidade objetiva e/ou subjetiva
Verificável Sim nem sempre
Expõe Um acontecimento a interpretação de um acontecimento
Representação Fixa Mutável
Descrição Imparcial Tendência a quem conta
Discutível as razões, sim. Mas não o fato em si. as razões e o motivo da interpretação
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
136
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
Observe como apontamos que uma opinião pode ser baseada em elementos tanto subjetivos 
quanto objetivos: uma pessoa pode ter a opinião de que contar estrelas faz nascer verrugas 
nas mãos. Ela pode se basear em fatos: estrelas existem, as pessoas contam estrelas, e verrugas 
nascem nas mãos. Porém, ela prestou mais atenção ao viés de confirmação, de quando 
essas três coisas juntas pareciam estar relacionadas, do que nas vezes em que, mesmo com a 
presença desses três elementos, nada aconteceu (COELHO; PALOMANES, 2016).
Observe, então, a seguinte afirmação:
Todo político é ladrão
Nossa opinião é socialmente construída. Nós a formulamos na relação dos elementos 
externos, com nossas vivências, experiências e formação. Analisando o texto, temos:
 » Há políticos.
 » Há corrupção na esfera política.
 » Há políticos condenados por corrupção.
 » Há ladrões.
 » Há muitos políticos que são ladrões.
Por associação, a pessoa é levada à opinião de que todos (o que é uma hipérbole) os políticos 
são ladrões.
Saiba mais
Cabe lembrar o elemento principal do texto argumentativo: apresentação de um ponto de vista central em prol do 
convencimento do seu interlocutor. Ou seja, de sua opinião, por meio de argumentos organizados. Mas, nesse, o autor 
apresenta argumentos concretos para formular uma opinião.
Em outras palavras: é possível que uma opinião seja provada como um fato. 
Historicamente, o conhecimento humano avançou por meio de teses, proposições sobre 
algo que se buscava alcançar. Porém, durante muito tempo, essas eram enxergadas como 
opiniões. Dessa maneira, podemos partir do princípio de que o fato, diferente da opinião, é 
verificável, comprovável e, principalmente, replicável (GUIMARÃES, 2012). Se eu atravessar 
correndo uma rua de um lado a outro, é um fato que eu chegarei ao outro lado mais 
rapidamente. 
137
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
Saiba mais
Há um campo dos estudos linguísticos conhecido como “Pragmática”, e tem como ponto de análise o ponto de vista de quem 
utiliza a linguagem, de modo a realizar os “atos de fala”: a ação de dizer algo, o que você quer produzir com a fala, e o efeito 
da fala. É curioso, para fins de pragmática, que nossa fala parte do princípio da emissão de enunciados valorativos. Podemos 
falar uma mentira, mas ela possui uma construção afirmativa, por mais incoerente que isso soe, pois o valor de uma oração 
está relacionado à relação entre emissor e receptor. Isso porque, na teoria dos atos da fala, o processo comunicativo envolve 
ações sobre o real, a forma como a linguagem afeta os sentidos que circulam através do cotidiano, se pode ser aferido como 
verdadeiro ou falso em relação ao meio em que circula. Estude um pouco mais sobre o assunto! Disponível em: https://grad.
letras.ufmg.br/arquivos/monitoria/20180606%20-%20Pragm%C3%A1tica%20-%20Aula%2003%20-%20Atos%20de%20fala.
pdf.
Por outro lado, veja a afirmação a seguir:
Se você não atravessar com pressa esta rua, será atropelado.
Por mais que a pessoa tenha elementos suficientes para sustentar sua afirmação, ela 
ainda está no campo da opinião: a rua é larga? Em todos os horários, se atravessar devagar, 
serei atropelado? E se eu usar o sinal, ou um trecho menos movimentado? Há chance de o 
motorista desviar?
Assim, podemos apontar como a opinião é uma percepção de um fato, ou seja, um ponto de 
vista. Em algum momento, o que chamamos hoje de fatos já ocuparam o campo da opinião, 
após passarem pela devida verificação, comprovação e replicação. É plausível afirmar que, 
no passado, houve opiniões sobre o fato de a terra ser plana ou não. Porém, a opinião da 
circularidade do planeta provou-se como um fato.
Observe, então, as duas construções a seguir:
O prato estava cheio de comida.
O prato estava cheio de comida boa.
Nesse exemplo, houve uma percepção: o prato estava cheio de comida, o que seria um fato. 
Mas a qualidade da comida, “boa”, engloba uma opinião pessoal. Pois alguma coisa pode ser 
boa para uma pessoa, mas não para outra.
Podemos aprofundar como opiniões podem ser alimentadas por fatos. Ocorre de 
uma opinião ser substanciada por elementos objetivos – a exemplo do que falamos 
sobre políticos –, mas isso é apenas um delineamento do que realmente representa 
(GUIMARÃES, 2012). 
Em outras palavras: por mais que seja baseada em pontos objetivos, uma opinião sempre 
possui elementos subjetivos e, diferente de um fato, é algo inconclusivo. Podemos, com certa 
138
CAPÍTULO 5 • TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS
facilidade, provar como algo não é um fato, sua falsidade: para os adeptos da teoria da “terra 
plana”, a falsidade desse pseudofato está explicada pela existência da gravidade, uma das 
quatro forças fundamentais da natureza, une os corpos em torno de um núcleo, de todos os 
lados, o que molda o planeta em um formato esférico. Mas não somos capazes de afirmar que 
a opinião de uma pessoa sobre algum assunto, por exemplo, qual o melhor time de futebol, 
é falsa. Isso porque a veracidade de um argumento engloba, também, a sua plausibilidade 
(GUIMARÃES, 2012). Por utilizar elementos subjetivos, a opinião de alguém sobre algo pode 
ser apontada como exagerada, imprecisa, absurda. Assim como possível. Mas não como 
verdadeira ou falsa.
gotas de conhecimento
Imagine a seguinte situação: um adolescente realizou uma redação para um pré-vestibular, e um dos critérios de correção 
seria não sugerir ações que pudessem ferir os direitos humanos. Esse adolescente deve apresentar uma solução para um 
problema, mas essa solução tem como forte base suas opiniões, a forma como vê e interage com o mundo ao seu redor. 
Diferente de outros estudantes, ele não teve a oportunidade de realizar um curso preparatório para ter acesso a todas as 
dicas e informações sobre o que seria ferir os direitos humanos. Em sua redação, ele sugere que a criminalidade deva ser 
combatida não com justiça, mas sim com dureza, envolvendo castigos. Essa é a opinião dele. Porém, na região onde ele 
mora, os moradores, por se sentirem desassistidos pelas forças governamentais, repelem e desincentivam tentativas de 
criminalidade usando dessas medidas violentas, as quais, por fazerem parte do cotidiano do estudante, afetam diretamente 
a forma como ele vê o mundo. Nesse caso, temos a situação na qual, na avaliação, ele será apenado pelas suas opiniões. Esse 
estudante não sabe quais são as opiniões socialmente aceitas. Ele também não entende que, em determinados espaços – 
como no vestibular – certas opiniões não são tratadas como fatos – Ex.: combater violência com violência como forma de 
atingir uma solução – como, também, são vistas como tabus. Como você apresentaria uma solução para essa situação?
Se não podemos dizer que uma opinião é falsa, podemos, ao menos, apontar sua 
tendenciosidade. 
Figura 66. Copo meio cheio ou meio vazio?
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/glass-water-flat-design-isolated-on-769195147.
A figura presenta um exemplo da tendenciosidade da opinião. Duas pessoas podem ter 
opiniões diferentes sobre o mesmo fato. Mas o fato em si é que há água no copo!
139
TIPOS E gÊnEROS TEXTUaIS • CAPÍTULO 5
Saiba mais
Curiosamente, a sociedade elencou autoridades que dão opiniõescomo se fossem fatos. É o fenômeno dos comentaristas, 
seja culturais, políticos etc., os quais, baseados na aura que carregam pelas suas experiências, ao emitirem opiniões sobre 
assuntos específicos, recebem, para seu público-alvo, o status de verdade.
Pode parecer um elemento óbvio, mas todos podem se confundir com relação ao que 
é um fato, e o que é uma opinião. Na última parte desta disciplina, vamos abordar um dos 
elementos essenciais que leva as pessoas a confundirem fatos com opiniões: as falácias.
Saiba mais
Acesse a breve atividade sobre “Fato e opinião”, para se aprofundar mais sobre o assunto. Disponível em: https://canal.
cecierj.edu.br/012016/b98373cf72c08053ff6c31a7b6f5acdc.pdf. 
Sintetizando
Vimos até agora:
 » As diferentes tipologias textuais.
 » Os gêneros textuais literários.
 » Os gêneros textuais jornalísticos.
 » Os gêneros textuais publicitários.
 » Os gêneros textuais digitais.
 » Os gêneros textuais acadêmicos.
 » As relações entre fato e opinião, e suas implicações.
140
Introdução
Chegamos ao nível final do ciclo de conteúdo.
Dando continuidade aos conteúdos de produção textual, teremos a oportunidade de abordar 
como o uso da pontuação é um recurso valioso quando entendemos a importância de 
delimitar nossas ideias durante a produção discursiva.
Produzir argumentos engloba seguir uma linha discursiva. Assim, é fundamental que sejamos 
capazes de delimitar o que queremos dizer, como, quando e para quem. Ser capaz de produzir 
uma redação argumentativa não se resume a criar um texto para uma avaliação, mas premissa 
básica para o indivíduo que precisa desenvolver a competência linguística da crítica e do 
posicionamento.
Porém, é fundamental apontar que até a argumentação mais convincente pode apresentar 
falhas, motivo pelo qual dedicamos um espaço para abordar as falácias, trazendo exemplos do 
cotidiano de como há erros de raciocínio que são tratados como “verdade”.
Resgatamos um pouco do que já foi dito sobre gêneros textuais, e aprofundamos a criação de 
resumos, um gênero que está inserido em outros gêneros.
Por fim, uma breve discussão sobre gêneros intersemióticos, trazendo, para finalizarmos esta 
disciplina, um apanhado de gêneros e práticas intersemióticas em sala de aula.
Objetivos
 » Abordar o uso da pontuação.
 » Aprofundar a forma como os argumentos são construídos.
 » Descrever erros de raciocínio.
 » Apresentar exemplos dinâmicos de resumo. 
 » Trazer exemplos de textos intersemióticos.
6CAPÍTULO
ESTILÍSTICa
141
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
6.1 Pontuação e criação de sentido
Diferente do que nos ensinam desde pequenos, a pontuação não possui aleatoriedade, 
mas planejamento. Afinal, você, por acaso, pensa antes de falar? É comum a expressão 
“falar sem pensar”. O mesmo ocorre com o texto escrito: começamos a escrevê-lo sem 
planejar o que iremos escrever! Isso é uma das diversas influências da oralidade no 
texto escrito (COELHO; PALOMANES, 2016). Determinadas preocupações só existem na 
medida em que ocorre uma formalização da língua.
Importante
Formalização significa padronização, delimitação. Passamos a eleger uma variedade linguística; no caso, a norma culta, em 
detrimento da outra.
É muito comum as pessoas não planejarem o texto antes de o escreverem. Isso faz com 
que iniciemos um parágrafo e, no entusiasmo das ideias que vão se sucedendo, só nos 
lembremos de colocar o ponto-final umas dez ou mais linhas depois. Para o leitor, 
torna-se cansativo ler um texto em que os períodos sejam intermináveis. É por isso que, 
neste capítulo final, nos dedicamos a abordar os sinais de pontuação mais utilizados: 
pontos continuativos, e vírgula.
Trazemos aqui uma dinâmica que você poderá, inclusive, reutilizar para ensinar o uso dos 
pontos continuativos aos seus futuros alunos. Uma dica, e aproveitamos para recapitular 
o que já foi exposto anteriormente quando tratamos de frases, períodos e parágrafos: uma 
frase representa uma ideia (COSTA, 2008). Quando você encerra/transmite a ideia, você 
marca um ponto na frase.
Assim, observe as duas versões do texto a seguir:
Figura 67. Pontuação I.
 
Um gato de estimação fez parte, durante cinco meses, da lista de benefícios 
do Bolsa Família em Antônio João (300km de Campo Grande), um dos 
municípios mais pobres de Mato Grosso do Sul o animal, chamado Billy, foi 
inscrito com nome, sobrenome e data de nascimento por seu dono, Eurico 
Siqueira da Rosa, coordenador local do programa do governo Billy tinha 
número de identificação social, cartão magnético e vinha recebendo R$20,00 
mensais do governo federal como complementação de renda a fraude foi 
descoberta durante a visita de um agente de saúde à casa do suposto 
beneficiário, em novembro passado recebido pela mulher do coordenador, o 
agente quis saber por qual motivo a criança Billy Flores da Rosa não havia 
sido levada para fazer a medição e a pesagem, exigidas para os cadastros no 
programa a mulher estranhou a pergunta: “Mas o único Billy aqui é o meu 
gatinho” o agente relatou o diálogo à prefeitura, que abriu sindicância. 
Fonte: adaptado azevedo (2020).
142
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
Figura 68. Pontuação II.
 
Um gato de estimação fez parte, durante cinco meses, da lista de benefícios 
do Bolsa Família em Antônio João (300km de Campo Grande), um dos 
municípios mais pobres de Mato Grosso do Sul. O animal, chamado Billy, foi 
inscrito com nome, sobrenome e data de nascimento por seu dono, Eurico 
Siqueira da Rosa, coordenador local do programa do governo. Billy tinha 
número de identificação social, cartão magnético e vinha recebendo R$20,00 
mensais do governo federal como complementação de renda. A fraude foi 
descoberta durante a visita de um agente de saúde à casa do suposto 
beneficiário, em novembro passado. Recebido pela mulher do coordenador, o 
agente quis saber por qual motivo a criança Billy Flores da Rosa não havia 
sido levada para fazer a medição e a pesagem, exigidas para os cadastros no 
programa. A mulher estranhou a pergunta: “Mas o único Billy aqui é o meu 
gatinho”. O agente relatou o diálogo à prefeitura, que abriu sindicância. 
Fonte: adaptado de vargas (2020).
Comparando os dois textos, observe como o segundo ficou muito mais organizado! Cada 
ponto continuativo encerra uma informação, uma ideia.
Dessa vez, mostraremos como o mesmo princípio pode ser utilizado para delimitar 
parágrafos. Como abordamos, um parágrafo representa um assunto (COSTA, 2008). Isso 
tem todo um sentido, pois ao organizar uma série de ideias com um objetivo em comum, 
ou seja, as frases, temos um parágrafo. É por isso que convidamos você a ler o texto a 
seguir de duas maneiras: primeiro, de um fôlego só; segundo, prestando atenção nas 
partes onde constam barras duplas (//)!
Figura 69. Parágrafo.
Fonte: adaptado de Scliar (2009).
Observe como o texto vai sendo delineado. Quebramos propositalmente a divisão em 
parágrafos para demonstrar como, muitas vezes, podemos ter vários assuntos em um mesmo 
espaço. Fica a dica: mudou de assunto, mude de parágrafo! Observe como o gato se apresenta, 
traz o assunto, organiza seus argumentos, expande suas ideias e, por fim, se despede.
143
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
Saiba mais
Por sinal, é essa a estrutura mais prática e simples de produção textual, a divisão Introdução-Desenvolvimento-Conclusão.
Vamos agora abordar a vírgula.
No decorrer do curso de Letras, teremos a oportunidade de aprofundar nossos conhecimentos 
sintáticos relacionados ao uso da pontuação. Nesta disciplina, optamos por nos concentrar 
nos elementos mais práticos do uso da vírgula em prol da produção textual.
Saiba mais
Recomendamos que assistam ao vídeo, uma forma dinâmica de entender a relação entre vírgula e produção de sentido. 
Disponível em: https://youtu.be/hoWYmQlLmFA.
Levante a mão quem, quando criança, escutou a tia da escola falar para você ler o texto e, 
quando parar para respirar, colocar uma vírgula!
Figura 70. vírgula e pausa.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/mindful-young-woman-breathing-out-closed-2002100096.Podemos dizer, com fartura de provas, que não é assim que o uso da vírgula funciona 
(mas sejamos, pelo menos, um pouco mais empáticos com os professores dos anos 
iniciais do Ensino Fundamental, os quais dão o seu melhor para alfabetizar os diferentes 
perfis socioculturais de estudantes), mas há, de fato, uma verdade nisso: a vírgula é uma 
pausa. Não uma biológica, mas sintática (KOCH; ELIAS, 2010). Se dependesse única e 
exclusivamente de cada pessoa, teríamos um milhão de gramáticas para cada uso dessa 
pontuação.
144
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
Importante
É fato que muitos professores utilizam, nos anos iniciais, uma versão limitada para ensinar às crianças os princípios 
sintáticos da língua. O principal problema está quando os estudantes se agarram a essas premissas e as carregam ao longo 
da vida para sua prática de produção textual. Faremos aqui uma afirmação ousada: a falta de um ensino mais estruturado 
e efetivo nos anos iniciais é o que faz com que, até mesmo no Ensino Superior, tenhamos estudantes com dificuldades de 
escrita.
Às vezes, nossos alunos aprendem mais rapidamente por meio da prática, do que da teoria. 
A correr, antes de marchar. É por isso que, ao invés de iniciar este trecho com regras muito 
teóricas sobre o uso da vírgula, optamos pelo uso de regras práticas. Preparado?
Tabela 36. Usos práticos da vírgula.
Listar: separe elementos que podem ser 
listados.
Pedro Lucas Maria Sofia e Mônica foram jantar.
» note que podem ser listados:
Pedro
Lucas
Maria
Sofia
Ex.: Pedro, Lucas, Maria, Sofia e Mônica foram jantar.
Obs.: regra geral: não usar vírgula antes de “e”.
Aposto explicativo: explicar algo no meio 
de uma frase.
ana, a qual veio de BH, chegou cedo.
Tempo, modo ou lugar fora de lugar: 
adjunto adverbial deslocado.
O uso sintático mais comum é verbo + adjunto adverbial. Mas, às vezes, ele 
vem fora do lugar comum, inclusive no início da frase.
Ex.: Lá fora, está chovendo muito.
Ex.: Desde ontem, todos estavam aqui.
Ex.: Atualmente, fazemos as coisas desse jeito.
Orações independentes: possuem sentido 
próprio.
Ex.: Chegou cedo, sentou-se à mesa, olhou para o teto.
Observe como cada oração tem sentido completo. nesse caso, são 
assindéticas (sem uso de conjunção).
Ex.: Quero muito estar ao seu lado, mas eu estou atrasado.
novamente outra oração independente, mas, nesse caso, sindética (com 
uso de conjunção).
Vocativo: ”Chamamento”, sempre isolado. Robert, venha aqui!
Fonte: adaptada de Ribeiro (2017) e Bechara (2015).
Observe como simplificamos na tabela as regras da vírgula em cinco pontos. Veja que elas 
não esgotam a totalidade do uso das vírgulas, mas os usos mais comuns, e que você pode 
utilizar desde os anos iniciais do Ensino Fundamental até o Médio.
Aproveitamos, ainda, para abordar exceções práticas:
145
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
Tabela 37. Usos da vírgula – exceções.
Vírgula antes de “e”: quando 
a frase seguinte não depende 
sintaticamente da anterior, 
ou seja, apresenta um sujeito 
diferente.
Ex.: a chuva estava fraca, e o vento era forte.
Observe que o termo depois da vírgula tem independência sintática.
Ex.: O patrão ficou maluco, e seus funcionários não sabiam o que fazer.
novamente, após o “e” temos orações com independência sintática.
Opcional: uso facultativo. 
Quando o adjunto adverbial 
deslocado não for uma 
expressão, mas uma palavra.
Ex.: Ontem, dormimos cedo.
Ontem dormimos cedo.
Ex.: normalmente não estou em casa.
normalmente, não estou em casa.
Ex.: ali faz frio.
ali, faz frio.
Fonte: adaptada de Ribeiro (2017) e Bechara (2015).
Além disso, há uma informação fundamental que devemos ter em mente: quando não usar a 
vírgula: 
Tabela 38. Quando não usar a vírgula.
Entre o sujeito e o predicado Tiago, gosta de ir à praia (Incorreto).
Tiago gosta de ir à praia (Correto)
Entre o predicado e o complemento Joana deu, o presente, à mãe. (Incorreto)
Joana deu o presente à mãe. (Correto)
Fonte: adaptada de Ribeiro (2017) e Bechara (2015).
Esse conteúdo que abordamos será bem útil para que você possa explorar as possibilidades 
da produção textual com seus alunos e, até, ensiná-los algumas dicas de autocorreção.
Como dissemos, a vírgula é uma pausa sintática, o que significa que ela engloba a construção 
de sentidos. 
Ex.: 
Rodrigo é esforçado, mas não irá conseguir.
Rodrigo é esforçado, mas... não irá conseguir.
Rodrigo é esforçado, mas não irá conseguir...
Observe que, nos três exemplos, temos uma negação. Mas no segundo, se temos uma pausa 
demorada, no terceiro temos a ideia de uma inconclusão, como se algo a mais fosse dito. Em 
suma, o uso da vírgula engloba o sentido que você quer dar ao texto.
146
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
Veja outro exemplo:
Se você soubesse o valor que tem um amigo, estaria chorando aos seus pés.
Se você soubesse o valor que tem, um amigo estaria chorando aos seus pés.
Observe como a frase muda totalmente de sentido por causa da vírgula! Há uma série 
de indivíduos que preferem escrever frases curtas, as quais pouco contribuem para a 
concatenação de sentido. Para que seus futuros alunos possam aproveitar as possibilidades 
do uso estilístico da língua, é necessária maior intimidade com a vírgula.
Vamos, agora, abordar alguns usos mais complexos da vírgula, responsáveis por erros 
recorrentes (RIBEIRO, 2017):
 » Uso optativo da vírgula em adjuntos adverbiais em posição canônica: quando não 
estão deslocados, e quem escreve quer realçar a informação.
Ex.: Renata estudou muito, durante todo o domingo.
 » Conjunções coordenativas deslocadas para o meio da frase.
Ex.: Estou cansado. Não me esperem, portanto, neste dia.
Até agora, demos ênfase ao período simples. Mas e em caso de orações em períodos 
compostos?
Tabela 39. Uso da vírgula no período composto.
Orações que apresentam sequência de ações e o mesmo sujeito: 
embora o sujeito seja o mesmo, sintaticamente temos um 
sujeito desinencial em cada oração.
Ex.: Carlos entrou em casa, dirigiu-se aos seus 
aposentos, tirou a roupa e descansou um pouco até a 
hora do jantar.
Dois ou mais sujeitos: em caso de ações distintas, separar com 
vírgula.
Ex.: Carlos foi para casa, e João foi ao cinema.
Concisão: evitar repetição de termos. Ex.: Carlos foi para casa; João, [foi] ao cinema.
Orações intercaladas(1): observe como, aqui, há uma relação 
semântica.
Ex.: aquele dia, confirmaram as crianças, não poderia ter 
sido melhor.
Observe como se dá a intercalação:
1. As crianças confirmaram/que aquele dia não poderia 
ter sido melhor.
2. Aquele dia não poderia ter sido melhor, confirmaram 
as crianças.
aquele dia, confirmaram as crianças, não poderia ter sido 
melhor.
Orações intercaladas (2): quando uma explica algo ocorrido na 
outra.
Ex.: a leitura é uma prática constante e incompleta, pois 
é uma atividade sociocultural.
Orações subordinadas: quando uma transmite noção de tempo Ex.: Quando o inverno chegar, todos lhe agradecerão.
Isolar expressões de retificação e exemplificação. Ex.: veja, por exemplo, o novo menu do restaurante.
Eu farei, além do que, tenho o direito.
Fonte: adaptada de Ribeiro (2017) e Bechara (2015).
147
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
Procuramos enfatizar os usos mais comuns, bem como situações mais complexas no 
uso da vírgula. Observe como estão relacionadas as habilidades de produção discursiva 
do seu aluno. Apresentamos as possibilidades, as quais variam de acordo com o domínio 
normativo de cada um.
6.2 Formas de construir a argumentação
Ao longo desta disciplina, demos ênfase aos elementos do texto, bem como diferentes 
recursos estilísticos que podem ser utilizados; a importância de se produzir um texto tendo 
como ênfase um leitor, bem como as estratégias de produção de sentido.
Figura 71. Debate.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/finger-art-people-during-quarrel-493569082. 
Importante
Isso é tão verdadeiro, que ao término do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, há uma parcela de estudantes que se 
prepara para processos seletivos em colégiosfederais, militares e vestibulares. Praticamente todas as instituições particulares 
– de Educação Básica e Superior – realizam, no seu processo seletivo para admissão e, em muitos casos, oferecimento de 
bolsas, provas com redação. É uma prática que acompanhará o indivíduo ao longo de sua vida, quando entrar no mercado 
profissional. Redação argumentativa, carta argumentativa, artigo de opinião... gêneros diferentes, mas premissas em comum.
Comecemos, então, com a produção de uma redação argumentativa. É fato que há diferentes 
caminhos a serem seguidos, e isso varia de texto para texto. Entretanto, a BNCC, ao propor 
que no decorrer do período escolar o estudante deve desenvolver as capacidades linguísticas 
pelo contato com o texto (BRASIL, 2018), enfatiza o desenvolvimento da capacidade 
discursiva e do posicionamento crítico, ou seja, defender ideias. 
148
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
Introdução
Em Redação, chamamos de introdução o primeiro parágrafo da dissertação argumentativa, 
e ele é, como se pode deduzir, muito importante para causar essa primeira impressão 
positiva (KOCH; ELIAS, 2010). É claro que uma boa introdução não basta para o sucesso de 
um texto, mas é certamente um caminho para se atingir esse objetivo.
Gráfico 7. Introdução.
 
Introdução
Contextualizar o tema
Sugerir a tese
Fonte: elaborado pelo autor (2022).
A introdução deve fazer o leitor estar a par das informações que serão desenvolvidas. 
É por isso que a tese está implícita ao tópico frasal, frase que carrega a ideia central 
do parágrafo. Por sinal, todo parágrafo possui um tópico frasal, seu “esqueleto”. Ao 
contextualizar, explica-se a relevância do tema, e agrega uma abordagem, ou seja, como a 
argumentação será desenvolvida.
Vamos redigir um exemplo:
Nunca o brasileiro ouviu falar tanto sobre corrupção. Aquilo que era visto como parte do 
nosso DNA, passou a ser tema recorrente nas redes sociais. Mas embora essa preocupação 
seja importante, a postura com relação à corrupção não é muito ensinada, de modo que o 
cidadão possa entender como realmente deve se comportar nesse tipo de situação.
Observe que há um trecho em negrito, o qual representa o tópico frasal do parágrafo. Nele, 
está implícita a tese, com as seguintes linhas argumentativas:
 » Não ensinam como agir em relação à corrupção; 
 » O cidadão precisa aprender a reagir diante de situações de corrupção.
Por esse caminho, o leitor pode antecipar o que virá no decorrer do texto. E o estudante 
poderá delimitar o que será escrito.
Importante
Fica uma recomendação: o resumo é a última parte do texto, diferente do senso comum. Sempre reavalie o resumo para 
verificar se ele engloba as ideias apresentadas. É comum estudantes produzirem uma introdução muito rígida, e “forçarem” 
o texto na direção do que planejavam. Lembre-se: texto não é o que você está fazendo, é o que você completa! Se o texto final 
apresenta inconstância em relação à introdução, não pense duas vezes em reescrever o resumo, isso pode ser muito mais 
simples do que reescrever um parágrafo inteiro!
149
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
Tabela 40. Formas de introduzir um tema de redação.
Tipo de Introdução Exemplo
Uso de argumentos: 
contextualiza o tema abordado. 
Tema: A relação do brasileiro com a corrupção
nunca o brasileiro ouviu falar tanto sobre corrupção. aquilo que era visto 
como parte do nosso Dna, passou a ser tema recorrente nas redes sociais. Mas 
embora essa preocupação seja importante, a postura com relação à corrupção 
carece de não é muito ensinada, de modo que o cidadão possa entender como 
realmente deve se comportar nesse tipo de situação.
Contextualização específica: 
parte da ideia de um ponto 
específico, como um evento 
histórico, uma situação concreta, 
informações ou dados.
Tema: A intolerância dos tolerantes
Maio de 2022. Outro famoso aleatório acaba de ser “cancelado” por causa 
de suas opiniões na internet. Opiniões antigas resgatadas no Twitter, mas 
opiniões. Isso nos leva a pensar: quando foi que começou essa “onda” de 
“cancelamentos”?
Menção sociocultural: quando 
referenciamos algo ou alguém.
Tema: violência
É comum pensarmos nos criminosos como serem amorais, merecedores de 
toda punição. Mas cabe lembrar que, segundo Hobbes, o homem é o lobo do 
homem. Por isso, deve-se tomar cuidado ao tratar determinada parcela da 
população como se desprovida de cidadania.
Conceituação: apresenta 
na introdução um conceito 
relevante para todo o texto
Tema: Sociedade e urbanidade
a alteridade é o princípio que analisa nossa relação com o outro, no sentido 
de que o outro nos define, nos delimita. Somos negros porque não somos 
brancos, temos uma cultura de origem urbana, por não a termos de origem 
rural. Isso delimita até nossa identidade. Mas essa delimitação nem sempre é 
tão precisa quanto se supõe.
Questionamento: quando se 
introduz com uma pergunta.
Tema: A guerra dos streamings
Com o advento da tecnologia de nuvem, nossas Smart Tvs se tornaram tablets 
ambulantes, com uso de aplicativos e, principalmente, serviços de streamming. 
Antes, precisávamos de dinheiro para assistir a filmes no cinema; hoje, de 
tempo. Como solucionar o problema de ter tantas opções, e tão pouco tempo 
para consumir um verdadeiro cardápio de obras?
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
Observe que um modelo não exclui outro. A introdução por contextualização específica, por 
exemplo, trouxe um questionamento.
Além disso, para fins de proporção, um parágrafo introdutório de três a seis linhas possui 
um tamanho adequado. Mais do que isso, e ele acabará abordando informações que 
deveriam ser apresentadas ao longo do texto.
Desenvolvimento
Em um texto dissertativo – e no caso aqui, argumentativo –, o desenvolvimento engloba a 
maior parte.
Importante
É necessário um paralelismo entre os parágrafos. Considere uma redação de 30 linhas: um parágrafo não deve ter mais de 
10 linhas, para evitar repetições (incluindo, de conectivos); além disso, é necessário ter a noção de que a desproporção entre 
parágrafos afeta o texto como um todo.
150
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
O desenvolvimento apresenta os argumentos a serem retomados (COELHO; PALOMANES, 
2016). E a melhor maneira de se fazer isso é construindo tópicos frasais.
Gráfico 8. Parágrafo de desenvolvimento.
 
Tópico 
frasal
Ampliação
Fundamentação
Fonte: elaborado pelo autor (2022).
A maior parte de um texto é consumida no desenvolvimento, e sua divisão envolve a 
necessidade de se dividir o raciocínio de quem escreve em etapas, de maneira progressiva. 
O parágrafo possui o tópico frasal, a ideia principal a ser desenvolvida; e sua ampliação, a 
forma como você desenvolve esse tópico, podendo incluir uma fundamentação do que está 
sendo defendido (COELHO; PALOMANES, 2016). 
Vamos desenvolver um parágrafo com o uso do tema “A Guerra dos Streammings”, já 
apresentado.
No passado, assistir a filmes envolvia preparo muito antecipado, a ponto de termos que 
separar dia e horário para ir a um cinema, sozinhos ou com a família. Atualmente, o acesso às 
produções cinematográficas está à distância de um “click”. Isso ocorre pela tecnologia das 
Smart TVs, integradas ao sistema de Nuvem, no qual massivas quantidades de informações 
deixam de ser acessadas em discos rígidos, para estarem à disposição na própria internet, 
como filmes e músicas.
Observe como, em negrito, temos o tópico frasal, a ideia principal do parágrafo. Anterior 
a esse trecho, temos uma ampliação que pode ser inserida em diferentes pontos. Mas, após 
o click, temos todo um trecho em itálico, o qual fundamenta a ideia principal no tópico 
frasal. Observe que as premissas apontadas no parágrafo introdutório, conceituação e 
contextualização específica, forma retomados aqui para a fundamentação.
Além disso, por ser a defesa de um ponto de vista, é necessário apresentar argumentos 
coerentes. Observe que usamos como argumento o fato de que as TVs, na atualidade, 
possuem características de computadores. Mas há formas mais específicasA necessidade de interação fez surgir o que chamamos de “gêneros textuais”. Surgem e 
desaparecem de acordo com a necessidade. São incontáveis, mas possuem particularidades, 
como o fato de estarem associados a alguma tipologia textual. 
Os gêneros são enunciados, orais e escritos, mais ou menos estáveis e circulam em esferas 
específicas. Não se deve considerar o gênero apenas como reunião dos três elementos 
centrais – tema, construção composicional e estilo – que formam os enunciados, mas 
também observar outros elementos da situação de produção, de recepção e de circulação 
desses, como o papel dos interlocutores, a finalidade do uso do gênero, as relações 
dialógicas entre gêneros da mesma esfera ou com outras esferas.
Dessa maneira, é importante destacar a estabilidade relativa dos gêneros: eles são muito 
mais do que uma lista de características fixas que, atendidas, darão origem a textos de 
determinados gêneros. Estes podem variar, dentro de algumas situações da própria 
prática social, conforme variarem as especificidades dos projetos desenvolvidos por cada 
escritor na sua prática diária.
16
CAPÍTULO 1 • ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
Tendo em vista o grande número de gêneros que circulam socialmente e a importância 
de focar naqueles compatíveis com o interesse do estudante e com sua necessidade de 
alcançar uma atuação discursiva autônoma e cidadã na vida social, os gêneros poderão ser 
selecionados a partir de vários critérios, como a relação entre a produção escrita ou oral.
Importante
Aliás, é importante ter em mente o espaço de circulação daquele texto. Um texto acadêmico, por exemplo, tem uma esfera de 
atuação bem específica, o que delimita seus leitores e o tipo de linguagem utilizada.
Todavia, podemos dar novos passos que permitam uma abordagem mais aprofundada desse 
processo de compreender os elementos mais significativos por trás do ato de escrever ao 
abordarmos a contextualização inerente a todo texto.
Quando se trata da abordagem sobre escrita e contextualização, é preciso considerar que 
o autor deve intervir em todo o processo de aprendizagem, sempre fazendo conexões 
entre os conhecimentos. Nessa perspectiva, somos os personagens principais de nossos 
próprios textos, autores de nossos enunciados. Ao nos lançarmos no ato da escrita, agimos 
intencionalmente para solucionar problemas e contextualizar saberes.
Figura 4. Processo de escrita.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/set-professional-journalist-copywriter-content-
manager-1773158615. 
Interpretar e produzir textos é interagir com nossas experiências cotidianas. E por mais vastas 
ou limitadas que sejam nossas experiências, elas podem auxiliar na ampliação do sentido 
de uma obra. Daí que desenvolver atividades para amadurecer as competências da leitura e 
escrita pelo recurso aos gêneros textuais tem um efeito valoroso, pois estamos utilizando 
o texto nas suas aplicações cotidianas. Debates eleitorais, relatórios de produtividade, 
reportagens sobre violência, matérias sobre a crise econômica, diários cujo registro tem a 
função de registrar traumas, são diferentes maneiras de utilizar os gêneros textuais em prol de 
um texto que nos seja significativo.
17
ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL • CAPÍTULO 1
1.3 Signos linguísticos
Primeiramente, parabéns! O caminho do saber e da capacitação tem início com um 
primeiro passo, exatamente como esse que você deu. No decorrer desta disciplina, e do 
curso como um todo, retomaremos muitos dos elementos aqui apresentados.
Você deve ter olhado para o tópico e se perguntado qual a relação com nosso capítulo, 
certo? Pois os elementos do título estão todos correlacionados. Duvida?
O que é “linguagem”? A língua é uma linguagem? Dizer que a Língua Portuguesa é uma 
linguagem não excluiria todas as outras formas de linguagem? É possível existir linguagem 
que não seja por meio de uma estrutura verbal como a que utilizamos cotidianamente? 
Abordamos isso brevemente nos primeiros tópicos. Vamos retomar esses elementos, por 
outro viés.
Em primeiro lugar, tudo o que fazemos é por meio de uma forma de comunicação, uma 
linguagem. Toda linguagem envolve o uso de uma língua. Se pensarmos por esse lado, 
alguns cursos universitários como Medicina e Enfermagem, mas também Marketing e 
Letras, possuem uma disciplina para aprender a interpretar tanto os sinais do corpo, como 
dos códigos, a semiologia. Já ouviu a expressão “o corpo fala”? Bem, acontece que, em geral, 
dizemos mais do que realmente queremos dizer.
Linguagem é comunicação. Mas... e a língua? Ela é um sistema de signos convencionais 
usados pelos membros de dada comunidade (GUIMARÃES, 2012). Ficou confuso? É 
signo, porque está representando algo; convencional, porque dá conta das necessidades 
comunicativas dos falantes; e associado a uma comunidade por representar a forma de 
comunicação. Se pensarmos de maneira ampla, a língua portuguesa se encaixa nesses 
critérios, na comunidade brasileira, de maneira mais restrita, e na comunidade lusófona, de 
forma mais ampla.
Saiba mais
O princípio da lusofonia é o de que Portugal e suas ex-colônias possuem uma herança cultural em comum. A Comunidade 
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) atua em projetos de integração entre os países. Um dos mais significativos nos 
últimos anos foi o Novo Acordo Ortográfico, que buscou unificar a gramática do Português falado no mundo inteiro.
A língua é a forma de linguagem que utiliza palavras em sua constituição, ou seja, estrutura-se 
pela formação de palavras. Isso quer dizer que toda palavra é um signo linguístico, formado 
por duas partes: significante e significado.
18
CAPÍTULO 1 • ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
1.3.1 Significado
Ao ouvir a palavra “árvore”, você logo pensa num “vegetal lenhoso cujo caule, chamado 
tronco, só se ramifica bem acima do nível do solo, ao contrário do arbusto, que exibe 
ramos desde junto ao solo” (HOLANDA, 2010, p. 674). Esse conceito, que não se refere a 
um vegetal particular, mas engloba uma ampla gama de vegetais, é o significado do signo 
“árvore” – e também se encontra armazenado em seu cérebro.
O texto é uma forma comunicativa que está associada à linguagem de determinado 
contexto sociocultural. Mas, como apontamos, os elementos da linguagem englobam o uso 
de signos que têm sentido em determinado contexto. Lembra-se de quando abordamos, no 
subtópico 1.2.1 Vida Social”, o uso de piadas e expressões de duas línguas diferentes, ou 
seja, dois contextos diferentes com os quais os signos linguísticos estão inter-relacionados? 
isso porque os signos não possuem significado de maneira isolada. 
Figura 5. Representação não verbal de uma árvore.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/continuous-line-drawing-tree-on-white-1494649706. 
Todo signo possui, em uma das suas partes, o significado: o seu conceito, a abstração que 
representa. Crianças que estão na fase pré-silábica da aquisição da escrita tendem a olhar 
diretamente para o significado da palavra, sem passar para a associação sonora. Mas só 
quando estão na fase alfabética é que desenvolvem a correspondência entre grafemas e 
fonemas.
Importante
Isso significa que elas já estão em uma fase de abstração mais desenvolvida. Nessa etapa, a palavra “casa” passa a ser a 
representação da casa em si, sem que necessite de um desenho acompanhando a palavra, já que o estudante assimilou o 
significado.
19
ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL • CAPÍTULO 1
1.3.2 Significante
Pense novamente na palavra “árvore” e nos sons que a formam. Esses sons se identificam 
com a lembrança deles que está presente em sua memória. Essa lembrança constitui uma 
verdadeira imagem sonora, armazenada em seu cérebro – é o significante do signo “árvore”. 
Observando dessa forma, você pode constatar que “árvore” não é a coisa, mas o signo 
linguístico que agrega o seu significado. Da mesma maneira que a palavra teacher, embora 
a conheçamos, tem todo um significado para os falantes da língua inglesa.
Isso é tão curiosode escolher os 
argumentos que irão fundamentar as ideias que você busca/precisa defender.
151
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
Tabela 41. Tipos de argumento.
Tipo de argumento Exemplo
Autoridade: resgata a fala, direta ou indireta, de uma 
figura de autoridade.
algumas pessoas optam por estar em cima do muro, até 
mesmo nas questões que envolvem o meio em que vivem. 
Como já dizia Chesterton, “Imparcialidade é um nome pomposo 
para a indiferença, que é um nome elegante para a ignorância”. 
Pode-se, com isso, apontar que alguém que não se importa 
com certas questões, ou não entende a gravidade dessas, ou é 
um alienado social, ou ambos.
Prova concreta: quanto se baseia em dados 
objetivos, relatórios, definições dicionarizadas etc. 
Sua força se baseia naquilo que definimos como 
fatos.
Programas sociais devem ser bem analisados no decorrer 
de sua vida útil, e apresentar também a finalidade do seu 
encerramento. Historicamente, governos que investem em 
benefícios contínuos sem planejar o momento em que 
não serão mais necessários, acabam inchando a máquina 
pública de tal forma que ocorre uma crise econômica e, 
consequentemente, ocasionando o cancelamento precoce dos 
mesmos projetos sociais. 
Raciocínio lógico: quando buscamos defender uma 
ideia pela sua organização sintática. 
Obs.: Cabe apontar que toda argumentação por 
raciocínio lógico parte de, pelo menos, três partes: 
duas afirmações que podem ser derivadas ou não da 
primeira; e uma conclusão.
» Dedutivo: parte de uma premissa maior, geral, para outra, 
particularizada.
Ex.: “Todos os mamíferos têm frio, logo, Pedro tem frio”.
»Indutivo: parte de uma (ou várias) premissa menor, para uma 
maior, geral.
 Ex.: ”Lucas, Rogério e ana gostam de festejar. Partindo disto, é 
correto afirmar que todos os adolescentes gostam de festejar”.
» Dialético: baseada no confronto de ideias, entre tese e 
antítese, até atingir uma síntese. 
Ex.: ”Joaquim gosta de viajar; Pedro, de ficar em casa. Ambos 
são adultos. Alguns adultos gostam de viajar, e outros, de ficar 
em casa”.
Ilustração: Como aponta o nome, justifica um 
argumento por meio de um exemplo, clareando as 
ideias. Deve-se tomar cuidado com o uso excessivo, 
pois retira o espaço para seu posicionamento crítico.
O exemplo deve ser: pertinente, curto e significativo.
a humanidade já provou que é capaz de realizar as maiores 
barbaridades, a exemplo das atrocidades ocorridas durante a 
Segunda guerra Mundial.
Fonte: adaptada de Fiorin e Savioli (2016).
Saiba mais
É comum redações de concursos, como vestibular, colégio militar, Ministério Público e outro tenham temas diferenciados, 
mas tendem a seguir eixos em comum. Alguns exemplos: Ciência e Tecnologia, Comunicação. Questões Sociais, Cultura e 
comportamento, Política e Cidadania, Juventude, mentalidade humana etc.
CONCLUSÃO
Na conclusão ocorre o encerramento do texto, mas, também, o resgate dos pontos 
apresentados, pois finaliza o conteúdo e reforça os pontos essenciais do sentido construído.
152
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
Tabela 42. Elementos da conclusão.
Brevidade Não acrescente novas informações.
Resgate Retome a ideia presente na introdução.
Resuma Sintetize os argumentos apresentados.
Ressalte Exponha a ideia essencial que você desenvolveu.
Proponha Estipule uma postura do leitor com relação ao seu texto.
Prolixidade Expressões como “resumindo”, “finalmente”, são desnecessárias, pois é uma função óbvia do espaço.
Fonte: adaptada de Fiorin e Savioli (2016).
Importante
Cabe lembrar que propor uma ação em uma redação argumentativa é uma característica de redações específicas, como a do 
Enem, a qual exige que o candidato introduza no texto uma proposta de intervenção. Não é uma norma geral.
Seguindo essas premissas, não basta selecionar o último parágrafo para concluir o texto: ele 
deve passar o sentido de uma conclusão.
Tabela 43. Erros comuns da conclusão.
Interrupção Um parágrafo de conclusão não está ali apenas porque faltam poucas linhas, mas porque o 
objetivo do texto progrediu até aquele momento.
Parágrafos 
extensos
as ideias ali retomadas devem ser feitas de maneira concisa.
Novos 
argumentos
não custa repetir: conclusão não é espaço para desenvolvimento de ideias! Se for algo 
realmente essencial, revise o texto para encaixá-lo.
Inconclusivo O texto não pode ficar em aberto. Lembre-se que você não está produzindo um texto literário, 
indicando uma continuação! O texto deve atingir o que prometeu, a premissa presente no título 
e na introdução.
Fonte: adaptada de Fiorin e Savioli (2016).
Certo. Mas qual a melhor maneira de se produzir uma conclusão, então? Algumas sugestões. 
Usemos como base o tema apresentado, “A guerra dos streammings”.
Tabela 44. Produzindo uma conclusão.
Retomar a introdução: Resgatar o tópico 
frasal, parafraseando-o.
“assim, conforme a premissa de que temos muito mais conteúdo 
para assistir, do que tempo para fazê-lo...”
Lançar pergunta: propor um 
questionamento à luz do que foi 
desenvolvido.
“E então, concorda com a ideia de que vivemos uma época de 
explosão midiática?”
Conclusão enfática: promove conexão entre 
desenvolvimento e conclusão.
“Por isso, é fato que há muitos recursos tecnológicos, de forma 
que as empresa brigam, hoje, pelo nosso tempo...”.
Analisar/sugerir: expõe mais a opinião do 
autor e, às vezes, deixa sugestões ao leitor.
“após analisar as exposições sobre os rumos da mídia, sugerimos 
que você pense...”.
Fonte: adaptada de Fiorin e Saviloi (2016).
153
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
Saiba mais
Não custa lembrar: a Redação do Enem possui, além da conclusão, a necessidade de uma proposta de intervenção, a 
qual é uma convocação para que o candidato proponha uma solução para o problema abordado. Ela possui duas regras 
fundamentais que o futuro candidato deverá ter em mente:
 » Apresentar uma intervenção com Agente (quem fará), ação (o que será feito), meio/modo (como será feito), finalidade 
(para que será feito) e detalhamento (pelo menos uma explicação de um dos itens anteriores); 
 » Não ferir os direitos humanos. Soluções que englobem medidas violentas, atos preconceituosos e outros são exemplos de 
quebra dos direitos humanos.
Cabe sinalizar que a cada ano o Enem sofre modificações. Em algumas edições, ferir os direitos humanos era motivo para se 
atribuir nota zero a toda a redação; em outras, apenas na competência 5.
6.3 Falhas na argumentação: falácias
Quando falamos sobre figuras de linguagem, também abordamos os vícios de linguagem, as 
falhas de comunicação. Acontece que a argumentação também pode ser falha, causando o 
que chamamos de falácias.
Você já ouviu falar nesse termo? Não? Bem, como estamos praticando redação, é 
importantíssimo abordamos o que é uma falácia, ou seja, um erro de raciocínio. Mas, 
atenção: erro de raciocínio não é, necessariamente, uma mentira. Significa que a linha de 
argumentação apresenta uma falha.
Arthur é um homem. Muitos pássaros voam. Arthur voa. Arthur é um pássaro.
Parece haver algum problema nessa afirmação? Bem, há uma lógica, mas não significa que 
esteja correta! Isso é uma falácia: é bonitinha, costurada, organizada, arrumadinha... mas 
está errada! Parece fazer sentido, só que não... 
Figura 72. algo está errado nessa ideia...
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/3d-rendering-illustrations-drilled-watering-can-1454565122.
154
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
Quando escrevemos uma redação, é comum fazermos afirmações. O problema é quando 
não justificamos essas afirmações, do tipo “O Brasil é o país mais bonito do mundo”, mas 
não justificamos o porquê, citando exemplos como falta de catástrofes naturais, paisagens, 
comida etc.
Tudo o que declaramos/escrevemos em uma redação, deve ser justificado, mesmo que por 
uma justificativa breve. Vamos olhar isso com calma...
Mas tudo o que eu digo em uma redação deve ser justificado? Nem sempre. Há situações nas 
quais algo dito/escrito prescinde de provas, ou seja, não precisa ser justificado. 
Tabela 45.Coisas que não precisam ser justificadas em uma redação.
Fatos “O Sol é o núcleo do sistema solar.”
De natureza sentimental “Há motivos do coração que escapam da razão.”
Coisas evidentes “Sabendo falar inglês, você consegue se comunicar no mundo todo.”
Gosto “É bom porque eu gosto disso.”
Com base em autoridades “Há grandes homens que fazem com que todos se sintam pequenos. Mas o verdadeiro 
grande homem é aquele que faz com que todos se sintam grandes.” (Chesterton).
Dogmas “Creio nisso, de toda a minha alma.”
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
Observe que há situações específicas em que você não precisa necessariamente provar o 
que diz. Porém, na maioria, a carência disso leva a erros de raciocínio, e isso é fatal em uma 
redação argumentativa! O motivo? Você precisa conduzir o texto para provar um raciocínio... 
mas e se esse raciocínio estiver incorreto? É disso que se trata uma falácia!
De fato, há um número enorme de tipos de falácias. Muitas, inclusive, estudadas no campo da 
filosofia, do direito e da pragmática. Vamos dedicar um tempo para abordar as mais comuns 
do cotidiano, muito frequentes nos bancos escolares.
 » Falsa premissa
Premissa é a ideia (fato) inicial que introduz um raciocínio. Muitas vezes, as premissas são 
aceitas como verdadeiras sem comprovação. Considere o enunciado a seguir, que envolve 
uma falsa premissa óbvia:
Muitas pessoas com mais de 40 anos são feias. → Premissa Maior (PM)
Este senhor está na casa dos 40 anos. → Premissa menor (pm)
Esta pessoa é feia. → Conclusão (C)
Veja como isso não é muito diferente de quando dissemos que Arthur é um pássaro...
 » Fuga do assunto ou digressão
155
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
Quando abordamos, em vícios de linguagem, a proximidade, encontramos exemplo de 
discurso que se delonga e não vai direto ao ponto. Ocorre que, em várias situações, ocorre 
uma fuga do motivo da discussão, a ponto de serem abordadas questões não relacionadas, 
seja por desatenção, seja de maneira intencional para inflar um debate, fugindo, assim, do 
assunto. 
Exemplo:
Se avaliarmos o lado técnico, o PS Vita é mais poderoso que o New Nintendo 3DS. Aliás, eu 
quero um PS Vita.
Obs.: não entendeu? É tipo assim: “Quer saber como chegar a Caxias? Pegue o trem. Caxias é 
a maior cidade da baixada fluminense”. Assim como no caso acima, a justificativa muda da 
qualidade dos objetos para o desejo de adquiri-los, aqui temos uma transição do destino à 
Caxias para a sua extensão.
 » Generalização excessiva ou erro de acidente
Algo mais comum do que imaginamos, já que tentamos concluir algo com base em um 
ponto insuficiente, como “tomate é vermelho como a maçã, por isso é uma fruta” (embora, 
de fato, o seja). Ocorre de termos uma afirmação tão ampla sobre um grupo ou situação 
que chega a ser ingênua. Costuma possuir algum grau de verdade, mas a generalização é 
utilizada para um todo. 
Exemplo:
 » Crianças no sinal de trânsito são assaltantes.
 » Todo político é corrupto.
 » Os chineses são excelentes artistas marciais.
É como se eu afirmasse que todo flamenguista só vive de passado...
Saiba mais
Observe como algumas falácias se complementam. Falaremos como a generalização também se mescla com outra, o 
estereótipo.
156
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
Figura 73. generalização.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/set-asian-age-group-avatars-man-1356271187.
 » Estereótipo 
Aproxima-se, de certa forma, da generalização, na medida em que usamos como argumentos 
as características gerais de um grupo, ignorando como as pessoas são individualmente 
diferentes.
Uma campanha de uma loja estimulou as mulheres brasileiras a utilizarem seu charme para 
contornar as reações de seus companheiros diante de problemas cotidianos. 
Figura 74. Estereótipo.
Fonte: https://publicdomainvectors.org/pt/vetorial-gratis/a-cabe%C3%a7a-de-chin%C3%aas/71722.html.
Importante
Observe como esse argumento também apela para uma padronização, flertando com outra falácia conhecida como 
“preconceito”. Ocorre, nessa, uma tentativa de argumentação por meio de um estereótipo baseado em conceitos 
socioculturais, ideológicos, religiosos etc. Exemplo: “não podemos permitir esse tipo de festa, pois essa gente é perigosa e 
barulhenta por natureza”.
 » Falsa relação causa-efeito 
Também chamado de “viés de confirmação”, quando apresentamos a causa de um suporto 
evento, a partir de um que, mesmo que na melhor das hipóteses pareça relacionado, não 
demonstra provas contundentes. Muitas vezes é mera coincidência. 
O chá de boldo é bom para problemas hepáticos: bebi durante três dias, e a dor no fígado 
passou.
157
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
Há menos mulheres trabalhando em aplicativos de transporte, do que homens. Isso 
demonstra um machismo nesse tipo de serviço que não emprega mulheres.
 » Simplificação exagerada 
Muito comum em campanhas publicitárias, entre outras situações, quando se aborda um 
problema complexo de maneira muito reduzida. Ocorre um esvaziamento da gravidade de 
dada situação.
Resgatemos a falácia do estereótipo: texto foi adaptado de uma campanha publicitária sobre 
o uso de lingerie. Diante da polêmica levantada por causa dessa campanha, a assessoria da 
marca se manifestou da seguinte maneira:
 
Foi exatamente para evitar que fôssemos analisados sob o viés da subserviência ou 
dependência financeira da mulher que utilizamos o modelo Gisele Bündchen, uma das 
brasileiras mais bem-sucedidas internacionalmente. Gisele está ali para evidenciar que todas as 
situações apresentadas na campanha são brincadeiras, piadas do dia a dia, e em hipótese 
alguma devem ser tomadas como depreciativas da figura feminina. Seria absurdo se nós, que 
vivemos da preferência das mulheres, tomássemos qualquer atitude que desvalorizasse nosso 
público consumidor. 
Observe como o argumento apresentado reduz ao extremo o problema, pois deixa de lado a 
questão da hipersexualização feminina, reduzindo-a a “brincadeiras”.
 » Falsa analogia 
Decorre de uma comparação forçada, na qual as aproximações sequer fazem sentido. 
Ou melhor, consiste em comparar objetos ou situações incompatíveis, na tentativa de se 
transferir o resultado de um caso para outro. Veja o exemplo a seguir:
Os professores deviam permitir as avaliações com consulta ao companheiro de sala de aula, 
ao livro, ao caderno e à internet. Ora, arquitetos e engenheiros se guiam pelas plantas do 
projeto; os profissionais da saúde trocam informações com seus colegas, levando, inclusive, 
laudos e exames para as cirurgias! Com isso, os resultados das provas seriam melhores.
 » Falsa analogia 
Quando falamos, anteriormente, sobre argumentação dedutiva, apontamos que a dedução, 
para ser considerada como verdadeira, precisa:
 » Englobar 3 (três) termos, de maneira que eles são utilizados duas vezes, e não podem 
ter sentido ambíguo;
 » As premissas que expõem são verdadeiras;
 » Englobam conclusões lógicas a partir das premissas.
158
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
Assim, uma falsa dedução surge quando uma dessas condições não é atendida.
Os cavalos rincham.
Os homens rincham.
Logo, homens são cavalos.
Figura 75. Se o homem voa, ele é um pássaro?
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/auckland-new-zealand-april-7-2018-1110638858. 
 » Estatísticas tendenciosas 
São hipérboles utilizadas para gerar efeito emocional, e, para ter aplicação, não podem ser 
reconhecidas como hipérboles, pois mostram dados inflados sem uma fonte real, ou como 
foram recolhidos.
A população da Índia é de quase 1.4 bilhão de habitantes. A do Brasil, 212.6 milhões. Por 
causa disso, o time mais popular da Índia tem um número de torcedores maior do que a de 
qualquer time brasileiro.
Pergunta: qual a base desses dados?
 » Círculo vicioso 
Argumentação na qual a causa e a consequência estão em um retorno infinito. 
 
159
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
Ou, de uma forma ainda mais desenvolvida (ou enrolada, você decide):
Ser livre para expressar uma visão de mundo é fundamental paraa existência humana. 
Quando o homem exterioriza suas ideias, afirma sua liberdade. Se as pessoas podem expor 
seus pensamentos, cada indivíduo contribuirá para a liberdade da sociedade. A liberdade de 
expressão torna a vida próspera, a sociedade justa e a humanidade feliz.
Saiba mais
É também conhecido como vício de linguagem – embora alguns apontem como uma estratégia discursiva intencional – 
chamado de “circunlóquio”, “discurso repetido, circular”.
 » Argumento autoritário 
Ocorre quando um argumento é considerado incontestável em função da autoridade do seu 
autor. Os argumentos não são convincentes, mas são utilizados, pois se considera que seu 
cargo é mais importante. Veja, a seguir, um exemplo desta incoerência:
“Essa história está estranha. Mas foi publicada na internet, no canal do XXX, deve ser 
verdadeira.
 » Polarização 
Muito recorrente, principalmente em debates – aliás, a BNCC apresenta o “Debate” como 
um gênero textual da tipologia discursivo-argumentativa – da internet, políticos, culturais 
etc. Busca apresentar dois pontos de vista como radicalmente opostos, o que ignora a 
estrutura-base de progressão argumentativa do “tese-antítese-síntese”. A polarização é uma 
tendência a reconhecer apenas os extremos, ignorando-se posições intermediárias, o que 
acarreta também práticas de intolerância.
Figura 76. Polarização.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/politic-debate-icon-comic-style-presidential-1278842035. 
Por exemplo, hoje, no Brasil, os encontros ecumênicos reúnem as lideranças de todas as 
religiões para levantar a bandeira do amor, da solidariedade e da paz.
160
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
Então não é adequado, educado ou civilizado afirmações como esta:
“O Brasil é um país católico, e nossos feriados tem origem nas datas cristãs, por isso não é 
adequado essas datas festivas de outras religiões.”
Observe como essa afirmação mostra uma construção que não apresenta uma justificativa 
para essa oposição extrema, pois desconsidera, por exemplo, a formação sociocultural 
brasileira, dentre outras características.
atenção
Um exemplo óbvio de polarização é quando figuras de autoridade associam sua luta a uma “do bem contra o mal”.
 » Contradição 
Consiste em contradizer ideias expostas em argumentos anteriores. Nega-se e afirma-se a 
mesma coisa simultaneamente, como em um paradoxo.
Por exemplo, imagine um conjunto de jovens. A afirmação “Todo jovem é rebelde”, e outra 
“Algum jovem é conformado” formam uma contradição, pois:
 » se a afirmação “Todo jovem é rebelde” for verdadeira, “Algum jovem é conformado” 
tem que ser falsa.
 » se a afirmação “Todo jovem é rebelde” for falsa, “Algum jovem é conformado” tem que 
ser verdadeira.
Vejamos este caso:
O político fez a defesa intransigente do direito à vida e votou contra a legalização do 
aborto. Em outra votação, manifestou-se a favor da pena de morte.
atenção
Observe como aqui se apresenta uma contradição discursiva. Embora o ponto final seja o envolvimento em prol do poder 
político, o político entra em contradição com as causas que defende. É fato que muitos argumentariam que há uma diferença 
entre um recém-nascido e um condenado no corredor da morte, mas a contradição aqui está diretamente associada ao 
direito à vida.
6.4 Como resumir ideias
Diferentemente do que muitos pensam, resumir não engloba “recortar” o texto, mas 
identificar as ideias principais em um enunciado (FIORIN; SAVIOLI, 2016). Observe o texto a 
seguir:
161
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
Figura 77. alimentação e obesidade.
(I)
(II) (III)
(IV)
Fonte: adaptado de Enes; Slater (2010).
Você contou o número de caracteres? Com exceção do título e da profissional 
responsável, temos um texto com exatas 164 palavras. Vamos tentar pegar as ideias 
principais e reduzi-lo, evitando a redundância, e também tomando o devido cuidado 
para não eliminarmos informações importantes.
Há pesquisas que mostram a relação existente entre obesidade no período da vida adulta, 
e sua origem na infância. Elementos do ambiente, como o favorecimento de hábitos 
alimentares ruins na infância propiciam o aumento indiscriminado de peso na posteridade. 
Por causa disso, é necessário que a criança seja introduzida a bons alimentos logo cedo, e 
moderação com doces, frituras e derivados. Isso, e também evitar usar esses alimentos como 
“moeda de troca”. É possível assim evitar a obesidade na vida adulta, se desde cedo a criança 
for educada a desenvolver hábitos alimentares saudáveis e uma vida não sedentária.
Tivemos uma redução para 98 palavras! Vamos tentar ir além disso! 
Há relação entre adultos obesos e crianças com hábitos alimentares danosos. É por isso 
que se deve buscar desenvolver no infante uma cultura alimentar saudável, evitando usar 
alimentos pouco saudáveis como recompensa. Esse tipo de atitude, além de uma vida de 
exercícios, favorece um controle do peso ao longo da vida.
Dessa vez conseguimos reduzir para 51 palavras! Mas podemos ir mais longe!
Há estudos que apontam como a obesidade, acompanhada de maus hábitos alimentares, tem 
origem na infância. Assim, deve-se buscar uma alimentação saudável e praticar exercícios 
para evitar sequelas na idade adulta.
30 palavras! Tentemos mais uma vez! Atenção para não deixar nada importante de fora!
162
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
Segundo estudos, praticar exercícios e ter uma dieta saudável são essenciais para uma vida 
adulta de qualidade.
Ok, paramos por aqui. 17 palavras! Obviamente isso não se tratava de um jogo para ver 
quem escrevia menos, mas observe como pegamos a essência: 
 » Indicamos como, segundo estudos, a obesidade na fase adulta tem origem na 
infância;
 » Abordamos a necessidade de alimentação saudável;
 » Enfatizamos como doces e determinados alimentos devem ser evitados; 
 » Aconselhamos a se evitar o sedentarismo.
Observe que essas ideias estavam presentes nesse mesmo texto, seja na versão expandida, 
seja na mais dinâmica. 
Saiba mais
Esse princípio do resumo poderia ser utilizado, de forma inversa, em uma redação. Poderíamos, assim, construir uma 
redação argumentativa, utilizando esse resumo como tópico frasal de um parágrafo introdutório, e, por meio disso, expandir 
as ideias no decorrer de um texto.
Textos literários não devem ser resumidos, porque justamente o que os distingue como 
obra artística, no resumo, ficará de fora – o como se diz o que se diz. Neles (contos, crônicas, 
romances, novelas), a forma é tão ou mais importante que o conteúdo, na maioria das 
vezes. No entanto, é aceitável que apresentemos um resumo de um romance ou um filme, 
por exemplo, ao elaborarmos uma resenha (FIORIN; SAVIOLI, 2016). Nesse caso, não é 
conveniente que todo o enredo seja revelado, para não tirar a graça da posterior leitura 
integral da obra. Na resenha, o resumo deve ser construído de modo a instigar a leitura. 
Veja o modelo de resumo a seguir feito a partir de uma obra ficcional, o filme “Marley e Eu”:
Filme
 “Marley e eu”
No filme, o qual em vários momentos se aproxima da narrativa do livro, John, jornalista recém-casado, receita que sal 
esposa, Jenny, já queira expandir a família. assim, como forma de satisfazer o relógio-biológico da cônjuge, compra um 
“filhote de liquidação”, o filhote de labrador que receberia o nome de “Marley”.
Apesar de todos os sinais que diziam que aquilo não era uma boa ideia – como o fato do filhote estar saindo mais 
barato do que o normal, o que provaria o ditado que “o barato sai caro”, John o leva para casa, mas posteriormente irá se 
arrepender após móveis rasgados, peças da cozinha quebradas, discussões com os vizinhos e uma série de problemas 
causadas pelo novo membro da família. Curiosamente, e isso escapa às câmeras, os diferentes “atores” que interpretam o 
labrador fizeram a sua parte, trazendo toda a expectativa que os fiéis leitores do livro esperavam nas telas.
Fonte: Elaborado pelo autor (2022).
Observe como, aqui, o resumo tem a função de uma grande síntese do filme, não do livro. 
Aindaassim, se o fizéssemos, resgataríamos as ideias principais para introduzir a obra.
163
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
Saiba mais
Você pode utilizar essa atividade com uma resenha crítica, na qual elenca um livro a ser debatido pela turma, e, 
posteriormente, sugerir que construa uma crítica sobre a obra, resumindo os principais pontos e delimitando seus 
respectivos pontos de vista sobre o texto.
6.5 Produzindo textos intersemióticos 
A Semiótica, para Umberto Eco (1986) e tantos outros, é a ciência que estuda os signos. O 
processo intersemiótico seria, então, estudar os signos de diferentes sistemas. E ao negociar 
conjunto de signos entre um espaço e outro, temos a possibilidade de realizar uma tradução 
intersemiótica.
Apesar de soar como um nome sofisticado, é um processo simples. Afinal, um sistema de 
signos estabelece um processo comunicativo. E quando esses processos se interligam com 
outro(s) sistema(s), é possível falar em “tradução”.
Ocorre que esse processo de tradução/negociação é muito mais comum do que aparenta 
ser. Intelectuais, dos mais diferentes campos, o fazem a todo momento. Se você tomar como 
exemplo uma obra como “O cortiço”, de Aluísio de Azevedo, poderá observar o seguinte:
 » Há a presença das ideias evolucionistas de Charles Darwin;
 » Há elementos da teoria historicista de Hippolyte Taine e da filosofia positiva de 
Auguste Comte;
 » Há forte influência da obra “Germinal”, de Émile Zola, considerado o precursor do 
naturalismo literário; 
 » Há a forma como Azevedo, à luz dessa influência, traduz para aquilo que 
enxergava como o universo sociocultural brasileiro.
Observe que falamos em “enxergava”. A própria maneira como Aluísio de Azevedo 
enxergava o Brasil e, em especial, o Rio de Janeiro, já era fruto de uma tradução 
intersemiótica, entre os seus estudos, e a cidade de fato – motivo de ele ter morado 
durante um tempo em um cortiço, disfarçado, para ter material de pesquisa para “O 
cortiço”. Além disso, ele adapta essas influências literárias para o sistema literário 
brasileiro; e ainda o faz negociando com o formato do romance de folhetim, ou seja, o 
texto no formato “obra literária” (FIORIN, 2008), da maneira como a conhecemos antes, só 
surgirá bem depois de todos os capítulos publicados e posterior publicação. 
164
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
Figura 78. adaptação de “300”.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/rome-italy-november-26-2021-detail-2081568763. 
A figura é um exemplo dessa negociação: em 1962, o diretor Rudolph Maté produziu 
o filme “Os 300 de Esparta”, que conta a história de um combate entre gregos e persas, 
sendo uma leitura – ou seja, uma negociação – da Batalha de Termópilas. Em 1998, o 
quadrinista Frank Miller lança uma história em quadrinhos inspirada não no evento 
histórico, mas no filme, o qual ele vira quando criança. Em 2006, o diretor Zack Snyder 
lança o filme “300”, baseado na obra de Miller.
Observe que temos uma transposição intersemiótica de um evento histórico para uma 
adaptação cinematográfica; deste para o formato de história em quadrinhos; e deste, 
novamente, para um formato fílmico, de maneira que o segundo filme destoa por 
completo do primeiro, tendo apenas o mote em comum.
Produzir textos intersemióticos envolve a capacidade do indivíduo de produzir textos que 
negociam com diferentes textos (BAKHTIN, 2003). Apresentaremos aqui algumas propostas 
práticas para serem utilizadas e auxiliar tanto no enriquecimento do seu conteúdo quanto 
no auxílio à prática discursiva dos estudantes.
 » Leitura e comparação
A leitura, como já apontamos, é um processo semiótico e de criação, pois produz sentidos. 
Incentivar os estudantes a produzir textos que transitam entre diferentes sistemas, 
analisando o elemento em comum, é uma excelente estratégia.
Exemplo disso está na série de livros da saga “Crepúsculo”.
Figura 79. Crepúsculo.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/los-angeles-ca-june-24-robert-55920847.
165
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
No livro, temos um caso típico de paradoxo: um vampiro, um ser que não envelhece, e uma 
adolescente, se apaixonam. Embora seja uma trama juvenil, é interessante como a brevidade 
da vida, tratada em obras como “Romeu e Julieta”, e a impossibilidade do amor, estão 
presentes na obra. Realizar rodas de leitura, e, paralelamente, mostrar como elas resgatam 
elementos literários associados à intertextualidade, são estratégias bem dinâmicas.
Saiba mais
Ainda nessa ideia, observe como livros e literatura midiática se interligam. O que obras como “Extraordinário”, de R. J. 
Palacio, e a série “Todo mundo odeia o Chris”, espécie de videobiografia do comediante Chris Rock, têm em comum? Ambos 
mostram como uma pessoa, que é externa a um ambiente, precisa se adequar a um espaço novo, aprender a se socializar e, 
no processo, crescer enquanto pessoa. Auggie, no livro de Palacio, sofre de uma doença facial e precisa aprender a conviver 
com crianças em uma escola pela primeira vez; Chris, por sua vez, é o único garoto negro em uma escola, nos anos 1980.
Cabe orientar que, como aponta Fiorin (2008), as artes dialogam entre si. Dessa forma, 
oferece-se um espaço de construção e negociação e, principalmente, produção de sentidos.
 » Ficção expandida
Figura 80. Criação e expansão.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/astonished-teenage-girl-reading-book-alphabet-95211598. 
Já falamos sobre esse ponto, mas cabe lembrar: a BNCC (BRASIL, 2018) aborda e aprofunda 
a construção de fanfics como prática de discursiva, principalmente para auxiliar os 
estudantes a criarem novas histórias e se apropriarem dos textos.
O ser humano, antes mesmo do conceito de “direito autoral”, produz e reproduz histórias, 
inventa narrativas a partir de outras. 
Você pode, em sala, sugerir aos seus alunos uma atividade de complementação discursiva, 
na qual eles procuram fechar as lacunas da obra original. Mas... o que é isso?
166
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
Ao longo dos anos, a escritora J. K. Rowling tem dado uma sobrevida ao universo de Harry 
Potter. Em meados de 2014, ao ser questionada se haveria alunos gays em Hogwarts, 
ela confirmou que sim (EXTRA, 2014). Porém, sentimo-nos particularmente tentados a 
perguntar: onde estão esses alunos? 
Por mais que a autora tenha sugerido no livro “Harry Potter e as relíquias da morte” o 
relacionamento entre Dumbledore e Grindelwald – com ênfase em “sugerido”, sem mostrar 
algo mais preciso, de fato –, o universo bruxo sempre ofereceu uma grande lacuna para 
diferentes histórias. Fato é que a história gira em torno do protagonista (Harry Potter), 
os coadjuvantes diretos (Rony e Hermione) e uma série de antagonistas. Mas a autora 
percebeu logo cedo o potencial dos fãs, os quais se lançaram a escrever milhares (milhões?) 
de histórias alternativas, procurando contar as histórias que não aparecem nos livros.
E os estudantes negros da história? Os alunos bruxos tinham depressão? Na Sonserina 
todos eram ricos e de família bruxa, ou havia exceções? O fato de a magia fazer quase 
tudo, não criava estudantes mal-acostumados com as facilidades de Hogwarts? Como não 
tínhamos casos de obesidade infantil, considerando que a comida era farta e os bruxos 
não eram dados a muitos exercícios, já que a magia resolvia muita coisa? Tinha casos de 
estudantes grávidas?
Saiba mais
Diferentes autores, afoitos por explorar aquilo que escapava ao espaço dos livros originais, procuraram observar esses 
pontos. Exemplo disso é como há fanfics nas quais bruxos de famílias bruxas, as quais viviam em total isolamento da 
comunidade não bruxa, precisavam entrar em contato com as pessoas comuns. Na fanfic “Guarde um tempo para viver”, 
uma das personagens, em dado momento, é levada a um shopping center, e se deparar com as “novidades” do mundo 
moderno, chegando a pensar que algumas coisas eram magia! Outro ponto, talvez uma das maiores reviravoltas da história, 
é quando um dos protagonistas, um filho de um trouxa (humano sem magia)e uma bruxa, depara-se numa situação na qual 
precisa enfrentar o fato de que os bruxos de família nobre, os quais ele procurou evitar ao longo de sua vida, são justamente 
o seu contraponto, de maneira que temos a personagem, entendendo, na prática, o que é alteridade, a relação na qual nos 
formamos enquanto indivíduos na nossa relação com o outro, com aquele que nos é diferente. Disponível em: https://www.
fanfiction.net/s/1687719/15. 
Observe como falamos sempre sobre opções. Os estudantes negociam, nesse caso, o espaço 
sociocultural de um universo literário com aquilo que representa suas próprias questões, 
posicionamentos e ações. Isso, por sinal, conecta-se diretamente com nossa abordagem 
sobre o leitor, o qual se atualiza a cada geração, e a noção apresentada na estética da 
recepção de um leitor cada vez mais participativo, e com uma obra em constante produção.
 » Narrativas visuais
167
ESTILÍSTICa • CAPÍTULO 6
Figura 81. Story.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/tiktok-influencer-young-girl-bloger-making-1697518894. 
Quando abordamos, no decorrer desta disciplina, a noção de produção de textos como 
forma de produção de sentidos, também demos ênfase ao fato de que os textos possuem 
diferentes formatos, e transitam por diferentes narrativas.
Pierre Lévy (2012) já apontava essa relação de como criamos os meios de comunicação, e 
esses meios nos modificam. Já Peter Mcluhan (2010), ao entrar nesse tema, deixa claro que 
toda revolução humana é, antes de mais nada, uma revolução tecnológica e comunicativa.
Ainda assim, essencialmente somos como os homens que viviam na caverna platônica, 
assistindo o mundo através de um filtro. E, dessa mesma forma, interpretamos o mundo por 
meio de nossa ótica, e utilizamos nossa ótica para ressignificar o mundo.
Dessa maneira, usar as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) como forma 
de criar sentido é uma alternativa excelente para desenvolver a capacidade discursiva dos 
estudantes (MARCUSCHI, 2019). Ao invés das apresentações de trabalhos, experimente 
solicitar aos alunos que apresentem o conteúdo por meio de uma narrativa midiática.
Figura 82. Produção transmidiática.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/indian-young-business-woman-student-teacher-1606120399.
168
CAPÍTULO 6 • ESTILÍSTICa
E se, ao invés de uma apresentação tediosa sobre figuras de linguagem, os estudantes 
fizessem uma breve dramatização, com direito a gravação, editoração e ajustes? Ou se 
criassem uma sequência de imagens que traduzem cada figura de linguagem em um meme?
Observe que, nesse espaço, estamos aproveitando o potencial das tecnologias digitais para 
mesclá-las com o conteúdo produzido, e o conhecimento acessível. Não vivemos mais em 
uma época na qual o estudante acessa passivamente o conhecimento: É necessário atuar de 
forma que isso lhe seja significativo.
Sintetizando
Vimos até agora:
 » O uso da pontuação como meio de criar sentido.
 » A construção de argumentos.
 » As falácias textuais.
 » A prática de resumir ideias.
 » Exemplos de textos intersemióticos.
 » Os gêneros textuais acadêmicos.
169
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	Organização do Livro Didático
	Introdução
	Capítulo
	Elementos da produção textual
	Capítulo
	Compreensão e interpretação de enunciados
	Capítulo
	O leitor
	Capítulo
	Coesão e coerência
	Capítulo
	Tipos e gêneros textuais
	Capítulo
	Estilística
	Referênciasque o sentido dos signos linguísticos também está associado à sua posição 
em determinada frase, ou seja, à sintaxe: na língua portuguesa podemos colocar a palavra 
“uma” anteposta à palavra “árvore”, fazendo a sequência “uma árvore”, mas o inverso vai 
contra o princípio de organização sintática. Perceba, pois, que os signos que constituem a 
língua obedecem a padrões determinados de organização. O conhecimento de uma língua 
engloba não apenas a identificação de seus signos, mas também o uso adequado de suas 
regras combinatórias.
Figura 6. a imagem de um leão, signo da coragem.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/lion-king-isolated-on-black-portrait-1934666582.
Você se lembra do que foi dito sobre os membros de uma comunidade? Esses são os falantes 
da língua. É por meio dela que nos comunicamos, que “exalamos” nossa cultura. 
Provocação
Você seria você se não se comunicasse em língua portuguesa? Hábitos, costumes, expressões... pense nisso. Há um famoso 
documentário chamado “Língua: vidas em português”, que traz uma reflexão sobre essa questão de o português ser mais 
do que um idioma, mas uma forma de estar no mundo. Com a participação de grandes nomes como José Saramago, Mia 
Couto e Martinho da Vila. É um excelente vídeo para se aprender mais sobre esse idioma que atingiu todos os continentes. 
Disponível em: https://youtu.be/eac5y7OqLPU. 
20
CAPÍTULO 1 • ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
Sendo a língua uma espécie de patrimônio sociocultural, os membros de dada comunidade 
“jogam” com as suas possibilidades. Isso possibilita o surgimento da “fala”, uso personalizado 
da língua, a qual, ainda assim, está inserida no contexto em que se manifesta.
Mas o que isso significa? Em geral, a língua portuguesa, no seu falar mais básico e imediato, 
se estrutura pela combinação “sujeito + predicado + complementos”. Se alguém tenta se 
comunicar de maneira muito diferente disso, como em “Eu com a comer vou colher”, estará 
contrariando o princípio da organização e, principalmente, da comunicação, pois envolve 
compreender a maneira como nossa vida social está organizada.
É por isso que produzir textos engloba o estudo da língua, e como tornar os estudantes em 
indivíduos proficientes no seu idioma. Entender a língua favorece a leitura, pois transitamos 
do “mero prazer da leitura”, para o da escrita.
atenção
Em resumo: interação é comunicação, e feito por meio da linguagem, pelo recurso a códigos verbais e não verbais, como 
movimentos, expressões corporais, gestos etc. Tudo é linguagem. Verbal, não verbal, mista, hipermidiática... as possibilidades 
são vastas e praticamente infinitas.
Podemos resumir esses elementos da seguinte maneira: 
Tabela 1. Elementos da linguagem.
LINGUAGEM Origem de toda atividade comunicativa do ser humano; ato comunicativo (dual); expressão do 
pensamento; capacidade que os seres (humanos) possuem para o estabelecimento de comunicação.
LÍNGUA Sistema de comunicação; conjunto de signos arbitrários e convencionais utilizados pelos membros 
de determinada comunidade; forma de identidade cultural e grupal.
SIGNO Unidade dicotômica, composta pelo significante e o significado. A palavra (falada ou escrita), por 
definição, é um signo linguístico.
DIVISÃO DA 
LINGUAGEM
verbal: uso de palavras faladas ou escritas. Ex.: letras de música, alfabeto.
não verbal: não utiliza palavras. Ex.: pintura, ritmo da música.
Mista: uso de linguagem verbal e não verbal no texto. Ex.: outdoor.
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
1.4 Oralidade e escrita
Falamos sobre escrita, mas qual a sua relação com a oralidade? Qual a importância de 
entendê-la ao abordarmos o texto formal?
Tenha a seguinte imagem em mente: qual a sua incidência de escrita formal? Quantas vezes 
por dia preenche uma carta comercial, um relatório ou um e-mail corporativo? E com que 
frequência se comunica por meio de um aplicativo de mensagens, por exemplo? 
21
ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL • CAPÍTULO 1
Leia o texto a seguir:
Sapassado, era sessetembro, taveu na cuzinha tomando uma pincumel e cuzinhando um kidicarne com mastumate 
pra fazer uma macarronada com galinha assada. Quascaí de susto, quando ouvi um barui vindo de dendoforno, 
parecendo um tidiguerra. a receita mandopô midipipoca denda galinha prassá. O forno isquentô, o mistorô e a 
galinha ispludiu! nossinhora! Fiquei branco quinein um lidileite. Foi um trem doidimais! Quascaí dendapia! Fiquei 
sensabê doncovim, proncovô, oncotô. Oiprocevê quelucura! grazadeus ninguém simaxucô! (Cora Coralina, 1968)
Faça um pequeno exercício e interprete o sentido do texto. Conseguiu?
Partindo da premissa que sim, deve ter observado que os problemas mais significativos não 
são do formato do texto, tampouco do léxico: mas da ortografia. Cora Coralina escreveu esse 
microconto em formato de relato, procurando representar um indivíduo que escreve da 
mesma maneira que fala, seu registro linguístico.
Cada modalidade de uso da língua, seja oral ou escrita, apresenta suas peculiaridades. Isso 
ocorre também com os espaços e momentos nos quais travamos contato. A cada vez que 
escrevemos, estamos à mercê do uso de determinados registros linguísticos. 
Isso não significa que sejam duas formas totalmente distintas, mas pode-se dizer que há 
uma variação, um contínuo que varia da conversação espontânea à escrita formal. Você 
já pensou que tanto a fala quanto a escrita são atividades produzidas de acordo com o 
contexto em que há uma necessidade de comunicação?
Provocação
Você provavelmente teria sérios problemas se não soubesse fazer essa diferenciação. Imagine, por exemplo, um texto de rede 
social ou aplicativo de mensagens que, por definição, é dinâmico, perdendo sua principal característica, a velocidade? Da 
mesma forma, imagine que seu texto (oral) não se adequasse ao seu contexto comunicativo.
Nesse sentido, você reconhece a importância de saber produzir textos orais e escritos tanto 
na linguagem formal quanto na coloquial? Sabia que, da mesma forma que é importante 
conhecer os mecanismos de uma fala proficiente, é necessário reconhecer os diferentes 
textos e suas marcas para também produzir uma escrita com proficiência?
O texto de Cora Coralina apresenta elementos textuais suficientes para que você o 
identifique como Língua Portuguesa e, até, realizar uma interpretação razoável. Isso se dá 
porque o domínio da linguagem verbal contribui para a formação de leitores proficientes, 
ativos e críticos. Isso engloba a formação de poliglotas no seu próprio idioma.
Entender as relações entre texto oral e escrito significa que devemos, na função de 
educadores – atuais e futuros – desenvolver a proficiência para reconhecer qual é o mais 
adequado para determinado contexto de produção. 
22
CAPÍTULO 1 • ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
A língua é um sistema de signos convencionais que permite que uma comunidade de 
falantes estabeleça possibilidade(s) de comunicação. Esse caráter social da língua permite 
não somente que um grupo de pessoas se comunique, mas também que cada integrante 
de uma mesma comunidade escolha uma forma de se expressar. Cada indivíduo de 
determinada sociedade apresenta uma maneira de falar. No entanto, não é possível criar 
cada um sua própria língua e ser compreendido pelos outros. Assim, cada indivíduo, 
ao utilizar a língua de maneira própria na comunidade, cria sua fala particular, e esta é 
condicionada por normas socialmente estabelecidas, porém é ampla o suficiente e permite 
exercitar o ato criativo de comunicação.
Além disso, tanto a forma escrita quanto a forma falada segue algumas normas para que 
a comunicação se efetive. Por exemplo, enquanto um sujeito pode dizer/escrever “Aquela 
menina era paupérrima”, outro pode usar “Aquela menina era muito pobre”. As variações 
encontradas ocorrem porque cada um se manifesta de maneira própria, de acordo com seu 
repertório de palavras (GUIMARÃES, 2012).
Contudo, é sempre necessário observar as estruturas da língua, nesse caso, a portuguesa. 
Não se pode correro risco de que os enunciados produzidos se tornem incompreensíveis, 
conforme o exemplo “pobre aquela muito era menina”. Vale lembrar que a linguagem escrita 
e a oral apresentam diferenças e particularidades, embora inseridos no mesmo contexto 
sociocomunicativo.
POBRÍSSIMO/PAUPÉRRIMO
Devemos salientar elementos do texto oral que, ocasionalmente, adentram no escrito formal.
Uma pessoa, ao se comunicar, utiliza-se de um vocabulário, ou seja, utiliza-se das palavras 
que conhece. Porém, pode utilizar também outros códigos linguísticos, como voz baixa e 
alta, gestos, e pode apresentar reações variadas como expressões faciais – caretas, sorrisos, 
caras de desconfiança –, entre outras. Inclusive, ao falar, o indivíduo tem a tendência de 
repetir as ideias ou conceitos, na tentativa de reforçar o ponto de vista adotado e convencer 
o ouvinte. E, nesse caso, não existe a necessidade de acentuar e pontuar as frases, pois a 
entonação e as pausas na fala cumprem esta função. Além disso, não se preocupa com que 
letra irá representar aquele som – ao contrário do que ocorre na escrita.
Já no texto escrito, o ato é baseado no vocabulário que irá estabelecer a comunicação 
entre o texto e o receptor. E, distintamente da fala, a escrita exige preocupação e atenção 
maiores, uma vez que a informação passada não se extinguirá com o tempo, já que a 
escrita fixa-se por tempo indeterminado, tendo apenas o suporte como contexto (FIORIN; 
SAVIOLI, 2016). Como exemplos têm-se os documentos históricos e os livros clássicos, os 
quais permanecem sendo lidos durante centenas de anos. Assim, pode-se dizer que, no 
texto escrito, o autor é obrigado a fazer referências mais precisas sobre a situação, apontar 
mais detalhes e informações sobre a mensagem que quer transmitir, o que requer um 
trabalho de elaboração mais detalhado.
23
ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL • CAPÍTULO 1
Na escrita, pode-se pensar e repensar a produção, planejar para depois partir para o 
registro. Além disso, há a possibilidade de voltar ao que já foi produzido, corrigindo, 
acrescentando palavras e termos, reorganizando-os, o que faz com que a escrita seja mais 
demorada do que a fala, e requeira maior trabalho. Nesse sentido, a escrita passa a ser um 
processo no qual os três elementos – autor/texto/leitor – correlacionam-se para que haja 
produção de significados. 
Se pudermos compreender a escrita nesses parâmetros apresentados, podemos observar 
como o desenvolvimento da faculdade de escrever não ocorre apenas pelo domínio das 
regras gramaticais, mas nessa interação entre escritor e leitor, e as conexões inerentes à 
sua produção da melhor maneira possível. Simplificando, pense na escrita imersa nos 
elementos da comunicação, sendo o emissor e o receptor os elementos principais, e os 
demais – mensagem, código, canal e contexto – os termos que auxiliam nesse processo 
interacional.
Tome o exemplo: Roberto precisa emitir para seu gerente um e-mail com uma lista dos 
treinamentos a serem iniciados no próximo semestre. Roberto é o emissor, e seu gerente, o 
receptor. O código utilizado é a Língua Portuguesa na variedade formal e, de maneira mais 
significativa, uma que utilize jargões técnicos da área administrativa. A mensagem é o texto 
em si, mas ele deve ser significativo para ambas as partes. Por ser um e-mail formal, Roberto 
não envia qualquer mensagem. O sistema de envio de e-mails da instituição é o canal, mas 
essa mensagem poderia, talvez, ter sido enviada por meio de um aplicativo de mensagens, o 
que envolveria toda uma modificação na sua utilização. Aqui, temos uma mensagem formal 
que também serve como registro dos acontecimentos. Isso expressa o contexto, o motivo da 
comunicação em si, a necessidade de registrar as atividades realizadas na empresa e evitar 
ruído, falha na comunicação.
Figura 7. Contexto e comunicação.
Fonte: https://image.shutterstock.com/image-illustration/online-business-conference-creative-illustrations-
600w-1937234941.jpg.
24
CAPÍTULO 1 • ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
Voltemos a abordar como a fala influencia a escrita. A língua escrita busca registrar 
os melhores usos do idioma, mas ocasionalmente faz concessões para termos da fala, 
que com o tempo passam a ser dicionarizados. A fala, por sua vez, é ensinada de várias 
maneiras, em casa, na escola e outros ambientes formais, na maioria das vezes tendo 
como base a gramática da língua escrita. Este fato permite considerar que a fala não 
apresenta características só dela. Sendo assim, torna-se necessária a distinção entre ambas 
as linguagens. Uma não deve se fundir à outra, na maioria das produções, a não ser com a 
finalidade de produzir a fala, no discurso direto, de uma personagem narrativa.
No momento da escrita, o autor pode buscar impedir que o leitor interfira diretamente no 
universo textual. Indiretamente, porém, essa intervenção acaba por acontecer, visto que, 
continuamente, ajustamos a escrita à imagem que fazemos daquele que receberá o texto, 
prevendo possíveis perguntas que ele poderia fazer, buscando sempre respondê-las. Por 
isso, a presença do leitor imaginário requer do autor um grande esforço de elaboração e 
precisão, para que possa elevar o texto escrito a um grau de completude e preenchimento, 
que se refletem no uso dos vocábulos, no uso das normas gramaticais, sempre obedecendo 
à norma culta, criando um texto objetivo e claro, eliminando as ambiguidades.
De outra forma se dá a produção oral, haja vista que a relação estabelecida como falante é 
direta, reproduzida em um processo de diálogo, que conta ainda com uma série de recursos 
extralinguísticos, os quais facilitam a emissão da mensagem pelo falante. A interação face 
a face tem por princípio o tempo real e, portanto, a espontaneidade ao se elaborar o texto, 
produto do ato comunicativo. Dessa forma, é comum encontrar no texto escrito hesitações, 
truncamentos, correções, repetições, inserções, paráfrases, falsos começos, enfim, aquilo que 
chamamos de marca de oralidade no texto escrito.
Provocação
Ocorre que o uso da fala é muito maior do que o da escrita. E, em uma época em que o número de nativos digitais é cada vez 
maior e a comunicação tecnológica usa sons, vídeos e textos, a produção textual é cada vez mais afetada por esses elementos 
tecnológicos, tornando-se mais dinâmica, mas, também, cada vez menos formal.
Em razão do exposto, pode-se dizer que tanto na produção oral quanto na escrita, 
espera-se a eficiência e o sucesso da comunicação, de modo a se concretizar pelo 
contínuo ajustamento de linguagem que o emissor da mensagem faz com relação ao seu 
destinatário.
Para entender melhor as distinções entre as duas modalidades, a oral e a escrita, vamos 
organizá-las de acordo com suas características mais significativas:
25
ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL • CAPÍTULO 1
Tabela 2. Texto oral x texto escrito.
Texto oral Texto escrito
Contextualizado Descontextualizado
Implícito Explícito
Concreto abstrato
Redundante Condensado
não planejado Planejado
Impreciso Preciso
Fragmentário Integrado
Fonte: adaptada de Fiorin (2008).
Observe como, dentre as características das duas modalidades textuais, a contextualização/
descontextualização é uma das essenciais, pois delimita todo o seu desenvolvimento e 
inter-relação com um interlocutor real ou presumível. Porém, mesmo cada modalidade 
possuindo particularidades, é muito frequente o rastro de um discurso oral no texto escrito. 
Ocasionalmente, em contextos comunicativos muito específicos, isso não é um problema. 
Porém, deve-se observar quando essas marcas prejudicam a construção de enunciados 
significativos.
Antes de continuarmos, uma pergunta: desde quando você produz textos?
Figura 8. necessidade de se comunicar.
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/homem-pensando-d%C3%Bavida-pergunta-5723449/.
Em primeiro lugar, a produção textual, na variedade oral, ocorre desde o início do processo 
de interação social. Travamos contato com esse texto oral no ventre materno, pelo contato 
coma fala. Assim, o falante já está exposto a essa linguagem muito antes de conhecer a 
escrita. Geralmente, pelo menos nos primeiros seis anos de vida, mesmo que veja letras e 
palavras, a criança ainda não sabe para que servem, nem como usá-las. Portanto, a chegada 
da escrita na vida do ser humano se dá mais tarde do que a expressão oral. 
A comunicação oral pode ser abordada como parte do percurso na transição texto oral-texto 
escrito. Logo, ao invés de abordar a norma coloquial como erro, deve-se abordá-la como 
mecanismos de apropriação de variedades específicas da língua. Ao se fazer isso, caminha-se 
para o uso dos gêneros textuais. 
26
CAPÍTULO 1 • ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
Observe, por exemplo, o conto literário, gênero textual utilizado por escritores tão diversos 
como Machado de Assis, Fernando Sabino e Clarice Lispector. Na modalidade escrita, é 
uma transição do conto oral, como os contos de fadas, a exemplo de “Os três porquinhos”. 
O que ocorre é que o gênero textual “estabiliza”, cria uma forma, delimita, padroniza o 
texto em um modelo.
Importante
Quando se escreve um texto, dependendo do gênero textual específico, há a exigência do uso da norma culta da língua. Esse 
fato limita a forma de expressão. Por exemplo, no gênero dissertativo, devem-se evitar palavras e expressões que passem 
ao leitor a impressão de que há um diálogo com ele. Lembre-se de que uma das características da oralidade é a interação 
entre os sujeitos. A partir disso, numa dissertação, deve se evitar expressões como “você”, “né”, “tá”, e verbos no imperativo, 
gerúndio e particípio – e/ou quaisquer outros tipos de interação com o receptor.
Já no texto narrativo, podem-se utilizar marcas da oralidade – como travessão, vocativo, entre outras – para reproduzir as 
falas de personagens a partir do discurso direto. A oralidade aparece de maneira mais frequente, e busca, na escrita, uma 
aproximação com a fala.
Imagine que você foi solicitado a escrever um texto. A primeira coisa a fazer é observar 
o gênero textual, e as possibilidades que tal gênero permite: uso de marcas da oralidade 
ou não, permissão de o autor colocar-se no texto ou não, necessidade de manter a 
impessoalidade ou não, enfim, devem ser consideradas todas as características do gênero 
textual em questão. O mais importante ao identificar a diferença entre a oralidade e a escrita 
é perceber os contextos nos quais você deve utilizar a linguagem cotidiana – conhecida 
como coloquial – ou a linguagem formal de acordo com a norma culta, aspecto que exige o 
conhecimento prévio das normas da língua.
Desse modo, você precisa saber que, no caso de um texto dissertativo, as marcas de oralidade 
tidas como aceitáveis em determinados textos, tais como gírias, vícios de linguagem, 
abreviaturas, trocas de letras, erros de concordância, não devem ser aplicadas. Por isso, há a 
necessidade de saber discernir uma linguagem da outra.
Observamos como essas marcas de oralidade atingem um número cada vez maior de 
textos na atualidade, momento de uso da comunicação por meio da internet e das redes 
sociais. Com o advento da tecnologia de informação e com tantos dispositivos e aplicativos 
disponíveis para facilitar a comunicação, estar conectado com o mundo tornou-se uma 
necessidade. Travamos diferentes relações possibilitadas pela internet, como negócios, 
compras, ou simplesmente o contato com outras pessoas.
Figura 9. Relação entre escritor e leitor.
Escritor
Produtor
Leitor
Receptor
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
27
ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL • CAPÍTULO 1
Assim, cada um dos objetivos da comunicação exige que se sigam regras, da mesma forma 
que para os textos escritos fora do ambiente virtual. Nessa era das redes sociais, as quais 
reproduzem na escrita o discurso oral, observa-se a criação de uma linguagem particular, 
ou seja, a criatividade entra em cena por meio de inúmeros recursos, por exemplo, os 
emoticons (ícones e/ou sinais gráficos que representam as emoções ou o estado de espírito 
dos internautas). Além disso, o texto torna-se – exige-se que seja – dinâmico. Como a fala é 
mais rápida do que a escrita, ela “infecta” o texto escrito, abreviando-o. Daí a presença de 
termos como “vc” (você), “t+” (até mais) e outros, com a meta de agilizar a comunicação.
Esses recursos são bastante utilizados em conversas on-line e constituem parte do conjunto 
de expressões que um usuário frequente precisa aprender para facilitar sua comunicação. 
Destaca-se que o uso da comunicação na internet é, afinal, o grande desafio do futuro 
profissional de várias áreas. Anteriormente, você redigiria no seu escritório, no computador, 
uma carta. Imprimiria, assinaria e a deixaria em uma caixa de malotes para o office-boy 
entregar a outro setor. Ou seria um trecho a ser colocado em um mural. Porém, muito do que 
ocorre hoje em dia é feito por meio de documentos digitais, sem a necessidade de impressão. 
Pode-se, inclusive, preencher um contrato digital e recolher as respectivas assinaturas pelo 
mesmo processo. Por isso, a necessidade de conhecer cada especificidade dos diferentes 
gêneros textuais reflete tanto na fala quanto na escrita do sujeito que faz uso da língua.
A figura a seguir demonstra brevemente a forma como a língua escrita, em uma sociedade 
letrada, gradativamente afeta a língua falada:
Figura 10. alfabetização e ascensão comunicativa.
 
Língua 
falada
Alfabetização
Escolarização 
avançada
Fala influenciada 
pela escrita
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
28
CAPÍTULO 1 • ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
1.5 Breves noções de coerência textual
No decorrer deste capítulo abordamos os elementos da produção textual. Iremos 
finalizá-lo com algumas noções essenciais para a produção de textos. É comum docentes 
começarem suas aulas de produção textual trazendo o tema de algum texto a ser construído 
pelo estudante, e, muitas vezes, a correção analisa apenas a coesão interna. Porém, é 
importantíssimo que o estudante entenda como a função comunicativa da língua, por meio 
do texto, deve ser valorizada.
Em outras palavras: deve haver compatibilidade entre as ideias apresentadas. Você terá 
resultados muito proveitosos se, ao invés de iniciar seus trabalhos recorrendo a textos 
mais desenvolvidos, propuser à a turma atividades mais curtas e dinâmicas, de forma a 
desenvolver a competência discursiva de cada um.
Como primeiro exemplo, observe a reportagem a seguir:
Figura 11. Reportagem.
Fonte: http://twitpic.com/5xuta2.
Peça para seus estudantes analisarem o texto e apresentar algum possível problema no seu 
sentido. Por ora, vamos tratar de alguns pontos.
O que é coerência? É um princípio essencial para favorecer a interpretação do discurso. 
Quando o leitor, no ato de leitura, constrói sentido, ele o busca nas marcas textuais que o 
escritor deixou para ele. É verdade que diferentes textos podem exigir uma competência 
linguística mais amadurecida. Mas quando exigimos que o leitor correlacione o texto ao 
seu contexto – do qual ele faz parte – abordamos os elementos da coerência textual (KOCH; 
ELIAS, 2010).
Assim, a incoerência ocorre quando as ideias textualmente apresentadas não se 
concatenam. E, muitas vezes, essa incoerência não é explícita.
Voltemos à matéria do trabalhador braçal. Observe que o texto está bem estruturado, não 
apresenta problemas de coesão. Porém, a incoerência é quase sutil: quem dá o testemunho 
do ocorrido é a vítima, o que seria impossível pelo fato de ela estar morta.
29
ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL • CAPÍTULO 1
Se a coerência é o que está ordenado e interligado, então há um problema de sentido no texto. 
Problemas de coerência englobam a forma como as ideias de um texto não estão conectadas 
de maneira correta. 
A coerência textual pode estar relacionada a elementos internos ou externos ao texto.
Tabela 3. Coerência.
Intratextual Extratextual
Entre os elementos internos de um texto, de como se 
relacionam e não se contradizem.
É a relação de sentido que o texto estabelececom o 
seu contexto.
Exemplo: Moradores das capitais costeiras não se dão muito 
bem em regiões de clima frio. É impossível se adaptarem. É 
função do Estado desenvolver políticas públicas para incentivar 
a migração dessas pessoas para as regiões serranas do país.
Exemplo: Em algumas das regiões do Brasil, como a 
norte, há diferentes espécies de girafas selvagens.
Problema: o texto procura apresentar uma solução para um 
problema que, anteriormente, ele apresenta como de resolução 
impossível, o que aponta sua incoerência.
Problema: a girafa é um animal originário do 
continente africano, sendo incoerente essa afirmação.
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
Além disso, a incoerência textual também é dividida em tipos, a saber:
Tabela 4. Tipos de incoerência.
Tipo de incoerência Exemplo
Semântica: engloba os significados dos 
elementos frasais, e dá-se quando esses se 
contradizem, ou não se interligam. 
Ex.: Durante a briga das torcidas, bombeiros e policiais correram 
para impedir a confusão.
Problema: não é função dos bombeiros atuar em atividades de 
segurança pública.
Sintática: o uso dos conectivos que modificam o 
sentido do texto.
Ex.: Este é o brinquedo onde meu filho se divertiu.
Problema: “onde” é um pronome de valor locativo, e a frase torna-
se ambígua na medida em que não especifica qual o tipo de 
brinquedo que pode ser considerado um lugar.
Estilística: engloba o uso de diferentes registros 
linguísticos. Por sinal, um tipo de incoerência 
muito comum.
Ex.: Eu quero estudar bastante pra atingir os meus objetivos, 
fechou?
Problema: O texto mescla elementos do texto formal e informal, 
como o “pra” e gíria.
Obs.: isso envolve outras questões, como registro linguístico, mas 
deixemos para outro capítulo.
Pragmática: ocorre em textos que tentam 
representar diálogos. Um diálogo envolve um ato 
de fala, no qual os interlocutores emitem seus 
enunciados em resposta ao enunciado do outro.
Ex.: 
a: você dormiu bem?
B: Estou com fome.
Problema: O interlocutor B não respondeu corretamente à 
pergunta do interlocutor a. 
Fonte: adaptada de Coelho e Palomanes (2016).
Não confundir esse uso com a chamada “licença poética” presente nos textos literários, 
situação na qual o escritor erra de propósito em prol da atividade artística.
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CAPÍTULO 1 • ELEMEnTOS Da PRODUçãO TEXTUaL
Há outros pontos a se considerar, como os níveis de coerência textual, e os níveis de 
linguagem, responsáveis por promover a incoerência de sentido. Retomaremos em capítulo 
posterior, quando aprofundaremos o tema junto à coesão textual. 
Sintetizando
Vimos até agora:
 » A definição do texto e seu caráter comunicativo, sua forma de produção e interação, e como o ser humano interage em um 
mundo formado por e de textos.
 » A relação simbiótica entre os textos e os signos que são utilizados nesse processo de produção; e como estamos 
negociando constantemente com significados e significantes para produzir sentidos.
 » A produção de textos dos mais diferentes gêneros textuais tendo como base a relação entre oralidade e escrita.
 » As bases da coerência textual, e como um texto pode ser prejudicado por problemas que afetam seu sentido.
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Introdução
É bom ver o seu empenho! Estamos no segundo capítulo do Livro Didático da nossa disciplina 
de interpretação e produção textual, e sua participação é essencial para a progressão na 
disciplina! Introduzimos anteriormente o conceito de texto e, agora, poderemos falar um 
pouco mais sobre a interpretação textual. 
A leitura é uma atividade plurissignificativa, e por isso demanda o domínio de uma série 
de competências que irão favorecer a sua realização. Assim, compreender os elementos 
envolvidos na leitura é essencial para auxiliá-lo a desenvolver estratégias para, futuramente, 
fazer com que seus alunos sejam leitores competentes.
Para esse grau de compreensão, torna-se necessário abordar o conceito de linguagem e 
contexto sociocultural, e como há uma série de elementos que integram a faculdade humana 
da transmissão de sentidos. Para essa premissa, apontaremos tanto a linguagem, suas partes 
constitutivas quanto suas funções em casos particularizados.
Além disso, ao estudar os registros comunicativos, adentraremos na noção do texto 
enquanto língua em movimento, e como os indivíduos, dos mais diferentes domínios 
linguísticos, produzem sentido enquanto manipulam a língua, nas diferentes situações 
comunicativas. Isso nos levará a estudar as estruturas essenciais de um texto verbal, e 
como ele se propaga por meio dos gêneros textuais.
Objetivos
 » Articular os elementos envolvidos na leitura.
 » Diferenciar língua, linguagem e elementos da comunicação.
 » Compreender as funções da linguagem.
 » Estabelecer as diferenças entre textos nos variados registros comunicativos. 
 » Introduzir as estruturas frasais e sua relação com os gêneros textuais.
2
CAPÍTULO
COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE 
EnUnCIaDOS
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CAPÍTULO 2 • COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS
2.1 Elementos envolvidos na leitura
Você já parou para pensar por que certas palavras têm vários sentidos diferentes? “Caro”, 
pode significar “custo”, “afeto” e “custoso, penoso”. Isso está muito associado à nossa 
capacidade de interpretar o mundo ao nosso redor, via leitura. 
Não, não entendeu errado: leitura. É comum imaginar que o ato de leitura está associado 
apenas ao texto escrito, mas é um conceito mais amplo. Logo, o que é leitura? Podemos dar 
uma definição razoável do que seria tal prática? Gostaríamos de propor uma definição, a qual 
será nosso guia ao longo da aula. Segundo Koch e Elias,
O texto pode ser considerado o próprio lugar da interação e da constituição 
dos interlocutores [...] Nessa perspectiva, o sentido de um texto é construído 
na interação texto-sujeitos e não algo que preexista a essa interação. A leitura 
é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de produção de 
sentidos. (2010, p. 10-11, grifo nosso).
Você lembra quando falamos que, na nossa sociedade, tudo é texto, ou seja, produção de 
sentido? Os sentidos com os quais interagimos no dia a dia são formas de texto: conversas, 
discussões, mensagens de aplicativos, músicas – aliás, a própria versão de uma música 
configura um tipo de texto –, campanhas publicitárias, debates eleitorais, notícias... nossa 
fala é um tipo de texto, pois, como já apontamos, todo texto possui um leitor presumido. 
Bakhtin (2003) brinca com isso quando aponta que a única pessoa que, em um único 
momento da história, produziu um texto sem presumir um leitor, e por um curtíssimo 
espaço de tempo, teria sido Adão!
Figura 12. Texto e leitor.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/cute-animals-reading-books-childrens-education-1314599801. 
Se um texto não é limitado apenas pela modalidade verbal escrita, o mesmo pode ser dito 
da leitura. Não lemos apenas palavras. Lemos gestos, sons, imagens. Tampouco o fazemos 
apenas com nossos olhos, mas com múltiplos recursos. Ler o mundo não é apenas um ato 
de ler as palavras, ideias e grandes romances. É estar em sintonia com tudo o que ocorre ao 
redor. 
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COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS • CAPÍTULO 2
Lemos o mundo ao observar o temperamento de um indivíduo pelas suas escolhas de 
roupas; quando percebemos a mudança de estação via tato pela mudança de temperatura. 
Quando damos uma resposta específica para uma situação em particular, adaptamos nosso 
discurso a uma leitura prévia de mundo. 
O leitor não é aquele que simplesmente domina a alta cultura, mas que interage com 
todas as formas de produção de discurso ao seu redor e acrescenta-as ao seu próprio 
cotidiano. É por isso que é um erro a ideia que aprendemos desde cedo de que é na escola 
que se aprende a ler. Zilberman (2009) aborda bem essa questão quando fala que somos 
ensinados a ler o texto de maneira mecânica, a meramente interpretar palavras. Quando 
nos limitamos a apenas indicar livros sem desenvolver a capacidade de leitura dos alunos, 
limitamos suacapacidade de interpretação, ou seja, de leitura. 
Abordaremos isso de maneira aprofundada em outro momento, mas observe como a leitura 
é influenciada, também, pelo seu momento: uma obra como “O Alienista”, de Machado de 
Assis, diz-nos muito sobre sociedades nas quais os valores estão invertidos. Assim como a 
personagem Simão Bacamarte tem autoridade para dizer quem é louco, e, por isso, quem 
deve ser solto, e quem deve continuar preso, podemos trazer para os estudantes diferentes 
leituras sobre esses acontecimentos.
Saiba mais
A editora Ática lançou a série “Descobrindo os clássicos”, em que diferentes histórias são contadas, em um processo 
intertextual. Escritores contemporâneos revisitam as obras clássicas, a exemplo de “Dez dias de cortiço”, no qual um 
jornalista resolve experimentar a sensação da obra de Aluísio de Azevedo; ou “O Mistério da casa verde”, no qual o escritor 
Moacyr Scliar promove uma releitura da obra “O alienista”, de Machado de Assis.
O texto a seguir faz uma piada exatamente com a capacidade humana de agregar sentidos, 
muitos dos quais não estavam originalmente presentes:
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CAPÍTULO 2 • COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS
Figura 13. Sentidos.
 
Por ordem do Diretor-Presidente, na sexta-feira às 17:00 horas, o cometa Halley vai aparecer sobre a Fábrica, a olho nu. Se 
chover, por favor, reúnam os funcionários, todos com capacete de segurança e os encaminhem ao refeitório, onde o raro 
fenômeno terá lugar, o que acontece a cada 78 anos. 
Na próxima sexta-feira, aproximadamente às 17:00 horas, o cometa Halley estará na área. Trata-se de um evento que 
ocorre a cada 78 anos. Assim, por favor, reúnam os funcionários no pátio da Fábrica, usando capacete de segurança, 
quando eu explicarei o fenômeno a eles. Se estiver chovendo, não poderemos ver o raro espetáculo a olho nu, sendo assim, 
todos deverão se dirigir ao refeitório, onde será exibido um filme "Documentário sobre o Cometa Halley". 
De: Diretor-
Presidente 
Para: Gerente 
De: Gerente 
Para: 
Supervisor 
A convite do nosso querido Diretor, o cientista Halley, 78 anos vai aparecer nu às 17:00 horas no refeitório da Fábrica, 
usando capacete, pois vai ser apresentado um filme sobre o raro problema da chuva na segurança. O diretor levará a 
demonstração para o pátio da Fábrica. 
De: Supervisor 
Para: Chefe 
de Produção 
Na sexta-feira às 17:00 horas, o Diretor pela primeira vez em 78 anos, vai aparecer nu no refeitório da Fábrica, para filmar o 
Halley, o cientista famoso e sua equipe. Todo mundo deve estar lá de capacete, pois vai ser apresentado um show sobre a 
segurança na chuva. O diretor levará a banda para o pátio da Fábrica. 
De: Chefe de 
Produção 
Para: Mestre 
Todo mundo nu, sem exceção, deve estar com os seguranças no pátio da Fábrica na próxima sexta-feira, às 17:00 horas, 
pois o Sr. Diretor e o Sr. Halley, guitarrista famoso, estarão lá para mostrar o raro filme "Dançando na Chuva". Caso comece 
a chover mesmo, é para ir pro refeitório de capacete na mesma hora. O show ocorre a cada 78 anos. 
De: Mestre 
Para: 
Funcionários 
Na sexta-feira o chefe da Diretoria vai fazer 78 anos e liberou geral pra festa às 17:00 horas, no refeitório. Vão estar lá, pago 
pelo mandachuva, Bill Halley e seus cometas. Todo mundo deve estar nu de capacete, porque a banda é muito louca e rock 
vai rolar até o pátio, mesmo com chuva. Aviso Geral 
Fonte: adaptado de Silva (2012). 
Estamos diante de um verdadeiro “telefone sem-fio” na comunicação por causa de um erro de 
interpretação quando as mensagens são repassadas. Em um último momento, isso é gerado 
por problemas de leitura, pois ler é, também, uma forma de produzir sentido.
Você sabe por que a leitura é o espaço por excelência de produção de múltiplos sentidos? 
Simples: um texto é, por definição, polissêmico. Ou seja, quando bem construído, pode 
suscitar intencionalmente múltiplos sentidos. Esse conceito deriva da multiplicidade de 
sentidos que uma mesma palavra da língua pode apresentar, em diferentes contextos de uso. 
A relação entre o texto e seu leitor evolui: deixa de ser monológico para ser dialógico, ou seja, 
processo interativo realizado pelas vozes (FIORIN, 2008) que se encontram/confrontam: 
leitor, autor etc. Isso também significa dizer que o ato de leitura é inacabado: eis o motivo de 
determinados textos literários serem considerados universais, por sempre permitirem leituras 
diferentes nas mais diferentes épocas.
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COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS • CAPÍTULO 2
Para refletir
Vale lembrar que a língua é altamente metafórica. Chamamos de figuras de linguagem os recursos estilísticos utilizados para 
darmos sentido ao nosso cotidiano. Observaremos, mais adiante, como a comunicação usa e abusa de metáforas para criar 
relações de sentido.
Outro exemplo está no uso denotativo e conotativo de um texto. As palavras e os enunciados 
são denotativos quando apresentam o sentido literal, do dicionário; são conotativos quando 
apresentam sentido figurado, determinado pela situação e pelo contexto histórico-cultural.
Exemplos:
 » Eu os deixei de boca aberta.
 » A garrava está com a boca quebrada.
No primeiro caso, o texto permite um sentido figurado do seu enunciado; no segundo, 
literal. É importante ter em mente que esse sentido leva em consideração dois elementos: 
contexto e interlocutores. Na verdade, há um nível figurado no segundo exemplo, já que 
“boca da garrafa” é uma espécie de metáfora, uma personificação – garrafas não têm boca, 
mas, por falta de palavra melhor...
Nem sempre essas metáforas linguísticas são tão perceptíveis assim: nós as utilizamos a todo 
momento! Até mesmo em textos oficiais! Tome como exemplo o texto, um trecho de uma carta 
hipotética que circula em uma empresa:
Figura 14. Carta.
 
Solicitamos a todos os colegas uma contribuição, em 
dinheiro, correspondente, no mínimo, a um dia de salário, 
para, num preito de homenagem à memória do grande e 
inesquecível amigo Octávio Jorge Franco, levarmos à sua 
esposa e aos seus filhos um auxílio econômico, já que a 
situação que ficaram não é das melhores. 
Fonte: elaborada pelo autor (2022).
Observe tanto a presença de um sentido denotativo, pois há clareza no trecho, e de um 
conotativo, quando usa a expressão “a situação que ficaram não é das melhores”, ou 
seja, um eufemismo. O bom leitor – e, num campo mais amplo, o falante que domina as 
particularidades da língua – é capaz de interpretar os elementos de um texto com certa 
facilidade, na medida em que compreende o contexto comunicativo.
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CAPÍTULO 2 • COMPREEnSãO E InTERPRETaçãO DE EnUnCIaDOS
A ato da leitura possui, de maneira simplificada, dois elementos essenciais: contexto e 
interlocutores.
Tabela 5. Contexto e interlocutores.
Contexto: As circunstâncias que influenciam o 
processo de interpretação: elementos sociais, 
situação política, elementos históricos etc. Em 
que determinada circunstância aquele texto foi 
produzido, e qual ele representa? Como influencia 
na sua compreensão? 
Exemplo: “Roberto Dinamite foi um dos maiores 
craques do vasco da gama”.
Observe que há uma contextualização histórica 
e situacional no enunciado, pelo menos: quem o 
produz o faz de um tempo presente apontando para 
um passado, a julgar pela conjugação verbal. 
Interlocutores: Quem produz o texto, o recebe, e assim por 
diante, em um ciclo que pode ser infinito. 
Observe esse exemplo: quando você entra em um site de 
streaming, como o Youtube, você lê/consome conteúdo/texto. 
Da mesma maneira, os seus dados de acesso podem ser 
utilizados, pelo menos, de duas maneiras: a) possibilitar que 
a plataforma encaminhe mais conteúdo desse tipo para você; 
e b) por meio das visualizações, as quais são uma forma de 
“responder ao texto”, o escritor/produtor cria/escreve mais 
conteúdo/texto, em resposta à sua leitura/fala, afinal, ler é uma 
forma de produzir sentido.
Confuso? aquilo que chamamos de mercado editorial atua, 
essencialmente, da mesma maneira. assim como

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