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A economia global atravessa um ponto de bifurcação: podemos seguir uma trajetória de estagnação social e ambiental ou optar por reformas coordenadas que gerem crescimento inclusivo, sustentável e resiliente. Essa escolha não é apenas técnica, é política e moral. Sustento que a comunidade internacional deve realinhar prioridades — políticas macroeconômicas, comércio, regulação financeira, investimentos em tecnologia e transição ecológica — para transformar choques em oportunidades. A argumentação a seguir apresenta os riscos do inércia e as linhas de ação plausíveis, buscando persuadir governantes, empresários e cidadãos sobre a urgência de mudanças. Primeiro, o estado atual: vivemos integrada e simultaneamente em crises financeiras, climáticas e de desigualdade. Fluxos de capital atravessam fronteiras em velocidade inédita, enquanto cadeias de valor são fragmentadas e dependentes de poucas regiões. Essa arquitetura gera eficiência, mas amplifica vulnerabilidades: choques localizados podem contagiar mercados globais, como demonstraram crises recentes. Além disso, o crescimento econômico tem sido acompanhado por concentração de renda e precarização do trabalho, corroendo coesão social e reduzindo demanda agregada sustentável. Ignorar essas dinâmicas é aceitar um futuro com instabilidade política e menor prosperidade geral. Em segundo lugar, argumento que a resposta passa por três vetores integrados: coordenação macroeconômica, reforma do comércio e investimento direcionado em capital humano e infraestrutura sustentável. Na esfera macroeconômica, é imprescindível um diálogo fiscal e monetário internacionalmente coordenado que permita políticas anticíclicas eficazes sem provocar desvalorizações competitivas e guerras de tarifas. A cooperação para regulação de fluxos financeiros e para a tributação de lucros multinacionais reduziria a evasão e permitiria financiamento de bem-estar e transição verde. Esses mecanismos não são utópicos: já existem iniciativas multilaterais que podem ser ampliadas e aprimoradas. Quanto ao comércio, defendo um modelo que preserve os benefícios da liberalização — transferência tecnológica, eficiência e especialização —, mas que incorpore normas sociais e ambientais rígidas, mecanismos de ajuste e redesenho das cadeias produtivas para reduzir riscos estratégicos. Políticas industriais seletivas, focadas em tecnologias limpas e setores essenciais (saúde, semicondutores, energia renovável), devem coexistir com regimes de comércio aberto, mitigando assim fragilidades sem recorrer a protecionismo generalizado. O terceiro vetor é o investimento público e privado em capital humano e infraestruturas verdes e digitais. A economia do futuro será liderada por países que educarem suas populações para habilidades complexas e digitais, que modernizarem transporte, energia e telecomunicações e que internalizarem o custo ambiental nas decisões de investimento. Incentivos fiscais, parcerias público-privadas e instrumentos financeiros inovadores (green bonds, blended finance) podem canalizar recursos essenciais sem sufocar inovação. Argumento também que a luta contra a desigualdade é central para a estabilidade macroeconômica. Redistribuição inteligente — não apenas por meios assistencialistas, mas por educação de qualidade, acesso a crédito e regulação laboral que proteja trabalhadores em plataformas digitais — amplia a demanda e cria mercados domésticos robustos capazes de sustentar crescimento de longo prazo. Reduzir desigualdades é, portanto, política pró-crescimento. Criticamente, a transição climática deve ser integrada às estratégias econômicas, não tratada como custo adicional. A economia global tem espaço para crescimento compatível com metas de emissões se houver precificação do carbono, incentivo à inovação limpa e apoio internacional para a transição em países de baixa renda. Isso evita externalidades que, se não internalizadas, se transformarão em custos maiores no futuro sob a forma de desastres naturais, deslocamentos populacionais e perda de produtividade. Por fim, proponho um princípio orientador: resiliência inclusiva. Resiliência porque sistemas econômicos devem suportar e recuperar-se de choques; inclusiva porque o custo da recuperação não pode recair desproporcionalmente sobre os mais vulneráveis. Para operacionalizar isso, sugiro: (a) fortalecimento de instituições multilaterais com mandato para coordenação macroeconômica e regulação de riscos sistêmicos; (b) acordos comerciais modernizados que incorporem normas ambientais e sociais; (c) fundos globais destinados à inovação verde e à capacitação de mão de obra; (d) regimes fiscais que combatam evasão e promovam justiça tributária; (e) redes de segurança social adaptadas a mudanças tecnológicas e climáticas. A persuasão aqui é prática: a inação tem custos mensuráveis e crescentes. Reformas coordenadas demandam concessões e compromisso político, mas os dividendos — maior estabilidade financeira, mercados domésticos dinâmicos, menor volatilidade e uma transição ecológica mais justa — justificam o esforço. Não se trata de escolher entre crescimento e equidade, tampouco entre economia e meio ambiente; trata-se de redesenhar a economia global para que essas metas sejam complementares. Se líderes públicos e privados aceitarem essa visão, podemos converter riscos em vantagens competitivas e construir uma prosperidade compartilhada. Caso contrário, a próxima década trará crises mais frequentes e frutos concentrados em poucos, corroendo fundamentos da ordem liberal internacional. PERGUNTAS E RESPOSTAS 1) Como a coordenação macroeconômica internacional ajuda a conter crises? R: Evita políticas competitivas de desvalorização, alinha estímulos anticíclicos e regula fluxos financeiros, reduzindo contágio global. 2) Protecionismo é solução para fragilidade das cadeias produtivas? R: Não; respostas seletivas e diversificação de fornecedores são melhores que protecionismo amplo, que reduz eficiência. 3) De que forma a transição climática pode impulsionar crescimento? R: Criando mercados para tecnologia limpa, empregos qualificados e investimentos em infraestrutura, estimulando demanda e inovação. 4) Como reduzir desigualdade sem frear crescimento? R: Investindo em educação, saúde e inclusão financeira; proteção laboral e tributação progressiva que financiem capital humano. 5) Qual papel das instituições multilaterais? R: Coordenar políticas, regular mercados financeiros, facilitar transferência tecnológica e financiar transição em países vulneráveis.