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HISTÓRIA DO 
URBANISMO 
Vanessa Guerini Scopell
Conceito de urbanismo 
e de cidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Definir urbe, urbanismo e urbanização.
  Sintetizar a evolução histórica das cidades.
  Reconhecer a importância do planejamento urbano.
Introdução
As primeiras aglomerações urbanas surgiram ainda na Antiguidade e, aos 
poucos, por meio do desenvolvimento da sociedade, foram evoluindo e 
se configurando como espaços urbanos. A partir disso, houve avanços 
com relação à organização das cidades, dos serviços oferecidos e das 
edificações. Com isso, percebeu-se a necessidade de estudar melhor esses 
centros urbanos, a fim de planejar seus futuros, melhorando suas realidades.
Neste capítulo, você vai estudar sobre os conceitos relacionados à 
cidade e ao urbanismo, entendendo a evolução histórica das aglomera-
ções urbanas e as cidades que mais se destacaram ao longo do tempo. 
Além disso, você vai compreender a importância e a necessidade da 
atividade de planejar as cidades.
Definições e conceitos
As cidades são um sistema complexo, composto por diversos elementos, que 
precisam de organização e de planejamento para se tornarem cada vez mais 
adequadas à vida em sociedade. Para compreendê-las da melhor maneira, é 
importante entender alguns conceitos relacionados a esse tema.
Nas discussões sobre urbanismo e cidade, a palavra urbe aparece com 
bastante frequência, e era mais usada nos séculos passados, em diferentes 
civilizações, como, por exemplo, nas cidades romanas. Urbe é um sinô-
nimo de cidade, uma palavra que advém do latim. Seu radical urb está 
em outras palavras relacionadas a esse tema, como, por exemplo, urbano, 
urbanismo, urbanização, entre outros. Segundo o site Significados, urbe se 
refere a “um aglomerado populacional onde ocorrem uma série de trocas 
sociais, comerciais, culturais, administrativas, educacionais, entre outras, 
localizado em determinado espaço geográfico” (URBE, 2016, documento 
on-line). O Dicionário Priberam acrescenta que a palavra urbe, antigamente, 
significava “uma povoação que corresponde a uma categoria adminis-
trativa, geralmente, caracterizada por um número elevado de habitantes, 
por relevada densidade populacional e por determinadas infraestruturas, 
cuja maioria da população trabalha na indústria ou nos serviços” (URBE, 
[2019?], documento on-line). Silva (2018, documento on-line) ressalta ainda 
que a ideia de “urbe”, utilizada na civilização romana, refere-se a uma 
cidade mais voltada para a “materialidade da cidade: seus equipamentos, 
seus serviços e suas construções físicas”, que eram as características mais 
marcantes dos romanos. Assim, o conceito de urbe, na realidade, refere-se 
ao modelo de cidade da antiguidade, com ainda poucos sistemas e menor 
complexidade se comparada às cidades atuais. Veja, a seguir, na Figura 1, 
um exemplo de urbe romana.
Figura 1. Urbe romana.
Conceito de urbanismo e de cidade2
Outra definição de cidade, que surgiu na civilização grega, antes ainda 
da romana, foi a pólis. Esse termo se referia às cidades-estado. Segundo o 
site Significados (PÓLIS, 2013, documento on-line), “na Grécia Antiga, a 
pólis era um pequeno território localizado geograficamente no ponto mais 
alto da região, e cujas características eram equivalentes a uma cidade. O 
surgimento da pólis foi um dos mais importantes aspectos no desenvolvi-
mento da civilização grega”. A pólis, assim como a urbe, referia-se a um 
aglomerado proporcional à civilização da época, ou seja, menor do que as 
cidades atuais. Esse aglomerado abrangia toda a vida pública e era geralmente 
protegido por uma fortaleza. 
As pólis foram criadas a partir da desagregação da sociedade homérica, que 
era constituída pelos genos — comunidades compostas por pessoas com 
antepassado comum e chefiadas por um pater (chefe patriarca de cada co-
munidade). As pólis se encontravam já nas primeiras comunidades urbanas 
da Mesopotâmia e, à medida que aumentavam, podiam chegar a constituir 
nações ou impérios. A pólis era uma organização social constituída por ci-
dadãos livres, que discutiam e elaboravam as leis relativas à cidade. Dentro 
dos limites de uma pólis ficavam a Ágora e a Acrópole, além dos espaços 
urbano e rural. A agricultura era a base da economia da pólis (PÓLIS, 2013, 
documento on-line).
Silva (2018), destaca que a urbe e a pólis estão associadas à cidade de 
uma forma distinta, e que essas diferenças ajudam a entender a cidade con-
temporânea. Enquanto a urbe era mais material, a pólis, segundo o autor, era 
mais voltada às relações sociais, “às formas de contato e de ação comum no 
espaço público, às relações de cooperação e solidariedade, enfim, às relações 
comunitárias” (SILVA, 2018, documento on-line).
Assim, é possível compreender que a urbe e a pólis foram as primeiras 
definições de cidade e deram vazão às aglomerações urbanas atuais. Atual-
mente, as aglomerações são mais complexas do que no tempo dos romanos 
e gregos, portanto, adquiriram o nome de cidade e passaram a contemplar 
diversos outros sistemas, políticas e diretrizes, que não existiam na época. 
O termo urbe originou outras palavras, como, por exemplo, urbanização. 
A urbanização é um termo que se refere ao crescimento dessas urbes, 
ou, no caso atual, das nossas cidades, e está relacionada ao processo de 
industrialização.
3Conceito de urbanismo e de cidade
A grande expansão urbana, como elemento fundamental de mudanças sociais, 
foi causada, dentre outros fatores, pelo êxodo rural — ocasionado pela mo-
dernização conservadora do campo e reforçado pela atratividade das cidades, 
com oferta de emprego na indústria e em serviços, e pela expectativa de 
melhoria da qualidade de vida — e pelo crescimento demográfico vegetativo 
(RIBEIRO; VARGAS, 2015, documento on-line).
No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2016), 
são consideradas urbanas cidades ou distritos que contemplam mais de dois 
mil habitantes. A urbanização também é um processo que está relacionado 
não somente ao aumento da população, mas à implementação de infraestru-
tura nos locais das cidades, assim, conforme ressalta Ribeiro e Vargas (2015, 
documento on-line), “a urbanização está relacionada a migrações internas 
entre regiões, das mais pobres para as mais industrializadas”. 
Diante da formação das cidades e dos processos de urbanização, surgiu o 
urbanismo, que, segundo Pinhal (2009, documento on-line), “é uma técnica 
de organizar as cidades com o objetivo de criar condições satisfatórias de vida 
nos centros urbanos”. Essa organização se dá a partir de uma visão global, 
considerando as quadras, os bairros, os loteamentos, as ruas, os sistemas de 
saneamento básico, as praças, os parques, dentre outros equipamentos, e tem 
o intuito de criar condições satisfatórias de vida.
Segundo Vicente (1966), a palavra urbanismo surgiu pelo engenheiro 
Ildefonso Cerdá. Foi ele que, por meio do seu plano de urbanização para 
Barcelona, na década de 1850, usou o termo para determinar essas ações de 
organização dos centros urbanos. O engenheiro publicou diversos estudos, para 
as cidades de Barcelona e Madri, que tratavam de questões técnicas e também 
teóricas. Após, Cerdá publicou a Teoria Geral da Urbanização, retratando a 
importância e incentivando ainda mais esses estudos urbanos. 
Pinhal (2009), afirma que o urbanismo está relacionado não somente com 
a organização das cidades, mas engloba também o estudo, o controle, a regu-
lação e o planejamento dos centros urbanos, tornando-se bastante complexo 
e necessário. “Costuma-se diferenciá-lo da simples ação urbanizadora por 
parte do homem, de forma que o urbanismo esteja associado à ideia de que as 
cidades são objetos a serem estudados, mais do que simplesmente trabalhados” 
(PINHAL, 2009, documento on-line). Assim, a cidade, evolução da urbe e da 
pólis, surge por processos de urbanização, e, conforme sua evolução, necessita 
do urbanismopara aprofundar e melhorar seus sistemas, organizando-os e 
possibilitando uma melhor qualidade de vida.
Conceito de urbanismo e de cidade4
Evolução das cidades
A urbanização das cidades foi acompanhando e evoluindo conforme a evo-
lução da própria sociedade. As comunidades, ao passar dos anos, a partir de 
suas necessidades de organizar os espaços adequados para as suas funções 
de descanso, de alimentação e de higiene, foram percebendo e aprimorando 
técnicas construtivas e ideias que resultaram em diversos tipos e estilos de 
cidades. Ou seja, na medida em que a sociedade evoluía, ocorria também a 
urbanização e o aumento das cidades.
Assim, o urbanismo foi se desenvolvendo por meio da ordenação das 
cidades, dos sistemas de esgoto e abastecimento de água, da organização das 
quadras e da delimitação de vias de circulação. “Os mais antigos registros 
arqueológicos encontrados de ruínas de cidades remontam à Revolução Neolí-
tica, por volta de 4.000 a 3.000 a.C. A constituição das cidades na Antiguidade 
tinha por objetivo ser centro de comércio e também como fortificações de 
guerra contra inimigos” (PINTO, [2019?], documento on-line).
As primeiras cidades que se destacaram foram as cidades gregas e as 
romanas. As cidades gregas surgiram a partir da expansão demográfica e das 
relações comerciais. Essas cidades, segundo Pereira (2010), eram ao mesmo 
tempo cidades e estados, organizadas politicamente. Os principais locais 
dessas cidades eram a acrópole, entendida como o ponto mais alto da cidade, 
composto por palácios e templos, e a ágora, uma espécie de praça principal, 
local onde aconteciam feiras, atos públicos, manifestações e rituais religiosos. 
Os gregos se voltavam bastante para a questão estética, elaborando detalhes para 
suas construções. Os materiais mais utilizados na realização de construções 
gregas eram pedras, mármore, madeira e calcário. Conforme Pereira (2010, 
p. 70), pode-se afirmar que:
[...] a civilização grega se expressa sempre ao ar livre: nos recintos sagrados, 
nas acrópoles, nos teatros ao ar livre, fora dos espaços interiores, das habita-
ções humanas e também dos templos sagrados, cujos ritos se desenvolviam 
no exterior. Portanto, pode-se dizer que a história da arquitetura grega foi 
essencialmente uma história do urbanismo.
5Conceito de urbanismo e de cidade
Veja, a seguir, na Figura 2, um exemplo de arquitetura grega.
Figura 2. Parthenon em Atenas (Grécia).
Já os romanos eram mais práticos e técnicos, e suas cidades apresentavam 
sistemas de abastecimento de água e de esgoto, desenvolvidos por eles pró-
prios. Além disso, suas cidades eram planejadas de forma ortogonal, ligadas 
às vias pavimentadas.
Apoiando-se na tradição clássica e helenística, os romanos adotam e pro-
pagam as ideias urbanísticas da Grécia. Mas enquanto os gregos se sentem 
motivados por uma sensação de finitude, em suas cidades e edifícios, as 
motivações dos romanos são a organização e o poder político, e para suas 
cidades optam por módulos abstratos que relacionem as diferentes partes da 
cidade. Se o módulo urbano grego é a habitação, o módulo urbano romano 
é a rua: a via urbana, cujo traçado geral determina a trama e a forma da 
cidade (PEREIRA, 2010, p. 87).
Os romanos, por serem bastante técnicos e práticos, organizavam suas 
cidades por meio de um traçado reticular e ortogonal, com quadras simétricas 
e ruas mais largas, como é ilustrado, a seguir, na Figura 3.
Conceito de urbanismo e de cidade6
Figura 3. Traçado da cidade Romana.
Fonte: A Cidade Romana 1 (2016, documento on-line).
O fórum como elemento definidor da urbe romana
A urbe romana era caracterizada por alguns elementos, sendo o fórum um dos princi-
pais. O fórum se tornou para a urbe romana um organizador da cidade, isso porque ele 
era localizado em um ponto central e o restante dos elementos iam se conformando 
a partir dele. Esse elemento tinha também a função de praça pública, sendo rodeado 
por outros edifícios importantes, como, por exemplo, a Basílica, que servia como um 
tribunal e um local para reuniões, a Cúria, que era o senado da época, e os templos.
Conforme a cidade romana foi se desenvolvendo, houve a necessidade de incorporar 
a essa área novas edificações, que contemplavam bibliotecas, termas e também banhos 
públicos. Por serem um ponto importante para a cidade, apresentavam bastante deta-
lhes, como revestimentos em mosaicos e estátuas decoradas. É importante ressaltar que 
algumas cidades possuíam mais de um fórum (A URBE… ([2010?], documento on-line).
7Conceito de urbanismo e de cidade
Outras cidades que se destacam na evolução do urbanismo são as cidades 
medievais, desenvolvidas entre os séculos V e XV. Essas cidades apresentaram 
diferentes características, ao passar dos séculos, e, em um primeiro momento, 
surgiram em virtude da fragmentação do Império. 
Efeito mais evidente da crise econômica e política que se seguiu à queda do 
Império Romano havia sido a ruína das cidades e a dispersão de seus habi-
tantes. A vida urbana se interrompeu e somente posteriormente, no ano 1000, 
surge uma nova vida civil, as cidades voltam a se desenvolver e aumenta sua 
população, sua indústria e seu comércio. Tudo isso muda de maneira radical 
o sistema urbano (PEREIRA, 2010, p. 95).
Segundo Pereira (2010), o aumento da atividade comercial permitiu a 
criação de bairros novos e, assim, das cidades medievais. Essas cidades eram 
ainda bastante fechadas, com traçado radiocêntrico, que foi definido ou pelo 
desenvolvimento das estruturas da cidade romana, ou pelo surgimento de 
novas cidades romanas no Ocidente. Elas passaram por um longo período de 
invasões e de destruições. Em virtude disso, muitas pessoas se abrigaram nas 
zonas rurais. Veja, a seguir, na Figura 4, a ilustração de uma cidade medieval 
com traçado radiocêntrico. 
Figura 4. Exemplo de traçado de uma cidade medieval.
Fonte: Oliveira (2016, documento on-line).
Aos poucos, os espaços foram se reconstituindo e se desenvolvendo. So-
mente a partir do século XI que surgiram inovações técnicas que permitiram 
o desenvolvimento agrário e o aumento populacional. Com isso, a rede urbana 
foi se ampliando, facilitando as relações comerciais. Os principais estilos 
Conceito de urbanismo e de cidade8
desse período foram o gótico, o visigótico, o paleocristão, o moçárabe, o 
mourisco, o bizantino e o românico. Nesse momento, as edificações que mais 
se sobressaíam eram os castelos, as igrejas e os mosteiros. 
Com o renascimento das cidades e as relações de comércio estabelecidas, 
o feudalismo passou a ser substituído pelo capitalismo e isso provocou 
mudanças enormes nas cidades. A Revolução Industrial foi um dos marcos 
do urbanismo, pois por meio dela a população das cidades aumentou consi-
deravelmente, o que resultou em diversos problemas urbanos. Esse momento, 
que ocorreu ao final do século XVIII, ocasionou mudanças, primeiramente, 
na Europa e, depois, nas cidades de outras regiões do mundo, resultando, 
segundo Pereira (2010, p. 181), em uma revolução demográfica e urbana, 
que ocasionou: 
[…] o amadurecimento dos temas sociais, a diversificação dos programas 
de edificações, os novos sistemas técnicos e construtivos, entre outros, são 
problemas novos. [...] Essa revolução científica leva a uma série de profundas 
mudanças relativas aos pressupostos, métodos e conteúdo dos conhecimentos. 
A partir desse momento, houve diversas inovações nas cidades, que pre-
cisaram se adequar para atender às grandes populações. Com isso, começou 
a se pensar sobre urbanismo e planejamento das cidades, a fim de estudar 
e melhorar os centros urbanos, para que pudessem atender com qualidade 
os habitantes.
Após esses acontecimentos, surgiram diversos planos urbanísticos, que 
serviriam como referência para uma cidade ideal. Nenhum deles, naquele 
momento, consolidou-se como a solução para todos os problemas, mas eles 
serviram para demonstrar como o urbanismo era importante para o desenvolvi-
mento das cidades. Assim, surgiua cidade modernista, muito mais racionalista, 
que introduziu o traçado ortogonal, a necessidade dos recuos para garantir 
insolação e ventilação das edificações, além da criação de vias e de setores 
nas cidades. Esse modelo foi aplicado em algumas cidades do mundo, mas 
também foi bastante criticado por alguns estudiosos e urbanistas.
Já a cidade da contemporaneidade é uma mistura de estilos e influências, 
mas que tem como conceito principal ser voltada às pessoas, ou seja, à qua-
lidade de vida. Nesse sentido, defende-se a ideia de que a cidade deve estar 
acessível e adequada para que todas as pessoas experimentem o espaço urbano, 
assim como os serviços estejam disponíveis de forma igualitária e por todas 
as regiões da cidade, e que ela seja um organismo vivo e saudável, levando 
em consideração a sustentabilidade e a preservação dos recursos naturais. 
9Conceito de urbanismo e de cidade
Importância do planejamento urbano
Diante da nova realidade das cidades, ocasionada pela Revolução Industrial, 
viu-se a necessidade de, além de começar a estudar as cidades, pensar elas 
de forma organizada, por meio do planejamento urbano. O planejamento 
urbano é um instrumento de organização das cidades, seja no âmbito físico-
-territorial, social, ambiental ou habitacional. Ele tem sua preocupação em 
analisar, sob diversos aspectos, a realidade das cidades a fi m de melhorar 
seu funcionamento.
“O planejamento urbano se propõe a coordenar a organização das cida-
des, de forma a garantir as melhores condições de habitabilidade possíveis 
para a população” (RIBEIRO, 2012, documento on-line). Segundo o autor, o 
planejamento é uma atividade realizada pelo urbanista, que estuda e analisa 
a questão do uso e da ocupação do solo, do controle e do desenvolvimento da 
cidade, orientando sua urbanização. Esse termo é tão complexo que vai muito 
além de planejar as cidades, sendo fundamental estudar, analisar e pesquisar 
todos os aspectos e setores da sociedade a fim de propor projetos específicos e 
integrados, que atendam às necessidades das comunidades. A ação de planejar 
requer o conhecimento e a contribuição de outros setores, como a geografia, 
o direito, a história, a biologia, dentre outros.
Nesse sentido, pode-se dizer que o planejamento urbano tem um caráter 
multidisciplinar, que se insere em contextos diferentes e próprios. Ele está em 
constante desenvolvimento, pois deve atender às demandas e problemas urbanos 
que vão surgindo e que têm relação com o momento em que a sociedade vive, 
com os problemas sociais, com a questão ambiental e com diversos outros 
fatores que influenciam diretamente essa área. 
Planejar o território é algo imprescindível, na nossa atualidade, tanto no 
âmbito local quanto global, justamente para que essa atividade possa prognos-
ticar alguns problemas que podem ocorrer, caso a realidade não seja mudada a 
tempo. O objetivo do planejamento é satisfazer aos anseios das comunidades, 
envolvendo diversos atores de áreas políticas, sociais, econômicas e ambientais, 
todos em prol de interesses comuns. Porém, a maioria das cidades brasileiras 
não foram planejadas. Alguns exemplos de cidades não planejadas, no Brasil, 
e que tiveram uma ocupação espontânea, são as cidades históricas de Minas 
Gerais. Essas cidades foram surgindo conforme a ocupação da população, 
portanto, elas não apresentam ruas largas e adequadas para grandes veículos, 
recuos e outros elementos de planejamento urbano e ocupação do solo. Veja, 
a seguir, na Figura 5, um exemplo de cidade brasileira não planejada.
Conceito de urbanismo e de cidade10
Figura 5. Cidades brasileiras não planejadas.
Fonte: Fred S. Pinheiro/Shutterstock.com. 
Já um exemplo de cidade planejada brasileira é a capital federal, Brasília. 
Segundo Carvalho (2017), o projeto para essa cidade surgiu por um concurso 
de ideias, sendo o arquiteto Lúcio Costa o ganhador. O urbanista elaborou um 
plano piloto que dividiu a cidade em zonas e em eixos. Além disso, Brasília 
foi projetada para ter vias de alta velocidade e superquadras, como pode ser 
observado, a seguir, na Figura 6. 
Figura 6. Cidade brasileira planejada: Brasília.
Fonte: evenfh/Shutterstock.com. 
11Conceito de urbanismo e de cidade
O Plano Piloto nasceu de dois eixos se cruzando em um ângulo reto, como 
se fosse um sinal de cruz. Após isso, o urbanista foi realizando o desenho 
tendo em vista a topografia e o escoamento das águas. Ao longo do processo, 
foram sendo definidas zonas e áreas através desses eixos, formando, no final, 
o desenho de um avião, por isso o nome do Plano. Veja, a seguir, na Figura 7, 
o desenho do Plano Piloto.
Figura 7. Desenho do Plano Piloto de Brasília.
Fonte: Cronologia do Pensamento Urbanístico (1956, documento 
on-line).
Assim, é possível perceber como o processo de planejamento é complexo 
e deve considerar diversos aspectos e áreas para ser proposto e aplicado. Ele 
também precisa ser compatível com as realidades de cada região, no sentido 
de que haja também um envolvimento dos cidadãos com as decisões locais. 
É preciso ter uma visão estratégica, propor intervenções, selecionar as ações 
e perceber os limites e as situações impostas por cada porção do território. 
O Brasil, por ser um país com grande área territorial e com variedade de 
povos, de raças e de culturas, deve ser tratado, organizado e planejado a partir 
das características de cada microporção do território. Isso porque não existe um 
planejamento universal que se encaixe adequadamente em qualquer realidade. 
As problemáticas brasileiras envolvem diversas questões, desde ambientais 
até patrimoniais. Portanto, o sistema de planejamento deve ajudar a organizar 
Conceito de urbanismo e de cidade12
e a canalizar as ações dos órgãos públicos, convergindo em um espaço local 
qualificado e com oportunidades para todos, a partir de suas especificidades. 
Considerando que cada estado é dividido em regiões e cada região é com-
posta por vários municípios, os instrumentos de planejamento se dão por meio 
de variados planos, pensados para cada um dos objetivos e para cada área 
específica, destacando suas principais características e problemas, a fim de 
resolvê-los de maneira eficaz e comprometida.
No Brasil, por meio dos ministérios, existem diversos setores de planejamento, 
que vão desde os âmbitos ambiental-urbano, de desenvolvimento rural, de educação 
ambiental e de gestão territorial, até patrimônio genético, segurança e governança. 
Para cada um desses setores, existem propostas específicas direcionadas para as 
diferentes regiões do país. Conforme o Ministério do Meio Ambiente:
O planejamento das cidades no Brasil é prerrogativa constitucional da gestão 
municipal que responde, inclusive, pela delimitação oficial da zona urbana, rural 
e demais territórios para onde são direcionados os instrumentos de planejamento 
ambiental. No âmbito do meio ambiente urbano, os principais instrumentos de 
planejamento ambiental são o Zoneamento Ecológico-Econômico - ZEE, o Plano 
Diretor Municipal, o Plano de Bacia Hidrográfica, o Plano Ambiental Municipal, 
a Agenda 21 Local, e o Plano de Gestão Integrada da Orla. No entanto, todos os 
planos setoriais ligados à qualidade de vida no processo de urbanização, como 
saneamento básico, moradia, transporte e mobilidade, também constituem 
instrumentos de planejamento ambiental (BRASIL, [2019?], documento on-line).
O planejamento urbano também é responsável pela produção do espaço. O 
processo de produção do espaço urbano é fragmentado e articulado de acordo 
com as necessidades, não sendo homogêneo. Da mesma forma, a produção 
do espaço urbano é desigual, pois reflete as ações de cada grupo social em 
detrimento a uma área. “[...] Cada sociedade produz e reproduz sua existência 
de modo determinado, deixando no espaço as marcas de suas características 
históricas específicas” (CARLOS, 1995, p. 26–33).
Segundo Carlos (1995), esses agentes, que interferem e produzem o espaço 
urbano, possuem estratégias diferenciadas,de acordo com seus respectivos 
interesses, podendo conflitar entre si ou se unir, em algumas situações, para 
agir a fim de um mesmo interesse. Portanto, a apropriação do solo, dos espaços 
da cidade, das áreas e das terras, torna-se um objeto de conflito, disputado 
por esses agentes. É nesse sentido que o planejamento urbano deve entrar e se 
impor, a fim de organizar as políticas, de analisar situações e de viabilizar o 
que for do interesse de todos, ou da grande maioria, afinal, o espaço público 
é um bem comum da sociedade. 
13Conceito de urbanismo e de cidade
Essa desigualdade fica expressa na paisagem urbana. Basta observar diferentes 
áreas das cidades para entender quais são aquelas áreas privilegiadas e superva-
lorizadas e quais são os pontos que foram quase esquecidos pelos investidores e 
pelos planos. Conforme Ribeiro (2000, p. 27), “a segregação social expressa na 
paisagem urbana reflete também a distribuição do poder social na sociedade”. 
Isso é resultado das ações dos diferentes agentes junto ao Estado e da capacidade 
diferenciada de algumas classes na obtenção de recursos e de investimentos.
Nota-se, com isso, que o planejamento urbano está diretamente relacionado 
à produção do seu espaço, tendo a atividade de planejar o poder de induzir, de 
limitar e de direcionar investimentos, de maneira a evitar o máximo possível as 
desigualdades sociais, muitas vezes intensificadas pela influência dos agentes 
nos órgãos públicos e na sociedade em geral.
Conheça melhor o Plano Cerdá, aplicado em Barcelona em 1860.
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15Conceito de urbanismo e de cidade