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GAU Espaço e Evolução Urbana - Moderna e Contemporânea

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Cidades modernas no mundo
Apresentação
O urbanismo modernista é um movimento que trouxe novas visões e diferentes estratégias para a 
organização das cidades, destacando fortemente a necessidade do planejamento urbano. Essa 
vertente se consolidou apresentando algumas caraterísticas marcantes como, por exemplo, o 
zoneamento, a racionalidade e a funcionalidade, as quais puderam ser aplicadas em porções de 
cidades existentes e também em novas cidades. Apesar de suas contribuições, esse movimento 
também sofreu duras críticas de outros estudiosos.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você entenderá o que é o urbanismo modernista, 
compreendendo suas principais características e identificando sua aplicação em cidades do Brasil e 
do mundo que foram criadas com base nesse pensamento. Você ainda reconhecerá quais foram as 
críticas levantadas sobre esse movimento e seus motivos.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Reconhecer as características do urbanismo modernista.•
Exemplificar aplicações dos conceitos do urbanismo modernista em cidades existentes.•
Identificar o movimento de crítica às cidades modernistas.•
Infográfico
O urbanismo moderno, apesar de ter significativa relevância na história do urbanismo e na 
introdução da importância do planejamento urbano para as cidades, também foi duramente 
criticado por suas ideias utópicas e padronizadas.
Neste Infográfico, entenda melhor quais foram as principais críticas relacionadas aos princípios 
desse movimento.
Aponte a câmera para o 
código e acesse o link do 
conteúdo ou clique no 
código para acessar.
https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/7078db88-a06b-4395-9c72-8c39b5c84273/f257de2f-d8dd-4d8b-ab05-948ec4f19fbb.jpg
Conteúdo do livro
O movimento moderno teve como grande personagem o arquiteto e urbanista Le Corbusier, que 
trouxe novos conceitos e estratégias para o melhoramento das cidades, sendo considerado o pai do 
modernismo. Essa vertente de pensamento urbanismo tinha como característica a racionalidade e o 
funcionalismo, e aliava suas propostas a setorização, a padronização, a grandes quadras e espaços 
livres, tudo com o intuito de melhorar a qualidade das cidades. Mesmo com um pensamento 
inovador, algumas soluções desse urbanismo não obtiveram tanto sucesso, trazendo outros 
problemas para as cidades e sendo criticadas por isso.
No capítulo Cidades modernas no mundo, da obra Estudo da cidade, você poderá compreender 
melhor as principais características do urbanismo moderno, identificando sua aplicação em duas 
cidades que são referência – Brasília, no Brasil, e Chandigarh, na Índia. Você ainda poderá 
reconhecer as principais críticas tecidas à esse movimento, entendendo as considerações de 
importantes autores sobre o modernismo.
Boa leitura.
ESTUDO 
DA CIDADE 
Vanessa Guerini Scopell
Cidades modernas 
no mundo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer características do urbanismo modernista.
  Exemplificar aplicações dos conceitos do urbanismo modernista em 
cidades existentes. 
  Identificar o movimento de crítica às cidades modernistas.
Introdução
O movimento moderno foi uma vertente que surgiu após a Revolução 
Industrial com o objetivo principal de criar soluções e estratégias para 
melhorar as cidades, demonstrando a importância do planejamento 
urbano e do estudo sobre diversos aspectos da cidade, como ruas, quadras 
e habitações. Esse movimento foi um marco para o século XX porque 
trouxe novas visões sobre a vida nos centros urbanos; por outro lado, após 
alguns anos, sofreu duras críticas em virtude de uma nova perspectiva 
levantada por outros estudiosos.
Neste capítulo, você entenderá o que foi o urbanismo modernista e 
quais foram as principais características desse movimento. Você também 
identificará exemplos de cidades que foram projetadas com base nesse 
conceito, no Brasil e no mundo. Ainda, você poderá perceber as críticas 
que esse movimento recebeu ao passar dos anos. 
1 Características do urbanismo modernista
O urbanismo modernista surgiu, conforme Abiko, Almeida e Barreiros (1995), 
a partir de um contexto onde, entre os anos de 1800 a 1914, a população da 
Europa aumentou de 180 milhões de habitantes para 460 milhões. Conside-
rando essa realidade e a consolidação dos processos histórico e civilizatório 
que ocorreram ao fi nal do XIX, por meio da revolução industrial, a busca 
por soluções dos problemas relacionados à cidade foi uma ação obrigatória. 
Para Ultramari (2009), o fenômeno socioeconômico desse período resultou 
em uma intenção de um tipo de cidade requerida, o que necessitava de novos 
procedimentos de análise e de intervenção. 
A cidade do momento da Revolução Industrial traz como consequências 
o congestionamento, a insalubridade, a falta de espaços livres de qualidade, 
a má preservação de edificações históricas, o surgimento de construções de 
baixa habitabilidade, a carência de sistemas de esgoto e abastecimento, a 
proliferação de doenças, entre outros. Esse reflexo se dá pela intenção de uma 
cidade almejada pela iniciativa privada que busca o máximo aproveitamento 
do espaço urbano visando ao lucro, sem qualquer organização ou controle. 
Nesse contexto e diante das novas necessidades, surgiram diferentes ex-
periências para encontrar modelos de cidades ideais que pudessem combater 
e mudar a realidade dos centros urbanos, evitando seus problemas. “Surge 
então a necessidade de uma ação pública, ordenando e propondo soluções que 
até o momento eram implementadas apenas pelo setor privado, com objetivos 
individuais, de curto prazo e em escala reduzida” (ABIKO; ALMEIDA; 
BARREIROS, 1995, documento on-line).
Com isso a disciplina do urbanismo passa a ser considerada, sendo um 
meio para entender e buscar soluções para esses problemas urbanos. Benevolo 
(2001) destaca que o urbanismo surgiu muito antes desse momento, mas foi 
nesse período que ele adquiriu importância. Conforme Abiko, Almeida e 
Barreiros (1995), em um primeiro momento surgiram algumas ideias urba-
nísticas sanitaristas, priorizando abastecimento de água e melhoramento do 
sistema de esgoto, com a intenção de promover a salubridade das cidades. 
Nesse momento legislações relacionadas a esse assunto também foram criadas 
e cidades industriais como Londres, Manchester e Liverpool puderam criar 
estratégias para combater tais problemas.
Ao nível das ideias, os primeiros intelectuais a estudar e a propor formas para 
corrigir os males da cidade industrial polarizaram-se em dois extremos: ou se 
defendia a necessidade de recomeçar do princípio, contrapondo à cidade existente 
novas formas de convivência ditadas exclusivamente pela teoria, ou se procurava 
resolver os problemas singulares e remediar os inconvenientes isoladamente, 
sem ter em conta suas conexões e sem ter uma visão global do novo organismo 
citadino (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995, documento on-line).
Um dos exemplos de planos desenvolvidos nesse momento foi a proposta 
de cidades-jardins de Ebenezer Howard, que tinha como objetivo, segundo 
Cidades modernas no mundo2
Abiko, Almeida e Barreiros (1995), a eliminação da especulação dos terrenos, 
o controle do crescimento através da limitação da população e o equilíbrio 
funcional entre as atividades. 
Outro exemplo foi a proposta de cidade industrial de Tony Garnier, que, 
com base no urbanismo progressista e racionalista, buscou a ordenação das 
cidades através de soluções plásticas e utilitárias. Esse pensamento de urba-
nismo culminou na criação dos Congressos Internacionais de Arquitetura, 
que iniciaram no ano de 1928 com a junção de arquitetos e urbanistas que 
conceituam o urbanismo e deram origem ao conceito modernista. Segundo 
a Declaração de La Sarraz, de junho de 1928, o urbanismo pode ser definido 
como “[…] a disposição dos lugares e dos locais diversos que devem resguardar 
o desenvolvimento da vida material,sentimental e espiritual, em todas as suas 
manifestações individuais e coletivas” (BIRKHOLZ, 1967, p. 33). Ainda, no 
documento foi destacado que tanto as aglomerações urbanas quanto rurais 
interessam ao urbanismo, e que suas três funções principais são habitar, recrear 
e trabalhar. Com os objetivos do urbanismo foram definidas as ações de uso 
e ocupação do solo e a organização da circulação e legislação.
Já no ano de 1933, o 4º Congresso Internacional da Arquitetura Moderna 
(CIAM), ocorrido na Grécia, originou a Carta de Atenas que, conforme ressal-
tam Abiko, Almeida e Barreiros (1995), foi a chave para mudanças qualitativas 
nas cidades. Dentre as principais características do urbanismo modernista, 
demonstradas nesse documento, pode-se destacar:
  a cidade como parte do conjunto político, econômico e social;
  o urbanismo não pode se submeter às regras estéticas gratuitas;
  o urbanismo deve ser sua própria essência, tendo ordem funcional;
  as cidades devem ter quatro funções principais, as quais o urbanismo 
deve zelar: habitar, trabalhar, circular e cultivar o corpo e o espírito;
  o parcelamento do solo fruto de partilhas, vendas e especulações deve 
ser alterado por uma economia de reagrupamento;
  o urbanismo deve dar condições para criação de circulações modernas;
  deve priorizar a criação de espaços livres;
  obrigatoriedade do planejamento regional;
  submissão da propriedade privada do solo urbano aos interesses 
coletivos, a industrialização dos componentes e a padronização das 
construções;
  edificação concentrada, mas adequadamente relacionada com amplas 
áreas de vegetação;
3Cidades modernas no mundo
  admite ainda o uso intensivo da técnica moderna na organização das 
cidades, o zoneamento funcional, a separação da circulação de veículos 
e pedestres, a eliminação da rua corredor e uma estética geometrizante;
  zonas urbanas definidas e separadas;
  grandes espaços livres entre as edificações;
  circulações bem definidas.
Ainda, conforme acrescenta Choay (2007), é importante compreender 
que a linha de urbanismo progressista/funcionalista/racionalista que deu 
origem ao urbanismo moderno acreditava que suas estratégias poderiam ser 
utilizadas em qualquer cidade e qualquer local, tendo um caráter universal. 
Nesse sentido, outra característica dessa vertente é que ela é marcada por uma 
simplificação funcional.
Como grandes objetivos do modernismo para as cidades, pode-se destacar 
a ocupação racional do uso do solo, a organização da circulação urbana e a 
criação de meios legais para a atuação de melhoria tanto no território da cidade 
como do campo. Através disso, busca-se promover o desenvolvimento da via 
material, espiritual e sentimental.
Pode-se afirmar que esse foi um momento onde os arquitetos e urbanistas 
puderam colocar suas ideias em prática, tirando muitas propostas do papel: 
assim, as características mais marcantes desse movimento foram sendo incor-
poradas em propostas e planos urbanos com o intuito de resolver os problemas 
e criar melhores condições de moradias nesses locais.
2 Urbanismo modernista em cidades existentes
O urbanismo modernista foi importante porque trouxe uma nova visão sobre o 
funcionamento das cidades, demonstrando a relevância de se projetar para uma 
melhor qualidade de vida e de pensar questões relativas a recuos, afastamentos, 
ajardinamentos, insolação, ventilação natural e outros aspectos. Com isso, os 
conceitos do urbanismo modernista refl etiram em planos para cidades existentes 
e, igualmente, em planos para novas cidades. A importância desse movimento 
foi tão grande para o período pós-revolução industrial que cidades projetadas 
com base nesse pensamento modernista surgiram no Brasil e no mundo.
Dois grandes exemplos de cidade modernistas são Brasília, capital do Brasil, 
que foi inaugurada no ano de 1960 e atualmente é o centro político do país, 
tendo quase dois milhões e meio de habitantes, e Chandigarh, que é a capital 
dos estados de Punjabe e de Haryana, na Índia. A cidade de Chandigarh foi 
Cidades modernas no mundo4
fundada no ano de 1947, após a divisão do país com o objetivo de servir de 
capital à porção indiana de Punjabe.
Cidade de Brasília
Brasília foi inaugurada no dia 21 de abril do ano de 1960 e é Patrimônio Cultural 
da Humanidade, tendo a maior área urbana inscrita na lista de Patrimônio 
Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a 
Cultura (UNESCO). De acordo com Buchmann (2002), a ideia de construir uma 
nova capital para o Brasil surgiu ainda no ano de 1789, em virtude de acharem 
o Rio de Janeiro muito vulnerável a ataques, por estar situado no litoral. Foi 
sugerido que a nova capital fosse localizada na região do planalto central. 
Através da Constituição de 1891, defi ne-se que a Capital deve ser transferia ao 
Planalto Central do país. Porém, somente no ano de 1955 Juscelino Kubitschek 
promete, como campanha para ser eleito, construir a nova capital. Assim, no 
ano de 1956, o então presidente do Brasil anuncia o Concurso Nacional do 
Plano Piloto da Capital do Brasil, que já estabelecia os contornos do Lago 
Paranoá, as localizações do aeroporto, do Palácio da Alvorada e do Brasília 
Palace Hotel. A Figura 1 mostra uma vista aérea de Brasília.
Figura 1. Vista aérea de Brasília.
Fonte: Wagner Santos de Almeida/Shutterstock.com.
5Cidades modernas no mundo
Conforme Buchmann (2002), a ideia da comissão organizadora e julgadora 
do concurso era que a capital fosse diferente de qualquer outra cidade de 500 
mil habitantes (que era a população estimada para habitar esse novo local). O 
local deveria ser uma cidade funcional, com base nos preceitos da Carta de 
Atenas, e que fosse a própria expressão da sua arquitetura. Com a principal 
função governamental, as demais — habitar, trabalhar, recrear e circular — 
deveriam coexistir e formar um traçado moderno, com as funções integradas 
de uma maneira racional. Outra exigência da comissão para o novo Plano 
era que a proposta apresentasse grandeza e unidade, através da hierarquia e 
clareza de elementos.
Deste modo, o plano piloto que melhor integra os elementos monumen-
tais na vida cotidiana da cidade como Capital Federal, apresentando 
composição coerente, racional, de essência urbana, baseado na teoria do 
urbanismo moderno, é o projeto do arquiteto e urbanista Lucio Costa. 
Como o urbanismo moderno/funcionalista trata a cidade como máquina, 
onde o autoritarismo espacial visa um rendimento máximo das funções 
urbanas, o projeto da cidade moderna de Lucio Costa vai ao encontro 
também com os anseios do Governo do então presidente Juscelino Ku-
bitschek (SABBAG, 2012, p. 60).
Sabbag (2012) complementa que essa proposta foi escolhida porque acre-
ditaram que a monumentalidade das edificações e a forma do traçado urbano 
iriam impulsionar a concretização da nova capital. Ainda, além do projeto, 
foram estabelecidas estratégias para o crescimento da capital para os próximos 
40 anos. 
As principais características modernistas na cidade dizem respeito à 
setorização extrema e à funcionalidade rígida do traçado. As áreas são 
definidas em áreas residenciais, administrativa e comercial/serviços. 
A estrutura hierárquica do Plano evidencia a parte residencial disposta no 
eixo rodoviário e a parte administrativa e comercial no eixo monumental. 
Sabbag (2012) destaca que o Plano é resultado do eixo rodoviário, eixo 
monumental e da plataforma, que é a área que faz a ligação entre os dois 
eixos e onde se encontra a rodoviária. Segundo o autor, a proposta foi 
concebida de um gesto que traça dois eixos que se cruzam, formando uma 
cruz, adaptando o Plano à topografia local, considerando o escoamento 
das águas e a orientação solar. Na Figura 2, vemos o croqui do projeto do 
Plano Piloto de Brasília, de 1957.
Cidades modernas no mundo6
Figura 2. Croqui do projeto do Plano Piloto de Brasília (1957), em que se observam o eixo 
monumental (ao centro), com setores de comércio, hotelariae lazer, e as asas nas laterais, 
compostas pelo setor residencial.
Fonte: Sabbag (2012, p. 64).
Outra característica marcante da cidade de Brasília é a utilização de quatro 
escalas, sendo elas: monumental, residencial, gregária e bucólica. A monumen-
tal refere-se ao eixo monumental, que se estende desde a Praça dos Poderes 
até a Praça do Buriti. A escala residencial é representada pelas superquadras 
das asas norte e sul. A gregária, também chamada como escala de convívio 
refere-se aos setores comercial, hoteleiro, de diversão, plataforma rodoviária 
e antenas. Já a escala bucólica é definida pelas grandes áreas verdes presentes 
e espalhadas por toda a cidade. 
O eixo rodoviário tem como função a integração da circulação e contém 
pistas centrais de velocidade e pistas laterais para tráfego local, substituindo 
as ruas corredor e incorporando sistemas de trevos. A parte administrativa e 
governamental da cidade é composta pelos centros cívico, cultural, de diversões, 
de esportes, entre outros. 
7Cidades modernas no mundo
Conforme Sabbag (2012), a cidade de Brasília é considerada o maior 
exemplo brasileiro do urbanismo modernista, porque além de apresentar 
os preceitos dessa vertente, com a separação de funções e setores na ci-
dade, e das grandes edificações soltas nos espaços verdes e circulações de 
dimensões largas, ela apresenta os ideais de integração, desenvolvimento e 
modernização nacional. Atualmente, Brasília contém mais de 2,5 milhões 
de habitantes que estão situados, além do Plano Piloto, nas adjacências 
através de cidades-satélites. Essas cidades, diferentemente da parte central, 
não foram planejadas e sofrem com diversos problemas relacionados ao seu 
crescimento desordenado.
Cidade de Chandigarh
A cidade de Chandigarh, na Índia, cuja planta vemos na Figura 3, é um dos 
grandes exemplos internacionais de urbanismo moderno. O local foi projetado 
por Le Corbusier, o maior representante dessa vertente urbanista. A cidade, 
que fi ca aos pés da Cordilheira do Himalaia, foi totalmente planejada. Segundo 
Pacca (2016), a proposta de planejamento dessa cidade passou pela mão de 
diversos profi ssionais até chegar para Le Corbusier. O local foi considerado um 
grande laboratório para levantar e aplicar conceitos do urbanismo modernista 
relacionados a densidade, relação entre espaço público e privado, cidade e 
natureza, circulações, entre outros.
O núcleo original da cidade também foi pensado para abrigar 500 mil 
habitantes, e o traçado, segundo Semin (2012), deu-se através da malha orto-
gonal desenhada com base no cardo e no decumano (conceito da morfologia 
romana), considerando hierarquia de circulações e superquadras. 
As unidades de vizinhança explicitam os princípios do movimento mo-
derno e da nova condição política pós-colonial dos indianos. Os centros 
comerciais (inner market) são mais atraentes e dinâmicos que em Brasília 
por terem mais andares com escritórios e com mais ruas internas com 
estacionamento formando um conjunto muito movimentado por pedestres 
que percorrem as galerias e as ruelas cheias de árvores (SEMIN, 2012, 
documento on-line).
Cidades modernas no mundo8
Figura 3. Chandigarh, planta da cidade projetada.
Fonte: Semin (2012, documento on-line).
As edificações projetadas para a cidade também expressam o momento 
e a ideia do urbanismo, representando um momento de libertação da popu-
lação da Índia através da implantação, das proporções e do tratamento das 
superfícies como, por exemplo, as cores, os volumes, etc. A cidade conta com 
artérias de circulação muito bem definidas que dão origem às superquadras, e 
essas são definidas por setores, como por exemplo, comerciais, institucionais, 
residenciais, entre outros. As áreas verdes contam com enormes canteiros e 
um paisagismo projetado. 
Suas superquadras têm dimensões de 800 × 1200 metros, rodeadas por 
estradas que não dão acesso direto às residências. Cada setor foi pensado para 
atender às necessidades dos seus habitantes e é composto por faixas verdes para 
acomodar equipamentos, com tráfego proibido. As estradas são classificadas 
em algumas categorias, sendo divididas em vias rápidas, arteriais, caminhos 
de pedestres e ciclovias, entre outros. 
9Cidades modernas no mundo
Conforme Semin (2012), existem ainda áreas de interesse arquitetônico 
especial, que contam com uma harmonização e unificação nas construções, 
além do controle arquitetônico e também do rígido zoneamento. Nas áreas 
industriais, as indústrias devem ser movidas à eletricidade, para evitar a 
poluição. A cidade ainda conta com um lago, com o objetivo de promover aos 
cidadãos o contato com a natureza. O paisagismo foi pensado tendo em vista 
as espécies da Índia, que foram escolhidas para cada porção, considerando 
a composição e o esquema de cores para embelezar a cidade. A Figura 4, a 
seguir, mostra o zoneamento de Chandigarh.
Figura 4. Zoneamento de Chandigarh.
Fonte: Adaptada de Fiederer (2017).
Cidades modernas no mundo10
A duas cidades demonstradas como exemplo são referências no Brasil e no 
mundo porque foram projetadas levando em conta os princípios do urbanismo 
modernista e se tornaram um marco para o momento em que foram construídas, 
de forma a demonstrar novas visões em novas formas de planejar as cidades 
que até então eram tradicionais.
3 Crítica às cidades modernistas
O urbanismo modernista foi referência por trazer novas formas de pensar 
às cidades e discutir assuntos importantes que até então não eram tão con-
siderados. Ainda, esse planejamento permitiu a valorização e destacou a 
importância e a necessidade de um planejamento urbano para que os centros 
urbanos pudessem estar adequados à necessidade dos habitantes.
Apesar de trazer diversas contribuições, com o passar do tempo seus prin-
cípios passaram a ser discutidos e analisados, tendo em vista que tudo pode 
ser melhorado e evoluído. Dessa maneira, e conforme as novas necessidades 
da população e também questões mal resolvidas ou problemas que foram 
surgindo nas cidades modernas, alguns estudiosos e críticos começaram a 
elaborar novos conceitos e novas formas de planejar as cidades, criticando o 
urbanismo modernista. 
Uma das grandes críticas às cidades modernistas, e principalmente ao fun-
cionalista, é feita por Henry Lefebvre (2001, p. 185), que afirma que essa ideia 
trata-se de uma “[...] inteligência analítica”, e que quem determina os setores e 
suas funções acha-se um expert por acreditar que tudo pode prever e organizar, 
quando na verdade um centro urbano é muito mais complexo do que isso.
Lefebvre (2001) complementa ainda que nesse modelo de cidade as pessoas 
e as habitações funcionam como se fossem anexos e auxiliares da organiza-
ção técnica do trabalho. Dessa forma, esses planos ortogonais e setorizados 
acabaram dissociando as atividades da cidade, que antes se comportavam 
de forma orgânica e espontânea. Ele destaca ainda que são as cidades que 
devem adaptar-se aos moradores, e não o contrário. E ainda que essas questões 
acabam contribuindo para a segregação social, na medida em que cada classe 
e cidadão tem o seu lugar específico na cidade.
A segregação […] hierarquiza os grupos e classes sociais e desfaz as formas 
tradicionais de sociabilidade espontânea — cafés, pequenos comércios e as 
próprias ruas. É, neste sentido, uma força no desenraizamento, na dissociação 
de vínculos, além de retirar parcelas da população da arena das decisões co-
11Cidades modernas no mundo
letivas e excluí-las dos bens socialmente produzidos na cidade. Deste modo, 
a segregação contribui para instalar no urbano a cotidianidade — o trabalho 
estranhado, o lazer passivo e a vida privada reclusa — e, com isto, a fragmen-
tação interna e externa dos sujeitos, o tédio e a monotonia, características da 
modernidade capitalista industrial (COLOSSO, 2016, p. 83).
Um exemplo de cidade projetada em que Lefebvre (2001) critica ainda mais o urbanismo 
modernista é Mourenx, localizada nos Pirineus-Atlânticos, que foielaborada para os 
trabalhadores da indústria de gás natural. Segundo o autor, a cidade é composta por 
um conjunto de edifícios e torres que alternam as linhas verticais e horizontais da 
cidade e rompem com a paisagem e com a porção antiga, não estabelecendo qualquer 
conexão. Com isso, a cidade não contava com algum passado, porque não tinham 
monumentos, igrejas, cemitérios, e, portanto, não tinha vida urbana, e prevalecia a 
monotonia e o tédio. 
Outro ponto criticado pelos estudiosos pós-modernos diz respeito à des-
consideração da análise do lugar para a implantação dos planos, na medida 
em que o urbanismo modernista acreditava que seus princípios seriam os mais 
adequados para qualquer situação. Com isso, eles não consideravam as espe-
cificidades de cada local, o contexto, a vida urbana, a história e os elementos 
naturais dos sítios. “A ideologia urbanística decorre, em grande medida, do 
fato de o urbanismo se pretender um saber cujas decisões são estritamente 
técnicas, portanto, pautadas por um conhecimento científico exato, indepen-
dente do solo histórico-social no qual foi erigido” (COLOSSO, 2016, p. 82).
Outra grande crítica do urbanismo modernista foi Jane Jacobs, uma jor-
nalista norte-americana que escreveu o Livro Morte e Vida das Grandes 
Cidades (2007), o qual traz diversos aspectos das cidades modernas com 
os quais ela não concorda. A autora destaca a prevalência do automóvel nas 
cidades modernas, evidenciando que o pedestre se perde nesse meio de grandes 
superfícies vazias e superquadras.
Em seu livro, Jacobs (2007) critica que uma política urbana voltada para o 
automóvel e determinada pelo capital despreza os valores sociais e prejudica 
a moradia, a mobilidade e o lazer, desprezando, acima de tudo, o cidadão. 
Cidades modernas no mundo12
Nesse sentido, o urbanismo modernista acaba originando cidades que não 
valorizam a escala humana. Ela complementa que os espaços monumentais e a 
setorização urbana geram uma monotonia na cidade, originando locais vazios 
onde as pessoas não vão e nem permanecem. Isso acaba negando a vitalidade 
e também a interação de funções, negando a diversidade.
A autora acredita que as ruas e a calçadas são os espaços vitais de uma 
cidade, e que a convivência e a integração social se desenrolam por meio 
desses elementos. Na cidade moderna esses espaços não são pensados para 
as pessoas, nem com relação à escala e nem com relação aos usos, o que faz 
com que as cidades se tornem cada vez mais inseguras e tediosas. Para Jacobs 
(2007), uma cidade deve ser pensada considerando o pedestre, as distâncias 
caminháveis, a variedade de usos, quarteirões curtos, valorização e conservação 
de prédios antigos, entre outros elementos. 
O urbanismo modernista surgiu com uma ótima intenção, que era a de 
melhorar as condições das cidades existentes, que estavam sofrendo com a 
desordem e o caos provocados pela revolução industrial. Com ideias inovadoras 
e diferenciadas, os modernistas demonstraram os problemas das cidades, 
propondo soluções. Seus planos, muitas vezes utópicos e ilusórios, serviram 
para demonstrar alternativas e estratégias que melhorariam a salubridade, os 
congestionamentos, as edificações e a qualidade de vida.
Mesmo com todas essas contribuições, na medida em que esse tipo de 
urbanismo foi sendo aplicado, uma nova vertente passou a discutir essas 
propostas inovadoras, percebendo os outros problemas que elas causavam, 
como a falta da sensação de pertencimento na cidade, a insegurança gerada 
pelos grandes espaços abertos e livres, e também a escala voltada para o 
automóvel. 
Assim, críticas a esse movimento surgiram para que o planejamento urbano 
pudesse evoluir mais uma vez e tornar-se mais adequado às necessidades do 
período. Tanto Jacobs, como Lefebvre e outros pesquisadores e estudiosos 
começaram a trazer novos elementos para serem pensados nos planos urbanos, 
como por exemplo, uma escala voltada para o pedestre, a diversificação de 
usos, entre outros elementos. De qualquer forma, todos os pensamentos, seja 
da vertente modernista como da pós-modernista, trouxeram contribuições para 
o urbanismo e serviram para os estudos e a evolução a respeito da qualidade 
das cidades.
13Cidades modernas no mundo
ABIKO, A. K.; ALMEIDA, M. A. P.; BARREIROS, M. A. F. Urbanismo: história e desenvolvimento. 
São Paulo: EPUSP, 1995. (Texto técnico TT/PCC/16). Disponível em: http://www.pcc.usp.
br/files/text/publications/TT_00016.pdf. Acesso em: 27 jan. 2020.
BENEVOLO, L. Histórica da arquitetura moderna. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.
BIRKHOLZ, L. B. O ensino do planejamento territorial. 1967. Tese (Provimento de Cátedra) 
— Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de São Paulo, São Paulo, 1967.
BUCHMANN, A. J. Lúcio Costa: o inventor da cidade de Brasília — centenário de nasci-
mento. Brasília: Thesaurus, 2002.
CHOAY, F. O urbanismo: utopias a realidades, uma antologia. São Paulo: Perspectiva, 2007.
COLOSSO, P. A crítica de Henri Lefebvre ao urbanismo moderno. In: SEMINÁRIO DE 
HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO, 14., 2016, São Carlos. Anais [...]. São Carlos, SP: 
IAU/USP, 2016. Disponível em: https://www.iau.usp.br/shcu2016/anais/wp-content/
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FIEDERER, L. Clássicos da arquitetura: projeto urbano de Chandigarh/Le Corbusier. 2017. 
Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/866973/classicos-da-arquitetura-
-projeto-urbano-de-chandigarh-le-corbusier/58b114f6e58ece4cd1000401-ad-classics-
-master-plan-for-chandigarh-le-corbusier-image. Acesso em: 27 jan. 2020.
JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001.
PACCA, M. Cidades incríveis: Chandigarh — a cidade planejada da Índia. 2016. Disponível 
em: https://segredosdeviagem.com.br/cidades-incriveis-chandigarh-cidade-planejada-
-da-india. Acesso em: 27 jan. 2020.
SABBAG, J. A. A. Brasília 50 anos: do urbanismo moderno ao planejamento estratégico. 
2012. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) — Universidade de Brasília, 
Brasília, 2012.
SEMIN, R. Chandigarh: o projeto visionário de Le Corbusier. Arquiturismo, ano 06, v. 
064.02, jun. 2012. Disponível em: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquite-
turismo/06.064/4362. Acesso em: 27 jan. 2020.
ULTRAMARI, C. Significados do urbanismo. Pós — Revista do Programa de Pós-Graduação 
em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, v. 16, n. 25, p. 166–184, jun. 2009. Disponível em: 
http://www.revistas.usp.br/posfau/article/view/43614/47236. Acesso em: 27 jan. 2020.
Cidades modernas no mundo14
Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
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local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
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15Cidades modernas no mundo
Dica do professor
Os conceitos do urbanismo modernista podem ser identificados na cidade de Chandigarh, na Índia. 
Contudo, eles também foram referências para a criação e o planejamento de outras cidades do 
mundo.
Na Dica do Professor, veja exemplos de cidade que utilizaram alguns dos conceitos do urbanismo 
moderno, entendendo como ele pode ser aplicado no urbanismo atual.
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Na prática
O urbanismo modernista foi marcado por apresentar características distintas do que vinha sendo 
feito e visto nas cidades tradicionais. Esses princípios puderam ser aplicados em cidades novas e 
em porções existentes, mas também foram adaptados para contextos e realidades locais.
Neste Na Prática, veja como algumas características primárias dourbanismo modernista podem ser 
adaptadas para o contexto atual do planejamento urbano.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
Os projetos modernos que alteraram a hidrografia da cidade de 
Águas de Lindóia
Uma das características do urbanismo modernista era negar o contexto e as características da área 
de intervenção. Isso foi o que ocorreu em Águas de Lindóia, no estado de São Paulo. Veja mais 
sobre as reformas urbanistas para essa cidade abaixo.
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A ‘Brasília indiana’ de Le Corbusier
A cidade modernista de Chandigarh, na Índia, representa a ascensão e a consolidação do urbanismo 
modernista no mundo. Veja mais sobre a cidade e seus elementos nesta matéria.
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A pré-história de Brasília
A cidade de Brasília é o maior exemplo de urbanismo moderno do Brasil, e por isso se tornou 
importante referência também para o mundo. Veja mais sobre seu surgimento neste vídeo.
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https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.215/6936
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Crítica ao urbanismo moderno
Apresentação
O urbanismo moderno, criado no início do século XX, foi desenvolvido para resolver os problemas 
ocasionados pelo grande crescimento das cidades após a revolução industrial. A solução foi a 
separação das funções e a ligação por vias de alta velocidade. Isso resultou em cidades com pouca 
vitalidade e espaços aparentemente abandonados.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai ver alguns projetos realizados em Nova Iorque como 
exemplo de interferências bem e malsucedidas. Além disso, vai conhecer como Jan Gehl e Jane 
Jacobs, dois críticos de urbanismo, recomendam que seja feito o planejamento urbano.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Reconhecer os planos para Nova Iorque.•
Identificar os geradores de vitalidade.•
Comparar espaços que obedeçam ou não às premissas de Jacobs.•
Infográfico
Nas cidades, os espaços públicos abertos devem oferecer boas condições de conforto aos 
pedestres, para que as pessoas possam usufruir dos espaços e praticar as atividades essenciais do 
cotidiano. Além disso, deve-se assegurar que o espaço público seja seguro e prazeroso de se 
frequentar.
No infográfico a seguir, você vai conhecer os critérios de qualidade para a paisagem dos pedestres, 
de acordo com as premissas do arquiteto e urbanista Jan Gehl.
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Conteúdo do livro
 Desde os anos 1960, a cidade moderna recebeu muitas críticas devido a sua pouca vitalidade no 
nível do pedestre, que muitas vezes fica desamparado entre grandes edifícios sem conexão com o 
térreo. Para solucionar este problema, muitos teóricos do urbanismo identificaram os elementos 
que podem ser os causadores da diversidade nas cidades.
No capítulo Crítica ao urbanismo moderno, da obra Estudo da Cidade, você vai ver como Nova 
Iorque pode servir como exemplo de intervenção bem e malsucedida. Você também vai conhecer o 
pensamento de dois teóricos do urbanismo, a americana Jane Jacobs e o dinamarquês Jan Gehl, 
que até hoje estão entre os mais importantes autores na crítica do urbanismo moderno. 
ESTUDO DA 
CIDADE
Anna Carolina Manfroi Galinatti
Crítica ao urbanismo 
moderno
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer os planos para Nova York.
  Identificar os geradores de vitalidade.
  Comparar espaços que obedeçam ou não às premissas de Jacobs.
Introdução
Durante o início do século XX, acreditava-se que o desenho das cidades 
deveria focar a distribuição mais eficiente dos usos que seriam ligados por vias 
veiculares de alta velocidade. No entanto, algumas experiências de cidades 
modernas falharam ao gerar espaços urbanos onde as pessoas se sentem 
seguras e confortáveis. Com isso, diversos urbanistas estudaram o que fazia as 
melhores cidades tão atrativas, criando guias de como agir nessas situações.
Neste capítulo, você identificará alguns planos realizados na cidade de 
Nova York com exemplos de boas e más práticas de urbanismo. Também 
conhecerá critérios estabelecidos por dois dos mais importantes críticos 
do urbanismo moderno: Jane Jacobs e Jan Gehl. Com esses saberes, você 
será capaz de avaliar sua cidade e propor soluções mais qualificadas.
1 Planos urbanos de Nova York
Nova York é uma das cidades com maior vitalidade do mundo. Suas ruas são 
famosas pela animação e pela mistura de povos e costumes durante grande parte 
do dia. Ao longo dos anos, diversos pesquisadores voltaram sua atenção para o 
fenômeno da qualidade urbana dessa cidade, que contrasta com a maioria das 
metrópoles norte-americanas, com base no uso do automóvel. Para compreender 
como a cidade chegou ao século XXI com essa qualidade, é preciso conhecer um 
pouco de sua história, além de alguns eventos-chave que moldaram sua evolução 
urbana. Nova York é dividida em cinco regiões: Bronx, Brooklyn, Queens, 
Staten Island e Manhattan, que representa o maior interesse para os estudantes 
de urbanismo devido à sua alta densidade e diversidade tipológica (Figura 1). 
Figura 1. Mapa de New York.
Fonte: Weredragon/Shutterstock.com.
A ilha de Manhattan foi a primeira parte da região a ser colonizada, ainda 
no início do século XVII, por trinta famílias holandesas. Entre elas, estava 
o engenheiro Cryn Fredericksz, que trazia as instruções de como a cidade 
deveria ser traçada, seguindo as diretrizes do urbanismo holandês daquele 
Crítica ao urbanismo moderno2
século, com um forte pentagonal e casas em estilo holandês em volta de um 
canal artificial, assim como a paisagem de Amsterdã. Dessa tentativa de 
transportar a cidade europeia para o novo mundo, surgiu o primeiro nome da 
região: Nova Amsterdã (KOOLHAAS, 2008).
Já no século XIX, foi criado o plano que definiria a morfologia urbana da ilha 
de Manhattan: o Plano dos Comissários de 1811. O projeto definiu a grelha de 
quadras regulares que dividiria toda a ilha em uma malha de 2028 quarteirões 
retangulares de 80 m × 274 m. Esse esquema é um dos motivos da grande varie-
dade de possibilidades arquitetônicas da ilha de Manhattan e, consequentemente, 
de sua vitalidade (KOOLHAAS, 2008). O resultado em Manhattan é uma malha 
homogênea cortada por algumas avenidas diagonais, como a Broadway, e com 
um parque em seu centro, o Central Park, configurando um grande evento 
urbanístico na estrutura rígida do Plano dos Comissários (Figura 2).
Figura 2. Imagem aérea de Manhattan com destaque para 
o Central Park.
Fonte: TierneyMJ/Shutterstock.com.
No século XX, com o crescimento da densidade populacional, princi-
palmente, na região Sul da ilha, projetos de infraestrutura urbana e demoli-
ções de zonas da cidade foram realizados sob o comando de Robert Moses. 
As intervenções de Moses focavam a resolução de problemas de tráfego e 
3Crítica ao urbanismo moderno
remoção de favelas, sob o viés do sanitarismo, que via na limpeza urbana a 
solução para grande parte dos problemas.
Um ponto de inf lexão no trabalho de Moses como Comissário dos 
Parques de Nova York ocorreu na metade da década de 1950, quando ele 
propôs a criação de uma via expressarebaixada que passaria pelo meio 
do Washington Square, uma praça na região universitária do Greenwich 
Village. Nessa ocasião, uma jornalista residente na área e ativista pela pre-
servação da vitalidade urbana chamada Jane Jacobs iniciou uma campanha 
para evitar a construção da nova via e garantir a manutenção da praça. 
Em seu livro Morte e vida de grandes cidades, publicado originalmente 
em 1961, Jacobs (1992) narra os acontecimentos que fizeram com que 
Moses recuasse e mantivesse o Washington Square Park intocado e as 
consequências do fechamento do parque para veículos: 
Todas as medições no volume de veículos em volta do parque desde o seu 
fechamento não mostram aumento de tráfego; na maioria dos casos, mostra 
redução. […] Longe de trazer mais problemas de tráfego, o fechamento aliviou 
os congestionamentos (JACOBS, 1992, p. 362, tradução nossa).
Os esforços de Jacobs e seu livro criaram uma geração de planejadores 
urbanos engajados na preservação da vitalidade dos centros urbanos estabe-
lecidos, colocando em segundo plano as intervenções sanitaristas defendidas 
por planejadores como Moses, que dominaram o discurso urbano na primeira 
metade do século XX.
Atualmente, a cidade de Nova York recebeu uma série de intervenções 
urbanas pontuais para melhorar o conforto de pedestres e ciclistas, garan-
tindo que as ruas tenham sempre pessoas realizando atividades, mantendo a 
vitalidade e segurança do espaço. Um dos exemplos mais emblemáticos foi 
o fechamento para veículos da Times Square, o encontro entre a Broadway 
e a Sétima Avenida, mundialmente famoso pelos letreiros publicitários. O 
projeto de fechamento da Times Square considerou a instalação de mesas 
e cadeiras móveis, f loreiras e desenhos no piso, todas intervenções muito 
simples, mas que tornaram o espaço muito mais atrativo para os pedestres 
(Figura 3).
Crítica ao urbanismo moderno4
Figura 3. Times Square.
Fonte: Martin Kovacik/Shutterstock.com.
A cidade de Nova York é bastante utilizada como referência em estudos de 
urbanismo pela sua singularidade: dividida em cinco regiões distintas e com 
a terceira maior população das américas, ela consegue manter a vitalidade e 
qualidade espacial ao longo de sua extensão. As zonas com maior densidade, 
como Manhattan, são provas de que a aglomeração populacional pode gerar 
situações positivas na vida urbana. 
2 Geradores de vitalidade
Ao longo da construção e atividade das cidades planejadas do período moderno, 
foi possível observar o fracasso de algumas diretrizes, como a prioridade 
dos carros e a setorização do território. A partir dessas observações, alguns 
autores passaram a interpretar o que, de fato, tornaria uma cidade aprazível. 
Entre os principais autores, destaca-se Jane Jacobs, jornalista americana, 
nascida em 1916, reconhecida mundialmente por seu livro Morte e vida de 
grandes cidades (1961). 
5Crítica ao urbanismo moderno
Jane Jacobs dedicou-se a observar de forma rigorosa o território urbano e 
concluiu que a paisagem planejada do modernismo era muito monótona e des-
comprometida com a vitalidade e diversidade, tanto estética quanto funcional, 
que uma cidade exige. A autora também concluiu que o planejamento urbano 
precisa considerar de forma aprofundada o usuário em si e cada ação dele dentro 
da cidade para, então, poder oferecer diretrizes e equipamentos que possam tornar 
o cotidiano mais fácil e agradável. Uma das diretrizes que, segundo a autora, é 
fundamental para as cidades e para as pessoas é que o próprio ambiente urbano 
seja responsável por gerar vitalidade (JACOBS, 1992). Assim, a diversidade 
urbana é um dos principais fatores geradores da vitalidade:
A mistura de usos, se for suficientemente complexa para sustentar a segu-
rança, contato e usos diversos, deve acomodar uma enorme diversidade de 
ingredientes. Então, a primeira pergunta […] sobre planejamento urbano é 
essa: como as cidades podem gerar suficiente mistura de usos — diversidade 
suficiente — por parte suficiente de seu território para manter sua própria 
civilidade? (JACOBS, 1992, p. 144, tradução nossa).
Didaticamente, a autora lista uma série de condições para a geração de 
diversidade nos espaços urbanos, sempre utilizando experiências reais obser-
vadas por ela para ilustrar o porquê da necessidade de cada condição.
Necessidade de usos mistos
Para que exista diversidade em um espaço urbano, é preciso que essa zona 
atenda a mais de um uso. Você já passou por uma rua onde só existiam prédios 
residenciais? Geralmente, as calçadas fi cam desertas durante toda a manhã 
e tarde, quando os moradores estão em seus trabalhos. Essa situação só se 
transforma no início da manhã, quando todos saem, e ao fi nal do dia, no retorno 
do trabalho. Agora, imagine que exista uma fruteira, uma pequena loja e um 
sapateiro nessa rua. Algumas pessoas de regiões próximas vão acabar se des-
locando para essa rua durante a tarde para consumir nesses estabelecimentos, 
gerando movimentação na rua em horários diferentes (Figura 4).
Em uma das mais icônicas passagens de Morte e vida de grandes cidades, 
Jacobs (1992) narra o que ela chama de ballet da rua Hudson, mostrando como 
as crianças saem para a escola, alguns moradores colocam o lixo nas calçadas, 
o dono da ferragem expõe suas mercadorias na frente da loja e diferentes 
pessoas vão até a fruteira, em uma sequência contínua de atores realizando 
seus papéis na calçada e, ao mesmo tempo, gerando vitalidade e aumentando 
a sensação de segurança.
Crítica ao urbanismo moderno6
Figura 4. Greenwich Village (Manhattan).
Fonte: Photo Kit/Shutterstock.com.
Necessidade de quadras curtas
Uma das observações menos óbvias que Jacobs (1992) narra em seu livro é a 
necessidade de as quadras serem curtas. Segundo ela, quanto menores forem 
as distâncias entre as esquinas, maior o número de possibilidades de caminhos 
diferentes que os pedestres podem tomar, aumentando a quantidade de calça-
das com pessoas caminhando (JACOBS, 1992). Essa afi rmação fi ca clara ao 
observar os diagramas apresentados pela autora na defesa de seu argumento, 
reproduzidos na Figura 5. Observe como, nos dois primeiros exemplos, a 
maioria das pessoas acaba passando apenas pela avenida vertical, enquanto 
que, no terceiro exemplo, existe a possibilidade de movimento extra nas ruas 
87 e 86. Dessa maneira, essas duas ruas que fi cariam apenas com o tráfego 
de seus moradores ganham novas oportunidades de animação.
Figura 5. Mudança no tráfego conforme o tamanho das quadras.
Fonte: Jacobs (1992, p. 179–181).
7Crítica ao urbanismo moderno
Necessidade de edifícios antigos
Ao misturar edifícios antigos com edifícios novos, é facilitada a instalação de 
moradores e empresas com diferentes níveis de poder aquisitivo, aumentando a 
diversidade das pessoas que transitam por suas calçadas e, consequentemente, 
a vitalidade do espaço. Edifícios novos tendem a ser mais caros do que espaços 
em edifícios existentes, difi cultando a presença de empresas novas, de famílias 
com renda mais baixa e de comércio de pequeno porte, todos tipos de usuários 
que necessitam de custos imobiliários baixos. 
Necessidade de concentração
Para que exista vitalidade, é preciso que exista vida. Parece uma afi rmação 
óbvia, mas nem sempre foi levado em consideração no planejamento urbano. 
A maneira de aumentar a concentração de habitantes é pelo controle da den-
sidade populacional. Jacobs (1992, p. 201, tradução nossa) demonstra como a 
densidade poder ser responsável pela vitalidade da seguinte maneira:
A relação entre alta densidade e conveniências e outros modos de diversidade 
é geralmente bem entendida nos centros urbanos. […] Mas a relação entre 
concentração e diversidade é pouco considerada em distritos onde a moradia 
é o principal uso. […] Sem a ajuda da concentração de pessoas que moram 
nessa região, só pode existir poucas conveniências ou diversidade nos locais 
onde eles habitam e precisam delas. 
Os princípios de Jacobs (1992) são facilmente adaptados para grandeparte 
das situações urbanas, uma vez que as quatro condições são simples e exigem 
poucas mudanças de infraestrutura. 
Crítica ao urbanismo moderno8
3 Espaços ativos e inativos
Muitas críticas ao urbanismo moderno baseiam-se no planejamento do tipo "de 
cima para baixo" que os arquitetos da primeira metade do século XX defen-
diam, no qual um plano abstrato de ruas e quadras era desenhado, e a cidade 
aconteceria de maneira controlada e paralisada, obedecendo a regras rígidas 
de distribuição de usos. Segundo Jan Gehl (2010), esse tipo de planejamento 
levou ao que ele chama de síndrome de Brasília, um efeito negativo desse tipo 
de projeto no qual edifícios são implantados distantes uns dos outros sem que 
existam atrativos para os pedestres entre eles, gerando espaços urbanos com 
pouca vitalidade e, de modo geral, desertos, como você pode ver na Figura 6.
Figura 6. Síndrome de Brasília.
Fonte: Victor Hugo K F/Shutterstock.com.
9Crítica ao urbanismo moderno
Em seu clássico Cidades para pessoas, publicado em 2010, Gehl atribui o 
fracasso de muitos projetos urbanos modernistas à negligência com a pequena 
escala em favor da macroescala do desenho das vias. Segundo o dinamarquês, 
essa é a escala das pessoas: “Essa é a cidade que as pessoas que a usarão vão 
perceber no nível dos olhos. Não são as grandes linhas das cidades ou o po-
sicionamento espetacular de edifícios que são interessantes, mas a qualidade 
da escala humana, como essa é percebida por pessoas caminhando e paradas 
na cidade” (GEHL, 2010, p. 195).
Para garantir que a pequena escala seja atendida, Gehl (2010) defende que 
o planejamento urbano seja feito partindo dessa escala e, somente quando ela 
estiver resolvida, seguir para o desenho das demais dimensões do projeto 
urbano. O planejamento urbano deve, segundo o autor, obedecer a ordem: 
vida, espaço e edifícios (Figura 7).
Figura 7. Vida, espaço e edifícios.
Fonte: Adaptada de Gehl (2019).
A criação de espaços ativos no nível dos olhos nas cidades contemporâneas 
pode ser garantida por uma série de dispositivos de projeto que Gehl (2010) 
apresenta em seu livro. A seguir, você poderá conhecer alguns exemplos de 
Crítica ao urbanismo moderno10
estratégias que aumentam as chances de um espaço ter qualidade ao nível 
do pedestre. A Figura 8 traz exemplos de estratégias simples de desenho que 
podem tornar um espaço convidativo ou repulsivo para o pedestre.
Figura 8. Espaços convidativos e repulsivos.
Fonte: Adaptada de Gehl (2010).
Seguindo o preceito de vida, espaço e edifícios, é preciso adaptar os edi-
fícios — principalmente, os térreos — para que as pessoas se sintam atraídas 
por aquele espaço. Os espaços convidativos para os pedestres precisam ser 
combinados com térreos estimulantes que apresentem usos interessantes e não 
sejam apenas paredes fechadas. Como mostra o Quadro 1, existe uma escala 
de atratividade de fachadas de térreos que vai desde o ativo até o inativo.
11Crítica ao urbanismo moderno
Fonte: Adaptado de Gehl (2010).
Ativo:
  pequenas unidades com muitas portas;
  bastante variedade de funções;
  estilos diferentes de fachadas.
Amigável:
  unidades relativamente pequenas;
  alguma variação de funções;
  poucas janelas fechadas;
  bastante detalhes.
Uso misto:
  unidades médias e grandes;
  variação de uso modesta;
  poucos detalhes.
Entediante:
  grandes unidades com poucas portas;
  quase nenhuma variação de função;
  poucos detalhes.
Inativa:
  grandes unidades, com poucas ou 
nenhuma porta;
  sem variação de função identificável;
  fachadas uniformes, sem detalhes.
Quadro 1. Fachadas ativas e inativas
Existem muitas críticas à cidade moderna, principalmente, no que tange 
ao planejamento feito com foco nos veículos automotores e divisão de funções 
rígida. No entanto, desde a metade do século passado, diversos críticos têm 
se esforçado para identificar e codificar elementos que possam melhorar a 
vitalidade de cidades existentes e de novos assentamentos. 
Crítica ao urbanismo moderno12
GEHL. Disponível em: https://gehlpeople.com/blog/ucsd-envisions-new-college-with-
-public-life-as-the-driver/attachment/life-space-buildings/. Acesso em: 28 dez. 2019.
GEHL, J. Cidade para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2010.
JACOBS, J. The death and life of great american cities. New York: Random House, 1992.
KOOLHAAS, R. Nova York delirante. São Paulo: Cosac & Naify, 2008.
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cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
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13Crítica ao urbanismo moderno
Dica do professor
Gentrificação é uma palavra temida por todos os urbanistas por tratar-se do fenômeno da 
substituição de populações existentes em um local por outra com maior poder aquisitivo, devido 
ao aumento do custo de vida em uma região.
Nesta dica, você vai ver como surgiu a palavra e um exemplo contemporâneo do fenômeno na 
cidade de Nova Iorque. Além disso, verá que o medo da gentrificação não deve impedir o 
desenvolvimento das cidades, bastando utilizar ferramentas que mitiguem o efeito.
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Na prática
Uma das grandes críticas ao urbanismo moderno é o protagonismo dos carros dentro das cidades. 
Amsterdã, capital da Holanda, foi tão bem sucedida em seus projetos de incentivo ao uso das 
bicicletas que entrou no século XXI com um problema: a necessidade de infraestrutura específica 
para o ciclismo.
Neste Na Prática, você vai ver os desafios enfrentados e os investimentos feitos pelo governo 
holandês para garantir que os ciclistas sigam utilizando esse meio de transporte com segurança e 
conforto.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
Jane Jacobs e a humanização da cidade
No artigo a seguir, o arquiteto Martín Marcos discorre sobre o trabalho da jornalista Jane Jacobs e 
a sua relação com a humanização das cidades.
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Organização de Nova Iorque
No link a seguir, você conhecerá um pouco mais sobre a cidade de Nova Iorque e a sua organização 
em cinco burgos.
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Cidade cheia de vida, segura, sustentável e saudável
A reportagem a seguir ilustra os princípios defendidos por Jan Gehl no seu livro "Cidade para as 
Pessoas" e explica o conceito de "cidade viva" criado pelo autor.
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https://portal.aprendiz.uol.com.br/2018/07/24/jane-jacobs-e-humanizacao-da-cidade/?v=1652556543
https://contramapa.com/2015/10/12/como-e-que-nova-iorque-esta-organizada/?v=2073581068
https://medium.com/des-conex%C3%A3o-crici%C3%BAma/cidade-cheia-de-vida-segura-sustent%C3%A1vel-e-saud%C3%A1vel-49b8aa542ad4
Estudo da cidade como fato 
econômico, político, social e cultural
Apresentação
As cidades são organismos completos, ocorrendo, nelas, as mais diversas relações – sejam elas 
sociais, políticas e econômicas, ou de caráter cultural, ambiental, comercial, entre outros. Nesse 
local, as pessoas podem realizar suas atividades e ter suas rotinas, buscando atender suas 
necessidades de moradia, lazer, estudo, trabalho e assim por diante. Para que as pessoas possam 
ter qualidade nos centros urbanos, é imprescindível que elas sejam consultadas sobre o 
planejamento e as ações de melhoramento, a fim de que essas propostasestejam adequadas aos 
interesses dos cidadãos.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você entenderá como ocorreu a participação da população no 
desenvolvimento das cidades e a importância dessa contribuição para a criação de centros urbanos 
melhores. Você ainda vai compreender quais são os instrumentos legislativos do Brasil que 
garantem a atuação dos cidadãos nos processos de planejamento, identificando, também, reflexos 
dessas participações nas cidades da atualidade.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Reconhecer a importância da participação popular nos processos 
de urbanização.
•
Definir os instrumentos de participação popular previstos na 
legislação brasileira.
•
Identificar reflexos da participação popular nas cidades.•
Infográfico
A Lei 10.257, denominada Estatuto da Cidade, foi sancionada, no ano de 2001, com o objetivo de 
tornar o espaço urbano mais igualitário, por meio da gestão democrática. Gestão essa que ocorre, 
dentre outros princípios, por meio da participação popular.
Neste Infográfico, veja mais sobre o Estatuto da Cidade e os Planos Diretores, que são 
instrumentos que garantem a participação da população nos processos de planejamento urbano.
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Conteúdo do livro
A cidade é o organismo de maior representatividade para a vida em sociedade, pois é esse espaço 
que possibilita as trocas sociais e comerciais, os acordos econômicos, a vida em família, a produção 
do trabalho e o desenvolvimento. Para que esse local esteja cada vez mais adequado a essas 
possibilidades, é fundamental que os cidadãos possam dar suas opiniões acerca dos problemas 
urbanos, discutindo soluções para dar mais qualidade à cidade.
No capítulo Estudo da cidade como fato econômico, político, social e cultural, da obra Estudo da 
Cidade, você vai entender a importância da participação popular nos processos de desenvolvimento 
urbano, identificando os instrumentos que garantem esse direito e as formas em que isso pode 
acontecer. Ainda, você vai perceber, por meio de alguns exemplos atuais, como a participação 
popular muda e melhora a realidade das cidades.
Boa leitura.
ESTUDO 
DA CIDADE
Vanessa Guerini Scopell 
Estudo da cidade como 
fato econômico, político, 
social e cultural
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer a importância da participação popular nos processos 
de urbanização.
  Definir os instrumentos de participação popular previstos na legislação 
brasileira.
  Identificar reflexos da participação nas cidades.
Introdução
O surgimento das cidades está relacionado com questões econômicas e 
sociais. Com o passar do tempo, esse organismo foi incorporando novas 
funções, representando a política, a cultura, o conhecimento e outros 
elementos. Desde o princípio, a população contribui para a evolução 
dos espaços urbanos, seja de forma orgânica e natural ou por meio de 
ideias e intenções de alguma parte dos cidadãos, geralmente, aqueles 
de classe social privilegiada. Para garantir a participação de todos nas 
decisões sobre as cidades, colaborando com a elaboração de ações de 
melhoramento, surgiram instrumentos de consulta popular, uma vez que 
todos têm esse direito, sem exceções.
Neste capítulo, você compreenderá a importância da participação 
popular para os sistemas e processos da cidade, entendendo o motivo 
pelo qual essa ação é fundamental nos dias de hoje. Identificará os ins-
trumentos da legislação brasileira que determinam essa participação, 
entendendo de que maneira isso pode ocorrer. Também conhecerá 
algumas iniciativas públicas e privadas que incluem a população na 
elaboração de propostas de melhoramento, buscando cidades mais 
justas e igualitárias, onde o direito de todos é garantido. 
1 Participação popular nos processos 
de urbanização
Quando se fala sobre o estudo da cidade e a evolução dos centros urbanos, 
é importante relacionar esses temas à produção do espaço urbanizado para 
compreender o seu surgimento. Em seus livros, Henri Lefrebvre, David Harvey 
e Karl Marx escrevem e analisam a produção do espaço urbano, defendendo 
a ideia de que esse espaço é produzido a partir das relações sociais. Desde o 
princípio, com o nascimento das primeiras aglomerações urbanas, a partici-
pação das pessoas foi fundamental para a organização e o mantimento das 
cidades, quando as comunidades se fi xaram em porções do território, defi nindo 
os locais de moradias, convívio, alimentação, entre outros. 
Com o passar dos anos e conforme essas aglomerações foram adquirindo 
importância, a vida em sociedade passou por mudanças e, além de espaços para 
moradias, surgiu a necessidade de áreas comerciais para a troca de produtos, 
originando as relações econômicas. Para Carlos (1994, p. 14), esse fenômeno está 
relacionado com questões que vão além da necessidade das pessoas, envolvendo 
também relações de capital, ressaltando que a produção do espaço urbano é 
“[…] produto de contradições emergentes do conflito entre as necessidades da 
reprodução do capital e as necessidades da sociedade como um todo”.
Diante da necessidade de espaços mais apropriados para as moradias, para 
o lazer, para o trabalho, para o comércio e para a política, as cidades passaram 
a se organizar de forma mais complexa, com alguns responsáveis que detinham 
o poder e definiam questões relativas ao funcionamento desses locais. Na 
sociedade grega, segundo Vieira et al. (2013), a cidade estava vinculada a uma 
forma de governo exercida pelos cidadãos que, conforme Aristóteles, tinham 
por intuito alcançar uma igualdade social. Assim, o termo política advém 
desse momento da história e deriva de assembleia de cidadãos, que deve ser 
parte dos processos do governo. Ao longo dos anos e por meio de diferentes 
momentos da história, a participação dos cidadãos no desenvolvimento das 
cidades expressou-se de maneiras distintas. Entretanto, na maior parte do 
tempo, questões relativas à cidade eram definidas por membros dos governos, 
que tinham interesses particulares ou que privilegiavam determinadas classes 
da sociedade, descaracterizando um processo igualitário e democrático.
Na cidade do período da Revolução Industrial, por exemplo, Vieira et al. 
(2013, p. 117) ressaltam que havia uma fala política, pois a dita democracia era 
marcada pelo patrimonialismo e individualismo, “[…] cujas origens remetem ao 
Renascimento, quando as classes emergentes perceberam que seu envolvimento na 
política poderia lhes proporcionar vantagens na seguridade de seus patrimônios”. 
Estudo da cidade como fato econômico, político, social e cultural2
Com isso, surgiram políticas centralizadoras, em que a individualidade permaneceu 
sobre as intenções públicas, enfatizando ainda mais a segregação social. 
Nos anos de 1930, as ideias do urbanismo modernista buscavam uma 
sociedade mais igualitária a partir da padronização arquitetônica, que visava 
proporcionar igualdade. Segundo Holston (1993), por meio da Carta de Ate-
nas, que foi o documento que traçou os princípios do urbanismo modernista, 
a cidade poderia ser organizada e projetada de acordo com as necessidades 
humanas universais do século XX, visando às quatro funções: trabalhar, habitar, 
locomover-se e recrear. Conforme Oliveira Filho (2009, p. 123): 
[…] este conceito recebeu fácil aceitação pelo Estado, especialmente no caso 
brasileiro, graças ao intenso conteúdo técnico que ganhou alcance mundial, 
havendo uma renovação jurídica e política pela forma inovadora destes pro-
jetos, que respondia à racionalidade dominante naquele momento histórico.
Contudo, mesmo que a intenção de urbanismo igualitário do modernismo 
tenha sido interessante, essa vertente urbanística conformou-sede uma ma-
neira muito engessada, e a gestão continuou autoritária, o que desfavoreceu 
a participação popular nas ações de planejamentos urbano. 
No Brasil, importante expoente mundial do Modernismo, essa vertente se 
expressa em um período que o interesse do país voltou-se ao ambiente urba-
no (não mais rural), havendo forte concordância com as políticas nacionais. 
Esses projetos reformadores eram regidos por meio de planos, zoneamentos, 
leis de ocupação e ordenação do solo e que, por isso, tinham um respaldo 
jurídico complexo. A concordância desses projetos com a política resultou 
na supervalorização dos planos diretores, sem o entendimento do que esse 
instrumento realmente era pela maior parte da população, bem como pelos 
técnicos e gestores municipais (VIEIRA et al., 2013, p. 117).
Esses planos foram submetidos a interesses imobiliários, sem comprometi-
mento com todas as classes sociais. Essa falta de engajamento desmobilizou a 
população, que não encontrava representatividade ou resultados políticos. As leis 
de zoneamento, por exemplo, apesar de serem desenvolvidas com bastante rigor, 
ignoravam as questões de ilegalidade de moradias, comuns em muitas cidades 
brasileiras, excluindo a porção da população que convivia com esse problema. 
Vieira et al. (2013) ressaltam que as primeiras críticas à qualidade dos espa-
ços das cidades no mundo iniciaram por volta dos anos de 1960, fortalecendo-se 
em 1970, fomentando o debate sobre novos conceitos de planejamento urbano 
que incluíssem a participação popular em 1980. Rolnik (2006) acrescenta que 
os anos de 1990 foram marcados por muitos avanços relacionados à moradia e 
3Estudo da cidade como fato econômico, político, social e cultural
ao direito à cidade, discutindo o importante papel dos cidadãos na gestão dos 
espaços. O movimento se fortaleceu por meio da participação da população 
nos orçamentos, programas de autogestão, conselhos gestores, entre outros. 
Os anos de 1990 foram marcados por muitos avanços no direito à moradia 
e em seu fortalecimento jurídico, bem como no direito à cidade, com debates 
partindo da sociedade civil acerca do papel dos cidadãos na gestão, com a 
reestruturação de um movimento pela reforma urbana e pela constituição de 
um fórum. Esse movimento se fortaleceu, havendo a participação popular em 
orçamentos, conselhos gestores e programas de autogestão de forma efetiva 
em diversos municípios, não restrita ao campo parlamentar. 
Nesse momento em que a participação popular era discutida e implementada no Brasil, 
em países mais industrializados, como na Europa, já surgiam linhas de pensamento 
buscando um planejamento urbano colaborativo, incluindo a população por meio de 
discussões e ações colaborativas acerca da organização das cidades. 
Torres (2009) destaca que o modelo de planejamento colaborativo se caracterizava 
pela criação de relações e pelo compartilhamento de conhecimentos entre diferentes 
agentes da população, a fim de criar argumentos para confrontar e resolver situações 
emblemáticas nas cidades, priorizando sempre o diálogo, buscando soluções comuns 
e compartilhadas (VIEIRA et al., 2013).
Diante dessa explanação, é possível perceber que a cidade é caracterizada por 
um conjunto indissociável de elementos, de sistemas, de objetos e de ações. Por 
isso, esses locais necessitam da interação das pessoas e de suas contribuições para 
adquirir funcionalidade. Assim, a cidade se comporta como um território onde 
ocorrem acontecimentos econômicos, sociais, políticos e culturais, diretamente 
ligados ao espaço construído, responsáveis pelas mudanças e pela evolução 
desses locais, seja pela relação de poder nas comunidades, pelas trocas, pelas 
apropriações ou até mesmo pelo domínio de áreas da cidade. Assim, não existe 
uma cidade sem a participação da população, seja ela planejada e requerida ou 
desenvolvida de modo orgânico, afinal os espaços são produzidos por meio da 
expressão dos povos e influenciam diretamente a reprodução da sociedade. 
Para Lefebvre (2008, p. 26), o espaço como produto de uma sociedade é 
“[…] um modo e um instrumento, um meio e uma mediação. […] O espaço é 
um instrumento político intencionalmente manipulado, mesmo se a intenção 
Estudo da cidade como fato econômico, político, social e cultural4
se dissimula sob as aparências coerentes da figura espacial”. Isso quer dizer 
que, quando analisamos um espaço que é produto das ações de pessoas sobre 
determinada área, podemos tirar dessa análise conclusões sobre como as 
pessoas se sentem em relação àquela porção da cidade. Soja (1993, p. 38) 
acrescenta ainda que: 
O espaço social e político tornou-se cada vez mais reconhecido como uma 
força material (e não material, isto é, ideológico) influente, ordenando e re-
ordenando as próprias relações sociais produtivas. Longe de ser um reflexo 
passivo, incidental, um “espelho”, a espacialidade tornou-se ativa como uma 
estrutura concreta e repositório de contradições e conflitos, um campo de luta 
e estratégia política. As relações sociais e espaciais, a divisão social e espa-
cial do trabalho, a práxis social e espacial estão deste modo interativamente 
engajadas e concatenadas, ao invés de reduzidas a simples gênese-reflexo, 
causa inicial e efeito subsequente. 
Assim, a produção dos espaços urbanos é contínua e acontece por meio 
da ordenação das coisas, a partir das necessidades das pessoas, o espaço é 
“[…] visto como um receptáculo no qual o mundo avança, mas também como 
coproduto dos processos, ressaltando a importância de se entender o espaço 
como construção da sociedade e que consequentemente tem influência sobre 
esta” (THRIFT, 2007, apud SILVA, 2010, p. 29).
Lefebvre (2008) ressalta também que o espaço urbano tem papel ativo e 
passivo com relação à reprodução da sociedade. Pode ser considerado passivo 
porque está em segundo plano, tendo em vista as relações sociais que ocorrem 
nesses espaços. Também pode ser considerado um local ativo por exercer forte 
papel no cotidiano da sociedade.
Apesar de a população sempre estar presente no desenvolvimento das cidades, 
dando formas e gerando apropriações em espaços, a discussão sobre o planeja-
mento urbano e sobre a participação efetiva de todos só foi confirmada a partir 
da criação do Estatuto da Cidade. Trata-se da Lei nº. 10.257, de julho de 2001 
(BRASIL, 2001), que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, 
estabelecendo diretrizes gerais da política urbana, entre outras providências. 
Klink (2011, apud VIEIRA et al., 2013, p. 118) ressalta que “[…] a inclusão de 
um modelo de construção através da participação, conforme o Estatuto da Cidade 
exige, já após o ano 2000, tendo como princípio a ideia de rompimento com as 
estruturas de poder vigente produtoras das lógicas de segregação socioespacial”. 
Com esse instrumento e essa legalização, a participação da população nos 
processos da cidade passou a ser regulamentada, coerente e exigida para fo-
mentar os avanços e o desenvolvimento necessários ao meio urbano e voltados 
5Estudo da cidade como fato econômico, político, social e cultural
às carências e aos problemas dos cidadãos. Quando a população participa dos 
processos, ela dá sua voz para as ações, demonstrando suas opiniões e permi-
tindo que o planejamento urbano esteja adequado a todas as classes e situações.
2 Instrumentos de participação popular 
da legislação brasileira
O planejamento pode ser compreendido como a “[…] ação de preparar um 
trabalho, ou um objetivo, de forma sistemática, ou efeito de planejar, de ela-
borar um plano” (DICIO, c2020, documento on-line). Quando relacionado 
às cidades, o planejamento refere-se à organização de atividades para o seu 
melhoramento. O planejamento urbano, portanto, permite que a cidade possa 
ser pensada sob diversos aspectos que gerem qualidade de vida e melhorem o 
espaço urbano. Para isso, é fundamental que a população esteja engajada na 
elaboração das ações de planejamento urbano, tendo em vista que essa açãoé realizada para o melhoramento da vida nas cidades.
Para planejar, é preciso um vasto estudo sobre os diferentes contextos, 
áreas e realidades de cada região. Atualmente, as cidades brasileiras ainda são 
reflexo da falta de organização e de planos específicos de crescimento, e seu 
tecido urbano é o resultado da vinda da população rural para a cidade, que não 
tinha estrutura para receber tantas pessoas. Com o advento da industrialização 
no país e com o êxodo rural, as cidades tiverem que se adequar ao aumento 
da população de forma muito rápida, e isso ocasionou diversos problemas de 
infraestrutura, saneamento e densidades. 
O planejamento urbano no Brasil é uma atividade recente cuja necessidade pas-
sou a se fazer sentir com intensidade cada vez maior nas últimas décadas sob o 
impacto do crescimento rápido e desordenado das nossas cidades. Com efeito, em 
consequência do crescimento econômico e físico e da industrialização, as cidades 
brasileiras perderam o caráter de organismo dotado de funções urbanas diferen-
ciadas e específicas, capazes de satisfazer a uma ampla gama de necessidades, 
para se transformarem nos aglomerados uniformemente caóticos e congestionados 
que todos nós conhecemos (OLIVEIRA; BOLAFFI, 1970, p. 155).
Todo o debate sobre a importância e necessidade do planejamento urbano 
aliado à participação popular resultou na inclusão dos artigos 182 e 183, que 
tratam da política urbana na Constituição Federal de 1988, com o objetivo 
de “[…] ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade” 
(BRASIL, 1988, documento on-line). Com isso, a Constituição evidenciou 
Estudo da cidade como fato econômico, político, social e cultural6
que o Plano Diretor é o principal instrumento para o desenvolvimento e para 
a expansão das cidades, e que os municípios são os atores principais dessa 
política de gestão urbana, devendo sempre considerar a opinião da população. 
Somente a partir do ano de 2001, com a implementação do Estatuto da Cidade, 
é que o planejamento urbano passou a ser valorizado em políticas urbanas e, 
com isso, sofreu algumas mudanças significativas. O Estatuto da Cidade é o 
nome dado à Lei Federal nº 10.257 (BRASIL, 2001). Em seu art. 2º, ele ressalta 
que a política urbana tem como objetivo principal o desenvolvimento das fun-
ções sociais da cidade e também da propriedade urbana por meio de algumas 
diretrizes gerais, como a “[…] gestão democrática por meio da participação da 
população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade 
na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos 
de desenvolvimento urbano” (BRASIL, 2001, documento on-line). Esse artigo 
ressalta também a necessidade de se promover audiências com a população 
interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com 
efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído. 
Esse Estatuto foi criado com o intuito de democratizar a gestão das cidades 
no país, exigindo que os municípios com mais de vinte mil habitantes tenham 
um Plano Diretor que normatize e especifique as áreas e ações futuras para 
a cidade (BRASIL, 2001). Os Planos Diretores, que são instrumentos do 
Estatuto da Cidade, há alguns anos, passaram a regulamentar e normatizar 
usos e índices. Assim, a ação de planejar a cidade fica assegurada por esse 
documento, que configura um planejamento municipal com orientações e 
normativas. Villaça (1999, p. 238) acrescenta que o Plano Diretor refere-se a:
[…] um diagnóstico científico da realidade física, social, econômica, política 
e administrativa da cidade, […] apresentando um conjunto de propostas para 
o futuro desenvolvimento socioeconômico e futura organização espacial dos 
usos do solo urbano, das redes de infraestrutura e de elementos fundamentais 
da estrutura urbana, […].
Nos processos de elaboração dos Planos Diretores, conforme dita o art. 40 
do Estatuto da Cidade, os Poderes Legislativo e Executivo garantirão:
I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da popu-
lação e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; 
II – a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos; 
III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produ-
zidos (BRASIL, 2001, documento on-line).
7Estudo da cidade como fato econômico, político, social e cultural
Ainda, para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados 
os seguintes instrumentos:
  órgãos colegiados de política urbana, em níveis nacional, estadual e municipal; 
  debates, audiências e consultas públicas; 
  conferências sobre assuntos de interesse urbano, em níveis nacional, 
estadual e municipal; 
  iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos 
de desenvolvimento urbano.
É imprescindível que a população seja consultada nas fases de elaboração 
do Plano, bem como na proposição de projetos urbanos ou qualquer ação de 
melhoramento, seja para toda a cidade ou para porções e áreas específicas. 
O art. 44 do Estatuto da Cidade ainda complementa, evidenciando que a 
realização dos debates, a promoção das audiências e as consultas públicas 
sobre as diretrizes orçamentarias, plano plurianual e orçamento anual são 
fundamentais para a sua aprovação da Câmara Municipal (BRASIL, 2001). 
Assim: 
[...] os organismos gestores das regiões metropolitanas e aglomerações urbanas 
incluirão obrigatória e significativa participação da população e de associações 
representativas dos vários segmentos da comunidade, de modo a garantir o 
controle direto de suas atividades e o pleno exercício da cidadania (BRASIL, 
2001, documento on-line).
O melhor modo de tratar das questões urbanas é com a participação de todos 
os cidadãos interessados. Segundo Clark (1985, p. 37), “[...] a imagem que o 
indivíduo tem da cidade determina se ela é amada ou odiada, e onde dentro 
dela, ou se em alguma outra parte, ele escolherá para morar, comprar, traba-
lhar e passear.” [...] As análises sobre a percepção do ambiente resultam em 
informações mais confiáveis e legítimas para proposições futuras em relação 
à melhoria da qualidade ambiental, ou seja, as propostas estarão mais próxi-
mas das expectativas daqueles que vivenciam os problemas dos lugares e que 
utilizam o ambiente projetado, pois, eles estarão participando ativamente do 
que será planejado (ABRANCHES, 2013, p. 5).
 Compreender a importância das especificidades de cada região e comuni-
dade, considerar a participação efetiva da população, promovendo encontros 
para que sua voz seja ouvida e, acima de tudo, considerada efetivamente nos 
processos de projeto garantirá que o planejamento urbano atue nos pontos 
principais de cada contexto, garantindo a melhora dos espaços.
Estudo da cidade como fato econômico, político, social e cultural8
3 Reflexos da participação popular nas cidades
O processo de produção do espaço urbano não é homogêneo, mas fragmentado 
e articulado de acordo com as necessidades. Da mesma forma, a produção 
do espaço urbano é desigual, pois refl ete as ações de cada grupo social em 
detrimento a uma área. De acordo com Carlos (1994, apud SILVA, 2010, p. 41), 
“[...] cada sociedade produz e reproduz sua existência de modo determinado, 
deixando no espaço as marcas de suas características históricas específi cas”. 
Os instrumentos reguladores que exigem a participação popular nos processos 
de planejamento da cidade têm por intuito permitir que todos possam ser 
ouvidos, evitando que a produção do espaço urbano seja voltada para apenas 
alguns privilegiados. 
É importante destacar que o Estado deve se impor no sentido da ação de 
planejar, evitando conflitos e benefícios a privilegiados, mas isso não significa 
que essa tarefa represente uma hierarquia de poder sob os demais agentes. 
O Estado tem papel fundamental na produção dos espaços, pois ele decide 
por quê, quando, como e onde intervir, considerando também a opinião dos 
cidadãos, sempre

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