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Introdução A regeneração óssea guiada (ROG) representa um dos avanços mais significativos na implantodontia contemporânea, permitindo a reabilitação de áreas atróficas e a instalação de implantes em situações clínicas desafiadoras. Essa técnica fundamenta-se na utilização de barreiras físicas que atuam como membranas, com o objetivo de excluir o crescimento de tecidos moles no defeito ósseo e, simultaneamente, favorecer a migração e a proliferação de células osteoprogenitoras. Tradicionalmente, diferentes materiais têm sido empregados como barreiras, entre eles o politetrafluoretileno (PTFE), o colágeno e as malhas de titânio. Embora eficazes, tais materiais apresentam limitações relacionadas à previsibilidade, risco de exposição, infecções secundárias e necessidade de remoção cirúrgica em casos de falha. Nos últimos anos, a busca por alternativas mais biocompatíveis, seguras e previsíveis conduziu ao desenvolvimento de barreiras confeccionadas em zircônia. Esse material, já amplamente empregado na confecção de próteses e implantes odontológicos, destaca-se por sua elevada biocompatibilidade, estabilidade dimensional, resistência mecânica e menor adesão bacteriana quando comparado ao titânio. Além disso, a zircônia apresenta uma resposta tecidual favorável, reduzindo o risco de inflamações e favorecendo o processo de cicatrização. A incorporação da tecnologia CAD/CAM e da impressão 3D possibilitou o desenvolvimento de barreiras de zircônia personalizadas, adaptadas à anatomia específica do defeito ósseo do paciente, o que representa um avanço substancial no campo da ROG. Estudos recentes reforçam o potencial promissor dessa abordagem. Mandelli et al. (2021) relataram, em uma série de casos clínicos, resultados satisfatórios com o uso de barreiras de zircônia 3D personalizadas, evidenciando intensa deposição de osso novo, mesmo em situações de exposição da barreira, sem sinais de infecção. De forma semelhante, Mendoza-Azpur et al. (2021) descreveram um caso clínico em que uma membrana de zircônia personalizada, confeccionada por CAD/CAM, promoveu um ganho ósseo vertical de 12 mm e horizontal de 8 mm, com excelente qualidade histológica do osso regenerado. Esses achados ressaltam não apenas a eficácia clínica, mas também a previsibilidade no resultado da regeneração óssea guiada com o uso de zircônia. Além dos relatos clínicos, estudos experimentais corroboram tais evidências. Tuncludemir et al. (2024), em um estudo in vivo com modelo animal, compararam membranas de zircônia personalizadas com malhas de titânio e membranas de PTFE reforçadas, observando maior formação óssea na fase tardia nos grupos tratados com zircônia. Importante destacar que não foram relatadas reações de corpo estranho, necrose ou complicações infecciosas, o que reforça a segurança do material. Portanto, as barreiras de zircônia personalizadas emergem como uma alternativa inovadora e promissora aos materiais tradicionalmente utilizados na ROG. Sua capacidade de aliar biocompatibilidade, resistência e adaptação precisa ao defeito ósseo favorece não apenas a previsibilidade dos resultados, mas também a redução do tempo cirúrgico e das complicações associadas. Contudo, apesar dos resultados iniciais encorajadores, ainda se faz necessária a condução de estudos clínicos de longo prazo, com amostras mais amplas, a fim de consolidar a evidência científica e definir protocolos clínicos padronizados para sua utilização na prática odontológica. Dessa forma, esta monografia tem como objetivo explorar o uso das barreiras de zircônia na regeneração óssea guiada, discutindo suas propriedades, vantagens, limitações e perspectivas futuras, à luz da literatura científica disponível.