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CÁLCULO: LIMITES DE FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL E DERIVADAS Mariana Sacrini Ayres Ferraz Problemas de maximização e minimização Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir máximos e mínimos absolutos. � Identificar quando um ponto é máximo ou mínimo de uma função. � Resolver problemas de otimização aplicada. Introdução Quando plotamos uma função, é possível observar como ela varia seu valor ao longo do eixo x, ou seja, à medida que a variável independente muda seu valor. Olhando em certo intervalo, a função pode apresentar picos e vales — o que se chama de máximo ou mínimo absoluto —, ou seja, o maior pico ou o menor vale. Esses pontos são muito importantes, pois revelam o valor máximo e mínimo que a função pode chegar e quando eles ocorrem. Além disso, são muito úteis em problemas de oti- mização, em que se quer maximizar ou minimizar o valor de uma função. Neste capítulo, você estudará como definir os pontos de máximo e mínimo absolutos e como os encontrar. Além disso, verá exemplos de problemas de otimização. Máximos e mínimos absolutos As funções podem apresentar pontos com maiores ou menores valores ao longo de seu domínio, conforme a Figura 1, com exemplos de gráficos de dados ou funções. Figura 1. Exemplo de gráficos de dados ou funções. Fonte: robuart/Shutterstock.com. Embora as funções possam variar seus valores, é possível que exista um ponto em seu domínio, cujo valor da função é o maior ou o menor. Esses seriam o seu máximo ou mínimo absolutos, ou seja, a função possui um extremo absoluto, definido por Anton, Bivens e Davis (2014, p. 266): Considere um intervalo no domínio de uma função f e um ponto x0 nesse intervalo. Dizemos que f tem um máximo absoluto em x0 se f(x) ≤ f(x0) com qualquer x no intervalo, e que f tem um mínimo absoluto em x0 se f(x0) ≤ f(x) com qualquer x do intervalo. Se f tiver em x0 qualquer um dos dois, máximo absoluto ou mínimo absoluto, dizemos que f tem em x0 um extremo absoluto. Dado um intervalo no domínio da função, não necessariamente a mesma apresentará extremos absolutos nesse intervalo. Alguns exemplos disso são mostrados na Figura 2, a seguir. Problemas de maximização e minimização2 Figura 2. Exemplos de funções que contêm ou não pontos extremos em um dado intervalo. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 267). Esses exemplos mostram funções que contêm ou não pontos extremos. Nos casos cujos intervalos são abertos, às vezes, a função contém ou não pontos extremos. Mas, se o intervalo for fechado, a função necessariamente tem, pelo menos, um ponto de máximo e um de mínimo. A seguir, o teorema do valor extremo, segundo Anton, Bivens e Davis (2014, p. 267): Se uma função f for contínua em um intervalo fechado finito [a, b], então f tem um máximo e um mínimo absolutos em [a, b]. O teorema do valor extremo afirma a existência dos pontos de extremo absoluto, mas não diz muito em relação a como os achar. Na próxima seção, você verá como encontrar os pontos de máximo e mínimo absolutos de uma função. Identificação de pontos de máximo e mínimo Se a função for contínua com intervalo finito fechado, os pontos extremos absolutos podem ocorrer no final do intervalo ou dentro dele. Caso os pontos se encontrem dentro do intervalo, eles ocorrem nos pontos críticos da função. A seguir, o teorema segundo Anton, Bivens e Davis (2014, p. 267): Se f tiver um extremo absoluto em um intervalo aberto (a, b), então ele deve ocorrer em um ponto crítico de f. 3Problemas de maximização e minimização Na Figura 3, veja alguns exemplos de pontos máximos de funções: (a) o máximo absoluto encontra-se no extremo do intervalo, em b; (b) o ponto de máximo ocorre um ponto estacionário, em x0; (c) o ponto de máximo ocorre onde a função não é diferenciável, em x0. Figura 3. Exemplos de pontos de máximo ab- soluto de funções. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 268). Problemas de maximização e minimização4 Para se encontrar os pontos de extremo absoluto, você pode seguir o pro- cedimento para chegar aos extremos absolutos de uma função contínua f em um intervalo finito fechado [a, b], conforme a seguir (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014): 1. Encontre os pontos críticos de f em (a, b); 2. encontre o valor de f em todos os pontos críticos e nas extremidades a e b; 3. o maior entre os valores do Passo 2 é o valor máximo absoluto de f em [a, b], e o menor valor é o mínimo absoluto. Primeiro, encontra-se os pontos críticos da função, depois, os valores da função nos pontos críticos e nos pontos de extremo. O ponto cujo valor da função for maior é considerado o ponto de máximo absoluto, e o ponto cujo valor da função for mínimo é considerado o ponto de mínimo absoluto. Determine os extremos absolutos da função f(x) = 6 x4/3 – 3 x1/3 no intervalo [–1,1]. Primeiro, vamos encontrar os pontos críticos da função. Para isso, temos que dife- renciar a função e igualar a zero. Assim: Igualando a derivada a zero, encontramos que: Portanto, f'(x) = 0 em x = 1/8, e é não diferenciável em x = 0. 5Problemas de maximização e minimização Agora, vamos calcular os valores da função para os pontos críticos encontrados e para os extremos do intervalo dado. Assim, temos que: � x = –1 → f(x = –1) = 9 � x = 0 → f(x = 0) = 0 � x = 1/8 → f(x = ) = –9/8 � x = 1 → f(x = 1) = 3 Assim, podemos concluir que o valor de mínimo absoluto é –9/8 e ocorre em x = 1/8, e o valor de máximo absoluto é 9 e ocorre em x = –1. Extremos absolutos quando os intervalos são infinitos Caso o intervalo de interesse de uma função seja infinito, ela pode ou não ter extremos absolutos. Se a função f for contínua em (–∞, +∞), pode-se deduzir alguns comportamentos da mesma, conforme a Figura 4. Figura 4. Extremos absolutos para o caso de intervalo infinito. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 269). Extremos absolutos quando os intervalos são abertos Caso o intervalo de interesse de uma função seja aberto, ela também pode ou não ter extremos absolutos. Dada uma função f no intervalo aberto (a, b), pode-se tirar algumas conclusões de seu comportamento, conforme a Figura 5. Problemas de maximização e minimização6 Figura 5. Extremos absolutos para o caso de intervalo aberto. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 270). Extremos absolutos quando a função contiver um extremo relativo Podemos afirmar que, se a função contiver um extremo relativo em um inter- valo finito ou infinito, esse extremo relativo necessariamente será um extremo absoluto, conforme o teorema (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014, p. 271): Suponha que f seja contínua e tenha exatamente um extremo relativo em um intervalo, digamos em x0. 1. Se f tiver um mínimo relativo em x0, então f(x0) é o valor mínimo absoluto de f no intervalo. 2. Se f tiver um máximo relativo em x0, então f(x0) é o valor máximo absoluto de f no intervalo. Você sabe a diferença entre extremo relativo e extremo absoluto? Os máximos e mínimos relativos são pontos de máximo e mínimo que ocorrem em um intervalo. Ou seja, x0 é máximo relativo se houver um intervalo aberto contendo x0, no qual f(x0) ≥ f(x) para cada x no intervalo. E x0 é mínimo relativo se houver um intervalo aberto contendo x0, no qual f(x0) ≤ f(x) para cada x no intervalo. Lembre-se de que, nesses pontos, a derivada é zero ou não existe. Já os extremos absolutos são os máximos absolutos ou mínimos absolutos. Ou seja, dentre os pontos de extremo relativo e de extremo de intervalo, o máximo absoluto é aquele cujo valor da função é o maior dentre todos, enquanto o mínimo absoluto é aquele cujo valor da função é o menor dentre todos. 7Problemas de maximização e minimização Problemas de otimização Os métodos apresentados neste capítulo podem ser usados para resolver pro- blemas de otimização, que são aqueles em que se pretende maximizar ou minimizar alguma função contínua em certo intervalo. Problema 1 Suponha que você está construindo um jardim retangular. Sevocê dispuser apenas de 100 m de cerca, qual é a maior área possível? Como o jardim é retangular, ele possui 4 lados com comprimentos x e y em metros, como mostrado na Figura 6. Figura 6. Esquema de um jardim retangular, com lados x e y. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 275). Como você dispõe apenas de 100 m de cerca, o seu perímetro será: 2x + 2y = 100 Já a área do jardim, em m2, pode ser escrita como: A = x y Problemas de maximização e minimização8 As duas equações estão relacionadas. Podemos isolar uma variável em uma delas e substituir na outra. Assim, isolaremos a variável y na equação do perímetro, ficando com: Agora, substituiremos na equação da área: A = x(50 – x) A = 50x – x2 A variável x é um comprimento e não pode ser negativa. O perímetro também não deve ser ultrapassado, e, assim os dois lados que medem x não devem ultrapassar 100 m. Assim, a variável x deve satisfazer: 0 ≤ x ≤ 50 Agora, o problema se resume em achar o máximo absoluto de A no intervalo [0, 50] de x. Assim, vamos derivar a área A em relação a x: Igualando a derivada a zero, encontramos: 9Problemas de maximização e minimização Portanto, o ponto de máximo absoluto ocorrerá em algum dos extremos ou em x = 25. Vamos checar cada um deles: � x = 0 → A = 50 ∙ 0 – 02 = 0 � x = 25 → A = 50 ∙ 25 – 252 = 1.250 – 625 = 625 � x = 50 → A = 50 ∙ 50 – 502 = 2.500 – 2.500 = 0 Pode-se ver que a área máxima será 625 m2 e ocorre quando x = 25 m. Você pode verificar esse resultado, plotando a função área (Figura 7). Figura 7. Gráfico da função da área no intervalo [0, 50]. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 276). Para encontrarmos o valor da variável y, basta substituir o valor de x na equação do perímetro, ou o valor da área máxima na equação da área. Assim, temos que: y = 50 – x = 50 – 25 = 25 Ou seja, podemos concluir que a maior área ocorre quando se tem um quadrado de lado 25. Problemas de maximização e minimização10 A partir do exemplo que você acabou de ver, pode-se definir alguns passos para resolver problemas de otimização (ANTON; BIVENS; DAVIS, 2014): 1. faça uma figura apropriada e identifique as quantidades relevantes ao problema; 2. obtenha uma fórmula para a quantidade a ser maximizada ou minimizada; 3. usando as condições dadas no problema para eliminar variáveis, ex- presse a quantidade a ser maximizada ou minimizada como função de uma variável; 4. encontre o intervalo de valores possíveis para essa variável a partir das restrições físicas do problema. Às vezes, os intervalos considerados nos problemas de otimização não necessariamente serão fechados. Problema 2 Suponha que você esteja planejando confeccionar uma lata, cujo volume interno seja de 1 litro (1.000 cm3). Qual é a altura e o raio da lata para minimizar a quantidade de material utilizado em sua confecção? Vamos supor que o material utilizado seja exatamente igual à área de su- perfície do cilindro. A lata consiste em dois discos circulares e um retângulo lateral, como mostrado na Figura 8. Figura 8. Lata cilíndrica e suas áreas das bases e lateral. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 279). 11Problemas de maximização e minimização As áreas das bases serão dadas por π r2, e a área lateral por 2 π r h. A área total de sua superfície será: S =2 π r2 + 2 π r h A área depende de duas variáveis, r e h. Assim, temos de encontrar alguma relação para eliminar uma delas. Outra informação que temos do problema é o volume, dado por: V = π r2 h Assim, temos que: Agora, podemos substituir a equação de h na equação da área. Assim, ficamos com: O problema passa a se resumir em encontrar o mínimo absoluto da função S no intervalo (0, +∞) de r. Analisando os limites do intervalo, obtemos que: Problemas de maximização e minimização12 Como visto na Figura 5, é esperado que S tenha um mínimo em (0, +∞). Então, derivaremos S em relação a r e igualaremos a zero para encontrar o mínimo. Assim: Igualando a zero, obtemos: Substituindo na equação de S, encontramos a área: 13Problemas de maximização e minimização Já o valor de h será: Veja o plote de S por r na Figura 9, a seguir. Figura 9. Plote de S por r mostrando o ponto de mínimo. Fonte: Anton, Bivens e Davis (2014, p. 280). ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. Referência Problemas de maximização e minimização14