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Direito Tributário Internacional: um editorial sobre equilíbrio, soberania e cooperação
O Direito Tributário Internacional deixou de ser um tema restrito a gabinetes de especialistas e passou a integrar o debate público por um motivo simples: gira em torno do dinheiro que financia escolas, hospitais e infraestrutura. Em um mundo globalizado, onde capitais, serviços digitais e cadeias produtivas cruzam fronteiras com velocidade, as regras que definem quem pode tributar o quê e onde tornaram-se centrais para a justiça fiscal e para a competitividade dos países.
Do ponto de vista jornalístico, é preciso registrar algumas realidades incontornáveis. A erosão das bases tributárias por práticas de elisão e evasão fiscal — usando estruturas societárias complexas, preços de transferência artificiais ou jurisdições de baixa tributação — tem minado receitas públicas, notadamente em economias emergentes. Ao mesmo tempo, iniciativas multilaterais, como o projeto BEPS (Base Erosion and Profit Shifting) e as propostas conhecidas como Pilar Um e Pilar Dois, da OCDE, buscam redesenhar a alocação de direitos tributários entre países e estabelecer um piso mínimo de tributação para multinacionais. Essas reformas não são apenas técnicas: são políticas, econômicas e, sobretudo, morais.
A persuasão entra aqui como convite à ação: não podemos terceirizar a defesa do interesse público à passividade institucional. Estados precisam combinar rigor técnico com diplomacia fiscal. Para países como o Brasil, o desafio é duplo. Por um lado, é imprescindível atrair investimento estrangeiro direto (IED) sem abrir mão da capacidade de tributar lucros efetivamente gerados em seu território. Por outro, é necessário proteger a arrecadação contra manobras que empobrecem o orçamento público e ampliam desigualdades.
Há caminhos concretos. Primeiro, modernizar a administração tributária com tecnologia e transparência. Sistemas digitais de rastreamento de operações e intercâmbio automático de informações (como o padrão CRS) aumentam a capacidade de detectar fluxos suspeitos. Segundo, revisar acordos internacionais: tratados mal calibrados podem oferecer brechas para evasão. A adoção do Instrumento Multilateral e a renegociação de cláusulas antiquadas que permitem “treaty shopping” devem entrar na pauta. Terceiro, fortalecer regras de preços de transferência e exigir substância econômica nas estruturas empresariais, para que benefícios fiscais não sejam concedidos só na forma.
É também necessário posicionamento estratégico nas negociações globais. A arquitetura tributária internacional tradicionalmente refletiu interesses das economias mais ricas. Economias em desenvolvimento precisam ganhar voz ativa em fóruns multilaterais — no G20, na OCDE, e especialmente em instâncias como o Comitê de Tributação da ONU — para que soluções considerem capacidades administrativas e necessidades de financiamento público. O Pilar Dois, que institui um imposto mínimo global, oferece oportunidades e riscos: por um lado, reduz a corrida para o fundo do poço; por outro, pode reduzir a margem de manobra para políticas fiscais progressivas se implementado sem salvaguardas para países de menor renda.
No plano doméstico, o Brasil deve adotar uma postura proativa. Implementar regras antiabuso robustas, aprimorar troca de informações e investir em formação técnica são prioridades. Ao mesmo tempo, a política fiscal deve ser pensada de forma integrada — reduzir incentivos fiscais ineficazes, revisar regimes especiais que distorcem concorrência e promover transparência para atrair capital de qualidade, não faturamento inflado por planejamento agressivo.
Uma narrativa frequentemente negligenciada é a da equidade internacional. Quando lucros são deslocados artificialmente para paraísos fiscais, a conta é paga por serviços públicos escassos e por contribuintes que não têm as mesmas oportunidades de planejar sua carga tributária. Defender o princípio de que quem lucra em um país deve contribuir para seus serviços é, enfim, um argumento de senso comum que precisa tornar-se lei internacional operativa.
Finalmente, cabe um alerta: não há solução única. A complexidade do comércio digital, a velocidade das inovações corporativas e as diferenças de capacidade entre administrações tributárias exigem pluralidade de instrumentos — convenções, protocolos multilaterais, normas unilaterais bem calibradas e cooperação técnica. A alternativa é continuar a viver em um sistema onde o direito tributário internacional é sinônimo de assimetria e perda de legitimidade do próprio Estado.
Portanto, a urgência é dupla: reformar as regras globais para torná-las mais justas e fortalecer, internamente, a capacidade de aplicar normas complexas. Só assim poderemos garantir que a globalização não signifique transferência sistemática de riqueza do setor público para estruturas opacas, e que o Direito Tributário Internacional retome seu papel de instrumento de justiça fiscal e de sustentação do pacto social.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
1) O que é Direito Tributário Internacional?
R: Conjunto de normas e práticas que regulam conflitos de competência fiscal entre países, alocação de direitos de tributação e cooperação para evitar evasão e dupla tributação.
2) Como as multinacionais usam estratégias para reduzir tributos?
R: Via preços de transferência manipulados, uso de subsidiárias em jurisdições de baixa tributação, empréstimos intra-grupo e estruturas híbridas que geram deduções sem tributação correspondente.
3) O que representam Pilar Um e Pilar Dois?
R: Iniciativas multilaterais da OCDE para redistribuir direitos de tributação sobre lucros digitais/intelectuais (Pilar Um) e estabelecer um imposto mínimo global para multinacionais (Pilar Dois).
4) Países em desenvolvimento perdem com essas reformas?
R: Podem perder se não participarem ativamente; mas também ganham com regras que limitem erosão da base tributária — a chave é negociar salvaguardas e assistência técnica.
5) O que um país como o Brasil deve priorizar?
R: Fortalecer administração tributária digital, revisar tratados e regimes fiscais preferenciais, implementar regras antiabuso e participar ativamente de negociações multilaterais.

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