Prévia do material em texto
294 FLORISBAL DE SOUZA CURSO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 295 Média; o mar livre, por Grotius, no século XVII; e o alcance de um canhão, cípio, segundo o qual os navios estrangeiros não podem ser submetidos a estimado em 3 milhas, por Bynkershoek, a partir do século XVIII. maiores rigores que os nacionais, até porque tal direito se destina a evitar a Na segunda metade do século XX vários países da América Latina, propagação de moléstias, que, evidentemente, podem atingir indistinta- como Chile, Peru, Equador, Costa Rica, Panamá, Honduras, El Salvador, mente pessoas de qualquer nacionalidade.⁶ As demais leis do Estado sobre Argentina e Uruguai, declararam unilateralmente seu mar territorial com o mar territorial são as aduaneiras e as fiscais. largura de 200 milhas, ou seja, 370 quilômetros aproximadamente. Bra- Quando a distância entre países for inferior a 24 milhas o mar territo- sil, até então com mar territorial de três milhas, através do Decreto-Lei rial será igualmente dividido entre eles. A medida da extensão desse mar se 1.098, de 25 de março de 1970, adotou a nova extensão, justificada como inicia na linha de base, ou seja, na linha de maré baixa no litoral do Estado. uma tendência da região. Uma gradativa aceitação das 12 milhas acabou por estabelecer esse 18.4. Zona Contígua limite para o mar territorial, pela Convenção de 1982, sendo considerado hoje um princípio de Direito Internacional Público, oponível erga omnes.⁴ Entende-se como zona a área a partir do limite exterior do Brasil incorporou o parâmetro, com a Lei 8.617, de 4 de janeiro de mar territorial, tendo sua largura máxima, estabelecida na Convenção da 1993, faixa sobre a qual se estabelece a soberania brasileira, não apenas so- Jamaica, 24 milhas, incluída a extensão do mar territorial, com o que a zona bre o mar territorial, como em relação ao espaço aéreo sobrejacente e ao leito contígua, propriamente dita, não pode ultrapassar as 12 milhas. Brasil, e subsolo do mar. pelo mesmo dispositivo legal de 1993, inseriu-se no paradigma internacio- Fica preservado, nessa área, aos navios de qualquer nacionalidade, se- nal, podendo exercer fiscalização, visando a impedir infrações às leis e aos guindo os princípios da mesma Convenção, o direito de passagem inocente regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração e sanitários, no território do ou inofensiva. Trata-se de passagem contínua e rápida, não-prejudicial à paz, país e em seu mar territorial. à boa ordem e à segurança do Estado costeiro, que pode nela estabelecer rota Alerta Adherbal MEIRA MATTOS que a zona contígua não deve ser marítima obrigatória. confundida com zona de segurança (faixa marítima adjacente ao mar terri- Lembra Celso D. de ALBUQUERQUE MELLO que alguns autores torial, criada durante a II Guerra Mundial, com cerca de 300 milhas, para distinguem a passagem inocente (tendo em vista a intenção) e a passagem proteção de alguns países americanos) e a zona fechada (criada por Estados inofensiva (sem conseqüências danosas para o Estado costeiro): o trânsito fortes, no Pacífico, para experimentos e explosões nucleares, chegando a de um navio nuclear pode ser inocente, mas não inofensivo.⁵ Inobstante tão 400 milhas quadradas, impedindo a pesca e contaminando a água do mar).⁷ oportuno registro, consideramos, neste estudo, terem as duas expressões o mesmo sentido. Recorde-se, outrossim, que não existe, em princípio, direi- 18.5. Zona Econômica Exclusiva to de passagem inocente através das águas interiores. Em casos de acidente de navegação, força maior ou perigo iminente Lembra MEIRA MATTOS que a noção de zona econômica exclusiva assegura-se, por outro lado, a todo navio, mesmo de guerra, o direito de pa- surgiu, com o nome de mar patrimonial, em 1972, na Declaração de São rar e ancorar. A passagem inocente ou inofensiva também é identificada Domingos.⁸ Ela complementa o mar territorial e a zona contígua, estando como trânsito inócuo, passagem inócua e passagem inóxia. estabelecida, pela Convenção da Jamaica em 200 milhas. Avança, portan- A soberania do Estado sobre seu mar territorial lhe assegura direito to, 188 milhas após o limite exterior do mar territorial, pois se sobrepõe à exclusivo de pesca, sem prejuízo de permissão a outros países, bem como o zona contígua. MT ZC de estabelecer as regras sanitárias nesse mar. Sobre tais regras há um prin- 200 12 12 4 PASTOR RIDRUEJO, J. Op. cit., 352. 6 ALBUQUERQUE MELLO, C.D. Op. cit., p. 1.119. 5 ALBUQUERQUE MELLO, Celso D. de. Curso de Direito Internacional Público, 7 MEIRA MATTOS, Adherbal. Novo Direito do Mar, 24 1.123. 8 MEIRA MATTOS, A. Op. cit., p. 28.