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DISCUSSAO_FISIOPATOLOGIA

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DISCUSSÃO OPIÁCEOS-FISIOPATOLOGIA 
 
A morfina, um opioide supressor do sistema nervoso central (SNC), é amplamente 
empregada no manejo da dor intensa, sobretudo em contextos oncológicos e paliativos. No 
entanto, seu uso não é isento de riscos, especialmente em pacientes com condições 
cardiovasculares críticas. Dois estudos de alto nível de evidência demonstram a dualidade 
da morfina conforme o perfil clínico do paciente. 
A revisão sistemática publicada na Cochrane Database of Systematic Reviews, intitulada 
"Oral morphine for cancer pain", evidencia a eficácia da morfina oral – tanto de liberação 
imediata quanto prolongada – no controle da dor moderada a intensa em pacientes com 
câncer. A análise de 62 estudos envolvendo 4.241 participantes demonstrou que mais de 
90% relataram alívio significativo da dor. Os efeitos colaterais mais frequentes foram 
constipação, náusea, sonolência, vômitos e retenção urinária. Ainda que presentes, esses 
eventos adversos foram considerados manejáveis e ocasionaram a descontinuação do 
tratamento em apenas cerca de 6% dos casos. Do ponto de vista farmacológico, as 
interações medicamentosas mais relevantes envolvem fármacos depressores centrais 
(como benzodiazepínicos, álcool e barbitúricos), que podem potencializar a sedação e a 
depressão respiratória. Além disso, inibidores do citocromo P450, especialmente do 
CYP3A4, podem aumentar a biodisponibilidade da morfina, intensificando seus efeitos 
adversos. Assim, é recomendado o monitoramento contínuo e a titulação cuidadosa da 
dose para garantir segurança e eficácia, principalmente em pacientes polimedicados. 
Quando bem administrada, a morfina contribui de forma significativa para a melhora do 
prognóstico funcional e do conforto em pacientes oncológicos, sem prejuízo à sobrevida. 
Em contraste, o artigo "Harmful impact of morphine use in acute heart failure", publicado 
no Journal of Thoracic Disease, traz evidências sobre os riscos do uso da morfina em 
pacientes com insuficiência cardíaca aguda (ICA). Estudos observacionais citados na 
publicação indicam associação entre a administração de morfina e aumento da mortalidade 
em 30 dias, maior necessidade de ventilação mecânica invasiva e internações prolongadas 
em unidades de terapia intensiva. A fisiopatologia por trás desses achados está relacionada 
à ação depressora da morfina sobre o centro respiratório, além de seus efeitos 
vasodilatadores que podem induzir hipotensão, bradicardia e depressão miocárdica. Esses 
efeitos são particularmente deletérios em pacientes com comprometimento hemodinâmico, 
como ocorre na ICA. As interações medicamentosas são especialmente críticas nesse 
contexto: a associação da morfina com diuréticos de alça pode levar a hipotensão severa, 
enquanto seu uso concomitante com betabloqueadores e digitálicos potencializa o risco de 
bradicardia extrema. Além disso, a combinação com benzodiazepínicos pode resultar em 
depressão respiratória grave. Diante disso, as diretrizes mais recentes de cardiologia 
recomendam cautela extrema, ou mesmo a evitação do uso de opioides como a morfina em 
pacientes com insuficiência cardíaca descompensada, sugerindo, quando necessário, o uso 
de alternativas menos depressoras do ponto de vista respiratório. 
Portanto, observa-se que a morfina possui indicações muito bem estabelecidas, como no 
controle da dor oncológica, onde seu perfil de risco é aceitável frente aos benefícios 
proporcionados. Por outro lado, seu uso em cenários clínicos como a insuficiência cardíaca 
aguda representa um risco elevado, com potencial de piora do prognóstico e aumento da 
mortalidade. A decisão pelo uso de opioides deve, assim, ser individualizada, considerando 
cuidadosamente as comorbidades, potenciais interações medicamentosas, gravidade do 
quadro clínico e objetivo terapêutico. Em suma, a morfina exemplifica a necessidade da 
prática médica baseada em evidências e na avaliação criteriosa do risco-benefício em cada 
paciente. 
 
	DISCUSSÃO OPIÁCEOS-FISIOPATOLOGIA

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