Logo Passei Direto
Buscar
LiveAo vivo

30 - Teologia de Missões - IETB

User badge image
Lorena Silva

em

Ferramentas de estudo

Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... 3 
TEOLOGIA MISSIONÁRIA E UNIVERSALIDADE BÍBLICA ..................................................................................... 4 
TEOLOGIA MISSIONÁRIA E JESUS CRISTO ......................................................................................................... 9 
TEOLOGIA MISSIONÁRIA E A NATUREZA DE DEUS ......................................................................................... 20 
TEOLOGIA MISSIONÁRIA E O ANTIGO TESTAMENTO ..................................................................................... 33 
TEOLOGIA MISSIONÁRIA DO NOVO TESTAMENTO ........................................................................................ 53 
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................. 67 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 3 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
As missões cristãs fazem sentido apenas à luz de uma anormalidade ou emergência real e com a 
convicção de que uma resposta e um remédio para tal enfermidade estejam disponíveis. Portanto, dirijo-me, 
primeiramente, à enfermidade ou emergência que existe e que, de uma perspectiva histórica e eterna, exige 
uma atitude. A emergência é o fato do pecado no mundo que dominou e infestou a raça humana e que ameaça 
a própria existência da humanidade. Não seria necessário missões cristãs se o pecado não fosse uma séria 
realidade. Nem a doutrina da soteriologia faria sentido sem a presença e o horror do pecado. O pecado faz com 
que a salvação seja necessária e o pecado torna missões cristãs necessário. 
A Bíblia não fala claramente sobre a origem do pecado como tal. Mas não deixa dúvidas de que Satanás 
é o agente sobrenatural pelo qual o pecado e o mal penetram na criação de Deus, e o homem está incluído. 
Porém, a Bíblia não se equivoca quanto a certos aspectos do pecado em relação à humanidade: 
De acordo com a revelação, o pecado é errado não apenas devido à sua crueldade inerente e terríveis 
consequências no tempo e na eternidade, no homem e Universo, no natural, social, moral e reino espiritual, 
mas acima de tudo porque é cometido contra Deus. Deus é a medida de todo pecado. O pecado gera sua 
gravidade a partir do ser de Deus, contra quem é cometido. Aí se encontra sua gravidade, seu horror, sua 
profundidade, sua fatalidade. 
A unidade da raça humana e a universalidade do pecado são assumidos e afirmados nas Escrituras. A 
Bíblia é clara quanto a proposição, biografia e história, testemunha a universalidade e perpetuação do pecado, 
e a história humana é sua exposição mais completa e a demonstração mais convincente (Rm3.23; 5.12; 1.18— 
3.20). 
As consequências do pecado estão expostas em termos claros. O pecado é um mal inerente e, portanto, 
rompente, corruptor, poluente e degradante, e porta destruição e morte em sua natureza. Além disso, ele atrai 
a ira de Deus sobre o homem e o conduz à eterna separação de Deus, que é a segunda morte (At 28.27; Ef 2.2; 
4.18; Mt 13.15; Rm 8.7; 5.12; 6.21; Lc 16.19-31; Ap 20.11-15). 
O remédio para o pecado 
Porém, o homem ainda é humano. Como tal, lhe é deixada a capacidade e a consciência da necessidade 
de salvação, mas não a sabedoria para designar a salvação ou a força e a capacidade para buscar, ou alcançá-
la. Quanto à salvação, o homem depende de Deus, já que ele foi sua criação. Quanto a si mesmo, ele é fraco e 
desesperado. 
Em sua infinita sabedoria, Deus designou a salvação; em sua infinita graça e a um custo infinito, Deus 
concedeu a salvação através de Jesus Cristo, seu Filho unigênito; em seu poder infinito, Deus enviou o Espírito 
Santo para efetivar a salvação no indivíduo e na história; em sua infinita compaixão, Deus institucionalizou 
missão e missões primeiro através de Israel e agora através de sua igreja — para que a humanidade fraca e 
desesperada possa ouvir, conhecer e acreditar na boa notícia da infinita salvação de Deus para a humanidade. 
Essa, também, é a história do princípio de Gênesis 3 ao final de Apocalipse 20. 
Dessa forma, temos um paralelismo na porção pecado-salvação da Bíblia (Gn 3—Ap 20). Por outro 
lado, essa porção é o registro do fato e da perversidade do pecado operando na humanidade e da propensão 
para o pecado e depravação do homem que conscientemente, por sua própria vontade, cede ao pecado. Por 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 4 
 
outro lado, essa porção mostra a graça, fidelidade, o longo sofrimento e a adorável bondade de Deus para com 
a humanidade ao prover a salvação. 
O aspecto divino desse paralelismo é constituído na provisão da salvação em Cristo Jesus e na 
proclamação e efetivação da salvação de Deus provida para a humanidade. A primeira é exclusivamente 
intervenção divina. A última é confiada à igreja de Jesus Cristo. 
Tudo isso tornou-se necessário devido à perversidade do pecado como um mal presente e suas 
consequências contínua no tempo e na eternidade. 
 
TEOLOGIA MISSIONÁRIA E UNIVERSALIDADE BÍBLICA 
Antes de traçar a fundamental universalidade da intenção missionária na Bíblia, o significado dos 
termos deve ser esclarecido. 
O significado de universalidade 
O termo “universalidade” ao invés de “universalismo”. Isso deve ajudar a evitar um mal-entendido 
muito comum. A palavra “universalismo” em si não é uma palavra ruim. Seu uso, porém, tem sido 
grandemente restringido e distorcido na literatura moderna. Podemos definir universalismo como “a doutrina 
teológica de que todas as almas irão enfim encontrar a salvação com a graça de Deus”. Isto, é claro, é apenas 
uma definição que não precisa ser necessariamente normativa. 
Na moderna teologia filosófica e nos diálogos inter-religiosos, a palavra tem frequentemente sido usada 
para se referir ao reconhecimento de que Deus revelou-se em toda a história humana e particularmente em 
todas as religiões vivas. Pensa-se nisto como um universalismo revelador. Essa posição recusa o conceito 
teológico cristão de história da salvação, como está registrado no Antigo Testamento, em contraste com a 
história mundial geral ou secular. Essa posição também não admite uma distinção essencial entre revelação 
geral e secular. Devido à presença de tal revelação, nós somos informados de que todas as religiões 
testemunham do mesmo Deus e, consequentemente, temos o mesmo destino. Acredita-se que todas as religiões 
ofereçam a salvação em Deus aqui e no Céu, depois. 
Teólogos liberais e devotos filosóficos têm a firme convicção de que algumas religiões introduzem 
uma revelação mais completa e, portanto, oferecem um caminho que pode ser discernido mais facilmente. 
Porém, eles argumentam que nenhuma religião está totalmente desprovida do “caminho”. Esse tipo de 
universalismo da revelação e salvação é muito aceito hoje em dia e apela para a aprovação oficial e aceitação 
popular. Ele é formado por uma má aplicação de certas passagens da Bíblia. 
Deixemos os conceitos falsos, como os que foram expressos nos tipos de universalismo acima. Aqui, 
simplesmente veremos que a Bíblia rejeita categoricamente ambas as teorias. 
Devido a tais usos da palavra “universalismo”, vamos evitar a palavra e optado por usar palavras tais 
como “universalidade”, “vastidão”, “inclusão”, “intenção ampla” e palavras descritivas similares. 
No sentido bíblico, universalidade significa que o propósito de Deus é amplo ao invés de singular, 
incluindo toda a raça humana ao invés de ser nacional ou meramente individual. Esse termo alega que a 
promessa de Deus e a provisão da salvação incluem toda a humanidade e não apenas um “restante 
selecionado”. De acordo com esse uso, ele ensina que a provisão de salvação de Deus é para toda a humanidade 
e queé Espírito (Jo 4.24), é muito 
interessante. Pouco tempo depois, João acrescentou, através da revelação do Espírito Santo, que Deus também 
é luz e amor (1 Jo 1.5; 4.8,16). Não importa o que mais essas caracterizações misteriosas e profundas possam 
indicar, elas certamente implicam que Deus é um Deus amigo. Sua natureza interior não é anti-social. 
Enquanto que a Bíblia declara a “diversidade” de Deus — sua santidade — ela ensina com igual ênfase que 
Deus é um Deus de relacionamentos. Ele é o Deus vivo, não o absoluto impessoal de Aristóteles ou o Deus 
isolado do judaísmo recente. Ele tão pouco é o Brahma neutro do hinduísmo ou o deus ausente do deísmo. Ele 
é o Deus e o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó, o 
Deus de Moisés, o Deus de Israel. Ele é nosso Pai. “Porque sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, teu 
Salvador... o Criador de Israel, vosso Rei” (Is 43.3-15). Tais passagens podem ser grandemente multiplicadas 
tanto a partir do Antigo como do Novo Testamento. 
Deus não é um Deus de isolamento. Ele não está em algum lugar afastado da galáxia e silencioso, 
neutro, ou como um espectador. Ele não é um Deus retraído. Ele pode estar escondido, mas Ele não está 
ausente. Ele pode estar em silêncio, mas Ele não é indiferente. Ele pode não ser visto publicamente, mas Ele 
não está alheio. O fato de que Deus é Espírito, luz e amor elimina a ideia de auto repressão de Deus. Ele é o 
Deus da história; um Deus de relacionamentos. 
Deus é Espírito (Jo 4.24). Essas palavras significativas foram pronunciadas pelo eterno Filho de Deus 
que veio do seio do Pai para revelar Deus ao homem. Sem dúvida essas palavras foram proferidas com 
propósitos práticos e designadas para guiar o homem em louvor, ao invés de estimular especulação. Porém, 
todo verdadeiro louvor está baseado no próprio Deus. Dessa forma, as palavras profundamente práticas 
tornaram-se uma revelação sem precedentes do próprio Deus. 
As palavras de que Deus é Espírito o revelam como a realidade absoluta, original e sem limite que 
possui dentro de si todas as fontes de existência. Porém, Ele é Espírito, Ele se relaciona, Ele procura 
adoradores. Ele aceita o louvor oferecido em espírito e verdade, ou em realidade e honestidade. 
Sendo Espírito, Ele não é limitado por um corpo e restringido por limitações físicas. Ele é Espírito e, 
portanto, transcende todas as limitações. Imensidão, infinidade, onipotência, onipresença e onisciência não 
podem descrevê-lo totalmente. Ele é o Ilimitado e Amigo. Ele é o Deus de missões. 
Deus é luz, a Bíblia declara (1 Jo 1.5). Essa metáfora está repleta de significado, especialmente porque 
está relacionada a emanação de Deus e, consequentemente, a missões. 
Essa descrição, “Deus é luz”, sugere que Deus é inalcançável, infinito, imutável, perfeitamente santo, 
perfeitamente aberto, perfeitamente inviolável, perfeitamente verdadeiro. Ele é a fonte de toda luz, vida, 
bondade, segurança e alegria, assim como do poder de transformação para todas as coisas. Como luz, Ele é, 
também, fogo consumidor ou juiz severo. 
A mensagem missionária positiva que nos é transmitida pela metáfora torna-se evidente quando temos 
em mente que a luz é difusiva, penetrante, investigativa, que se espalha por todo o espaço e entra através de 
cada canto e ângulo. Ela cobre a terra inteira. A luz é apuração e renovação. A luz torna a vida e ação possíveis. 
Ela é uma fonte de alívio e felicidade para aqueles que caminham sob seu brilho e seus raios joviais. 
Já que Deus é luz, a escuridão não pode ocultá-lo, nem o reprimir. Ele, realmente, é o inimigo de toda 
escuridão e mal. Faz parte da natureza da luz abolir a escuridão. Nenhum corpo luminoso brilha para si mesmo; 
ao invés disso, ele irradia seu poder para os caminhos de outros. Através de seus raios ele se relaciona com 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 23 
 
outros de uma maneira generosa e benéfica, iluminando todos os que se utilizam dele. Deus como luz penetra 
o mundo (“Eu sou a luz do mundo” — Jo 8.12) para superar toda escuridão (“a luz resplandece nas trevas” — 
Jo 1.15), para destruir as obras do diabo (1 Jo 3.8), e para iluminar todo homem que vem ao mundo (Jo 1.9). 
A declaração dogmática e majestosa de que Deus é luz pesa direta e significativamente no plano e obra 
da redenção e, em consequência, na teologia missionária. Isso implica que é da natureza de Deus iluminar 
homens que estão nas trevas, refletindo luz sobre seus caminhos, que certamente levam à destruição. À medida 
que o homem se volta para a luz, pelo arrependimento e pela fé, Deus estabelece uma comunicação sem limites, 
e com um desígnio benéfico, a fim de apressar, avivar, purificar e glorificar o homem. O fato de que Deus é 
luz comunica esperança e sugere que Ele tomará algum tipo de providência para a salvação do homem que 
caiu e está nas trevas de acordo com seu próprio propósito e proporcional à sua própria natureza. Ele é o Deus 
que excede em brilho; Ele é o Deus de missões. 
Deus é amor (1 Jo 4.8,16). O fato está registrado na história e na Bíblia. As palavras “Deus é amor” 
são de uma importância única, formando uma descrição majestosa da natureza qualitativa de Deus e 
permanecendo inigualável em toda a literatura religiosa do mundo. Nós procuramos em vão por esse fato nos 
escritos sagrados dos sábios. O fato de que Deus é amor é revelado apenas na Bíblia. 
O amor divino é a qualidade dinâmica e estimulante pela qual Deus deixa a si mesmo e pela qual Ele 
se relaciona em toda a sua suficiência e beneficência com sua criação. Seu amor o motiva eternamente a se 
comunicar e participar com o objeto de seu relacionamento. 
 Amor é a qualidade de se auto doar, presente na natureza divina, que leva Deus a procurar o maior 
bem e a mais completa possessão de suas criaturas. O amor em sua forma mais plena é uma relação entre seres 
inteligentes, decentes e livres. O amor de Deus para com o homem busca despertar um amor como resposta 
do homem a Deus. Em sua forma final, o amor entre Deus e homem significará uma doação mútua, completa 
e ilimitada, e a posse mútua total. 
A Bíblia dá muita importância ao fato de que Deus é amor. É suficiente que nós observemos os 
seguintes aspectos: 
1. O amor é uma relação dinâmica e sociável. Deus amou o mundo de tal maneira; Deus prova o 
seu amor para conosco. Paulo descreve Deus como “aquele que me amou”. 
2. O amor é uma relação ativa e de sacrifício. “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu 
Filho unigênito”. “Distinguimos o amor de Deus, pois Ele renunciou sua vida por nós”. “Que 
me amou e se entregou”. “Deus prova seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, 
sendo nós ainda pecadores”. 
3. O amor é uma relação abrangente. “Deus amou o mundo de tal maneira”. “Porque Deus enviou 
o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo 
por ele”. 
4. O amor é uma relação que tem muitas forças. Ele se manifesta de acordo com o caráter, as 
condições e necessidades de seu objeto. 
Resumo: Ao olhar novamente as declarações qualitativas que dizem respeito ao ser de Deus — Espírito, 
luz, amor — as implicações missionárias são óbvias. Deus é um Deus sociável que, já que busca luz e amor, 
deseja a benevolência da humanidade e sempre procura comunicar-se com o homem. 
 
DEUS FILHO COMO MISSIONÁRIO 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 24 
 
Já falamos sobre a teologia missionária de nosso Senhor Jesus Cristo. Tal teologia era mais do que 
teoria; ela era mais do que a realização de uma comissão. Ela era mais do que algo que Ele tinha adquirido 
através de estudos das Escrituras ou das necessidades dos homens. Ela não era uma imposição ou aquisição; 
era a emanação de seu ser interior. O Filho compartilha com o Pai todos os aspectos da divindade. Ele, também, 
é “luz e amor”. Enquanto que por um lado Ele foi enviado pelo Pai, é igualmente verdadeque por outro lado 
Ele veio ao mundo de forma voluntária. Ele nos diz claramente: “Porque o Filho do homem também não veio 
para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10.45). Mais adiante, Ele 
testemunha que assim o fez voluntariamente: “Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a 
tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou, tenho poder para a dar, e poder para tornar 
a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai” (Jo 10.17,18) . 
De forma similar, Paulo assume a vinda de Cristo como sendo um ato voluntário quando escreve: 
“Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para 
que pela sua pobreza enriquecêsseis” (2 Co 8.9). Ele “que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação 
o ser igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos 
homens; e, achado na forma de homem, humilhou- se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de 
cruz” (Fp 2.6-8). 
Com o Pai, o Filho compartilhou o plano, a vontade e propósito de redenção. Seu próprio nome “Jesus” 
implica que Ele é um Salvador. Isso o identifica sem engano com o Jeová do Antigo Testamento, o Libertador 
de Israel. A salvação flui de sua pessoa assim como de sua posição e obra. Sua salvação é plena e perfeitamente 
manifestada e consumada no evento da encarnação, cruz e ressurreição. 
 
A CENTRALIZAÇÃO DO EVENTO DA ENCARNAÇÃO-CRUZ-RESSURREIÇÃO 
De acordo com o Novo Testamento, a vinda de Cristo, sua morte, ressurreição e ascensão, é o momento 
decisivo no plano de salvação de Deus. O evento da encarnação-cruz-ressurreição é crucial para a interpretação 
da história. Ele está no núcleo da revelação bíblica. Aqui, o Antigo e o Novo Testamento imergem e se 
dividem. Esse evento é importante para a divina história de salvação (Heilsgeschichte). Aqui, a promessa é 
substituída pela realização — a sombra abre caminho para a realidade, o pecado é julgado, o perdão é 
oferecido. Aqui, a ira é aplacada, a graça é entronizada, a morte é derrotada, a vida e a imortalidade vêm à luz. 
Nesse ponto, Satanás foi ferido mortalmente para que a vitória final, completa e gloriosa da justiça seja 
assegurada. Nesse evento, o reino das trevas sofreu um golpe mortal e o Reino de seu estimado Filho alcançou 
o triunfo. O evento da encarnação-cruz- ressurreição é a divisão cósmica que separa a escuridão da luz, o 
temporal do eterno, o carnal do espiritual, a morte da imortalidade, a perdição da vida, a condenação da 
presença de Deus e o inferno do céu. 
O evento da encarnação-cruz-ressurreição é a fonte e o fundamento da salvação de Deus, a única 
esperança para a humanidade. Ele é o ponto máximo do amor de Cristo pela humanidade. Ele é um espetáculo 
para o mundo, um obstáculo para os judeus, insensatez para os gregos, uma rocha de afronta à desobediência, 
e um mistério para os anjos. Ele é a manifestação da santidade e justiça de Deus em relação ao pecado, e a 
linguagem do amor de Deus em relação à culpa e desorientação do pecador. 
No evento da encarnação-cruz-ressurreição, santidade, justiça e amor se unem em bela harmonia para 
a glória de Deus e o bem-estar do homem, efetivando a salvação e tornando a propiciação, reconciliação, 
redenção, restauração e glorificação em divinas realidades e assegurando suas consequentes concretizações. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 25 
 
A salvação é uma realidade, porque Deus a quis. Ele a designou e realizou. Ele a efetua porque é o 
Deus eternamente amigável de missões. 
A salvação começa com a visita inesperada de Deus a Adão e Eva no jardim do Éden. Lá a proto-
evangelização foi anunciada (Gn 3.15). Desse ponto ela floresceu até que se concretizou na cruz do Calvário. 
Dessa forma, Deus, de maneira miraculosa, drástica e libertadora, entrou na história em Jesus Cristo. Deus 
enviou seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a lei. Cristo Jesus, a segunda pessoa do Deus trino e 
uno, tornou-se o grande Apóstolo de Deus, o Profeta, Sacerdote e Rei. Ele era, realmente, o enviado. 
O mistério da divindade-humanidade é um grande mistério; apesar disso, é uma realidade abençoada. 
Na encarnação, a eternidade invadiu o tempo e o espaço, e a divindade tornou-se humanidade. Deus estava em 
Cristo. Dessa forma, a efetivação da salvação eterna tornou-se um evento momentâneo no tempo e espaço. 
Não é intenção fazer uma introdução longa da salvação de Deus. Porém, queremos enfatizar certos 
princípios que se encontram por trás da visão bíblica de salvação. Eles formulam uma filosofia da salvação e 
constituem a subestrutura unificadora da doutrina bíblica da salvação. Como tais, eles demonstram de forma 
convincente o caráter missionário do cristianismo e inserem o evento cruz-ressurreição no âmago de todo 
esforço missionário. Ao mesmo tempo, eles demonstram para todos que o evento da encarnação-cruz-
ressurreição é um ato missionário crucial de Deus. 
 
O EVENTO DA ENCARNAÇÃO-CRUZ- RESSURREIÇÃO E SALVAÇÃO 
De acordo com o propósito eterno de Deus, Jesus Cristo entrou na história, nasceu da virgem Maria, 
assumiu uma verdadeira humanidade e, como o verdadeiro Deus-homem, tornou-se o Salvador do mundo. De 
acordo com as Escrituras, Ele foi feito pecado por nós, que não conhecíamos pecado, foi transformado por 
Deus em sabedoria, justiça, santificação e redenção para nós. Em obediência, “aniquilou-se a si mesmo... sendo 
obediente até a morte, e morte de cruz”. Sua vida imaculada e perfeita, sua morte vicária, ressurreição física 
vitoriosa e gloriosa exaltação ao lado direito de Deus redundaram em salvação para toda a humanidade. Dessa 
forma, a eterna salvação de Deus encontra-se em Cristo, não tendo sido prevista ou procurada pelo homem. É 
apenas de Deus, assim como é apenas em Cristo e pelo Espírito Santo. Nossa glorificação deve ser em Deus e 
não no homem. 
A salvação de Deus está enraizada na eternidade e é efetuada no tempo. A eternidade, com sua glória 
espiritual, plenitude e bênçãos está invadindo o tempo e a humanidade. A salvação do homem está aqui, agora. 
Deus, em Cristo Jesus e através do Espírito Santo, entra na vida humana. Ele está tomando posse de mim. A 
salvação não é simplesmente uma realidade objetiva a ser questionada, uma máxima teológica a ser debatida, 
uma teoria filosófica a ser especulada — nem meramente um assunto maravilhoso a ser pregado. Ela é uma 
realidade divina penetrando no ser humano para transformar sua disposição fundamental, purificá-lo do pecado 
e injustiça, libertá-lo da corrupção e escravidão, conectá-lo à natureza de Deus, recriá-lo à imagem de Deus, 
torná-lo um filho de Deus, um membro da casa de Deus, e qualificá-lo através do dom do Espírito Santo para 
viver uma vida de verdadeira disciplina em meio a um mundo quase destituído da consciência de Deus e 
eternidade. 
Não encontro nenhuma dificuldade no princípio de Paulo de que tudo é feito pela graça e a graça é para 
todos, que a graça nos conectou a Cristo, que a graça é moral em natureza e propósito e transforma-se em 
experiência e efeito. Dessa forma, estabelecemos os seguintes princípios: 
• A salvação é essencialmente divina na sua origem. 
• A salvação é essencialmente cristocêntrica. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 26 
 
• A salvação está essencialmente relacionada ao evento cruz-ressurreição. 
• A salvação é essencialmente gratuita. 
• A salvação é essencialmente uma unidade orgânica. 
• A salvação é essencialmente moral em conteúdo e propósito. 
• A salvação é essencialmente alcançada pela fé. 
• A salvação é intencionalmente universal. 
• A salvação é potencialmente cósmica. 
A Bíblia é muito explícita na demonstração e doutrina de que a salvação se origina com Deus, e tem 
sua fonte e iniciativa em Deus. Dessa maneira, Deus entrou no jardim do Éden sem ter sido convidado ou 
requisitado após o homem ter abandonado a amizadedivina e ter cedido às solicitações de Satanás para seguir 
o caminho do pecado, afastando-se de Deus. Ele tomou a iniciativa. A salvação e a renovação da amizade se 
originaram dEle. 
Observamos o mesmo princípio operando na vida e história de Abraão e, posteriormente, em Israel, 
em sua libertação do Egito. A iniciativa encontra-se em Deus. A salvação se originou no coração e no plano 
de Deus, e foi realizada pelo braço do Todo-poderoso. 
O princípio é demonstrado de maneira única pela vinda de Cristo a este mundo. Nenhum convite foi 
feito ao céu para enviar um libertador. Na verdade, João nos conta que Ele “estava no mundo, e o mundo foi 
feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1.10-11). 
Por outro lado, lemos que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito” (Jo 3.16). 
Novamente: “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda 
pecadores” (Rm 5.8). Tais declarações do Novo Testamento poderiam ser grandemente multiplicadas. 
No Antigo Testamento, Deus é conhecido como o “Deus da salvação”. O humanismo é uma filosofia 
separada da Bíblia que não encontra lugar na revelação. As declarações são numerosas e específicas e as 
demonstrações são convincentes quanto à salvação do homem se originar em Deus e nunca no homem. Dessa 
forma, toda a honra é de Deus. Ele é o Deus de nossa salvação. 
A salvação é essencialmente gratuita 
A salvação é gratuita. A Bíblia não tem nenhuma ilusão quanto à propensão do homem para o pecado, 
sua depravação natural e total, e sua condição obscurecida, escravizada e alienada; ela sustenta firmemente a 
doutrina do pecado, da culpa e desorientação original do homem. A Bíblia atribui toda honra e glória: ao Deus 
de toda misericórdia que propôs a salvação, ao Cordeiro que foi morto que conquistou a salvação, e ao Espírito 
Santo que opera graciosamente nos corações dos homens para aplicar a salvação e conduzir o homem a uma 
apropriação consciente da salvação. A Bíblia se opõe energicamente a todo humanismo e apoia com firmeza 
a doutrina da graça soberana de Deus em Cristo Jesus. Nós, humilde e alegremente, confessamos que a 
salvação pertence a Deus, que ela é um presente generoso de Deus, e que toda a glória deve ser de Deus. 
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, 
para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9). 
A salvação é essencialmente moral em conteúdo e propósito 
A maravilhosa graça de Deus não é meramente uma graça gratuita, mas, como o próprio Cristo, é uma 
graça divina e moral. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 27 
 
É a graça de Deus tomando parte na santidade e no amor, já que Deus é amor e luz. Ela é moral de 
natureza assim como em seu apelo ao homem. Ela não se impõe ao homem, nem existe sem essência e 
propósito moral. 
Sem abordar amplamente as várias implicações teológicas e filosóficas da doutrina da eleição e 
predestinação, prefiro apoiar uma posição moderada — que a fonte de toda a salvação é Deus, e ainda assim 
que Deus lida com o homem como um agente responsável e moral, fazendo com que ele responda 
voluntariamente à graça de Deus e dessa forma experimente consciente, voluntária e responsavelmente a 
salvação de Deus. 
A graça de Deus recebida consequentemente pela fé ilumina a mente do homem, volta a conduzir a 
vontade do homem e revitaliza a natureza do homem, divulga a natureza de Deus e a vida eterna, e lhe concede 
um propósito moral — o propósito de Deus. O homem passa a se identificar com Cristo não apenas em busca 
do resgate de sua alma, mas também devido ao propósito de Deus, que é expressado resumidamente por Paulo, 
pedindo para que nós possamos ser “conformes à imagem de seu Filho; a fim de que ele seja o primogênito 
entre muitos irmãos” (Rm 8.29). Isso, claro, implica a verdadeira disciplina e vida cristã que estão de acordo 
com o propósito missionário de Deus. 
A salvação é intencionalmente universal 
Apontando para Cristo, João exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 
1.29). Três termos aqui são de grande relevância: tira, pecado, Cordeiro de Deus. Eles apontam para a 
suficiência, eficiência e finalidade do sacrifício no Calvário. 
Tira. João nos diz que Cristo tira o pecado de toda a humanidade. Não deve ser permitido que nenhuma 
especulação teológica obscureça essa perspectiva e dificulte esse alvo. Cristo assumiu o pecado do mundo. 
Sem dúvida isso era uma realização direta do grande pronunciamento de Deus na proto-evangelização da raça 
humana em Gênesis 3.15. Desde então, nenhuma promessa direta de um sacrifício mundial foi feita. Dessa 
forma, apenas se Cristo se tornasse o Cordeiro de Deus para tirar o pecado da raça inteira, Gênesis 3.15 poderia 
ser cumprido. 
Paulo foi conduzido pelo Espírito Santo a escrever palavras de similar importância quando disse: “Deus 
estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2 Co 5.19). Da mesma maneira, João enfatizou: “Temos 
um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente 
pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2.1,2). O autor de Hebreus enfatizou o mesmo fato 
quando escreveu “que pela graça de Deus, provasse [Jesus] a morte por todos” (2.9). Realmente, “o Senhor 
fez recair sobre ele a iniquidade de todos nós” (Is 53.6). Portanto, Paulo declara: “Porque isto é bom e 
agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento 
da verdade” (1 Tm 2.3,4). Em palavras claras, o Novo Testamento ensina que Cristo morreu por todos os 
homens. Em Cristo, Deus proveu uma salvação em potencial para toda a humanidade e para todo homem. A 
finalidade da surpreendente morte é clara e enfática: Cristo morreu pelos impuros — sem exceção (Rm 5.6). 
Pecado. Há, porém, uma segunda e mais profunda ênfase em João 1.29. Cristo, o Cordeiro de Deus, 
tira o pecado do mundo. Vale a pena notar que a palavra “pecado” está no singular. Cristo não apenas expiou 
a culpa dos pecados, Ele liquidou efetivamente o pecado, a raiz e o princípio do pecado. Dessa forma, Ele, que 
desconhecia todo pecado, tornou-se pecado por nós. O imaculado tornou-se pecado pela humanidade. Aqui há 
mais do que uma substituição matemática. Nunca iremos entender plenamente a profundidade dessa passagem. 
Ela nos conduz ao mistério da identificação e encontro de Cristo não apenas com os pecados crescentes da 
humanidade culpada e maculada, mas com o próprio princípio do pecado-morte. A fim de realizar isso de 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 28 
 
maneira efetiva e triunfante, Cristo teve que se identificar com o pecado e entrar na câmara da morte para 
derrotar a morte. Assim, Ele destruiu as obras do diabo (1 Jo 3.8). Através da morte Ele aniquilou “o que tinha 
o império da morte, isto é, o diabo” (Hb 2.14). Só assim Ele poderia tornar-se o Libertador do pecado, medo 
e morte. 
O princípio do pecado-morte é único. Ele constitui uma unidade que impregna toda a humanidade, 
unindo a raça humana em uma escravidão e culpa comum. Dessa forma, todos nós somos pecadores. Devido 
a isso, a morte era infligida a todos os homens, pois todos haviam pecado. Essa é a deprimente realidade. A 
boa nova, porém, é que a contra-ofensiva de Cristo na morte superou o princípio do pecado- morte e libertou 
a humanidade potencialmente. “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para 
condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de 
vida” (Rm 5.18). Dessa maneira, a culpa é potencialmente liquidada, a mácula é retirada, o poder é eliminado, 
o princípio do pecado-morte é destruído, e Satanás é derrotado. 
Cordeiro de Deus. Ao retomar João 1.29, percebemos uma terceira ênfase. João se refere a Cristo como 
o Cordeiro de Deus.Um Cordeiro sacrificial é provido por Deus na pessoa do Filho de Deus. Esse é um fato 
de grande consequência. A salvação divina não é fornecida de acordo com uma necessidade que pode ser 
medida, pois o pecado não é a medida da redenção. Ao invés disso, a salvação divina é proporcional ao 
sacrifício oferecido. Um sacrifício divino e infinito obtém uma salvação divina e infinita; infinita em termos 
de qualidade e duração, mas também infinita em termos de potencial no que toca ao homem e ao universo (ver 
Rm 8.19-21; Cl 1.9,20; Ap 21.22). A altura e profundidade, a largura e extensão da salvação divina podem ser 
medidas pelas próprias medidas divinas. Dessa forma, é nos concedida uma salvação “de acordo com tuas 
riquezas na glória”. 
Esse fato por si só estabelece a suficiência total da salvação de Deus para toda a humanidade em todas 
as épocas. Assim, ela é conhecida como uma “eterna redenção” (Hb 9.12) fornecendo uma “herança eterna” 
(Hb 9.15). O sacrifício do Cordeiro de Deus é tão suficiente quanto o pecado de Adão foi eficiente em 
corromper e afetar toda a humanidade. Esse é o argumento de Paulo em Romanos 5.12-21. Seu “muito mais” 
é importante, e sua “abundância da graça” é conclusiva. Portanto, seu argumento é declarado de maneira 
sucinta na conclusão: “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para 
condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de 
vida” (Rm 5.18). 
A grandeza do sacrifício, contudo, também garante sua finalidade. Essa é a forte e religiosa polêmica 
do livro de Hebreus. O “uma vez” nesse livro é conclusivo. Nunca mais um sacrifício será necessário; nem 
outro sacrifício será aceito. A finalidade é absoluta em termos de tempo e espaço (ver Hb 7.27; 9.12,26-28; 
10.2,10). 
Uma eterna salvação foi provida com potencial suficiente para salvar tudo o que é passível de salvação 
nos termos divinamente ordenados. A salvação disponível é proporcional a Ele, que a proveu à humanidade. 
A salvação é potencialmente cósmica 
Que a criação não está em um estado de redenção fica evidente pelo fato de que qualquer bem que se 
originar dela deve ser fruto do trabalho árduo do homem. Isso também fica evidente pelo “mal natural” que 
este cosmos experimenta. Todos nós estamos familiarizados com as devastações resultantes de tais 
sublevações como terremotos, inundações, tufões, tornados, erupções vulcânicas e outros fenômenos. A terra 
está repleta de inumeráveis fósseis que foram soterrados nos processos de tais disfunções. Novamente, 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 29 
 
percebemos a tendência predadora no mundo animal e os problemas enfrentados devido a pragas de insetos. 
A natureza parece estar contra si mesma e contra o homem. 
Nós, naturalmente, perguntamos por quê. De onde veio esse mal natural sobre um mundo que era bom 
quando veio da mão do Criador? O mal natural é o resultado da evolução incompleta que este Universo 
experimenta a caminho da maturidade, ou é o resultado do pecado e, dessa forma, uma maldição que recaiu 
sobre a natureza no curso da história? 
A Bíblia é específica ao relacionar todo mal ao pecado. Sem entrar em uma discussão sobre a “teoria 
do vazio”, que pode estar implicada em Gênesis 1.2, Gênesis 3 enfatiza que a queda do homem também 
envolvia a “queda da terra”. A maldição sobre o homem se estende à terra que ele habita. 
Isso torna-se uma premissa básica por toda a Bíblia. É à luz dessa terrível consequência do pecado que 
Isaías antecipa “novos céus e nova terra” (Is 65.17). Nosso Senhor fala da “regeneração” quando o Filho de 
Deus se sentar no trono de sua glória (Mt 19.28). 
Romanos 8 é uma introdução clássica dessa questão. Paulo, por inspiração do Espírito Santo, faz uma 
interpretação espiritual do mal natural neste cosmos com suas angústias e esperanças. Ele ensina que a criação 
está sujeita à vaidade ao perder sua glória, seu objetivo e propósito originais; que tal sujeição não ocorreu 
devido a falhas inerentes à criação, mas devido a um ato de Deus; que a criação hoje está em um estado de 
imperfeição, e devido a isso ela está sofrendo com erupções e convulsões; que a criação está aguardando 
esperançosamente pela manifestação dos filhos de Deus para experimentar sua liberdade e salvação. 
Em uma visão beatífica, João viu a realização dessas previsões e as descreveu em Apocalipse 21—22. 
Aqui estão os novos céus, a nova terra, a Nova Jerusalém, o paraíso restaurado. 
Porém, no centro desse cosmos restaurado está o Cordeiro. Como tal, Cristo é mencionado não menos 
do que sete vezes nesses dois capítulos (21.9,14,22,23,27; 22.1,3), ou um total de 28 vezes no livro, como 
aquEle que torna as coisas novas. Isso em si nos diz que a renovação cósmica eventual está intimamente ligada 
ao Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Isso nos diz que a salvação pelo menos coexiste com a 
criação. A posição da máxima confirmou que a salvação é proporcional a Ele que a obtém. Esse é 
definitivamente o significado de Colossenses 1.20. É concedida a Paulo aqui uma visão de salvação cósmica 
que inclui a reconciliação da criação total. Um pensamento similar é expresso pelo mesmo apóstolo em Efésios 
1.10. Na última passagem, Paulo não vê tanto a salvação da criação quanto sua consumação. 
Uma grave falácia é frequentemente lida nessas majestosas passagens que anunciam a salvação 
cósmica. Está afirmado que tal salvação abrangente deve incluir Satanás, seus seguidores angélicos, e 
eventualmente toda a humanidade. Tal, porém, não é o ensinamento dos profetas ou dos apóstolos. Eles veem 
Satanás com seus anjos e seus seguidores ateus perecendo no lago ardente de fogo e enxofre para todo o 
sempre (Ap 19.20; 20.10,13), longe da presença de Deus (2 Ts 1.8,9). 
O fato das dimensões cósmicas da salvação, porém, é claro. A salvação finalmente será vitoriosa e seu 
triunfo completo. A Palavra nos assegura de que virá um tempo em que as palavras serão uma realidade quando 
Ele diz: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21.5) e “quando [Cristo] tiver entregue o reino a Deus, ao 
Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força. E, quando todas as coisas lhe 
estiverem sujeitas, então também o mesmo Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que 
Deus seja tudo em todos” (1 Co 15.24,28). Apenas dessa forma a salvação de Deus é proporcional a Ele, que 
a obteve e garantiu! 
A estrutura e filosofia básica de salvação revelam a natureza gentil do Deus trino e uno e a intenção 
missionária do evento cruz-ressurreição. Não há nada de humanista ou particularista sobre isso. Nem há 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 30 
 
limitações impostas quanto a isso que tornariam impossível para todos participar dela. A salvação revela o 
Deus trino e uno generoso no julgamento do pecado e na redenção da humanidade. Ela é Deus em benevolente 
operação e extremo sacrifício motivado pelo amor puro em nome de sua criação. Ela manifesta a natureza de 
Deus em seus níveis mais profundos. Deus, realmente, é o Deus da salvação assim como o Deus da criação. 
A salvação é dEle porque Ele é o que é. É o eterno “Eu sou” em operação pela humanidade. Já que Ele é 
“quem é”, Ele enviou seu Filho unigênito para que o mundo através dEle fosse salvo. Essa é a linguagem da 
salvação. 
 
DEUS ESPÍRITO SANTO COMO MISSIONÁRIO 
O Espírito Santo é a presença de Deus no mundo. Ele é um membro da Trindade que vai aonde lhe é 
destinado. Ao compartilhar com o Pai e o Filho os aspectos qualitativos de personalidade, divindade e 
infinitude, Ele, também, é “luz e amor”. Ainda assim, raramente a doutrina do Espírito Santo é relacionada a 
missões mundiais, embora esse pareça ser o principal ímpeto da operação do Espírito de acordo com as 
Escrituras. 
As duas principais emanações redentoras de Deus são a encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo e 
Pentecostes,a vinda do Espírito Santo. 
Há, porém, um ministério pré-pentecostes e um ministério pós-pentecostes do Espírito Santo. O 
ministério pré-pentecostes é totalmente exposto no Antigo Testamento e nos Evangelhos, enquanto que o 
ministério pós-pentecostes relaciona-se em particular a missões mundiais. Podemos falar disso como o 
ministério geral ou universal do Espírito Santo, tendo em mente que o Espírito Santo é a presença de Deus e 
é onipresente. Como tal, Ele está em operação no universo humano. 
Precisamos, portanto, distinguir não apenas pré-pentecostes de pós-pentecostes, mas também os 
ministérios cósmicos e humanitários do Espírito Santo dos ministérios soteriológicos. Os ministérios gerais 
são imediatos e devem-se à onipresença do Espírito Santo como Deus que é luz e amor e, portanto, um ser que 
se dá sem reservas. Os ministérios soteriológicos são indiretos, relacionados à Palavra, e são experimentados 
através da comunicação e aceitação do Evangelho de Deus. 
A falha em fazer essa distinção encontra-se por trás da atual confusão entre sagrado e secular, ou 
Heihgeschichte – história da salvação, e história do mundo. Ela também é a principal razão da atual mistura 
de religião reveladora soteriológica, como está registrado na Bíblia, e religiões étnico-culturais do mundo. 
Estas últimas são uma combinação de formulações da busca do homem pela racionalidade e realidade, ideias 
intuitivas, expressões de necessidades e aspirações religiosas, e ao mesmo tempo a criação de um escape da 
culpa e julgamento futuro, exigida pela consciência do homem. 
É, portanto, imperativo que distingamos as operações humanitárias, gerais, do Espírito Santo, que são 
mundiais, das funções soteriológicas, únicas, do Espírito Santo, que são limitadas e operadas através da 
comunicação e aceitação do Evangelho de Deus. As primeiras são soberanas e imediatas e geralmente são 
dadas como arranjos providenciais de Deus. Elas se preocupam principalmente com o bem-estar geral da 
humanidade e a preservação do homem numa condição em que possa vir a ser salvo. Dessa forma, elas são de 
extrema importância. 
Nesta seção, consideramos apenas os ministérios humanitários gerais do Espírito Santo, já que se 
relacionam diretamente a missões mundiais. 
 
O ESPÍRITO SANTO EM SUAS OPERAÇÕES MUNDIAIS 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 31 
 
Nos quatro retratos do Senhor Jesus Cristo oferecido pelos quatro Evangelhos, João apresenta um 
quadro do Cristo cósmico. Nós vimos Cristo em suas relações cósmicas, as quais, todavia, envolvem toda a 
humanidade. No cósmico, como nas relações divinas, nós não somos capazes de estabelecer divisões claras e 
precisas, pois elas escapam de nossa visão limitada e nossa compreensão obscurecida. Porém, os aspectos 
cósmicos estão fortemente presentes nesse Evangelho. 
João também nos apresenta a uma operação quádrupla no mundo que pode ser experimentada apenas 
no domínio do Espírito Santo. Quatro expressões específicas estão registradas no Evangelho de João: 1.9; 
6.45; 12.32; 16.7,8. Essas são quatro passagens universais que são mais negligenciadas do que esclarecidas, 
exceto a última. Sem dúvida elas tratam de verdades que podem ser compreendidas apenas com a leitura de 
toda a Escritura. Elas nos apresentam a aproximação positiva de Deus, com graça preveniente para com a 
humanidade, preservando o homem numa condição em que possa vir a ser salvo. 
O esforço do homem em sua condição decaída é patético. Sua condição e a atitude deformada, 
paralisada, arruinada, obscurecida, cega, dependente, temerosa, receosa, odiosa, covarde, intrigante fazem do 
homem a criatura mais miserável e perigosa de todas. É por isso que apenas o homem planeja golpes 
criminosos e conduz uma máfia secreta; é por isso que apenas o homem vive em meio a disputas sociais e 
raciais e ódio; é por isso que apenas o homem torna-se alcoólatra juntamente com todas as misérias que 
acompanham esse estado; é por isso que apenas o homem comete os crimes mais cruéis e premeditados; é por 
isso que apenas o homem opera uma máquina de guerra para o horror de todo ser inteligente e aflição de toda 
a humanidade. Paulo amplia essa lista em Romanos 1.18-32. 
Não se pode dizer que a humanidade deseje essas condições e fenômenos. Embora o homem fique 
intrigado e assustado com elas, ele permanece imutável, como se fosse comandado por alguma força 
incontrolável em direção a um destino desconhecido e desastroso. O homem é uma criação de Deus rebelada 
contra seu Criador, presa no abismo do pecado e destruição. 
Às vezes, parece que esse homem não teria como afundar ainda mais. Tal conclusão, porém, é o 
resultado de uma visão superficial do pecado em nível máximo de crueldade. A sociedade poderia ser 
incalculavelmente pior. 
A maldade atual não é nada além de um reflexo da imagem mutilada, deformada, desfigurada, 
distorcida, má orientada, maculada e cativa de Deus no homem. Sim, mesmo após a queda o homem continuou 
com suas características humanas; ele não é nem uma besta, nem um demônio. Ele é homem — não o homem 
ideal ou o homem que deveria ser — mas ainda humano e ainda criado à imagem de Deus. 
O homem permaneceu com suas características humanas e, como tal, uma criatura que pode ser salva. 
A profundidade da queda não alcançou o núcleo do ser humano. Ela não destruiu a imagem de Deus. Com 
frequência, a “total depravação” tem sido apresentada como se incluísse a total destruição da imagem de Deus. 
Tal interpretação, porém, não é bíblica. A total depravação afeta todo o ser do homem, inclusive sua razão, e 
perverte todos os seus pensamentos e caminhos, inclusive sua religião. Mas a queda não destruiu totalmente a 
imagem de Deus no homem, pois o homem estaria muito além de qualquer esperança, ajuda e salvação. São 
os “vestígios” da imagem de Deus no homem após a queda que são nossa esperança, do ponto de vista humano. 
O homem se afastou de Deus, alienando-se, mas com uma consciência de Deus. Isso se manifesta no 
fato de que, mesmo afastado, busca por Deus. O homem deixou o Éden com um profundo sentimento de 
pecado, culpa e mácula, um sentimento que se tornou uma consciência permanente de “errado” e culpa que se 
manifesta no medo e terror. O homem deixou o jardim com a morte e decadência operando nele, mas ainda 
assim com uma promessa de salvação que suscitou um anseio que nunca o deixou. Esse é o seu desígnio 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 32 
 
superior. O homem, que deixou sua antiga moradia com o julgamento de Deus sobre ele, está ciente de um 
julgamento futuro. Em consequência ele cria sistemas filosóficos para se justificar ou um pretexto religioso 
para se desculpar. O homem em conflito e contradição é uma terrível, e ainda assim esperançosa, realidade. 
Dessa forma, o homem não era um ser totalmente desamparado, obscurecido e morto (no sentido 
completo da palavra ao invés de um processo atual) quando retirou-se da presença de Deus. Havia uma 
depravação total, mas não uma destituição e deposição totais. 
Não se deve imaginar que os chamados pecados tenebrosos e a profunda degradação moral sejam os 
principais inimigos do homem e as principais táticas de Satanás. Seus ataques súbitos através da filosofia, arte 
e religião humana são meios muito mais poderosos e bem-sucedidos de desorientar e aprisionar o homem. 
O grande pecado da civilização é acreditar e comportar-se como se o homem fosse um fim em si 
mesmo; como se a humanidade existisse por seu próprio direito e pelo único propósito de sua própria glória e 
seu poder. Aqui se encontra a fonte da qual surgiram os horrores que tomaram conta de nossa infeliz 
civilização. O precioso direito e a santidade que estão sempre em perigo em um mundo de homens e mulheres 
pecaminosos estão perecendo nas mãos de uma humanidade onipotente. “Os que se esquecerem de Deus serão 
destruídos”, diz um texto bíblico. Desta raiz maléfica — a divinização do homem— surgiram três 
consequências terríveis: (1) a efetiva abolição do sobrenatural — o aprisionamento do homem em mero tempo 
e espaço; (2) a dissolução do espírito e dominação da matéria; (3) a degradação do homem, a transformação 
do indivíduo em um homem entre as massas. Esses três males, os quais são as consequências necessárias ao 
se tentar fazer do homem o centro da vida e do pensamento, em seu efeito total e combinado, estão ameaçando 
a humanidade com um perigo sem precedentes — que não é nada menos do que desumanizar a humanidade. 
Um estudo mais aplicado das quatro passagens no Evangelho de João referente ao que foi citado acima 
e à condição existencial do homem quando se afastou de Deus e do Jardim do Éden, mostrará a relação das 
tentativas fatais de Satanás e das gloriosas operações do Espírito Santo de acordo com as passagens do 
Evangelho de João. 
De João 1.9, o Deus trino e uno não permite que o homem caia nas trevas e na escuridão total, e nem 
Ele permite que a consciência de Deus seja completamente apagada da alma do homem; de João 16.7,8, 
aprendo que a infinita e preveniente graça de Deus não permite que a humanidade alcance um nível em que a 
consciência de pecado e culpa seja totalmente extinta ou reduzida ao ponto de poder ser recuperada novamente; 
de João 12.32, o Senhor em graça e misericórdia não permite que a humanidade se engane ao ponto de que o 
anseio pela salvação ou seja completamente satisfeito por falsas práticas religiosas, ou a alma humana se 
degrade tanto que o anseio pela salvação não possa ser reacendido pela pregação do Evangelho de Jesus Cristo; 
de João 6.45 o homem permanece em uma condição de busca, pois há um ensinamento universal, embora 
oculto, ocorrendo, do qual o homem nem mesmo está ciente. 
Temos aqui uma duplicação da experiência de Gênesis 1.2. O homem caiu em um abismo de caos, 
escuridão e vazio, desesperado e totalmente indefeso. Mas o Espírito de Deus está pairando sobre a alma do 
homem. 
A esperança do homem de permanecer em um estado do qual possa ser salvo baseia-se em dois fatos: 
primeiro, na incapacidade do pecado histórico de destruir a imagem de Deus no homem; segundo, na operação 
gloriosa, preveniente e universal do Espírito Santo para frustrar as tentativas e os ataques violentos de Satanás, 
que procura apagar todos os traços da consciência de Deus e do pecado, do anseio do homem pela salvação e 
busca da realidade. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 33 
 
Esse ministério do Espírito Santo no mundo, porém, relaciona-se unicamente a missões. O Espírito 
Santo não apenas preserva o mundo como um campo missionário; Ele também cria períodos de alto potencial 
e pessoas responsáveis. Na verdade, é a intensificação das operações gerais do Espírito Santo juntamente com 
o que foi citado acima que estão sempre evidentes em áreas de alto potencial. A alta potencialidade, de fato, é 
principalmente o resultado da intensificação das gloriosas operações do Espírito Santo no domínio da natureza 
religiosa do homem. Fatores culturais podem acentuar e/ou colaborar grandemente nessa questão; mas sem 
um impulso especial do Espírito Santo, nenhuma condição ou movimento cultural poderão gerar períodos ou 
pessoas com um potencial de alta conversão. Foi o glorioso ministério do Espírito Santo que desencadeou a 
“plenitude dos tempos”, na qual o Filho de Deus veio e na qual enviou seus apóstolos. 
CONCLUSÃO 
A partir do estudo acima, podemos concluir que o Deus trino e uno em sua condição de Espírito, luz e 
amor é um Deus que se doa, um Deus missionário, sempre se envolvendo em relações benevolentes com o 
homem, sempre procurando em amor entregar-se através de bênçãos ao homem, e sempre fazendo grandes 
sacrifícios para tornar a salvação do homem possível. Pai, Filho e Espírito Santo estão em cooperação no 
sentido de recuperar o homem de suas caminhadas e tropeços pecaminosos, conduzindo o homem de volta ao 
seu estado, propósito, destino e glória primitivos. Nosso Deus é, realmente, o Deus de nossa salvação. Esse 
conhecimento de Deus chega até nós por meio de revelação, como está declarada na Bíblia. 
 
TEOLOGIA MISSIONÁRIA E O ANTIGO TESTAMENTO 
 
Jesus Cristo relacionava constantemente a si mesmo, sua mensagem e missão ao Antigo Testamento. 
Ele não contradisse ou destruiu, mas modificou, enriqueceu, expandiu e, de muitas maneiras, transformou e 
glorificou o Antigo Testamento. Ele alegava ser a realização do Antigo Testamento. NEle, a antiga 
organização atingiu o ponto culminante e chegou a uma conclusão brilhante. Dessa forma, Ele não anulou a 
antiga ordem eliminando-a, mas a substituiu ao realizá-la. 
Devido a esse fato, perguntamos: Ele também encontrou a concretização do ímpeto missionário no 
Antigo Testamento? Essa é uma pergunta muito importante devido às errôneas interpretações do Antigo 
Testamento em relação a missões. Com muita frequência, o Antigo Testamento foi interpretado em termos 
estritamente nacionalistas ou de um ponto de vista legalista. O Antigo Testamento é raramente visto como 
uma atitude de Deus no mundo com propósitos de salvação. Recorremos, portanto, a uma pesquisa quanto à 
revelação do Antigo Testamento, considerando primeiro a intenção missionária de Gênesis 1—11, uma parte 
que pertence unicamente a toda a humanidade. É aqui que a proto-evangelização é anunciada pela primeira 
vez e se torna em sua intenção universal, o motivo condutor por todo o Antigo Testamento, até que culmine 
no evento encarnação-morte-ressurreição muitos séculos depois. 
O PROTO-EVANGELISMO 
A Bíblia é um livro belamente uniforme. Seus principais conceitos são constantes. Sua teologia, 
mensagem e seu propósito são um esclarecimento magnífico e progressivo da semeadura de Gênesis ao seu 
florescimento total em Cristo e no Novo Testamento — e isso apesar do fato de que temos na Bíblia três 
classes de revelação. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 34 
 
Aceito o relato de Gênesis como uma garantia histórica e segura do fato de que a revelação em Gênesis 
1—11 alcançou toda a raça humana. Em Gênesis 12 e no restante do Antigo Testamento, Deus revela-se 
unicamente para e através de Israel, embora o desígnio dessa revelação fosse para o mundo. O Novo 
Testamento chega a e através da igreja de Jesus Cristo, sendo os apóstolos seus receptores diretos. Dessa 
forma, temos três grandes classes de revelação: racial, nacional e eclesiástica. 
Voltemos nossa atenção primeiro para os primeiros 11 capítulos de Gênesis. Gênesis 1 e 2 relatam a 
criação de Adão e Eva e, consequentemente, da raça humana. Adão é mais do que um indivíduo; ele é mais 
do que um representante legal da raça humana. Ele é a criação e encarnação de toda a raça humana, sendo seu 
líder biológico assim como legal. Essa, certamente, é a filosofia que se encontra por trás de toda a Bíblia, já 
que se relaciona ao homem, pecado e à salvação. Esse também é o argumento de Paulo em Romanos 5. Ambos 
se relacionam ao pecado, à culpa e morte universal em e através de Adão, e a justificação na vida de tudo em 
e através de Cristo. Adão, realmente, é o líder de toda a raça humana. 
Devido a essa unidade orgânica da raça em Adão, toda a raça cai em pecado, culpa, corrupção moral, 
separação de Deus e desintegração social. A soma total de todos os homens nativos forma um organismo 
enorme articulado racialmente, e todo indivíduo através de seu simples nascimento é inevitavelmente um 
membro dele. Ele está em Adão (1 Co 15.22). A humanidade não é simplesmente um total numérico de muitas 
pessoas individuais distintas, mas um único “corpo” colossal que, de acordo com sua origem e natureza, em 
uma miríade variada e relações diferenciadas, anuncia seu primeiro pai, Adão. Isso envolve todo o caráter 
inclusivo da derrota e universalidade do pecado (Rm 5.12; 3.10-12,23), com a necessidade do novo nascimento 
de cada indivíduo (Jo 3.3), e a encarnação de Cristo como o Salvadore Redentor (Rm 5.12-21), 
Gênesis 3.15 
Devido a esse fato solene, a primeira promessa de um Redentor que está para vir é de tremenda 
relevância. Essa promessa foi feita a toda a raça humana. Gênesis 3.15, o proto-evangelismo, a estrela da 
manhã em meio à mais escura noite da humanidade, é uma promessa de importância universal. Aqui, a 
universalidade bíblica nasceu à medida que a esperança foi anunciada para toda a raça humana. Essa promessa 
assegura esperança tanto para a China, Índia, o africano ou o nativo americano quanto assegura para Israel ou 
a atual Europa. Seu alvo racial não deve ser desprezado, pois apenas se Cristo tornar- se o Salvador de toda a 
raça humana é que Gênesis 3.15 terá sido plenamente realizado. 
Gênesis 3.15 sustenta pelo menos seis fatos: 
1. A salvação é operada por Deus; dessa forma, ela é certa e cheia de graça. Deus é a sua fonte, quem 
dá origem a ela, a inicia e obtém. A salvação pertence a Deus. Ele é a única esperança da 
humanidade. Isso refuta o humanismo, a auto redenção do homem, e o princípio de progresso 
inevitável, especialmente porque se relacionam ao desenvolvimento religioso da humanidade. 
2. A salvação destruirá Satanás, o inimigo. Assim, o mal não é um castigo permanente da humanidade 
neste mundo. Deus e a boa vontade triunfam finalmente. Isso refuta a teoria de dualismo e também 
a teoria cíclica de história e experiência, já que são encontradas na maior parte das religiões 
orientais. 
3. A salvação afetará a humanidade como um inteiro; ela é maior do que apenas o indivíduo ou uma 
nação. Isso refuta a teoria de severo particularismo na bem-aventurança e expiação. A salvação 
alcançará as nações e finalmente a raça. Isso não deve ser interpretado para dar a entender que 
todos os homens serão salvos, pois a Bíblia não justifica tal esperança e alegação. O fato, contudo, 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 35 
 
é que quando o programa de Deus for completado, haverá uma reversão na contagem; enquanto 
muitos indivíduos serão perdidos, a raça como tal será salva. 
4. A salvação virá através de um Mediador, que de uma maneira orgânica está relacionado à 
humanidade. Ele nasceu da semente da mulher. Essa passagem é a única parte na Bíblia em que a 
expressão “semente da mulher” é usada. Assim, o Redentor será um homem verdadeiro, como 
Cristo realmente foi. Ele foi um homem real, embora não tenha sido um simples homem. 
5. A salvação está ligada ao sofrimento do Redentor; o inimigo deve ferir seu calcanhar. 
6. A salvação será experimentada na história, assim como a derrota é uma parte da história. Ela é tão 
real quanto a derrota é real e está tão presente quanto a derrota está presente. A salvação, portanto, 
como sustentada no Antigo Testamento (Gn 3.15), inclui a humanidade em promessa, provisão, 
propósito e potencial. 
A universalidade do proto-evangelismo é básica para a revelação do Antigo Testamento. Ela é o motivo 
condutor soteriológico (dominante, unificador, e intenção e impulso inclusivo) e o princípio hermenêutico que 
conduz a interpretação do Antigo Testamento. Ela torna-se a estrela guia por toda a história e profecia do 
Antigo Testamento até que seja realizada em Cristo, a semente da mulher. 
O motivo condutor confere coerência à Bíblia, integra-a à estrutura progressiva, concede direção e 
propósito como um todo e esclarece o significado de cada parte e seção individual. Só se o motivo condutor 
for entendido claramente e aplicado constantemente é que o Antigo Testamento irá render sua riqueza e seus 
verdadeiros frutos ao leitor. 
O pacto de Noé 
Essa universalidade é continuada no pacto de Noé e em seu pronunciamento quanto a seus próprios 
filhos. Não podemos simplesmente ressaltar o fato de que Deus fez um pacto com Noé e seus filhos (Gn 
9.1,8,9). Não é apenas Noé, ou Noé e Sem. Ele também incluía definitivamente Jafé e Cam. Que a palavra 
“filhos” é usada três vezes no plural não deve ser ignorado, pois essa é uma ênfase de tremenda importância. 
A universalidade é registrada no pacto. 
Devido a isso, o pacto de Deus com Noé e seus filhos definitivamente envolve todas as nações. Não há 
uma tribo ou um povo que não estivesse incluído no pacto de Deus com Noé. 
Esse último pronunciamento de Noé quanto a seus filhos também não afeta a intenção básica universal, 
visto que se relaciona à salvação. Enquanto houver diferenças nos desenvolvimentos sociais e culturais e 
concessões de divina revelação e posição mediadora, a universalidade soteriológica permanecerá intocada. 
Uma cuidadosa explicação do texto confirmará isso, assim como a listagem das pessoas em Gênesis 10. 
O relato dos arranjos de Deus com a raça, em sua totalidade, é concluído com a tragédia da confusão 
de idiomas, a ruptura da união da humanidade, e a dispersão e dispensa da presença de Deus. Um fato, porém, 
permanece igual. A universalidade soteriológica básica da intenção de Deus e da mensagem do Evangelho 
iniciada pelo próprio Deus permanece irrevogável e inalterada. Deus ainda é o Deus da humanidade e a única 
esperança de salvação. É bom ter em mente que Gênesis 1—11 é o prefácio de toda a Bíblia e a fundação 
sobre a qual a revelação é sustentada. 
A intenção universal da redenção de Deus é consequentemente esclarecida na antiga revelação de Deus 
e concede unidade, orientação, poder e significado ao ímpeto básico missionário da história da salvação e à 
revelação que seguem. Deus é o Deus da raça, e missão é Deus se doando à raça na salvação. 
 
A RELIGIÃO NACIONAL DE ISRAEL 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 36 
 
Religião reveladora e religiões étnicas 
A religião é um fenômeno universal. Não foi encontrada pessoa alguma que não tenha religião, e 
geralmente concorda-se que isso constitui um fator unificador e dinâmico nas culturas da maioria dos povos. 
Apenas no Ocidente os homens têm procurado renunciar à religião. 
Entre os povos mais primitivos, a religião é um pouco diferenciada e tudo na vida é sagrado. Ela é 
tecida na urdidura e trama da vida. O princípio de um contínuo prevalece. A diferenciação é misturada a um 
panteísmo nas religiões existentes na Ásia. 
A fim de obtermos uma perspectiva adequada da religião reveladora do Antigo Testamento, precisamos 
enquadrá-la na moldura da história religiosa geral. Do ponto de vista da história natural, a religião do Antigo 
Testamento é apenas uma entre muitas. Apenas se nos detivermos em observar os desdobramentos totais das 
religiões no mundo, a mensagem do Antigo Testamento poderá ser compreendida, avaliada e apreciada 
devidamente. 
Enquanto única em qualidade, a religião do Antigo Testamento não é única em estrutura, instituições, 
nomenclatura, psicologia ou fenômeno. Externamente, ela está relacionada à vida e cultura como a religião 
em geral está. Estrutural e institucionalmente, ela aparece como uma parte da história das religiões do mundo. 
Ela possui seu templo, seus sacerdotes e sacrifícios. Qualitativamente, contudo, essa é uma religião distinta 
porque é revelada de forma única. A religião do Antigo Testamento não tem suas raízes, sua essência e seu 
estímulo na cultura, psicologia ou fé humana; nem é dominada ou determinada por estas. Sua essência se 
origina do que foi citado acima e de fora do homem, enquanto que a essência contínua das religiões étnicas se 
origina de dentro do homem. A primeira é revelação sobrenatural; as últimas são o esclarecimento da 
consciência religiosa do homem baseado em ideias intuitivas, tradições, especulações e experiências místicas. 
Dentre todas as religiões, a religião revelada do Antigo Testamento constitui a missão exclusiva de 
Deus no mundo pelo menos de quatro maneiras: 
1. Ela é uma ação divina, expressando desaprovação das religiões etnicamente desenvolvidas e 
humanamente criadas, e práticas pagãs do mundo. Ela está designada a preservar o mundo da 
suprema decadência moral e religiosa e de um total vazio espiritual.É a testemunha constante de 
Deus no mundo (At 14.17). 
2. É um monoteísmo étnico, divinamente inspirado, que preserva o homem da desorientação total no 
panteísmo, na idolatria e no espiritismo. O monoteísmo étnico por si só pode conferir significado 
ao Universo, à história, e particularmente à cruz, assim como profundidade ao Evangelho da graça. 
3. É a criação de Deus para sustentar a esperança divinamente inspirada no Redentor prometido (Gn 
3.15), que salvaria a humanidade da condição do pecado e destruição e restauraria sua glória, seu 
propósito e significado originais. 
4. É o chamado divino de uma minoria seletiva usada como instrumento capaz de gerar um ímpeto 
eficaz missionário na humanidade, almejando bênçãos e salvação para toda a humanidade. 
Dessa forma, a criação de uma religião nacional introduziu um particularismo na metodologia, mas 
não no desígnio e propósito. 
O propósito universal de salvação de Deus é constante em toda a Bíblia, e uma mudança na 
metodologia não muda seu objetivo. 
O desígnio da religião nacional 
Gênesis 12 introduz uma nova era na história da salvação — uma história que é particularista em 
método, mas universalista em promessa, desígnio e efeito. Isso precisa ser observado claramente e entendido 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 37 
 
completamente, caso contrário o Deus do Antigo Testamento torna- se algo particularista. Isso não pode 
acontecer nunca. Como particularista, Ele cessaria de ser Eloim, o Deus da criação e o Deus das nações. 
A missão e história de Israel têm sido interpretadas de várias maneiras, ambas dos pontos de vista 
sobrenatural, nacional e racial, específico e geral, religioso e cultural. O chamado e a tarefa de Israel que 
começam com Abraão são assunto para muita má interpretação e até mesmo crítica. A não ser que sejam vistos 
à luz do total desenvolvimento da história religiosa do mundo, sua importância não é entendida, muito menos 
apreciada. 
Paulo apresenta em Romanos 1.18-32 uma interpretação teológica da história religiosa das nações, 
como ocorreu após a dispersão dos povos na Babilônia e como está registrada em Gênesis 11.1-9. Dessa forma, 
o mundo estava afundando rapidamente na idolatria, sensualidade e depravação mental. Portanto, a religião, 
moralidade e filosofia ficaram sob o julgamento de Deus, e Deus entregou as nações (Rm 1.24,26,28). Deus 
puniu o pecado com pecado, estabelecendo as divinas restrições e permitindo que as nações seguissem seus 
próprios caminhos e criassem suas próprias culturas e religiões. Não sabemos por quantos séculos o processo 
de degeneração teve permissão para continuar. Não possuímos uma cronologia completa, mas o espaço de 
tempo não é relevante para nosso propósito. Romanos 1, porém, implica que um período de total e profunda 
escuridão religiosa recaiu sobre o homem. Os indivíduos, embora tenham sobrevivido à desesperada apostasia, 
sofreram com a escuridão geral que constantemente era intensificada. 
Apenas a intervenção divina poderia salvar o mundo de um obscurecimento espiritual total. Estava 
evidente que o homem não tinha nem a intenção, motivação, nem a habilidade para encontrar Deus por si só. 
A singularidade da religião nacional 
O proto-evangelismo (Gn 3.15) torna-se a estrela brilhante que surge dentre a escuridão e o desespero, 
e Gênesis 12 — o chamado de Abraão — é o começo de uma contracultura divina designada tanto para deter 
o mal quanto para esclarecer o glorioso plano, propósito e a salvação de Deus. Essa é uma nova chama de 
esperança para o mundo. Isso é revelado mais plenamente no Antigo Testamento. Vamos, portanto, analisar 
mais detalhadamente esse novo começo e esclarecimento adicional, considerando brevemente a singularidade 
e importância da religião nacional (israelita) à luz do desenvolvimento da história de religiões como tal. 
Uma vez de acordo com o caráter geral da Escritura, que nós julgamos ser tanto histórica quanto real, 
três princípios gerais podem ser percebidos a partir das fontes do Antigo Testamento: 
1. O início da religião nacional de Israel tem sua origem no ato sobrenatural e revelação de Deus. 
Deus no começo! O mesmo ocorreu na criação; o mesmo ocorre na salvação. Abraão não procurou Deus; ao 
invés disso, Deus, o Deus de glória, cruzou os céus e miraculosamente penetrou na história para procurar 
Abraão. Deus apareceu para ele quando este último vivia com segurança em Ur dos caldeus em um lar onde a 
idolatria era praticada (Js 24.2). Aqui, o Deus de glória invadiu o tempo e o espaço e chamou Abraão para se 
separar de seu país e sua família. Ele recebeu ordens para seguir o Senhor em direção a uma nova terra e um 
novo começo. Aqui, a graça soberana foi exercida em nome da humanidade. Em nenhuma parte das Escrituras 
descobrimos por que Deus chamou Abraão e não outra pessoa. O propósito, porém, é preciso. 
Declaramos novamente: o homem não está subindo; Deus está baixando. Deus colocou-se entre o 
tempo e o espaço. A origem da religião nacional de Israel através de Abraão não é o resultado de 
desenvolvimento cultural. Ela não é o fluxo de uma grande iluminação alcançada pela concentração humana. 
Ela não é fruto de evolução étnica. Ela não é o produto de um Deus investigador severo. Ela não é a síntese 
racional e progressiva de um empréstimo seletivo e uma adaptação habilidosa. Ela não é a invenção de um 
grande gênio religioso e uma intensa consciência religiosa. Os créditos de sua origem não se devem a fontes 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 38 
 
humanas, nem estas são adequadas para tal alegação. A origem também não se encontra em um passado 
distante e desconhecido que gradualmente evoluiu do próprio semitismo e enriquecimento de religiões 
contíguas. Sua raiz não é as fontes naturais e o instinto religioso do homem. 
O homem não deu origem à religião revelada do Antigo Testamento. Ela origina-se, ao invés disso, em 
um ato e revelação sobrenatural de Deus em um lugar específico, em um tempo em particular a uma 
determinada pessoa, cujo nome era Abraão. O homem viveu em Ur dos caldeus aproximadamente dois mil 
anos antes da era cristã. Dessa forma, sua origem é orientada divina, histórica, pessoal e geograficamente. Ela 
não é nem um mito, nem uma lenda, mas história. 
As negações acima, claro, não devem ser interpretadas de maneira a implicar que Deus trouxe do céu 
uma religião — um dogma, um culto e uma cultura — para Abraão feita sob medida quanto à quantidade 
assim como à qualidade e completamente distinta e isolada do contexto cultural do tempo e da herança de 
Abraão. Isso seria contrário a todas as obras de Deus. O registro bíblico não faz tais declarações. Ele também 
não nega que Abraão era um gênio religioso com uma consciência religiosa aguçada e suscetível, um homem 
com uma aptidão religiosa especial. 
Deus usou todos esses meios naturais. Porém, nenhum deles, ou todos combinados, garantem a 
singularidade qualitativa da nova vida e religião de Abraão. Uma nova qualidade religiosa aparece na história 
religiosa que nasce não do sangue (racialmente), nem do desejo da carne (sociologicamente), nem do desejo 
do homem (psicologicamente), mas de Deus. Sua raiz está na ação e revelação de Deus. 
2. O início da religião nacional constitui um ponto de virada preciso na história das religiões. A 
história religiosa não é um fluxo uniforme. A religião oscilou muito entre o progresso e retrocesso, a reforma 
e decadência, evolução e degeneração, renascença e desintegração. As forças de dinamismo e morte estão 
operando em todos os lugares, e a religião não está isenta. Há apenas algumas décadas, falamos de uma 
decadência dos sistemas religiosos não cristãos; hoje somos incomodados pelo seu dinamismo e 
ressurgimento. 
A história bíblica concorda com a inclinação geral de instabilidade e tensões religiosas, mas percebe 
que a degeneração, desintegração e decadência têm prevalecido em meio aos esforços.O processo de morte 
tem triunfado historicamente sobre o dinamismo religioso positivo e construtivo. 
Dos registros bíblicos ficamos com a impressão de que a humanidade esteve livre da idolatria pelo 
menos até o incidente da torre de Babel. Nenhuma menção a ídolos, imagens ou deuses é feita nos primeiros 
11 capítulos de Gênesis. Os sepultados e silenciosos séculos entre os capítulos 11 e 12 de Gênesis podem nos 
ser revelados pela arqueologia, e isso apenas em parte. Referências a Abraão e ao tempo precedente ao seu 
chamado estão registradas em Josué 24.2 e Isaías 51.1,2. Nenhuma das referências é complementar. 
Enquanto que nenhuma idolatria foi mencionada até esse ponto, sabemos que no lar de Terá, o ancestral 
de Abraão, a idolatria prevalecia (Js 24.2). Essa parece ter sido uma prática geral entre os caldeus, como a 
arqueologia alega. O fato de essa prática ter continuado no clã é provado pelo registro que diz que Labão em 
Harã tinha deuses estranhos (Gn 31.19,32,34), que consequentemente afetaram o lar de Jacó enquanto ele 
residia lá (Gn 35.2,4). 
Já percebemos que Paulo faz uma interpretação teológica em Romanos 1.18-32 quanto à deterioração 
religiosa geral desse período e que esse é o começo dos grandes sistemas religiosos históricos. A humanidade 
está no caminho contrário de sua religião histórica e está rapidamente se afastando de Deus através de sistemas 
religiosos improvisados por ela. “Ao declararem-se sábios, eles tornam-se tolos, e transformaram a glória do 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 39 
 
Deus incorruptível em uma imagem parecida com o homem corruptível, com pássaros, criaturas quadrúpedes, 
e coisas rastejantes”. Romanos 1.23. 
A glória de Deus, aquela representação admirável e brilhante de si mesmo que fulgurava em tudo o 
que fazia, eles transformaram na forma de uma imagem — “Deus incorruptível em uma imagem parecida com 
o homem corruptível”. A abominação da idolatria não está sozinha na imoralidade para a qual ela conduz, mas 
é uma caricatura de Deus e uma calúnia. É parte de sua glória que ele seja imortal. Ele foi moldado de acordo 
com o que é corruptível. Moldar Deus de acordo com o homem é idolatria. Os homens não deveriam fazer 
imagem alguma dele. Se tivessem atentado para o conceito original dele, não teriam feito isso. No devido 
tempo, ele concedeu uma imagem de si mesmo através de um ser imaculado que era dotado de vida eterna, “o 
resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa” (Hb 1.3). Se Jesus não era mais do que um 
mortal, ele era um ídolo. 
Esses sábios declarados não pararam no ajuste de Deus ao homem; eles o moldaram na forma de um 
pássaro, então como um quadrúpede, e finalmente como um réptil. Houve o Apolo dos gregos, a águia dos 
romanos, o touro dos egípcios e a serpente dos assírios. Paulo pode estar apresentando nesse versículo o 
desenvolvimento histórico da idolatria, de sua fase áurea, a pior; ou ele pode estar mostrando isso na forma de 
clímax; mas é certo que todas essas fases do pecado existiram. 
Paulo destaca a ira de Deus que se origina do céu contra esse tipo de incredulidade manifestada na 
história geral da humanidade. Em contraste com a ira de Deus na história, o chamado de Abraão fala de 
maneira histórica concreta da graça de Deus. Deus não estava desejando que a humanidade se afundasse 
totalmente e para sempre, a ponto de não poder ser ajudado ou conscientizado por Deus, na superstição 
suprema e nas falsas religiões. E enquanto a humanidade, coletivamente, não ouvia a sua voz, Abraão, o 
indivíduo, o fez. Em Babel, a humanidade tentou com forças unidas resistir ao propósito do Altíssimo. 
Portanto, o divino princípio de separação e divisão tiveram que ser introduzidos para reagir contra a 
confederação descrente da humanidade. 
Dessa forma, um novo começo foi divinamente iniciado, um começo que constituiu uma virada 
decisiva na história da religião e divina operação. Nada disso, entretanto, mudou o supremo desígnio nem o 
propósito divino. 
a. A metodologia da divina operação pede um particularismo na revelação e operação. Deus está 
limitando a si mesmo, em sua única revelação a um povo, e opera unicamente em e através de Israel. Aqui, a 
Heilsgeschichte (história da salvação) em um senso peculiar e particularista nasce. A história secular e sagrada 
estão seguindo cursos separados. A história de Israel é distinta porque Deus está zelando por ela e 
enriquecendo-a de muitas maneiras, especialmente com suas maneiras peculiares de se manifestar. Na história 
de Israel, Deus está presente de modo singular, distinguindo-a não apenas em quantidade, mas em qualidade, 
do fluxo geral da história. 
b. O princípio de operação divina pede um povo mediador. Israel é transformada na mediadora entre 
Deus e as nações. Ela deve ser um reino de sacerdotes e uma nação santa para mediar a revelação única que 
receberá de Deus. Israel é chamada para ser um canal, não um depósito, de bênçãos. 
O supremo desígnio de operação divina permanece sendo a raça humana. A universalidade não é 
eliminada, mas, ao invés disso, é acentuada pelo método do particularismo e o princípio da mediação. 
A separação de Abraão foi realmente necessária para reduzir o progresso geral de salvação, e tão 
necessária, com muita sabedoria, que quanto maior fosse mais facilitaria a redução e mais certamente 
conduziria ao seu objetivo. Ela foi designada especialmente visando o aspecto universal, detalhar o todo, do 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 40 
 
pequeno ao grande. Limitar a revelação a Abraão, primeiramente, era apenas o método divino de servir à 
suprema universalidade da salvação. A restrição existia, mas sua designação apresentava sua própria remoção 
como seu objetivo. Deus afastou sua salvação das nações para que fosse ainda mais capaz de concedê-la, de 
volta a elas, glorificadas. 
3. O início da religião nacional marca uma nova época para a criação de uma consciência moral 
e religiosa e um ideal que transcende todas as experiências humanas e especulações. Esse é, realmente, 
um movimento de protesto divinamente institucionalizado contra os males do antigo mundo em 
desenvolvimento. É uma testemunha de Deus e da verdade que eleva a moral e os ideais religiosos absolutos. 
A fim de nos concentrarmos nesse ponto, devemos revisar brevemente a história da religião nos tempos 
anteriores a Abraão. A história da humanidade, do ponto de vista bíblico, não é muito agradável e inspiradora. 
Ela não tem nada de que se possa orgulhar, pois é uma história de pecado abundante. 
Em poucas palavras, Gênesis 3—11 apresenta a seguinte sequência de eventos: 
O primeiro capítulo da história humana abrangendo vários milênios pode, dessa forma, ser resumido 
nas frases seguintes: a invasão do pecado (Gn 3) a evolução do pecado (Gn 4—5) a retribuição divina pelo 
pecado (Gn 6—7) a renovação do pecado (Gn 9) a culminação do pecado (Gn 10) 
Tudo isso manifesta-se no: pecado da descrença e desobediência (Adão) pecado de redenção própria 
(Caim) pecado da brutalidade (Caim) pecado da poligamia (Lameque) pecado da vingança de sangue 
(Lameque) pecado do incesto (antediluvianos) pecado da intemperança (Noé) pecado da indecência (Cam) 
pecado da rebelião (construtores da torre de Babel) pecado da autoglorificação e autodivinização (construtores 
da torre). A essa lista, podemos acrescentar o terrível pecado da idolatria com todos os males que a seguem, a 
qual é descrita brevemente antes do capítulo 12. 
Todos esses pecados podem ser detectados na história das nações à medida que os encontramos nas 
páginas do Antigo Testamento ou nos relatos da história secular. 
Contra a origem de tais condições deploráveis, o chamado de Abraão e a história religiosa de Israel 
devem ser avaliados. A história de Israel não é uma história de escolha arbitrária, de favoritismo, de 
particularismo conservador e nacionalismo. Ela é um ato de soberania e escolha gloriosapara preservar a raça 
e o destino temporal e eterno da humanidade. 
O idealismo da religião nacional 
Para realizar seu ministério glorioso, Deus inicia um movimento de protesto contra os males 
prevalecentes. Ele sustenta ideais morais e religiosos para preservar, aprofundar e definir a consciência 
religiosa e moral a fim de levar Israel e a humanidade a falir na auto-redenção e preparar o mundo para a 
salvação de Deus em Cristo Jesus. 
Com o objetivo de realizar a missão divina, o Antigo Testamento apresenta um protesto implacável 
contra as religiões prevalecentes e culturas pecaminosas. A revelação torna-se o juiz de todas as religiões 
étnicas. A condenação é destinada à divinização, adivinhação e necromancia como fontes de conhecimento e 
prognóstico divinos; à bruxaria, magia, feiticeiros e feiticeiras como praticantes religiosos; à idolatria e 
adoração de imagens que são estritamente proibidas em todo o Antigo Testamento e não devem ser toleradas 
pelo povo de Deus tanto em culto público quanto particular; aos sacrifícios humanos e templos de prostituição 
como meio de provocar e apaziguar as divindades; à imoralidade, sensualidade, e outras práticas pecaminosas 
que são condenadas em termos explícitos. 
Após pronunciar a pena do pecado, o Antigo Testamento reitera constantemente ideais e práticas 
sociais, morais e religiosas. Isso é feito por duas razões: primeiro, para despertar e intensificar a consciência 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 41 
 
moral no homem a fim de que ele não caia em uma grande decadência moral e morra; segundo, para criar 
condições morais e religiosas nas quais uma vida decente seria possível e a salvação de Deus uma realidade 
para toda a humanidade. 
Nunca se deve imaginar que a religião de Israel foi uma experiência barata designada pelo homem 
natural em nome da conveniência do povo. Essa era uma obrigação penosa, testando ao máximo sua fé e amor 
por Deus. A obra de Deus nunca é barata e conveniente. Tornar- se seu servo é sempre uma experiência árdua 
ligada ao sacrifício, à devoção e obediência. 
 
A universalidade da religião nacional 
A religião nacional é o toque de esperança para o triunfo final de uma universalidade religiosa renovada 
que reconciliará a humanidade com bênçãos compartilhadas e louvor em união do verdadeiro e vivo Deus, o 
Criador, Senhor e Salvador da humanidade. 
A universalidade é escrita com letras tão destacadas no Antigo Testamento que nenhum leitor imparcial 
pode deixar de senti-la. A universalidade se apresenta pelo menos de quatro maneiras pela implicação e pela 
explicação: 
1. A consistente ênfase no monoteísmo no Antigo Testamento revela Deus como o único Criador e 
Governante benevolente do universo. Em nenhum lugar há uma pista de que Deus “compartilha” seu domínio 
com outro deus. Também não há um panteão ou um politeísmo na história da revelação. Deus é o único Deus. 
2. A insistência quanto a Deus ser o Senhor dos exércitos que permanece como Governante e Juiz das 
nações e que realmente as usa como seus instrumentos para julgamento no desenvolvimento de sua causa. 
Muita confusão tem sido gerada por uma interpretação da história que lança uma sombra sobre Deus. Refiro-
me a uma visão aparente, restrita e falsa da declaração de Paulo em Romanos 1.24,26,28: “Deus os entregou”. 
Certamente, Paulo não quer dizer que Deus se separou completamente das nações para deixá-las livres de 
qualquer cerceamento, pois isso anularia sua relação de Criador, sua promessa e seu pacto de relação com elas 
(Gn 1—2; 9.8-17,25-37). Isso violaria sua regência moral do Universo e desmentiria sua onipresença no 
mundo. O abandono divino total das nações apenas poderia ter resultado em caos total onde a salvação tivesse 
se tornado impossível. Dessa forma, o que quer que “Deus os entregou” possa implicar, isso não significa 
separação divina total das nações e abandono absoluto. 
Ao contrário, a presença universal de Deus e sua operação desimpedida estão evidentes em todas as 
partes do Antigo Testamento. Ele não é nem o Deus de uma tribo ou povo, nem o Deus de um local, mesmo 
embora a antiga religião dos povos assim procurava declará-lo. Ele estava presente em Ur dos caldeus para 
chamar Abraão, e posteriormente em Harã para convocá-lo. Ele provou seu poder misericordioso no Egito e 
sua suficiência no deserto, acompanhando Israel através dos territórios de várias nações. Ele estava com seu 
povo na Palestina e mais tarde na Babilônia, fazendo surgir profetas em ambos os lugares. 
Porém, seu povo não era o único em sua presença, pois seu olho atento está sobre o mundo. Ele sabe 
com detalhes dos pecados das nações; Ele estabelece seus limites e seu tempo e pronuncia e executa o seu 
julgamento (compare passagens tais como Am 1.3—2.3; Ob 1; Is 10.5-34; 10.5-34; 13.1—23.18; Jr 42—51; 
Ez25—32; 38—39; Dn 2.1-45; 7.1-28; 9.20-27; 11.1-45). 
Deus não está focado em seus próprios interesses e atividades; Ele é o Deus das nações. Ninguém fica 
sem suas provisões, embora nações possam fazer mau uso delas. Ele está presente, de uma certa forma, em 
todos os lugares, mesmo embora tenha escolhido limitar suas revelações únicas a e através de um povo em 
particular. Dessa forma, a universalidade e o particularismo não são mutuamente exclusivos. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 42 
 
Fica evidente também pelas páginas da Bíblia que Deus usa as nações como seus instrumentos. Ele 
julgou ser adequado guiar Israel ao Egito; não apenas satisfazê-la fisicamente em meio à fome, mas também 
preservá-la como uma nação distinta e enriquecê-la culturalmente. O Egito consequentemente tornou-se o 
criado de Deus ao servir seu povo. 
Deus chama Nabucodonosor de “meu servo” (Jr 25.9; 27.6; 43.10), e da mesma forma Ele chama Ciro 
de “meu pastor” e “seu ungido” com uma profecia marcante (Is 44.28—45.13). Ele fala dos assírios como 
“bastão do meu furor” e declara “bordão da minha indignação” (Is 10.5). Os “reis da Média” são seu “malho, 
uma arma de guerra” na destruição da Babilônia (Jr 51.11,20). Assim, a mão de Deus está agindo nas questões 
das nações. 
A introdução mais bela da relação de Deus com as nações é encontrada no livro de Jonas. Nínive está 
completamente fora dos limites da revelação particularista, mas ainda assim está dentro dos limites da 
preocupação e atenção de Deus, e isso em tal nível que Ele lhes envia um mensageiro, concede-lhes graça pelo 
arrependimento e poupa a cidade da destruição, para desgosto de um Jonas nacionalista e particularista. Está 
evidente que o profeta foi incapaz de enxergar o desígnio universal de salvação de Deus por trás da revelação 
particularista. Desta maneira, ele não estava disposto e não foi capaz de fazer parte da relação gloriosa de Deus 
com as nações além da revelação particularista. 
3. A atitude declarada e de censura em relação ao desenvolvimento e as práticas fora da esfera da 
revelação particularista. Em parte alguma Deus aprova as religiões não reveladoras ou as considera como 
religiões legítimas das nações do mundo. Ele não é indiferente para com a religião e o culto das nações; ao 
contrário, uma crítica consistente e uma atitude de censura do Antigo Testamento persistem em relação a todas 
as religiões desassociadas da revelação particularista. Essa crítica é um dos aspectos mais difíceis do Antigo 
Testamento para o homem moderno. Ele parece separatista demais, altivo demais, intolerante demais, 
imperialista demais. Não há espaço para diálogo 
4. As declarações claras e promessas inclusivas do Antigo Testamento. Não há dúvida de que o 
principal impulso da salvação de Deus como considerado pelo Antigo Testamento é racial ao invés de nacional, 
e universal ao invés de particular. Isso não significa que Israel o interpretou subjetivamente como tal. A 
revelação objetiva torna a constante promessa um impulso permanente do Antigo Testamento. Isso está 
evidente em todos os eventossua oferta de salvação é feita sinceramente a todos os homens. É nesse sentido que usamos a palavra 
“universalidade”. É um termo conveniente e técnico para expressar a intenção e a provisão missionária da 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 5 
 
Bíblia, que se dirige para toda a raça, direta ou indiretamente; primeiro através de Israel e agora através da 
igreja. Teologicamente, podemos fazer as seguintes distinções: 
A universalidade ideal fala da graciosa provisão de salvação de Deus em Cristo para todos os homens. 
Está implicado o fato de que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2 Co 5.19), que “Deus 
enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” 
(Jo 3.17), que Cristo é o Cordeiro de Deus que tirou “o pecado do mundo” (Jo 1.29). A provisão de Deus para 
toda a humanidade. 
Universalidade prática implica que é a vontade de Deus que o Evangelho deva ser proclamado 
universalmente, que toda a humanidade e todo indivíduo deva ter a oportunidade de ouvir a boa nova da 
redenção. 
Na verdade, a Bíblia ensina em termos claros que nem todas as pessoas serão salvas. Os ateus serão 
privados da presença de Deus e condenados ao castigo eterno (2 Tm 1.8-10). 
A metodologia da universalidade 
Universalidade não deve ser confundida com missões como pensa-se atualmente. Missões significa 
literalmente “envio”. Universalidade, especialmente como é apresentada no Antigo Testamento, não implica 
necessariamente envio. Na realidade, em nenhuma parte do Antigo Testamento a nação de Israel foi “enviada” 
às nações. Ela não foi encarregada de ir às nações e proclamar a verdade reveladora concedida ao povo de 
Deus. Universalidade é um princípio bíblico que expressa o propósito e a provisão de Deus. A realização desse 
princípio e propósito é uma questão de metodologia e tempo. Quanto à metodologia, as Escrituras prescrevem 
um caminho duplo, o centrífugo e o centrípeto. Deve ser reconhecido que o Antigo Testamento foi formado 
totalmente em função do último método, enquanto que o Novo Testamento impõe o primeiro método. 
O Antigo Testamento sustenta o método centrípeto, que pode ser imaginado como um magnetismo 
sagrado que atrai para si mesmo. Israel, ao viver uma vida na presença de Deus, temendo-o, deveria 
experimentar a totalidade das bênçãos de Deus. Dessa maneira eles deveriam chamar a atenção das nações, 
incitar sua indagação e atraí-las como ímã para Jerusalém e para o Senhor. A universalidade deveria ser 
efetivada atraindo as pessoas para o Senhor, ao invés de ficar enviando mensageiros com uma mensagem. O 
princípio é ilustrado na chegada da rainha de Sabá a Jerusalém para ver e ouvir. O mesmo fez o eunuco da 
Etiópia que foi a Jerusalém em busca da verdade. 
É à luz dessa metodologia, assim como em seu estreito nacionalismo, que Jonas em sua má disposição 
para ir a Nínive deve ser julgado. Também devido à metodologia do Antigo Testamento, os discípulos acharam 
difícil compreender seu Mestre em sua comissão para percorrer o mundo inteiro. De acordo com o Antigo 
Testamento, o mundo deve ir a Jerusalém. Lá as nações devem aprender o caminho do Senhor e a louvar. É 
bom lembrar que os discípulos foram os últimos a deixar Jerusalém durante os primeiros anos de perseguição 
e a ir adiante e pregar o Evangelho (At 8.1). Sem dúvida eles acharam fácil pregar no dia de Pentecostes para 
o povo que tinha ido para Jerusalém. Mas por que eles devem partir de Jerusalém? Isso causou uma mudança 
na metodologia, mas não no princípio e propósito. 
 A efetivação da universalidade 
Com respeito ao tempo da efetivação da universalidade, deve-se ter cuidado na interpretação do Antigo 
Testamento. Um estudo cuidadoso estabeleceu a tese de que a Bíblia apresenta uma universalidade tripla que 
encontra seu ponto culminante e sua expressão máxima na segunda vinda de Cristo. 
Primeira: há uma universalidade de revelação e alcance que se relaciona a toda a raça humana. Isto 
pode ser visto em Gênesis 1— 11, onde Deus revela-se para toda a raça humana e lida com ela. Todas as 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 6 
 
nações compartilham o mesmo conhecimento de Deus, pois seu acesso é para todos. Não há pessoas especiais 
ou medianas. Sem é o único na profecia. 
Segunda: no Antigo Testamento há uma universalidade na qual Israel torna-se o mediador entre Deus 
e as nações. Isso, de maneira alguma, interrompe o propósito e a intenção ampla original. Ao contrário, é o 
método de Deus servir de medianeiro ao mundo. Deus ainda é o Deus dos homens; Ele é o Deus de todas as 
nações. Israel, todavia, deve ser o povo santo de Deus entre as nações para mediar a revelação, salvação e o 
propósito de Deus. Essa intenção inclusiva é mantida durante toda a história do Antigo Testamento, como 
veremos de forma mais completa nas páginas seguintes. Nunca houve um tempo em que as nações não 
tivessem acesso a Deus, embora Deus mediasse sua revelação através de Israel. Era responsabilidade das 
nações indagar sobre Deus e procurá-lo. Perante esse princípio, a forte acusação de Paulo sobre as nações em 
Romanos 1.18-32 deve ser lida. Ao invés disso — lançar-se em busca da verdade — eles suprimiram a verdade 
que possuíam. Dessa forma, as nações, assim como Israel, falharam em cumprir com o plano do Antigo 
Testamento. 
Terceira: devido ao fato de Israel ter falhado em ser a luz do mundo e o sal da terra ao nível de sua 
capacidade e necessidade do mundo, Deus temporariamente deixou Israel de lado, a qual havia sido a serva 
que escolheu. Ele chamou a igreja de Jesus Cristo para ser uma geração eleita, um sacerdócio real, uma nação 
santa, um povo peculiar, para erguer louvores àquEle que tirou os cristãos da escuridão e os levou à sua luz 
maravilhosa (1 Pe 2.9). A função de Israel foi transferida temporariamente para a igreja de Jesus Cristo, que 
se tornou a testemunha, o sacerdócio, o servo, a luz, o sal. Assim, no plano atual, a igreja é o agente mediador 
de Deus não de salvação, mas da mensagem de salvação de Deus em Cristo Jesus. Ela tem a importante 
responsabilidade de tornar conhecidas as riquezas imperscrutáveis de Cristo entre as nações. O Evangelho 
deve ser pregado para todas as criaturas. Seu chamado é único e específico, seu preparo mental no e através 
do Espírito Santo é adequado. Não há incertezas sobre o propósito e o programa de Deus, e não deveria haver 
hesitação na obediência, no compromisso e na ação. 
Deus tem um plano e um programa maravilhoso. A história tem um propósito e um significado. Deus 
se move com sucesso de um estágio para o outro; nisso todos os escritores e profetas da Bíblia concordam. A 
Bíblia é um livro de esperança e triunfo. 
A universalidade, consequentemente, é um conceito vasto. Ela expressa o programa missionário de 
Deus no mundo do homem, enraizado no propósito racial de Deus e na provisão autossuficiente da salvação 
em Cristo Jesus. 
A identificação da igreja com missão pode se tornar tão anormal e prejudicial à causa quanto era a 
antiga separação entre igreja e missões. Embora isso possa se desenvolver, missões tem se unido ao estudo 
eclesiástico, e estudos de missão têm se tornado uma parte dos departamentos da igreja, ou em sua prática ou 
em sua história. Teoricamente, este é um passo à frente. 
Em sua brochura Unchanging Missions — Biblical and Contemporary (A imutabilidadde de missões 
— bíblica e contemporânea), Douglas Webster abre sua série de leitura com estas palavras: “Nós começamos, 
então, onde a missão começa: com Deus”. Apenas tal declaração faz justiça à alegação bem sustentada de 
Georg E Vicedom de que a missão é Missio Dei. 
Apenas se a missão tiver sua fonte em e derivar sua natureza e autoridade do Deus trino e uno ela pode 
realmente gerar uma motivação duradoura e tornar-se cristã e significativa. Em qualquer outro nível, ela 
permanece humanizada, não importa o quão “religioso” ouépicos e momentos cruciais da história e revelação do Antigo Testamento. 
Já citamos a promessa universal e irrevogável do proto-evangelismo (Gn 3.15). Abordamos a 
universalidade do pacto de Deus com Noé e as declarações proféticas de Noé (Gn 9.8-17; 9.25-27). Todos 
esses três eventos fazem parte da “revelação racial” de Deus e são, portanto, universais em importância. Como 
esse é o impulso principal na “revelação racial”, ele permanece constante em toda a “revelação nacional”. 
A universalidade da intenção de Deus está claramente implicada nas promessas a Abraão (Gn 12. 3) e 
no prelúdio ao pacto com Israel (Êx 19.3-6). Ela recebe proeminência nos Salmos e é incluída por Salomão 
em sua oração dedicatória do templo (2 Cr 6.32,33). Certamente a promessa está presente em Isaías 53. A 
salvação do Antigo Testamento não é particularista em promessa e perspectiva. 
5. O chamado solene e único de Israel para ser a testemunha de Deus e o sacerdócio de Deus 
estabelecido de acordo com o que foi fixado por Moisés e desenvolvido pelos profetas. Pouco precisa ser dito 
sobre esse assunto. Em termos claros, Deus liderou Israel para ser seu sacerdócio fiel (Êx 19.5-6), para ser sua 
serva e sua testemunha (Is 40—53) e para difundir seus louvores entre as nações (Is 43.21). Mais tarde, Cristo 
refere-se ao seu povo como o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5.13-15). Israel era um povo peculiar, singular 
com uma convocação e missão especiais (Dt 7.6; 14.2; 26.18,19). 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 43 
 
O chamado divino foi acompanhado por maravilhosas graças divinas e prosperidade. Essas, por sua 
vez, eram compensadas com responsabilidades igualmente sérias. De alguma forma, o destino religioso do 
mundo estava ligado diretamente à fé e capacidade de doar de Israel. Seu chamado exigia mais do que 
sacrifícios de animais. Ele requeria a dedicação da nação ao serviço de Deus pelo bem-estar do mundo. 
Despertar missionário na era patriarcal 
O primeiro punhado de promessas feitas a Abraão, que na ocasião talvez ainda estivesse em Ur dos 
caldeus, inclui uma promessa ao mundo. Realmente, essa é a promessa mais plena de todas. É ótimo receber 
uma bênção, mas é melhor ainda conceder uma bênção. Dessa forma, é assegurado a Abraão que “em ti serão 
abençoadas todas as famílias da terra” (Gn 12.3). Essa promessa e garantia são repetidas em Gênesis 18.19; 
22.19 (cf. At 3.25; Gl.3.8). 
O fator importante e principal é que o chamado de Abraão não se trata de favoritismo pessoal de um 
deus particularista para estabelecer uma religião local em prática e desígnio. Ele origina-se no Deus de glória 
e é designado pelo bem-estar da humanidade. Assim como Deus não chama seu ministro para o bem do 
ministro, mas para o bem da congregação, da comunidade e do mundo, Ele não chamou Abraão pelo bem de 
Abraão. O mundo estava avista, e a humanidade era o objetivo, qualquer que fosse a metodologia. Essa 
promessa, com seu desígnio de intenção universal, foi transferida no devido tempo aos patriarcas, Isaque (Gn 
26.4) e Jacó (28.14). De uma forma um tanto diferente, tanto enriquecida quanto mais específica, Judá a herdou 
de Jacó (49.10) e tornou-se o portador do bastão de comando de Israel, embora Levi tenha sido escolhido para 
o sacerdócio. Assim, não há enfraquecimento de universalidade no período patriarcal. O desígnio e a intenção 
universais de Deus lhes são declarados enfaticamente. 
Despertar missionário no período mosaico 
A fase mosaica enriqueceu a religião dos israelitas de muitas maneiras, tornando-a uma religião de 
redenção milagrosa, monoteísmo positivo, consagração devotada, éticas dinâmicas, fé responsável, amor e 
obediência, culto organizado, lei em comum e uma grande esperança. Embora ela não acrescentasse muitas 
referências à universalidade, enfatizava o caráter inclusivo no prelúdio memorável que precede a inauguração 
de Israel como uma nação, a realização do Decálogo e do pacto. Se esse prelúdio fosse devidamente 
compreendido, ele teria uma importância revolucionária e renovadora para Israel ao conceder significado, 
propósito e sentido à sua história. Diz o todo-poderoso Deus ao seu povo quanto a ter um pacto e ser unido 
em uma nação: “Vós mesmos vistes o que eu fiz aos egípcios, e de que modo vos transportei sobre asas de 
águia e vos conduzi para junto de mim. E agora se ouvirdes com atenção a minha voz, e observardes a minha 
aliança, sereis para mim uma propriedade exclusiva, escolhida dentre todos os outros povos: pois toda a terra 
é minha. E vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. Estas são as palavras que 
transmitirás aos filhos de Israel” (Êx 19.4-6). 
Essa passagem de Êxodo 19, citada acima, deve ser interpretada em termos de serviço. O pacto de 
Abraão torna Israel o povo de Deus, enquanto que o pacto mosaico torna Israel uma nação e serva de Deus. O 
pacto mosaico não está relacionado à salvação, nem à transformação de Israel em posse de Deus, pois estas já 
eram realidades no Egito, o que foi a razão pela qual Deus a libertou. Ao invés disso, esse pacto torna Israel 
uma nação de posição única entre as nações do mundo, já que através de Abraão adquiriram uma relação 
peculiar. Aqui, a responsabilidade é igualada ao privilégio. 
Nesse momento, Deus é mais enfático quanto a toda a terra, inclusive as nações, ser sua. Israel não é 
sua única posse. Nisso Israel não é essencialmente única. Ela é única, porém, em sua posição e missão. Ela 
deve ser, Deus diz, “de meu domínio”, vivendo em uma relação extraordinária com Ele e acima de todos os 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 44 
 
povos; ela deve ser “um reino de sacerdotes” mediando entre Deus e as nações a fim de compartilhar 
abundantemente com as nações e manifestar a glória de Deus. Israel deve viver na “esfera de Deus” enquanto 
estiver vivendo em meio às nações. 
Esse grande chamado de Israel, claro, confere grandes exigências ao povo e se manifesta por meio de 
altos ideais religiosos (Tábua I dos Dez Mandamentos) e morais (Tábua II), uma rígida disciplina (as regras e 
ordens), compromissos solenes (o pacto), fonte única de força (culto — tabernáculo, sacrifícios, sacerdócio, 
festividades anuais). Israel tornou-se o povo de Deus através do chamado soberano e glorioso de Abraão sem 
qualquer condição ligada a ele. O ato de tornar-se a serva de Deus para as nações do mundo, porém, é 
envolvido de regulamentações rígidas divinas e condicionado por um compromisso absoluto e voluntário e 
por obediência implícita. 
Esse serviço de Israel é descrito mais detalhadamente em Isaías 40—55. Israel é descrita várias vezes 
como “meu servo”. As palavras “meu servo” são usadas 18 vezes nesse segmento. Deus refere-se três vezes a 
Israel como “minhas testemunhas” (43.10,12; 44.8). A verdadeira questão é: uma testemunha de quem? O 
Senhor declara explicitamente: “O povo que formei para mim proclamará meus louvores” (43.21). Proclamar 
seus louvores para quem? O versículo 9 nos dá a orientação: “Que todas as nações se unam ao mesmo tempo, 
que se reúnam os povos”. Esse é o público de Israel. Essa é a sua missão! 
O serviço de Israel é estabelecido claramente. Israel tem uma missão a cumprir, um serviço a ser feito. 
O fato de Israel não ter reconhecido essa posição de serviço e não ter servido à humanidade não elimina o 
ideal do Antigo Testamento para com a nação, e o chamado da mesma. 
Se mantivermos na mente essa dupla posição e relação de Israel, grande parte das Escrituras ganhará 
uma nova perspectiva e um significado mais profundo. Israel nunca deixa de ser o povo de Deus, embora, 
devido ao fracasso, ela seja rejeitada temporariamente como serva de Deus. Ela permanece desqualificada até 
que o genuíno arrependimento a restaure novamente. Tal restauração é prometida pela graça de Deus e exigida 
pela justiça e fidelidade de Deus. 
A universalidade implícita e explícita da passagem de Êxodo é evidente. Deusexplicitamente declara 
que toda a terra é sua. Como Criador, Ele é seu dono por direito. Israel deve manter isso em mente e não pensar 
em Deus em termos geográficos locais, ou em termos tribais ou nacionais. Ele é o Deus de toda a terra, 
inclusive toda a humanidade. Nas palavras de Melquisedeque a Abraão, Ele é o “Altíssimo”, o Possuidor do 
céu e da terra, o El Elyon. A posição de Israel não é de possuidora única de Deus. 
Feito esse pronunciamento explícito como um lembrete a Israel pela sua humilhação e gratidão, Deus 
declara a posição de Israel no meio de seu domínio total. Israel deve ser seu “tesouro peculiar entre todos os 
povos”, “um reino de sacerdotes” e “uma nação santa”. 
O fato é que aqui Deus define a tríplice relação de Israel: 
Sua relação com Jeová. Israel é um tesouro peculiar entre as nações, traduzido variavelmente como 
“meu tesouro”, denotando singularmente “propriedade pessoal”, ou “serás privilegiada para mim entre todos 
os povos”. Qualquer que seja a tradução que escolhermos, o significado é claro: Israel deve relacionar-se de 
forma única com o Senhor. 
Sua relação com as nações. Israel deve ser um reino de sacerdotes, novamente traduzido variavelmente 
como um “sacerdócio real” (Septuaginta), “um reino sacerdotal” (Vulgata), “reino de sacerdotes” (Peshita), e 
“reis e sacerdotes” (Targum). Uma vez mais, qualquer que seja a tradução que preferirmos, o fato está claro 
de que Israel é o sacerdote de Deus e deve organizar um ministério sacerdotal no mundo. Ela deve ser o 
mediador de Deus. Nenhum sacerdote existe por si só; ele apenas tem valor e significado como um mediador. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 45 
 
Sua relação consigo mesma. Israel deve ser uma nação santa, uma nação separada da corrupção 
mundana, isolada do pecado, e dedicada a Deus com uma devoção fervorosa e um serviço jovial. Só assim 
Israel será capaz de ser o receptáculo de Deus e seu divulgador. Dessa forma, a universalidade de desígnio é 
escrita de acordo com o preâmbulo do pacto nacional e do privilégio de Israel. 
À luz das declarações divinas acima, um estudo da atitude e relação do israelita com o estrangeiro é 
muito esclarecedor. Nenhuma outra religião trata dessa questão tão cuidadosamente quanto o Antigo 
Testamento e nenhuma outra religião aprecia práticas similares ou expressa preocupações similares. 
Espera-se que o estrangeiro una-se a Israel em uma mesma base e observe a Páscoa (Êx 12.48; Nm 
9.14); ele não será molestado ou oprimido pelo israelita (Êx 22.21); ele é informado de que sua oferta será 
aceitável (Nm 15.14); ele deverá ter um julgamento justo perante os juízes (Dt 1.16); é assegurado a ele a terna 
atenção do Senhor juntamente com as viúvas e os órfãos (Dt 10.18); ele pode livremente compartilhar o pacto 
com Jeová e permanecer perante o Senhor (Dt 29.11); ele será reunido ao resto do povo para receber a instrução 
da lei (Dt 31.12). 
Tais são algumas das injunções e privilégios do estrangeiro. A revelação do Antigo Testamento não 
era uma religião nacional restrita; ela mantinha suas portas abertas. Ela tinha suas restrições teológicas, morais 
e cerimoniais, mas não racial, nem nacionalmente um sistema restrito. O estrangeiro era bem-vindo e sua 
aceitação no mesmo nível era assegurada. 
Despertar missionário da era de Davi 
O impacto de Davi sobre a vida religiosa de Israel não é tratado separadamente. Ainda assim, não é 
errado pensar em Davi como sendo o fundador da renovação e da prosperidade na história de Israel. Enquanto 
pode não representar um novo começo, há um alto nível de adoração introduzido que torna Israel, 
exclusivamente, uma comunidade de adoradores. É perceptível que a vida e o trabalho de Davi tiveram grande 
importância não apenas na transformação de Israel em um reino unido, mas em dar a ele de um centro político-
religioso (Jerusalém) e uma liturgia de culto ordenada e bela. Embora não tivesse permissão para construir um 
templo, Davi fez todos os planos e as preparações para ele. Seu filho Salomão tinha apenas que executar o 
plano. 
Para nosso propósito, apontamos dois fatores importantes: a mensagem e o uso dos Salmos; e a oração 
de dedicação do templo de Salomão. 
A mensagem e o uso dos Salmos. Os Salmos são, provavelmente, a literatura mais rica do mundo. Eles, 
refletindo as experiências religiosas dos santos, são existenciais quanto ao seu conteúdo, discurso e forma. 
Eles falam aos corações do povo, e bênçãos contínuas fluem deles. 
Enquanto que os autores de alguns salmos são desconhecidos e as épocas de outros são tardias, 73 são 
escritos por Davi. Dessa forma, aproximadamente metade do livro dos Salmos de Davi chega a nós através do 
“doce salmista de Israel”. Sem dúvida, eles eram designados em parte para o uso da oração particular, mas 
principalmente no culto público, como os sobrescritos de Asafe e os salmos de Corá indicam. Deve ser dito 
que estes dois últimos acrescentaram, aproximadamente, 24 salmos à lista de composição de Davi. 
Quanto ao uso dos Salmos, a maior preocupação dos salmistas não era a divulgação de Javé voltada 
para o pagão. Seus salmos eram designados para serem usados pela comunidade de Jerusalém e diziam respeito 
a Israel, não às nações. Eles exprimiam a fé do povo escolhido e, ao fazê-lo, eles o fortaleciam. O hino de 
louvor do Antigo Testamento origina-se no Templo e é para ser usado pelos crentes reunidos em Jerusalém. 
O único propósito dos escritores dos salmos é louvar o Deus de Israel. Javé merece o louvor de toda a 
criação; esse é o pensamento que é exprimido em mais de um salmo. Não são apenas as nações que devem ser 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 46 
 
convocadas pelos fiéis dentre o povo escolhido. Os céus, a terra, os rios, e até mesmo o mar também devem 
apreciar o Deus de Israel. É devido ao fato de pertencerem ao domínio da criação e não a serem chamados a 
compartilhar a fé de Israel, que os pagãos devem glorificar Deus. 
Isso, porém, é apenas relativamente verdade. É um fato profundo que “o hino de louvor é uma pregação 
missionária por excelência”, especialmente quando compreendemos que tal pregação missionária é sustentada 
nos Salmos por mais de 175 referências de cunho universalista relacionada às nações do mundo. Muitas delas 
levam esperança de salvação às nações. 
Essa é uma descoberta espantosa. O cristão será grandemente enriquecido em seu pensamento 
missionário através da leitura dos Salmos e do destaque de todas as referências que tratam das nações da terra. 
Realmente, o livro de Salmos de Davi é um dos maiores livros missionários do mundo, embora seja raramente 
visto desse ponto de vista. Os Salmos não apenas estão repletos de referências de conotação universal, mas 
salmos inteiros são mensagens e desafios missionários. Estude cuidadosamente os salmos 2, 33, 66, 72, 98, 
117 e 145. 
O hino de louvor transcrito abaixo deve ter provocado um impacto profundo sobre um povo de mente 
espiritualizada. Deve ter tido significado especial para o devoto coração hebreu quando ouviu o canto do coral 
acompanhado por instrumentos musicais: 
Virão todos os povos que criaste adorar-te, Senhor, cantar teu nome. 
Pois tu és grande e fazes maravilhas, só tu és Deus, Senhor, e não há outro! 
Tenha Deus compaixão, nos abençoe: faça brilhar seu rosto sobre nós! 
Conheçam-se na terra os seus caminhos e a sua salvação entre as nações! 
Ó Deus, que os povos todos rendam graças, agradeçam-te, ó Deus, todos os povos! 
Rejubilem-se e alegrem-se as nações, porque julgas os povos com justiça e guias as nações por toda 
a terra. 
Ó Deus, que os povos todos rendam graças, agradeçam-te, ó Deus, todos os povos! 
Eis que a terra nos deu os seus produtos; o Senhor, nosso Deus, abençoou-nos. Salmos 86.9,10; 67.1-
7 
A universalidade é pronunciada constantemente nos Salmos. 
Oração de dedicação. A construção e dedicação do templo tiveram grande importância nacional e 
religiosapara o povo de Deus no Antigo Testamento. O templo foi introduzido em uma nova era na ordem 
externa do culto. Seu desígnio era unificar a nação e simbolizar a unidade e glória de Jeová. Israel deveria ter 
apenas um templo e um lugar central de culto, assim como adorar apenas a um Deus. 
Enquanto nos surpreendemos com os sacrifícios quase que inumeráveis, admiramos a oração de 
dedicação do rei Salomão, que representa o cerne espiritual de todos os ritos, todas as cerimônias e liturgias. 
Estamos em solo sagrado nessa oração. Essa é mais do que uma oração humana; ela expressa mais do 
que os desejos e anseios do homem. A marca do Espírito Santo está evidente nela. Salomão, como o 
representante do povo de Deus, orava inspirado e orientado pelo Espírito Santo e, dessa forma, expressava o 
desígnio de Deus para seu povo. A partir desse ponto de vista devemos ler essa oração. À medida que o 
fazemos, encontramos uma maravilhosa exposição dos pensamentos de Deus. 
Note a extensão e o caráter inclusivo da oração. Salomão, bastante ciente das várias necessidades de 
seu povo e sua terra, humildemente pediu ao Senhor para ser piedoso com o povo quando eles clamassem a 
Ele nas várias circunstâncias da vida e história. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 47 
 
Feita essa sua oração pelo povo, Salomão foi levado pelo Espírito a anunciar a vinda do estrangeiro 
para orar no templo. Assim, ele incluiu o estrangeiro em suas orações para que ele também pudesse encontrar 
uma porta aberta diante da presença do Senhor. 
Em resumo, ele então declarou o propósito missionário de tudo isso: “que todos os povos da terra 
conheçam teu Nome e te respeitem, como teu Nome foi invocado sobre este Templo que eu edifiquei” (1 Rs 
8.43). 
Uma vez mais Salomão revisa as necessidades de seu povo e com uma súplica as apresenta ao Senhor. 
Novamente ele expressa o desígnio missionário de tudo isso: “Para que todos os povos da terra saibam que o 
Senhor é Deus, e que não há outro” (1 Rs 8.60). 
Podemos questionar seriamente se Salomão compreendia a implicação total dessa oração. Apesar disso, 
o Espírito Santo o orientou a incluir o estrangeiro em sua oração e apontar a importância missionária do templo. 
O templo era o monumento de Deus que estabelecia sua relação com a terra e sua acessibilidade a todas as 
nações. Era dessa forma que Isaías via o templo (Is 56.7). Aqui, Deus estava se fazendo conhecer de uma 
maneira extraordinária para todo o povo. 
Despertar missionário na era profética 
O fenômeno rabbi (profeta) não era peculiar à religião reveladora de Israel, pois era muito difundido e 
pode ser encontrado por toda a Ásia. Assim, um estudo considerável envolveu tanto os estudiosos do Antigo 
Testamento quanto os estudantes de religiões comparadas para traçar uma linha entre o revelador e o não 
revelador, ou profetas bíblicos e não bíblicos. 
A mensagem dos profetas de Deus. A mensagem dos profetas da revelação surge de circunstâncias 
imediatas e dirige-se a condições e emergências imediatas. Nesse sentido, ela era experimental e histórica. 
Limitá-la a essa plataforma, porém, é privá-la de sua qualidade, origem e orientação divinas distintas. As 
mensagens de Lao-tzu, Confucio, Gautama (Buda) e outros “profetas” também se originaram de necessidades 
e circunstâncias locais distintas e tratavam das pessoas de seu tempo. As mensagens desses últimos, porém, 
não possuem aquele nível mais profundo de contemporaneidade, atualidade, continuidade. Elas não 
apresentam aquela previsão, visão, esperança e inspiração especial messiânica. 
O impulso missionário dos profetas. A mensagem dos profetas quanto ao seu impulso missionário de 
propósito e salvação divina é clara e pronunciada. Para atender os objetivos de nosso estudo, reunimos os 
profetas da seguinte maneira: profetas pós-exílio — Ageu, Zacarias, Malaquias; profetas do exílio — Jeremias, 
Ezequiel, Daniel; profetas pré-exílio — Obadias, Jonas, Naum, três profetas que dedicam todas as suas 
mensagens às nações não israelitas, Edom e Nínive respectivamente. Duas são mensagens de julgamento; a 
outra é uma mensagem de salvação. Isso deixa sete profetas pré-exílio: Joel, Amós, Oséias, Isaías, Miquéias, 
Sofonias, Habacuque. Esses serão os que consideraremos primeiro. 
Os profetas pré-exílio. Deve-se notar duas questões em relação aos profetas pré-exílio. Primeira, esses 
profetas de Deus ministraram em um período de tempo de aproximadamente 175 anos (800-625 a.C.). Dessa 
forma, eles falam muito às mesmas pessoas e das mesmas circunstâncias. Pode-se esperar que sua mensagem 
e as formas de pensamento de sua mensagem sejam todas parecidas, deixando espaço, todavia, para diferenças 
de personalidade e outros fatores. Além disso, pode-se esperar que haja uma duplicação considerável que se 
assemelha a um empréstimo consciente ou inconsciente. 
Segunda, todos esses profetas apresentam pelo menos uma alusão sobre a universalidade. Sofonias 
apresenta talvez a palavra mais breve sobre a universalidade, já que ele está dirigindo-se a Judá sobre os futuros 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 48 
 
julgamentos de Deus (cf. 1.2,3 — a face da terra; 2.11 — todas as terras das nações; 3.8 — toda a terra será 
consumida; 3.20 — entre todos os povos da terra). 
Dessa forma, no dia do Senhor, o julgamento de Deus irá se estender a todas as nações da terra (1.2,3; 
3.8), por isso, todos irão honrar o Senhor (2.11), e todos irão conhecer o seu poder de salvação (3.19,20). 
Habacuque estabelece três princípios básicos de relevância universal: 
1. Um princípio universal de justificação pela fé (2.4). 
2. Um conhecimento universal da glória do Senhor (2.14). 
3. Um culto universal do Senhor (2.20). 
Assim, ele qualifica-se bem como um universalista por trás de um particularismo nacional. 
Joel, dirigindo-se a Judá e prevenindo a terra do terrível julgamento no dia do Senhor, também conta 
sobre as futuras bênçãos. Assim como os julgamentos de Deus recairão sobre todas as nações (Joel cita pelo 
menos sete deles, 2.20; 3.4,6,8-9, e fala de “todas as nações”, 3.9,11,12), as nações irão compartilhar a bênção 
do Espírito (2.28, “toda carne”) e a paz que seguirá o julgamento do dia do Senhor (3.9-12). 
Amós, uma voz poderosa em Betel — é vibrante e tem um coração de convicção e paixão. Ele é mais 
do que um pregador, ele é um profeta de justiça social que se baseia em justiça pessoal. Embora seja 
aparentemente um homem iletrado de ocupação humilde, Amós é um dos estudantes mais atentos de história 
e questões mundiais. Seu conhecimento apurado da vida e dos pecados da nação é tão espantoso quanto sua 
ousadia em proclamar os julgamentos avassaladores. 
Sua universalidade é mais implícita do que explícita. Ainda assim, o próprio fato de que Deus é o Juiz 
universal incluiria o princípio de que Deus também é o Salvador universal. Ele é o Deus das nações, e ninguém 
escapa de suas observações, sua atenção e seu julgamento. Esse pensamento é expresso na mensagem de 
restauração que conclui o livro de Amós (9.7-12, particularmente o versículo 12). Aqui, a esperança de todas 
as nações ilumina a obscuridade do livro. Na esperança de restauração de Israel encontra-se a esperança de 
salvação das nações. A universalidade de Deus é reforçada pelo seu controle e domínio cósmico, como o 
profeta ousadamente o declara (5.8,9; 9.5,6). 
Oséias, talvez um contemporâneo de Amós ou seu seguidor mais próximo, é um filho do Reino do 
Norte e fala como um “missionário local” ao seu próprio povo. Com amor terno e grande compaixão, ele 
entrega seu coração e sua vida à renovação de sua terra. Seus pronunciamentos rigorosos do julgamento de 
Israel, assim como o de Judá, são amplos e sem referência a pessoas, embora fossem exprimidos com uma 
terna simpatia e uma esperança de arrependimento. A esperança de restauração ilumina os céus escuros do 
juízo e promete uma aurora para sua nação. Porém, Oséias nãovai além de seu povo. Assim, toda a sua 
mensagem de precaução, julgamento e esperança está relacionada a Israel. Nenhum comentário quanto à 
universalidade é feito. 
A própria visão limitada de universalidade por parte de Amós e Oséias talvez não se deva à sua visão 
profética, mas, ao invés disso, às pessoas a quem se dirigiam. Ambos encontraram sua área de atuação nas dez 
tribos do Norte, o povo de Israel. O Antigo Testamento, porém, deixa muito claro que Deus nunca aprovou a 
ruptura, e que não havia um “futuro” para Israel como uma nação de dez tribos. Sua futura restauração e seu 
estado de graça estavam ligados à reunificação a Judá. Apenas com Judá, Israel voltará ao seu devido lugar na 
economia de Deus. Assim, a ideia de universalidade é muito mais pronunciada nos profetas de Judá, como 
veremos em Miquéias e Isaías. 
Isaías e Miquéias eram contemporâneos e podem ser considerados juntos. Foi bem colocado que Isaías 
é o grande profeta evangelista e príncipe dos profetas do Antigo Testamento. Um grande internacionalista e 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 49 
 
um profeta de visão e dimensão cósmica, ele não vê apenas Israel e as nações renovadas, mas os céus e a terra 
também. 
Na primeira seção (caps. 1—39), Isaías, o profeta-político, dirige- se não apenas a Judá, mas também 
às nações do mundo. Sua filosofia de história assume que todas elas estão sob o domínio soberano do 
Santíssimo de Israel e sob o julgamento justo da justiça de Deus. Nenhum dos deuses das nações pode interferir 
em sua soberania e força e salvar de seus julgamentos. Dessa forma, as nações são precavidas em relação a 
Deus (caps. 10 e 13—23). O poder de Deus sobre as nações é estabelecido mais a fundo através de sua 
intervenção entre os assírios e seu julgamento específico deste povo (caps. 36-— 37). As nações, porém, 
também estão incluídas nas grandes promessas da graça que Isaías profetizou, de acordo com as seguintes 
referências: 2.1-4; 11.3,4,9-10; 25.6-9. 
O clímax de toda a profecia do Antigo Testamento é encontrado na segunda seção de Isaías, uma mina 
farta da qual os intérpretes têm recolhido muito ouro precioso, mas também muita madeira, muito feno e 
restolho. Sem dúvida, a segunda divisão de Isaías é o segmento mais messiânico dos escritos do Antigo 
Testamento. 
Nosso estudo aqui está restrito ao “serviço” como revelado nesta seção, especialmente nos capítulos 
40—53. Nesses capítulos Deus está dirigindo-se a Israel de uma maneira muito pessoal. Ele refere-se a ela 
como “meu povo”, “Israel que escolhi”, “Israel meu escolhido”, “minha nação” e “meu mensageiro”. A 
designação mais frequente é “meu servo”, que ocorre 13 vezes (41.8,9; 42.1,19; 43.10; 44.1,2,21,26; 45.4; 
49.3,6; 52.13). A isso deve ser acrescentado “o servo do Senhor” (42.19), “meus servos” (44.26; 49.5; 50.10), 
e “seu servo Jacó” (48.20). Assim, um total de 18 referências abordam serviço. Isso é muito importante para 
uma seção de material que é tão altamente messiânica. A esperança messiânica, no nível mais profundo, é uma 
esperança de graça que deve ser experimentada e apreciada, ou um serviço a ser prestado? 
Dentro dessa parte, encontram-se quatro passagens particulares conhecidas comumente como os 
“cânticos do servo” (Is 42.1-9; 49.1-13; 50.4-9; 52.13—53.12), que dizem respeito ao “servo ideal de Jeová”. 
Isaías, dessa forma, parece falar de dois servos diferentes; Israel como um servo de Jeová, e um homem ideal 
como servo de Jeová. 
H. Wheeler Robinson, após submeter a seção a um estudo cuidadoso comparativo, conclui que o 
“servo” dos cânticos do servo deve ser distinguido da nação de Israel como um servo de Jeová, pois “por um 
lado, o aspecto geral do Servo nos Cânticos é diferente daquele no resto do Deutero-Isaías, e por outro essas 
são passagens que sugerem uma missão para, ao invés de, Israel. Esses são pontos importantes que merecem 
uma atenção especial. 
Voltamos nossa atenção primeiro para Israel como o servo de Jeová. Qual é a principal 
responsabilidade de Israel como um servo de Jeová de acordo com Isaías? Parece-me que a missão mais 
importante é exprimida em duas frases recorrentes. Elas são: “Sois minhas testemunhas” (43.10,12; 44.8) e “o 
mensageiro que envio” (42.19; 44.26). Israel tinha uma mensagem a declarar neste mundo. Essa era a 
responsabilidade suprema do servo. 
Três verdades envolvem esta missão: 
1. A missão de Israel é uma missão designada por Deus. Deus é explícito ao enfatizar que Ele é a fonte 
e o Originador dessa missão. Ele criou Jacó, Ele formou Israel, Ele libertou seu povo; Ele é o Criador e o 
Libertador, o Rei e o Santo de Israel. Essas frases e designações ocorrem repetidamente. Israel não é um povo 
que se fez sozinho, nem uma nação que declarou seu próprio destino; Israel é “o povo que formei para mim 
proclamará meus louvores” (43.21). Israel não pertence a si mesma, mas é peculiarmente o povo de Deus para 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 50 
 
uma missão e um propósito, únicos e divinos. Sua origem encontra-se em Deus, e ainda seu destino e propósito 
pertencem a Deus. Ele é o começo e Ele deve ser o fim de Israel. Israel deve se colocar à disposição de Deus 
e viver para Ele. Ele não irá alterar sua escolha, nem Israel encontrará descanso e significado na vida até que 
a nação se renda a Deus. 
2. A missão de Israel é uma missão centrada em Deus. Assim como Deus é o Originador da missão de 
Israel, Ele também é o seu centro e sua essência. Israel existia principalmente nos tempos do Antigo 
Testamento para o propósito de sustentar o monoteísmo ético em oposição a, e no meio de, um mar de 
enoteísmo, politeísmo, e monismo filosófico. Este último não possuía princípios éticos absolutos, propósito 
ético, ou uma orientação religiosa de vida. A complacência e a indiferença espiritual são os principais 
resultados de seu impacto. 
A missão centrada em Deus fica evidente a partir da contínua ênfase na divindade única de Deus: “Sou 
o Primeiro e o Último. Fora de mim, não há Deus” (Is 44.6; ver também 44.8; 45.5,6,21). Dessa forma, o 
caráter absoluto, único e singular de Deus é declarado repetidamente. Deve ser comentado aqui que, devido a 
esse fato, e para tornar essa verdade viva para Israel e as nações, o culto era permitido e aprovado apenas em 
um lugar em Israel. Israel devia ter apenas um templo. 
Deus apresentou-se, estando de acordo com essa ênfase, como o único Criador por quem e em quem 
todo o Universo existe. Além dEle não há outro criador. Ele é o único Libertador: “Exceto eu, não há 
salvador... não há quem possa escapar de minha mão”. Ele, também, é o único Deus da verdadeira profecia. 
Apenas Ele revela os mistérios do que surge após a criação e os segredos das coisas que virão. Esse é um dos 
importantes argumentos quanto à divindade (Is 41.22; 43.10; 44.7; 45.21; 46.10; 48.3,5). 
Esse é o testemunho positivo que Israel deve apoiar neste mundo. No meio do humanismo religioso e 
da apostasia idólatra, o povo de Deus deve sustentar o monoteísmo ético. 
Deus expressa claramente através de Isaías sua atitude em relação à idolatria com pronunciamentos e 
comentários rigorosos. De várias maneiras Deus procura desviar a atenção e as afeições de Israel da idolatria, 
e salvá-la desse mal, para torná-la uma testemunha de si mesmo em um ambiente idólatra. Como nosso Deus 
é diferente! Ele nos assegura da certeza de sua proteção (46.3,4), da certeza de seu propósito (46.9-11) e da 
certeza de sua salvação (46.12,13). 
Claro, a idolatria não implica apenas a adoração de imagens fundidas. Ela também pode incluir a 
adoração a grandes ideias, sistemas, instituições e personalidades. Enquanto que o hinduísmo e o budismo 
possuem suas numerosas imagens, o Ocidente possui uma idolatria mais sutil: uma adoração ao cientismo, 
psicologismo, espiritismo etc. Deus não irá tolerar qualquer forma de idolatria. 
Finalmente, perceba as afirmações claras e ousadas e Deussobre sua unicidade, supremacia, soberania 
e incondicionalidade (41.4; 43.13; 44.8-10; 45.22,23; 46.9-11; 48.12,13). Ele reina de forma suprema no céu 
e na terra. Todas as nações estão sob seu controle e julgamento, e todos devem recorrer a Ele em busca de 
salvação. Ninguém pode resisti-lo. Dessa forma, Deus confronta a idolatria e o idólatra e procura trazê-lo para 
si. 
3. A missão de Israel é uma missão para com as nações. Isaías apresenta alguns dos textos missionários 
mais notáveis do Antigo Testamento (cf. 40.5; 42.1,6,7,10; 45.22,23; 49.6,26; 51.4,5; 52.10,15). Israel existe 
para as nações e encontra verdadeiro significado em missão mundial. 
Embora o julgamento das nações e dos reis insubordinados esteja implicado e a idolatria e a falta de 
religião não sejam toleradas, a salvação é para toda a humanidade e deve ser ofertada a todas as nações em 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 51 
 
termos iguais, com bênçãos e privilégios iguais. Nessa grande e gloriosa tarefa, Israel deve ser o instrumento 
e o mediador de Deus. 
Essa missão de Israel não foi descoberta através de um gênio religioso ou de ambições egoístas e 
voluntariamente assumidas. Ela foi conferida divinamente. Esse é o chamado e propósito de Israel. Ela não 
deve viver para si e para seu próprio engrandecimento. Jacó, o suplantador, deve ceder passagem para Israel, 
o príncipe de Deus, e tornar-se o mediador de Deus entre Ele e as nações do mundo. 
O Servo ideal. Tudo isso é ampliado e enriquecido enquanto muito é acrescentado igual ao Servo de 
Jeová nos quatro cânticos do servo. Isaías retrata o servo como o homem ideal, ainda assim rejeitado 
publicamente. Ele sofre inocente, voluntária, sublime, devota e silenciosamente. Seus sofrimentos até a morte 
são vicários, redentores e compensadores, pois eles são ordenados por Deus. Porém, a morte cede passagem 
para a ressurreição, e seu triunfo é completo (Is 52.13—53.12). 
Os três outros cânticos ampliam muitas dessas características e todos deixam claro que esse Servo tem 
relevância universal. Nós somos informados no primeiro cântico: 
 
Ele levará o direito às nações... sem se cansar nem desfalecer, até implantar a justiça na terra. 
[Ele será] a aliança do povo 
e a luz das nações, 
para abrir os olhos dos cegos, 
para fazer sair os cativos da prisão, 
e da masmorra os que habitam nas trevas (42.1,4,6,7) 
 
O segundo cântico está dirigido às regiões costeiras e ao povo de longe: 
 
É pouco demais que sejas meu servo, para soerguer as tribos de Jacó e reconduzir os restos de Israel. 
Eu te destino a ser a luz das nações para que minha salvação atinja os confins do orbe (49.6) 
 
O quarto cântico nos informa: 
 
Também pasmarão muitas nações! 
Diante dele os reis se calarão, 
pois o que não lhes tinha sido contado 
eles verão, o que eles não tinham ouvido compreenderão (52.15) 
 
Dessa forma, Israel como servo de Jeová e o Messias como Servo ideal têm importância universal e 
passam a ter pleno significado apenas em âmbito mundial. 
A última parte de Isaías (caps. 55—66) trata principalmente da restauração de Israel. Ainda assim, 
mesmo à luz dessa preocupação maior, a marca da universalidade não diminui. Belas promessas de ricas graças 
para as nações são confirmadas no meio da glória destinada a Israel. O leitor deve estudar cuidadosamente 
passagens tais como 55.4-5; 56.3-7; 59.19; 60.10-16; 61.5-11. Tem uma importância especial a passagem 
66.18-21. A evangelização de toda a terra está exprimida aqui talvez mais enfaticamente do que em qualquer 
outra parte do Antigo Testamento. Aqui, só o Senhor promete tomar pessoas dentre as nações para seu serviço 
peculiar. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 52 
 
As nações não contemplarão apenas sua glória; elas também a declararão. E “de alguns entre eles farei 
sacerdotes e levitas, diz o Senhor” (66.21). 
Assim, não existe apenas uma partilha igual das bênçãos de salvação, mas do ministério responsável, 
em igualdade de posição, e do privilégio de honra. Esse é o pináculo da universalidade do Antigo Testamento. 
A perfeita harmonia entre Miquéias e Isaías é percebida na seguinte citação de Miquéias 4.1-4: 
 
Sucederá nos últimos tempos que a Montanha do Templo do Senhor será fundada no cume das 
montanhas e se elevará acima das colinas: a ela afluirão povos e virão nações numerosas. Dirão: Vinde, 
subamos à Montanha do Senhor, vamos ao Templo do Deus de Jacó, para que nos ensine seus caminhos e 
sigamos suas veredas. Pois de Sião sairá a Lei, e a palavra do Senhor de Jerusalém. Ele julgará entre os 
povos numerosos e decidirá para nações poderosas, mesmo ao longe; eles forjarão relhas de suas espadas e 
foices de suas lanças. Uma nação não erguerá a espada contra outra, nem se treinará mais para a guerra. 
Eles ficarão assentados cada um debaixo de sua vinha, sob sua figueira, sem que haja quem os inquiete, 
porque a boca de Javé falou. 
 
Os profetas do exílio —Jeremias, Ezequiel, Daniel — e os profetas pós-exílio — Ageu, Zacarias, 
Malaquias — não acrescentam ou se estendem sobre a visão de Isaías. Eles também não diminuem, modificam 
ou contradizem a descrição de Isaías do ministério de Israel e do Servo ideal de Jeová. A universalidade de 
Isaías, portanto, permanece constante e normativa. 
O último grupo de profetas citado, porém, trabalha duro para preservar Israel como um povo peculiar 
e moldá-la de acordo com o servo de Jeová. Jeremias procura preservar a consciência de pecado, Ezequiel a 
consciência de Deus, Daniel a consciência de reino, e Ageu, Zacarias e Malaquias a consciência de Israel como 
o povo de Deus de forma peculiar. 
CONCLUSÃO 
Dessa forma, a universalidade da salvação permeia todo o Antigo Testamento. Ela não é periférica, 
mas, ao invés disso, compreende a intenção da revelação do Antigo Testamento, pois compreende o propósito 
dominante do chamado, da vida e do ministério de Israel. 
O Antigo Testamento não contém missões; ele é por si “missões” no mundo. Como uma voz 
solitária no deserto, o Antigo Testamento proclama ousadamente o monoteísmo ético revelador em protesto 
ao enoteísmo grego, egípcio e, mais primitivo, hindu — os vários sistemas de politeísmos adjacentes e o 
monismo incipiente filosófico do Ocidente. Criado por Deus para declarar a religião normativa, ele foi 
ameaçado repetidamente com destruição e corrupção, mas Deus, gloriosa e miraculosamente, preservou tanto 
a essência dos livros (o Antigo Testamento) e o povo como seu portador (Israel). Realmente, o Antigo 
Testamento é um livro missionário e Israel um povo missionário. 
Em Cristo, a verdadeira interpretação e realização do Antigo Testamento afloraram para a cura das 
nações do mundo. Realmente, o Novo Testamento é a interpretação normativa do Antigo Testamento enquanto 
que ao mesmo tempo ele abole e modifica muitas práticas, e transforma, amplia e completa a revelação de 
Deus. É esse fato que nos confere a responsabilidade missionária para com o mundo todo e cada indivíduo. 
 
 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 53 
 
TEOLOGIA MISSIONÁRIA DO NOVO TESTAMENTO 
 
Precisamos apenas nos lembrar do fato de que o livro de Atos é o autêntico registro missionário dos 
apóstolos e da Igreja Primitiva e de que todas as epístolas foram escritas para igrejas estabelecidas através de 
esforços missionários. Se o cristianismo não fosse uma religião missionária e os apóstolos não tivessem sido 
missionários, não teríamos o livro de Atos e nenhuma epístola. Com a exceção de Mateus, até mesmo os 
Evangelhos foram escritos para igrejas missionárias. O Novo Testamento é um livro missionário em discurso, 
conteúdo, espírito e desígnio. Esse é um fato simples, mas também é um fato de real e profunda importância. 
O Novo Testamento é mais a teologia em ação do que teologia em razão e conceito. Ele é “teologia 
missionária”. 
Para estabelecer a teologia de missões no Novo Testamento aceita-se simplesmenteo Novo Testamento 
pelo que é. Nenhum leitor pode permanecer imune ao seu impulso e desígnio missionário. Talvez haja pouca 
teologia de missões no Novo Testamento, porque ele é em sua totalidade uma teologia missionária, a teologia 
de um grupo de missionários e uma teologia em movimento missionário. Dessa forma, ele não apresenta uma 
teologia de missões; ele é uma teologia missionária. Leia o Novo Testamento a partir desse ponto de vista. 
Pensou-se que os apóstolos não conferiram à evangelização ou missões mundiais uma alta prioridade, 
já que eles parecem estar falando relativamente pouco sobre elas em suas epístolas. Essa parece uma dedução 
lógica exceto pelo fato de que se baseia em uma leitura superficial dos escritos do Novo Testamento e em uma 
má interpretação da mente dos apóstolos. 
É verdade que os apóstolos não declaram ou voltam a declarar a comissão de Cristo nas epístolas. 
Deve-se ter em mente, porém, que a chamada Grande Comissão, como está registrada em vários Evangelhos, 
pertence à tradição viva da igreja dos apóstolos. O próprio fato de que todos os autores dos Evangelhos a citam 
de uma forma ou outra é uma clara evidência de que sua existência e essência são conhecidas quase que 
universalmente. Isso é estabelecido claramente por Lucas à medida que escreve sobre coisas “que entre nós se 
cumpriram” (Lc 1.1). Isso, claro, inclui a responsabilidade de evangelizar o mundo, a qual Lucas expõe em 
muito mais detalhes do que os outros autores. 
Novamente, estando de acordo com a prática de seu Mestre, os apóstolos sustentaram grandes 
princípios de fé e conduta, implantando grandes ideais de missões na vida das igrejas. Eles confiavam que o 
Espírito Santo iria, em seu devido tempo, transformar esses ideais em uma motivação dinâmica. Essa foi sua 
própria experiência. Dessa maneira, a evangelização do mundo iria tornar-se um ideal vivo e dinâmico das 
igrejas, ao invés de um “mandamento” em letras a ser obedecido ou ao qual submeter-se. Assim, enquanto que 
os apóstolos não ordenam missões, os grandes ideais nas epístolas as implicam muito enfaticamente. 
Essa ênfase é muito evidente nos escritos do apóstolo Paulo, como pode-se esperar. Deus não é o Deus 
de todas nações? Cristo não morreu pela humanidade? Não foi dito que Deus não deseja que ninguém pereça? 
Os cristãos não são incitados a orar pela salvação de todos os homens? Paulo não é preciso em seu chamado 
para ser um missionário às nações? Ele não aceita isso como uma bênção especial do Senhor? A igreja não 
deve ser unida dentre as nações? Paulo não especifica que o ignorante e o não cristão deverão sumir da 
presença de Deus? Paulo não defende certas igrejas missionárias como exemplos especiais a outras igrejas? 
Paulo não está levantando uma série de questões surpreendentes em Romanos 10.14,15? O apóstolo não está 
treinando um grande grupo de obreiros fiéis para continuar a obra que ele começou? Tais são alguns dos 
grandes ideais missionários do Novo Testamento. É incrível quanta ideologia missionária existe nessas 
epístolas. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 54 
 
Por outro lado, precisamos ter em mente que o Novo Testamento apresenta um momento duplo: o 
vertical e o horizontal. O último predomina nos Atos dos Apóstolos, o primeiro nas epístolas. Juntos, eles 
formam uma unidade divina que equilibra o cristianismo e as igrejas. Sempre devemos mantê-los juntos. 
Também devemos lembrar que toda a igreja se encontrava em uma esfera de missão em um sentido 
muito peculiar. Toda a igreja estava cercada por multidões sem Deus, sem esperança. Esse era seu primeiro 
desafio, como relata Paulo à igreja em Filipos (Fp 2.12-16). Palavras similares são proferidas às igrejas em 
Corinto, Éfeso, Colossos e à igreja dos tessalonicenses. 
Novamente, Paulo louva as igrejas em Roma e em Tessalônica por seus esforços na evangelização de 
sua comunidade e além de suas fronteiras (Rm 1.8; 1 Tm 1.8). O apóstolo adverte à igreja de Corinto a ser rica 
no trabalho do Senhor (1 Co 15.58), isto é, eles devem superar-se, ir além de suas fronteiras habituais, 
espalharem-se e fazerem além do normal. O apóstolo também elogia os filipenses por terem uma parte ativa 
em seu ministério (Fp 4.10). Deve ser lembrado que a igreja dos filipenses tinha um missionário atuando (Fp 
2.25). 
Paulo espera que seu próprio exemplo inspire outros a seguir seus passos. Ele convoca as igrejas para 
segui-lo, assim como ele segue a Cristo (1 Co 11.1; 4.16; Fp 3.17; 1 Tm 1.6; 2Tm 3.6-7). Ele deixa claro que 
sua missão suprema é a evangelização (1 Co 1.17: “Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para 
evangelizar”). Ele fala em termos claros de sua missão de evangelizar (1 Co 9.16-18). Seguir Paulo significava 
trilhar o caminho do evangelismo. 
Finalmente, os escritos de Paulo apresentam alguns dos maiores textos e pensamentos missionários. 
Não podemos ler Romanos 10.12-18 e não pensar em missões. Segunda Coríntios 5.9-21 permanece como um 
texto missionário modelo, e, sem dúvida, esses versículos têm inspirado milhares a uma participação ativa em 
missões. Efésios 3.1-12 surge com um desafio missionário. Isso também é verdade quanto a Romanos 1.13-
17; 1 Coríntios 9.16-18; Filipenses 2.14-16; e 1 Timóteo 2.1-7. Muitas outras passagens podem ser citadas. 
Paulo fala muito de missões e evangelização. Um divulgador e representante supremo do Evangelho, ele 
esperava que as igrejas primitivas seguissem o seu exemplo. 
Missões não é periférico no Novo Testamento. Os apóstolos conheciam o valor de missões em suas 
próprias experiências. Eles incluíram ativamente igrejas recém-formadas no empenho missionário, solicitando 
suas orações, aceitando suas contribuições, atraindo seus co-trabalhadores quase que exclusivamente a partir 
delas. Isso é especialmente verdade tratando-se do apóstolo Paulo, que não escreveu nenhuma carta de petição 
às suas igrejas natais, nem recorreu a elas para enviar fundos e obreiros adicionais. Ele encontrou todas as 
fontes necessárias nas novas igrejas. Elas compartilharam a universalidade prática dos apóstolos e tornaram-
se igrejas missionárias por natureza, desígnio, chamado e prática. 
A fim de penetrarmos na teologia missionária do Novo Testamento, devemos pesquisar brevemente os 
conceitos missionários básicos que se encontram por trás das atividades missionárias dos doze. Também 
devemos estudar a teologia missionária de Paulo. 
OS DOZE 
Os Evangelhos relatam pouquíssimas declarações dos apóstolos. Aqui, eles eram observadores, 
seguidores, aprendizes, discípulos. Para conhecer sua mente e aprender sua teologia, devemos ouvi-los falar e 
ler seus escritos. Nossas fontes principais, portanto, são o livro de Atos e as epístolas escritas pelos apóstolos. 
No livro de Atos, vemos os apóstolos trabalhando, primeiro como missionários entre sua própria gente 
e mais tarde como embaixadores de Cristo entre as nações do mundo, embora não tenhamos os relatos dos 
vários membros do apostolado. Marcos escreve retrospectivamente: “E eles [os apóstolos], tendo partido, 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 55 
 
pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se 
seguiram” (Mc 16.20). Os locais e as áreas geográficas exatas são impossíveis de serem estabelecidos por nós 
com precisão. A partir do curso da história do cristianismo, somos levados a concluir que todos eles eram 
evangelistas e missionários eficazes. De acordo com a tradição, a maioria deles tornou-se mártir nos campos 
de missão do mundo. A difusão rápida e ampla do cristianismo dentro de umas poucas décadas é nosso melhor 
comentário sobre o zelo e a atividade dos apóstolos. 
Temos uma noção muito preciosa quanto à motivação desses homens em seu ímpeto missionário. A 
teologia implícita e explícita torna-se evidente. 
A grande linha divisória nas vidas dos doze é o Pentecostes, a linha divisória de missõesevangélicas. 
Aqui, missões do Novo Testamento inicia um curso progressivo em sua realização. Portanto, a importância 
missionária de Pentecostes está além da capacidade de compreensão humana. A presença do Espírito Santo 
nas vidas dos apóstolos fez toda a diferença, pois ela os transformou em homens de Deus e apóstolos. Eles, 
ousadamente, confessaram que eram testemunhas do evento redentor de Deus em Cristo, enfatizando 
particularmente a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Para os judeus em Jerusalém, eles testemunharam 
supremamente a ressurreição de Cristo. Eles, ousadamente, ensinavam que na ressurreição Deus atendeu a 
todos os clamores de Cristo, realizou a redenção e declarou Cristo como Senhor, Messias, Salvador e Juiz (At 
2.32,36; 3.15,26; 4.10,11,33; 5.31,32; 7.52,56). Eles declararam enfaticamente que apenas Cristo é o Salvador 
da humanidade e que não há salvação em nenhum outro “porque também debaixo do céu nenhum outro nome 
há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12). Eles, corajosamente, contaram à Suprema 
Corte sobre sua compulsão interior para obedecer a Deus ao invés de qualquer ordem da Corte. Eles declararam 
bravamente: “Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus”. E novamente: “Mais 
importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 4.19; 5.29). A nobreza de Cristo controlava suas vidas; sua 
vontade e palavras eram sua ordem. A chama interior de suas experiências não poderia ser detida; eles tinham 
que falar sobre as coisas que viram e ouviram. 
Portanto, concluímos que sua teologia missionária nasceu de uma fonte profunda com raízes nas 
verdades eternas que se tornaram suas experiências terrenas. Não há outra explicação razoável para sua chama 
e energia missionária. Os grandes ideais missionários que Cristo viveu e ensinou alcançaram sua realização 
no tempo determinado por Deus e sob o ministério glorioso do Espírito Santo. O Espírito Santo não opera nos 
corações privados de verdade e realidade. 
À medida que traçamos a teologia missionária dos apóstolos, alcançamos a profundidade de sua 
motivação. Vamos definir várias áreas que se relacionam ao seu ímpeto missionário. 
 
MOTIVAÇÃO APOSTÓLICA MISSIONÁRIA 
É difícil fazer justiça numa análise de motivações. Elas não são extraordinárias, mas em grupos tornam-
se dinâmicas. Algumas são evidentes, enquanto outras permanecem ocultas e irreconhecíveis. Algumas se 
nivelam e tornam-se dominantes em uma ocasião, e outras em outra ocasião. Dessa forma, a melhor análise é 
uma penetração apenas em parte. 
Somos auxiliados em nosso estudo dos apóstolos por algumas declarações feitas de parte deles que 
como outros homens procuraram investigar. Isso nos coloca pelo menos no caminho certo em nossa caminhada 
e também deveria nos capacitar a compreender e interpretar os apóstolos corretamente, mesmo que não seja 
por completo. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 56 
 
Vejamos uma série de declarações breves que parecem estar por trás do grande movimento do período 
apostólico e que expressam, pelo menos em parte, a motivação dos homens que viraram o mundo de cabeça 
para baixo. 
Os apóstolos foram tomados pelo grande e soberano ato de Deus enraizado em seu plano eterno. Tal 
ato, ocorrido em Cristo Jesus, o homem de Nazaré, foi realizado na história — no aqui e agora, no tempo e 
espaço. Ocorrendo de acordo com as profecias, foi completado para o bem de toda a humanidade. Ele deve 
ser obtido pela fé em Jesus Cristo, e tal fé está ligada experimentalmente ao arrependimento do pecado. 
Os apóstolos sabiam que Deus tinha agido. Ele tinha agido soberana, decisiva e redentoramente. 
Embora sem exonerar os judeus de sua culpa por crucificar em Cristo, Pedro declara sem hesitação que Cristo 
foi concebido pelo plano e previsão determinados por Deus (At 2.23; 4.28). A rejeição e crucificação de Cristo 
não ocorreram apenas devido ao pecado de Israel, pois de alguma forma Deus tinha agido neles de acordo com 
seu propósito e plano glorioso de salvação. Assim, o envio de Cristo ao mundo e a sua ressurreição são 
constantemente atribuídos a Deus; são atos de Deus. Mais tarde, Pedro concretiza plenamente essa posição, 
quando escreve sobre Cristo como sendo o Cordeiro sem mancha e mácula: “O qual, na verdade, em outro 
tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo” (1 Pe 1.20). 
Com uma tendência similar, João escreve: “Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus 
enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos. Nisto está o amor, não em que nós tenhamos 
amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados”. 
E novamente: “O Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo”. E uma vez mais: “Deus enviou seu Filho” 
(1 Jo 4.9,10,14). 
O Deus de amor eterno agiu de uma maneira muito concreta, decisiva, apropriada e eficaz. Embora 
mãos diabólicas tenham crucificado o Senhor de glória, isso não contrariou o eterno propósito de Deus. Isso 
também não estava separado de seu plano, pois, no sentido máximo, Deus tinha agido. Ele entregou seu Filho; 
Ele enviou seu Filho. Ele manifestou seu amor. 
Dessa forma, Deus não estava frustrado com a rejeição e crucificação de Cristo porque seu plano e 
propósito não foram anulados. Pelo contrário, o pecado e a ira do homem serviram para realizar o plano de 
Deus. Nisso encontra-se a esperança de perdão pelo arrependimento perante Deus e pela fé em Cristo. 
Desespero e condenação não irradiam da cruz, mas ao invés disso, esperança e perdão. 
Os apóstolos estavam convencidos de que o ato decisivo e redentor de Deus tinha ocorrido em Cristo 
Jesus, o homem de Nazaré. Embora o ato de Deus fosse soberano, ele necessitava de mediação. O ato de Deus 
estava ligado indissoluvelmente a Cristo. Ele é o Servo Jesus, o Santo, o Justo, o Príncipe da vida, o Senhor 
de glória (At 3.13-15; Tg 2.1). Ele é Senhor, Messias e Salvador. Nas palavras de Paulo: “Deus estava em 
Cristo reconciliando consigo o mundo” (2 Co 5.19). Os apóstolos desconhecem a salvação separada de Cristo. 
Só “quem tem o Filho tem a vida” (1 Jo 5.12). Eles foram tomados pela profunda convicção da salvação única 
de Cristo crucificado e ressuscitado. Eles o conheciam e o declararam ousadamente como Salvador e Senhor 
dos judeus assim como das nações (At 2.36; 4.12; 10.36). 
Pedro declarou triunfalmente no dia de Pentecostes: “Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que 
a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2.36). Cristo não tinha ordenado os 
discípulos a batizarem “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19)? Por que Pedro, no 
Pentecostes, modifica a fórmula para o nome de Jesus Cristo? 
Posso sugerir que não foi Pedro quem modificou a fórmula. Foi a ordem do Espírito Santo, e foi feita 
para enfatizar a salvação única de Jesus Cristo. De forma muito similar, a capacidade de salvação de Cristo é 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 57 
 
abordada em Atos 3.20; 4.12; 5.31. Quando questionado através de que poder e de que nome o milagre de cura 
do homem manco foi operado, Pedro cita apenas um nome. Assim, “em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, 
aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, em nome desse é que este está 
são diante de vós”. E novamente: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum 
outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.10-12). Pedro declarou 
enfaticamente: “A este [Cristo, a Pessoa histórica, morto e ressuscitado dentre os mortos e constituído por 
Deus o Juiz dos vivos e dos mortos] dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem 
receberão o perdão dos pecados pelo seu nome” (At 10.43). 
Muitos anos depois, Pedro escreveu: “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou 
ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneirade viver que, por tradição recebestes dos vossos pais, mas 
com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1Pe 1.18,19). O apóstolo 
escreve, igualmente, bem mais tarde: “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos 
injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito” (1 Pe 3.18). 
Nenhuma outra testemunha do Novo Testamento é tão enfática quanto a capacidade única de salvação 
de Cristo quanto João. Cristo é “a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também 
de todo o mundo”. João diz claramente: “Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai; e aquele que 
confessa o Filho, tem também o Pai”. O apóstolo nos informa que “seu mandamento é este: que creiamos no 
nome de seu Filho Jesus Cristo”. “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em 
seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida”. “O Pai enviou seu 
Filho para Salvador do mundo”, e a purificação do pecado é alcançada apenas pelo sangue de Jesus Cristo (1 
Jo 2.2,23; 3.23; 5.11,12; 4.14; 1.7). 
De acordo com o testemunho de João, não há propiciação, purificação do pecado, redenção, vida eterna, 
relação Pai e Filho sem a salvação de Cristo. Essa é a declaração solene do apóstolo João em sua primeira 
epístola. 
A harmonia dos apóstolos nessa verdade fundamental está óbvia por todo o Novo Testamento. Jesus 
Cristo é o Salvador e Senhor. Nele, Deus agiu de uma vez por todas — de forma conclusiva, decisiva e 
adequada para toda a humanidade. 
Os apóstolos estavam convencidos de que o ato de Deus ao obter a salvação era um evento histórico 
com resultados históricos. Era a realidade eterna e espiritual manifestada no tempo e espaço. Não é “fé-crença” 
(ilusão). Não é mitologia ou um sonho de êxtase. É uma realidade concreta e que pode ser datada. Ele 
aconteceu a uma Pessoa histórica — “A Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, 
prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de nós, como vós mesmos bem sabeis” (At 2.22; cf. 10.38). 
Ele ocorreu em um lugar geográfico e em uma cidade histórica, Jerusalém (At 2.14). Ele ocorreu designado 
por um procurador romano na Palestina, Pilatos (At 3.13). Esses são fatos históricos e não podem ser negados. 
Deus agiu na história, no aqui e agora. 
Portanto, o cristianismo oferece uma salvação histórica, uma salvação que é pessoal e social. Ela 
poderia ter se tornado nacional, se Israel tivesse obedecido ao Evangelho. Ela é real “aqui e agora” através da 
experiência pessoal, oferecendo perdão e purificação dos pecados e conferindo uma vida eterna que é já uma 
posse atual. Ela sustenta um poder transformador no Espírito Santo, convidando o homem a compartilhar paz, 
alegria, segurança, esperança, bondade e amizade com Deus através de Cristo Jesus como experiências atuais 
e duradouras. Ela não é meramente “uma especulação”. Certamente, a história não pode esgotar a plenitude e 
durabilidade da salvação, mas também a história não pode excluir a salvação. Sua plenitude na experiência 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 58 
 
humana é limitada apenas pela ignorância, descrença, pelo pecado em nossa vida e pelas nossas limitações 
humanas comuns. Ela está disponível para todos agora pelo arrependimento do pecado e pela fé em Cristo 
Jesus. Esse é o Evangelho, a boa nova de Deus em Cristo Jesus. Ele deve ser proclamado agora, pois opera no 
grande e glorioso agora de Deus. Este é o dia da salvação. A realidade atual da salvação de Deus em Cristo 
Jesus é o tema central do livro de Hebreus. Ao mesmo tempo, ele apresenta a supremacia e a finalidade do 
cristianismo. 
Os apóstolos estavam convencidos de que tudo o que aconteceu estava em perfeita harmonia com a 
predição da profecia do Antigo Testamento. Pentecostes transformou sua visão. Eles viram a cadeia de eventos 
não como fracassos e desapontamentos trágicos da história, mas cumpridores das profecias do Antigo 
Testamento. Pedro refere-se três vezes às predições do Antigo Testamento em seu grande sermão pentecostal 
(At 2.16,25,34). Ele também lembra seus ouvintes que “a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos”, 
dizendo-lhes que “Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado; 
que Cristo havia de padecer” (At 2.39; 3.18). Ele se refere, além disso, aos “tempos do refrigério” e “tempos 
da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio” 
(At 3.19,21). Pedro conhece a profecia de Moisés e expressa uma visão abrangente da profecia realizada em 
Atos 3.24. O apóstolo conhece Jesus como “a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta 
por cabeça de esquina” (At 4.11; cf. 1 Pe 2.6; Is 28.16). Não menos convincente foi o raciocínio de Estêvão, 
na sinagoga (At 6.9), e as palavras de Tiago na tempestuosa reunião de conselho de Jerusalém, quando ele fez 
citações dos escritos da profecia do Antigo Testamento. 
A extensão total do uso do Antigo Testamento pela Igreja Primitiva é ilustrada melhor pelo Evangelho 
de Mateus, que era um apóstolo, pelo livro de Hebreus, e pela pregação de Paulo nas sinagogas como Lucas 
as registrou na segunda metade do livro de Atos. O Antigo Testamento era sua Escritura. Eles o julgaram 
realizado em Cristo Jesus. 
Os apóstolos estavam convencidos de que Deus tinha agido em perfeita harmonia com seu plano 
predeterminado e seu plano como exposto nos escritos do Antigo Testamento. Essa convicção lhes conferiu 
firmeza no meio de tempestade e violência, pressão e tensões, ameaças e perseguição, sofrimento e martírio. 
Os apóstolos estavam convencidos de que o ato redentor de Deus em Cristo era para o bem de toda a 
humanidade. Pedro declara explicitamente no dia de Pentecostes, após ter advertido às pessoas a 
arrependerem-se e batizarem-se: “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que 
estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” (At 2.39). Ele declara, consideravelmente mais 
tarde, que “Deus não faz acepção de pessoas: mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o 
teme e faz o que é justo” (At 10.34,35). Assim como Pedro relatou suas experiências a alguns irmãos 
contenciosos em Jerusalém (At 11.4), Lucas nos informa: “E, ouvindo estas coisas, apaziguaram-se, e 
glorificaram a Deus, dizendo: Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida” (At 11.18). 
João une-se à universalidade de Pedro e afirma claramente que Cristo “é a propiciação pelos nossos 
pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2.2). E novamente ele diz: 
“O Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo” (1 Jo 4.14). O particularismo nacionalista pode ter existido 
na atitude dos discípulos, mas não teve lugar na teologia inspirada dos apóstolos. 
Judas conhece a “salvação comum”. Em sua breve epístola, ele é muito inclusivo em sua abordagem 
sobre salvação e julgamento na história. Certamente, ele não é um particularista nacionalista em sua doutrina 
de salvação. Até mesmo Tiago adverte seus leitores a não ter “a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 59 
 
glória, sem acepção de pessoas” (Tg 2.1), e ele abriu a porta da igreja para os gentios cristãos sem impor 
condições ou restrições (At 15.13-20). 
Dessa forma, as opiniões dos autores se conciliam no fato de que Deus agiu decisiva e gloriosamente 
em Cristo Jesus pelo bem de toda a humanidade. A universalidade da salvação sustentada e proclamada 
idealmente por Cristo encontra sua realização prática e dinâmica através dos apóstolos. 
Os apóstolos estavam convencidos de que o arrependimento e a fé eram o caminho indicado por Deus 
para obter a salvação. A salvação de Deus em Cristo Jesus está disponível a todos, mas estadeve ser adquirida 
consciente e voluntariamente pela fé em Jesus Cristo. Tal fé está relacionada essencialmente ao 
arrependimento do pecado. Pode-se notar que a fé é o aspecto positivo e o arrependimento o aspecto negativo 
dessa relação viva e dinâmica que relaciona o homem de forma salvadora a Cristo. Ambos os aspectos são 
enfatizados pelos apóstolos. 
Está evidente pela pregação dos apóstolos que eles não estavam meramente anunciando a boa nova da 
salvação de Deus. Eles estavam persuadindo homens e mulheres a arrependerem-se de seus pecados e a 
acreditar no Senhor Jesus Cristo. O chamado para o arrependimento é emitido distintivamente, em alto tom, e 
repetidamente (At 2.38; 3.19; 8.22; 11.18). 
Já que o arrependimento é uma bênção de Deus (At5.31; 11.18), o homem deve apropriar-se dele e 
exercitá-lo a fim de colher seus benefícios. Cabe ao homem arrepender-se. 
Não menos enfático é o desafio a ter fé. O homem deve, através da fé, receber o que Deus propiciou 
em Cristo Jesus. A fé é muito importante (At 2.44; 3.16; 4.4,32; 6.5,7,8; 8.12,13,37; 9.42; 10.43; 11.17,21,24). 
Sem fé é impossível agradar a Deus e experimentar suas provisões gloriosas. 
Há uma linha clara no ensinamento apostólico que separa as pessoas em dois grupos distintos. Em um 
lado estão os crentes que vivem a salvação de Deus em Cristo; eles são os filhos de Deus. No outro lado estão 
os não crentes e desobedientes, que não possuem a salvação de Deus. Dessa forma, o ensinamento apostólico 
visa a persuasão assim como um anúncio. Os apóstolos procuravam conduzir homens e mulheres ao 
arrependimento do pecado e à fé em Cristo Jesus. Eles estavam convencidos de que sem essa relação não há 
experiência ou obtenção de vida eterna. Deus ordena a todos os homens que se arrependam, e Ele ordena que 
os homens devem acreditar no nome de seu Filho Jesus Cristo (At 17.30; 1 Jo 3.23). Essa é a opinião unânime 
dos apóstolos. Nisso eles concordam com a ênfase de todos os outros escritores da Bíblia e os porta-vozes de 
Deus. O arrependimento e a fé são a maneira indicada por Deus para alcançar as riquezas espirituais em Cristo 
Jesus. 
O conjunto destacado de convicções teológicas é reforçado pelo compromisso pessoal com a 
obediência ao seu Senhor e a experiência em seus corações. 
Os apóstolos foram impelidos, em seu empenho missionário, pelo compromisso de obedecer ao Senhor. 
Eles eram impulsionados pela persuasão em seus corações de que deviam obedecer a Deus e cumprir sua 
bendita vontade apesar das dificuldades e do custo. Pedro impôs duas vezes a vontade de Deus contra a 
autoridade e as ordens da corte sacerdotal, dizendo ousadamente às autoridades judaicas que competia a eles 
obedecer a Deus ao invés de aos homens. Isso era mais do que audácia humana; isso era persuasão divina. A 
corte logicamente pode ter concordado com Pedro, mas a voz do sumo sacerdote não era a voz de Deus? Essa 
é a fatalidade da cegueira e confusão do homem natural. Os apóstolos tinham o discernimento espiritual para 
distinguir a interpretação humana da inspiração e revelação divinas. 
Os apóstolos eram motivados pela experiência do Cristo vivo 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 60 
 
Os apóstolos eram inspirados irresistivelmente pela chama de suas experiências pessoais do Cristo vivo 
habitando em suas vidas através do Espírito Santo. A realidade de Cristo na experiência humana tornou-se 
suas benditas porções; ela era a força que os sustentava e impulsionava. Eles sabiam que Cristo havia 
ressuscitado dentre os mortos. Muito embora o tenham visto subir ao alto e desaparecer nas nuvens, eles 
estavam cientes de sua presença em suas vidas. Cristo não era alguém distante para eles. Como Paulo, eles 
podiam confessar: “Cristo vive em mim”. A experiência crista era significativa e dinâmica para eles. 
Pedro exclama vivamente: “Falemos apenas das coisas que vimos e ouvimos”. Os apóstolos 
repetidamente referem-se à ressurreição de Cristo Jesus, a qual era uma realidade sempre presente para eles 
(At 2.32; 3; 15; 4.10,33; 5.29-32). A experiência do Senhor ressuscitado era indelével, transformadora, 
surpreendente, constantemente restauradora, permanentemente inspiradora e gloriosamente triunfante. João 
escreve com confiança: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que 
temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida... o que vimos e ouvimos, isso vos 
anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão com o Pai, e com seu Filho 
Jesus Cristo” (1 Jo 1.1-3). Pedro atribui nossa regeneração e também nossa salvação à ressurreição do Senhor 
(1 Pe 1.3; 3.21). 
Aqui havia uma realidade-experiência. Era mais do que um misticismo subjetivo e vago. Havia mais 
do que simples “fé na ressurreição”. Havia fé no Ressuscitado, fé sustentada pela experiência da realidade. 
Tanta fé não podia ficar em silêncio. Tinha que obedecer, tinha que falar. O brilho interior do Senhor 
ressurreto gerou uma irresistível dinâmica que acabou resultando na grande explosão de testemunhas que 
sucedeu o Pentecostes. 
A linguagem dos apóstolos põe em evidência o fato de que eles ficaram incapazes de se separar da 
glória daquEle que ressurgira. Sua glória era refletida nas experiências dos apóstolos, o que pode ser percebido 
pelo uso repetitivo da palavra “glória”. Ela constitui uma parte proeminente do vocabulário deles. Estêvão fala 
do “Deus da glória” (At 7.2). Tiago conhece “o Senhor da glória” (Tg 2.1). Pedro refere-se ao “Espírito da 
glória” (1 Pe 4.14). Somos informados de que os cristãos são chamados para a glória (2 Pe 1.3; 1 Pe 5.10), 
irão receber uma coroa de glória (1 Pe 5.4), são participantes “da glória que se há de revelar” (1 Pe 1.8). Em 
seus últimos momentos, Estêvão viu a glória de Deus (At 7.55). Havia glória na experiência dos apóstolos. 
Havia glória, paixão e energia. 
Os apóstolos viviam e ministravam com a consciência de estarem tomados pelo Espírito Santo 
As experiências do Senhor vivo e glorioso eram mediadas pelo Espírito Santo. Dessa forma, há uma 
ênfase firme e consistente quanto ao Espírito Santo no ensinamento e nas experiências apostólicas. 
A presença do Espírito Santo era uma prova da obra divina nas vidas das pessoas (1 Jo 3.24; 4.13). A 
bênção do Espírito Santo é salientada no dia de Pentecostes (At 2.17). Ela é negada a todos os que não 
obedecem ao Evangelho de Deus (At 5.32), mas o Espírito é concedido aos judeus, samaritanos e gentios 
cristãos (At 2.4; 6.5; 8.17; 9.17,31; 13.1,2). Deus não olha as pessoas; sua bênção do Espírito é conferida a 
todos que cumprem seus preceitos. 
O Espírito Santo é a dinâmica no ministério dos apóstolos, e estar repleto do Espírito é essencial para 
um serviço eficaz e aceitável (At 2.4; 4.8,31; 6.3,5,10; 7.55; 8.29,39; 10.19; 1 Pe 1.12; 2 Pe 1.21). O Espírito 
Santo também é a fonte apropriada de força e conforto no sofrimento e martírio. 
Os apóstolos sabiam por experiência a importância do Espírito Santo. Sem Ele, suas vidas teriam 
permanecido menos que cristãs, menos que normais, pois Ele mediava vida, dinâmica, significado, orientação 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 61 
 
e glória. Foi devido à sua presença em suas vidas que a glória do Senhor ressuscitado irradiou-se dos apóstolos 
e os impeliu em seu empenho missionário. 
 
VISÃO APOSTÓLICA MISSIONÁRIA 
Apresentação missionária mais detalhada 
A apresentação missionária em pormenores é feita por João no livro do Apocalipse, no qual muito 
dramaticamente Deus é apresentado como o Deus do cosmos — o Deus de toda a terra e de todas as nações, 
nenhum domínio excluído. Seu trono majestoso e radiante está no alto e erguido acima de tudo, e dele as linhas 
de regência se espalham para todas as direções. Deus estabeleceu contínua relação governamental com o 
mundo tão progressiva quanto tragicamente seu domínio estende-se por toda a terra. Todas as pessoas devemapresentar-se perante Ele para julgamento. Nenhum outro deus é reconhecido ou compartilha sua força e 
autoridade. Apenas Ele é o Deus do Universo, o Deus das nações, o Deus em quem salvação e refúgio são 
encontrados, o Deus que é o absoluto, soberano e justo Juiz da humanidade. Sua autoridade e seu poder devem 
e irão prevalecer, e seu padrão do que é certo e errado será reconhecido por todos. Finalmente, apenas Ele será 
cultuado pela humanidade redimida, em uma nova terra e em um novo céu. Sua vitória será completa e sua 
adoração inigualável. Todos os outros deuses foram expulsos, toda rebelião foi superada, e todo poder foi 
submetido a Ele. Deus é tudo em todos. 
Da mesma forma, João vê o Cordeiro de Deus no livro de Apocalipse. Ele retrata o Cordeiro não como 
aquele que carrega o pecado do mundo, mas que triunfou sobre o pecado, o inferno, Satanás e a sepultura. Ele 
não vê o Cordeiro operando entre os judeus e na Palestina; ao invés disso, o Cordeiro está caminhando entre 
as igrejas na Ásia e em cidades pagãs. Jerusalém e Monte Sião não estão visíveis no início do livro. 
Em sua segunda maior visão, João vê o Cordeiro à direita de Deus, preparando em glória operações 
mundiais de julgamento e expansão do Evangelho. Certamente não há nada limitador ou particularista quanto 
às visões sobre o Cordeiro e seus relacionamentos. 
Nas cenas finais, João vê o Cordeiro triunfando sobre todos os sistemas do mundo, inclusive o religioso. 
À medida que os novos céus e a nova terra surgem, o Cordeiro compartilha a glória e o culto do Pai, enquanto 
as nações apreciam as graças que fluem do trono abundante do Cordeiro. Tal é a visão missionária de João, e 
podemos assumir que João fala de modo representativo. Os doze estão em harmonia com Ele. Deus está 
relacionado de forma redentora ao mundo através de Cristo Jesus. O Espírito Santo está operando em nome 
do Pai e do Filho para fazer o mundo conhecer a boa nova do amor e do ato redentores de Deus em Cristo 
através da divulgação do Evangelho. E assim Ele opera mobilizando e fortalecendo a igreja como o 
instrumento escolhido de Deus. 
 
CONCLUSÃO 
Essas realidades, verdades e fatos abençoados na consciência dos doze tornaram-se a fonte das 
motivações e esforços missionários dos apóstolos assim como o alicerce de sua teologia missionária. Pouco é 
falado sobre o exemplo de Cristo, embora Ele tenha andado todo o tempo fazendo o bem, curando todos os 
que eram oprimidos pelo mal. Nenhuma referência direta é feita à sua Grande Comissão, embora não devamos 
concluir que ela não representou nada na Igreja Primitiva. O fato de que de alguma forma ela é encontrada em 
todo o Evangelho é evidência suficiente de que ela era parte da tradição e ensinamento vivos da Igreja 
Primitiva. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 62 
 
A teologia missionária dos apóstolos, porém, estava enraizada mais profundamente do que em um 
mandato. Ela estava segura no fundamento que fez do mandato de evangelização do mundo um imperativo 
evangélico e espiritual, um fluxo de vida ao invés de uma imposição. Dessa forma, eles tornavam-se 
missionários não como escravos, mas como servos. Missões tornou-se suas vidas, seu maior interesse, a 
grande paixão à qual suas vidas eram alegremente dedicadas. 
Apenas três dos doze nos deixaram escritos: Mateus, João e Pedro (se o autor do livro de Judas foi o 
apóstolo Judas não está definido). Certamente, não há particularismo a ser encontrado em suas apresentações, 
pois o impulso missionário superou todo particularismo, nacionalismo e etnocentrismo judeu. 
Em conclusão, vamos observar o fato de que nenhum dos doze sentia estar em desequilíbrio com seu 
Mestre em sua expansão missionária; eles também não se sentiam em conflito com o Antigo Testamento. De 
alguma maneira, todos sentiam-se colocando em prática o propósito imutável de Deus que confere unidade a 
toda a revelação. 
 
O APÓSTOLO PAULO 
De todos os apóstolos, Paulo destaca-se como a figura central na interpretação e difusão do 
cristianismo. Não podemos imaginar o cristianismo sem ele, mas o apóstolo não é um co-fundador, um 
inovador ou um concorrente de Cristo. Cristo permanece como a fonte, fundação, base e essência do 
cristianismo. 
Paulo expressa claramente sua posição quanto a essa questão em 1 Coríntios 3.11, quando diz: “Porque 
ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”. Ele escreveu 
previamente: “E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com 
sublimidade de palavras ou de sabedoria [especulações filosóficas e sutilezas]. Porque a nada me propus 
saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co 2.1,2). Porém, Paulo é o melhor intérprete, o 
principal representante teológico, o maior apologista evangélico e o defensor mais persistente do cristianismo. 
Portanto, apresentamos seu pensamento sobre a universalidade e, quando necessário, correlacionamos o 
ensinamento dos outros apóstolos ao de Paulo. 
Não precisamos criar uma justificativa elaborada para a universalidade de Paulo na provisão de 
salvação de Deus a toda a humanidade (universalidade ideal), e no propósito de Deus em ter seu Evangelho 
proclamado universalmente (universalidade prática). Ambos estão óbvios demais na vida e no ensinamento de 
Paulo. Ele é a encarnação concreta da universalidade ideal e prática. Estudantes pesquisam em vão o Novo 
Testamento em busca de uma universalidade realizada dentro da história ou posterior à história. Não há 
indicação no Novo Testamento de que todas as pessoas serão salvas. O Novo Testamento ensina clara e 
enfaticamente que esse não é o caso e que pessoas serão banidas para sempre da presença de Deus. 
A universalidade ideal de Paulo 
Como era grande intérprete de Cristo e do cristianismo, Paulo viajava muito, como Lucas relata no 
livro de Atos. Ele pregava com firmeza em sinagogas, mercados, ambientes públicos, casas particulares e em 
outros lugares à medida que tinha oportunidade. E escrevia abundantemente, como suas cartas indicam. A 
mente de Paulo é aberta para o mundo, por isso ninguém estranha sua ambição, seu objetivo, motivo e 
propósito. 
Paulo, inegavelmente, marcou o mundo com muitas verdades, entre as quais, principalmente, está o 
fato de que “Deus estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo”. Em outras palavras, Deus providenciou 
em Cristo uma salvação adequada para livrar o homem de sua desorientação total e eterna e dar-lhe uma glória 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 63 
 
indescritível. Paulo enfatizava que Deus providenciou um Salvador e uma salvação suficiente para toda a 
humanidade. E ainda, Paulo enfatizava que Deus deseja fervorosamente que esse Evangelho seja conhecido 
entre todos os homens, para que o homem possa acreditar e possuir subjetivamente o que Deus operou 
objetivamente em Cristo. Os detalhes dessa gloriosa mensagem, só poderemos observar mais tarde em 
destaque. 
Estou muito bem familiarizado com a chamada teoria de redenção limitada tal como aparece nos 
ensinamentos de Calvino e é explicitamente argumentada por algumas escolas de teologia. À medida que 
investigo suas raízes, implicações, sua essência e autoridade, elas parecem estar longe do caráter das Escrituras 
e em claro conflito com muitas declarações bíblicas diretas. Assim sendo, devo considerá-las como invenções 
(não posso evitar essa expressão) para acomodar e sustentar certas premissas neoplatônicas e aristotélicas 
sobre a eleição e a predestinação que são estranhas à Bíblia e teriam desconcertado Paulo. Elas parecem 
importações trágicas da filosofia ao invés de exegeses de Paulo. Simplesmente, não encontro nenhuma base 
bíblica para a teoria de redenção limitada. A declaração ampla de Paulo é prova suficiente contra ela. “Pois 
assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um 
só ato de justiça“cristão” tal humanismo possa ser. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 7 
 
O fracasso do protestantismo reformista ao tentar gerar a dinâmica de missões e posteriormente manter 
essa dinâmica de expansão no mundo deve-se, principalmente, à sua teologia incompleta e desequilibrada. A 
teologia protestante preocupava-se quase que exclusivamente com o “ser” e o “caráter” de Deus como é 
manifestado por seus atributos. A isso acrescentava-se um extenso estudo das “obras” de Deus. Esses são dois 
aspectos tremendamente importantes, os quais têm uma consequência fundamental para toda a teologia. 
A teologia as vezes se ocupou mais com o Deus celestial do que com o Deus da criação, o Deus sempre 
presente na salvação e em missões. Essa inadaptação naturalmente conduz a um divórcio entre teologia e 
missões. 
W. O. Carver define missões como “a extensa realização do propósito redentor de Deus em Cristo 
Jesus através de mensageiros humanos”. Estamos fazendo justiça à doutrina de Cristo sem esclarecer o 
propósito e o programa missionário pelos quais Ele veio, viveu e morreu? O propósito e a expansão missionária 
de Deus são fatores essenciais na obra de Cristo, e sua separação não é natural. 
Não menos crucial é uma verdadeira exposição bíblica do Espírito Santo, o Paracleto do Deus trino e 
uno deste mundo. Enquanto debatemos sobre doutrinas vitais como a moradia, o selo, batismo e poder do 
Espírito Santo, praticamente ignoramos seu mais vasto e profundo ministério, que, em sua grande providência, 
está gerando áreas de grande potencial ao redor do mundo onde o Evangelho possa triunfar para a glória de 
Deus e a bênção da humanidade. A teologia está negligenciando uma doutrina muito vital da Bíblia e, portanto, 
está perdendo uma importante oportunidade de tornar-se o que deveria ser — uma teologia missionária de 
proporções dinâmicas ao invés de ser simplesmente uma exposição de dogma ou uma defesa da fé. Enquanto 
esta última é necessária, a primeira é imperativa. 
• Missões é a objetivação progressiva do propósito eterno e benevolente de Deus que se origina 
em seu próprio ser e caráter e envolve todas as eras, raças e gerações. 
• Missões é a efetivação histórica da salvação de Deus obtida em nome de toda a humanidade 
através de Cristo Jesus devido à sua encarnação, morte e ressurreição. Oferece o perdão dos 
pecados, e uma nova e dinâmica vida para todos os que acreditam nEle como o eterno Filho de 
Deus e Salvador da humanidade. 
• Missões é a realização prática da obra do Espírito Santo neste mundo em nome do eterno 
propósito de Deus e da aplicação efetiva da salvação, obtida através de Cristo Jesus nas vidas 
de inúmeros indivíduos, tribos, povos e inúmeras famílias. Dessa forma, missões está 
relacionada ao Deus trino e uno. 
Teologia missionária não é um apêndice de uma teologia bíblica; ela pertence ao seu núcleo. Nenhuma 
doutrina de Deus, Cristo ou do Espírito Santo foi esclarecida totalmente de acordo com a Bíblia até que o Deus 
trino e uno tivesse sido reconhecido como o Deus sociável de missão, o Deus com o propósito de salvação e 
ligado à humanidade que assume um programa para a realização progressiva de seu propósito. 
Enquanto que a Bíblia tem sido acreditada e ensinada, missões têm sido muito pouco relacionada à 
teologia e ao propósito de Deus através das eras. O Congresso Wheaton, de 1966, sobre “A missão mundial 
da igreja”, abordou seriamente certas fases relacionadas à teologia de missões, mas falhou em lidar com o 
assunto como tal. Deve-se admitir que não existe nenhuma teologia de missões formulada a partir da 
perspectiva evangélica e não ecumênica. É tempo de despertar. 
O cristianismo alega ser a religião de absoluta realização e finalidade. No cristianismo, todas as 
promessas e inscrições do Antigo Testamento são realizadas, e todas as necessidades religiosas e ansiedades 
espirituais da humanidade são satisfeitas. Cristo é o desejo de todas as nações. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 8 
 
O cristianismo garante poder absoluto quanto à autoridade religiosa, lutando pelo controle total sobre 
a mente do homem, sua conduta e suas relações em todas as esferas da vida. Ele é absolutamente inclusivo, 
regulador e normativo. Tal jurisdição total não é meramente oficial, mas também existencial. Essa é uma 
questão de persuasão moral, renovação mental e reorientação volitiva subjetivas que gera apreciação espiritual, 
dinâmica moral e obediência. 
O cristianismo alega além disso integridade e finalidade como uma revelação de Deus, sua obra e seu 
propósito. Ele não espera modificações, acréscimos, correções ou suplementos. Aqui Deus é verdadeiramente 
e tão plena, clara e absolutamente revelado quanto Ele pode ser percebido pelo homem ou quanto Ele é 
necessário ao homem para dar a este a perfeita satisfação e realização existencial de todas as potencialidades 
humanas. Ele nunca será substituído por outra personalidade igual a de Jesus de Nazaré ou por outra revelação 
e sistema religiosos iguais em valor e virtude. 
Finalmente, o cristianismo alega universalidade em extensão e domínio. Ele promete exercer uma 
influência única e universal sob os habitantes de todas as nações, julgando e suplantando todos os outros 
sistemas e filosofias religiosos. Suas alegações de inclusão e exclusão são incríveis, sua visão otimista de 
triunfos supremos e totais são surpreendentes. Não estamos surpresos por tais alegações serem um obstáculo 
à ciência, um obstáculo ao positivismo filosófico, uma afronta ao secularismo e um aborrecimento ao 
agnosticismo. Elas parecem um exemplo claro de imperialismo religioso aos devotos de sistemas religiosos 
não cristãos. 
Por outro lado, seu otimismo é atraente, sua luz missionária é inspiradora, sua motivação em serviços 
sacrificais e seu heroísmo que transborda vida são atraentes. A história do cristianismo dos últimos dezenove 
séculos — especialmente a metade do último século — é animadora. Entre as religiões do mundo, a 
Cristandade alega a maior porcentagem de adeptos, apoia as principais instituições humanitárias, sustenta a 
maior força missionária no mundo, e sozinha pode reivindicar para si verdadeira ecumenicidade no sentido de 
estar presente em todas as nações. O fenômeno do cristianismo é espantoso e garante a verificação de não 
apenas suas alegações, mas também de suas próprias raízes e fundações. 
Que justificativas sustentam as alegações do cristianismo? 
Quais são as fontes contínuas e espontâneas na expansão missionária? Que segredos respondem pelo 
heroísmo de seus partidários no sacrifício, sofrimento e martírio? Quais são suas fontes eternamente 
provedoras e inesgotáveis para a expansão missionária? Quais são as razões para seu otimismo, sua 
esperançosa antecipação da consumação do triunfo? 
O cristianismo alega possuir uma ideologia superior e um conhecimento único e extraordinário da força 
suprema do Universo, a qual chamamos de Deus. Ao mesmo tempo, o cristianismo exige rendição absoluta e 
dependência máxima de Deus. Sua verdade, porém, não é uma descoberta do homem. É uma revelação 
graciosa e miraculosa, uma revelação do próprio Deus na história da salvação (a história de Israel em 
particular), nas declarações propositais, e final, completa e perfeitamente na pessoa de seu Filho, Jesus de 
Nazaré, o qual era Deus encarnado para revelá-lo plena, total e finalmente ao homem. Nele, Deus e homem se 
encontram; Deus uniu-se ao homem e ao mesmo tempo atraiu o homem para Deus de uma maneira sem 
paralelo. Aqui, o mistério e a realidade estão perante o homem. Aqui, o milagre e a história se unem para falar 
com o homem. O Deus-homem nos informa: “Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me ao 
menos, por causa das mesmas obras. Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.11,9). Novamente: “Deus nunca foi 
visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, revelou-o, levou- o para onde Ele pudesse serveio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 5.18). E novamente: 
“Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador. Que quer que todos os homens se salvem, e 
venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, 
Jesus Cristo homem. O qual deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu 
tempo” (1 Tm 2.2-6). João endossa plenamente essa posição, quando escreve: “E ele [Jesus Cristo, o justo] é 
propiciação pelos nossos pecados [os pecados dos cristãos], e não somente pelos nossos, mas também pelos 
de todo o mundo” (1 Jo 2.2). Essas eram verdades dinâmicas que viviam na mente de Paulo. Assim como uma 
torrente poderosa e contínua, elas o conduziam em seu propósito ambicioso de pregar o Evangelho onde Cristo 
não tivesse sido anunciado. Não havia fronteiras nacionais ou culturais no pensamento missionário de Paulo, 
pois ele não encontrava tais fronteiras no propósito de Deus e na suficiência do Calvário. 
De uma maneira lógica e convincente, Paulo apresenta uma série de grandes pensamentos missionários 
em sua epístola mais doutrinária, a epístola aos Romanos. Sua lógica, combinando perfeitamente teologia e 
missões, é como segue: 
1. O Universo inteiro é criação de Deus. Ele manifesta Deus, está sob seu comando soberano, e, 
portanto, tem responsabilidades para com Ele (Rm 1.18). 
2. Toda a raça humana é uma unidade orgânica criada em Adão. A unidade orgânica de toda a raça 
humana nunca é questionada na Bíblia. Paulo a sustenta com convicção (Rm 5.12-21). 
3. Toda a raça humana decaiu em Adão e tornou-se pecaminosa devido a isso (Rm 5.12-21). 
4. Toda a raça humana seguiu um caminho de pecado e, portanto, tornou-se culpada perante Deus (Rm 
1.18-21). 
5. Toda a raça humana estava representada em Cristo, e nEle a salvação foi providenciada para toda a 
humanidade, não apenas pela substituição, mas pela identificação e representação (Rm 5.12.21). 
6. Deus proveu apenas um caminho de salvação — o caminho da justificação pela fé em Jesus Cristo. 
Isso se aplica aos judeus assim como aos gentios (Rm 3.21—5.21). 
7. O caminho da salvação de Deus não é descoberto pelo homem. Chega até o ser humano pela 
revelação, e deve ser pregado a ele pela Palavra de Deus revelada. “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir 
pela palavra de Deus” (Rm 10.8-17, cf. 16.25,26). 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 64 
 
8. Paulo sabia que havia sido chamado por Deus e separado para conduzir os homens e as nações à 
obediência da fé. Esse era seu apostolado; para isso ele operava, sempre progredindo. Para isso ele sofreu, e 
nisso ele se gloriou (Rm 1.1,5,14; 11.3,25; 15.15,16,18-23; 16.25-27). 
Não há argumentos em lugar algum por parte dos apóstolos no Novo Testamento para contrariar o 
pensamento de Paulo. 
Implicações da universalidade ideal de Paulo 
As implicações da universalidade de Paulo são amplas. Elas causaram distúrbios sérios dentro da Igreja 
Primitiva e geraram equívocos, lutas teológicas difíceis e amargas perseguições. Porém, Paulo sobreviveu a 
tudo isso, assim como seus grandes e eternos ideais, os ideais do propósito glorioso de Deus em Cristo Jesus. 
Nessa universalidade ideal, Paulo vê todos os humanos assumindo uma posição igual perante Deus 
como pecadores, sejam eles judeus ou gentios (Rm 1.18—3.20; Ef 2.1-3); sofrendo o mesmo tipo de 
condenação e necessitando ambos serem salvos da atual e eterna ira de Deus (Rm 1.18—3.20); 
experimentando a justificação em termos iguais, pela fé em Cristo como a provisão e propiciação de Deus 
(Rm 3.21—5.21); recebendo o mesmo privilégio na igreja de Jesus Cristo como membros do corpo de Cristo 
(Ef 2.11—3.12); desfrutando uma relação igual com Deus como Pai na casa de Deus (Ef 2.19; Rm 8.15; G1 
3.26); compartilhando os mesmos privilégios e as riquezas de Deus, e coerdeiros de Jesus Cristo (Ef 3.6; Rm 
8.17). 
Os últimos pensamentos são desenvolvidos mais detalhadamente na epístola aos Efésios, um escrito 
repleto da universalidade do Evangelho e igualdade entre todos os cristãos. A epístola inteira é trabalhada em 
torno da metáfora do templo. Nesse caso, as imagens não se referem ao templo em Jerusalém, mas ao templo 
em Éfeso, o magnífico templo dedicado à sua deusa padroeira. Os gregos a chamavam de Artemis e os 
romanos, Diana. O templo foi um trabalho do homem ou uma obra-prima do homem e foi registrada como 
uma das sete maravilhas do mundo antigo. 
Em contraste com esse templo feito pelo homem, Paulo apresenta a igreja de Jesus Cristo como o 
trabalho ou a obra-prima de Deus, o templo do Deus vivo. A lógica dessa apresentação é a seguinte: a fundação 
do templo — o Deus triúno, 1.3-21 o material do templo, 2.1-10 a formação do templo, 2.11-21 a revelação 
do templo, 3.1-13 a dedicação do templo, 3.14-21 o ministério no templo, 4.1—6.9 a guerra em defesa do 
templo, 6.10-20 A epístola não permite nenhuma divisão entre judeus e gentios. Uma nova linha divisória está 
sendo enfatizada. Paulo divide toda a humanidade em duas classes: aqueles em “Cristo”, e aqueles “sem 
Cristo”. Isso torna-se seu muro de divisão. Aqueles em Cristo constituem o corpo de Cristo (1.23; 3.6; 
4.4,12,16; 5.23,30). Eles são o lar e a família de Deus (2.19; 3.15); eles são o templo e a habitação de Deus 
(2.21,22); eles são o novo homem (2.15); eles são companheiros cidadãos e companheiros herdeiros (2.19; 
3.6). Juntos, compartilham um Pai (1.3,17; 2.18; 3.14; 4.6; 5.20; 6.23); eles são filhos de Deus (5.1). Os 
conceitos de unidade e igualdade de todos os que estão em Cristo envolvem toda a epístola. Não há povo 
privilegiado em nossa dispensação como havia no Antigo Testamento, pois todos os que estão em Cristo 
compartilham experiências, relações, direitos, privilégios e responsabilidades iguais (3.6,8,9), e tudo isso está 
de acordo com o eterno propósito de Deus como foi designado em Cristo Jesus. 
Tais são os pensamentos de Paulo em relação à universalidade do Evangelho de Jesus Cristo e à 
igualdade de todos os cristãos. Essas grandes verdades conduziram Paulo a uma relação inter-racial dinâmica 
e eficaz que o levou a pregar o Evangelho a todas as nações. 
Essa era a identificação de Paulo com Deus em seu eterno propósito de alianças da raça humana, a 
identificação com Cristo que veio para libertar a raça, a identificação com o Espírito Santo que operava em 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 65 
 
nome da salvação da raça, e a identificação com o Reino de Deus que deve envolver toda a raça e que o 
permitiu erguer-se acima do particularismo nacionalista e do judaísmo e tornar-se o campeão do Evangelho 
nos interesses da raça. Paulo é um homem da raça assim como um homem de Cristo. Dessa forma, ele tornou-
se o missionário mundial, e sua universalidade ideal triunfou na universalidade prática. 
Seu caminho como missionário do mundo o conduziu em suas várias jornadas missionárias por terra e 
mar, de cidade a cidade, e de um povo a outro povo. Nem perigos nem sofrimentos conseguiam detê-lo. De 
modo triunfante, ele conseguiu escrever após aproximadamente 25 anos de trabalho árduo e próximo ao fim 
de uma vida produtiva: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da 
justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também 
a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.7-8). Com isso, seus trabalhos e sua vida foram concluídos. 
A defesa da universalidade ideal de Paulo 
Em suas próprias cartas o apóstolo apresenta e/ou defende a universalidade com pelo menos seis 
argumentos: 
1. Monoteísmo ético, o qual ele apresenta na forma de questões retóricas. “É porventura Deus somente 
dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente. Visto que Deus é um só” (Rm 
3.29,30). Para Paulo parecia lógico que se Deus é Deus em tudo, Ele é o Deus de todos. O monoteísmoético 
elimina o particularismo. Deus não pode ser o Deus de alguns, enquanto de outros não. Como o Criador, Deus 
está relacionado à raça assim como ao indivíduo. O próprio conceito de Deus de Paulo exige uma 
universalidade ideal. Sua promessa à humanidade, em Gênesis 3.13, exige que Deus proporcione salvação 
para toda a humanidade. Deus não é o Deus de apenas um povo. 
2. A justificação de Abraão enquanto ainda um gentio. Paulo começa seu argumento onde Deus começa 
com Abraão. É evidente que Abraão nem sempre foi um hebreu; houve um tempo em que foi um gentio. Na 
verdade, ele tornou-se um hebreu pela primeira vez em Gênesis 17 através do pacto de circuncidar toda a sua 
casa. Até então, ele tinha sido um gentio sob todos os pontos de vista teológicos. Deus o encontrou como um 
gentio, chamou-o, liderou-o pelo caminho, fez-lhe as promessas mais notáveis, fez um pacto com ele, e tudo 
enquanto Abraão era um gentio. 
3. O pecado de Israel ao rejeitar o Messias. Esse argumento é expandido com força e lógica em 
Romanos 9—11. Paulo raciocina que Deus não abandonou total, absoluta e definitivamente seu povo e que a 
restauração está aguardando Israel. Porém, devido aos seus pecados, Deus deixou Israel de lado 
temporariamente como seu instrumento único para abençoar as nações. O destino de Israel é esperar, 
perambular e sofrer até que a plenitude das nações haja chegado (Rm 11.25). Dessa forma, no momento Deus 
está recolhendo, dentre as nações, pessoas para se unirem sob seu nome. Já que esse não é o momento para 
Israel ser usado como instrumento de Deus, Paulo deve ir diretamente às nações e tornar conhecidas as riquezas 
incompreensíveis de Cristo. 
Romanos 9 e 10 são o argumento de Paulo contra a questão hipotética ou real do direito e autoridade 
de Deus. A questão básica é se Deus tem o direito de convocar uma nação entre as nações e deixar Israel de 
lado. Ele não se comprometeu com Israel em um pacto incondicional? Ele não é obrigado a permanecer 
limitado a Israel? A resposta de Paulo é que se Deus tem o direito de escolher Israel dentre as nações e deixar 
as nações de lado (cap. 1), da mesma forma Deus tem o direito de deixar Israel de lado e escolher outra nação. 
Em vista do pecado mais atroz de Israel, Deus está deixando Israel de lado. A graça e a soberania nunca estão 
em conflito; nem uma prevalece sobre a outra. Elas encontram sua linda combinação e harmonia na mente e 
sabedoria do Deus eterno. Que nenhum homem brinque com o pecado e esconda-se por trás da graça. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 66 
 
4. A revelação incompleta do Antigo Testamento. Um estudo cuidadoso da atitude de Paulo em relação 
ao Antigo Testamento irá revelar pelo menos três fatos: 
Primeiro, ele aceitava o Antigo Testamento como a Palavra de Deus revelada e escrita. Ele o respeitava, 
acreditava nele e o pregava. 
Segundo, Paulo baseou sua doutrina de salvação nele, defendendo plena e totalmente doutrinas maiores 
tais como justificação, santificação, a unidade da raça, a vinda de Cristo, e redenção do Antigo Testamento. 
Ele não alegou apresentar algo de novo nessas doutrinas vitais, mas meramente alegou interpretar o Antigo 
Testamento de forma cristã. Ele pregava Cristo nas sinagogas com o Antigo Testamento, raciocinando com os 
gregos e causando perplexidade aos judeus com isso. Ele se apoiava firmemente em Moisés e nos profetas 
com respeito à doutrina da salvação. 
Terceiro, ele foi além do Antigo Testamento quanto à doutrina da igreja como o corpo de Cristo com 
direitos, posição e privilégios iguais para todos, fossem judeus ou gentios, quanto à casa de Deus e ao 
sacerdócio de todos os cristãos. Nisso, ele não foi apenas além do judaísmo, mas também além do Antigo 
Testamento. Devido a isso ele alegava ter recebido revelação especial (Ef 2.11—3.12). 
Paulo recorreu à primeira grande porção de revelação (Gn 1—11) a fim de estabelecer a base radical 
da salvação que ele proclamava. Em Romanos 5 ele nos guia de Abraão a Adão, o pai de toda a humanidade. 
Cristo não é assemelhado a Abraão, mas a Adão. Como em Adão toda a humanidade perdeu sua posição 
perante Deus e tornou-se igualmente culpada, assim, em Cristo, existe a possibilidade de todos serem 
restaurados em uma base igual e com iguais privilégios. 
Dessa forma, enquanto Paulo aceitava tudo do Antigo Testamento, ele não hesitava em expressar sua 
posição de que acreditava que o Antigo Testamento não revelava todo o plano e propósito de Deus. O “mistério 
da igreja” havia chegado até ele não como um resultado de estudos do Antigo Testamento, mas como uma 
revelação especial de Deus (Rm 11.25; Ef 3.1-12). A revelação referente à igreja era uma parte daquele plano 
eterno em Cristo que foi progressivamente revelado e concluído no Novo Testamento. 
5. A natureza e composição da igreja. Enquanto que Paulo teria adorado trabalhar entre sua própria 
gente, esse privilégio não lhe foi concedido. Seu amor e sua preocupação para com os judeus nunca 
diminuíram, mas ele descobriu seu campo de trabalho entre os gentios. As atividades e os escritos de Paulo 
tornam muito claro que ele estava convencido de que o Evangelho deveria ser pregado a todas as nações e de 
que a igreja de Cristo deveria ser composta por uma congregação internacional de pessoas reunidas dentre 
todas as nações. Assim como não há uma distinção no corpo de Cristo entre judeus e não judeus, deve existir 
uma representação universal na igreja (Rm 11.25; Ap 5.9). Dessa maneira, Paulo está pronto para dividir seu 
campo de trabalho com Pedro, este último tornando-se um missionário especial para várias pessoas distintas, 
enquanto Paulo é um missionário especial para os gentios. Ele torna-se um “devedor, tanto a gregos como a 
bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes”. “Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-
me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (Rm 1.14; 1 Co 9.22). 
Paulo nos informa em Romanos que ele se gloria em seu ministério como apóstolo das nações (Rm 
11.13), e em Efésios ele atribui esse chamado a uma bênção única de Deus em sua vida (Ef 3.2,7,8; Rm 15.15-
17). A profundidade da convicção de que a igreja deve ser formada por todas as nações está bem ilustrada nas 
jornadas missionárias de Paulo. 
6. A certeza de Paulo sobre sua comissão apostólica. Já que sabia ser um apóstolo apontado pelo 
Senhor, a certeza de Paulo acerca desse chamado ecoa em seus testemunhos pessoais em Atos e em seus 
escritos. Não havia espaço para questionamento ou dúvidas. O impacto da visão da glória dó Senhor a caminho 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 67 
 
de Damasco que o afetou e a voz de Cristo ficaram marcados indelevelmente em Paulo. Sua comissão 
missionária era clara, precisa, irrevogável e irresistível em bases teológicas, experimentais e espirituais. Nem 
mesmo sacrifício, sofrimento e martírio poderiam alterar seu curso ou dissuadi-lo de seu empenho missionário. 
Ele se diz um apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, defendendo sua posição apostólica vigorosamente 
perante os coríntios assim como perante os gálatas. Sua comissão apostólica era uma convicção firme. 
Porém, Paulo não estava certo apenas de seu chamado apostólico; ele também estava certo de sua 
comissão para ser um apóstolo das nações. Essas convicções envolveram seu ser e determinaram seu trabalho 
(At 26.23; Rm 1.1,5; 11.13; 15.15,16; G11.16; 2.8,9; Ef 3.1,4-8; 1 Tm 2.7; 2 Tm 1.11). A certeza de seu 
chamado e sua comissão o sustentaram em todas as dificuldades, apuros, todos os desapontamentos, embustes 
e sofrimentos. Ele também não ousava ou desejava ser desobediente ao seu Mestre ou falhar naquilo que lhe 
tinha sido encarregado. Ele estava convencido por Deus, e nenhum homem poderia dissuadi-lo quanto à sua 
posição como um apóstolo das nações. Isso pode parecer lógico baseado em experiência. Porém, com Paulo, 
esta tornou-se uma certeza abençoadae uma motivação dinâmica na evangelização do mundo. 
Uma palavra deve ser dita sobre o ministério de Paulo enquanto ele o relatava a Agripa (At 26.15-18). 
Muita ênfase tem sido dada à obediência de Paulo, e o versículo 18 é citado como o que esclarece os detalhes 
da missão de Paulo: abrir olhos, voltar-se para a luz e para Deus etc. Essas são ênfases valiosas e oportunas. 
Porém, raramente é notado o alcance do ministério. Paulo é enviado aos povos e às nações. Vale observar que 
a palavra “nações” está no plural. Paulo não foi enviado a uma nação, mas às “nações” ou aos “povos”. 
Repare em “lhes” e “os” no versículo 18. Esses termos referem-se a nações ou povos. Paulo não deveria 
apenas pregar o Evangelho, ele deveria pregá-lo às nações; ele deveria abrir os olhos das nações a fim de levá-
las da escuridão para a luz; ele deveria conduzir as nações do poder de Satanás a Deus; as nações deveriam 
receber o perdão do pecado e estar entre aqueles que são santificados pela fé em Cristo. Tal é o alcance da 
missão de Paulo. O plano e o programa de Deus são maiores do que o indivíduo. Ele pensa, planeja e ministra 
em termos de famílias, tribos, povos e nações. 
Portanto, Paulo, certo da vontade e do propósito de Deus, conduziu corajosamente suas cruzadas às 
cidades, províncias e aos estados, para os letrados, livres e escravos. A evangelização total era seu objetivo. 
Todos devem ouvir, todos devem ter uma oportunidade de conhecer o Evangelho, todos devem ter 
representação na igreja de Jesus Cristo, que deve ser reunida dentre as nações (Rm 11.25; At 15.14). O livro 
de Atos é o registro autêntico de que miríades de judeus (At 21.20) e multidões dentre as nações responderam 
ao Evangelho, de que a igreja apostólica era composta por judeus, samaritanos, gregos, romanos, gálatas, 
cretenses, árabes, egípcios, e podemos acrescentar indianos, espanhóis e vários povos conglomerados da Ásia 
Menor e Oriente Médio. 
A união de nações e raças era mais do que um ideal; ela tornou-se uma realidade abençoada na igreja. 
Sua realização plena é percebida em Apocalipse 5.8-10, onde a igreja arrebatada perante o trono é composta 
de representantes “de toda a tribo, e língua, e povo, e nação”. 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
BALLEY, Faith Coxe. Jorge Muller. São Paulo, SP: Editora Vida, 1988,19ed. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 68 
 
BOSCH, Davis. Missão Transformadora - Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão. São Leopoldo, 
RS: SINODAL, 2002. 
BOYER, Orlando. Esforça-te Para Ganhar Almas. São Paulo, SP: Editora Vida, 1988. 
BRADFORD, Kevin. Guia para missões de curto prazo. São Paulo: Edições Vida Nova, 2018. 
BRIGHT, BUI. Venha Ajudar a Transformar o Mundo. São Paulo, SP: Cruzada Estudantil e Profissional para 
Cristo, 1985. 
DAYTON, Edward R. O Desafio da Evangelização do Mundo. Niterói, RJ: Visão Mundial, 1982. 
DIVERSOS. A Missão da Igreja no Mundo de Hoje — Palestras do Congresso Internacional de Evangelização 
Mundial. São Paulo, SP: ABU Editora, 1982. 
DIVERSOS. Missões Transculturais, 4 volumes. São Paulo, SP: Ed. Mundo Cristão, 1987. 
DIVERSOS. Série Lausanne, vários volumes. São Paulo, SP: ABU Editora, 1983-1987. 
ED STETZER, David. Desvendando o Código Missional. São Paulo: Vida Nova, 2018. 
GOHEEN, Michael. A Igreja Missional na Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2014. 
HESSELGRAVE, David. Plantar Igrejas — Um Guia para Missões Nacionais e Transculturais. São Paulo, 
SP, 1984. 
JONHSTONE, Patrick J., editor. Batalha Mundial. São Paulo, SP, 1987. 
LAWRENCE, Carl. A Igreja na China. São Paulo, SP: Editora Vida, 1987. 
LEWIS, Norman. O Ide é com Você! São Paulo, SP: Ed. Leitor Cristão, 1967. 
LIDÓRIO, Ronaldo. Comunicação e Cultura. São Paulo: Vida Nova: 2014. 
LIDÓRIO, Ronaldo. Introdução à Antropologia Missionária. São Paulo: Vida Nova, 2011. 
NEILL, Stephen. História das Missões. São Paulo, SP, 1989. 
NICHOLLS, Bruce J. Contextualização: Uma Teologia do Evangelho e Cultura. São Paulo, SP, 1982. 
NIDA, Eugene A. Costumes e Culturas — Uma Introdução à Antropologia Missionária. São Paulo, 1987. 
PATE, Larry. Missiologia. São Paulo, SP: Editora Vida, 1988. 
QUEIROZ, Edson. A Igreja Local e Missões. São Paulo: Vida Nova, 2014. 
RICHARDSON, Don. O Fator Melquisedeque. São Paulo, SP, 1986. 
SHED, Russel. Missões – Vale a Pena Investir? São Paulo: Vida Nova, 2001. 
TUCKER, Ruth A. e outros. Missões até os Confins da Terra — Uma História Biográfica das Missões Cristãs. 
São Paulo, SP, 2010. 
WALKER, Luisa J. Evangelização Dinâmica. São Paulo, SP: Editora Vida 1988. 
WRIGHT, Christopher. A Missão do Povo de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2012. 
WRIGHT, Christopher. A Missão de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2014.visto; Ele interpretou-o; esse o fez conhecer” (Jo 1.18). 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 9 
 
Ao manter essas mesmas alegações, Paulo declara que Cristo é a imagem, a representação e a 
semelhança exata do Deus invisível (Cl 1.15; 2 Co 4.4). O autor de Hebreus amplifica o pensamento: “O qual 
[Cristo como Filho], sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua [Deus] pessoa” (Hb 1.3). 
Dessa forma, embora o cristianismo esteja voltado para Deus, isto assim o será apenas enquanto Deus 
for conhecido em Jesus Cristo e através dEle. Portanto, pode-se declarar que o cristianismo está centrado em 
Cristo. O cristianismo está centrado em Cristo em orientação e propósito e centrado em Cristo em revelação e 
salvação. Cristo em revelação e mediação torna-se a base de missões cristãs. 
As alegações acima são feitas com a convicção de que o cristianismo é a verdade revelada. Evidências 
apologéticas e cristãs têm prestado um serviço nobre ao defender a lógica e a historicidade do cristianismo e 
a autenticidade e integridade da Bíblia. Um estudo de religiões comparadas procurou estabelecer a supremacia 
e a singularidade do cristianismo entre as religiões do mundo. Nenhuma das disciplinas, porém, é capaz de 
apresentar evidências tão conclusivas que não precisem ser contestadas. No final, um cristão assume sua 
posição quanto à fé na revelação, tal como está relatada nas palavras da Bíblia, sustentada por evidências 
lógicas, e verificada em sua própria natureza moral como sendo a verdade suprema, absoluta e final. 
 
TEOLOGIA MISSIONÁRIA E JESUS CRISTO 
 
O cristianismo está centralizado em Cristo. Cristo, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, é o seu 
objeto de fé e louvor. Já que Ele representa o exemplo supremo e o modelo de conduta, serviço, atitude e 
orientação na vida, um estudo de sua vida é esclarecedor e inspirador. 
Aqui nos preocupamos apenas com a sua relação com o mundo e com missões mundiais. Qual foi a 
atitude de Cristo para com as pessoas não judias? Ele relaciona seu ministério com o universo das nações? 
Cristo era um nacionalista, particularista e regionalista, ou Ele era um universalista? Ele era um indivíduo 
internacional com uma missão mundial? Os benefícios de sua vida e morte estavam designados para uma 
pessoa? Ou o seu ministério se voltava para as nações do mundo todo? Jesus estava consciente em seus dias 
na terra de sua importância racial e de uma missão universal? Ele possuía um horizonte universal, uma 
perspectiva maior do que restaurar o judaísmo? 
O cristianismo iria responder às últimas perguntas com uma resposta afirmativa; percebendo que o 
cristianismo atual é substancialmente composto de povos de várias nações, assim a universalidade de Cristo é 
dada como certa. Porém, uma discussão razoável tem ocorrido em torno desse ponto. O Dr. Samuel Zwemer 
resume bem quatro pontos de vistas históricos: 
O primeiro é o ponto de vista radical de Hegel, Tolstói e outros de que Jesus era antissemita e estava 
ciente de uma missão universal! O ponto de vista exatamente oposto é o de que Jesus era judeu em seu coração 
e limitava seu horizonte e sua mensagem à casa de Israel. Reimarus, Strauss, Wellhausen e Harnack são 
representantes desse outro ponto de vista radical e eles tiveram muitos seguidores. Uma terceira escola de 
críticos alega que Jesus era, primeiramente, limitado e judeu e que apenas quando se encaminhava para o fim 
de sua vida, Ele realmente tornou-se ciente de uma missão mundial (Keim, Hausrath, Bertholet, Bernard 
Weiss). 
Contra todos esses pontos de vista radicais está o tradicional assumido por sábios cristãos, católicos 
romanos e protestantes — isto é, que Jesus desde o início de seu ministério tinha uma visão da humanidade 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 10 
 
como um inteiro, mas sentia que foi enviado especialmente para a ovelha perdida da casa de Israel, e que seu 
ministério na terra estava voltado especialmente para o povo de Israel. Apesar disso, Ele ensinou a seus 
apóstolos que Ele era o Salvador de todos os homens e finalmente lhes deu sua missão universal. 
Já que seu ministério na terra estava voltado principalmente para seu povo, surge a questão: tal restrição 
era uma questão de princípio ou uma questão de metodologia? 
Os quatro Evangelhos apresentam um registro autêntico da vida, das palavras e do ministério de Cristo. 
Mas eles não estão descritos como a “vida de Cristo”; eles são breves demais e incompletos demais para este 
propósito. Ao invés disso, eles são quatro retratos de Cristo ou quatro introduções à mesma Pessoa de quatro 
pontos de vista. Cada um dos evangelistas retrata Cristo com precisão, mas de acordo com seu próprio 
propósito e intenção, dentro de seu próprio padrão de referência e plano, sem contradizer, destruir ou 
minimizar os arranjos de seu co-Autor. 
Admitimos que sérias limitações e dificuldades são encontradas em uma tentativa de estabelecer uma 
harmonia entre os Evangelhos ou uma “vida de Cristo” baseada nos registros do Evangelho. Porém, algo 
maravilhoso surge quando combinamos os quatro retratos ao invés de harmonizar os registros. À medida que 
vemos Cristo em sua plenitude e percebemos uma visão amplificada dEle como está retratado nos Evangelhos, 
seu ímpeto e sua compaixão missionária tornam-se surpreendentes. Ele se destaca como o Missionário ideal, 
o Apóstolo de Deus. 
Assumindo que Marcos foi o primeiro a escrever seu relato, sua maneira histórica de apresentação é 
essencial. Já que conheceu pessoalmente Cristo e acompanhou Pedro em suas jornadas, Marcos escreve como 
um judeu repleto de Cristo. Ele apresenta Cristo como o Profeta de Deus e o Servo de Jeová. Todo o seu retrato 
consiste no Profeta de Deus divulgando a mensagem de Deus e o Servo de Jeová sempre ativo, cumprindo a 
vontade e o propósito de Deus. Ele resume isso de uma bela maneira através de uma citação do Mestre: 
“Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate 
de muitos” (10.45). A urgência de tal ministério é enfatizada nas palavras recorrentes “e”, “imediatamente” e 
“diretamente”. A finalidade está expressa no mandado para anunciar o Evangelho para toda a criatura 
(16.15,16). Ele é o Profeta cuja mensagem deve ser divulgada em todo o mundo (13.10). 
Mateus, principalmente, aceita o retrato de Marcos. Porém, procede no sentido de ampliá-lo e 
acrescentar a ele a nobreza de Cristo. A realeza dominante de Cristo torna-se mais proeminente em Mateus. 
Ao combinar, de forma maravilhosa, os vários aspectos da vida de Cristo, o escritor procura encaixar o retrato 
da nobreza e realeza de Cristo na moldura da revelação do Antigo Testamento e lhe conceder a autoridade 
total sobre a criação e a história. Ele aponta como Cristo é a realização das visões e profecias dos profetas do 
Antigo Testamento, a personificação de expectativas e aspirações da humanidade, e a realidade por trás de 
toda tipologia do Antigo Testamento. A realidade espiritual em Cristo surgiu e as sombras devem desaparecer. 
Mateus, de uma forma linda, observa o Rei, a quem a autoridade universal foi conferida, proferindo um 
mandado para que todas as nações sejam discipuladas e unidas em um único corpo sob o domínio do Deus 
trino e uno. 
Para o retrato que já foi ampliado, Lucas acrescenta o sacerdócio e a salvação de Cristo, os quais, 
embora implícitos nas prévias apresentações, não haviam sido ampliados tão plenamente. Lucas, 
indubitavelmente, aprendeu isso primeiro com Paulo; então ele experimentou em sua vida. Finalmente, uma 
pesquisa aplicada o levou a aceitar o fato e a teologia disso. Essa amplificação ele então aplica na moldura da 
história universal que começa com Adão e que ele vê como um teatro das atividades de Deus sem macular a 
divisão entre a Heilsgeschichte (história sagrada) como vista em Israel e a história geral como vista nas nações. 
 
INSTITUTO DEEDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 11 
 
A validade universal do sacerdócio e da salvação de Cristo fica evidente a partir da genealogia que começa 
com Adão e culmina na importância universal da morte e ressurreição de Cristo e na oferta de arrependimento 
e remissão dos pecados feita em nome dEle, entre todas as nações, como está expressa na Grande Comissão. 
O maior retrato é feito por João. De maneira alguma ele contradiz os autores anteriores, nem apaga ou 
modifica seus registros. Embora não esteja declarado explicitamente, o leitor “capta” que João aprecia tudo o 
que foi dito pelos evangelistas anteriores, os quais refletem os pontos de vista dos escritores, das várias 
testemunhas oculares e dos testemunhos de Pedro (Marcos) e Paulo (Lucas). João, porém, segue para além 
deles e ergue a cortina para que possamos ver a posição de Cristo como o eterno Filho de Deus, igual e eterno 
com o Pai em suas relações metafísicas e cósmicas. No Evangelho de João, Cristo é conhecido como o Logos, 
a luz que iluminava todos os homens, a vida, o Filho. Esses conceitos expressam direta ou metaforicamente 
uma divindade inadequada. 
Em Cristo, Deus está relacionado diretamente a este mundo conhecido como cosmos. João usa esse 
conceito 79 vezes e demonstra as várias relações de Deus com o cosmos. Nos termos mais fortes possíveis, 
João introduz a atividade universalista de Deus. Deus não é um particularista em seus interesses, amor e 
relações; Ele conduz o mundo segundo seu coração e propósito. 
Somos informados de que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito...” 
(3.16). “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o 
mundo fosse salvo por ele” (3.17). Somos informados de que Cristo é “o Cordeiro de Deus, que tira [carrega] 
o pecado do mundo” (1.29); “o Salvador do mundo” (4.42); “o pão de Deus é aquele que... dá vida ao mundo” 
(6.33); “a luz do mundo” (8.12; 9.5; 12.46). Fala-se do Espírito Santo como o Consolador que irá condenar 
ou “convencer o mundo” (16.8). 
O que quer que as passagens acima acrescentem ao ensinamento, João estabelece com convicção que 
Deus está em contato benevolente com o mundo. Em Cristo Jesus existe uma relação redentora entre céu e 
cosmos. O Espírito Santo está hoje envolvido ativamente nessa relação redentora. Ao mesmo que isso possa 
ser misterioso, é ao mesmo tempo real. O Espírito Santo está condenando os homens em todos os lugares 
(16.8), e Ele está escolhendo homens dentre todas as nações para Cristo (12.32). 
Dessa forma, encontramos um círculo eternamente ampliado e aprofundado nos Evangelhos. Ele é 
pessoal e cósmico. Ele é altamente individual — “quem quer que seja” — e é racial e inclui todos. 
Nós nos movemos primeiro em direção ao existencial histórico (Marcos), a seguir para o revelador e 
bíblico (Mateus), depois para a história universal (Lucas), e, finalmente, para o cósmico e metafísico (João). 
Tempo e eternidade, céu e terra são fiados em Cristo, e Deus e o homem se reconciliam. 
Temos os retratos de Cristo como o Profeta de Deus e o Servo de Jeová em Marcos; como o Messias 
de Deus, Rei dos reis e Senhor dos senhores em Mateus; como o Sacerdote de Deus e Salvador da humanidade 
em Lucas; e o Filho de Deus em verdade e realidade que surge para trazer vida e imortalidade ao homem em 
João. Dessa forma, em Cristo a plenitude de Deus existe completamente, uma plenitude adequada e disponível 
para todos os que acreditam. 
O movimento missionário e as implicações de tais introduções são evidentes e impressionantes. 
Progressivamente, mas com segurança, Cristo irá triunfar em todas as esferas de sua relação, pois Ele é 
realmente um Cristo missionário; o Cristo de toda a humanidade e o Senhor de todo o cosmos. 
 
OS PRINCIPAIS CONCEITOS TEOLÓGICOS DE CRISTO 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 12 
 
O sentido do ímpeto missionário de Cristo torna-se claro quando consideramos seus conceitos 
teológicos e pressuposições básicas. Todos eles estão repletos de conteúdo missionário e carregados de 
dinâmica missionária. Eles apenas aguardavam o Pentecostes para serem descarregados com fervor e força 
total. Nós resumimos esses conceitos teológicos e pressuposições básicas de Cristo apontando o seu ponto 
central de proclamação, sua revelação, auto identificação única, seu propósito supremo, sua declaração como 
o Juiz final, e a Grande Comissão. 
O ponto central da proclamação de Cristo: o Reino de Deus 
Marcos resume a proclamação de Jesus Cristo nestas palavras: “Veio Jesus para a Galiléia, pregando 
o evangelho do reino de Deus, e dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-
vos, e crede no evangelho” (Mc 1.14-15). 
Mesmo uma pesquisa superficial dos Evangelhos irá convencer logo o leitor de que o conceito do Reino 
de Deus estava mais proeminente no ensinamento de Jesus e formava o ponto central de sua proclamação. Ele 
começou com sua pregação (Mc 1.14,15) e terminou com um discurso sobre esse tema (At 1.3). No meio 
disso, várias referências apontam para esse ponto. Declarações diretas e interpretações parabólicas sobre o 
assunto caracterizavam sua pregação. Cristo foi, realmente, um Pregador do Reino de Deus (compare suas 
mais de sessenta referências a isso nos relatos dos Evangelhos). 
Estamos interessados no significado do contexto “Reino de Deus”, sendo que ele reflete ou o 
particularismo ou a universalidade de Cristo. Esse conceito não é totalmente um conceito do Antigo 
Testamento. Em sua plena forma, ele não aparece no Antigo Testamento. Enquanto que as suas raízes estão 
lá, seu desenvolvimento completo é encontrado apenas no Novo Testamento. 
No Antigo Testamento encontramos os seguintes fatos: Deus é o Rei de Israel de uma maneira singular; 
Deus é o Rei de todas as nações de uma maneira geral; Deus é o Rei de toda a criação de uma maneira 
providencial. 
A isso, o Novo Testamento acrescenta uma nova dimensão: está enfatizado que Deus é o Rei do homem 
interior. Ele acrescenta a intimidade, proximidade e atualidade do Reino e da realeza de Deus, tornando-as 
pessoais, espirituais e sociais. O Reino de Deus está em você. Deus é o Rei de eternidade e imortalidade, 
indicando dessa forma a “diversidade” e raridade do valor e da natureza do Reino e da realeza de Deus. Isto 
faz com que o conceito de Reino supere o espaço e o tempo em origem e desígnio supremo e seja transferido 
para o domínio do que é maior que a humanidade e a terra em qualidade e duração. 
O Reino de Deus inclui todos esses aspectos. Ele é individual, nacional, racial, cósmico. Ele é 
espiritual, moral, social. Ele é terreno e atual. Ele também é eterno e está além da humanidade e da palavra. 
Ele é história, e ainda assim final. Ele é atual, e ainda assim eterno. Ele é qualitativo, e ainda assim também é 
espacial. 
Pode-se pensar no Reino de Deus em termos quantitativos e qualitativos. Quanto à qualidade, podemos 
considerá-lo de três formas: 
a. O domínio de Deus no coração do homem. O Reino de Deus está dentro de você. Ele é urgente e 
atual. Como tal, ele é moral, não nacionalista; ele é espiritual, não materialista; ele é atual, não idealista (ou 
seja, ele é presente e não totalmente futurista). 
b. O domínio de Deus na igreja. Nem Deus nem Cristo é mencionado como o Rei da igreja. Cristo é o 
Senhor da igreja, e isso não é nada além de uma modificação romana do conceito de rei e regência. Como 
Senhor, Ele é soberano sobre sua igreja. Dessa forma, Paulo se envolveu na pregação do Reino de Deus (At 
14.22; 19.8; 20.25; 28.23,31). Nas epístolas, ele usa o conceito de Reino pelo menos umas quatorze vezes. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 13 
 
Certamente, Paulo não sentia que a igreja era uma parte do Reino de Deus ou que estava relacionada a ele. O 
conteúdo dessas suas referências, porém, revela que ele pensava no Reino mais em termos de moral e ética do 
que em termosde autoridade, realeza e regência. 
O fato permanece, contudo, de que Paulo conhecia Cristo como sendo o Senhor da igreja. Ele é o Líder 
da igreja, e a igreja é seu corpo (Ef 1.23; Rm 12.5; Cl 1.18). A Cristo pertencem todos os direitos, autoridades 
e regências na igreja. Ele confere dons e envia seus embaixadores. Ele é o Senhor soberano da igreja (Ef 
4.7,11; 2 Co 5.20). 
c. O domínio de Deus no mundo. Como tal, embora seja pessoal, ele tem grandes implicações sociais 
através do ministério do cristão individual e o impacto geral do Evangelho na consciência da sociedade. A 
presença do Evangelho neste mundo consiste no julgamento, enriquecimento e na modificação da ordem 
social. Ele é altamente social no seu impacto geral, controlando todas as relações de acordo com a vontade e 
o propósito de Deus. Assim, embora ele seja local dentro do indivíduo cristão e da igreja de Jesus Cristo, é 
universal no sentido de que o Evangelho deve ser pregado a todas as nações e que a igreja deve ser constituída 
de indivíduos de todas as nações. Como tal, embora ele seja atual dentro do indivíduo, dentro da igreja cristã 
e dentro do governo providencial de Deus nessa ordem, sua manifestação plena é futurista; primeiro no reinado 
milenar de Cristo na terra sobre todas as nações e, finalmente, na consumação, quando o último inimigo for 
destruído e o Filho subjugar todas as coisas, “então também o mesmo Filho se sujeitará àquele que todas as 
coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos” (1 Co 15.28). Ele é urgente, progressivo e cataclísmico. 
Quanto a quantidade, o conceito de Reino de Deus implica um império, uma realidade objetiva. Cristo 
repetidamente adverte o homem para “unir-se ao Reino de Deus”, “receber o Reino de Deus”, “vos dar o Reino 
de Deus”, “sentar no Reino de Deus”, “comer no Reino de Deus”. Tais expressões enfatizam principalmente 
domínio e realidade objetiva ao invés de um reinado, embora este último não esteja excluído. 
Através desta breve pesquisa, fica evidente que não há nada particularista no ensinamento focal de 
Cristo. Ao contrário, assim como Deus não é apenas o Deus dos judeus, mas de todas as nações também, 
igualmente o Reino de Deus não é apenas dos judeus, mas também das nações. O conceito de Reino de Deus 
é definitivamente universal em sua implicação e designação. 
A revelação central de Cristo: a paternidade de Deus 
Cristo nos revelou as riquezas da verdade celestial. Ele realmente é a verdade, pois “a graça e a verdade 
vieram de Jesus Cristo”. Porém, no meio de todo o esplendor da revelação que veio à tona em e através de 
Cristo, as manifestações do Pai ultrapassam qualquer outra verdade. “O Filho unigênito, que está no seio do 
Pai, este o fez conhecer”, ou como a Bíblia na Linguagem de Hoje traduz: “Ninguém nunca viu Deus. Somente 
o Filho único, que é o mesmo que Deus e está perto do Pai, foi quem nos mostrou quem é Deus” (Jo 1.18). 
A paternidade de Deus destaca-se no ministério de ensinamento de Cristo e forma a revelação central 
da mensagem do Filho de Deus. Isso fica evidente através do fato de que os Evangelhos registram o uso 
frequente da palavra por Cristo: em Mateus, 44 vezes; em Marcos, 5; em Lucas, 16; e em João, 109. Um total 
de 173 vezes. 
O conceito de Deus como Pai não é totalmente novo com Cristo. Deus tinha sido conhecido como o 
“Pai” da nação de Israel (Dt 14.1,2; 32.6; SI 103.13; Pv 3.12; Is 9.6; Ml 2.10). Ele também foi mencionado 
como sendo o Pai em relação ao Rei e à vinda do Messias (2 Sm 7.14; Sl 2.7). 
Porém, em contraste com a ideia de Eloim e Jeová do Antigo Testamento, Cristo tornou o conceito de 
Pai a principal imagem de Deus, antecipando e completando dessa forma a revelação do Deus da Bíblia e nos 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 14 
 
conduzindo para o relacionamento Deus-homem mais profundo e íntimo. Temos, consequentemente, a 
seguinte revelação de Deus na Bíblia: 
a. O conceito de Deus Eloim como a revelação mais antiga de Deus, retratando principalmente o 
relacionamento de Deus com o homem como Criador. 
b. O conceito de Deus Jeová apresentando o relacionamento de Deus com o homem e particularmente 
com Israel. 
c. O conceito de Deus paterno revelando basicamente, mas não exclusivamente, a relação fiel de Deus 
com o homem. 
Dessa forma, no Novo Testamento os homens são conhecidos individualmente como “discípulos de 
Deus” ou “filhos de Deus”, e, apenas no Novo Testamento, os homens se dirigem a Deus como “Pai divino”. 
É bom tomar nota desse resultado maravilhoso e final da revelação progressiva do conceito de Deus, 
pois é uma evidência de que o conceito de Deus permanece como o conceito regulador de toda a revelação e 
relação. 
Na revelação de Deus como Pai, nosso Senhor distingue uma relação de três aspectos. Ele fala de Deus 
como “meu Pai” e indica sua relação especial ou metafísica com o Pai. Ele era unicamente o Filho de Deus, e 
Deus era unicamente seu Pai. Ele fala a seus discípulos e seguidores sobre Deus como “vosso Pai”, 
estabelecendo dessa forma a relação filial de Deus como Pai. Finalmente, Ele fala de Deus como “Pai” ou 
como “o Pai”, relacionando providencialmente Deus como Pai de toda a humanidade. O homem como criação 
de Deus está ligado a Ele como Pai. 
Dessa forma, há uma paternidade de Deus pela criação que é universal, abrange toda a humanidade, 
uma paternidade de Deus pela redenção que é particular a todos os crentes e uma paternidade de Deus por 
essência que é única para o Filho de Deus. 
Porém, de forma alguma a paternidade relaciona Deus especialmente ao povo judeu. Assim, no centro 
da revelação de Cristo, o particularismo nacional desaparece e a universalidade prevalece. Deus é 
peculiarmente o Pai de todos os que acreditam, não importa a nacionalidade ou raça. 
Cristo em sua única auto identificação: o Filho do Homem 
Embora seu nome humano fosse Jesus, sua designação favorita era “Filho do homem”. Os Evangelhos 
registram 84 referências: em Mateus, 32; em Marcos, 14; em Lucas, 26; em João, 12. 
A questão para nossos estudos é: o que Jesus queria dizer a seus ouvintes, usando essa autodesignação? 
Vamos considerar o título “O Filho do homem”. Cinco fatos, todos baseados no Antigo Testamento, 
salientam: 
A realidade da humanidade de Jesus. “Filho do homem” é uma expressão hebraica que denota a posse 
da verdadeira natureza humana. Jesus, ao adotar o nome “Filho do homem”, referia-se a compartilhar esse 
quinhão de uma vez com os ricos e pobres. Ele também expressava através disso sua comunhão de sentimentos 
com o homem, sua partilha nas afeições e interesses humanos, sua verdadeira experiência de vida humana, sua 
sujeição à tentação, sua exposição como qualquer outro homem à fome e sede, sofrimento e morte. 
O Homem ideal. Jesus Cristo, sendo o Filho do homem, é o Homem ideal em quem a humanidade 
encontra sua realização, esperança e exemplo. Ele sendo “filho de... Adão, de Deus” (Lc 3.23-38). Na 
realização absoluta de Salmos 8.3,4, Ele é o verdadeiro Filho do homem e não o filho de uma nação ou raça 
qualquer; Ele é o Homem de relações universais; o Filho do homem em sua designação e título genérico. Nele, 
a humanidade é adicionada, e a realização da raça torna-se visível. Ele é o Líder e Representante, não apenas 
dos judeus, mas de todas as nações da humanidade. Esse é um título pelo qual Jesus deixa de ser judeu e passa 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 15 
 
a ter uma tal relação com toda a raça humana que seus inimigos são seus inimigos, suas tristezas são suas, suas 
tarefas são suas. Ele está em estreita ligação com sua vida e seu destino. E como a raça também está unida e 
representada nEle, Ele é, na linguagem de Paulo, o segundo Adão. 
O Sucessor dos profetas. Jesus Cristo, sendo o Filho do homem, é o verdadeiro Sucessor dos profetas 
de Israel. Ele realmente é “o Profeta”. Na profecia de Ezequiel, a frase “Filho do homem” ocorre com uma 
iteraçãode noventa formas. Jeová dirige-se constantemente ao profeta usando esse termo. O título se torna 
uma designação para o homem ao qual Deus se dirige de uma maneira única e que representa Deus para o 
povo. 
O Messias prometido. Jesus Cristo, sendo o Filho do homem, é o Messias prometido de Israel. Ao 
concordar com Salmos 80.17, Daniel 7.13,14 e os escritos hebraicos baseados na Bíblia, a designação “Filho 
do homem” tornou-se uma expressão técnica e um título entre os judeus eruditos para o Messias que eles 
estavam esperando. 
Precisamos perceber que nos três evangelhos sinópticos a designação “Filho do homem” expressa 
enfaticamente a consciência messiânica de Cristo. Sim, Jesus sabia que era o Consagrado de Deus, enviado de 
Deus e por Deus ao povo de Deus para a missão de Deus, e pela autoridade de Deus. 
Relacionado unicamente a Deus e seu reino. Jesus Cristo, sendo o Filho do homem, está relacionado 
de maneira única a Deus e ao estabelecimento do seu Reino. Isso é apresentado em Daniel 7.13,14. Pela visão 
de mundo dessa passagem, percebemos que Jesus Cristo como Filho do homem não apenas se identifica com 
a humanidade, mas Ele é a esperança de Israel e do mundo, e a certeza do propósito de Deus. Ele mesmo torna-
se a realização de todas as expectativas e promessas do Antigo Testamento. 
Notamos, contudo, que não há nenhum particularismo restrito ligado ao título. Ele relaciona Cristo à 
humanidade. Ele é realmente o Salvador do mundo. 
Cristo em seu propósito fundamental: sua morte e ressurreição reconciliadoras 
Jesus veio ao mundo para servir de modelo perfeito de vida? Ele viveu para revelar o caminho de Deus 
ao homem? Cristo veio para manifestar o Pai através de sua vida e revelá-lo através de seu ensinamento? Para 
todas essas perguntas devemos dar uma resposta afirmativa. Sim, Cristo é nosso modelo. Ele é o caminho; Ele 
é a imagem e a manifestação suprema, perfeita e final do Pai. Porém, em todos esses ministérios, Ele apenas 
iria se distinguir de maneira quantitativa dos profetas antigos. Também eles mantinham ideais segundo Deus 
e revelavam Deus quanto à sua pessoa e seu propósito perante o homem. Tal como os contribuintes de Cristo 
são importantes e maravilhosos nessa área, Ele não é absolutamente único nesse campo. Isso, portanto, não 
explica ou justifica plenamente o grande fato da encarnação. Nem o Novo Testamento torna isso importante 
para sua vinda. 
João Batista concentra-se na força do Novo Testamento quando aponta para Cristo e declara: “Eis o 
cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Isso está de acordo com o propósito declarado de nosso 
Senhor quando Ele diz: “Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar 
a sua vida em resgate de muitos”. Ele nos diz explicitamente que o bom Pastor oferece sua vida pela ovelha 
(Jo 1.29; 10.11; Mc 10.45). 
Esse é o verdadeiro propósito de Cristo. Essa é a essência da encarnação. Cristo Jesus veio para lidar 
efetivamente com o pecado, para tornar-se a expiação do pecado, o destruidor da culpa do homem, assim como 
o conquistador e aniquilador do pecado. Que Ele assim o fez fica objetivamente em evidência através de sua 
ressurreição e entronização ao lado direito de Deus, o Pai. Subjetivamente, fica convincente na experiência do 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 16 
 
perdão do pecado e libertação do poder do pecado dos cristãos nEle, os quais aprendem a apropriar-se de seus 
méritos e seu poder. 
A morte vicária de Cristo é difícil de ser negada pelo cristão. Ela é confirmada tanto na mensagem da 
Bíblia quanto na experiência pessoal. A questão, todavia, permanece: por quem Jesus morreu? 
Tem havido uma discussão na teologia evangélica protestante. Enquanto uns defendem a expiação 
limitada na eficácia da morte de Cristo, outros estão ensinando a expiação inclusiva ou a suficiência da morte 
de Cristo para toda a humanidade. Porém poucos, se algum, têm defendido a eficácia da morte de Cristo apenas 
para o povo judeu. Particularismo nacional nunca esteve conectado à expiação de Cristo. Aqui basta perceber 
que, no propósito fundamental de Cristo, a universalidade ao invés do particularismo nacional lidera. Cristo 
desejava a salvação de toda a humanidade. 
Cristo em sua comissão pós-ressurreição 
A proeminência da comissão pós-ressurreição fica evidente para todos os leitores dos Evangelhos. O 
ímpeto missionário está neles bem pronunciado. As frases “toda nação”, “toda a criação”, “todas as nações”, 
“todos que” e “a extremidade da terra” na comissão não deixam espaço para particularismo. Cristo enviou 
seus apóstolos pelo mundo inteiro, ordenando-lhes que discipulassem todas as nações. Particularismo não tem 
lugar aqui. 
Cristo e a avaliação final 
Paulo disse que Deus irá julgar o mundo com justiça através de um homem, Cristo (At 17.31). Isso não 
é uma invenção especulativa de Paulo. Cristo já havia dito: “O Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o 
juízo; para que todos honrem o Filho, como honram o Pai” (Jo 5.22,23). E com uma disposição similar, Ele 
disse: “Toda autoridade me é dada no céu e na terra”, o que certamente inclui julgamento universal. Nosso 
Senhor vivamente anuncia essa verdade no local do julgamento, quando todas as nações devem ser reunidas 
perante Ele para serem julgadas por Ele e receber seu veredicto irrevogável de recompensa ou punição (ver 
Mt 25.31-46 com Jo 5.24-29; 3.17-19). O mundo está claramente sendo julgado e será julgado pelo Filho. 
Novamente, o ímpeto missionário, ao invés de um particularismo, destaca-se no ensinamento de Cristo. 
Conclusão 
Cristo Jesus, em seus conceitos teológicos básicos e pressuposições, anuncia de maneira inegável a 
universalidade implícita da salvação e do Evangelho. Todos os seus principais conceitos teológicos — Reino 
de Deus, paternidade de Deus, Filho do homem, pecado e salvação ou redenção, o propósito de sua vida, sua 
comissão para discipular e julgar todas as nações — o colocam acima de sua própria nação, cultura e religião, 
o colocam nas relações raciais e o tornam o Salvador da humanidade e do mundo. Cristo, realmente, tem 
importância para o mundo; não porque o cristianismo assim o tornou, mas porque o cristianismo bíblico o 
encarna. 
É bom lembrar novamente que esses conceitos fundamentais não são meramente conceitos teológicos. 
Primeiro e antes de tudo, eles são vitais, ideias missionárias dinâmicas e ideais que Cristo proclamou 
ousadamente e implantou com profundidade na mente e consciência de seus discípulos. Após o Pentecostes, 
o Espírito Santo desvendou progressivamente a dinâmica missionária dessas ideias e transformou os discípulos 
em missionários fervorosos, irresistíveis e imbatíveis por todo o Império Romano e além de suas fronteiras. 
Dessa forma, a força centrífuga nutrida pelas ideias missionárias de Cristo superara a tradicional força 
centrípeta, e o cristianismo rompeu os vínculos do nacionalismo e particularismo judeu e tornou-se um 
verdadeiro movimento missionário, cumprindo a promessa racial de Gênesis 3.15 e o idealismo do Antigo 
Testamento. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 17 
 
 
A UNIVERSALIDADE EXPLÍCITA DE CRISTO 
A universalidade implícita é definitivamente sustentada por uma universalidade explícita de Cristo. 
Apresentamos simplesmente um esboço desse aspecto como está registrado nos Evangelhos: 
A universalidade de Cristo nos anúncios 
1. Pelos anjos — Lucas 2.10-14. A alegria deve pertencer a todo povo, e paz deve ser conferida a toda 
a terra e boa vontade à humanidade. 
2. Por Simeão — Lucas 2.25-32. Ele é a Salvação de Deus, a qual Deus preparou diante da face de 
todo o povo; uma luz para iluminar a nação e a glória do povo de Israel. 
3. Por João Batista — Lucas 3.3-6; João 1.29. Em sua antiga pregação ele anuncia que “toda a carne 
verá a salvação de Deus”. E vendo Jesus vindo até ele, aponta para Cristo e o declara “Cordeiro de Deus, quetira o pecado do mundo”. 
A universalidade de Cristo em seu ministério 
Recorremos aos registros dos incidentes abaixo, que relacionam Cristo a pessoas que não são de seu 
povo: 
• João 4.1-42: a mulher samaritana e os samaritanos. 
• Mateus 15.21-28: a mulher cananéia que obteve ajuda para sua filha endemoninhada. 
• Mateus 8.513־: o centurião de Cafarnaum, cujo criado foi curado. 
• João 4.43-54: o cortesão (nobre) de Cafarnaum, que efetivamente implorou pela cura de seu 
filho que estava à beira da morte. 
• Marcos 5.1-20: a região dos gadarenos, na qual Cristo expulsou uma legião de demônios. 
• Marcos 7.31-37: o homem surdo de Decápolis, que foi curado de sua deficiência. 
De interesse especial nessa conexão é a purificação do templo como está relatada em João 2.13-17. 
Precisamos lembrar que o templo consistia de uma série de pátios que conduziam ao templo adequado e ao 
lugar sagrado. O primeiro pátio era designado para as nações, o seguinte era o pátio das mulheres, depois vinha 
o pátio dos israelitas, e finalmente o pátio interior para os sacerdotes. Compras e vendas ocorriam no pátio dos 
gentios, impossibilitando as pessoas de orar dentro dos limites do templo. Ainda assim, Marcos registra: “A 
minha casa será chamada por todas as nações casa de oração” (11.17). Dessa forma, ao purificar o pátio, 
Jesus forneceu um lugar para o cristão de entre as nações que estavam de acordo com o propósito do templo. 
Ao mesmo tempo, Ele claramente enfatizou a ordem divina do louvor universal ao Deus vivo. 
Essa interpretação parece ser sustentada pela passagem citada a partir de Isaías 56.7, na qual está 
claramente declarado: “Minha casa será chamada Casa de Oração para todos os povos [todas as nações]”. 
A indiferença e insensibilidade de Israel em relação ao esforço religioso das nações, e sua total negligência e 
abandono de qualquer missão para com as nações do mundo tornam-se motivos consumidores na aparente 
reação violenta de Cristo ao ritualismo religioso e atos destituídos de compaixão pelo bem-estar espiritual dos 
outros. 
A universalidade de Cristo em seu ensinamento 
Simplesmente, classificamos algumas passagens sinópticas importantes que exprimem explicitamente 
universalidade, e então nos referimos a várias parábolas que ensinam a mesma verdade em forma de parábola. 
Algumas declarações explícitas: 
• Mateus 5.13-16: “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo”. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 18 
 
• Mateus 6.10: “Seja feita tua vontade, assim na terra”. 
• Mateus 21.43: “O reino de Deus vos [dos judeus] será tirado, e será dado a uma nação”. 
• Lucas 13.29,28: “E virão do oriente, e do ocidente, e do norte, e do sul, e assentar-se-ão à mesa 
no reino de Deus... e vós [os judeus] lançados fora”. 
• Marcos 14.9: “Em todas as partes do mundo onde este evangelho for pregado...” 
Ensinamento das parábolas: 
• Lucas 10.29-37: o bom samaritano. 
• Lucas 14.10-24: o grande banquete pelo qual um convite universal é estendido. 
• Lucas 15.11-24: a linda história do imutável Pai gracioso que trata gentilmente o filho pródigo 
(um quadro do mundo das nações) assim como o farisaico filho mais velho (um retrato da nação 
judaica), esperando que ambos voltem para casa e para o Pai a fim de adorá-lo para sempre em 
uma amizade abençoada. 
• Mateus 13.36-43: a história do trigo e do joio, sendo que o campo não era nem da nação judaica 
nem da igreja cristã, mas do mundo. 
• Mateus 21.28-32: a parábola do lavrador e seus dois filhos, os quais representam dois universos 
de humanidade — o mundo judaico e o mundo das nações. 
Ao testemunho dos sinópticos, acrescentamos o testemunho de João, no qual encontramos estas 
maravilhosas declarações: 
Em relação ao Pai — 
• João 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira”. João 3.17: “Porque Deus enviou o 
seu Filho... para que o mundo fosse salvo por ele”. 
• João 3.19: “Que a luz veio ao mundo”. 
Em relação ao Filho — 
• João 1.9: Cristo é a luz que “alumia a todo homem que vem ao mundo”. 
• João 1.29: Cristo é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. 
• João 4.42: Ele é “o Salvador do mundo”. 
• João 6.33: Ele é “o pão de Deus... que dá vida ao mundo” (cf. v. 54). 
• João 8.12: Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo” (ver também 9.5; 12.46). 
• João 12.47: Ele veio para salvar o mundo. 
• João 17.21: Ele ora pela união de seu povo “para que o mundo creia que tu me enviaste”. 
Em relação ao Espírito — 
• João 16.8: “Quando ele vier, convencerá [condenará] o mundo”. 
Dessa forma, o mundo é a esfera de operação do Pai, Filho e Espírito Santo. Acrescente a isso a 
“multidão de testemunhas”, “todos”, “todo homem”, e “todos os homens”, e a evidência de universalidade é 
surpreendente. 
Com essa multidão de testemunhas, torna-se difícil questionar a força fundamental da vida, do 
ministério, da mente e doutrina de Cristo. Ele é o Filho da raça, o Representante e Campeão da humanidade, 
o Salvador do mundo. 
 
O MÉTODO DE CRISTO 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 19 
 
Apesar dessa universalidade implícita e explícita de Cristo, há um particularismo inegável em seu 
ministério. 
1. É um fato óbvio (pelo menos de acordo com os registros dos Evangelhos) que Cristo não conduziu 
nenhuma missão expandida aos gentios ou em solo gentio. Seu principal ministério limitava-se à Judéia e 
Galiléia. 
2. Ele nos diz explicitamente que não foi enviado senão para as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 
15.24). 
3. Ele proíbe especificamente seus discípulos de irem além dos limites de Israel, assim como Ele não 
foi enviado para as nações, mas para as ovelhas perdidas de Israel (Mt 10.5,6; 15.24; 10.56). 
4. Em vários trechos dos Evangelhos, Jesus fala das nações e indivíduos não judaicos de uma maneira 
extremamente sincera, e até mesmo injuriosa: S 
• Suas orações são “vãs repetições” (Mt 6.7). 
• Eles são materialistas e pensam em termos de comer, beber e vestir-se, ou seja, sua mente está 
voltada para as coisas desta vida (Mt 6.32). 
• Um irmão excomungado deve ser considerado como um homem pagão e publicano — isolado, 
sujo e imprestável (Mt 18.17). 
• A mulher cananéia é comparada a um cachorro, em contraste com os israelitas, que são crianças 
(Mc 7.27; Mt 15.26). A forma diminuta da palavra traduzida por “cachorro” não elimina a 
mácula. 
• Eles são sedentos de poder e exercitam autoridade com pouca sabedoria e misericórdia (Mc 
10.42). 
Esses são fatos registrados pelos autores do Evangelho, aparentemente sem notar qualquer discrepância 
entre a óbvia universalidade e o aparente particularismo de Cristo. Encontramos alguma contradição aqui? 
Essa é uma das polaridades insolúveis das Escrituras? Como o aparente paradoxo pode ser resolvido? 
O conflito entre aparente particularismo e universalidade óbvia na vida, no ministério e ensinamento 
de Cristo se resolve à luz de duas considerações: 
1. Deve compreender-se que não há uma mensagem real do Evangelho — boa notícia — para os gentios 
perante a cruz e ressurreição de Cristo. Nos seus atos cardinais e redentores de encarnação — tolerância ao 
pecado, morte e ressurreição — Cristo se identificou com Israel como previsto no Antigo Testamento. 
2. Em relação à vida e ministério de Cristo, não há problema em distinguir por um lado suas simpatias, 
seus pensamentos, ideais, princípios e planejamentos, e por outro, sua metodologia de realização de seus 
propósitos. Os primeiros são inquestionável e obviamente universais; o último parece particularista e é 
determinado pela metodologia do Antigo Testamento. Deve-se ter em mente que universalidade pode ser tanto 
centrífuga (impulsiona para fora) quanto centrípeta (puxa para o centro). A universalidade centrífuga está em 
ação quando um mensageiro do Evangelho cruza fronteiras e leva a boa nova para o povo ateu. A 
universalidade centrípeta, frequentemente tomada erroneamente como particularismo, opera como uma forçamagnética, conduzindo para um local central povos distantes, pessoas ou pessoa. Esta última é a metodologia 
do Antigo Testamento, com Israel e o templo como centro designado para atrair pessoas para si mesmos e para 
o Senhor. 
Ao estar de acordo com esse princípio, nosso Senhor se dirige primeiro a Israel a fim de restaurar os 
judeus ao seu lugar, propósito e destino. Israel deveria ter a oportunidade de tornar-se um servo do Senhor 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 20 
 
para atrair o mundo para o Senhor e/ou ser transformada de centrípeta em força centrífuga através da dinâmica 
do Pentecostes. 
Pode parecer, à primeira vista, que Jesus falhou em obter a atenção de seu próprio povo. João, na 
verdade, nos diz que Ele “veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1.11). Através de sua 
liderança, a nação o rejeitou e exigiu sua crucificação. 
Porém, não devemos interpretar esse fato como um fracasso total. Um vestígio importante surgiu da 
ressurreição. Os apóstolos, inclusive Paulo, eram todos judeus; a primeira igreja cristã era uma igreja judaica, 
na cidade de Jerusalém. Judéia, Samaria e Galiléia tinham várias igrejas, e dezenas de milhares de judeus 
tornaram-se cristãos (At 9.31; 21.20). Os primeiros missionários enviados às nações eram judeus; Filipe a 
Samaria, Pedro a Cornélio, alguns judeus helênicos de Chipre e Cirinéia a Antioquia, e então, claro, Paulo ao 
mundo. 
Dessa forma, os judeus nos deram a Bíblia, o Evangelho, os missionários e as primeiras igrejas. Vamos 
sempre ter isso em mente! 
 
A MENTE DE CRISTO 
Uma vez constatada a intenção missionária de Cristo, perguntamos, naturalmente: Como Cristo teve 
essa ideia missionária? Como sua mente foi transformada em missionária? Isso foi algo intuitivo ou baseado 
em alguma Escritura? Ele aprendeu isso a partir do Antigo Testamento? Foi uma iluminação especial? 
É fato comprovado que Cristo alegou ter vindo para cumprir o Antigo Testamento. Essa era sua Bíblia, 
seu guia e seu suporte. Ele o usava ricamente; pregava-o livremente; honrava-o humildemente; acreditava nele 
com convicção. O Antigo Testamento era para Ele a própria Palavra de Deus. Enquanto Ele era seu coração e 
conteúdo e toda a Escritura apontava para Ele, Ele era também seu verdadeiro Intérprete. O Antigo Testamento 
realmente revela Cristo, enquanto Ele o expõe. Ele é tanto o conteúdo quanto a interpretação. Mas também é 
verdade que Ele não apenas encontrou seus principais conceitos teológicos no Antigo Testamento, mas 
também a extensão do plano redentor de Deus. Este último era universal e incluía a humanidade em sua 
totalidade, não apenas uma nação. Essa é a tese que precisamos estabelecer, pois parece estranho fazer tal 
alegação em relação ao Antigo Testamento. Porém, o Antigo Testamento não revela plenamente o segredo da 
mente e do propósito missionário de Cristo. 
É evidente para todo leitor dos relatos dos Evangelhos que Cristo possuía uma consciência única de 
Deus e de si mesmo. Ele sabia que era Filho unigênito que está no seio do Pai. Ele caminhava e trabalhava 
totalmente ciente de ter sido enviado ao mundo, de ter entrado no domínio terreno a partir de um domínio 
superior. Ele tinha vindo em uma missão muito específica, uma missão essencial para a consumação do 
propósito eterno de Deus. Como um membro da eterna Divindade, Ele compartilhava os conselhos eternos 
que têm sua base na natureza e caráter do Deus trino e uno. 
Portanto, antes de recorrermos a uma pesquisa bíblica para estudar o propósito universal de Deus que 
se encontra por trás do ímpeto missionário da Bíblia, precisamos considerar sumariamente a natureza e o 
caráter de Deus, em quem o propósito missionário está baseado. 
 
TEOLOGIA MISSIONÁRIA E A NATUREZA DE DEUS 
 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 21 
 
Esta tarefa é expressa oficialmente nas palavras da Grande Comissão, e o fato de isso ter sido declarado 
pelo nosso próprio Senhor faz com que haja infinitas consequências. Mas se essas palavras em particular nunca 
foram pronunciadas por Ele, ou, se foram ditas, nunca foram conservadas, a tarefa missionária da igreja não 
seria afetada nem um pouco. Os principais argumentos para missões não são encontrados em palavras 
específicas. É no próprio ser e caráter de Deus que a base mais profunda do esforço missionário deve ser 
encontrada. Nós não conseguimos pensar em Deus exceto em termos que compelem à ideia missionária. 
Embora palavras possam revelar tarefas missionárias eternas, as bases estão no ser e pensamento de Deus, no 
caráter do cristianismo, no objetivo e propósito da igreja cristã, e na natureza da humanidade, sua unidade e 
necessidade. 
Tal teocentrismo em missões é agradável de se ler no meio da atual centralização antropóloga, cósmica 
e eclesiástica. Missões teocentristas encontram sua fonte, dinâmica e objetivo além do espaço e tempo na 
eternidade, embora não ignorem a história atual. O tempo, contudo, não pode dar origem, manter ou desgastá-
las. 
O teocentrismo é muito bem estabelecido em missões pelo apóstolo Paulo. No capítulo em que ele nos 
conduz mais a fundo em direção ao mistério do conselho eterno de Deus que se relaciona à salvação, Paulo 
declara três vezes que tudo é “para louvor e glória da sua graça... perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” 
(Ef 1.3-14). Na mesma epístola, o apóstolo diz que todo o drama da salvação não passa de uma revelação de 
um plano que está de acordo com o propósito de Deus, o qual Ele tencionou em Cristo Jesus nosso Senhor 
(Ef3.11). 
Em três capítulos de sua epístola aos Romanos, Paulo discute o grande programa missionário de Deus 
(cap. 9—11). Ele conclui seu discurso majestoso, porém difícil, sobre missões em todas as eras com estas 
palavras: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são 
os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Por que quem compreendeu o intento do Senhor? Ou 
quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e 
por ele, e para ele, são todas as coisas; glória pois a ele eternamente. Amém” (Rm 11.33-36). 
Não menos teocêntrica é a fórmula batismal de nosso Senhor. Todo batismo deve ser feito em nome 
do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Nenhum homem, nenhuma igreja, nenhuma instituição está envolvida 
na salvação. Tudo se origina e culmina no Deus trino e uno. 
A ênfase teocêntrica pode soar estranha para o ouvido sintonizado no pragmatismo e nos relatos bem-
sucedidos de campos de missão. Uma segunda reflexão sobre nossas premissas missionárias é, portanto, 
imperativa. Não o bem-estar e a glória do homem, não o crescimento e a ampliação da igreja, mas a glória de 
Deus torna-se o principal objetivo de missões, pois o ser e o caráter de Deus são a base mais profunda de 
missões, “pois dele, e através dele, e para ele, são todas as coisas: que sua glória seja eterna”. 
À luz do que foi mencionado acima, vamos investigar mais de perto o Deus de missões como está 
revelado nas Escrituras. Quem é o Deus da Bíblia, o Deus de missões? 
Enquanto que os aspectos definitivos do ser de Deus — personalidade, divindade, infinitude, unidade 
e trindade — têm sido muito discutidos em teologia especulativa e filosofia religiosa, a teologia missionária 
está mais interessada nos aspectos qualitativos do Deus da revelação — Deus como Espírito, Deus como luz 
e Deus como amor (os sinônimos do Antigo Testamento parecem ser “o Deus vivo, o Divino, o Senhor das 
multidões”). Não cabe aqui antecipar uma exposição detalhada dessas caracterizações significativas. Eu 
meramente aponto umas poucas implicações missionárias para estabelecer o fato de que a base fundamental 
de missões encontra-se no próprio ser de Deus. 
 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BEREANA 22 
 
 
DEUS PAI COMO MISSIONÁRIO 
A colocação de nosso Senhor, no poço de Jacó, em Samaria, de que Deus

Mais conteúdos dessa disciplina