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A participação social foi ampliada, com iniciativas para construir agendas de política de saúde e apoio a movimentos democráticos e sociais. Durante a pandemia de COVID-19, o MRSB e a Frente pela Vida atuaram conjuntamente na elaboração de planos de enfrentamento à pandemia e denunciaram omissões e negacionismo do governo federal. O MRSB posicionou-se contra reformas trabalhistas, medidas que enfraqueceram a atenção primária e contra ataques governamentais às políticas públicas, incluindo mobilizações no judiciário e defesa da democracia e saúde. Durante os governos Temer e início de Bolsonaro, houve aprofundamento de medidas de austeridade, ataques aos direitos sociais e políticas de saúde. O movimento criticou a insuficiência das respostas governamentais às manifestações sociais, o uso inadequado dos recursos públicos, e destacou a necessidade de financiamento adequado e estável. Intensificação da atuação do MRSB em diversas arenas para defender o SUS diante do agravamento da crise política. O Fórum da Reforma Sanitária Brasileira (FRSB) consolidou postura crítica e autonomia, articulando agenda estratégica entregues à Presidência para orientar políticas de saúde. O governo Lula promoveu expansão da Atenção Básica e outras políticas, mas manteve ajuste macroeconômico que limitou avanços da RSB. A atenção básica foi mantida como componente do SUS, com ações políticas e produções documentais que criticavam o subfinanciamento e a ausência de descentralização efetiva. O SUS foi implementado por grupos políticos contrários à Reforma Sanitária, mas o MRSB impediu o enfraquecimento do sistema universal por projetos de focalização. O artigo sistematiza em cinco períodos chave a atuação do MRSB: (1) implantação do SUS sob hegemonia neoliberal (1989-2002); (2) governos Lula I e II e ajuste macroeconômico (2003-2010); (3) governo Dilma e crise política (2011-2016); (4) contrarreforma e desmonte sob Temer e Bolsonaro (2016-2019); (5) pandemia da COVID-19 e reconstrução (2020-2023). O MRSB atuou continuamente denunciando problemas, incluindo subfinanciamento, necessidade de gestão compartilhada, ampliação da infraestrutura, fortalecimento da atenção básica e controle social. O SUS foi implantado em contexto marcado por desigualdades sociais extremas e políticas econômicas restritivas, enfrentando desafios ao seu financiamento e expansão. A estratégia buscou alterar a correlação de forças, ampliando a participação política subnacional e da sociedade civil para garantir sustentabilidade e inovação. Os princípios de universalidade, igualdade e integralidade são complementados pela organização baseada na participação social e descentralização institucional, com instâncias de negociação e controle social em níveis federativos. O MRSB foi um dos principais atores na mobilização social, defendendo um conceito ampliado de saúde que inclui condições de vida saudáveis e acesso universal, equitativo e integral à atenção à saúde. Diferentemente de reformas originadas em burocracias, o SUS foi construído por forças sociais que lutaram pela democracia, resultando no reconhecimento do direito à saúde na Constituição Federal de 1988 e na implementação por leis específicas. Essa perspectiva considera mecanismos endógenos e exógenos que promovem resistência e transformação dos sistemas. O neoinstitucionalismo propõe analisar trajetórias institucionais e conjunturas críticas, entendendo que a estabilidade depende da correlação de forças e que crises podem abrir espaço para mudanças e aumento da autonomia dos atores. O debate sugere superar a visão de sistemas fechados, incorporando a noção de sistemas abertos e adaptativos, com múltiplas interações e escalas. A ausência de estudos que unem resiliência e movimentos sociais em saúde é explicada pela tradição do conceito incialmente focado na estabilidade e equilíbrio de sistemas, o que conflita com visões sociais que enfatizam mudança e adaptação dinâmica. A resiliência é vista como um campo sistêmico e plástico que inclui aspectos políticos, sociais, históricos e culturais, exigindo diálogo entre ciências sociais, saúde, tecnologia e movimentos sociais. O conceito evolui para compreender ações que absorvem, adaptam e transformam os sistemas, ressaltando o papel dos agentes internos e externos e a complexidade da gestão da crise. Propostas de modelos adaptados ao contexto brasileiro incluem a integração das dimensões: governança, regulação, financiamento, recursos humanos e físicos, medicamentos, prestação de serviços e comunicação/participação social. O SUS enfrenta desafios crônicos, como subfinanciamento e descontinuidade na gestão colaborativa, que fragilizam sua funcionalidade e capacidade de resposta em crises. A crítica da possível transferência indevida de responsabilidade para atores com menor capacidade e a influência de dinâmicas históricas e culturais são enfatizadas. Estudos recentes indicam a necessidade de considerar o contexto dos sistemas de saúde, relações de poder, participação social e interdependências entre subsistemas, especialmente em países de renda média e sistemas fragmentados como o Brasil. A partir de 2014, agências internacionais iniciaram muitas propostas para definição e aferição de dimensões da resiliência, buscando comparações globais e recomendações específicas. Resiliência demonstrou significados variados, desde resistência a choques até sustentabilidade e evolução de sistemas, motivada por desafios do século XXI, como epidemias, desastres e a pandemia de COVID-19. O estudo reforça a necessidade de incorporar análises políticas na discussão sobre resiliência em saúde para melhor compreender e fortalecer os sistemas públicos. Embora o MRSB tenha grande influência, ainda há limitações em sua atuação, sobretudo na questão do papel do setor privado e na ausência de consenso político capaz de influenciar decisivamente a política de saúde. O papel do MRSB evidencia a importância da dimensão política para a resiliência dos sistemas de saúde, especialmente em contextos complexos e desafiadores como o brasileiro. O MRSB manteve-se ativo desde a concepção do SUS até a recente crise sanitária, posicionando-se como componente fundamental para a consolidação e resistência do sistema, mobilizando setores da sociedade civil em defesa dos direitos e contra a mercantilização da saúde. Período 2020-2023 Período 2016-2019 Período 2011-2016 Período 2003-2010 Período 1989-2002 Conjunturas críticas de atuação histórica Conjuntura crítica e ameaças ao SUS Princípios e organização do SUS O SUS como resultado da mobilização social Perspectivas teóricas para a análise política da resiliência Lacuna na incorporação da dimensão política na resiliência Abordagem ampliada e interdisciplinar Resiliência e desafios do SUS Inclusão de contextos e atores na análise da resiliência Polissemia e plasticidade do conceito Destaca-se que os resultados se referem exclusivamente à atuação do MRSB, limitando a generalização e não incluindo outros atores do cenário político da saúde. O principal foco são as entidades representativas do MRSB, como o Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e a rede Frente pela Vida (FpV). O estudo utiliza uma abordagem qualitativa fundamentada em revisão de literatura referente ao MRSB, identificando manifestações públicas em defesa do SUS durante conjunturas críticas. Os resultados são apresentados em três subseções principais: evolução, aplicações e limites do conceito de resiliência; relação entre o MRSB e a resiliência do SUS; ação política do MRSB no fortalecimento da resiliência do SUS. O artigo está dividido em quatro seções: introdução, nota metodológica, resultados da revisão da literatura, e conclusões. O presente artigo propõe aproximar esses estudos, demonstrando a importância da ação política do MRSB para fortalecer a resiliência do SUS desde sua criação, resistindo a desmontes e promovendo aprendizagem e inovação. Existe um evidenteafastamento entre produções científicas que tratam do conceito de resiliência em saúde e aquelas que analisam o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira (MRSB), sendo este último fundamental para compreender a dimensão política da resiliência no SUS. Críticas ressaltam a necessidade de incorporar análise política, especialmente considerando a determinação social em saúde, participação política da sociedade civil e evitando limitar a resiliência a um aspecto técnico. A resiliência é vista por alguns estudiosos como uma estratégia permanente para lidar com crises, incorporando dimensões preventiva, absorptiva e adaptativa, e requer índices que traduzam o potencial resiliente dos sistemas considerando aspectos estruturais e funcionais. Pesquisas recentes buscam identificar e quantificar as dimensões da resiliência no sistema de saúde, incluindo comparações internacionais e aplicação ao SUS, destacando a complexidade institucional e o contexto de subfinanciamento e deficiência em gestão. O conceito de resiliência, originado de múltiplas áreas do conhecimento, inicialmente foi aplicado ao sistema de saúde como a capacidade de preparar, administrar choques e aprender com eles. Nos últimos dez anos, houve um aumento significativo de estudos que utilizam o conceito de resiliência para analisar respostas dos sistemas de saúde diante de crises políticas, sociais, sanitárias, econômicas, humanitárias, desastres naturais e epidemias, focando nos impactos à saúde da população e funcionamento dos serviços. Limitações e desafios futuros Persistência e relevância do MRSB para a resiliência do SUS Ação política do MRSB no fortalecimento da resiliência do SUS A relação entre o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira (MRSB) e a resiliência do SUS Evolução, aplicações e limites do conceito de Resiliência Abordagem qualitativa baseada em revisão da literatura Organização do artigo Distanciamento entre estudos de resiliência e análise do MRSB Avanços e desafios na aplicação do conceito ao SUS Crescimento das pesquisas sobre resiliência em sistemas de saúde Conclusões Resultados e discussão Nota metodológica Introdução Dimensão política da Resiliência de Sistemas de Saúde: o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira e o Sistema Único de Saúde