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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – UFSCAR CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA – CCET DEPARTAMENTO DE FÍSICA Prof. Dr. Maycon Motta Célula fotoeletroquímica com fotoanodo de BiVO4 para geração de H2 e posterior geração de energia elétrica Autores Igor Almeida – 496030 Vanessa Karoline da Silva – 496154 São Carlos, 27 de novembro de 2015 2 RESUMO Com a proximidade das olimpíadas de 2016, a demanda por energia será um problema concreto a se resolver. Muito se pesquisa a respeito de novas fontes alternativas de energia, preferencialmente limpas, renováveis e viáveis economicamente. Buscamos, nesse trabalho, discutir qualitativamente e quantitativamente o funcionamento, a eficiência e a viabilidade de células fotoeletroquímicas a base de vanadato de bismuto (BiVO4) visando a produção de hidrogênio para combustível, notando que, apesar de ser uma alternativa promissora para a produção de hidrogênio, seu custo se encontra ainda muito acima do valor do H2 obtido via gás natural, mas que pode vir a se tornar economicamente viável (segundo os padrões do Departamento de Energia) com algumas melhoras, sobretudo no tempo de vida das células e na eficiência destas. Sendo notável a melhora de eficiência do BiVO4 quando dopado com W ou Mo, ou acoplado com WO3. 3 Lista de Figuras Figura 1: Espectro de absorção do TiO2 .......................................................................... 5 Figura 2: Impureza trivalente (B) na rede do Si gerando um buraco ............................... 7 Figura 3: Impureza pentavalente (P) na rede do Si, gerando excesso de elétrons ............ 8 Figura 4: Funcionamento de uma célula fotoeletroquímica, com fotoanodo constituído de um semicondutor do tipo-n e um contra-eletrodo metálico, com suas respectivas semi-reações. .................................................................................................................. 10 Figura 5: Espectro de absorção UV-Vis para BiVO4/FTO............................................. 11 Figura 6: Fotoatividade de evolução de O2, sobre luz visível (λ ≥ 420 nm), para Metal:BiVO4 e BiVO4 puro ............................................................................................ 12 Figura 7: Padrão de difração de raios-X para BiVO4, W:BiVO4 e Mo:BiVO4 .............. 13 Figura 8: Espectro de absorção e determinação da energia da band gap usando transformada de Kubelka-Munk para o espectro de reflexão. ........................................ 14 Figura 9: Filtros AM relacionados com seus respectivos ângulos de incidência sobre a superfície ........................................................................................................................ 15 Figura 10: Medidas de fotocorrente relacionada com o potencial aplicado para fotoanodos de BiVO4, W:BiVO4 e Mo:BiVO4. .............................................................. 16 Figura 11: Espectro de IPCE dos fotoanodos de BiVO4 puro e dopado com W e Mo, com potencial aplicado de 1,23 V. ................................................................................. 17 Figura 12: Curvas de densidade de estados totais para BiVO4 puro (a), W:BiVO4 (b) e Mo:BiVO4 (c). ................................................................................................................ 18 Figura 13: Espectro de absorção para WO3, BiVO4 e WO3/BiVO4 ............................... 19 Figura 14: Voltamogramas linear para (a) WO3, (b) BiVO4 e (c) WO3/BiVO4 em Na2SO4 0,5 mol L -1 pH 7 à 10 mV s -1 . ........................................................................... 20 Figura 15: Diagrama das bandas limites para WO3 e BiVO4 ......................................... 20 Figura 16: Eficiência de conversão fóton-corrente (IPCE) para os eletrodos de (a) WO3, (b) BiVO4 e (c) WO3/BiVO4 em Na2SO4 0,5 mol L -1 e 1,23 V vs NHE. ....................... 21 4 Sumário Resumo ............................................................................................................................. 2 Introdução ......................................................................................................................... 5 1. Semicondutores ..................................................................................................... 6 1.1. Dopantes ............................................................................................................ 6 1.2. Heterojunção ...................................................................................................... 8 2. Célula Fotoeletroquímica ...................................................................................... 9 Discussão ........................................................................................................................ 11 1. BiVO4 – Apresentação e Dopagem com W e Mo ............................................... 11 Medidas de fotocorrente .................................................................................................... 14 2. BiVO4 – Heterojunção [9] .................................................................................. 18 3. Custos estimados para a produção de hidrogênio através da foto-eletrólise da água ............................................................................................................................. 21 Conclusão ....................................................................................................................... 22 Bibliografia ..................................................................................................................... 23 5 INTRODUÇÃO Com o aumento da dependência global de combustíveis não-renováveis, fontes de energia geopoliticamente sensíveis, como gás natural e carvão, junto dos preços altamente voláteis do petróleo, nunca houve tanta urgência em assegurar a produção energética de forma limpa e renovável. Atualmente, 90% da energia mundial é produzida a base de combustíveis fósseis, dentre eles o hidrogênio (H2), que é obtido termoquimicamente por meio da reação entre hidrocarbonetos e o oxigênio, sendo um processo amplamente utilizado em refinarias de petróleo, não constituindo uma maneira ambientalmente limpa para sua obtenção. Então, uma forma alternativa de geração de hidrogênio é a partir da foto-eletrólise da água, utilizando uma célula fotoeletroquímica, que é capaz de transformar a energia solar em energia química. O hidrogênio gerado pela foto-eletrólise da água poderá reduzir o consumo dos combustíveis fósseis e também ser diretamente convertido em eletricidade utilizando células a combustível. O primeiro material utilizado para foto-eletrólise da água foi o Dióxido de Titânio (TiO2) tipo-n, acoplado a um contra-eletrodo de Platina (Pt), que devido a sua ampla band gap de 3,2 eV, só podia ser excitado por radiação ultra-violeta (UV) que representa apenas 4% do espectro solar que alcança a Terra, como mostrado na Figura 1 [1]. Figura 1: Espectro de absorção do TiO2 6 1. Semicondutores Um semicondutor é um material cuja condutividade apresenta valores intermediários entre um condutor e um isolante. Entretanto, uma descrição mais acurada de suas propriedades pode ser explicada por meio de uma análise das bandas de valência e de condução de diversas classes de materiais. No caso de um isolante, a banda de valência de encontra totalmente preenchida com elétrons, entretanto a banda de condução fica vazia.Entre as duas bandas, existe um gap de energia, que em um isolante é maior ou igual a 4.5 eV. Um semicondutor no zero absoluto tem comportamento análogo, entretanto o gap de energia entre as duas bandas é inferior à 4.5 eV. Sendo assim, em temperatura ambiente os elétrons podem se excitar, ganhando energia suficiente para saltar para a banda de condução, se a energia fornecida à eles for suficientemente grande. Tal salto deixa um espaço vazio na banda de valência. Como os elétrons estão excitados, cada elétron também a saltar para níveis mais altos de energia. O espaço vazio deixado pelos elétrons então, se move na direção contrária dos elétrons. Podemos representar esse movimento dos elétrons de modo simplificado criando uma nova partícula, denominada “buraco”, que é um portador positivo de carga, sendo a presença destes buracos uma das características mais marcantes dos semicondutores. No caso de um condutor, a banda de valência também está totalmente preenchida, mas há elétrons na banda de condução, o que ocasiona a alta condutividade. 1.1. Dopantes Como qualquer outro material, é quase impossível encontrarmos um cristal semicondutor puro. Entretanto, se a quantidade de impurezas for de no máximo uma partícula pra cada um bilhão e o material for semicondutor, o chamamos de “semicondutor intrínseco”. Podemos descrever a condutividade em um semicondutor pela Equação 1: 𝜎 = 𝑒(𝑁𝜇𝑛 + 𝑃𝜇𝑝) Equação 1 Sendo e a carga das partículas (em módulo), N o número de portadores de carga negativos, P o número de portadores positivos (no caso de um semicondutor intrínseco, 7 o número é bem próximo), 𝜇𝑛 a mobilidade dos portadores negativos e 𝜇𝑝a mobilidade dos portadores positivos. Em geral, os semicondutores intrínsecos não são bons condutores de eletricidade. Podemos aumentar a condutividade e, consequentemente, a corrente conduzida, se pudermos aumentar o número ou de elétrons, ou de buracos. Isso pode ser conseguido acrescentando à estrutura um material diferente, denominado dopante, em uma concentração superior à uma parte por bilhão. Os dopantes em geral são átomos trivalentes (que possuem três elétrons de valência) ou pentavalentes (que possuem cinco elétrons na camada de valência). Os átomos trivalentes, quando inseridos na estrutura, arrancam um átomo de valência dos semicondutores, criando um buraco (Figura 2). Esse processo de dopagem, então, acaba aumentando o número de portadores positivos, sendo ele então denominado após a dopagem de cristal semicondutor tipo P. Esse tipo de cristal tende a atrair elétrons para si, para que os átomos com sete elétrons na camada de valência entrem em equilíbrio, e por isso, átomos trivalentes são também chamados de “impurezas aceitadoras”. Figura 2: Impureza trivalente (B) na rede do Si gerando um buraco Já os átomos pentavalentes, quando inseridos na estrutura, acabam se ligando de modo covalente aos átomos do cristal. Essa ligação acaba gerando um elétron livre, que pode transitar pela estrutura, conduzindo carga negativa (Figura 3). Esse processo então aumenta o número de portadores de carga negativos (semicondutor do tipo N). As 8 impurezas pentavalentes, por motivo análogo às trivalentes, são chamadas de “impurezas doadoras”, pois um semicondutor do tipo N tem facilidade para doar cargas negativas. Figura 3: Impureza pentavalente (P) na rede do Si, gerando excesso de elétrons 1.2. Heterojunção Uma heterojunção é, em resumo, uma junção de dois materiais diferentes, sendo eles condutores, isolantes ou semicondutores, com diversas utilidades em dispositivos ótico-eletrônicos, como lasers e fotodiodos, e em novas tecnológicas eletrônicas. As características das junções dependem dos tipos de materiais utilizados. No caso de interesse, teremos uma heterojunção semicondutor-semicondutor. Podemos designar uma heterojunção desse tipo em isotipo se o ambos os semicondutores forem do mesmo tipo (N ou P). Caso contrário, ele é chamado de anisotipo. Ao crescermos um semicondutor de um dado material sobre outro semicondutor (por exemplo, com um processo epitaxial), formamos uma heterojunção. Cada semicondutor tem larguras de banda e afinidades eletrônicas bem características, o que gera uma descontinuidade nas bandas de condução e de valência. A forma de tais descontinuidades nos leva a classificar os semicondutores em tipos de I a III. No caso de dopagens isotipo, os diagramas se adaptam no sentido de alinhar, no equilíbrio, os níveis de Fermi. Pode se demonstrar que a relação entre a tensão interna de uma junção desse tipo é dada pela Equação 2: 9 𝑉𝑏𝑖 = (𝑞 𝑁𝐷 𝑥𝑛 2) 2𝜀𝑛 + (𝑞 𝑁𝐴 𝑥𝑝 2) 2𝜀𝑝 Equação 2 Sendo x a largura da região de depleção (no lado N ou P), N o número de doadores ou aceitadoras (D ou A) ε é a constante dielétrica na região (N ou P). Podemos também descrever a corrente pela heterojunção, por meio da Equação 3: 𝐼 = 𝐼𝑜(𝑒 (𝑞𝑉𝐴)/𝑘𝑇 − 1) Equação 3 Sendo Io uma função da heterojunção e VA a tensão de polarização direta aplicada no material. 2. Célula Fotoeletroquímica O princípio de funcionamento de uma célula fotoeletroquímica baseia-se na fotoatividade de materiais semicondutores sensíveis à luz (fotoanodos). O processo fotoquímico se dá pela geração de par elétron/buraco (e - /h + ), que ocorre quando um semicondutor fotoativo absorve fótons com energia equivalente ou superior ao seu band gap. Considerando um semicondutor do tipo-n, elétrons são promovidos para a banda de condução (BC) criando buracos na banda de valência (BV), ocorrendo separação do par e - /h + (Figura 4). Dessa forma, os elétrons são responsáveis pela redução da água no cátodo metálico, enquanto os buracos, na superfície do semicondutor, oxidam a água. 10 Figura 4: Funcionamento de uma célula fotoeletroquímica, com fotoanodo constituído de um semicondutor do tipo-n e um contra-eletrodo metálico, com suas respectivas semi- reações. Temos então, que os elétrons fotogerados para a BC migram até o contra- eletrodo mais eletropositivo (geralmente metálico), onde ocorre a semi-reação de redução do hidrogênio (Semi-reação 1). Já os buracos gerados na BV, migram para a superfície do semicondutor, oxidando a água (Semi-reação 2), formando oxigênio molecular. A reação global da célula é dada pela Reação 3, cujo potencial de reversão da água é (1,23 V vs NHE 1 ). 1. Cátodo: 2H+(aq) + 2e - → H2(g) E 0 =0,00 V 2. Ânodo: ½O2(g) + 2H + (aq) + 2e - → H2O(l) E 0 =1,23 V 3. Global: H2O(l) → H2(g) + ½O2(g) E 0 =-1,23 V Um dos fotoeletrodos mais promissores, é o óxido metálico vanadato de bismuto (BiVO4), que possui band gap de 2,4 eV e absorve UV e luz visível até 520 nm, sendo estável em solução aquosa com pH entre 1 e 11 [2] com capacidade de produzir uma fotocorrente de 7,5 mAcm -2 em (1,23 vs NHE) sobre a incidência de 1 sol (100 mWcm -2 ), com máxima eficiência de conversão sol-hidrogênio (STH) de aproximadamente 9,2% [3]. Como característica, a BV do BiVO4 é significativamente 1 NHE: Eletrodo normal de hidrogênio, geralmente usado como eletrodo de referência, pois padronizou-se seu potencial de oxidação igual a 0 V. 11 mais positiva do que o potencial de oxidação da água, assim, a evolução de oxigênio é prontamente observada, já a BC localiza-se muito próxima do potencial de redução H2/H + , sendo necessária a aplicação de um sobrepotencial para que ocorra a evoluçãode hidrogênio [4]. Temos ainda, que devido à estrutura monoclínica, os portadores de carga possuem baixa massa efetiva, já que ocorre uma mistura das orbitais 6s do Bi com o orbital 2p da BV do O e 3d da BC do V. Porém, estudos experimentais mostram que, no geral, a performance do BiVO4 é limitada pela propriedade de baixo transporte de carga, causando acumulo e recombinação de carga, para uma incidência de luz de 1 sol (100 mWcm -2 ) [5]. Com o intuito de melhorar a condutividade eletrônica do material, dopagem com elementos hexavalentes, como Tungstênio (W) e Molibdênio (Mo), tem sido utilizada, já que há um aumento de elétrons livres na estrutura. DISCUSSÃO 1. BiVO4 – Apresentação e Dopagem com W e Mo As propriedades semicondutoras do BiVO4 estão diretamente relacionadas com sua estrutura cristalina. Num estudo publicado em 1999 [6], concluiu-se que a fase monoclínica apresenta alta fotoatividade com incidência de luz visível quando comparada com a fase tetragonal do mesmo composto. Para uma estrutura monoclínica, na Figura 5, temos seu espectro de absorção que abrange uma pequena região do UV e de luz visível, sendo seu limite de absorção em aproximadamente 516 nm [7]. Já a absorção que se estende até 700 nm se deve a defeitos iônicos no band gap devido a vacâncias de oxigênio. Figura 5: Espectro de absorção UV-Vis para BiVO4/FTO 12 No entanto, apesar de absorver uma parte considerável do espectro de luz visível, BiVO4 apresenta uma baixa foto-oxidação da água devido à ineficiência de separação dos portadores de carga e - /h + fotoexcitados. Sobre esse aspecto, observou-se que a dopagem com impurezas e heterojunção aperfeiçoam o processo de foto-oxidação [8]. Num estudo publicado em 2012 [8], dopou-se BiVO4 com 12 diferentes tipos de impurezas (dopagem de 5%), sendo elas, Mo, W, Ti, Cr, Fe, Zn, Nb, Ru, Pt, Sn, Ce e Ta, abrangendo os elementos mais catiônicos. A Figura 6 apresenta a evolução de gás oxigênio (O2), através da atividade de foto-oxidação da água, com iluminação de luz visível (λ ≥ 420 nm). Pelo gráfico, temos que as fotoatividades do W:BiVO4 e do Mo:BiVO4 são drasticamente maiores em relação ao BiVO4 puro, enquanto as demais impurezas apresentaram melhoras desprezíveis ou efeitos negativos. Figura 6: Fotoatividade de evolução de O2, sobre luz visível (λ ≥ 420 nm), para Metal:BiVO4 e BiVO4 puro A Figura 7 apresenta os padrões de difração de raio-X (DRX) para BiVO4, W:BiVO4 e Mo:BiVO4, sendo que todos apresentam a fase monoclínica. Os quatro picos em destaque (Figura 7), apresentam mudança de magnitude e ângulos de espalhamento para W:BiVO4 e Mo:BiVO4, em relação ao padrão de DRX do BiVO4 puro. Isso ocorre devido a um encolhimento ou um alargamento do espaço d referente aos planos do cristal, já que há incorporação de cátions dopantes de diferentes tamanhos 13 no lugar do Vanádio (V), sendo que V 5+ ≈ 0,054 nm, Mo6+ ≈ 0,059 nm e W6+ ≈ 0,062 nm. Temos então, que devido à presença de uma única fase (monoclínica) e a modificação do espaço d, conclui-se que as impurezas W e Mo foram eficientemente incorporadas à rede do BiVO4. Figura 7: Padrão de difração de raios-X para BiVO4, W:BiVO4 e Mo:BiVO4 Ressalta-se ainda, que a adição de 5% de Mo ou W à estrutura do BiVO4 não causam mudanças significativas no espectro de absorção e mantém o valor do band gap (Figura 8) com BiVO4 Eg = 2,46 eV, W:BiVO4 Eg = 2,47 eV e Mo:BiVO4 Eg = 2,46 eV. 14 Figura 8: Espectro de absorção e determinação da energia da band gap usando transformada de Kubelka-Munk para o espectro de reflexão. Medidas de fotocorrente O comportamento fotoeletroquímico da oxidação da água, usando um fotoanodo, é estudado a partir da medição de fotocorrente para diferentes sobrepotenciais aplicados, usando um aparato experimental que consiste numa célula eletroquímica e lâmpada que simule a iluminação solar. A célula é composta por um fotoanodo (nesse caso BiVO4 ou M:BiVO4 2 ) e um contra-eletrodo (nesse caso Platina (Pt)), como representado na Figura 4, com eletrólito de Na2SO4 0,1 M. O fotoanodo é exposto a uma radiação luminosa de 1 sol (100 mW cm -2 ) proveniente de uma lâmpada de gás, onde utiliza-se filtros Air Mass (AM) que simulam diferentes tipos de radiação, como por exemplo o AM 1.0 considera o caminho percorrido pela atmosfera com uma incidência de 90° sobre a superfície, ou o AM 1.5 (usado nesse caso) que simula uma radiação que passa pela atmosfera e atinge a superfície em 41,8°, como representado na Figura 9. 2 M:BiVO4 refere-se ao BiVO4 dopado com W ou Mo. 15 Figura 9: Filtros AM relacionados com seus respectivos ângulos de incidência sobre a superfície Sobre as condições descritas acima, iluminação incidente de 1 sol, obteve-se medidas de fotocorrente para o BiVO4 puro e dopado com W e Mo, relacionando densidade de corrente (j) com o potencial aplicado, variando de 0,2 V até 1,4 V, como representando na Figura 10. Para a medição realizada no escuro, a corrente gerada é desprezível, formando uma linha de base no gráfico da Figura 10, sem contar que seu potencial de onset não é observado até 1,4 V, indicando que é necessário aplicar um grande sobrepotencial no BiVO4 para que a água oxide. Já a medição realizada com iluminação, observa-se que os três diferentes fotoanodos apresentam fotoatividade, com potencial de onset próximo a 0,6 V. As fotocorrentes medidas seguem a mesma ordem observada para o gráfico da Figura 6 de evolução de O2. Analisando as fotocorrentes para o potencial de reversão da água, (1,23 V vs NHE), Mo:BiVO4 apresenta a maior, com j ≈ 2,38 mA cm -2 , seguido pelo fotoanodo de W:BiVO4, com j ≈ 1,98 mA cm -2 , enquanto BiVO4 apresentou a menor, com j ≈ 0,42 mA cm -2 . Tem-se então, que a dopagem com W ou Mo, substituindo átomos de V na rede do BiVO4, melhoraram significativamente a atividade fotoeletroquímica em cinco vezes, já que as impurezas introduzem portadores de carga na rede. 16 Figura 10: Medidas de fotocorrente relacionada com o potencial aplicado para fotoanodos de BiVO4, W:BiVO4 e Mo:BiVO4. Com as mesmas condições experimentais acima, fez-se medições de eficiência de conversão do fóton incidente para corrente (IPCE), para um potencial fixo de 1,23 V, como mostrado na Figura 11, sendo que o espectro foi calculado a partir da Equação 4. 𝑰𝑷𝑪𝑬(%) = 𝟏𝟐𝟒𝟎 × 𝒋 𝝀 × 𝑷 × 𝟏𝟎𝟎 Equação 4 Onde j é a fotocorrente, λ é o comprimento de onda e P é a intensidade da luz incidente. Pela Figura 11, observa-se que as fotocorrentes começam entorno de 500-510 nm, crescendo lentamente em torno da banda limite de absorção, até ficar praticamente constante, atingindo o valor máximo de 40% com Mo:BiVO4. Observa-se que para λ < 440 nm, Mo:BiVO4 e W:BiVO4 apresentam uma região com comprimentos de onda similares. Já em 440 nm, os IPCE dos fotoanodos de BiVO4 dopado com W e Mo são cerca de 3-4 vezes maiores do que as medição para o BiVO4 puro. Nota-se, que os valores de IPCE para Mo:BiVO4 e W:BiVO4 permanecem constantes, a partir de 360 nm até 440 nm, quando começam a decair, enquanto o BiVO4 puro apresenta um decaimento a partir de 360 nm, indicando que as propriedades eletrônicas do vanadato de bismuto são significativamente modificadas com a adição de impurezas (W, Mo). 17 Figura 11: Espectro de IPCE dos fotoanodos de BiVO4 puro e dopado com W e Mo, com potencial aplicado de 1,23 V. Como apresentado anteriormente, BiVO4 dopado com Wou Mo apresentou melhor atividade fotocatalítica (Figura 6) e foto-oxidação da água mensurada por medidas de fotocorrente (Figura 10), em relação ao BiVO4 puro. Acredita-se que esses resultados estão relacionados com a otimização de transferência de carga e aumento da concentração de portadores. Então, usando métodos computacionais baseados em DFT, implementado em código WIEN2k , calculou-se as estruturas eletrônicas do BiVO4 puro e dopado com W e Mo, para um sistema monoclínico focando nas características da densidade de estados (DOS). Representado na Figura 12, temos curvas de DOS para BiVO4 dopado com W e Mo e BiVO4 puro, na fase monoclínica. Para BiVO4 puro, os estados majoritários da BV estão relacionados com orbital 2p do O, e a presença dos estados antiligantes dos orbitais 6s/6p do Bi, no topo e fundo dos estado de O 2p, são benéficos para a formação de buracos, além de melhorar a mobilidade (h + ). Já as características da BC estão relacionadas, principalmente, com os estados 3d do V, pois os estados O 2p/Bi 6p apresentam menor contribuição. Nos casos do BiVO4 dopado (W ou Mo), observa-se que cargas da BC deslocam-se um pouco abaixo do nível de Fermi (EF), além do fato do EF se distanciar do topo da BV e se aproximar do fundo da BC, para ambos os casos, já que W e Mo adicionam portadores de carga à estrutura do BiVO4, como EF localiza-se de forma a mostrar o último estado preenchido e equilibrar as cargas, ele acaba se deslocando. Então, com o aumento dos portadores de carga, a transferência de carga na estrutura do material pode ser acelerada, contribuindo para uma melhor resposta fotoativa para W:BiVO4 e Mo:BIVO4. 18 Figura 12: Curvas de densidade de estados totais para BiVO4 puro (a), W:BiVO4 (b) e Mo:BiVO4 (c). 2. BiVO4 – Heterojunção [9] Além do BiVO4, outro material que tem se destacado bastante é o Trióxido de Tungstênio (WO3), que apresenta band gap de 2,7 eV, é estável numa larga escala de pH e absorve luz visível. Ao acoplar WO3/BiVO4, formando uma heterojunção, espera- se que haja uma melhora na performance fotocatalítica do sistema, como será discutido nesse tópico. O espectro de absorção para WO3, BiVO4 e WO3/BiVO4, é representado na Figura 13. Observa-se que WO3 apresenta baixa absorção para abaixo de 450 nm, enquanto BiVO4 e WO3/BiVO4 possuem absorção de onset em torno de 500 nm, apresentando absorção na faixa de luz visível. 19 Figura 13: Espectro de absorção para WO3, BiVO4 e WO3/BiVO4 Com o intuito de avaliar a fotoatividade dos três eletrodos numa célula fotoeletroquímica, obteve-se medidas de fotocorrente (j) no escuro e com incidência de luz de 1 sol (100 mW cm -2 ) usando um filtro AM 1.5, para os fotoanodos de WO3, BiVO4 e WO3/BiVO4, como representado na Figura 14. Pelo gráfico, observa-se que WO3/BiVO4 apresenta maior fotocorrente, seguido por BiVO4 e WO3, cujas fotocorrentes, para o potencial de reversão da água 1,23 V vs NHE, são dadas respectivamente por j = 1,0 mA cm -2 , j = 0,35 mA cm -2 e j = 0,25 mA cm -2 . Uma melhora significativa na fotocorrente é observada quando os semicondutores BiVO4 e WO3 estão acoplados, isso deve-se ao fato de que a heterojunção contribui para uma melhor eficiência na separação de cargas, já que as BV e BC do BiVO4 são mais negativas que as do WO3 (Figura 15), facilitando a separação de carga devido ao poço de potencial criado, assim há uma diminuição na recombinação do par e - /h + no BiVO4. Da mesma forma, os buracos fotogerados no WO3 são transferidos para a BV do BiVO4, melhorando as propriedades de separação de carga no sistema acoplado WO3/BiVO4. 20 Figura 14: Voltamogramas linear para (a) WO3, (b) BiVO4 e (c) WO3/BiVO4 em Na2SO4 0,5 mol L -1 pH 7 à 10 mV s -1 . Figura 15: Diagrama das bandas limites para WO3 e BiVO4 De forma a estudar a eficiência de conversão fóton-corrente, obteve-se medidas de IPCE, como mostra na Figura 16. Foram obtidas medidas de fotocorrentes para diferentes comprimentos de onda, mantendo o potencial aplicado em (1,23 V vs NHE). Apesar do BiVO4 apresentar melhor absorção de luz visível (em relação aWO3) , tem-se pela Figura 16 que a IPCE é menor comparada com WO3, devido à sua baixa mobilidade de portadores de carga [10]. Já o eletrodo WO3/BiVO4 apresenta as principais características positivas observadas quando os eletrodos estão separados, 21 como a alta eficiência de conversão e mobilidade de carga característica do WO3, e a propriedade de alta absorção de luz visível do BiVO4. Figura 16: Eficiência de conversão fóton-corrente (IPCE) para os eletrodos de (a) WO3, (b) BiVO4 e (c) WO3/BiVO4 em Na2SO4 0,5 mol L -1 e 1,23 V vs NHE. 3. Custos estimados para a produção de hidrogênio através da foto-eletrólise da água O Departamento de Energia (DOE) [11] estabeleceu metas para que um sistema de célula fotoeletroquímica para a obtenção de hidrogênio (H2) seja comercializável. Dentre as metas, temos que a célula deve operar de maneira estável por 1000h, com uma eficiência de produção de H2 variando entre 10% e 25% e produzir H2 com o custo em torno de $2/kg a $4/kg. Para 2015 estabeleceu-se uma meta temporária de $17,30/kg e, para 2020, $5,30/kg. Atualmente, o custo do hidrogênio obtido por células fotoeletroquímicas é estimado entre $50/kg e $100/kg. Acredita-se que aumentando o tempo de vida das células, que atualmente é de 2 meses, para 2 anos e melhorando sua eficiência de 10% a 20% na produção de H2, o custo ficaria abaixo de $17/kg. Temos ainda, que o BiVO4, material estudado nesse trabalho, apresenta uma eficiência de 9,2 %, estando próximo de ser comercializável. Comparativamente, o preço do H2 obtido do gás natural, ou seja, de forma não sustentável, é cerca de $2,10 /kg [12]. 22 CONCLUSÃO Medidas de evolução de O2 demonstraram que BiVO4 dopado com Mo ou W, apresenta atividade fotocatalítica com incidência luminosa de 1 sol, exibindo altas fotocorrentes, com Mo:BiVO4 apresentando a maior, com j ≈ 2,38 mA cm -2 , seguido pelo fotoanodo de W:BiVO4, com j ≈ 1,98 mA cm -2 , enquanto BiVO4 apresentou a menor, com j ≈ 0,42 mA cm-2. Observou-se ainda, alta eficiência de conversão fóton- corrente para Mo:BiVO4 e W:BiVO4 quando comparados com o material puro. Cálculos da estrutura eletrônica, apresentando as densidades de estados, estavam de acordo com os resultados de fotoatividade mensurados, ou seja, substituição do V por Mo ou W na rede do BiVO4 aumenta o número de portadores de carga na BC, implicando numa melhor foto-resposta do sistema. É notável ainda, que as medidas do Mo:BiVO4, tanta para fotocorrente como para IPCE, foram maiores do que W:BiVO4, já que Mo adiciona mais DOS à BC do que W, indicando que Mo funciona como um melhor doador de elétron do que o W. Já o acoplamento WO3/BiVO4 apresentou uma fotocorrente maior que os eletrodos separados, com j = 1,0 mA cm -2 , seguido por BiVO4 j = 0,35 mA cm -2 e WO3 j = 0,25 mA cm -2 . Medidas de IPCE apresentam o mesmo resultado, onde WO3/BiVO4 apresenta boa absorção da faixa do visível, característica do BiVO4, e alto IPCE, característica do WO3. Logo, a heterojunção melhorou a separação de cargas do sistema ao criar um poço de potencial entre WO3 e BiVO4. Embora os fotoanodos estejam sendo aprimorados a cada ano, com dopagem e heterojunção, por exemplo, o custo para produzir hidrogênio via células fotoeletroquímicas ainda é muito elevado, entre $50/kg e $100/kg, 25 vezes mais do que a meta do Departamento de Energia e o preço do H2 gerado degás natural ($2,10/kg). No entanto, acredita-se que ao aumentar o tempo de vida útil e a eficiência das células solares, o preço pode chegar a $17/kg num futuro próximo. 23 BIBLIOGRAFIA 1. FUJISHIMA, A.; HONDA, K. Nature, p. 238. 2. TOKUNAGA, S; KATO, H; KUDO, A. A Selective Preparation of Monoclinic and Tetrafonal BiVO4 with Scheelite Structure and Photocatalytic Properties. Chem. MAter, 2001. 4625-4628. 3. JEONG, H; JEON, T. Strategic Modification of BiVO4 for Improving Photoelectrochemical Water Oxidation Performance. The Journal of Physical Chemistry, 16 abr. 2013. 4. ABDI, F; SAVENIJE, T. The Origin of Slow Carrier Transport in BiVO4 Thin Film Photoanodes: A Time-Resolved Microwave Conductivity Study. The Journal of Physical Chemistry, 31 jul. 2013. 5. ABDI, F; VAN DE KROL, R. Nature and Light Dependence of Bulk Recombination in Co-Pi-Catalyzed BiVO4 Photoanodes. J. Phys. Chem., 2012. 9398-9404. 6. KUDO, A; OMORI, K. 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