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RESUMO AP2 – LITERATURA NA FORMAÇÃO DO LEITOR RESUMO DA AULA 12: LITERATURA FANTÁSTICA – O ESTRANHO E O MARAVILHOSO I. O Texto Infanto-Juvenil e a Fantasia A especificidade desse texto é trabalhar com a perspectiva de um leitor especial (criança e jovem), cujo hábito e gosto de leitura estão em construção. Nesses textos, a presença da fantasia é mais marcante. A exemplaridade, destacada na Aula 11, permanece na estrutura latente do texto infanto-juvenil contemporâneo. II. Revisão Essencial: Verossimilhança Para entender o fantástico, é crucial retomar o conceito de Verossimilhança: 1. Lógica do Mundo Real: Tudo no mundo real é regido por uma lógica aceita e pelas leis da Natureza. Diante de um fato estranho, nossa primeira reação é buscar uma explicação natural e lógica para justificá-lo. 2. Lógica Literária: A literatura não tem o compromisso de refletir logicamente a vida, sendo a "face cruel da verdade" coberta pelo "manto diáfano da fantasia". 3. Verossimilhança (Definição): É a capacidade que um texto tem de ser fiel à sua própria lógica. Aceitamos fatos como um lobo que fala em Chapeuzinho Vermelho porque, dentro do universo do texto, esse fato é verossímil; ele não causa estranheza, pois é regido por leis diferentes das que regem o mundo real. III. Literatura Fantástica: Definição e Ocorrências A literatura fantástica é definida como aquela em que o texto não se submete por inteiro às leis do senso comum e à lógica da Natureza. Neste tipo de texto, aquilo que seria considerado sobrenatural no mundo real é tratado como natural (animais que falam, fadas, bruxas). Esses elementos são incompatíveis com a nossa realidade, mas absolutamente coerentes com o mundo ficcional que habitam. A literatura fantástica se divide em duas possibilidades de ocorrência, conforme a sua proximidade ou afastamento da lógica do mundo real: o estranho e o maravilhoso. A. O Fantástico (Momento de Hesitação) Segundo Tzvetan Todorov, o fantástico dura apenas o tempo de uma hesitação (comum ao leitor e à personagem) sobre se o que percebem pertence à "realidade, tal qual existe na opinião comum". A saída do fantástico ocorre quando uma decisão é tomada. B. O Estranho • Definição: Ocorre quando acontecimentos aparentemente inexplicáveis ou sobrenaturais recebem uma explicação racional ou lógica. • Neste caso, a narrativa reduz o fantástico a fatos estranhos, pois as leis da realidade permanecem intactas. • Procedimentos Narrativos: O fantástico é reduzido a estranho por meio de elementos como o sonho, a alucinação, a ilusão, a loucura. • O estranho fomenta o medo, mas está ligado intrinsecamente à percepção enviesada da personagem/leitor, e não a um evento material que desafia a razão. C. O Maravilhoso • Definição: Ocorre quando os fatos não estão subordinados à lógica do mundo que nos cerca; é necessário admitir a intervenção de novas leis ou mundos até então inadmissíveis. • Os fatos, neste caso, são realmente extraordinários, e não apenas parecem. • Coexistência: Permite a convivência natural de seres do mundo real com seres do mundo sobrenatural, como duendes, bruxas, ou alienígenas. • Efeito: Ocorre o privilégio da fantasia, que permite ao ser humano vivenciar tudo aquilo que lhe é impossível na vida real. • O maravilhoso pode ser encontrado em contos de fadas e ficções científicas. IV. O Efeito no Leitor (Afetividade) A afetividade é um dos elementos que conformam a literariedade de um texto. O texto literário afeta o leitor inevitavelmente, ao mesmo tempo em que é afetado por ele, pois o leitor gera sentidos para o texto. Quando o elemento maravilhoso se destaca, a afetação se reveste de um caráter sensorial bastante intenso (medo, curiosidade, terror). O leitor acata a lógica interna do texto e se deixa levar por suas ocorrências insólitas. A fantasia é necessária, pois a experiência de vivenciar tudo aquilo que não pode ser vivenciado na realidade é uma das muitas possibilidades oferecidas ao leitor pelo texto literário. V. Autores Representativos Mencionados • Edgar Allan Poe: Autor norte-americano de contos fantásticos (século XIX), conhecido por trazer elementos sobrenaturais e irracionais, sendo sua temática mórbida destoante do romance romântico em voga na época. • Franz Kafka: Autor (século XIX), cuja obra A metamorfose (o protagonista acorda transformado em inseto) destaca-se pela estreita relação com o maravilhoso. RESUMO DA AULA 13: ELEMENTOS DA NARRATIVA – PARTE 1 I. Gêneros Literários: Gênese e Tipologia 1. Definição: A palavra gênero circunscreve uma modalidade de expressão literária, sendo as formas de expressão que geram um texto literário. 2. Origem Clássica: A teoria dos gêneros se compôs na Grécia Antiga como um princípio ordenador e classificador. A Poética de Aristóteles é considerada a primeira reflexão profunda sobre a caracterização dos gêneros literários. 3. A Tripartição Clássica: A bipartição aristotélica (poesia dramática e poesia narrativa) foi substituída, no século XVI, pela tripartição que persiste: Lírica, Épica (Narrativa) e Dramática. II. O Gênero Épico e a Origem da Narrativa 1. Epopéia (Poesia Narrativa): O termo "poesia narrativa" refere-se às epopéias, textos clássicos escritos por autores como Homero e Luís de Camões (Os Lusíadas). 2. Função da Epopéia: Sua intenção era exaltar os feitos de heróis que representam seus povos, sua cultura e sua história. 3. Estrutura em Verso: As epopéias eram narrativas em verso (decassílabos e rimados) para que pudessem ser "decorados" e repetidos oralmente, visto que a escrita e a leitura eram privilégios de poucos. 4. Evolução: Com o tempo, esses poemas narrativos originaram o que se denomina, até hoje, como Narrativa. III. Diferenciação da Narrativa em Relação à Lírica O gênero narrativo se distingue do lírico, principalmente, pela forma como o autor se relaciona com o mundo criado. 1. Narrativa e Drama: Diferenciam-se da Lírica por representarem o mundo objetivo e a ação do homem em relação à realidade externa. 2. Objetivação e Alteridade: O romance (narrativa) tem como desígnio central a vontade de objetivar um mundo que possua nítida independência em relação ao romancista. Há um descolamento do autor do mundo que ele cria, estabelecendo uma "alteridade básica". Mesmo que o romancista seja confessional, ele tende a desligar do seu eu uma humanidade com vida própria. 3. Lírica: Ao contrário da narrativa, na lírica o envolvimento do poeta com o tema ou o mundo criado é muito forte. IV. Ficcionalidade e Verossimilhança na Narrativa A diferença de estatuto entre narrativa e lírica reside na "ficcionalização" da realidade, alicerçada nas ações humanas. 1. Compromisso com a Verossimilhança: O texto literário narrativo não tem compromisso com a realidade objetiva, mas sim com a verossimilhança. 2. Lógica Interna: A verossimilhança é a qualidade de ser verossímil, ou seja, de ser fiel à sua própria lógica interna e coerente. 3. Análise da Realidade: O romancista é um escritor para quem o mundo externo existe, solicitando sua atenção e análise. As personagens e situações romanescas nascem e se alimentam de suas observações e experiências, mas o mundo que ele cria é objetivado e tem uma existência que independe do romancista. V. Elementos Basilares da Construção Narrativa Para que o mundo narrado encontre sua objetivação, quatro elementos precisam estar presentes no gênero narrativo: personagens, ação (enredo), tempo e espaço. 1. Personagens • São aqueles que participam ativamente da trama da narrativa. • Podem ser nomeados (como seu Pilar, Policarpo, Raimundo) ou não (como "os meninos"). 2. Ação (Enredo) • É a trama ou história narrada. • Estrutura Comum (Formalistas Russos): A estrutura do enredogeralmente segue: situação de equilíbrio + desequilíbrio / conflito + clímax (auge da tensão) + situação de equilíbrio / desfecho (final). • A trama começa a ser urdida por meio de indícios que geram um momento de tensão e podem levar ao desequilíbrio. 3. Tempo Na narrativa literária, distinguem-se dois tipos de tempo: • Tempo Cronológico (Material): É o tempo concreto e mensurável, que é citado pelo autor (Ex: "O ano era de 1840", "uma segunda-feira, do mês de maio"). • Tempo Psicológico (Não Mensurável): Compreende as lembranças de infância, as reflexões e as percepções subjetivas dos personagens sobre as situações que enfrentam. • Flashback: É o recurso utilizado pelo autor para recuar no tempo, trazendo o passado para o momento presente. 4. Espaço • É o lugar ou cenário em que se passam as situações narradas. • Pode constituir o pano de fundo, ou, em alguns casos, assumir importância capital no enredo, contribuindo para a ambiência das narrativas e para a construção da verossimilhança. RESUMO ARTIGO 1: AULA 14 O Artigo 1 da Aula 14, intitulado "A CONTRIBUIÇÃO DA LITERATURA INFANTIL AFRO-BRASILEIRA NA PROMOÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA", é essencial para entender o papel da literatura na formação identitária e no combate ao racismo no ambiente escolar. I. Objetivo e Metodologia Objetivo Central: O trabalho visa analisar a contribuição da literatura infantil afro- brasileira na promoção de uma educação antirracista, buscando entender como o uso dessa literatura influencia positivamente na construção e valorização da identidade da criança. Contextualização: A Educação Infantil, como primeira etapa da Educação Básica, é um espaço onde a criança começa a lidar com a diversidade e a se reconhecer pertencente a um grupo. Nesse ambiente, os livros de literatura infantil afro-brasileira atuam como fonte de representação étnica, cultural e identitária. II. O Papel da Educação e o Marco Legal Compromisso da Educação Infantil: A escola é o espaço privilegiado para lançar as bases da formação do indivíduo, estimulando a percepção do real em suas múltiplas significações e a consciência do "eu" em relação ao outro. É crucial reconhecer que o racismo também está presente nas salas de Educação Infantil, sendo reproduzido inclusive pelas próprias crianças e profissionais. A Lei 10.639/03: • A Lei Federal 10.639/03 estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. • O conteúdo obrigatório inclui o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando sua contribuição social, econômica e política. • Problema de Implementação: Apesar da Lei ser obrigatória, muitas escolas ainda estão em falta com esse ensino, limitando-o a comemorações ou ações pontuais (como o Dia da Consciência Negra em 20 de novembro). Muitas instituições alegam que "não estão preparadas" ou que "não têm materiais", esperando iniciativas das Secretarias de Educação ou do MEC para efetivar a Lei. Racismo e Fracasso Escolar: O racismo na sociedade contribui fortemente para o fracasso escolar de alunos negros. Pesquisas apontam que a discriminação ocorre sutilmente nas escolas, mantida por colegas e, em alguns casos, por professores. III. A Importância da Literatura Afro-Brasileira A literatura infantil afro-brasileira é indispensável para promover a equidade, pois: 1. Rompe com o Eurocentrismo: O currículo educacional eurocêntrico valoriza a cultura do branqueamento, colocando o negro em perspectiva de subalternidade e inferioridade. A literatura afrocentrada rompe essa tradição. 2. Combate Estereótipos e Inferioridade: A ausência de representações positivas (em heróis, princesas, protagonistas) nos livros infantis levam a criança negra a ter a imagem introjetada de que é inferior ou inadequada, buscando o branqueamento. 3. Construção da Identidade: A literatura negra, escrita por autores negros, traz o ponto de vista, a subjetividade e a valorização da ancestralidade, línguas, costumes e cultura. 4. Conceito de Literatura Afro-Brasileira: Segundo Duarte, a existência da literatura afro- brasileira em sua plenitude pode ser constatada pela conjunção dinâmica de cinco fatores: temática, autoria, ponto de vista, linguagem e público. 5. Protagonismo: A literatura afro-brasileira busca o resgate da identidade étnico-racial e o enfrentamento ao preconceito, mostrando situações comuns do cotidiano e valorizando a oralidade africana. IV. Resultados da Pesquisa e Desafios Práticos Os relatos das profissionais entrevistadas reforçam o potencial da literatura, mas também apontam dificuldades: Ações e Impacto Positivo: • Estratégia Antirracista: A literatura é um excelente artifício para a construção de uma educação antirracista, fortalecendo o ambiente antirracista. • Valorização e Autoestima: A contação de histórias com representatividade negra permite que as crianças se reconheçam como negras e se sintam representadas, elevando a autoestima e a aceitação. • Obras Utilizadas: As educadoras citaram obras como Meu crespo é de rainha (bell hooks), O cabelo de Lelê (Valéria Belém), e O pequeno príncipe preto (Rodrigo França). • Práticas Pedagógicas: As ações devem envolver toda a comunidade escolar (crianças e pais), com atividades como oficina de penteados, oficina de boneca Abayomi, e contação de histórias de autores negros. Obstáculos para a Educação Antirracista: • Falta de Conhecimento Docente: O desconhecimento da temática por parte de alguns professores leva a práticas pedagógicas engessadas, tornando necessárias formações para a mudança de postura. • Descolonização Curricular: É necessário ultrapassar o desafio de descolonizar o currículo, que ainda está baseado em uma ótica eurocêntrica e colonial. O currículo precisa ser reformulado, não ficando "desatualizado e embasado apenas na permanência do discurso da igualdade, mas sim pautado na diversidade". • Carência de Recursos: A coordenadora apontou que o acervo de literatura infantil afro- brasileira ofertado na escola é insuficiente e pouco atrativo. • Responsabilidade de Implementação: As entrevistadas veem a Secretaria de Educação como responsável por levar orientações e garantir o currículo elaborado, embora a professora ressalte que todos da instituição devem se envolver. CONCLUSÃO O uso da literatura infantil afro-brasileira é imprescindível na formação identitária da criança negra e no contato de todas as crianças com a diversidade étnica e cultural. No entanto, a implementação efetiva da educação antirracista ainda enfrenta a falta de capacitação profissional e a carência de um currículo e PPP (Projeto Político-Pedagógico) escolares atualizadas e inclusivos. RESUMO DO ARTIGO 2 DA AULA 14: LITERATURA INFANTIL E REFLEXÕES ANTIRRACISTAS O Artigo 2 da Aula 14, intitulado "LITERATURA INFANTIL E REFLEXÕES ANTIRRACISTAS NO COTIDIANO DA PRIMEIRA INFÂNCIA", aborda a necessidade de práticas antirracistas na Educação Infantil por meio da utilização de artefatos culturais, com destaque para o livro de literatura. I. O Contexto e a Urgência das Práticas Antirracistas 1. Racismo Estrutural e Negação: O artigo reflete sobre práticas antirracistas, reconhecendo que o racismo é estrutural na sociedade brasileira e se manifesta em praticamente todas as esferas, incluindo a educação. Muitas vezes, segmentos sociais e professores insistem na negação do racismo, limitando a capacidade da criança de formar uma visão crítica sobre o problema. 2. Fundamentação Legal: O trabalho com as relações étnico-raciais (ERER) na Educação Infantil é respaldado pelas Leis 10.639/2003e 11.645/2008. Estas leis alteraram a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) para incluir no currículo a obrigatoriedade da História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena. 3. Função da Educação Infantil: A Educação Infantil, como primeira etapa da Educação Básica, deve cumprir sua função sociopolítica e pedagógica. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNEI), deve ser comprometida com o rompimento de relações de dominação (etária, socioeconômica, étnico-racial, etc.). II. Artefatos Culturais e o Combate ao Racismo 1. Definição de Artefatos Culturais: Artefatos culturais (como livros, vídeos, revistas, imagens, músicas e brinquedos) resultam de processos de construção social e produzem significados, traduzindo determinadas concepções e ideologias. 2. Organização do Ambiente: É fundamental que os ambientes de Educação Infantil prezem pela organização dos espaços, tempos e materiais para que contemplem a diversidade étnico-racial brasileira como um elemento curricular. Artefatos presentes nas creches e pré-escolas podem oferecer imagens distorcidas, preconceituosas e estereotipadas dos diferentes grupos raciais. 3. Inserção Positiva: É crucial inserir nas práticas da infância livros, tecidos, instrumentos musicais, brinquedos de matrizes africanas, afro-brasileiras e indígenas. Isso aproxima as crianças dessas culturas de modo positivo, rompendo com a permanência do racismo nos espaços da infância. III. O Papel da Literatura Antirracista 1. Literatura como Artefato: A literatura infantil é um suporte que fortalece a prática antirracista, por conseguir afetar aqueles que têm acesso ao livro. 2. Impacto da Literatura (Dupla Função): Ao ser discutida como artefato cultural, a literatura fortalece um ambiente antirracista, pois: • Contribui para que crianças negras se percebam representadas, elevando a autoestima e construindo uma identidade étnico-racial fortalecida. • Contribui para que crianças brancas reconheçam e valorizem a diferença, rompendo com as estruturas da branquitude normativa. 3. O Desafio do Eurocentrismo e o Mito da Democracia Racial: • A sociedade brasileira se fundamenta no mito da democracia racial, um componente ideológico que mantém o status quo. • Historicamente, o cânone literário na maioria dos acervos escolares é de cunho eurocêntrico, o que levou à invisibilização e à representação estereotipada dos personagens negros. 4. A Importância da Narrativa Contra-Hegemônica: • Não é qualquer literatura que as crianças precisam acessar, mas sim aquela que contemple a diversidade étnico-racial brasileira de forma positiva e que traga narrativas múltiplas e contra-hegemônicas. • A literatura antirracista deve ter como categorias importantes os conflitos infantis, as marcas identitárias e a valorização da herança e ancestralidade. • A literatura tem o forte papel de quebrar estereótipos, apresentando protagonistas negros e negras de modo valorizado. IV. Qualidade Estético-Literária e a Quebra de Estereótipos 1. Quantidade não Garante Qualidade: O avanço das políticas de ações afirmativas e a Lei 10.639/03 contribuíram para fomentar a produção de livros mais plurais e com representações positivas. No entanto, o aumento na quantidade de produção não garante qualidade. É possível encontrar livros que reforçam o mito da democracia racial e a discriminação. 2. Rejeição de Estereótipos: Não basta que a obra apresente personagens negros; é preciso que ela não traga representação de subserviência, ilustrações estereotipadas e palavras racistas. Os estereótipos, ao simplificar problemas, impedem a reflexão sobre o mundo real e visam manter o status quo. 3. Critérios de Qualidade: A qualidade estético-literária de um livro está, entre outros fatores, no reconhecimento e na afirmação dos grupos humanos em sua diversidade (cultural, social, étnica e racial). • O livro deve apresentar texto e imagem em consonância, construindo os personagens negros e indígenas de forma a representar a diversidade existente, inserindo-os em um contexto familiar, com identidade definida e como protagonistas de suas histórias. • Um livro antirracista deve ter "cuidado de acolher nas palavras e na forma de representar nas ilustrações as múltiplas formas de ser". CONCLUSÃO O letramento racial e a composição de um acervo com qualidade estético-literária que garanta a representação positiva da diversidade étnico-racial brasileira são funções da Educação Infantil. A literatura e os artefatos culturais, ao respeitar as crianças negras, contribuem para que as não negras se percebam como parte de um espaço diverso, onde a diferença é constitutiva. RESUMO DA AULA 15: ELEMENTOS DA POESIA – PARTE 1 A Aula 15 é dedicada ao estudo do Gênero Lírico, focando na conceituação e nos elementos estruturais que definem a poesia, em contraste com a narrativa, conteúdo que é crucial para uma avaliação. I. Conceituação de Poesia A poesia é um gênero literário com séculos de existência e grande importância estética. Os poetas oferecem conceituações complexas ou mais lúdicas: • Cassiano Ricardo: Poesia é "Uma ilha cercada de palavras por todos os lados". Esta é uma metáfora que sugere um lugar isolado, às vezes inacessível, se não for possível estabelecer associações entre as palavras. • Sylvia Orthof: Poesia é "uma pulga, [que] Coça, coça, me chateia", sugerindo a noção de inquietação. • José Paulo Paes: Poesia é "brincar com palavras". • Carlos Drummond de Andrade: Alerta que não se deve fazer poesia sobre acontecimentos ou sentimentos ("o que pensas e sentes, isso ainda não é poesia"). Ele enfatiza que as palavras possuem "mil faces secretas sob a face neutra" e o leitor precisa da "chave" (percepção) para seus diferentes significados. Definição Central: O ponto coincidente em todas as definições é o trabalho criativo com as palavras, que são a matéria-prima da poesia. Definição Formal: A poesia corresponde à expressão do eu, ao "eu do poeta". É uma modalidade literária que exprime estados, e não acontecimentos. II. O Eu Lírico (Eu Poético) O eu lírico é a figura central do gênero lírico, diferenciando-o da narrativa. • Definição: É a voz inventada pelo poeta para expressar o que ele sente, pensa ou imagina, adotando diferentes pontos de vista. • Movimento: Massaud Moisés define o eu do poeta como sujeito e objeto no processo de criação, voltando-se para si. • Expressão: O eu lírico permite ao poeta se deslocar no tempo e viajar indefinidamente, expressando sentimentos como a saudade. III. Comparação entre Poesia (Lírica) e Narrativa (Épica) O desígnio central da narrativa é a objetivação de um mundo com nítida independência em relação ao autor, o que a distingue da poesia. Característica Gênero Narrativo (Romance Vidas Secas) Gênero Poesia (Caboclo Roceiro) Foco Expressa acontecimentos ou a ação do homem. Exprime estados e sentimentos. Personagens Há diversos tipos de personagens (Fabiano, Sinhá Vitória) e narradores. Ênfase em uma única personagem: o eu lírico/eu poético. Relação com o Mundo O autor busca objetivar um mundo que ganha vida própria (alteridade). O que está em evidência é o sentimento do poeta diante do drama. IV. Elementos Singularizantes da Poesia A poesia se caracteriza por meio de recursos expressivos que lhe conferem ritmo e musicalidade. O veículo da poesia é a ambiguidade das palavras, a linguagem conotativa e a função poética. Os principais recursos estilísticos (figuras de linguagem) que devem ser identificados são: 1. Metáfora: Figura de linguagem que cria uma comparação implícita entre dois termos, utilizando um termo com o valor de outro. • Exemplo: "Poesia é uma ilha cercada de palavras". Ou, o eu poético se expressando como um "trenzinho".2. Anáfora: Figura de linguagem caracterizada pela repetição de uma ou mais palavras no princípio dos versos. A anáfora é utilizada para reiterar o sentido ou o movimento. • Exemplo: "E o trem se afastando / E o trem se afastando". 3. Aliteração: Consiste na repetição do mesmo som ou sílaba (fonemas) em duas palavras ou mais, dentro do mesmo verso ou estrofe. A recorrência sonora confere ritmo e musicalidade. • Exemplo: A repetição dos fonemas /tr/ e /f/ no poema de Mário Quintana, criando a sensação do movimento e barulho do trem. Musicalidade e Ritmo: A elaboração harmônica desses recursos estilísticos, junto com a escolha da forma nominal adequada (como o gerúndio para denotar continuidade da ação), confere ritmo e musicalidade ao poema, ampliando seu significado. RESUMO DA AULA 16: ELEMENTOS DA POESIA – PARTE 2 I. Objetivos e Elementos Singularizantes A aula visa identificar a rima e a métrica como elementos singularizantes da poesia, analisar diferentes tipos de poemas e educar a criança para a apreciação estética da poesia. O segredo da poesia reside na harmonização dos elementos que a compõem: ideias, recursos musicais e estilísticos, todos em perfeito equilíbrio. Os recursos desenvolvidos pelo poeta tornam a poesia mais significativa e uma possibilidade de experiência estética. II. Elementos de Composição Formal 1. Verso e Estrofe • Verso: É a sucessão de sílabas ou fonemas, formando uma unidade rítmica e melódica. • Estrofe: É o grupo de versos. A denominação das estrofes depende do número de versos, como: terceto (três versos), quarteto ou quadra (quatro versos), oitava (oito versos) e décima (dez versos). • Soneto: Estrutura de forma fixa, composta por 14 versos, geralmente organizados em dois quartetos e dois tercetos (como no Soneto de Fidelidade, de Vinicius de Moraes). No soneto, a ideia central costuma ser sintetizada nos dois últimos versos. 2. Ritmo e Rima • Ritmo: É a cadência percebida ao ler o poema em voz alta, criado pela alternância de sílabas acentuadas e não acentuadas. • Rima: Recurso musical que acentua os efeitos expressivos. • Rima Externa: Aparece no final do verso. • Rima Interna: Aparece no interior do verso. • Tipos de Rimas Externas: A combinação sonora pode ser interpolada (ABBA), alternada (ABAB) ou emparelhada (AABB). 3. Métrica (Escansão) • Métrica: Sugere a medida dos versos. A regularidade métrica contribui para a harmonia do poema. • Escansão: É a divisão dos versos em sílabas poéticas. • Contagem: A sílaba poética é contada pela emissão sonora (oralidade) e se conta apenas até a última sílaba tônica dos versos, não coincidindo necessariamente com a sílaba gramatical. • Denominações (por número de sílabas): • Redondilha menor ou pentassílabo (cinco sílabas). • Redondilha maior ou heptassílabo (sete sílabas). • Decassílabo (dez sílabas). • Alexandrino (doze sílabas). • Verso Livre: Versos que não obedecem a uma regularidade métrica. Seu uso se popularizou a partir do estilo de época conhecido como Modernismo (pós-Semana de Arte Moderna de 1922). III. Poesia na Escola: A Formação do "Ser Poético" O trabalho com poesia na escola deve focar na apreciação estética e não deve ser limitado a conteúdos pedagógicos. 1. O Ser Poético O objetivo didático-pedagógico é despertar no aluno o "ser poético", estimulando sua capacidade de recepção e expressão em relação à modalidade lírica. Isso implica em sensibilizar a criança, tocando seus sentidos e emoções, e aguçando sua imaginação e capacidade criativa. 2. Crítica ao Uso Utilitarista É fundamental que a poesia não se submeta a necessidades didáticas e utilitaristas, como a cobrança de conteúdos programáticos (estrutura, gramática normativa) ou interpretações superficiais. A escola pode prestar um "desserviço à poesia" quando textos bons são seguidos de "maus exercícios". 3. Fluididade Simbólica Os poemas devem ser concebidos como fontes de fluididez simbólica (no plano imagético e sensorial) e lúdica. A poesia, ao ser ouvida, lida, cantada e sentida, tem a possibilidade de despertar emoções e sugerir imagens fantásticas. 4. Tipos de Poemas e Abordagens Didáticas O trabalho em sala de aula deve incluir diferentes tipos de poemas para ampliar o repertório criativo: • Brincando com a Sonoridade: Leitura expressiva de poemas que utilizam recursos sonoros, como a aliteração (repetição de fonemas, ex.: /b/ e /r/ em Jogo de Bola, de Cecília Meireles) para criar musicalidade e fusão sonora de significados. • Brincando com os Movimentos: Utilização de composições poéticas musicadas para estimular o ritmo, o canto e a expressão corporal (ex.: O relógio, de Vinicius de Moraes), incentivando as crianças a se movimentarem conforme a cadência do poema. • Brincando com Imagens e Tecendo Sentidos: Exploração de poemas concretos (ex.: Velocidade, de Ronald Azeredo), em que a disposição gráfico-visual e a riqueza sonora geram desenhos, movimentos e sentidos que precisam ser captados pelo olhar. • Brincando com os Poemas de Sempre (Folclore): Uso de textos folclóricos como cantigas de roda e parlendas, que possuem uma dimensão lúdica e podem ser recontados em novas versões (ex.: Atirei o pau no gato). RESUMO DA AULA 17: ELEMENTOS DO DRAMA I. Gêneros Literários: Diferenciação entre Narrativa e Drama Para entender o gênero dramático, é útil retomar a Aula 13. 1. Semelhanças: Tanto o gênero narrativo quanto o dramático trabalham com textos que apresentam um mundo construído e objetivado pelo artista. Ambos enfocam situações vividas por personagens em espaço e tempo definidos. 2. Diferença Fundamental: A distinção mais contundente reside no propósito: • O gênero dramático é constituído com a finalidade concreta de representação por meio de uma encenação. Ele é escrito para ser encenado ou "exibido em teatro", o que não ocorre no gênero narrativo. Essa característica inerente é chamada de "totalidade do movimento". • A peça teatral, por ter a encenação como objetivo, precisa adequar-se às exigências dessa concretização no espaço teatral. II. Subgêneros do Gênero Dramático Assim como o gênero narrativo possui o conto e o romance, o dramático se concretiza em várias formas, destacando-se: Subgênero Características Chave Exemplos Citados Tragédia Peças com alta carga emocional. Conflitos e tensões chegam a limites existenciais (sacrifício, morte). A personagem luta por seus princípios e ideias. Existem tragédias da Antiguidade (Antígone) e tragédias modernas e nacionais (O santo inquérito). Antígone (Sófocles); O santo inquérito (Dias Gomes). Comédia O riso suplanta as situações de conflito. Ocorre o uso constante de artimanhas. Situações tensas terminam em desfechos mais distensos. Anfitrião (Plauto). Plauto e Terêncio foram grandes comediógrafos latinos. Drama As ações são tensas e conflitantes, levando à reflexão sobre questões sociais. Surgiu no século XIX por exigência da burguesia. As situações não chegam a situações-limite ou questões existenciais sem retorno. Quando as máquinas param (Plínio Marcos). III. Elementos Estruturais e Peculiaridades O fato de o gênero dramático ser escrito para ser encenado impõe características estruturais específicas: 1. Ausência de Narrador: O narrador é uma figura ausente no gênero dramático. A própria dinâmica criada pelo texto teatral, por meio das falas dos personagens e das situações, "funcionará" como "eixo narrativo". 2. Economia e Concentração: A estrutura é mais "econômica" em comparação ao romance (narrativo). • A profusão de figuras, incidentes e coisas que caracteriza o romance é eliminada no drama. • A atmosfera é rarefeita, com a eliminação de figuras supérfluas e episódioslaterais. • O gênero é marcado por densidade, tensão e concentração de fatos conflitantes, pois as situações são apresentadas em seus momentos de crise. 3. Tempo Curto e Atualidade da Ação: • O tempo dramático é curto, condensado, sendo o "tempo do conflito e da luta inevitável". • A ação dramática é sempre atual para o espectador (presente), ocorrendo na medida em que a peça está em cartaz/sendo encenada. • O recuo no tempo (flashback) não tem cabimento na estrutura do drama. 4. Personagens e Indicações Cênicas: • O gênero exige a presença física dos seres humanos para representar as personagens. • Indicações de cenário e atitudes (geralmente em itálico) conferem verossimilhança ao texto teatral. No gênero narrativo, essas marcações são feitas por meio de descrições elaboradas pelo narrador. IV. Dramaturgia Infantil A aula menciona a existência da dramaturgia infantil, com autores importantes como Maria Clara Machado (Pluft, o fantasminha) e Ziraldo, que trabalham muito bem com este gênero para crianças. RESUMO DA AULA 18: AULA-SÍNTESE I. Singularidade e Natureza do Texto Literário (Aulas 8, 9 e 10) As aulas 8, 9 e 10 aprofundaram as reflexões sobre as características que singularizam o texto literário: a ficcionalidade e a literariedade. 1. Elementos Singularizantes (Aula 8) A singularidade do discurso literário deve ser encontrada na sua organização estrutural. Os elementos que o singularizam são: • Forte carga conotativa. • A subjetividade, compreendida a partir do trabalho estético e artístico. • A verossimilhança, que é a criação de uma lógica específica, ou seja, uma verdade própria. 2. Ficcionalidade (Aula 9) • Definição: Ficção descreve obras criadas a partir da imaginação, que podem ser baseadas em fatos reais ou não, mas sempre contêm elementos da imaginação. • Ficcionalidade e Realidade: Ficcionalidade e realidade não se excluem, antes se complementam. O escritor, ao escrever, está relendo e recriando a realidade. O leitor muda sua maneira de enxergar a vida, fazendo uso da sua imaginação criadora (via de mão dupla). • Verossimilhança: Capacidade que um texto tem de ser fiel à sua própria lógica. A ficcionalidade (realidade plausível) coloca em jogo o que o leitor considera verossímil, mesmo lidando com a fantasia. 3. Literariedade (Aula 10) • Definição: É a essência do texto literário, a sua natureza. • Constituição: A essência se constitui pela subjetividade (vista esteticamente), pelo uso preferencial da linguagem conotativa e pela verossimilhança. • Plurissignificação: O texto literário propõe vários sentidos e pressupõe múltiplas leituras. • Criação Estética: O trabalho criativo utiliza recursos estilísticos como símbolos, metáforas, inversões, paralelismos, repetições (figuras de linguagem), além de sonoridades verbais, sistemas retóricos, léxicos e sintáticos. Não existe uma "receita de bolo" para desencadear a literariedade. II. Exemplaridade (Aula 11) • Conceito: A exemplaridade é um elemento presente na estrutura latente do texto literário infantil contemporâneo. • Moral e Sentido: A exemplaridade é sempre associada ao caráter didático/moralizante. O espelho ideal que o texto exemplar busca ser só se faz imagem a partir da presença do leitor. É por meio da atribuição de sentidos do leitor que a exemplaridade se constitui. • Contexto Sócio-Histórico: A forma como a exemplaridade se manifesta (mais ou menos latente) depende do contexto sócio-histórico, da época e dos costumes do texto literário. III. Fantástico e Maravilhoso (Aula 12) A literatura fantástica é aquela em que o texto não se submete por inteiro às leis do senso comum ou à lógica da natureza. • O Fantástico: O que seria sobrenatural no mundo real é tratado como natural. • O Estranho: Ocorre quando acontecimentos aparentemente inexplicáveis ou sobrenaturais recebem, ao final da narrativa, uma explicação racional. O fantástico é reduzido a estranho por procedimentos narrativos como o sonho, a alucinação, a ilusão ou a loucura. • O Maravilhoso: Ocorre quando os fatos não estão subordinados à lógica do mundo que nos cerca; eles são regidos por leis próprias. O leitor aceita a lógica interna do texto e se deixa levar por suas ocorrências insólitas. IV. Gêneros do Discurso Literário (Aulas 13, 14, 15, 16 e 17) O Módulo 2 apresentou a tipologia própria dos textos literários: Narrativo, Lírico e Dramático. 1. Gênero Narrativo (Aulas 13 e 14) • Natureza: Baseia-se na representação da realidade alicerçada nas ações humanas, buscando a objetivação de um mundo. • Elementos Estruturais: Para que o mundo narrativo encontre objetivação, são necessários os personagens, a ação, o tempo e o espaço. Estes elementos contribuem para a ambiência da narrativa e a construção de sua verossimilhança. 2. Gênero Lírico/Poesia (Aulas 15 e 16) • Natureza: Caracteriza-se pela expressão do eu do poeta (eu lírico), exprimindo estados, e não acontecimentos. • Eu Lírico: É a voz inventada pelo poeta, que se revela como sujeito e objeto no processo de criação, expressando o que sente, pensa ou imagina. • Recursos Formais: O trabalho com as palavras utiliza recursos expressivos como ritmo, musicalidade, figuras de linguagem e a rima (externa ou interna). • Objetivo Pedagógico (Aula 16): Despertar o "ser poético" no aluno, sensibilizando a alma infantil, tocando seus sentidos e emoções e aguçando sua imaginação. 3. Gênero Dramático (Aula 17) • Propósito Fundamental: É constituído para ser encenado, para ser "exibido em teatro". • Estrutura: É mais "econômica" em situações e personagens, marcada por densidade, tensão e concentração de fatos conflitantes (momentos de crise). • Ausência de Narrador: O narrador é figura ausente. A dinamicidade do texto (falas e situações) funciona como eixo narrativo. • Tempo: O tempo é curto, condensado, sendo o tempo de conflito e de luta inevitável, diferente do tempo longo do gênero narrativo. • Subgêneros: Inclui tragédias (conflitos a limites existenciais como a morte), comédias (riso e desfechos distensos) e dramas (ações tensas, mas sem situações-limite). RESUMO DA AULA 19: TRADIÇÃO OCIDENTAL DA LITERATURA INFANTO- JUVENIL – UM POUCO DE HISTÓRIA I. O Nascimento da Literatura Infanto-Juvenil (Século XVIII e XIX) A Literatura Infanto-Juvenil (LIJ) não é um conceito antigo, mas sim uma concepção muito jovem de um determinado tipo de texto. 1. A Descoberta da Criança: O nascimento da LIJ é datado do Século XVIII (o "Século das Luzes"). As mudanças socioeconômicas e a ascensão da burguesia trouxeram a descoberta da criança como um ser diferenciado do adulto. Até então, a criança era vista como uma miniatura do adulto, sem a devida mediação para seu crescimento. 2. Novo Status e Leitura: Reconhecida como ser diferente, a criança ganhou novo status na esfera familiar. A reconfiguração da família como família nuclear, aliada à busca da burguesia por cultura, favoreceu os momentos de leitura compartilhados entre adultos e crianças. 3. O Embrião da LIJ: Nesses momentos de leitura compartilhada, as crianças desenvolveram predileção por histórias de aventuras e ricas em fantasia. Embora esses textos não fossem escritos deliberadamente para elas, acabaram sendo "adotados" pelas crianças, formando o embrião da Literatura Infanto-Juvenil. 4. Instituições e Estudos: Paralelamente, a escola começou a dividir classes por faixa etária e a pedagogia e a psicologia ganharam status de estudos científicos sobre o homem e a criança. II. O Estudo da LIJ e a Sobreposição do Destinatário A LIJ possui peculiaridades que a distinguem no campo da crítica literária: 1. LIJ é Literatura: Segundo Nelly Novaes Coelho, a literatura infantil é, antes detudo, literatura. A distinção se dá pela natureza específica do leitor (a criança). 2. Gênero Menor e Pedagogia: Por ser destinada a crianças, a LIJ foi frequentemente vista como um gênero menor, ligado à brincadeira ou ao aprendizado, e seu caráter de criação literária foi ignorado pela crítica. 3. A Encampação da Pedagogia: Regina Zilberman e Marisa Lajolo descrevem o momento em que a pedagogia "encampa" a literatura infanto-juvenil. O ato de ler se transforma em um ato de aprendizagem, com o texto infantil sendo "utilizado" como veículo de comunicação entre o adulto (autor) e a criança (leitor). Essa é uma das peculiaridades da LIJ. 4. Identificação com Narrativas Ancestrais: Nelly Novaes Coelho e José Roberto Whitaker Penteado observam a identificação da LIJ com as narrativas ancestrais, como as fábulas, os mitos e as lendas. Nelly Coelho explica que textos primordiais, como Calila e Dimna (século VIII d.C.), permanecem vivos por lidarem com verdades simbolicamente narradas que se repetem na história da humanidade. III. A Especificidade do Texto (Raquel Villardi) A questão da destinação da LIJ levanta um debate sobre sua estrutura: 1. Foco no Destinatário: Raquel Villardi (1999) aponta que a expressão "literatura infanto- juvenil" é reconhecida pela existência de um público específico. O foco de importância é deslocado da palavra "literatura" para o adjunto "infanto-juvenil". 2. Elemento Exterior ao Texto: O atributo "infanto-juvenil" é o único que se liga ao termo "literatura" a partir de um elemento exterior ao texto – o público a quem ele se destina. Outros atributos (gênero, época, nacionalidade) baseiam-se em elementos internos à estrutura. 3. Risco de Empobrecimento: Embora o reconhecimento de um destinatário especial não seja um problema em si, torna-se problemático quando se assume que o texto deve perder seu valor literário a partir do empobrecimento dos elementos que o caracterizam. O leitor infanto-juvenil não possui nível de exigência menor que o adulto. 4. Exigência de Qualidade: As obras de LIJ devem ser, antes de tudo, obras de literatura, buscando uma linguagem específica, própria e particular que seja capaz de atingir não só crianças e adolescentes, mas também adultos que conservam "um rasgo de criança no olhar". IV. Os Primeiros Textos Escritos para Crianças (Século XIX) A partir do século XIX, textos começaram a ser escritos especialmente para crianças. 1. Autores Pioneiros: A aula cita Guerra Junqueiro (autor português do século XIX) e sua coletânea Contos para a infância como exemplo da LIJ da época. 2. A Nova Visão da Educação: O prólogo da obra de Junqueiro reflete a nova maneira de encarar a educação, que se consolidou no século XIX, enfatizando que para educar as crianças é necessário amá-las. Ele sugere que livros simples são complexos e devem ser escritos por "almas intuitivas", e não por "eruditos gelados". 3. O Caráter Pedagógico Explícito: O conto O rico e o pobre (exemplo de Junqueiro) revela a preocupação de se criar uma história com enredo compreendido pelos pequenos e que pudesse presenteá-los com uma lição. 4. Formação Comportamental: Na época (1800), formar pessoas era sinônimo de incutir nas crianças uma série de padrões comportamentais. O conto, ao contrastar a riqueza material com a saúde, termina com uma lição de moral clara: "tens força e saúde, coisas que valem bem uma carruagem, e que não podem comprar-se com dinheiro". Esse caráter pedagógico é o tema da próxima aula. Em suma, o que caracteriza o texto literário infanto-juvenil é mais seu público do que sua forma, mas o texto deve ser reconhecido como, antes de tudo, literatura. RESUMO DA AULA 20 – TEXTO LITERÁRIO INFANTO-JUVENIL: SEMPRE UMA LIÇÃO A ENSINAR? I. A Gênese do Caráter Pedagógico e a Crítica Literária 1. Nascimento e Complexidade do Texto O texto destinado à criança nasceu da necessidade de formar pequenos cidadãos, levando os mediadores (adultos) a ceder à tentação de usar o texto como pretexto para uma série de aprendizados. Contudo, o texto literário possui complexidade e não tem o objetivo primeiro de veicular uma lição. Por ser plurissignificativo (multivalente em sentidos), a leitura efetiva pode gerar aprendizados, mas isso não é essencial. O texto literário deve proporcionar, principalmente, prazer. O problema da "pedagogização" do texto literário, embora enraizado historicamente, só tomou vulto nos estudos de especialistas no Brasil a partir da década de 1970. 2. Posições de Críticos Precursores • Monteiro Lobato (1917): Em "Os livros fundamentais", Lobato denunciou o uso de "horrorosos livros de leituras didáticas" na escola, cheios de "leituras cívicas, fastidiosas patriotices" que transformavam a leitura em um "instrumento de suplício". Ele criticava a transformação da leitura em pretexto para a pedagogia. • Cecília Meireles (1951): Em Problemas da literatura infantil, ela levantava a questão: "existe uma literatura infanto-juvenil?". Sua visão aponta que a LIJ se caracteriza por aquilo que a criança elege (a posteriori). Cecília reconheceu que a ideia de ensinamento útil ("adorno ameno") estava presente há séculos, e que a função de ensinar era um elemento indiscutível na discussão sobre LIJ em sua época. II. A Teoria da Literatura Infanto-Juvenil Brasileira (Regina Zilberman) Regina Zilberman traça o histórico da LIJ, afirmando que ela emerge no século XVIII como decorrência de uma intenção pedagógica. 1. Pedagogia vs. Literatura • A pedagogia encontrou no texto lido pela criança um veículo de normas e ensinamentos, fazendo da LIJ, primeiramente, um problema pedagógico. Baumgärtner reforça que os textos escritos exclusivamente para crianças têm sua origem em motivos pedagógicos, e não literários. • A crítica literária não se ocupava da LIJ, deixando essa tarefa para os pedagogos, que a utilizavam como um meio para atingir um fim didático. 2. A Dualidade e o Leitor Implícito Zilberman conclui que a LIJ está submetida a duas visões: 1. Visão do Adulto: Vislumbra o caráter pedagógico para a transmissão de valores e a formação moral (dominação da criança). 2. Visão da Criança: Encontra as múltiplas possibilidades da ficção, desenvolvendo estruturas linguísticas e vivências. Zilberman defende que a LIJ é necessariamente formadora, mas não educativa no sentido escolar do termo. 3. Fantasia e Maniqueísmo • Zilberman utiliza o termo "fantasia" para sintetizar os procedimentos do "fantástico" e do "maravilhoso". • A fantasia marca o texto infantil desde suas origens (mito, conto popular). • Para Zilberman, a presença da fantasia excluiria a possibilidade de realismo no texto infantil. A distância entre o mundo criado no texto e o mundo real é uma exigência das prerrogativas pedagógicas, que utilizam o maniqueísmo (embate entre bem e mal) para centralizar seus ensinamentos e valores. • Ao adotar a perspectiva do Leitor Implícito (o destinatário para quem o texto foi escrito), Zilberman argumenta que a fantasia deve ser vista como estratégia da própria ficção, e não apenas como forma de sinalizar valores morais. III. A Crítica ao Utilitarismo Linguístico (Ligia Cadermatori) Ligia Cadermatori critica o didatismo maciço, observando que o "moralismo conformativo" (predomínio dos objetivos pedagógicos) apenas "trocou de roupa" com o tempo. 1. O Equívoco da Linguagem Unívoca A autora detecta um equívoco na abordagem pedagógica: a concepção de língua apenas como instrumento de comunicação. Essa visão desconsidera a pluralidade e as várias possibilidades de sentidos (estrutura latente) que a língua oferece. 2. Leitura Monolítica • Os livros didáticos que trazem exercícios de "interpretação de textos" exemplificam a leitura monolítica (sentido unívocoou único) imposta ao texto infantil, desprezando as ambiguidades e plurissignificações da literatura. • Essa predominância do aspecto pedagógico sobre o literário reduz o texto a uma reprodução esquemática da realidade, prestando-se a ensinar regras morais e sociais, e fazendo com que a leitura de mundo coincida com a visão unívoca do mediador (professor). IV. Conclusão para a Prática Docente A solução para o problema da pedagogização está muito mais ligada à maneira como os textos são trabalhados do que à sua estrutura. É necessário reformular as metodologias para tornar o texto literário infanto-juvenil um instrumento prazeroso na formação dos leitores. A aquisição de estruturas linguísticas complexas é um "efeito colateral" de um trabalho efetivo de leitura, e, embora o texto possa incluir lições, isso não deve ser o objetivo primordial da leitura. RESUMO DA AULA 21: AS FÁBULAS I. Pré-requisitos e Objetivos É fundamental ter compreendido a relação entre o texto destinado à criança e o uso pedagógico que dele se tem feito, bem como os elementos caracterizadores da Literatura Infanto- Juvenil. Ao final da aula, o estudante deve ser capaz de conhecer a história do nascimento das fábulas, verificar sua estrutura e relacionar a fábula com os elementos da LIJ. II. História e Paternidade da Fábula 1. Origem e Aceitação: As fábulas têm sua origem na Antiguidade clássica e circularam na Grécia por volta do século VI a.C., alcançando grande aceitação. 2. Paternidade Atribuída a Esopo: A autoria das fábulas é um ponto obscuro, mas o nome de Esopo (que teria nascido na Frígia e trabalhado como escravo) ficou inevitável e perenemente ligado à paternidade da fábula, embora sua biografia e mesmo sua existência sejam incertas. 3. Herança e Retomada: O resgate das fábulas por escritores posteriores mostra que sua herança encontra muitos ecos ao longo do tempo. Fedro é o exemplo mais flagrante dessa retomada, tomando Esopo como modelo. Nomes mais recentes, como La Fontaine e Andersen, também têm sua produção identificada com as fábulas. III. Ressurgimento da Fábula (Idade Média) As fábulas ressurgiram nos anos terminais da Idade Média, em um momento de forte crise religiosa. • Paralelo Histórico: Esse resgate aponta para um paralelo entre a crise ética e religiosa da Idade Média e a Antiguidade clássica, onde pensadores gregos já haviam promovido uma crise ético-religiosa. • Estratégia Retórica: A fábula foi resgatada como discurso moralizante para atender à necessidade de convencer e persuadir, retomando a retórica clássica. • Tradição Oral: A fábula pode ser considerada um resgate das narrativas populares, sobretudo da tradição oral, e uma variante do conto que veicula uma realidade ideal capaz de preencher as expectativas do leitor. IV. Estrutura e Função da Fábula (Exemplaridade) A fábula é um texto de caráter didático e assume um caráter exemplar de objetivo moralizante. 1. Estrutura Bifurcada: A fábula apresenta uma estrutura clara, composta por duas partes: • Primeira Parte (Narrativa): Apresenta o enredo, que é o próprio exemplo. • Segunda Parte (Moral da História ou Epimítio): Sintetiza o ensinamento contido na narrativa, na forma de um aforisma ou provérbio. 2. Epimítio e Controle Social: O epimítio (epi sobre a mythos história) empreende a conclusão, adquirindo a função de promover o resgate de valores e dessa verdade, o que sustenta as formas de controle da sociedade. 3. Objetivo Dominante: A fábula é um discurso do qual se retira sempre uma lição, sendo um discurso dominante e manifesto. Ela não possibilita questionamentos anteriores à conclusão; ao contrário, conduz o leitor até o momento final, quando a conclusão sintetiza o exemplo. 4. Evolução da Função: No âmbito da cultura antiga, a fábula era um instrumento de análise do comportamento humano. Ao passar pelo filtro da cultura cristã, ganhou um caráter cada vez mais moralizador, onde o bem vence o mal, reafirmando a virtude. O exemplum (exemplo) converte-se em um modelo de comportamento a ser imitado. V. Alegoria e Recursos Estruturais A eficácia moralizante da fábula deve-se aos procedimentos que conferem ao texto sua estrutura narrativa ancestral. 1. Alegoria: A estrutura da fábula é construída basicamente sobre a ALEGORIA. • Alegoria é a representação de um discurso que oculta, com seu sentido imediato, o verdadeiro sentido do que quer representar. Sua função principal é concretizar realidades abstratas. • Nas fábulas, virtudes e defeitos são alegorizados a partir de personagens animais ou plantas (ex: o leão alegoriza a liderança; a raposa, a esperteza; a formiga, a previdência). 2. Disfarce: O uso de animais como personagens garante à fábula o disfarce necessário para que não se confunda com o conselho puro e simples. 3. Indeterminação: A narrativa fabulística lança mão da indeterminação geográfica e temporal da ação. 4. Narrador: O texto utiliza a interferência de um narrador que serve de mediador entre o texto e o leitor. VI. A Fábula na Literatura Infanto-Juvenil As fábulas passaram a fazer parte do repertório infantil no momento em que a LIJ se autonomizava, sendo uma ótima fonte de ensinamentos. As crianças adotaram as fábulas como textos prazerosos porque: • Têm, na esmagadora maioria, animais como protagonistas que falam e agem como seres humanos (o que remete ao conceito de maravilhoso da Aula 12), conferindo um caráter fantástico caríssimo ao público infantil. • São textos curtos, de leitura rápida. • Em seu mote, o mal é punido e o bem é recompensado. A leitura das fábulas muitas vezes gera a impressão de que "já ouvimos aquilo antes", devido à forte relação com ensinamentos cristãos e provérbios populares. RESUMO DA AULA 22: OS CONTOS DE FADAS E OS CONTOS MARAVILHOSOS I. Contexto e Origem Histórica 1. Relevância Cultural: Assim como as fábulas, os contos de fadas vêm à mente quando se pensa em literatura infanto-juvenil. A facilidade de reter essas histórias na memória, muitas vezes contadas oralmente, justifica a sobrevivência desses textos antigos. 2. Origem Remota: Erra quem pensa que esses contos foram elaborados no século XVIII, quando surgiram as sementes da literatura infanto-juvenil. Na verdade, a origem dessas narrativas antecede a era cristã. 3. Fontes Diversas: O que hoje é chamado de conto de fadas é, na verdade, uma assimilação de dois tipos de narrativas que, embora tivessem origens diversas e quase opostas, convergiram: • Tradição Celta: Ênfase na religiosidade e nos valores espirituais. • Tradição Oriental: Ênfase no desejo de auto-realização do herói. 4. Adaptações: Ao longo dos séculos, esses contos foram recontados e adaptados a novos tempos e sociedades. A partir do século XVII, com Charles Perrault na França (Contos da mamãe Gansa), inicia-se uma fase de adaptação e criação de novos textos escritos para crianças. No século XIX, os Irmãos Grimm (Alemanha) e Hans Christian Andersen (Dinamarca) coletaram e adaptaram narrativas de cunho maravilhoso da memória popular. II. Diferenciação entre Contos de Fadas e Contos Maravilhosos Embora hoje sejam tratados como um único tipo de narrativa, eles diferem na origem e nos elementos que os compõem. Característica Contos Maravilhosos Contos de Fadas Origem Oriental Celta (mesma tradição dos romances de cavalaria) Ênfase Necessidade básica do herói, priorizando a questão material e sensorial. Eixo central é o desejo de auto-realização do herói. Presença de forte religiosidade e valores espirituais. Heróis movidos pelas virtudes valorosas do espírito humano. Presença de Fadas Ambientes mágicos, contudo, sem a presença de fadas. Surgimento das fadas na culturacelta. Nem sempre têm fadas em seu enredo, apesar do nome. Exemplo Famoso As mil e uma noites Branca de Neve e os Sete Anões (Grimm), A Princesa e a Ervilha (Andersen) III. Elementos Específicos do Conto de Fadas Há procedimentos que especificam o conto de fadas, que utilizam a atmosfera mágica e o maravilhoso: 1. Atemporalidade: Expressa no tópico frasal "Era uma vez". O tempo em que a história se passa não é jamais definido, sendo sempre o tempo do leitor. 2. Indeterminação Espacial: Caracterizada pela menção a um "reino distante" ou um reino sem nome no mapa. É o lugar da ficção, um espaço possível apenas no âmbito ficcional. Esse afastamento da realidade contextual insere o conto de fadas no âmbito ficcional, garantindo sua verossimilhança interna e sua própria lógica. 3. Obstáculos para Alcançar o Objetivo: Os heróis enfrentam uma série de obstáculos (torres, dragões venenosos, bruxas). Esse confronto reforça o caráter maniqueísta desses textos, onde o bem (herói) combate o mal (obstáculos e vilões). 4. Valores do Espírito Humano: Os príncipes e princesas são construídos como espelho da perfeição ética e estética. São belos e bondosos, e são movidos pelas virtudes. IV. O Maravilhoso e o Impacto no Leitor • Maravilhoso: A presença do maravilhoso é o que cativa os leitores e sustenta a permanência dessas narrativas. • Sentido de Verdade Humana: O maravilhoso, que nasceu com um profundo sentido de verdade humana, foi, com o tempo, esvaziado de seu verdadeiro significado, transformando- se nos contos maravilhosos infantis. • Formação Emocional: A presença do maravilhoso contribui definitivamente para a formação emocional do pequeno leitor, pois ele lida com sensações positivas e negativas a partir do eterno embate entre o bem e o mal. V. Exemplos Práticos (Análise dos Textos) Textos como A Princesa e a Ervilha (Andersen) e Branca de Neve e os Sete Anões (Grimm) são usados para ilustrar esses elementos, como a atemporalidade ("Era uma vez"), a indeterminação espacial ("reino distante"), a presença do maniqueísmo (rainha má vs. Branca de Neve meiga), e a presença do maravilhoso (espelho mágico, sete anões, feitiço). A análise desses textos reitera a manutenção de um modelo nas narrativas de contos de fadas. RESUMO DA AULA 23: O CONTO DE FADAS MODERNO A Aula 23 foca na análise e comparação entre o conto de fadas tradicional e o conto de fadas moderno, reconhecendo a permanência da estrutura mítica e maravilhosa no imaginário infantil e adulto. I. A Estrutura Arcaica e a Permanência do Maravilhoso O conto de fadas e o conto maravilhoso fazem parte de uma tradição literária ancestral, herança da oralidade. A estrutura da literatura infanto-juvenil está na origem da própria literatura (do poético, do mito, do conto popular). 1. A Função do Mito e do Maravilhoso: • Segundo Mircea Eliade, o mito é um patrimônio, uma estrutura psíquica que preenche lacunas na vida do homem, revelando os modelos exemplares de todos os ritos e atividades humanas significativas. • Essa função do mito estende-se ao maravilhoso, elemento central incorporado pelos contos de fadas, que conservam a estrutura do próprio mito. • Nelly Novaes Coelho explica que a matéria da literatura infantil pertence à área do maravilhoso, da fábula, dos mitos e das lendas. Sua linguagem metafórica comunica-se facilmente com o "pensamento mágico", natural nos seres intelectualmente imaturos. O maravilhoso é o mediador, por excelência, dos valores a serem assimilados. • Bárbara Vasconcellos de Carvalho reforça que o conto de fadas pertence ao mundo dos arquétipos (contos míticos e simbólicos), respondendo ao universo da criança, que se identifica com as personagens e vive suas provas até o final feliz. 2. A Estrutura Mantida (O Antigo no Novo): • Apesar da distância temporal, a estrutura dos textos fundadores da tradição literária ocidental é a base para o interesse em narrativas maravilhosas, e os textos modernos mantêm essa estrutura. • Os textos trazem a marca das forças antagônicas (o bem e o mal) que se presentificam como valores para a formação da mentalidade infantil. • A perpetuação dos contos se dá pela utilização de uma linguagem simbólica que lida com verdades que se repetem na história da humanidade (vícios e virtudes). 3. Elementos Formais Peculiares (Nelly Novaes Coelho): • Indeterminação Temporal: Caracterizada pela expressão "Era uma vez", reflete a consciência mítica e a repetição das vivências em um tempo a-histórico. • Referência Explícita ao "Ato de Contar": Atrai o leitor pela ideia de mediação, ligada à origem oral dessas narrativas. • Forma do Conto: Reflete a intenção dos narradores de transmitir mensagens exemplares por meio de situações cotidianas. • Repetição: No nível discursivo e estrutural, satisfaz a exigência do leitor infantil de ouvir a mesma história, garantindo prazer e segurança. • Representação Simbólica: Utilização de metáforas, símbolos, alegorias, levando à criação de personagens tipos. • Presença do Maravilhoso. • Exemplaridade: Um dos objetivos mais evidentes da narrativa primordial novelesca. II. A Transição para o Conto de Fadas Moderno 1. Crítica e Permanência da Fantasia A literatura infanto-juvenil, em seu nascedouro, foi encampada pela pedagogia. Contudo, os contos de fadas rompem com essa estrutura ao serem considerados antipedagógicos (diferente das fábulas, que carregam consigo um "realismo utilitário"). Essa visão resultava da presença dos elementos fantásticos e da veemência dos acontecimentos. • A fantasia (o maravilhoso) não é privilégio do texto infantil, embora ganhe maior proporção nele. • Maria Nikolajeva diferencia a leitura: no texto infantil, tanto as personagens quanto os leitores encaram a presença do maravilhoso como parte do jogo da ficção, ratificando a lógica própria do texto (verossimilhança interna). A criança é capaz de "aproveitar" a fantasia muito melhor que o adulto. • Embora antes a fantasia estivesse vinculada a um objetivo pedagógico, a partir de meados do século XX o código da fantasia começou a mudar, adaptando-se à evolução da ciência e da tecnologia. 2. Características do Conto de Fadas Moderno O conto de fadas moderno resgata os elementos ancestrais, mas os atualiza, atraindo leitores "de 8 a 80 anos". Marina Colasanti e Harry Potter são exemplos de textos que utilizam a fantasia inebriante. O Fenômeno Harry Potter (Análise Estrutural e Social) A série Harry Potter é considerada um conto de fadas moderno por vários aspectos: 1. Protagonista Criança: Facilita a identificação imediata do leitor implícito. 2. Convivência de Mundos: Apresenta dois mundos paralelos ("trouxas" e bruxos), onde o mundo bruxo (Hogwarts) reduplica a hierarquia e as relações do mundo real (amigos, rivais, sabedoria). 3. Herói Imperfeito (Ruptura Social): Harry Potter é uma ruptura com o modelo de perfeição absoluta do herói tradicional. Ele é fisicamente o oposto do que se espera de um herói (órfão, míope, magricela, nada popular). 4. Valores Humanos (Continuidade): Apesar de ter o dom da bruxaria, Harry só consegue vencer os obstáculos lançando mão de valores humanos como a amizade, o amor e a saudade, reforçando que o herói é movido por objetivos nobres e não por ambição. 5. Arquétipos: Mantém a luta do bem contra o mal como tema central da narrativa. I. O Texto Infanto-Juvenil e a Fantasia II. Revisão Essencial: Verossimilhança III. Literatura Fantástica: Definição e Ocorrências A. O Fantástico (Momento de Hesitação) B. O Estranho C. O Maravilhoso IV. O Efeito no Leitor (Afetividade) V. Autores Representativos Mencionados RESUMO DA AULA 13: ELEMENTOS DA NARRATIVA – PARTE 1 I. Gêneros Literários: Gênesee Tipologia II. O Gênero Épico e a Origem da Narrativa III. Diferenciação da Narrativa em Relação à Lírica IV. Ficcionalidade e Verossimilhança na Narrativa V. Elementos Basilares da Construção Narrativa 1. Personagens 2. Ação (Enredo) 3. Tempo 4. Espaço I. Objetivo e Metodologia II. O Papel da Educação e o Marco Legal III. A Importância da Literatura Afro-Brasileira IV. Resultados da Pesquisa e Desafios Práticos RESUMO DO ARTIGO 2 DA AULA 14: LITERATURA INFANTIL E REFLEXÕES ANTIRRACISTAS I. O Contexto e a Urgência das Práticas Antirracistas II. Artefatos Culturais e o Combate ao Racismo III. O Papel da Literatura Antirracista IV. Qualidade Estético-Literária e a Quebra de Estereótipos RESUMO DA AULA 15: ELEMENTOS DA POESIA – PARTE 1 I. Conceituação de Poesia II. O Eu Lírico (Eu Poético) III. Comparação entre Poesia (Lírica) e Narrativa (Épica) IV. Elementos Singularizantes da Poesia RESUMO DA AULA 16: ELEMENTOS DA POESIA – PARTE 2 I. Objetivos e Elementos Singularizantes II. Elementos de Composição Formal 1. Verso e Estrofe 2. Ritmo e Rima 3. Métrica (Escansão) III. Poesia na Escola: A Formação do "Ser Poético" 1. O Ser Poético 2. Crítica ao Uso Utilitarista 3. Fluididade Simbólica 4. Tipos de Poemas e Abordagens Didáticas I. Gêneros Literários: Diferenciação entre Narrativa e Drama II. Subgêneros do Gênero Dramático III. Elementos Estruturais e Peculiaridades IV. Dramaturgia Infantil I. Singularidade e Natureza do Texto Literário (Aulas 8, 9 e 10) 1. Elementos Singularizantes (Aula 8) 2. Ficcionalidade (Aula 9) 3. Literariedade (Aula 10) II. Exemplaridade (Aula 11) III. Fantástico e Maravilhoso (Aula 12) IV. Gêneros do Discurso Literário (Aulas 13, 14, 15, 16 e 17) 1. Gênero Narrativo (Aulas 13 e 14) 2. Gênero Lírico/Poesia (Aulas 15 e 16) 3. Gênero Dramático (Aula 17) RESUMO DA AULA 19: TRADIÇÃO OCIDENTAL DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL – UM POUCO DE HISTÓRIA I. O Nascimento da Literatura Infanto-Juvenil (Século XVIII e XIX) II. O Estudo da LIJ e a Sobreposição do Destinatário III. A Especificidade do Texto (Raquel Villardi) IV. Os Primeiros Textos Escritos para Crianças (Século XIX) I. A Gênese do Caráter Pedagógico e a Crítica Literária 1. Nascimento e Complexidade do Texto 2. Posições de Críticos Precursores II. A Teoria da Literatura Infanto-Juvenil Brasileira (Regina Zilberman) 1. Pedagogia vs. Literatura 2. A Dualidade e o Leitor Implícito 3. Fantasia e Maniqueísmo III. A Crítica ao Utilitarismo Linguístico (Ligia Cadermatori) 1. O Equívoco da Linguagem Unívoca 2. Leitura Monolítica IV. Conclusão para a Prática Docente RESUMO DA AULA 21: AS FÁBULAS I. Pré-requisitos e Objetivos II. História e Paternidade da Fábula III. Ressurgimento da Fábula (Idade Média) IV. Estrutura e Função da Fábula (Exemplaridade) V. Alegoria e Recursos Estruturais VI. A Fábula na Literatura Infanto-Juvenil RESUMO DA AULA 22: OS CONTOS DE FADAS E OS CONTOS MARAVILHOSOS I. Contexto e Origem Histórica II. Diferenciação entre Contos de Fadas e Contos Maravilhosos III. Elementos Específicos do Conto de Fadas IV. O Maravilhoso e o Impacto no Leitor V. Exemplos Práticos (Análise dos Textos) I. A Estrutura Arcaica e a Permanência do Maravilhoso II. A Transição para o Conto de Fadas Moderno 1. Crítica e Permanência da Fantasia 2. Características do Conto de Fadas Moderno O Fenômeno Harry Potter (Análise Estrutural e Social)