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Consolidação da Taipa de Pilão

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CONSOLIDAÇÃO DA TAIPA DE PILÃO 
 
Márcio V. Hoffmann* 
André F. Heise 
 
FATO arquitetura, Rua Gomes Carneiro, 1108, Piracicaba, SP. CEP 13 400 – 530 
Telefone: 0XX19 – 3433-1573 – Fax: 0XX19 – 3402 4902 
fato@fatoarquitetura.com.br 
 
Tema 2: História, Conservação e Patrimônio 
Palavras-chave: Taipa de pilão, Consolidantes, Restauração e preservação. 
 
 
RESUMO 
São “arquitetura e construção com terra” todos os edifícios construídos com terra estabilizada por meio 
de simples compactação ou pelo uso de estabilizantes. As construções em terra são conhecidas há 
aproximadamente dez mil anos. Foi com arquitetura de terra que as mais diversas civilizações 
construíram suas primeiras cidades. No Brasil, a taipa de pilão foi um dos sistemas construtivos em terra 
mais difundidos. Dado o potencial da arquitetura e construção com terra e a necessidade de desenvolver 
uma técnica de consolidação de paredes de taipa para melhoria das novas construções e, 
principalmente, para a restauração de obras de inestimável valor, este trabalho pretende dar aporte 
técnico para todos aqueles que trabalham com edifícios em taipa de pilão, seja na preservação e 
restauração de monumentos construídos, seja na construção de novos edifícios. Para verificar a 
qualidade dos consolidantes foram usados dois painéis em taipa de pilão, construídos da mesma maneira 
e com solos conhecidos, estabilizados com mesmos traços e que apresentaram, como principais 
patologias, a falta de coesão superficial, a presença de fissuras e o desbastamento de torrões. Então, 
sobre esses painéis, foram aplicados um aglutinante à base de PVA e um fixador de base acrílica. Esses 
consolidantes foram aplicados diluídos sobre a superfície e misturados com o solo dentro das fissuras 
dos painéis. Os resultados foram verificados por meio de análises táteis e visuais, que tentaram constatar 
a resistência das partes consolidadas e o efeito estético desses produtos. Nota-se que o aglutinante a 
base de PVA, mesmo não causando novas reações pozolânicas, apresenta melhores resultados, tanto 
sobre a resistência quanto sobre a estética. Fica clara, a possibilidade do uso de aglutinantes a base de 
PVA na consolidação de monumentos arquitetônicos em taipa que apresentem características e 
patologias semelhantes aos dos painéis estudados. 
 
1. INTRODUÇÃO 
Pensar arquitetura e construção com terra não deve ser um ato saudosista. Não pretendemos, 
ao fazer arquitetura e construção com terra no Brasil, restabelecer o desenho da casa 
bandeirista, o sistema construtivo com suas pesadas fôrmas e travamentos ou qualquer das 
relações trabalhistas da época. Ao propormos construir com terra, pensamos em inovação, em 
todos os sentidos. Devemos inovar o desenho, o sistema construtivo e as relações trabalhistas 
que eram usuais na construção das antigas casas de terra e, em relação às construções do 
século 20, também devem inovar o material e o equilíbrio com o meio-ambiente. 
Para desenhar um espaço que deverá ser construído com terra precisamos, como nos casos 
em que desenhamos para construir com qualquer outro material, conhecer o sistema 
construtivo mais adequado. Assim poderemos escolher, com segurança, desenhos novos, para 
bem atender ao uso e á estética contemporânea. Uma maneira de adquirir esse conhecimento 
é por meio do cadastramento de antigos monumentos construídos em terra. O cadastramento 
com todos os critérios técnicos – como fez Viollet(1) com os monumentos góticos da França – 
dos monumentos arquitetônicos construídos em terra que ainda temos, muito nos ensinaria em 
como fazer arquitetura e construção com terra. 
Além disso, devemos pensar em arquitetura e construção com terra onde seja possível a 
industrialização da produção. Isso implica em um processo de produção de alta tecnicidade, 
com participação ativa dos operários e onde seja possível implantar programas de controle de 
qualidade. Teremos, então, uma técnica construtiva realmente viável e competitiva, tanto em 
termos da velocidade de produção como em termos econômicos. 
Por todos os motivos, científicos e éticos bastante discutidos atualmente, não mais podemos 
pensar em arquitetura que use materiais com elevado consumo de energia no processo de 
produção, nem em sistemas construtivos com demasiado transporte ou produção excessiva de 
resíduos(2). No canteiro de obras não podemos impor uma forma de trabalho em que o domínio 
da técnica seja usado como ferramenta de imposição de tarefas. 
O desenvolvimento de novas tecnologias para fazer arquitetura e construção com terra e a 
busca de meios para fazer a transferência dessas tecnologias aos operários da construção civil 
trazem perspectivas promissoras para as questões colocadas acima. Por último, devemos 
lembrar a importância da investigação tecnológica – não com o simples objetivo de crescimento 
econômico – mas como instrumento para servir a sociedade. Esta idéia acrescenta peso às 
reflexões feitas e propõe uma tarefa muito mais complexa para aqueles que trabalham com a 
tecnologia. 
Este trabalho analisa a qualidade de dois tipos de consolidantes, um a base de PVA e outro de 
base acrílica, que aplicados sobre painéis de taipa podem melhorar a resistência superficial e a 
durabilidade e, se aplicados em monumentos antigos, podem dar nova coesão às paredes de 
taipa. 
 
2. TERRAS PASSADAS 
A história da arquitetura e construção com terra é antiga. Inúmeros monumentos milenares 
construídos em terra nas mais diversas técnicas bravamente resistem ao tempo e à estupidez 
humana. Há relatos de adobes de 5.000AC. Temos exemplos no Oriente, na Ásia, muitos no 
norte da África, na Europa e alguns, já mais recentes, na América. 
No Brasil temos alguns monumentos de arquitetura de terra construídos no século XVII, como 
as poucas partes das muralhas de Salvador e muitos construídos no século XVIII, como a Igreja 
do Embu em São Paulo (figura 01). Podemos dizer, sem nos aprofundarmos sobre as origens 
da arquitetura e construção com terra no Brasil que ela adveio, como muito da cultura brasileira, 
da combinação das principais técnicas usadas no Alentejo com as trazidas pelos africanos, 
transformados em escravos, e com o conhecimento dos índios. 
 
 
 
 
Figura 01 – Parede de Taipa da Igreja do Embu, SP. 
 
De qualquer maneira, podemos dizer que a arquitetura e construção com terra têm importante 
papel na História da Técnica das construções no Brasil e, portanto, na História do desenho da 
arquitetura brasileira. Mais ainda, essa arquitetura, que gerou importantes monumentos 
infelizmente muitas vezes esquecidos, tem grande valor para a memória do povo brasileiro e, 
ainda hoje, faz parte da cultura construtiva e arquitetônica do Brasil. 
Fica, pois, clara a importância da conservação desses monumentos. Entre os profissionais da 
área, é dada importância cada vez maior ao cadastramento do monumento, mesmo antes de 
qualquer atitude que possa vir a ser tomada perante o patrimônio, ou seja, acredita-se na 
importância de, mesmo antes de qualquer intervenção, registrar, pôr na memória todos os 
dados técnicos, arquitetônicos e históricos relativos aos materiais, formas, sistemas e toda a 
sorte de informações que possam ser obtidas sobre aquele patrimônio. É no processo de 
cadastramento que alcançamos informações valiosas de como construir com terra. 
Entretanto, assim como acreditamos que, depois de aprender com o passado devemos renovar 
os procedimentos adotados nas novas construções com terra, no restauro do patrimônio 
arquitetônico não propomos construir com o mesmo material, nem tampouco da maneira como 
era feito. Acreditamos que, ao restaurar, devemos restabelecer a unidade de leitura do valor 
histórico e do valor de arte do monumento(3), mesmo que isso signifique introduzir novos 
materiais e novos elementos a vista clara do observador. Propomos, sobretudo, a preservação 
–quando possível – como a melhor atitude diante de qualquer patrimônio cultural. 
Construir e conservar arquitetura de terra – seja para criar novos espaços, salvaguardar o meio 
ambiente, preservar a história de uma técnica construtiva ou restaurar tantos monumentos de 
extrema beleza – são trabalhos que exigem análise multidisciplinar, com a colaboração de 
diversas áreas como arquitetura, engenharia, mecânica de solos, pedologia, química e outras, e 
necessitam ser feitos com ética. 
 
3. TAIPA DE PILÃO 
Arquitetura e construção com terra é o termo que se usa para designar toda edificação feita 
usando solo como principal material da obra. Nessas construções, o solo deve ser estabilizado 
com materiais aglomerantes ou por meio de esforços físicos. Ë importante esclarecer que 
estabilização de solos é uma denominação geral que pode ser usada por diversas áreas da 
ciência e terá um sentido específico para cada uma delas. No caso da arquitetura e construção 
com terra, estabilização de solos significa melhorar os parâmetros, principalmente resistência e 
durabilidade, da construção civil. 
Existem diversos sistemas construtivos que usam solo estabilizado como material de 
construção. No Brasil, ao longo de toda a história da arquitetura e construção com terra, os 
mais usados são: adobe, taipa de mão ou pau-a-pique, blocos de terra comprimida (BTC) e a 
taipa de pilão. O uso de cada sistema está diretamente ligado ao tipo de solo disponível e a 
cultura construtiva de cada região. Contudo, qualquer que seja a tipologia da edificação em 
terra, a característica comum é o uso do solo como o principal, ou até mesmo como único 
material de construção. 
A taipa de pilão ou simplesmente taipa é um sistema em que o solo é estabilizado por 
compactação e, grande parte das vezes, com o uso de algum aglomerante que melhore as 
características do solo compactado. O processo consiste em peneirar a porção necessária de 
solo, secá-lo ao ar e misturar, se for o caso, com o aglomerante. Acrescenta-se água à mistura 
até o ponto ótimo de umidade, coloca-se dentro de uma forma reforçada e travada para 
finalmente, compactar até a densidade ideal, usando pilões manuais (figura 02) ou 
compactadores mecânicos. 
 
 
 
Figura 02 – Construção de painel de taipa de pilão em São Paulo, SP. 
 
Descrito de maneira sucinta como acima, o procedimento para taipamento(4) parece simples, 
mas não é. Para alcançar a melhor qualidade num painel de taipa, é necessário conhecimento 
sobre o solo usado, sobre os materiais aglomerantes e sobre as reações entre esses materiais, 
sobre o traço, sobre a fôrma e o pilão que serão usados. 
Antes de construir, é necessário reconhecer as características físicas e químicas do solo, pois 
elas irão determinar a necessidade de uma correção da curva granulométrica, com a adição de 
areia ou saibro, e do tipo do material aglomerante que será usado na estabilização, pois cada 
material reage de maneira diferente perante a composição mineralógica do solo. A fôrma, que 
pode ser chamada de encoframento ou taipal, deve ser altamente resistente, leve e de fácil 
desmontagem, para não haver a necessidade de trancos ou grandes esforços para esse 
procedimento. Esses cuidados minimizam a possibilidade de danos no painel que estará pronto 
–retirada a fôrma – para receber um produto protetor, sem necessitar qualquer tipo de 
acabamento. 
No restauro, o conhecimento sobre o sistema construtivo e do solo utilizados, sobre o 
aglomerante e sobre o traço com qual a mistura foi feita deve ser ainda maior porque uma 
restauração irresponsável, sem o necessário conhecimento técnico, pode causar danos 
irreparáveis ao monumento, ao invés de salvar o patrimônio. Ainda, antes de qualquer medida 
restaurativa, é preciso estudar os agentes e causas do processo de degradação. Somente 
assim, independentemente do conceito adotado no projeto, é que se poderá chegar a 
resultados satisfatórios. 
 
4. O CABODÁ DA TAIPA DE PILÃO 
O cabodá é o orifício que se origina pela retirada das agulhas nas paredes de taipa de pilão. 
Então cabodás são furos que ficam na taipa, gerados pelo sistema de travamento das fôrmas. 
Se entendermos a palavra “furo” como um vazio ou “falta de”, podemos entender a expressão 
“cabodá da taipa de pilão” como a falta de conhecimento sobre esse sistema construtivo. 
Muito sobre arquitetura e construção com terra já foi estudado no Brasil, mas o fato é que pouco 
se sabe sobre a metodologia para o restauro de paredes em taipa de pilão. Desde os primeiros 
trabalhos coordenados por Luis Saia, Mario de Andrade e Lucio Costa, no período de formação 
do IPHAN, até os tempos atuais, são feitos restauros sem uma profunda e necessária análise 
técnica. A falta dessa análise e da divulgação dos resultados é o que chamamos de furo no 
conhecimento cientifico sobre a taipa de pilão. 
Em centros de excelência na Europa e América do Norte foram feitos diversos estudos sobre a 
preservação e restauração de arquiteturas de terra. Esses estudos foram feitos principalmente 
sobre produtos que aglutinassem as partículas do solo e que dessem coesão às paredes 
deterioradas. Entre os produtos chamados consolidantes, um dos que trouxe alguns bons 
resultados foi o silicato de etila. 
Entretanto – é bom lembrar – as técnicas de arquitetura e construção com terra estão 
diretamente ligadas à cultura construtiva e ao tipo de solo do local e os agentes físicos e 
químicos que deterioram os monumentos variam entre as regiões. As taipas brasileiras, feitas 
com solos tropicais, que sofrem intempéries tropicais, são, evidentemente, diferentes das de 
outras regiões. Os estudos realizados em países com solos e intempéries provenientes de 
climas temperados não podem ter seus resultados transferidos para as taipas brasileiras. 
A questão, então, é saber se existem consolidantes que realmente trazem bons resultados para 
o restauro de paredes em taipa de pilão feitas com solos tropicais. Além disso, a ação desses 
consolidantes deveria produzir material altamente resistente à água que, no Brasil, é sem 
duvida um dos principais agentes que atacam as antigas, e também as novas, construções em 
terra. 
 
5. MATERIAIS E MÉTODOS 
Para a análise da qualidade de dois diferentes consolidantes foram avaliados, visualmente, os 
resultados da consolidação de dois painéis de taipa de pilão. Esses painéis foram feitos com 
solos de características físicas e químicas semelhantes, estabilizados com aglomerantes iguais 
e trabalhados com mesmo traço. Os painéis apresentaram também problemas técnicos 
semelhantes, que foram consolidados da mesma maneira. Esse procedimento foi importante 
para minimizar a influência dessas variáveis sobre os resultados obtidos. 
 
5.1. A dosagem no traço da mistura do material 
Os painéis foram construídos com solos argilosos com aproximadamente 50% de argila, 10% 
de silte e 40% de areia, determinados por meio de ensaios do vidro(5). Os solos foram retirados 
de uma mesma jazida na Rodovia do Açúcar, que liga Piracicaba a Sorocaba, no Estado de 
São Paulo. Devido à região da jazida, à granulometria e à retração linear média de 14mm, 
resultado do ensaio da caixa(6), consideramos o solo como um Latossolo Vermelho Amarelo 
Distrófico Típico, conforme a classificação do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos da 
EMBRAPA. Na composição mineralógica desse tipo de solo predomina a caulinita. 
Depois de destorroados e peneirados, os solos, secos ao ar, foram misturados com 5% de cal e 
5% de cimento em volume e umedecidos, até o ponto ótimo determinado por meio do controle 
feito na própria compactação já dentro da fôrma. Isto resultou em aproximadamente 20% de 
água também em volume. 
 
5.2. Os problemas e a consolidação 
Apesar de desenhos e tamanhos diferentes, os painéis foram feitos com o mesmo sistema de 
fôrmas, com travamento em estrutura metálica e fechamentoem pranchas de compensado 
naval. Nos dois painéis, quando as fôrmas foram retiradas, apareceram fissuras horizontais em 
alturas correspondentes às camadas de terra compactada. Além disso, no painel 01 (figura 03), 
devido à forte compressão exercida pela fôrma circular inserida dentro da fôrma principal para 
produzir uma abertura, houve, na parte de baixo do painel, uma grande rachadura e o 
desprendimento de um torrão. No painel 02 (figura 04), devido ao seu comprimento e a intenção 
plástica do arquiteto(7), que desejava um painel contínuo, sem colunas ou guias verticais, foi 
necessário fazer a compactação em duas etapas. Nesse caso, também surgiu uma rachadura 
vertical na direção da união dos dois painéis. 
 
 
 
Figura 03 – Rachadura do painel 01 
 
 
Figura 04 – Rachadura do painel 02 
 
Depois de a umidade dos painéis atingir o equilíbrio com o ambiente em que estavam inseridos 
e de acontecerem as principais retrações devido à cura do cimento e às reações pozolânicas da 
cal com os argilo-minerais, as fissuras e rachaduras existentes em cada um dos painéis foram 
tratadas com dois consolidantes diferentes. 
No painel 01 foi aplicado um aglomerante copolímero vinílico compatível com cimento (Bianco – 
Vedacit – Otto Baumgart), diluído em água na proporção de 1:1 e, conforme o local da 
aplicação, misturado com quantidades diferentes do solo estabilizado com cal e cimento, 
sempre com o mesmo traço usado na construção do painel. 
O procedimento foi o seguinte: primeiro, o aglomerante, diluído e sem adição de solo, foi 
injetado com uma seringa dentro das fissuras e da rachadura, com a finalidade de lavar as 
superfícies internas. Depois o aglomerante, misturado com o solo estabilizado em proporção tal 
que resultasse em liquido bem espesso, foi injetado com seringa até que esse líquido vazasse 
para fora das fissuras e da rachadura. Por fim, foi adicionada, ao líquido anteriormente obtido 
mais uma quantidade de solo, até que fosse obtida uma massa plástica bastante mole. Essa 
massa foi aplicada sobre a as fendas com uma colher de pedreiro. Como acabamento, foram 
aplicadas, com uma broxa, duas demãos do consolidante diluído em duas partes de água, para 
maior adesão às partículas da superfície (figura 05). 
 
 
Figura 05 –Painel 01 restaurado com consolidante polivinílico. 
No painel 02, com o mesmo procedimento adotado para o painel 01 e nas mesmas proporções, 
foi injetado, dentro das fissuras e da rachadura, e depois aplicado sobre a superfície, um fixador 
à base de resina acrílica (Denverfix acrílico – Denver Global) (figura 06). 
 
 
Figura 06 – Painel 02 restaurado com consolidante acrílico. 
 
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Os resultados obtidos com a aplicação dos consolidantes foram avaliados visualmente. Mesmo 
conhecendo as restrições do método de avaliação, acreditamos ter acrescentado conhecimento 
ao tema e colaborando com o aporte técnico, tão necessário nas questões relativas à 
preservação e restauração de arquiteturas e construção com terra. 
Os dois consolidantes deram resultados satisfatórios no fechamento das fissuras. A aplicação 
foi fácil, as fissuras não voltaram a aparecer e os reparos ficaram imperceptíveis a olho nu. O 
consolidante polivinílico usado no painel 01 foi mais eficiente na solidificação das rachaduras do 
que o consolidante de base acrílica, usado no painel 02. Com a aplicação do consolidante 
polivinílico, as partes da parede que haviam se soltado ficaram mais firmes e não apareceu 
qualquer tipo de fenda. No painel em que se usou o consolidante de base acrílica, foi 
necessária uma segunda aplicação, pois apareceram fissuras nos lugares das rachaduras 
tratadas. 
O consolidante polivinílico também apresentou resultados melhores no acabamento do painel. 
Depois da aplicação na superfície, o painel 01 ganhou maior resistência à abrasão e não houve 
qualquer alteração na cor, nem na opacidade. Na superfície do painel 02, onde foi aplicado o 
consolidante de base acrílica, surgiu um pequeno brilho e houve menor melhora na resistência 
à abrasão. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
A.A.V.V. 7a. Conferência Internacional sobre a Conservação de Arquitetura de Terra – Terra 93. 
Anais... Silves, Portugal, 24 a 29 de Outubro de 1993. Portugal: DGEMN, 1993. 
BRUNA, Paulo J.V. Arquitetura, Industrialização e Desenvolvimento. São Paulo: Perspectiva, 1976. 
DETHIER, Jean. “Des architectures de terre, une tradition millenaire”. Editions Centre Pompidou, Paris, 
France, 1986. 
NEVES, Célia; FARIA, Obede, ROTONDARO, Rodolfo; CEVALLOS, Patrício; HOFFMANN, Márcio 
(2005). Seleção de Solos e Métodos de Controle em Construção com Terra – Práticas de Campo. 
PROTERRA/CYTED, CD-ROM do IV SIACOT / III ATP, realizado em Novembro 2005, em Monsaraz. 
OLIVEIRA, Mário Mendonça de. Tecnologia da Conservação e da Restauração. Roteiros de Estudos. 
Edição bilingue português/ espanhol. Salvador: Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da UFBA/ PNUD 
UNESCO, 1995, 310p. 
___________________________, SANTIAGO, Cybèle C., LEAL, João L. Rudimentos para oficiais de 
conservação e restauração. Rio de Janeiro: ABRACOR, 1996. 116p. 
PETRUCCI, Eladio G. R. Materiais de construção. Porto Alegre: Editora Globo, 1976. 
VASCONCELLOS, Sylvio de. Arquiteturas no Brasil: Sistemas Construtivos. Belo Horizonte: Rona, 1979. 
 
NOTAS 
(1) As primeiras tentativas no campo da moderna restauração dos monumentos foram feitas na França 
pós-revolucionária, que elaborou as leis relativas à preservação e fez os primeiros inventários de 
patrimônio monumental. O arquiteto francês Eugène Emmanuel Viollet-Le-Duc é considerado um dos 
pioneiros na elaboração das teorias, divulgadas a partir do século XIX, sobre a preservação e 
restauração de monumentos. Assumindo o pensamento científico da época, Viollet-le-Duc (1999) 
considerava o monumento como documento que deve ser restabelecido e, com isso, auxiliar na 
instalação do novo, referindo-se especialmente à arquitetura gótica francesa como estilo arquitetônico 
que sintetiza técnica e arte. Em seu verbete de restauro, o arquiteto enfatiza a importância da função, da 
estrutura e do programa arquitetônico, em detrimento da forma e do ornamento, preconizando as 
correntes funcionalistas do século XX. 
(2) André Heise trata o tema da produção serial e do controle de qualidade nas etapas da obra de painéis 
de taipa de pilão. Em: HEISE, André Falleiros (2004). Desenho do processo e qualidade da produção do 
painel monolítico de solo cimento em taipa de pilão. Campinas, 117p. Dissertação de mestrado – 
Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas. 
(3) A questão da preservação do monumento, em que valores históricos e de arte são encarados a partir 
da vivência física e psíquica do observador, em que os fenômenos são descritos como são percebidos 
pelo sujeito, constitui a base da Teoria de Restauro de Cesare Brandi (1963). Essa teoria estabelece uma 
postura que vem sendo bem aceita nas discussões atuais, devido aos resultados práticos registrados na 
produção arquitetônica contemporânea. 
(4) Ato de construir com taipa. 
(5) O ensaio ou teste do vidro está descrito no documento Seleção de Solos e Métodos de Controle em 
Construção com Terra – Práticas de Campo, publicado por PROTERRA. 
(6) O ensaio ou teste da caixa está descrito no documento Seleção de Solos e Métodos de Controle em 
Construção com Terra – Práticas de Campo, publicado por PROTERRA. 
(7) O painel 02 é parte do projeto concebido pelo arquiteto Flavio Villanova, executado como fechamento 
da adega da residência dele próprio.. 
 
AUTORES 
Márcio V. Hoffmann é Arquiteto, Mestre em Preservação e Restauração de Patrimônios Históricos pela 
UFBa, Doutorando da DAC/FEC - UNICAMP, membro do PROTERRA / HABYTED / CYTED, sócio do 
escritório FATO arquitetura onde atua como coordenador de projetos. 
André F. Heise é Arquiteto, Mestreem Engenharia Civil pela FEC-UNICAMP, membro do PROTERRA / 
HABYTED / CYTED, sócio do escritório FATO arquitetura onde atua como coordenador de obras.

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