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📚 Psicopatologia Geral – AV1 1. Introdução Geral à Semiologia Psiquiátrica * *Semiologia*: ciência dos signos em geral. * *Semiologia psicopatológica*: é o estudo dos sinais e sintomas dos transtornos mentais. Semiologia Médica * Estuda sintomas e sinais das doenças. * Permite identificar alterações físicas e mentais, ordenar fenômenos, formular diagnósticos e tratamentos. * Expressão comum: “onde há fumaça, há fogo”. Semiogênese * Investiga a origem e mecanismos de produção dos sinais e sintomas. * Pergunta central: “O que aconteceu para ele ficar dessa forma?”. * Natureza *qualitativa*. Semiotécnica * Técnicas de observação e coleta de sinais e sintomas. * Exemplos: entrevista, observação, coleta de dados. * Natureza *quantitativa*. Sinais e Sintomas * *Sintomas subjetivos*: experiências relatadas pelo paciente (ex.: ansiedade, dor). * *Sintomas objetivos*: observáveis apenas pelo examinador. * *Sinais*: dados elementares da doença, muitas vezes provocados ou evocados pelo profissional. 2. Definição de Psicopatologia * *Psicopatologia* = estudo dos transtornos mentais (psiqué = alma; patos = doença; logos = estudo). * Conjunto de conhecimentos sistemáticos, elucidativos e desmistificantes. * Não aceita *dogmas nem verdades absolutas*. * Não há *julgamento moral* sobre o que se estuda. Forma e Conteúdo dos Sintomas * *Patogênese*: forma dos sintomas, universal e comum a todos os pacientes. * *Patoplastia*: conteúdo dos sintomas, ligado à história de vida, cultura e personalidade de cada indivíduo. Três Tipos de Fenômenos 1. *Semelhantes em todos*: vivências universais (ex.: tristeza, alegria). 2. *Em parte semelhantes e em parte diferentes*: experiências comuns, mas com diferenças em casos de transtorno. 3. *Qualitativamente novos*: vivências próprias de transtornos mentais, distintos das experiências normais. 3. Os 9 Critérios de (A)normalidade na Medicina e Psicopatologia 1. *Ausência de doença* – saúde entendida como ausência de sintomas. 2. *Ideal* – norma utópica, arbitrária, do que seria “evoluído” ou “sadio”. 3. *Estatística* – fenômenos normais definidos pela média populacional. 4. *Bem-estar* – segundo a OMS (1946), saúde é “completo bem-estar físico, mental e social”. 5. *Funcional* – saúde é manter funcionamento adequado sem causar sofrimento ou prejuízo. 6. *Como processo* – visão dinâmica, considerando desenvolvimento, crises e mudanças ao longo da vida. 7. *Subjetiva* – percepção individual da própria saúde. 8. *Como liberdade* – doença mental vista como perda da liberdade existencial. 9. *Operacional* – definição prévia do que é normal ou patológico, usada de forma prática para fins clínicos. 4. Questão da Normalidade na Medicina Algumas questões fundamentais * Qual o critério de distinção entre normal e patológico? * Como estabelecer o que é normal e o que é patológico? * O que é saúde? * O que é doença? Problemas gerais da classificação * Difícil estabelecer fronteiras claras. * Alguns critérios podem ser questionáveis, dependendo do contexto. * Ex.: um mesmo fenômeno pode ser interpretado como patológico em um contexto e normal em outro. 5. Desenvolvimento da Psicopatologia (Histórico) Psicopatologia (Campbell, 1986) * Ciência que busca compreender e descrever fenômenos mentais anormais. Fenômeno psicológico * Qualquer alteração da vida mental que possa ser observada. Psicopatologia * Estuda fenômenos anormais da vida mental. * Objetivos: * Identificação dos sintomas. * Estudo de suas causas. * Classificação dos transtornos. * Compreensão dos mecanismos envolvidos. Classificação dos fenômenos 1. Fenômenos semelhantes em todos. 2. Fenômenos em parte semelhantes, em parte diferentes. 3. Fenômenos qualitativamente novos. 6. Reforma Psiquiátrica Loucura nesse período * Considerada característica de quem havia perdido a capacidade racional, com diminuição ou ausência do juízo moral. * O louco era visto como *perigoso*, devendo ser afastado do convívio social visando à cura/tratamento. * Locais de encaminhamento: asilos, hospícios ou hospitais psiquiátricos. * Tratamento: *isolamento terapêutico*. Philippe Pinel * Introduziu o *tratamento moral*. * Defendia estratégias como: * Valorização da higiene do local. * Desenvolvimento de atividades ocupacionais e recreativas. Reforma Psiquiátrica no Brasil * Influenciada por três movimentos principais: 1. Movimento *antimanicomial*. 2. Crítica ao *modelo vigente* (excessivamente medicamentoso). 3. *Desinstitucionalização*. Franco Basaglia * Criou o movimento da *psiquiatria democrática*, luta contra os hospícios. * Buscava restaurar a cidadania e a liberdade dos indivíduos confinados. * Realizou reforma jurídica sobre os processos de saúde mental. * Visitando o Hospital Colônia de Barbacena (1979), afirmou: > “Estive hoje num campo de concentração nazista. Em lugar nenhum do mundo, presenciei uma tragédia como esta.” Franco Basaglia – Importante figura da Reforma Psiquiátrica italiana, sendo o responsável por criar o movimento pela psiquiatria democrática, uma luta contra os hospícios que buscava restaurar a cidadania e a liberdade dos indivíduos confinados, além de realizar uma reforma jurídica sobre os processos relacionados à saúde mental (YASUI, 2011). Lei Paulo Delgado – Lei nº 10.216/2001 * Institui novo modelo de tratamento para pessoas com transtornos mentais. * Incentiva tratamento em *serviços abertos e comunitários*. * Estende a atenção em saúde mental a todos os cidadãos. * Determina a *extinção progressiva dos manicômios* e sua substituição por outros recursos assistenciais. * Proíbe a construção de novos hospitais psiquiátricos públicos e a contratação de novos leitos pelo governo. Paulo Delgado – 1989: Projeto de Lei “A extinção progressiva dos manicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais”, onde ficaria proibida, em todo o território nacional, a construção de novos hospitais psiquiátricos públicos e a contratação ou financiamento, pelo setor governamental, de novos leitos em hospital psiquiátrico. 7. Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) * Os CAPS foram criados como substituição aos manicômios e hospitais psiquiátricos. * Objetivo: tratamento *fora do hospício*, sem internação prolongada, mantendo o paciente próximo de seu convívio social e familiar. Funções * Centros especializados em saúde mental. * Alternativa descentralizada para demandas psiquiátricas graves. * Atendimento para adultos, crianças, álcool e outras drogas. * Atuam especialmente em regiões com pouca estrutura hospitalar. Serviços da RAPS * CAPS. * NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família). * UBS (Unidade Básica de Saúde). * Serviços residenciais terapêuticos (SRTs). * Atenção integral em hospitais gerais. * Atendimento em urgência e emergência. * Programas de promoção de saúde e reabilitação psicossocial. Marcos Legais 1989 – Projeto de Lei: Paulo Delgado. 2001 – Lei 10.216/2001 (Lei da Reforma Psiquiátrica).