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Dissertacao_Comte_Positive_Filosofia_REVISADA (1)

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A Filosofia Positiva de Auguste Comte: Moral, Ciência e 
Humanidade 
 
Resumo 
Esta dissertação apresenta uma exposição sistemática da filosofia positiva de Auguste 
Comte, com ênfase na transição do imaginário para a observação, na natureza relativa do 
espírito positivo, no destino das leis positivas e sua função preditiva, na extensão universal 
e na invariabilidade das leis naturais, na constituição completa e estável da harmonia 
mental, bem como na harmonia entre ciência e arte, teoria e prática. Argumenta-se que a 
moral positiva é intrinsecamente social e que a humanidade, e não o indivíduo isolado, é o 
sujeito moral supremo. 
Palavras‑chave: positivismo; Auguste Comte; moral; previsão racional; leis naturais; 
ordem e progresso; humanidade. 
 
Introdução 
A filosofia positiva de Auguste Comte representa uma das mais ambiciosas tentativas de 
reorganizar o pensamento humano e a vida social a partir de bases científicas. Sua teoria 
dos três estados — teológico, metafísico e positivo — descreve a evolução do espírito 
humano rumo à maturidade intelectual. No estado positivo, a imaginação é subordinada à 
observação, e o conhecimento passa a ser construído sobre leis universais e invariáveis. 
Essa mudança não é apenas epistemológica, mas também moral e social, pois redefine o 
papel do indivíduo, da coletividade e da própria humanidade. 
1. O estado positivo e a subordinação do imaginário à observação 
O traço essencial do estado positivo é a subordinação do imaginário à observação. Só 
podemos considerar verdadeiro aquilo que pode ser comprovado pela experiência. Essa 
virada metodológica funda a ciência moderna e abre caminho para uma moral baseada em 
fatos, e não em dogmas. Ao deslocar o centro da validade do crer para o ver e o verificar, o 
positivismo transforma a linguagem de mito em instrumento crítico e preditivo. 
2. A natureza relativa do espírito positivo 
O espírito positivo não é absoluto, mas relativo: ele se adapta às circunstâncias históricas e 
ao avanço do conhecimento. As verdades científicas e morais são provisórias, abertas à 
revisão diante de novas observações. Essa relatividade garante dinamismo e evita o 
dogmatismo, permitindo que a filosofia positiva acompanhe a evolução da humanidade sem 
abdicar do rigor empírico. 
3. Superioridade social do espírito positivo 
O espírito positivo é essencialmente social. Diferente da moral individualista do antigo 
regime, Comte afirma que “o homem propriamente dito não existe; só existe a humanidade”. 
Todo desenvolvimento humano — intelectual, afetivo ou técnico — é fruto da vida em 
sociedade. A moral positiva, portanto, deve ser pensada como projeto coletivo, orientado 
pela cooperação, pela solidariedade e pelo bem comum. 
4. Organização da Revolução e a impotência das escolas atuais 
Comte reconhece a necessidade de uma revolução intelectual e moral, mas defende que ela 
deve ser organizada. As escolas de sua época, presas a dogmas e métodos ultrapassados, 
mostravam‑se impotentes para formar cidadãos preparados para a nova sociedade. A 
educação positivista deve alinhar ciência, formação moral e responsabilidade social, criando 
uma base sólida para a transformação coletiva e para a integração prática do saber. 
5. Conciliação entre ordem e progresso 
O lema positivista “Ordem e Progresso” sintetiza a conciliação entre estabilidade e 
mudança. A ordem garante coesão social; o progresso assegura evolução e aperfeiçoamento. 
O espírito positivo evita tanto o conservadorismo paralisante quanto a revolução destrutiva, 
propondo uma evolução gradual, racional e orientada por diagnóstico objetivo da realidade. 
6. O destino das leis positivas e a previsão racional 
O destino natural das leis positivas é serem formuladas com base na previsão racional. Ao 
compreender as leis que regem a natureza e a sociedade, é possível antecipar fenômenos e 
agir de forma planejada. A moral positiva, assim, não é apenas normativa, mas também 
preditiva: orienta a ação humana por meio de diagnósticos racionais das regularidades 
observáveis. 
7. Extensão universal da invariabilidade das leis naturais 
Outro princípio fundamental é a invariabilidade das leis naturais. As leis que regem os 
fenômenos são universais e constantes, aplicando‑se em qualquer tempo e lugar. Essa 
extensão universal dá ao espírito positivo base sólida para compreender tanto os 
fenômenos físicos quanto os sociais, reforçando a ideia de que a moral e a política podem e 
devem ser estudadas cientificamente. 
8. Constituição completa e estável da harmonia mental 
Comte defende a necessidade de uma constituição completa e estável da harmonia mental, 
tanto individual quanto coletiva. Trata‑se de alinhar sentimentos, pensamentos e ações de 
modo equilibrado, de forma que o indivíduo encontre paz interior e contribua para a coesão 
social. Essa harmonia torna‑se estável quando tudo é referido à humanidade, entendida 
como sujeito moral supremo. 
9. Harmonia entre ciência e arte, entre teoria e prática 
A filosofia positiva não reduz a vida à ciência. Comte valoriza a harmonia entre ciência e 
arte, entre teoria e prática. A ciência fornece o conhecimento objetivo; a arte educa os 
sentimentos; a prática transforma teoria em ação concreta. Essa integração torna o 
positivismo não apenas um método intelectual, mas também uma filosofia de vida. 
Conclusão 
A filosofia positiva de Auguste Comte propõe profunda reorganização da vida intelectual e 
social. Ao substituir a moral dogmática e individualista por uma moral positiva, social e 
racional, Comte oferece um caminho para conciliar ordem e progresso, organizar a 
revolução de forma construtiva e estabelecer um poder espiritual independente da teologia 
e da metafísica. A natureza relativa do espírito positivo, o destino das leis positivas, a 
previsão racional, a invariabilidade das leis naturais, a harmonia mental e a integração entre 
ciência, arte e prática compõem um sistema que coloca a humanidade como sujeito moral 
supremo. Assim, a moral deixa de ser um código privado e torna‑se projeto coletivo guiado 
pela razão, pela observação e pelo espírito positivo.

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