Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Estadual Paulista Faculdade de Medicina de Botucatu Departamento de Enfermagem Disciplina: Enfermagem em Doenças Transmissíveis Raiva Humana Profa Dra Rúbia de Aguiar Alencar O que é a raiva? • A raiva é uma doença que acomete mamíferos, e que pode ser transmitida aos homens, sendo portanto, uma zoonose. • É causada por um vírus mortal, tanto para os homens quanto para os animais. O que é a raiva? Em alguns países desenvolvidos, a raiva humana está erradicada e a raiva nos animais domésticos está controlada, mas ainda é efetuada vigilância epidemiológica em função dos animais silvestres. No Brasil, a raiva humana ainda faz vítimas. Mesmo no Estado de São Paulo existem regiões com epizootia (epidemia entre animais), devendo haver, principalmente por parte dos municípios, um melhor desempenho nas atividades de controle da raiva animal. Descrição da raiva: • É uma zoonose causada por vírus; • Envolve o sistema nervoso central, levando ao óbito após curta evolução da doença; • Todos os animais mamíferos são suscetíveis à doença; • A imunidade pode ser adquirida através da vacinação. Modos de transmissão • A transmissão ocorre quando o vírus da raiva existente na saliva do animal infectado penetra no organismo, através da pele ou mucosas, por mordedura, arranhadura ou lambedura, mesmo não existindo necessariamente agressão. • No Brasil, o principal animal que transmite a raiva ao homem é o cão. • O morcego hematófago é um importante transmissor da raiva, pois pode infectar bovinos, equinos e morcegos de outras espécies. Todos estes animais podem transmitir a raiva para o homem. Modos de transmissão • Forma mais comum: contato com saliva de animais doentes, através de mordeduras, arranhões ou lambeduras em pele lesada ou mucosa. - Na literatura só há referências de transmissão inter-humana através do transplante de córnea. - A fonte de infecção é o animal infectado pelo vírus da raiva. Em espaços urbanos, o principal transmissor é o cão, seguido do gato. Em espaços rurais é o morcego. - Animais silvestres são os reservatórios naturais do vírus, propiciando a contaminação de animais domésticos. Período de incubação • No homem, varia de 2 a 10 semanas, em média 45 dias. Porém, há relato na literatura mencionando um período de incubação de até 6 anos. • Depende da quantidade de vírus inoculado, proximidade do sistema nervoso central e gravidade da lesão. Em animais silvestres este período é bastante variável, não havendo definição clara para a grande maioria deles. Sinais indicativos da raiva • Variam conforme a espécie. Quando a doença acomete animais carnívoros, com maior frequência eles se tornam agressivos (raiva furiosa) e, quando ocorre em animais herbívoros, sua manifestação é a de uma paralisia (raiva paralítica). • Nos cães, o latido torna-se diferente do normal, parecendo um "uivo rouco", e os morcegos, com a mudança de hábito, podem ser encontrados durante o dia, em hora e locais não habituais. Sinais indicativos da raiva • No entanto, em todos animais costumam ocorrer os seguintes sintomas: - dificuldade para engolir - salivação abundante - mudança de comportamento - mudança de hábitos alimentares - mudança de hábitos - paralisia das patas traseiras Sinais indicativos da raiva Quadro clínico - raiva furiosa (canina e felina) Fase inicial: alterações de comportamento, agitação, anorexia. • Em 1 a 3 dias, os sintomas acentuam-se. • O animal torna-se mais agressivo, atacando o próprio dono. Não apresenta coordenação motora, paralisia dos músculos da deglutição e da mandíbula (salivação e dificuldade de deglutição). • Pode caminhar grandes distâncias. • O latido anormal é um sinal importante. A duração da doença é de 1 a 11 dias. • O animal morre por convulsões e paralisia. Fisiopatologia • A transmissão ocorre quando o vírus contido na saliva e secreções do animal infectado penetra no tecido, principalmente através de mordedura e, mais raramente, pela arranhadura e lambedura de mucosas e/ou pele lesionada. Em seguida, multiplica-se no ponto de inoculação, atinge o sistema nervoso periférico e migra para o SNC protegido pela camada de mielina. • O vírus da raiva e neurotrópico e sua ação no sistema nervoso central – SNC causa quadro clínico característico de encefalomielite aguda, decorrente da sua replicação viral nos neurônios. Evite - Tocar em animais estranhos, feridos e doentes. - Perturbar animais quando estiverem comendo, bebendo ou dormindo. - Separar animais que estejam brigando. - Entrar em grutas ou furnas e tocar em qualquer tipo de morcego (vivo ou morto). - Criar animais silvestres ou tirá-los de seu "habitat" natural. O que fazer quando agredido por um animal, mesmo se ele estiver vacinado contra a raiva - Lavar imediatamente o ferimento com água e sabão. - Procurar com urgência o Serviço de Saúde mais próximo. - Não matar o animal, e sim deixá-lo em observação durante 10 dias, para que se possa identificar qualquer sinal indicativo da raiva. - O animal deverá receber água e alimentação normalmente, num local seguro, para que não possa fugir ou atacar outras pessoas ou animais. - Se o animal adoecer, morrer, desaparecer ou mudar de comportamento, voltar imediatamente ao Serviço de Saúde. - Nunca interromper o tratamento preventivo sem ordens médicas. - Quando um animal apresentar comportamento diferente, mesmo que ele não tenha agredido ninguém, não o mate e procure o Serviço de Saúde. Distribuição da raiva - Tem ocorrência quase universal. - Atualmente erradicada em algumas ilhas, como Japão, Reino Unido, Havaí e algumas ilhas do pacífico. - O único continente livre da doença é a Oceania. - Na Europa, a principal fonte de infecção é a raposa. - Nos Estados Unidos e Canadá, é encontrada em animais silvestres. - Na América Latina, Caribe, África e Ásia, o ciclo predominante é o urbano, onde o cão é o principal transmissor. Dosagem de anticorpos anti-rábicos humanos • O Instituto Pasteur realiza avaliação sorológica, que é obrigatória para todas as pessoas submetidas ao tratamento profilático pré-exposição. • Deve ser realizada a partir do 10º dia da administração da última dose da vacina. Somente títulos iguais ou acima de 0,5 UI/mL de anticorpos neutralizantes são satisfatórios. • A avaliação sorológica deve ser repetida semestralmente ou anualmente, de acordo com a intensidade e/ou gravidade de risco a que está exposto o profissional. • Pessoas com exposição continuada, como pesquisadores, profissionais de laboratório que manipulam o vírus e veterinários que atuam em áreas de epizootia, devem ser avaliadas semestralmente. Dosagem de anticorpos anti-rábicos humanos • Profissionais com menor risco de exposição, como os que só trabalham nas campanhas anuais de vacinação contra a raiva, devem ser avaliados anualmente. • Uma dose de reforço deve ser aplicada, caso o título seja inferior a 0,5 UI/mL, repetindo-se 20 dias após a avaliação sorológica. • Ninguém deve ser exposto conscientemente a riscos, sem a confirmação sorológica de títulos iguais ou superiores a 0,5 UI/mL Produtos Vacina: Vacina de cultivo celular. São vacinas potentese seguras, produzidas em cultura de células (diploides humanas, células vero, células de embrião de galinha etc.) e apresentadas sob a forma liofilizada, acompanhadas de diluente. Soro (heterólogo) anti-rábico de origem eqüina (SAR). Imunoglobulina humana (homólogo) anti-rábica (IGHAR). Pré-exposição Vacinas de vírus inativados preparada sobre célula vero - 3 doses, nos dias 0, 7 e 28. • 0,5ml • Via = Intramuscular • Local = terço médio do vasto lateral da coxa (para menores de 2 anos) ou no deltoide, acima de 2 anos. • Nota - É necessário o controle sorológico a partir do 10º dia após a última dose. São considerados satisfatórios os resultados iguais ou superiores a 0,5 UI/mL de anticorpos neutralizantes. Agendamento Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado 1 2 3 (dia 0) 4 5 6 7 8 9 10 (dia 7) 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado 1 (dia 28) 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Pós-exposição É de fundamental importância lavar os ferimentos, o mais rapidamente possível, com água e sabão. Não é recomendável suturar as lesões; no entanto, caso haja necessidade, e o soro anti-rábico estiver indicado, a infiltração do soro deve anteceder a sutura em pelo menos 30 minutos. Pós-exposição A escolha do esquema para a profilaxia da raiva pós-exposição, indicada no Quadro 1, depende de: • espécie e condição do animal agressor • circunstância da agressão • situação da raiva na área geográfica de ocorrência do acidente • natureza da lesão • possibilidade de observação do animal agressor, no caso de cão ou gato, por 10 dias • resultado do exame laboratorial do cérebro do animal agressor, quando possível • história de imunização anterior da pessoa agredida Pós-exposição Classificação do acidente O acidente deve ser classificado como leve caracterizado por: • ferimento superficial no tronco, membros, exceto mãos e pés. • lambedura de lesões superficiais. O acidente deve ser classificado como grave quando caracterizado por: • ferimento em mucosas, no segmento cefálico, mas mãos e pés. • ferimento profundo, mesmo que puntiforme • ferimentos múltiplos ou extensos, em qualquer região do corpo; • lambedura de lesões profundas ou de mucosas, mesmo que intactas • ferimento por morcego, independente do local, da extensão e profundidade. • No caso de ferimento leve, a profilaxia é realizada apenas com a vacina. • Nos casos de acidente grave, a profilaxia é realizada com vacina, SAR ou IGHAR. Pós-exposição • 1. Esquema de duas doses de vacina (quando se consegue observar o animal por 10 dias) – 2 doses: nos dias 0 e 3. • 2. Esquema de vacinação – 5 doses: nos dias 0, 3, 7, 14 e 28. • 3. Esquema de soro-vacinação – 5 doses: nos dias 0, 3, 7, 14 e 28. Aplicar o soro anti-rábico no primeiro dia de tratamento (dia zero). Vacina • Composição: vírus da raiva inativado, cepa WISTAR PM/WI 38-1503-3M cultivados sobre células vero. • Apresentação: 1 ampola com liófilo e 1 ampola com diluente. • Aplicar via IM. Volume: 0,5 ml (dependendo do laboratório produtor), por via intramuscular; no vasto lateral da coxa, em crianças menores de dois anos, ou no deltoide acima desta faixa etária. • Frasco de dose única. Conservar entre 2 a 8°C. • Agulha 20x5,5; 25x7; 30x7. Seringa de 3ml. • 0,1 mL por via intradérmica; somente em esquemas de pré-exposição e com vacinas produzidas em cultivo celular (mas não com as produzidas em embrião de pato). Contra- indicação: • Em virtude da evolução fatal da infecção pelo vírus rábico, a profilaxia pós-exposição não apresenta contraindicação. • Em caso de vacinação preventiva (profilaxia pré-exposição): - Hipersensibilidade a qualquer componente da vacina. - Estado febril e doença infecciosa aguda, uma vez que os sintomas da doença podem ser confundidos com eventuais eventos adversos da vacina. - Doença infecciosa aguda. - Doença aguda ou crônica em evolução. - Gravidez (vide item 'Uso na gravidez e lactação'). Reações Adversas • Em geral, de intensidade leve e tendem desaparecer espontaneamente em 48 horas. • Reações locais benignas, tais como, dor, eritema, enduração e prurido foram relatadas mais frequentemente, persistindo por 1 a 2 dias. • Também foram relatadas, com incidência menos frequente, reações sistêmicas como: febre moderada, cefaleia , mialgia, astenia , desconforto generalizado e linfadenopatia . • A ocorrência de anafilaxia é rara. Além disso, foram descritos raros casos de alterações neurológicas cujas causas não foram bem estabelecidas. • Soro anti-rábico: 40 UI/kg de peso. • Imunoglobulina humana anti-rábica: 20 UI/kg de peso. • O volume total, ou o máximo possível, do soro anti-rábico ou imunoglobulina humana antirábica, deve ser infiltrado na região do ferimento; se for necessário (por exemplo, ferimentos múltiplos), diluir com soro fisiológico para permitir a infiltração de toda área lesada. • Se a lesão for pequena, infiltrar o maior volume possível e aplicar o restante por via intramuscular, em uma ou mais injeções, podendo ser utilizada a região glútea • Nota: Aplicar o soro em locais com infraestrutura para atendimento de quadro de choque anafilático. • Nota: Manter o paciente em observação pelo período mínimo de duas horas após a administração do soro. • Nota: Interrogar o paciente sobre quadros de hipersensibilidade, uso prévio de imunoglobulinas de origem animal e contatos frequentes com animais, principalmente equídeos, o que aumentaria o risco de hipersensibilidade. No caso de resposta positiva, substituir o soro pela imunoglobulina humana anti- rábica, se disponível. • Nota: Se o soro não for administrado no início da vacinação (dia zero), deve-se aplicá-lo assim que possível. Não se deve utilizar a mesma agulha e/ou seringa para a aplicação do soro (ou imunoglobulina) e vacina. Nunca aplicar o soro (ou imunoglobulina) e a vacina em regiões anatomicamente próximas. Referência • Site do Instituto Pasteur – Secretaria de Estado de Saúde - SP http://www.saude.sp.gov.br/instituto-pasteur Raiva on-line (Instituto Pasteur) http://www.pasteur.saude.sp.gov.br/online/online.htm Manual Técnico do Instituto Pasteur. http://www.saude.sp.gov.br/resources/instituto- pasteur/pdf/manuais/manual_08.pdf Portal Saúde – Raiva http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o- ministerio/principal/secretarias/svs/raiva
Compartilhar