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1. INTRODUÇÃO Hinselmann, pioneiro da colposcopia na Alemanha, publicou o primeiro artigo sobre esta técnica em 1925, tendo descrito as prin- cipais lesões benignas e malignas do colo do útero1. Durante a vida o seu trabalho foi pouco valorizado, e pode dizer-se que a im- portância da colposcopia só se generalizou na década de 1970. A colposcopia é uma técnica baseada na ex- ploração amplificada dos epitélios do colo do útero, vagina e vulva, cujo objectivo fun- damental é diagnosticar as lesões invasivas ou precursoras de cancro. Como ocorre com a maioria das técnicas de imagem, o seu ren- dimento varia em função do grau de experi- ência e treino do observador. A identificação de características subtis não observáveis à vista desarmada, que são expressão de alte- rações patológicas, permite valorizar o grau de anormalidade dos tecidos, bem como a morfologia e topografia das lesões, e realizar biopsias nas áreas suspeitas. A biopsia dirigida colposcopicamente per- mite confirmar o diagnóstico antes de efec- tuar o tratamento definitivo, e é considerada o gold standard nesta patologia. 2. BASES HISTOLÓGICAS E FUNDAMENTOS DA COLPOSCOPIA A histologia é o substrato das imagens col- poscópicas. Para entender o significado das imagens e valorizar as possíveis limitações da técnica, é imprescindível conhecer os diferentes quadros histológicos do colo do útero, normais e patológicos, e os seus me- canismos etiopatogénicos. A luz que incide sobre o epitélio penetra atra- vés dele até ao estroma. A coloração da luz reflectida está relacionada com a vasculari- zação do estroma e a espessura do epitélio, que actuam como um filtro à passagem da luz. Uma coloração branca deve-se à existên- cia de alterações epiteliais, que impedem a passagem da luz até ao estroma. É um sinal pouco específico, que pode ser provocado por diversas situações clínicas: — Paraqueratose ou hiperqueratose. — Acantose. — Aumento da densidade nuclear. — Infiltração inflamatória do estroma. É, no entanto, muito útil pois permite delimi- tar com toda a precisão a área anormal. Na história natural dos tumores epiteliais ma- lignos há duas fases bem diferenciadas: — Na primeira fase, ou intra-epitelial, as célu- las neoplásicas mostram um aumento da sua densidade nuclear. O crescimento é lento, linear, já que a taxa de proliferação se equilibra com a taxa de morte celular ou apoptose, podendo persistir assim durante meses ou anos, e carecem de potencial metastático. — A segunda fase, angiogénica, é provo- cada pela maior expressão dos factores de crescimento do endotélio vascular. Caracteriza-se pelo crescimento celular rápido, exponencial, pela capacidade de invasão e produção de metástases. 341 Colposcopia José Maria Moutinho 41 Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 342 Capítulo 41 A colposcopia permite diferenciar estas duas fases: — A intra-epitelial traduz-se pela observa- ção de lesões de cor branca, com ima- gens de mosaico e/ou ponteado, caso as alterações epiteliais se acompanhem de papilas vascularizadas do estroma. Caso haja envolvimento das criptas glandu- lares, observam-se orifícios glandulares com anéis brancos ou gotas brancas. — A segunda fase, angiogénica, traduz-se pela observação de uma vascularização irregular ou atípica, que constitui um si- nal colposcópico bem conhecido, carac- terístico do aparecimento de uma lesão mais grave. A colposcopia é muito sensível na detecção das lesões precursoras do cancro do colo. No entanto, é pouco específica, dado que as imagens colposcópicas anormais nem sem- pre correspondem a lesões intra-epiteliais. Este facto é muito importante na decisão terapêutica, pois a sua ignorância conduz frequentemente a overtreatment. O exame colposcópico fornece informação arquitectu- ral do epitélio, e para cada imagem anormal existem graus que vão desde alterações míni- mas até alterações fortemente significativas. A colposcopia constitui hoje uma técnica de eleição para a confirmação diagnóstica de uma suspeita de lesão do colo do útero (p. ex. citologia anormal), sendo insubstituível no protocolo de diagnóstico e tratamento das le- sões intra-epiteliais e precocemente invasivas do tracto genital inferior. O diagnóstico final deve sempre integrar a informação clínica e colposcópica, juntamente com os resultados laboratoriais (citologia, histologia, detecção de vírus do papiloma humano [HPV], etc.). 3. INDICAÇÕES DA COLPOSCOPIA A disponibilidade da colposcopia e o grau de formação, variáveis segundo as circunstâncias locais, têm condicionado distintas indicações da técnica em diferentes regiões. Em alguns países europeus e latino-americanos, a col- poscopia faz parte do exame ginecológico habitual, enquanto na maioria dos países an- glo-saxónicos está reservada exclusivamente para mulheres com citologia anormal2. As indicações para realizar uma colposcopia são de natureza citológica ou clínica. Está bem es- tabelecido que não tem nenhuma indicação como método de rastreio populacional. 3.1. INDICAÇÕES CITOLÓGICAS — Células escamosas atípicas de significa- do indeterminado (ASC-US) com teste HPV positivo. — Lesões escamosas intra-epiteliais de bai- xo grau (LSIL), células escamosas atípicas não se podendo excluir a presença de al- terações citológicas de alto grau (ASC-H), alterações citológicas de alto grau (HSIL) ou cancro. — Células glandulares atípicas (AGC), AGC, adenocarcinoma in situ (AIS) ou adeno- carcinoma (ADC). — Citologias repetidamente inflamatórias (≥ 3). 3.2. INDICAÇÕES CLÍNICAS — Mulheres > 35 anos e ADN para o papilo- ma vírus de alto risco (HPV-AR) persisten- temente positivo (> 1 ano). — Seguimento de mulheres com citologia LSIL ou biópsia que revela neoplasia in- trepitelial de baixo grau (CIN1) — Seguimento de lesão escamosa intra- epitelial (SIL) na gravidez. — Seguimento após tratamento de neopla- sia intra-epitelial do colo do útero (CIN) ou cancro. — Colo clinicamente suspeito com citologia normal. — Hemorragias irregulares ou coitorragias. — Avaliação de lesões da vagina, vulva ou ânus. — Como parte do estudo em doentes com neoplasia intra-epitelial da vulva (VIN), e da vagina (VAIN). Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 343Colposcopia — Como parte do estudo em doentes po- sitivas para o vírus da imunodeficiência humana (VIH). 4. OBJECTIVOS DA COLPOSCOPIA Na avaliação diagnóstica de um teste de ras- treio anormal (p. ex. citologia), ou perante uma lesão suspeita, a colposcopia tem por finalidade: — Visualizar colo, vagina, vulva e área peria- nal. — Identificar junção escamocolunar e zona de transformação (ZT). — Determinar se a exploração é satisfatória ou insatisfatória. — Identificar e valorizar as características lesionais (tamanho, bordos, contornos, localização e extensão). — Valorizar adequadamente o canal cervical. — Identificar lesões mais significativas e reali- zar biopsias orientadas pelo colposcópio. — Afastar a invasão. — Diagnosticar neoplasias multicêntricas. — Correlacionar os resultados de impres- são colposcópica, citológica e histologia da biopsia. — Estabelecer um plano terapêutico. — Comunicar o resultado à doente. 5. O EXAME COLPOSCÓPICO 5.1. O COLPOSCÓPIO O colposcópio é um microscópio binocular constituído por um sistema de amplifica-ção óptica variável, e uma poderosa fonte de luz. É usado para examinar a superfície do colo e vagina. A imagem colposcópica reflecte a aparência do tecido conjuntivo, visto através de um filtro formado pela ca- mada epitelial. É modificada pelas alterações na vascularização e estrutura do estroma, e pelas alterações fisiológicas e patológicas da mucosa. O epitélio escamoso normal forma um filtro incolor que reflecte a luz incidente. A vascularização do estroma é responsável pela coloração rosada, que é modificada pela espessura do epitélio escamoso ou por alterações degenerativas na sua arquitectu- ra e densidade. O epitélio glandular, fino e transparente, aparece com uma coloração avermelhada. A amplificação usada no colposcópio pode variar de 4 a 50x. Na prática, a mais usada si- tua-se entre 10-15x. Quanto mais alta a am- plificação, mais pequena é a área examinada. Com baixa amplificação todo o colo e fórnix vaginais podem ser visualizados. As mais elevadas amplificações são usadas somente para examinar pormenores específicos, es- pecialmente vasculares. A distância focal óp- tima dum colposcópio é de 300 a 350 mm, de modo a permitir uma visualização focal dos instrumentos e aplicar com facilidade as diversas formas de terapêutica, sem prejudi- car a visualização. A existência de um filtro verde entre a fonte de luz e a lente pode ser útil no estudo dos vasos, uma vez que estes ficam com uma aparência preta devido à ab- sorção da luz vermelha. Existem múltiplos modelos de colposcópio. Os pontos essenciais na sua escolha devem ser a qualidade óptica, a fonte de luz, a faci- lidade de focagem e de alteração da ampli- ficação, a estabilidade de todo o sistema, e uma adequada distância focal. 5.2. TÉCNICA DE COLPOSCOPIA Numa mulher pré-menopáusica, o exame pode ser executado em qualquer fase do ci- clo menstrual, mas a execução em condições óptimas é feita durante a fase estrogénica. Em doentes com epitélio cervical atrófico ou cervicovaginites, o exame deve ser realizado após uma terapêutica estrogénica ou tra- tamento antibiótico. A situação ideal é não realizar uma citologia antes de um exame colposcópico, pois pode causar erosões da mucosa e hemorragia, prejudicando o exa- me do endocolo. Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 344 Capítulo 41 5.3. EXAME INICIAL Após exame da vulva, é inserido um espéculo apropriado, tendo cuidado para não provo- car lesões no colo. Antes de aplicar qualquer produto, devem ser avaliadas a aparência do muco cervical e a presença de sangue ou corrimento. Após limpeza do cérvix com soro fisiológico e remover qualquer excesso de muco cervical, o exame deve começar com uma baixa ampliação. Isto permite a visuali- zação do colo revestido por um epitélio liso e rosado. Algumas anormalidades podem já ser aparentes na forma de áreas vermelhas, localizadas ou difusas, lesões brancas (leuco- plasias) ou superfícies de contorno irregular. O filtro verde pode ser usado nesta fase para facilitar o exame da vascularização. 5.4. TESTE DO ÁCIDO ACÉTICO É a parte fundamental do exame colposcópi- co. Consiste na aplicação de ácido acético a 3 ou 5% no cérvix. O ácido acético a 5% tem um efeito mais rápido, mas algumas vezes causa sensação de ardência. Esta aplicação não afec- ta o epitélio escamoso normal, que continua de aspecto liso e coloração rosada. No entanto, no epitélio glandular faz aparecer com nitidez as suas vilosidades, com aparência em cacho e com discreto esbranquiçado. Entre o epitélio escamoso e o cilíndrico aparece uma área de junção, que apresenta um transitório bordo es- branquiçado (Fig. 1). Uma reacção acetobranca também ocorre quando o epitélio escamoso é anormal. O ácido acético provoca edema dos tecidos e coagulação superficial das proteínas intracelulares, reduzindo a transparência do epitélio. O branqueamento geralmente ocorre passado cerca de um minuto e desaparece en- tre um e dois minutos. Pode ser reproduzido pela aplicação de ácido acético. A sua duração e intensidade aumentam com o grau de atipia celular, devido a uma alta concentração nucle- ar e de filamentos queratínicos. A sua tonalida- de aumenta com a gravidade das anormalida- des epiteliais, indo desde o branco brilhante ao branco opaco acinzentado (muitas vezes descrito como branco-ostra). O exame colposcópico completo requer a observação do epitélio escamoso original, toda a ZT, a junção escamocolunar, e parte do epitélio glandular. A localização da junção escamocolunar é o passo diagnóstico mais importante na interpretação colposcópica. Sempre que esta seja inteiramente visível e consequentemente toda a ZT, a colposcopia é satisfatória. Quando a junção escamocolunar não é visível, ou é visível apenas uma parte (p. ex. caso o limite interno ou endocervical dum epitélio escamoso normal ou atípico não seja observável), a colposcopia é insatisfatória. 5.5. TESTE DE SCHILLER Consiste na aplicação de Lugol (solução io- dada a 1%, formada por 2 g de iodo e 4 g de iodeto de potássio, diluídos em 200 ml de água destilada). Provoca uma coloração acastanhada escura do epitélio escamoso normal (Figura 2). A intensidade da colora- Figura 1. Zona de transformação normal. Epitélio esca- moso metaplásico situado entre a junção escamocolu- nar original e a nova junção. Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 345Colposcopia ção é proporcional à concentração em glico- génio das camadas superficiais da mucosa. A solução de Lugol cora o epitélio escamoso maduro, mas não cora as células com pouco ou nenhum glicogénio (p. ex. epitélio esca- moso atrófico, imaturo, displásico, epitélio glandular, áreas ulceradas sem cobertura por epitélio escamoso). A coloração é transi- tória e desaparece ao fim de 10 minutos. O teste de Schiller não é um teste específico. São comuns os falsos positivos e falsos ne- gativos. Apesar de tudo, é um bom método para demarcar áreas anormais, particular- mente quando o colo vai ser submetido a um acto terapêutico. 5.6. BIOPSIA COLPOSCÓPICA As biopsias são realizadas sob orientação colposcópica, após localização das áreas de maior anormalidade. Recomenda-se que várias biopsias sejam realizadas nas diver- sas áreas anormais. Geralmente a hemosta- se aparece de modo espontâneo. Por vezes uma hemorragia maior pode exigir com- pressão, aplicação de solução de Monsel, ou ainda utilização de coagulação diatérmica (nestes casos após anestesia local). Quando é difícil obter uma biopsia adequa- da com pinça, a técnica preferida é uma exci- são limitada com ansa diatérmica. 5.7. AVALIAÇÃO DO ENDOCÉRVIX (PINÇA DE KOGAN OU DESJARDINS) A parte mais difícil do exame colposcópico é o exame do canal endocervical. Se a junção escamocolunar é visível, então uma obser- vação parcial do canal pode ser suficiente: é invulgar encontrar lesões endocervicais dis- tantes da junção. As dificuldades aparecem quando a junção escamocolunar não é visível, ou quando a citologia sugere lesão glandular. O exame do endocérvix pode ser dificultado por um muco opaco, espesso ou infectado. Neste caso pode ser necessário diferir a col- poscopia, até que melhores condições sejam adquiridas. Os estrogénios tornam o muco mais aquoso e transparente, e o orifício cer- vical torna-se mais aberto, facilitandoassim a observação do canal endocervical. Se mesmo assim a visibilidade não é suficiente, pode- mos aplicar uma pressão no lábio anterior e/ ou posterior do colo, ou usar um espéculo de canal (pinça de Kogan ou desJardins). Quando o limite superior duma ZT normal não é visível, ou quando há suspeita de lesão glandular, pode ser acrescentada uma cure- tagem do canal endocervical ou uma citolo- gia do endocolo3-5. Deve haver atenção para o facto de que na colposcopia insatisfatória esta técnica pode não diagnosticar uma CIN de alto grau ou um carcinoma microinvasor4-9. Deste modo, perante uma elevada suspeição de lesão importante pode ser necessário rea- lizar uma conização diagnóstica. 5.8. EXAME DA VAGINA A inspecção da vagina faz parte da rotina de um exame colposcópico. É executada após o exame do colo. Depois da observação das pa- redes laterais, devem ser avaliadas as paredes Figura 2. O epitélio colunar é iodo negativo. Zona de transformação normal identificável por uma incomple- ta coloração da nova junção escamocolunar. Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 346 Capítulo 41 anterior e posterior aquando da retirada lenta do espéculo. O exame é relativamente lento e dificultado pelas pregas vaginais. A avaliação deve ser repetida após aplicação de ácido acé- tico a 3% e de Lugol. O teste de Schiller é parti- cularmente importante, uma vez que as áreas iodo-negativas são mais fáceis de identificar na mucosa vaginal do que as lesões aceto- brancas, as quais são muitas vezes discretas e podem ser escondidas pelas pregas vaginais. 5.9. REGISTO DOS ACHADOS COLPOSCÓPICOS Uma vez completado o exame colposcópico, é essencial que todas as observações sejam adequadamente registadas. É fundamental mostrar claramente a localização da junção escamocolunar, a natureza e topografia das lesões, e os locais de realização das biopsias. Hoje existem vários programas computori- zados que permitem o registo completo do exame colposcópico, incluindo o arquivo de imagens. Para além de uniformizarem os registos, permitem auditorias internas e ex- ternas, e auto-avaliação dos elementos da unidade de patologia cervical. O programa de rastreio da Administração Re- gional de Saúde (ARS) Norte utiliza o software SIIMA Rastreio, representado nos quadros 1 a 3. 6. IMAGENS COLPOSCÓPICAS O colo do útero tem dois tipos de epitélio: o epitélio escamoso, que cobre o exocérvix e se estende para a vagina, e o epitélio colunar que reveste o canal cervical. A junção esca- mocolunar separa os dois epitélios. 6.1. EPITÉLIO ESCAMOSO ORIGINAL Este epitélio desenvolve-se durante a orga- nogénese. Reveste a vagina e uma parte im- portante do exocolo. No colo apresenta uma superfície regular lisa, com coloração rosada (Fig. 1). Esta aparência não é modificada pela aplicação do ácido acético. A rede capilar (constituída por vasos paralelos à superfície) raramente é visível, apenas se torna aparente em caso de atipia ou inflamação do epitélio. Quadro 1. SIIMA Rastreio Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 347Colposcopia Quadro 2. SIIMA Rastreio Quadro 3. SIIMA Rastreio Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 348 Capítulo 41 6.2. EPITÉLIO COLUNAR É um epitélio constituído apenas por uma camada celular, mucossecretora, situada entre a junção escamocolunar e o endomé- trio. Na colposcopia, a sua superfície apare- ce algo irregular, constituída por vilosidades papilares, muitas vezes separadas por pro- fundas fendas (Fig. 3). Este epitélio forma um filtro transparente mais fino que o epi- télio escamoso, e apresenta uma coloração avermelhada originada pela vascularização subjacente. O tecido conjuntivo de cada vilosidade contém uma ansa capilar, clara- mente visível em ampliações muito altas. Após aplicação do ácido acético, as vilosi- dades tornam-se mais proeminentes e dis- tintas, com um discreto embranquecimento da sua superfície. 6.3. JUNÇÃO ESCAMOCOLUNAR A junção escamocolunar é o nome dado ao bordo visível onde o epitélio escamoso e o glandular entram em contacto (Fig. 1). Só raramente corresponde ao orifício cervical externo. Nas raparigas na pré-puberda- de e adolescentes situa-se geralmente no exocérvix, permitindo visualizar uma área extensa do epitélio colunar. Isto constitui uma ectopia ou ectrópio. Nas mulheres adultas, o epitélio colunar evertido é trans- formado em epitélio escamoso metaplási- co, e por isso a junção escamocolunar tem uma localização mais cefálica. Em mulhe- res pós-menopáusicas pode estar situada de tal maneira alta no canal cervical, que se torna invisível. 6.4. ZONA DE TRANSFORMAÇÃO A ZT constitui a parte do cérvix revestida por epitélio escamoso metaplásico, que subs- tituiu o epitélio colunar. Está situada entre os bordos formados pelo epitélio escamoso original e a nova junção escamocolunar. O processo fisiológico de transformação do epitélio colunar em epitélio escamoso é de- terminado por diferentes factores ainda mal compreendidos. No entanto, sabe-se que a exposição ao meio ácido vaginal constitui o principal estímulo de transformação do epitélio colunar em epitélio escamoso. A aparência e extensão da ZT são variáveis. A metaplasia é gradual e mais ou menos mar- cada. Desenvolve-se muitas vezes como pe- quenas línguas de epitélio metaplásico que se misturam com ilhotas de epitélio colunar, ou pode variar em tamanho em áreas de epitélio colunar restante (Figs. 4 a 6). Quan- do o epitélio metaplásico cobre a abertura das criptas glandulares subjacentes o muco é incapaz de sair, formando os quistos de retenção – designados como quistos de Na- both (Fig. 7). A ZT é geralmente fácil de reconhecer. No entanto, a aparência do epitélio metaplási- co maduro difere muito pouco da aparência do epitélio escamoso original, excepto pela presença de orifícios glandulares, quistos de Naboth e vasos irregulares que aparecem debaixo do epitélio dos quistos mucinosos. Figura 3. Após a aplicação do ácido acético, o epitélio cilíndrico mostra as suas características. Na periferia do epitélio cilíndrico zona de transformação normal. Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 349Colposcopia O epitélio metaplásico imaturo, geralmen- te encontrado no ponto de contacto com a junção escamocolunar, pode apresentar aspectos mais complexos. Este epitélio hi- perémico, acetobranco e iodonegativo, é muito semelhante ao apresentado nas zo- nas de transformação anormal. A matura- ção incompleta usualmente é temporária, mas em certas condições pode persistir e progredir para CIN. 6.5. ZONA DE TRANSFORMAÇÃO CONGÉNITA A ZT congénita é uma área de epitélio metaplásico provavelmente formado duran- te a vida intra-uterina ou na infância. Está si- tuada para fora duma ZT mais recente. Mui- tas vezes é enorme e estende-se largamente pelo colo até aos fórnix vaginaisou paredes vaginais, especialmente anterior e posterior. Figura 4. Zona de transformação normal. Numerosas glândulas abertas. Superfície lisa apesar de zona de transformação incompleta. Figura 5. Zona de transformação incompleta, envol- vendo o lábio anterior. Epitélio metaplásico estende- se centralmente a partir da periferia interdigitando-se com ilhas de epitélio colunar. Figura 6. Zona de transformação normal. Embora a cor do novo epitélio escamoso seja quase igual à do epité- lio original, o limite da ZT está marcado por finos vasos sanguíneos. A nova junção escamocolunar aparece bem marcada. Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 350 Capítulo 41 É constituída por um epitélio não glicogena- do, que apresenta uma maturação incom- pleta. Este epitélio acantótico é difícil de distinguir de um epitélio atípico. Por vezes apresenta uma reacção acetobranca intensa. As anormalidades vasculares são comuns e aparecem na forma de mosaicos ou pontea- dos finos. A coloração pelo iodo é negativa e não tem uma estrutura glandular. 6.6. EPITÉLIO ATRÓFICO É fino e frágil pelo que qualquer pequena agressão pode causar petéquias, hemorragia ou erosão da sua superfície. A palidez do epi- télio pós-menopáusico pode simular uma re- acção acetobranca. A rede capilar superficial é facilmente observada, e apresenta-se fina e regular. A coloração pelo iodo é negativa. Todas estas aparências podem desaparecer após a terapêutica estrogénica (Fig. 8). 6.7. ZONA DE TRANSFORMAÇÃO ANORMAL Geralmente a metaplasia leva à formação de uma ZT normal, constituindo um epité- lio escamoso metaplásico maduro. Este e o epitélio escamoso original apresentam-se bem diferenciados, e podemos dizer que têm um baixo risco ou ausência de risco de desenvolvimento neoplásico. Pode-se for- mar uma lesão pré-cancerosa se houver um processo metaplásico atípico na ZT. A evo- lução das células metaplásicas é variável. Podem regredir, persistir, ou evoluir para CIN ou cancro. A metaplasia atípica apre- senta distintos aspectos colposcópicos, de gravidade variável, que são característicos da ZT anormal. As características colposcópicas mais im- portantes da ZT anormal são: as alterações acetobrancas, os modelos vasculares, a for- Figura 7. Zona de transformação normal. Quistos de Naboth. Rede vascular típica. Figura 8. Epitélio escamoso atrófico. Rede vascular normal. Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 351Colposcopia ma da superfície, a ausência de coloração pela solução de Lugol e a leucoplasia. 6.7.1. EPITÉLIO ACETOBRANCO Este epitélio que aparece nas ZT anormais inclui áreas de variada demarcação, algu- mas vezes queratinizada na superfície, e que cora de branco ou branco acinzentado, após aplicação do ácido acético. A reacção aceto- branca varia em intensidade e duração. Uma mancha branca brilhante, leve e lentamente formada, é associada geralmente a lesões minor (Figs. 9 e 10). Nas lesões de alto grau a coloração é intensa, rápida, menos brilhan- te, dando origem a um branco acinzentado, muitas vezes designado como branco-ostra (Figs. 11 e 12). Em alguns casos de CIN os vasos não são visíveis debaixo do epitélio espessado, noutros casos, quando os vasos estão dilatados e proliferados anormalmen- te, a congestão localizada do estroma tem expressão colposcópica nos modelos vascu- lares característicos. Figura 9. Mosaico fino no lábio anterior. A histologia mostrou epitélio acantótico. Figura 10. Zona de transformação atípica com altera- ções minor. Epitélio acetobranco. Numerosas aberturas glandulares. A histologia revelou um CIN1. Figura 11. Zona de transformação atípica com alterações major. Epitélio acetobranco no lábio posterior e no lábio anterior, entre as 11 e 13 horas. Aberturas glandulares em gotas de cera. A histologia revelou um CIN3. Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 352 Capítulo 41 6.7.2. MODELOS VASCULARES O ponteado ocorre quando os capilares do estroma cruzam o epitélio perpendicular- mente. Este aspecto pode variar em impor- tância, dependendo da gravidade das lesões. Nas lesões de alto grau o ponteado é irre- gular, grosseiro, e apresenta-se com distân- cia intercapilar aumentada. O mosaico con- siste numa rede capilar, que separa blocos de epitélio acetobranco de variado tama- nho e regularidade. O mosaico grosseiro e irregular, com vasos dilatados de diferentes calibres e distância intercapilar aumentada, está associado às lesões de alto grau (Fig. 13). Os vasos atípicos sugerem sempre le- sões mais graves, e são aspectos que levam à suspeita da existência de invasão. Carac- terizam-se pela súbita alteração de calibre, variações abruptas no seu curso, e padrões de divisão irregular. 6.7.3. SUPERFÍCIE Os bordos das áreas epiteliais anormais são variáveis. São geralmente indistintos nas lesões minor. Pelo contrário, nas lesões de alto grau os bordos são bem marcados, as margens subidas, e existem muitas vezes limites internos entre as diversas áreas ace- tobrancas (Figs. 14 e 15). A superfície pode ser modificada pelas diferentes alterações degenerativas, que tomam uma aparência micropapilar ou projecção exofítica. Uma su- perfície ligeiramente subida, irregular, com pregas ou pequenas saliências, constitui uma suspeita de invasão. 6.7.4. TESTE DE SCHILLER Algumas lesões minor, principalmente as re- lacionadas com a infecção pelo HPV, podem apresentar uma coloração pelo iodo hetero- génea e pouco intensa, dando muitas vezes o chamado aspecto de mosaico ou ponteado invertido. Nas lesões de alto grau, a ausência de glicogénio está associada à ausência de coloração (Fig. 15). Figura 12. Mesmo caso da figura 11, após aplicação de Lugol. Figura 13. Zona de transformação atípica com altera- ções major. Mosaico e ponteado grosseiro. Vasos irre- gulares. Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 353Colposcopia 6.7.5. LEUCOPLASIA Resulta de um excesso de camada de que- ratina. Desenvolve-se como uma placa que- ratósica difusa ou focal, que pode variar em extensão e espessura. Tem como caracterís- tica ser visível antes da aplicação do ácido acético. Na ZT, a zona de leucoplasia pode ocorrer quer no epitélio normal, quer no epi- télio displásico (Fig. 16). O seu aparecimento fora da ZT normalmente significa lesão de pouca gravidade. 7. CLASSIFICAÇÃO E TERMINOLOGIA COLPOSCÓPICA Estão em vigor as recomendações do Comi- té de Nomenclatura da Federação Interna- cional de Patologia Cervical e Colposcopia (IFCPC), adoptadas no congresso de Barcelo- na em 200210, que são as que se seguem. I. Achados colposcópicos normais: a. Epitélio escamoso original. b. Epitélio colunar. c. Zona de transformação: – Tipo 1, localizada no ectocérvix, total- mente visível (pequena ou grande). Figura 14. Leucoplasia. Histologia da lesão localizada às 11 h revelou carcinoma microinvasor.Figura 15. Mesmo caso da figura 14, após aplicação de Lugol. Figura 16. Leucoplasia do lábio anterior localizada fora da ZT. Histologia revelou epitélio acantótico. Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 354 Capítulo 41 – Tipo 2, com componente endocer- vical, totalmente visível (pequena ou grande). – Tipo 3, com componente endocervi- cal, não totalmente visível (pequena ou grande). II. Achados colposcópicos anormais: a. Epitélio acetobranco. b. Ponteado. c. Mosaico. d. Iodonegativo. e. Vasos atípicos. III. Características colposcópicas sugestivas de lesão de baixo grau (alterações minor): a. Superfície lisa com bordo externo ir- regular. b. Alteração acetobranca mínima que aparece lentamente e desaparece rapi- damente. c. Epitélio iodopositivo débil, frequente- mente mosqueado. d. Ponteado fino e mosaico fino e regular. IV. Características colposcópicas sugestivas de lesão de alto grau (alterações major): a. Superfície geralmente lisa, elevada, com bordo externo bem definido. b. Alteração acetobranca densa que apa- rece rapidamente e desaparece lenta- mente (branco-ostra). c. Orifícios glandulares com coloração acetobranca densa. d. Epitélio iodonegativo, amarelado num epitélio intensamente branco. e. Ponteado grosseiro e mosaico extenso e irregular com losangos de diferentes tamanhos. f. Alteração acetobranca densa no epi- télio glandular pode indicar patologia glandular. V. Características colposcópicas sugestivas de cancro invasivo: a. Superfície irregular e erosiva ou ulce- rada. b. Alteração acetobranca muito densa. c. Ponteado e/ou mosaico extenso e ir- regular. d. Vasos atípicos. VI. Colposcopia insatisfatória: a. Junção escamocolunar não visível na sua totalidade. b. Associação com traumatismo, inflama- ção ou atrofia, que impedem valoriza- ção da ZT. c. Não visualização do colo do útero. VII. Miscelânea: a. Condilomas. b. Queratose. c. Erosão. d. Inflamação. e. Atrofia. f. Deciduose. g. Pólipos. Embora esta classificação traga poucas novi- dades em relação à classificação prévia (Roma 1990), tem especialmente em conta a topogra- fia da ZT, diferenciando três tipos. Este facto constitui hoje um dos aspectos mais impor- tantes na determinação da atitude diagnóstica e/ou terapêutica adequada a cada caso. Nos achados colposcópicos anormais, esta classificação estabelece uma graduação que diferencia as alterações subtis ou leves (altera- ções minor) dos padrões colposcópicos mais bizarros que traduzem uma maior gravidade (alterações major). Embora assumindo que nem todos os achados colposcópicos anor- mais correspondem a uma lesão precursora de cancro, mediante esta categorização a maioria das imagens catalogadas como alterações mi- nor costumam relacionar-se com metaplasia ou LSIL-CIN1; e as catalogadas como alterações major com HSIL-CIN 2-3 ou invasivas11. É de salientar o significado clínico da locali- zação e extensão das lesões. Vários estudos morfométricos, realizados em imagens colpos- cópicas digitalizadas, evidenciam que a área le- sional aumenta de um modo significativo com a gravidade histológica. Observam-se também diferenças significativas no que diz respeito à topografia lesional, pois só 16% das CIN1 são centrais, em contacto com o orifício cervical externo; enquanto 63% das CIN2-3 são cen- trais, em contacto com o orifício cervical exter- no12. Estes resultados concordam com estudos Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 355Colposcopia morfométricos de CIN em peças de conização, realizados em 1973 por Burghardt13, que mos- traram uma correlação entre a extensão lesio- nal e o grau de CIN. Muitos estudos assinalam as implicações clínicas que têm o tamanho da CIN, que se correlaciona com os falsos negati- vos da citologia, a discordância diagnóstica de uma pequena biopsia, a falha terapêutica e a progressão da lesão14. A valorização colposcó- pica destes parâmetros traz de inovador o facto de permitir obter informações prévias à biopsia ou tratamento, levando deste modo ao estabe- lecimento de um correcto plano terapêutico14. A digitalização sistemática das imagens realiza- das no estudo ALTS (ASCUS/LSIL Triage Study for Cervical Cancer) originou uma extensa base de imagens, actualmente em estudo, que vão permitir conhecer a topografia e a evolução das lesões intra-epiteliais15. Os primeiros resultados revelam um facto bem conhecido dos colpos- copistas, que é a diferente distribuição geográ- fica das lesões cervicais em função do grau his- tológico12. Assim, as biopsias localizam-se prefe- rencialmente no lábio anterior (41% às 12 h) e posterior (28% às 6 h), e com menor frequência em ambas as comissuras (16% às 3 h e 14% às 9 h)16. Do mesmo modo, o estudo ALTS revelou que os casos de CIN3 sem imagem colposcópi- ca anormal e suspeitados por um teste de HPV- AR, correspondiam a lesões muito pequenas17. 8. INDICAÇÕES PARA ESTUDO HISTOLÓGICO A biopsia dirigida está indicada em todas as colposcopias anormais com alterações ma- jor. Também se devem biopsar alterações minor em mulheres com citologias de HSIL, ASC-H ou AGC e nas mulheres com citologia LSIL, para excluir lesão mais grave, antes de aconselhar seguimento sem tratamento. Existem indicações para estudo histológico nas seguintes situações: — Biopsia dirigida do exocolo: Colposcopia anormal com alterações major. Colposcopia anormal e satisfatória com alterações minor e citologia ≥ LSIL. — Estudo endocervical: Colposcopia anormal que penetra no canal. Citologia anormal com colposcopia in- satisfatória. Citologia com lesões glandulares: AGC, AIS, ADC. Prévio ao tratamento destrutivo. — Estudo endometrial: Citologia com lesões glandulares, em mulheres > 40 anos AGC, AIS, ADC. — Conização: Diagnóstico de CIN 2-3. Estudo endocervical diagnóstico de SIL-CIN, AIS. Citologia ≥ HSIL, confirmado após re- visão, com colo e vagina colposcopica- mente normais. Citologia ≥ HSIL, confirmado após revi- são, e biopsia negativa ou CIN1. Biopsia com microinvasão. Citologia de AGS, AIS, ADC, com estu- do endocervical negativo. Nos casos de biopsia dirigida pela colposco- pia, com citologia e histologia discordantes, é necessária uma revisão de lâminas, cito- lógica e histológica, sendo imprescindível existir uma boa comunicação entre o clínico e o anatomopatologista. As peças de coni- zação com microinvasão devem ser sempre avaliadas ou revistas por um anatomopato- logista especialista em patologia do tracto genital inferior. 9. EFICÁCIA DA COLPOSCOPIA Uma metanálise publicada por Mitchell, et al. em 199818 incidindo sobre nove artigos avaliou a exactidão da colposcopia para di- ferenciar entre epitélio normal e anormal, ou entre epitélio normal – LSIL/CIN1 – e epitélio HSIL/CIN2-3 ou cancro. Os resultados foram os apresentados no quadro 4. Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 356 Capítulo 41 Segundo este estudo, a colposcopia oferece uma elevada sensibilidade na diferenciação entre um epitélio normal e outro patológico (95%), à custa de uma especificidade relati- vamente baixa (45%). A especificidade au- menta (67%) quando se faz a distinção entre normal/LSILe HSIL/cancro, naturalmente com perda de sensibilidade (79%). É esta maior especificidade que se pede a um col- poscopista experiente, que numa unidade de patologia cervical receba doentes refe- renciados por suspeita de lesão pré-maligna ou maligna. Estes resultados referendam a validade da actual classificação colposcópi- ca, que distingue entre alterações major pró- prias das HSIL/cancro das alterações minor próprias das LSIL-CIN1. A colposcopia tem uma especificidade me- nor que a citologia à custa de uma maior sensibilidade, a qual no contexto em que se emprega é adequada. Identificar todas as lesões que podem ser neoplásicas é mais importante que não as identificar. Além dis- so, como já foi afirmado antes, o objectivo da colposcopia não é realizar um diagnós- tico só com a imagem, mas sim através de uma biopsia orientada pelo colposcópio. A elevada sensibilidade deste método exige uma boa experiência e preparação do col- poscopista, para evitar os sobrediagnósticos e consequentes overtreatment. A formação em colposcopia requer o exame de um ele- vado número de doentes e uma boa forma- ção em citologia e histologia, fundamentais para uma correlação dos diferentes métodos de diagnóstico que vão permitir estabelecer um adequado plano terapêutico para cada caso avaliado. 10. Bibliografia 1. Hinselmann H. Verbessenung der Inspektronsuroglich Keit Von Vulva, Vagine and Portio. 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Eficácia da colposcopia/biopsia Diagnóstico Sensibilidade Especificidade Valor preditivo positivo Valor preditivo negativo Normal/anormal 95% (87-99%) 45% (23-87%) 82% (53-96%) 79% (52-99%) Normal – LSIL/HSIL – cancro 79% (64-99%) 67% (30-93%) 57% (20-84%) 85% (68-97%) Se m o c o n se n ti m en to p ré vi o p o r es cr it o d o e d it o r, n ão s e p o d e re p ro d u zi r n em f o to co p ia r n en h u m a p ar te d es ta p u b lic aç ão © P er m an ye r Po rt u g al 2 01 0 357Colposcopia 15. Jeronimo J, Schiffman M. Colposcopy at a crossroads. Am J Obstet Gynecol. 2006;195:349-53. 16. Guido RS, Jeronimo J, Schiffman M, Solomon D, for the ALTS group. The distribution of neoplasia arising on the cervix: results from the ALTS trial. Am J Obstet Gynecol. 2005;193:1331-7. 17. Sherman ME, Wang SS, Tarone R, Rich L, Schiffman M. 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