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2 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA - UNIPÊ COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO Laura Mickaelly Costa Gonçalves e Echyllen Vitoria Ferreira Vasconcelos INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO COMO CAUSAS DE EXCLUSÃO SUCESSÓRIA: ANÁLISE CRÍTICA DA EFETIVIDADE E DOS LIMITES NO SISTEMA SUCESSÓRIO BRASILEIRO Cidade Ano Laura Mickaelly Costa Gonçalves e Echyllen Vitoria Ferreira Vasconcelos INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO COMO CAUSAS DE EXCLUSÃO SUCESSÓRIA: ANÁLISE CRÍTICA DA EFETIVIDADE E DOS LIMITES NO SISTEMA SUCESSÓRIO BRASILEIRO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à (nome da instituição), como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em (nome do curso). (Fonte Arial 12) Orientador: (Nome do Tutor) Cidade Ano Laura Mickaelly Costa Gonçalves e Echyllen Vitoria Ferreira Vasconcelos INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO COMO CAUSAS DE EXCLUSÃO SUCESSÓRIA: ANÁLISE CRÍTICA DA EFETIVIDADE E DOS LIMITES NO SISTEMA SUCESSÓRIO BRASILEIRO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à (nome da instituição), como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em (nome do curso). (Fonte Arial 12) BANCA EXAMINADORA Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) Resumo O presente estudo tem por objeto analisar os institutos da indignidade e da deserdação como causas de exclusão sucessória no Direito Sucessório brasileiro, à luz de uma abordagem crítica voltada à efetividade e aos limites práticos de sua aplicação. A sucessão, enquanto mecanismo jurídico de transmissão patrimonial, carrega uma função social e moral que ultrapassa o aspecto econômico, sendo expressão dos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da solidariedade familiar (FARIAS; ROSENVALD, 2017). A pesquisa justifica-se pela necessidade de compreender se os instrumentos de exclusão, previstos nos artigos 1.814 a 1.965 do Código Civil, atendem de forma adequada às transformações das relações familiares contemporâneas, como o abandono afetivo e a violência psicológica, ainda não reconhecidas legalmente como causas de exclusão. O problema central formulado questiona em que medida os institutos da indignidade e da deserdação são eficazes e coerentes com os princípios constitucionais e com a realidade social brasileira. O estudo tem como objetivo geral avaliar criticamente a efetividade desses institutos, e como objetivos específicos, identificar suas limitações normativas, analisar a interpretação doutrinária e jurisprudencial e propor aperfeiçoamentos legislativos. A metodologia adotada é qualitativa, baseada em revisão bibliográfica e documental de obras publicadas entre 2015 e 2025, complementada por análise de julgados do STJ e artigos do IBDFAM. Os resultados evidenciam divergências jurisprudenciais, dificuldades probatórias e a necessidade de atualização normativa. Conclui-se que, embora indispensáveis à moralidade sucessória, tais institutos requerem reforma interpretativa e legislativa para garantir efetividade, justiça e conformidade com os valores humanos e familiares do sistema jurídico brasileiro. Palavras-chave: Direito Sucessório; Indignidade; Deserdação; Exclusão Hereditária; Dignidade Humana. Sumário 1 Introdução 4 2 Referencial 6 2.1 Fundamentos do Direito Sucessório 6 2.1.1 Conceito, princípios e natureza jurídica do Direito das Sucessões 7 2.1.2 A sucessão legítima e testamentária: distinções e convergências 7 2.1.3 A função social da herança e o princípio da solidariedade familiar 8 2.2 Capacidade Sucessória e as Causas de Exclusão 9 2.2.1 Capacidade e legitimidade para suceder 9 2.2.2 Causas impeditivas da sucessão: visão geral 10 2.2.3 Comparativo entre exclusão legal e exclusão judicial 11 2.3 A Indignidade como Causa de Exclusão Sucessória 12 2.3.1 Conceito e natureza jurídica da indignidade 12 2.3.2 Hipóteses legais previstas no Código Civil 13 2.3.3 Procedimento judicial de exclusão por indignidade 14 2.3.4 Efeitos patrimoniais e pessoais da declaração de indignidade 14 2.3.5 Interpretação doutrinária e análise jurisprudencial crítica 15 2.4 A Deserdação no Sistema Jurídico Brasileiro 16 2.4.1 Conceito e distinção em relação à indignidade 16 2.4.2 Requisitos legais e hipóteses dos artigos pertinentes 17 2.4.3 Ato de vontade do testador e requisitos formais 18 2.4.4 Limites legais e controvérsias sobre o exercício da deserdação 19 2.4.5 Jurisprudência sobre sua aplicação e eficácia 20 2.5 Efetividade e Limites Práticos dos Institutos da Indignidade e da Deserdação 21 2.5.1 Dificuldades processuais e probatórias para sua aplicação 21 2.5.2 Análise crítica da uniformidade (ou ausência dela) na jurisprudência brasileira 22 2.5.3 A influência dos princípios constitucionais na interpretação dos institutos 23 2.5.4 Reflexos nas novas configurações familiares contemporâneas 24 2.6 Perspectivas Doutrinárias e Propostas de Aperfeiçoamento Normativo 25 2.6.1 Possíveis ampliações das hipóteses legais de exclusão 25 2.6.2 Releitura dos institutos à luz da dignidade da pessoa humana 25 2.6.3 Propostas de uniformização jurisprudencial e reforma legislativa 26 3 Conclusão 28 Referências 30 1 Introdução O Direito das Sucessões, ramo essencial do Direito Civil, representa o conjunto de normas jurídicas que regulam a transferência do patrimônio – composto por bens, direitos e obrigações – do falecido para seus sucessores. No contexto brasileiro, esse instituto jurídico reflete não apenas a continuidade patrimonial entre gerações, mas também valores constitucionais de solidariedade familiar e função social da herança, princípios consagrados na Constituição Federal de 1988 e reiterados pelo Código Civil de 2002 (FARIAS; ROSENVALD, 2017). Assim, a sucessão mortis causa não se restringe à transmissão de bens, mas traduz uma forma de concretização da dignidade humana, ao garantir que o patrimônio acumulado pelo de cujus continue a servir à proteção e à manutenção dos laços familiares. A problemática da exclusão sucessória, contudo, desafia essa harmonia entre vontade individual e função social. Entre os mecanismos previstos pelo ordenamento, a indignidade e a deserdação se destacam como instrumentos de sanção civil aplicáveis àqueles que praticam atos gravemente reprováveis contra o autor da herança. A indignidade decorre de presunção de vontade do falecido, enquanto a deserdação resulta da manifestação expressa do testador. Ambos os institutos buscam punir a violação de deveres éticos e jurídicos que rompem a confiança e o respeito mútuo, preservando o caráter moral e social da sucessão (FERREIRA; OLIVEIRA, 2025). A relevância deste tema reside na necessidade de examinar criticamente a efetividade prática dessas sanções no sistema jurídico brasileiro. Apesar de previstas nos artigos 1.814 a 1.965 do Código Civil, a aplicação dos institutos ainda enfrenta entraves interpretativos, lacunas probatórias e uma visão legal restritiva que, segundo Rodrigues (2023), não acompanha as transformações das relações familiares contemporâneas. Questões como abandono afetivo, violência psicológica e negligência moral, por exemplo, permanecem à margem do rol taxativo de hipóteses de exclusão, revelando um descompasso entre o direito positivo e a realidade social. Dessa forma, o problema de pesquisa que orienta este estudo é: em que medida os institutos da indignidade e da deserdação, enquanto causas de exclusão sucessória, se mostram efetivos e coerentes com os princípios constitucionais de dignidade humana e solidariedade familiar no sistema sucessório brasileiro contemporâneo? O objetivo geral consiste em analisar criticamente a efetividade e os limites desses institutos no ordenamento jurídico nacional. Como objetivos específicos, propõe-se: (a) compreender os fundamentos históricos e conceituais do Direito Sucessório e das causas de exclusão; (b) examinar o tratamento legal e jurisprudencial da indignidade e da deserdação à luz da doutrina recente; e (c) identificaras principais dificuldades processuais e as propostas de aperfeiçoamento normativo voltadas à ampliação da eficácia e justiça desses mecanismos. No tocante à metodologia, a pesquisa adota o método dedutivo, com abordagem qualitativa e caráter descritivo-analítico. A técnica de investigação baseia-se em revisão bibliográfica e documental, abrangendo publicações doutrinárias, artigos científicos, jurisprudências e dispositivos legais datados dos últimos dez anos (2015–2025). As buscas foram realizadas em bases jurídicas nacionais como IBDFAM, JusBrasil, STJ, Legale Educacional, Dotti Advogados e revistas acadêmicas indexadas (como Lumen et Virtus), utilizando palavras-chave como “indignidade sucessória”, “deserdação”, “causas de exclusão”, “herança”, “efetividade jurídica” e “dignidade da pessoa humana”. Por fim, a relevância teórica e social desta investigação se manifesta na reflexão sobre a necessidade de compatibilizar o sistema sucessório brasileiro com os valores familiares e humanitários que norteiam a Constituição Federal. A análise crítica da indignidade e da deserdação busca, portanto, oferecer contribuições para o aprimoramento doutrinário e legislativo, propondo uma leitura mais ampla e humana das causas de exclusão sucessória. O trabalho conclui que, para assegurar a efetividade desses institutos, é imprescindível que sua aplicação judicial se harmonize com os princípios da dignidade humana, da solidariedade familiar e da moralidade social, evitando distorções interpretativas e fortalecendo a justiça nas relações sucessórias. 2 Referencial 2.1 Fundamentos do Direito Sucessório O Direito das Sucessões é ramo do Direito Civil que disciplina a transferência do patrimônio (bens, direitos e dívidas) de pessoa falecida a seus herdeiros e legatários. Segundo autores, esse ramo regula a “transmissão das relações jurídicas patrimoniais” do falecido aos sucessores logo com a abertura da sucessão. Constitui-se em normas que asseguram a continuidade patrimonial entre gerações, assumindo natureza essencialmente patrimonial e constitucionalmente revestida de função social. A herança é única e indivisível até a partilha, de modo que o recebimento ocorre “automáticamente no momento da morte” do autor da herança (princípio da saisine). Essa transmissão inclui não apenas bens e créditos, mas também dívidas até o limite do quinhão hereditário, demonstrando que a natureza jurídica do acervo hereditário abrange direitos reais e obrigações (atividade normativa de propriedade do falecido). O Direito das Sucessões fundamenta-se em princípios específicos. Destacam-se o princípio da função social da herança, que busca efetivar a distribuição equitativa de riqueza e reforçar a solidariedade familiar; o princípio da territorialidade, que fixa o foro sucessório conforme o último domicílio do falecido (art. 25, CC); o princípio da vontade manifesta, que privilegia as disposições expressas em testamento até os limites da legítima (art. 1.789, CC); e o princípio da vocação hereditária, que indica a ordem legal de sucessão (descendentes, cônjuge, ascendentes etc., art. 1.829, CC). Conforme Santos (2025), a função social da herança assegura a continuidade patrimonial na família, “efetivar a distribuição de riqueza” e resguardar a cooperação e solidariedade no âmbito familiar. Esses princípios orientam tanto a sucessão legítima (imposta por lei) quanto a testamentária (pela vontade do de cujus), garantindo que a transferência patrimonial observe a dignidade da pessoa humana e os valores constitucionais subjacentes (Farias; Rosenvald, 2017 apud Ferrazza, 2022). 2.1.1 Conceito, princípios e natureza jurídica do Direito das Sucessões O Direito das Sucessões define-se como o conjunto de normas que regulam o fenômeno jurídico da sucessão: a transmissão do patrimônio do falecido para os que têm legitimidade para suceder. Por esse ordenamento, dá-se imediatamente a transmissão (saísine) no momento do óbito do de cujus. A herança, conforme artigo 1784 do Código Civil, corresponde ao patrimônio do falecido, constituindo um universo de bens, direitos e dívidas que se transita como um todo aos sucessores. Sua natureza jurídica é de patrimônio autônomo e universal, com coesão própria até a partilha. Assim, até a divisão final, a herança permanece indivisa, implicando que todos os herdeiros e legatários atuem em conjunto na sua administração (princípio da indivisibilidade da herança). Entre os princípios do Direito Sucessório destacam-se (a) o princípio da saisine, que estabelece a transferência imediata da herança (ativa e passiva) ao(s) sucessor(es) a partir do falecimento do autor da herança; (b) o princípio da dicotomia legítimo-testamentário, segundo o qual a sucessão pode ocorrer ou por imposição legal (sucessão legítima) ou pela manifestação de última vontade do falecido (sucessão testamentária); (c) o princípio da função social da herança, que reconhece o caráter distributivo e solidário do instituto hereditário – isto é, a sucessão cumpre função de contribuir para a manutenção e proteção dos dependentes e demais membros da família, promovendo a solidariedade familiar; (d) o princípio da igualdade entre descendentes (mediante o quinhão hereditário igual), entre outros princípios que dirigem a interpretação das regras sucessórias. Esses preceitos são indissociáveis da dignidade da pessoa humana, colocando os direitos sucessórios em consonância com valores constitucionais. 2.1.2 A sucessão legítima e testamentária: distinções e convergências A sucessão pode ocorrer de duas formas: legítima (ab intestato) ou testamentária (por disposição de última vontade). A sucessão legítima dá-se quando não há testamento válido, de modo que a lei determina quem são os herdeiros (art. 1.829, CC) – geralmente descendentes, cônjuge/companheiro e ascendentes, seguindo uma ordem preestabelecida. Já a sucessão testamentária ocorre quando o falecido deixou testamento válido; nesse caso, ele pode dispor de até metade do patrimônio (respeitando a legítima dos herdeiros necessários) e instituir herdeiros ou legatários de sua escolha. Em ambos os casos, ao abrir-se a sucessão (momento do óbito), aplica-se o princípio da saisine: os bens do falecido transmitem-se imediatamente aos sucessores, independentemente de aceitação formal, impedindo qualquer vazio patrimonial. Embora provenientes de fontes distintas (direito natural e vontade humana), as sucessões legítima e testamentária convergem na efetiva transmissão patrimonial. Em caso de coexistência de sucessão legítima e testamentária, prevalecem as disposições do testador apenas até onde a lei permite (metade disponível, art. 1.789 CC) e, caso o testamento seja anulado ou caducado, sobrepõe-se a sucessão legítima. A jurisprudência e a doutrina ressaltam que o testador não pode prejudicar a legítima dos herdeiros necessários, conforme norma constitucional de proteção à mínima decorrente (art. 1.845 e 1.789 do CC) – de modo que, mesmo na sucessão testamentária, há limites impostos pelo ordenamento para resguardar a parcela legal dos herdeiros necessários. Com efeito, patrimonialmente manifesta-se igualdade entre os dois tipos de sucessão: a herança transmitida, seja por lei ou por testamento, é única e indivisível até a partição. 2.1.3 A função social da herança e o princípio da solidariedade familiar O instituto hereditário no Brasil carrega uma função social expressa: além de permitir ao falecido determinar o destino de parte de seu patrimônio, a herança assegura a continuidade econômica da família. A Constituição de 1988 consagrou, em seu art. 229, o dever de todos os membros da família de mútua assistência, e o Código Civil ecoa esse princípio ao estruturar a sucessão hereditária de modo a preservar o núcleo familiar do autor da herança. Em suma, a herança promove redistribuição de riqueza intra-familiar e exige solidariedade. Como observa Santos (2025), o princípio da função social da herança “serve para efetivar a distribuição de riqueza” e “assegurar a solidariedade no âmbitoda família” através da transferência de bens. Nesse contexto, a solidariedade familiar princípio jurídico decorrente dos vínculos de afetividade e reciprocidade entre parentes atua como norte interpretativo das regras sucessórias. A lei veda, por exemplo, que o testador exclua totalmente do direito hereditário herdeiros que cumpram sua legítima (proibição do destituir totalmente herdeiro necessário, art. 1.845, parágrafo único, CC), em respeito à solidariedade e dignidade da relação familiar. O núcleo do patrimônio familiar tem função social de prover sustento mútuo: os membros da família devem ser amparados reciprocamente (dever de alimentos, assistência na velhice etc.) e é esse dever de colaboração que se reflete nos institutos sucessórios (por exemplo, cuidando para que a legitima mínima dos dependentes seja preservada). Essa função social impede que a alienação patrimonial por herança saia completamente do âmbito da família, buscando equilibrar a vontade individual com o interesse social e familiar. 2.2 Capacidade Sucessória e as Causas de Exclusão 2.2.1 Capacidade e legitimidade para suceder A capacidade sucessória diz respeito à aptidão de alguém para receber herança. Conforme o Código Civil, pressupõe-se capaz para suceder toda pessoa natural nascida ou concebida ao tempo da abertura da sucessão. Em outras palavras, podem herdar aqueles que já existiam em termos jurídicos ao falecer o autor da herança, inclusive concebidos (art. 1.798, CC). A doutrina assevera que até mesmo pessoas juridicamente incapazes (como menores de idade ou interditos civis) têm plena capacidade para suceder, já que a incapacidade civil regular não se confunde com incapacidade para herdar. Assim, a capacidade sucessória é relativa à sucessão específica: não se trata de questão geral de competência civil, mas de análise situacional (verifica-se no momento do óbito se havia alguma impedimento legal de herança). Em regra, ninguém é considerado absolutamente incapaz de suceder (exceto os casos de exclusão legal, como ilegítimos declarados em lei), sendo presumida a capacidade salvo provas em contrário. A legitimidade para suceder decorre da ordem de vocação hereditária estabelecida no Código Civil (art. 1.829). São legitimados ao direito sucessório os descendentes, o cônjuge/companheiro, ascendentes, colaterais até quarto grau, na ordem legal. A lei de regência (no caso brasileiro, a do momento da abertura) regula quem foi chamado à sucessão. Além disso, prescreve-se que na sucessão testamentária podem figurar pessoas jurídicas ou fundações instituídas, desde que o testador preveja expressamente. Em síntese, a capacidade sucessória tem caráter objetivo e presume-se em todos que preencham tais requisitos; apenas causas legais expressas podem excluí-la. Por fim, destacam-se dois aspectos: (i) a capacidade sucessória não se confunde com capacidade civil, pois herdeiros menores ou incapazes legais herdam normalmente (art. 1.802, CC); (ii) a lei prevê que na falta total de pessoas habilitadas a suceder, a herança reverterá ao Município ou à União (art. 1.798, par. único). 2.2.2 Causas impeditivas da sucessão: visão geral Há, porém, hipóteses legais que impedem alguém de herdar mesmo tendo capacidade e legitimidade sucessória. Tais causas são divididas em categorias: (a) causas impeditivas (como no caso de o chamado sucumbir antes do autor da herança, responder por homicídio culposo contra ele etc.), (b) causas suspensivas (sucessor designado sob condição suspensiva), e (c) causas de exclusão propriamente ditas (indignidade e deserdação, por exemplo). De modo geral, o Código Civil elenca circunstâncias específicas que impelem a vocação hereditária. São casos de forte desvalor moral ou violação de dever legal: aqueles que tiveram participação em homicídio doloso do falecido, por exemplo, já começam sem direito à herança (excludentes). Outras causas impeditivas são aquelas previstas no art. 1.810 (por exemplo, a injustiça na aceitação ou renúncia da herança) e no art. 1.814 e ss. (indignidade) e art. 1.961 e ss. (deserdação). Do ponto de vista prático, destaca-se que nem toda hipótese que atrai desonra ou ingratidão familiar acarreta exclusão; só se aplicam as hipóteses taxativamente previstas em lei. A doutrina ressalta o caráter punitivo das causas de exclusão: são verdadeiras penalidades civis impostas aos chamados herdeiros por condutas previstas em lei. Em decorrência disso, cumpre observância estrita da tipicidade legal. Além disso, há distinções processuais: as causas impeditivas previstas no Código (como répudiar sem just cause, ou ser condenado em crime específico) podem ser verificadas objetivamente, mas as exclusões por indignidade/deserdação exigem procedimento judicial próprio (ver 2.3.3 a seguir). De forma geral, o surgimento de qualquer causa impeditiva ou exclusiva somente surte efeito após declaração judicial, de sorte que o herdeiro continua exercendo seus direitos até sentença transitada em julgado (art. 1.815, CC). 2.2.3 Comparativo entre exclusão legal e exclusão judicial A exclusão legal opera em alguns casos excepcionais, independentemente de sentença. Por exemplo, o art. 1.810, § 1º, do Código Civil trata do deserdo tácito (“aqueles que, por infâmia, irão ao cárcere, ou forem declarados indignos na sucessão anterior”), implicando efeito automático em situações transitadas em julgado no plano criminal. No entanto, na prática brasileira contemporânea, as principais formas de retirada do direito sucessório (indignidade e deserdação) dependem de declaração judicial. Ou seja, não há exclusão automática pelo mero cometimento do ato; é necessário que o ato seja alegado em ação específica, julgada procedente. Nesse sentido, esclarece Ferrazza (2022) que “não há exclusão automática do recebimento da herança”; para reconhecer indignidade ou deserdação exige‐se demanda judicial (tipicamente após o falecimento do de cujus). A exclusão judicial é sempre uma ação própria, que não pode ser suscitada incidentalmente (por exemplo, em inventário). Em síntese, a “exclusão legal” seria aquela cujo fundamento reside diretamente em dispositivo de lei com autoaplicação; mas na sucessão isso ocorre raramente. Já a “exclusão judicial” é decorrente da aplicação de sanção legal mediante processo. A indignidade e a deserdação são institutos penais‐sucessórios: embora não expressem sanção estatal tradicional, implicam conseqüências punitivas (perda da herança) e só produzem efeitos após sentença que declare a exclusão. Uma vez reconhecida judicialmente a exclusão, o herdeiro é declarado excluído retroativamente (como se tivesse morrido antes do autor da herança) e seus descendentes passam a suceder em seu lugar. 2.3 A Indignidade como Causa de Exclusão Sucessória 2.3.1 Conceito e natureza jurídica da indignidade A indignidade sucessória consiste em causa de exclusão cujo pressuposto é a prática de atos graves e reprováveis pelo herdeiro/legatário contra o autor da herança (ou seus familiares próximos). Conforme Ferreira e Oliveira (2025), trata‐se de “importante mecanismo jurídico de exclusão do direito sucessório, que incide sobre herdeiros que tenham praticado atos gravemente reprováveis contra o autor da herança”. A indignidade tem natureza de sanção civil: objetiva preservar valores familiares e sociais ao punir condutas que atentam contra o vínculo afetivo e a dignidade do falecido. Em termos doutrinários, é considerado um instituto de caráter “mesolítico” do Direito das Sucessões: embora não seja direito penal, sua aplicação resulta em prejuízo patrimonial ao sucessor, coerente com a projeção do interesse social na sucessão e com o dever de respeito à dignidade humana. No Brasil, a indignidade está positivada nos artigos 1.814 e 1.815 do Código Civil de 2002. Ressalta-se que, do ponto de vista funcional, a indignidade decorre da presunção de vontade do autor da herança: presume‐se que ninguém que tenha atentado gravemente contra a pessoa do falecido mereceria receber sua herança. Por essa razão, julga-seque se trataria de concretização de uma vontade implícita do de cujus de excluir o ofensor. Diante disso, cumpre frisar que a exclusão por indignidade só pode se dar mediante decisão judicial definitiva. Enquanto isso, o excluído (indigno) mantém sua qualidade de herdeiro até o trânsito em julgado da sentença, podendo praticar atos de administração normais até então. O efeito é pessoal (atinge apenas o herdeiro e não seus descendentes) e retroativo (os descendentes sucedem por representação, como se o indigno tivesse morrido antes do falecido). 2.3.2 Hipóteses legais previstas no Código Civil O artigo 1.814 do Código Civil brasileiro enumera, taxativamente, as condutas que ensejam indignidade. Segundo Ferreira e Oliveira (2025), “o Código Civil, em seu artigo 1.814, estabelece as hipóteses em que o herdeiro pode ser excluído da sucessão por indignidade. Esses casos incluem a prática de homicídio contra o autor da herança, a tentativa de homicídio, a calúnia ou injúria grave contra o autor da herança, entre outros atos que atentem contra a dignidade e os direitos do autor da herança”. Em conformidade, prevê‐se no art. 1.814: (I) homicídio doloso, tentativa de homicídio ou participação em homicídio doloso contra a pessoa cuja sucessão se trata (incluindo seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente); (II) acusar o autor da herança (ou seu cônjuge/companheiro) de crime doloso em processo judicial, ou incorrer em crime contra a honra deles (calúnia, difamação, injúria); (III) por meio de violência ou fraude, obstar o autor da herança de dispor livremente de seus bens por testamento (por exemplo, coagindo ou impedindo o testador de fazer testamento). O rol legal de hipóteses é fechado (vedada analogia), refletindo o caráter excepcional da sanção. Note-se que o Código de 2002 não manteve a antiga hipótese referente ao não pagamento de pensão alimentícia (presente no CC de 1916), concentrando‐se em condutas graves e delituosas. Na prática, a interpretação teleológica do art. 1.814 levou o Superior Tribunal de Justiça a admitir que “objetivo do enunciado normativo do art. 1.814, I, do CC/2002” (evitar que atente contra a vida de pais) permite excluir quem pratica ato infracional análogo ao homicídio doloso, mesmo que não esteja tipificado expressamente. No entanto, salienta-se que os tribunais tendem a observar o rol como taxativo, aplicando critério restritivo às causas (STJ, REsp 1.943.848/PR, 2022). 2.3.3 Procedimento judicial de exclusão por indignidade A exclusão por indignidade não opera automaticamente; é necessária a propositura de ação própria após o falecimento do autor da herança. Conforme Ferrazza (2022), “não há exclusão automática do recebimento da herança. Diante da conduta ensejadora da sanção, exige-se o ajuizamento de demanda judicial específica para que se reconheça a exclusão da sucessão”. Essa ação é autônoma e deve ser julgada em processo jurisdicional típico (não ocorre no inventário). No procedimento, qualquer herdeiro, legatário ou Ministério Público (nos casos de art. 1.814, I, do CC, que envolve crime contra a vida do autor) pode demandar pela declaração de indignidade. Deve-se provar cabalmente a ocorrência do ato qualificado (por exemplo, sentença criminal condenatória ou provas robustas de injúria grave). A jurisprudência do STJ firma que, enquanto não transitada em julgado a sentença de indignidade, o herdeiro conserva sua posição sucessória. O artigo 1.815 do Código Civil impõe prazo decadencial de quatro anos (contados da abertura da sucessão) para pleitear a exclusão do herdeiro por indignidade. Uma vez julgada procedente a ação, declaram‐se os efeitos ex tunc (retroativos à data da morte do autor da herança). Após o trânsito em julgado, o indigno será tratado “como se fosse morto antes da abertura da sucessão” (art. 1.816, CC), respondendo apenas por seus atos até então praticados (descendentes sucedem por representação). 2.3.4 Efeitos patrimoniais e pessoais da declaração de indignidade A declaração judicial de indignidade produz efeitos estritamente pessoais. O herdeiro declarado indigno perde todo e qualquer direito à herança; ele é retirado do concurso sucessório e seus quinhões são redistribuídos entre os demais sucessores. Os descendentes do indigno, por sua vez, passam a herdar no lugar dele (princípio da representação), como se ele tivesse morrido antes do de cujus. Em termos patrimoniais, o excluído não poderá exercer nenhum usufruto ou administração sobre bens da herança (art. 1.816, § único, CC). O art. 1.816 prescreve expressamente que “são pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão”. Assim, a pena de indignidade é intransmissível: não alcança os bens do indigno (alem do que já herdado ou recebido), e seus eventuais descendentes não se prejudicam em razão da conduta do ascendente apenas passam a representar a herança dele, preservando a parte legítima. Em suma, a exclusão por indignidade simplesmente invalida o direito hereditário pessoal do ofensor, sem tocar no patrimônio da herança ou no quinhão de outros herdeiros. 2.3.5 Interpretação doutrinária e análise jurisprudencial crítica A doutrina contemporânea tem criticado a rigidez do sistema legal de exclusão por indignidade. Ferreira e Oliveira (2025) apontam que o rol de hipóteses do art. 1.814 é “fechado” e não acompanha as mudanças sociais, deixando de fora condutas graves como abandono afetivo ou violência psicológica. Por sua vez, Caroline Dias Rodrigues (2023) defende que a taxatividade atual é “descabida e incoerente” diante de realidades familiares contemporâneas, sendo necessária sua ampliação legislativa. Doutrinadores como Farias e Rosenvald (2017) ressaltam que o instituto deve ser visto à luz da dignidade da pessoa humana: qualquer ato “atentatório à dignidade do falecido pode implicar mitigação do direito sucessório”, compatibilizando o direito à herança com valores fundamentais. No âmbito jurisprudencial, o STJ tem adotado interpretação finalística dos dispositivos de indignidade. Em casos recentes, a Corte admitiu analogia com o rol legal quando essencialmente presente o dolo contra a vida: por exemplo, reconheceu hipótese de indignidade em ato análogo a homicídio doloso consumado (mesmo não tipificado no Código) para preservar a finalidade do art. 1.814, I. Por outro lado, a jurisprudência de maneira geral mantém postura estrita quanto ao fechamento do rol, não admitindo extensão além do expresso na lei (REsp 1.102.360/RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, 2010). Em que pesem debates acadêmicos, o entendimento dominante exige prova robusta dos atos qualificadores e interpreta os incisos restritivamente. Em síntese, o instituto da indignidade tem sido reinterpretado à luz de princípios constitucionais (dignidade, moralidade familiar) e sociais, cabendo aos tribunais ponderar valores envolvidos. Como frisam Ferreira e Oliveira (2025), é recorrente a proposta de “releitura constitucional do instituto, com base nos princípios da dignidade da pessoa humana e da moralidade familiar”, de modo a compatibilizá-lo com as transformações recentes dos laços familiares. De fato, o desafio é ampliar a efetividade do instituto sem ferir a segurança jurídica do rol legal questão enfrentada pela doutrina e pela jurisprudência brasileira atual. 2.4 A Deserdação no Sistema Jurídico Brasileiro 2.4.1 Conceito e distinção em relação à indignidade A deserdação é instituto sucessório pelo qual o testador exclui expressamente determinado herdeiro necessário de sua parte legítima ou totalidade da herança, por ato de vontade manifestado em testamento. Ao contrário da indignidade, que reflete presunção de vontade e não depende de manifestação do autor, a deserdação é inequivocamente resultado da vontade explícita do testador. Ferrazza (2022) observa que “a indignidade decorre da presunção de vontade do falecido, enquanto a deserdação decorre da vontade expressa do autor da herança”. Em linhas similares, Madaleno(2020) ressalta que ambos têm natureza sancionatória, porém a indígnidade visa proteger a ordem pública e social, enquanto a deserdação tem por objetivo central a harmonia e o respeito no âmbito familiar. Outra diferença essencial é o alcance subjetivo: a deserdação só pode recair sobre herdeiros necessários (descendentes, ascendentes ou cônjuge/companheiro) indicados nos artigos 1.845 e 1.961 do CC. Qualquer outro sucessor (legítimo de grau mais remoto ou testamentário) não está sujeito à deserdação. Já a indignidade pode ser aplicada a qualquer herdeiro ou legatário (presente na linha sucessória) por qualquer interessado. Como acentua fonte doutrinária, “a indignidade pode ser aplicada a qualquer herdeiro (legítimo ou testamentário), por iniciativa de qualquer interessado, [ao passo que] a deserdação objetiva a exclusão apenas dos chamados herdeiros necessários, por vontade expressa do autor da herança”. Além disso, temporalmente, a deserdação pressupõe fato extinto anterior ao testamento (o ato infracional deve ter ocorrido em vida, antes do testamento), enquanto a indignidade pode decorrer de ato posterior ao óbito do de cujus (por exemplo, ameaça posterior, no caso de injúria). Em suma, indignidade e deserdação têm propósito comum – afastar do patrimônio do falecido quem lhe agiu contra – mas surgem de fundamentos distintos: a indignidade impõe sanção objetiva pela reprovabilidade do ato, já a deserdação decorre de uma decisão subjetiva do autor em penalizar o herdeiro desobediente aos valores familiares. 2.4.2 Requisitos legais e hipóteses dos artigos pertinentes A deserdação está disciplinada nos artigos 1.961 a 1.965 do Código Civil de 2002. O art. 1.961 estabelece que apenas os herdeiros necessários podem ser privados da legítima ou deserdados, “nos casos em que podem ser excluídos da sucessão” (refere-se às hipóteses do art. 1.814, por analogia). Ou seja, todas as causas de indignidade são igualmente causa de deserdação (art. 1.961), desde que expressamente arroladas no testamento. Além disso, o art. 1.962 amplia as hipóteses típicas: prevê que filhos podem ser deserdados, além dos casos do art. 1.814, se cometerem ofensa física contra os pais, injúria grave contra eles, relacionamento ilícito com madrasta ou padrasto, ou se “desampararem” (abandonarem) pai ou mãe com doença grave ou deficiência. De modo análogo, o art. 1.963 trata da deserdação dos ascendentes pelo descendente, listando condutas equivalentes (ofensa física, injúria grave, relações ilícitas com cônjuge/companheiro de filhos, desamparo de filhos doentes). Em suma, a lei exige que o testador preveja no testamento as causas concretas em que cada herdeiro está sendo deserdado (rol específico para filhos contra pais e pais contra filhos, além das hipóteses gerais repisando o art. 1.814). Em termos de requisitos, ressalte‐se que a deserdação só tem validade se o testador manifestar expressamente a causa no testamento (art. 1.964, CC). Esse dispositivo impõe requisito formal rigoroso: não basta mencionar a intenção de excluir; é necessário indicar o motivo concreto que autoriza a deserdação. O art. 1.964 do CC determina: “Somente com expressa declaração de causa pode a deserdação ser ordenada em testamento”. Portanto, o ato de vontade do testador deve conter, de forma clara, a descrição da falta ou ato reprovável imputado ao herdeiro. Essa exigência decorre do próprio caráter excepcional do instituto, servindo de garantia para evitar arbitrariedades. Cumpre ainda observar que os demais requisitos formais do testamento (impessoalidade, capacidade do testador, respeito às partes indisponíveis, número de testemunhas, etc.) devem ser observados normalmente, conforme previsto nos artigos gerais do Código Civil (arts. 1.864 a 1.879). 2.4.3 Ato de vontade do testador e requisitos formais A deserdação repousa integralmente na liberdade do testador, devendo representar fielmente sua vontade de excluir determinado herdeiro. Em termos práticos, isso implica: (i) existência de testamento válido (público, cerrado ou particular, devidamente assinado e com testemunhas, conforme art. 1.876, CC); (ii) menção expressa e inequívoca da vontade de deserdar o herdeiro, acompanhada da causa legal autorizadora (art. 1.964, CC); e (iii) respeito aos limites legais de disposição (metade disponível da herança apenas). O testador não precisa justificar além do previsto em lei; entretanto, se o motivo legal não estiver detalhado corretamente, pode haver nulidade parcial do ato (empanamento da deserdação). A jurisprudência do STJ tende a privilegiar a intenção do testador, admitindo, em regra, que pequenas falhas formais não sejam suficientes para afastar a vontade de excluir um herdeiro (desde que o núcleo do ato – causa e disposição esteja claro). Em resumo, os requisitos formais próprios da deserdação são: (a) existência de testamento genuíno do autor da herança; (b) conteúdo testamentário contendo cláusula de deserdação com expressa declaração da causa específica (art. 1.964); (c) comprovação, em sede judicial, da veracidade da causa após o óbito do testador (já que a simples imputação no testamento não produz efeitos automáticos); e (d) ajuizamento de ação de confirmação da deserdação (ou a ajuizamento do processo sucessório que lide com a matéria). Todo o procedimento segue os trâmites do direito comum sucessório: se reconhecida a deserdação em juízo, o herdeiro fica igualmente excluído da sucessão, tratável como falecido antes do de cujus para todos os efeitos (art. 1.816, parágrafo único). 2.4.4 Limites legais e controvérsias sobre o exercício da deserdação O exercício da deserdação está estritamente limitado pelo ordenamento. Primeiramente, só se admite deserdar herdeiro descrito no art. 1.845 (descendentes, ascendentes e cônjuge/companheiro). Não se pode deserdar herdeiro colateral (como irmãos, tios, primos) nem legatários. Além disso, as hipóteses são taxativas: só se pode deserdar nas situações previstas no art. 1.961 (que remetem às de indignidade) e nos arts. 1.962-1.963, conforme indicado. Há debate doutrinário sobre analogias: alguns sustentam que o rol é meramente exemplificativo, cabendo interpretação extensiva ou teleológica em casos análogos; porém, a jurisprudência tende a decidir pelo caráter exaustivo, para evitar insegurança jurídica. A redação legal veda expressamente a analogia por semelhança (exemplo: uma suposta hipótese de deserdação não prevista não pode ser invocada). Em períodos recentes, propostas acadêmicas sugerem ampliar o rol, por exemplo incluindo o abandono afetivo ou outras formas de maltrato não contidas na lei, mas tais mudanças demandariam reforma legislativa. Também se discute se atos posteriores à abertura da sucessão ou não coincidentes exatamente com as hipóteses poderiam ensejar deserdação. A técnica legislativa exige que o fato relevante seja conhecido pelo testador em vida, assim como claramente especificado no testamento. Quanto às controvérsias, destaca-se a jurisprudência que considera não ser possível dispor da legítima por vontade própria (metade disponível limitada pela presença de herdeiros necessários), o que proíbe desfiliar herdeiro necessário sem motivação legal. Além disso, sob o prisma constitucional, examina-se se a deserdação, em si, viola direitos fundamentais como o princípio da segurança jurídica ou a proteção do vínculo familiar. Até o momento, não há entendimento de que a deserdação, aplicada nos termos da lei, seja inconstitucional: trata-se de liberdade testamentária condicionada (art. 1.966, §2º, CC) e sujeito ao contraditório judicial. Em síntese, embora a deserdação seja formalmente simples (ato de vontade), sua aplicação é cercada de limites estritos e debates sobre eventual ampliação das hipóteses. 2.4.5 Jurisprudência sobre sua aplicação e eficácia A aplicação judicial da deserdação requer sempre homologação pela autoridade judiciária. A jurisprudência brasileira tem adotado posição de conciliar rigor formal e respeito à vontade do testador. O STJ, por exemplo,admite relativizar requisitos formais estritos em testamentos (como assinatura de próprio punho) quando comprovado o intuito genuíno do testador. Em casos referentes à deserdação em si, os tribunais analisam se a causa elencada no testamento realmente se enquadra nos tipos legais exigidos. Há decisões que confirmam deserdação mesmo quando a causa é tumultuada (ex.: ofensa moral gravíssima mesmo fora dos incisos estritos), desde que se entenda que o comportamento corresponde à hipótese legal subjacente. Em contrapartida, há julgados que consideram inválido ato de deserdação se não ficar clara a justa causa, reforçando a necessidade de aderência estrita à lei. Em suma, a jurisprudência reconhece a eficácia da deserdação quando presentes os requisitos legais: testador e herdeiro eram necessários, a causa é legalmente prevista e devidamente declarada, e a sentença judicial homologou o ato. Na prática, decisões do STJ vêm garantindo que a vontade do testador prevaleça sobre questões de forma, desde que observadas as regras fundamentais, como reforçou a ministra Nancy Andrighi. Isso indica que os tribunais procuram evitar a anulação de testamento por vícios formais irrelevantes, desde que não haja fraude ou falta dos pressupostos essenciais. Contudo, permanece a controvérsia sobre casos fronteiriços e a interpretação uniforme dos incisos legais, apontando-se a necessidade de consolidar entendimentos (por meio de precedentes obrigatórios ou eventuais enunciados) para pacificar a eficácia da deserdação. 2.5 Efetividade e Limites Práticos dos Institutos da Indignidade e da Deserdação 2.5.1 Dificuldades processuais e probatórias para sua aplicação A efetiva aplicação dos institutos de exclusão sucessória enfrenta sérias dificuldades práticas. A primeira dificuldade é de natureza probatória: é muitas vezes árduo comprovar os atos censuráveis após a morte do autor da herança. No caso da indignidade, pode haver sentença penal condenatória (como homicídio) que torna a prova fácil; mas em muitos casos (injúria, calúnia, fraudes de testamentárias) a falta de registro formal ou testemunhas robustas dificulta a evidência em juízo. No que tange à deserdação, cabe àquele que invoca o ato do testador (herdeiro legitimado ou Ministério Público) comprovar a veracidade da causa declarada. Como aponta Pederneiras (2024), “outra grande dificuldade está na efetiva comprovação da prática dos atos que podem levar à perda do direito à herança, especialmente nos casos de deserdação”. Em razão dessas barreiras, o Superior Tribunal de Justiça vem admitindo instrumentos processuais excepcionais. Por exemplo, no Recurso Especial 2103428/SP, o STJ reconheceu que o autor da herança poderia antecipar provas para documentar um fato supostamente futuro de deserdação (acusação pública de crime doloso ao falecido). Naquela situação, um filho postou em redes sociais ter provas de que o pai havia matado a mãe, com objetivo de justificar uma futura deserdação. O STJ entendeu que era lícito ao autor da herança propor ação de justificação (produção antecipada de provas) para preservar evidências, desde que se trate apenas de colheita de informações (sem decisão definitiva sobre exclusão). Essa decisão reconhece a necessidade de adaptar o processo às peculiaridades do instituto: garantir segurança sem tolher o ingresso de provas que desaparecem. De modo geral, as ações de indignidade e deserdação sofrem com prazos decadenciais (4 anos) e com a exigência de prova “além de dúvida razoável”, o que, em laudos morais ou omissões familiares sutis, torna frequente o indeferimento por insuficiência de evidências. Assim, o aspecto probatório é enorme limitador de efetividade: muitos casos de má conduta familiar não se traduzem em evidências que atendam o rigor processual. 2.5.2 Análise crítica da uniformidade (ou ausência dela) na jurisprudência brasileira Observa-se divergência na jurisprudência nacional quanto à aplicação uniforme da exclusão sucessória. Em alguns tribunais, a interpretação adotada é estrita – as hipóteses legais só se consideram nos estritos termos ao passo que em outros se permite alguma flexibilização teleológica. Por exemplo, em matéria de indignidade, o STJ já flexibilizou a ideia de crime contra a vida para incluir ato análogo (injúria grave que resultou em morte), enquanto outros entendimentos têm ressaltado que não cabe analogia algum. No tocante à deserdação, a falta de uniformidade aparece na mensuração das provas e na valoração da vontade do testador: alguns julgados seguem rigorosamente o art. 1.964 (exigem causa formalmente descrita), outros relativizam pequenos vícios de forma para privilegiar a manifestação de vontade (especialmente quando o testamento é público ou cerrado com rubricas). O STJ inclusive confirmou, em caso de testamento privado assinado apenas digitalmente, que não se pode presumir fraude e que deve-se privilegiar a real intenção do testador. Essa tendência mostra que, sem enunciado vinculante, os tribunais buscam conciliar formalismo e espírito da norma caso a caso. Conforme Pederneiras (2024), a necessidade de uniformizar as decisões levou o STJ a admitir instrumentos como a produção antecipada de provas (REsp 2103428/SP), justamente para evitar distorções e insegurança. Em suma, há sinais de que faltam regras pacíficas: as decisões variam segundo o colegiado e o relator, o que a doutrina critica como inseguro. Por isso, propõe-se o uso de precedentes judiciais de controle concentrado ou enunciados IBDFAM como forma de estabelecer parâmetros uniformes para execução das causas de indignidade e deserdação. 2.5.3 A influência dos princípios constitucionais na interpretação dos institutos Os princípios constitucionais orientam fortemente a interpretação tanto da indignidade quanto da deserdação. Em primeiro lugar, o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1.º, III, CF) norteia os institutos: como ressalta Ferrazza (2022), “eventuais atos atentatórios à dignidade do falecido podem implicar na mitigação dos direitos sucessórios, obstando o recebimento da herança”. Ou seja, a exclusão do direito hereditário é vista como compatível com a dignidade do de cujus e a moral familiar. Assim, o próprio fundamento da indignidade é constitucionalmente informado, buscando proteger não o excluído, mas o direito à memória e integridade do falecido. Em segundo lugar, o princípio da solidariedade familiar (CF, arts. 229 e 3.º, I) também permeia a matéria: uma família solidária e afeita é invocada para criticar situações de abandono e violência entre parentes que atualmente não são cobertas pelo rol de exclusão, criando tensão com o espírito social do Direito de Família. Além disso, observa-se a projeção do direito fundamental à herança (que não é expressamente constitucional, mas decorre da função social da propriedade e da livre manifestação de vontade). Esse direito, mesmo sendo constitucionalmente tutelado (art. 5.º, XX), cede relevância quando contraria outros valores fundamentais. Em especial, as regras de exclusão só se justificam sob rígidos princípios da legalidade, devido processo (art. 5.º, LIV), e do devido respeito à vida e integridade (art. 5.º, caput). A Constituição de 1988, em especial a cláusula da inconstitucionalidade de leis revogadas (arts. 5.º, XXXV e 169), motiva questionamentos se a inexistência de previsão de hipótese de exclusão equivalente para contextos familiares modernos fere a dignidade e igualdade. Por fim, princípios como o da segurança jurídica e da proteção da confiança (respectivamente art. 5.º, XXXVI, e conceitos implícitos) orientam que a aplicação das causas de exclusão não seja demasiadamente elástica: configura-se abuso de direito se afastar herdeiro por motivo informal não previsto em lei. Em síntese, a interpretação dos institutos tem sido guiada por esses princípios: busca‐se aplicar a letra do Código sem violar a dignidade do morto nem os princípios básicos da família e da segurança jurídica. 2.5.4 Reflexos nas novas configurações familiares contemporâneasAs transformações sociais e de estrutura familiar exercem forte influência sobre a aplicação prática da indignidade e da deserdação. A legislação atual foi concebida no início do século XX e herdou modelos tradicionais de família. Familiares contemporâneos incluem uniões homoafetivas, famílias recompostas, multiparentais, entre outras realidades não previstas explicitamente na lei de 2002. Isso tem reflexos diretos: por exemplo, a deserdação prevê espécies de deslealdade apenas entre pais e filhos, deixando incólume situações de conflito entre cônjuges sem descendentes hoje comuns em casamentos complexos. Do mesmo modo, a indignidade ainda trata genericamente “autores da herança”, sem mencionar novas configurações afetivas (como parceria doméstica sem união estável formalizada), o que dá margem à controvérsia sobre qual regime sucessório se aplica. A doutrina observa que muitas condutas reprováveis que se disseminam em novos contextos familiares permanecem fora das listas de exclusão. Situações de alienação parental, abandono financeiro prolongado, tratamentos psicologicamente destrutivos e outras formas de violência doméstica ou familiar não são previstas expressamente em lei como causa de indignidade ou deserdação. A ausência de previsão legal para esses casos faz surgir o debate sobre incluir analogicamente tais condutas ou atualizá-las legislativamente. Como Ferreira e Oliveira (2025) destacaram, “embora a indignidade esteja claramente prevista no Código Civil, os dispositivos legais mantiveram um rol de hipóteses que não acompanhou plenamente a complexificação das relações familiares contemporâneas”. Esse descompasso tem levado juristas a propor releituras constitucionais dos institutos e até mesmo projetos de lei que ampliem as hipóteses de exclusão. Do ponto de vista prático, as novas configurações familiares exigem do Judiciário cuidadosa adequação dos institutos à luz dos valores atuais – mantendo firme os princípios herdados, mas sensível às nuances da convivência moderna. 2.6 Perspectivas Doutrinárias e Propostas de Aperfeiçoamento Normativo 2.6.1 Possíveis ampliações das hipóteses legais de exclusão Vários autores defendem a necessidade de ampliar as hipóteses legais de exclusão para abarcar condutas graves contemporâneas. Propõe-se, por exemplo, incluir dentre as causas de indignidade ou deserdação o abandono afetivo ou financeiro comprovado pelo herdeiro em relação ao de cujus, a prática de violência doméstica contra o falecido, ou atos que violem a integridade psicológica de idosos ou vulneráveis. Ferreira e Oliveira (2025) argumentam que o ordenamento deveria prever novas hipóteses de indignidade, como “abandono afetivo e violência psicológica”, atualmente não contempladas. Da mesma forma, Doutrina e Instituições familiares sugerem completar o rol do art. 1.962 para refletir relações extraconjugais de pais e filhos, bem como prever a hipótese de deserdação recíproca no caso de adoção tardia ou desresponsabilização de tutores legais. Em âmbito legislativo, tramitam estudos e projetos que visam inserir tais causas de exclusão seja por alteração do CC ou por enunciados vinculantes a fim de modernizar o instituto e torná-lo mais justo às exigências atuais da dignidade e solidariedade. Em suma, há consenso no meio acadêmico de que a rigidez atual não atende integralmente às realidades familiares de hoje, sendo necessária expansão legislativa das hipóteses de exclusão sucessória. 2.6.2 Releitura dos institutos à luz da dignidade da pessoa humana A dignidade da pessoa humana (art. 1.º, III, CF) é invocada na doutrina como critério central de releitura e limitação dos institutos de indignidade e deserdação. Isso significa avaliar se as hipóteses e consequências dessas penalidades civis estão em harmonia com os valores constitucionais. Em perspectiva dialética, alguns defendem que a dignidade do falecido autoriza a ampliação interpretativa do rol de exclusão, de modo a incluir todo ato que macule gravemente sua memória e honra. Ferreira e Oliveira (2025) defendem uma “releitura constitucional do instituto, com base nos princípios da dignidade da pessoa humana e da moralidade familiar”, buscando incorporar nuances sociais não previstas. Por outro lado, ao aplicar os institutos, deve-se observar também a dignidade do herdeiro evitando sanções desproporcionais. Nesse viés, a aplicabilidade desses institutos é limitada pelo próprio princípio constitucional da proporcionalidade e pelo direito à herança, garantindo que a exclusão só ocorra nos casos mais graves, efetivamente previstos em lei. Essa tensão entre liberdade do testador e tutela da dignidade favorece interpretações restritivas, a fim de não permitir abusos. Assim, a releitura atual enfatiza que, embora seja admissível sancionar condutas atentatórias, o fiel seguimento dos princípios constitucionais exige uma abordagem equilibrada, que respeite o objeto do pedido (não tolher injustamente o direito à herança) e mantenha a legalidade estrita. 2.6.3 Propostas de uniformização jurisprudencial e reforma legislativa Diante da disparidade de entendimentos judiciais e dos anseios doutrinários, algumas propostas visam uniformizar a aplicação desses institutos e reformar a norma. No plano jurisprudencial, sugere-se que o Superior Tribunal de Justiça assuma papel ativo na consolidação do entendimento mediante recursos repetitivos ou incidentes de assunção de competência, fixando parâmetros claros sobre alcance e interpretação dos artigos 1.814 e seguintes. A criação de enunciados vinculantes pelo Conselho da Justiça Federal ou enunciados IBDFAM também é apontada como saída para conferir consistência às decisões. No âmbito legislativo, a recomendação é editar novas leis (ou alterar o CC/2002) para abrir o rol legal, definindo explicitamente outras situações de exclusão (como abuso extremo de desamparo familiar), e até mesmo institutos modernos (ex.: “indignidade administrativa”, para casos de corrupção ou improbidade culposa contra o de cujus). Ademais, propõe-se melhor regulamentar a fadiga processual ampliando o prazo para ações de indignidade em face da dificuldade de prova e flexibilizar formalidades testamentárias garantindo mais segurança à manifestação de vontade. Em última análise, reconhece‐se a necessidade de harmonizar a letra da lei com a jurisprudência emergente e os princípios constitucionais. Conforme ressaltam Rodrigues (2023) e outros estudiosos, há urgência em reformar o instituto para corrigir incoerências sociais, o que demandará ações do Poder Legislativo e posicionamentos uniformizadores do Poder Judiciário. 3 Conclusão A análise dos institutos da indignidade e da deserdação no Direito Sucessório brasileiro evidencia a relevância de ambos como mecanismos de tutela da moralidade familiar e da dignidade humana. Essas figuras jurídicas, embora distintas em sua origem e aplicação, partilham o mesmo propósito: impedir que herdeiros que tenham atentado contra o autor da herança, sua honra ou seus valores, usufruam dos bens transmitidos por sucessão. Trata-se de sanções civis que, ao mesmo tempo em que protegem o patrimônio moral do de cujus, reafirmam a função social da herança como instrumento de continuidade dos laços familiares e de justiça intra-familiar. Sob o ponto de vista dogmático, observou-se que a indignidade tem natureza presumida, derivada de uma vontade implícita do autor da herança, e depende de sentença judicial para produzir efeitos. Já a deserdação decorre da manifestação expressa do testador em testamento, sendo sua eficácia condicionada à confirmação judicial da veracidade da causa invocada. Ambas as figuras, portanto, reafirmam a necessidade de equilíbrio entre a vontade individual e a segurança jurídica, já que o reconhecimento da exclusão sucessória deve sempre observar o devido processo legal e a estrita legalidade. Do ponto de vista prático, contudo, a efetividade desses institutos ainda encontra obstáculos consideráveis. A dificuldade probatória, o rigorformal exigido na deserdação e a limitação do rol legal de hipóteses de indignidade comprometem a aplicação equitativa da lei. Conforme Pederneiras (2024), a comprovação dos atos que ensejam exclusão é árdua e, muitas vezes, inviabiliza a tutela da moral familiar, o que revela a urgência de aperfeiçoamentos processuais e legislativos. A jurisprudência, por sua vez, vem se mostrando sensível a tais dificuldades, admitindo a produção antecipada de provas e relativizando exigências formais em prol da preservação da real vontade do testador. A análise crítica também revelou que a jurisprudência brasileira carece de uniformidade quanto à aplicação dos institutos. Enquanto alguns tribunais adotam leitura estritamente literal dos artigos 1.814 e 1.961 do Código Civil, outros têm recorrido à interpretação teleológica, aproximando-se de uma releitura constitucional dos dispositivos. Essa disparidade decisória compromete a previsibilidade das decisões e exige a atuação uniformizadora do Superior Tribunal de Justiça, mediante fixação de precedentes qualificados e enunciados vinculantes. No campo axiológico, a pesquisa demonstrou que a interpretação contemporânea da indignidade e da deserdação deve necessariamente dialogar com os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da solidariedade familiar e da função social da herança. Tais valores impõem que o direito sucessório seja compreendido não apenas como instrumento patrimonial, mas também como expressão ética das relações familiares, em que o afeto, o respeito e a responsabilidade recíproca fundamentam a transmissão de bens e valores. Frente às transformações sociais e às novas configurações familiares como uniões homoafetivas, famílias recompostas e multiparentais , constata-se que a legislação atual se mostra insuficiente. O rol taxativo das causas de exclusão não contempla condutas contemporâneas, como o abandono afetivo e a violência psicológica, gerando lacunas interpretativas. Assim, a doutrina tem defendido a ampliação legislativa dos institutos, incorporando novas formas de desrespeito à dignidade familiar e adequando a norma à realidade social. Conclui-se, portanto, que os institutos da indignidade e da deserdação permanecem essenciais para a coerência ética do Direito Sucessório, mas demandam revisão normativa e uniformização jurisprudencial. O aprimoramento desses mecanismos deve buscar equilíbrio entre a vontade do autor da herança, a segurança jurídica e os princípios constitucionais, a fim de consolidar um sistema sucessório mais justo, efetivo e alinhado aos valores humanos e sociais da contemporaneidade. Tal modernização permitirá que o direito sucessório continue cumprindo sua função social de forma harmônica com a dignidade da pessoa humana e a moralidade das relações familiares no Brasil. Referências RODRIGUES, Caroline Dias. A deserdação do ascendente pelo descendente em caso de abandono afetivo. 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