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Psicanálise Freud: o modelo estrutural-pulsional ● Um conceito central da teoria: Trieb (Pulsão ou Instinto) ○ Princípio da constância -> Princípio do prazer e desprazer ○ 1º dualismo pulsional: Pulsões do Eu/Autoconservação X Pulsão Sexual ○ 2º dualismo pulsional: Pulsão de Vida X Pulsão de Morte ● O gradual desenvolvimento do psiquismo é fruto dos esforços para descarregar as excitações pulsionais e somáticas ○ O bebê nasce apenas como puro Id e percepções, sofrendo excitações que devem ser descarregadas. ○ Mecanismos, processos e estruturas mentais derivam da história de satisfação e frustração pulsional do indivíduo ○ Os objetos do indivíduo são criados pela história de satisfação ou frustração pulsional, por estas experiências ● O psiquismo se desenvolve numa estrutura funcional: o aparelho psíquico ○ Primeira tópica: Ics - Pcs/Cs ○ Segunda tópica: Id, Ego e Superego ● Um conceito central para o desenvolvimento: Complexo de Édipo ○ O evento infantil maior importante, dos 3 aos 5 anos aprox. ○ Organiza o desenvolvimento anterior, e define o caráter e a personalidade do adulto (finaliza a Segunda Tópica) ○ A psicopatologia do adulto deriva do modo como Édipo é vivido ○ Conceito central para a clínica: transferência ○ Crianças não fazem TF, estão no Édipo ou na latência, não são analisáveis ○ Psicóticos, deprimidos não fazem transferência, não são tratáveis pela psicanálise Melanie Klein: uma teoria das relações objetais ● Um conceito central para o desenvolvimento: relações objetais ● enfatiza os primeiros meses de vida do bebê ● um ego (primitivo) já existe desde o nascimento, com defesas e mecanismos próprios ● o bebê (e a criança) “pensam” por fantasias inconscientes; simbolização ● os objetos (primitivos) são parte da pulsão ● o bebê (e a criança) constrói um mundo interno de relações com objetos introjetados. ● “as relações objetais estão no centro da vida emocional” ● o complexo de Édipo ocorre muito cedo, e de modo diferente ● a pulsão de morte (e seus derivados) são muito mais importantes ● ao invés de fases da libido, Klein fala de modos de funcionamento típicos: as posições: esquizoparanoide e depressiva Melanie Klein: uma clínica com as crianças, que explica os adultos ● comparação com Freud: ○ as crianças fazem TF e são analisáveis ○ as psicoses e as depressões são analisáveis ○ o brincar da criança é tão simbólico do seu inconsciente e de suas fantasias quando a associação livre do adulto ○ conceito de fantasia inconsciente é diferente ○ o seu modelo teórico deriva da observação e prática direta com as crianças ○ estilo da escrita: difícil, confuso, violento; parece absurda: afirma observar fenômenos que só podiam ser inferidos A técnica psicanalítica através do brincar: sua história e significado Cintra & Figueiredo ● Estilo de Klein é “bruto”, “violento” ● Baseado no que via na clínica: observações nas análises de crianças ● A dimensão vivencial e fenomenológica tem procedência, mas está misturada com especulação teórica ● Muitas vezes descreve algo como fruto da observação direta, quando na verdade são interpretações e hipóteses ● Klein não tinha conhecimento anterior de filosofia ou medicina ● Chamou a atenção ao infantil que opera na mente do adulto ● M. Klein considera que as construções teóricas que fez, e todo o entendimento que obteve a respeito dos processos psíquicos inconscientes foi possibilitado pela técnica do brincar. ● Ela faz um apanhado histórico de como teria se desenvolvido sua técnica e apresenta no texto a contribuição de cada caso para sua construção teórica a respeito da técnica que desenvolvia. Caso Fritz ● Primeiro caso clínico acompanhado por Klein (que na verdade era seu filho Erich). ● Inicialmente Klein tentava influenciar a criança através das atitudes da mãe. Mas percebeu que não era suficiente. ● Se deu conta de que deveria atingir camadas mais profundas da mente e o que que mais lhe interessava eram as suas ansiedades e as defesas que a criança construía. Esse passou a ser o foco de seu trabalho. ● Klein as interpretava para a criança e percebia que, mesmo ocorrendo um aumento na intensidade da ansiedade, em dado momento ela cessava. Klein enfatiza: ansiedade - defesa - fantasia O Método do Brincar ● Klein interpretava o significado das ansiedades e defesas expressos pela criança em seu brincar. ● O resultado dessa interpretação aparecia em um estágio posterior de seu brincar. O brincar é entendido enquanto a “Associação Livre” da criança. ● A isso Klein adiciona a ideia fundamental de que o objetivo da análise infantil seria o de explorar o inconsciente da criança. ● E o meio para atingir isso seria a partir da análise da transferência. Papel do analista infantil ● Seria função do analista interpretar, com frequência, as fantasias, sentimentos, ansiedades, e todas as experiências, expressos no brincar. ● Interpretar se a criança consegue brincar e os motivos de uma possível inibição. ● Klein iniciou os atendimentos nos domicílios das crianças, mas rapidamente viu a necessidade de atendê-las em um local neutro, em um setting específico. Caso Rita - 2 anos, 9 meses (Klein): ● Sintomas – terrores noturnos e fobias de animais. Certa inibição no brincar e dificuldade para lidar com frustrações; muito ambivalente em relação à mãe. ● Durante a primeira sessão Klein percebe certa transferência negativa (quando Rita se mostra inibida ao ficar sozinha com a analista em seu quarto e apresenta certa melhora quando as duas vão para o jardim). ● Klein interpreta a transferência para a menina dizendo que ela parecia sentir medo de que ela lhe pudesse atacar, assim como sente medo de que alguém possa invadir seu quarto e lhe atacar quando vai dormir a noite. ● Após a interpretação Rita aceita voltar para seu quarto com Klein. Transferência ● Klein percebe também que é através do brincar e da transferência que a criança consegue manifestar seu inconsciente, especialmente em casos de inibição. ● Assim como na análise de adultos, Klein conclui que a transferência é a “espinha dorsal” do tratamento com as crianças: as interpretações fazem efeito na transferência. ● A relação transferencial demanda uma privacidade e intimidade, e deve acontecer e um local separado da vida da criança, onde não haja qualquer interferência da moralidade. A caixa lúdica e dramatização ● Klein percebe que os brinquedos devem permitir a expressão das fantasias inconscientes. ● Por esse motivo, devem ser simples, não mecânicos, permitindo a expressão do mundo interno com mais facilidade. ● Klein se utilizava de uma “gaveta individual” na qual cada criança tinha seus próprios brinquedos armazenados (correspondendo à relação privada e íntima de cada analista). ● O brincar envolve dramatização, recurso do qual a criança se utiliza para se expressar ● Os conteúdos internos são expressos de forma muito intensa na relação transferencial que a criança estabelece com seu analista. Se tornando fundamental que este se atente a esse aspecto e que perceba em que momentos da análise seus impulsos destrutivos podem surgir. A criança deve expressar suas emoções e fantasias no brincar ● A analista deve permitir a expressão da agressividade também (menos a física, contra ela) ● Uma variedade grande de situações emocionais, reprimidas ou que nem sempre podem surgir na vida da criança, podem ser expressas na sala de análise (parte III) ● A expressão de eventos reais, misturados com as fantasias, também surgem na análise ● A interpretação da analista é sobre este material e sobre a relação transferencial ● O brincar é simbólico dos processos e vivencias da mente da criança As interpretações ● Klein fazia interpretações que buscavam acessar ansiedadese angústias cada vez mais profundas. ● A analista deve permitir a expressão de todos os afetos e fantasias. Não deve punir, desaprovar ou tentar educar a criança. Nem a encorajar a expressar a agressividade. ○ Exemplo: pode interpretar a atitude de uma criança diante de um brinquedo que danificou à vivência de uma possível ansiedade persecutória. A criança projeta no brinquedo sua própria agressividade, e se sente ameaçada por ele (perseguidor). ● Na sala de análise a criança deve poder expressar sua agressividade e outros sentimentos (inveja, ciúmes, amor, ódio, culpa) de forma livre e espontânea. ● A ansiedade persecutória (muito presente nas crianças pequenas) pode estar relacionada a sentimentos de culpa e desejo de reparação. O tratamento ● A criança entenderá a interpretação, que fará efeito, se usar as palavras dela, for sucinta e clara ● A interpretação faz o analista “entrar em contato com aquelas emoções e ansiedades que estão mais operantes no momento [na criança]” “Até em crianças bem pequenas... [se encontra] uma capacidade de insight que frequentemente é bem maior que a de adultos” ● “As capacidades intelectuais do bebê também são frequentemente subestimadas e que, de fato, ele compreende mais do que se acredita” (IV, p. 160) ● Klein descobriu que mesmo em bebês já existem fantasias, ansiedades e defesas arcaicas ● Expressar as fantasias e afetos, e vivê-las com a analista na transferência, permite que as interpretações tenham um efeito muito transformador sobre a vida atual e o desenvolvimento posterior da criança ○ Ex.: Peter recusa, mas depois mostra compreende claramente as interpretações (p.160) ● No brincar a criança expressa conteúdos reprimidos, que provocam a vivência de emoções intensas. Quando o material inconsciente é acessado pelas interpretações, e a criança libera o afeto estrangulado, ela pode retomar seu processo de desenvolvimento emocional. ● A história da criança, fornecida pelos pais, é de suma importância por sugerir pistas acerca de seus conflitos inconscientes. ● A análise da transferência: Klein aponta para a necessidade de interpretar a transferência para a criança, colocando as ansiedades e fantasias que colorem a relação analítica em seu lugar de origem. ● A capacidade de insight da criança pequena é muito favorecida pela proximidade entre consciente e inconsciente (ainda são poucas as defesas). A mente infantil: o papel das fantasias ● Cada vez mais profundas, as interpretações kleinianas vão atingindo camadas da mente muito primitivas e arcaicas. As formulações teóricas kleinianas vão se basear nas vivências mais primitivas do bebê, e daí entender também os adultos ● O bebê experimenta o sofrimento (o representa, a fantasia) como ataques ao próprio corpo; também realiza ataques ao corpo da mãe e outros: fantasias sádicoanais, uretrais e orais) ● Fantasias agressivas e sádicas, “traduzindo” as vivências, a introjeção de objetos, o atacar e ser atacado, a mãe como perseguidora primitiva, a ansiedade persecutória, o medo de retaliação, a depressão e a culpa: componentes comuns do inconsciente dos bebês e das crianças pequenas (nas posições). ● As fantasias infantis são os modos de representar da criança, modos de vivenciar seu mundo interno, e são pautadas em impulsos inconscientes. Delas derivam uma série de ansiedades. A mente infantil: o mundo das relações de objeto ● As relações de objeto se iniciam com a amamentação, mais especificamente com o seio (bom e mau); o sadismo oral – depois uretral, anal – desempenha um papel importante ● Todos os aspectos da vida mental estão relacionados às relações de objetos internalizados, e externos: o mundo interno da criança; ● Existiriam duas posições (modos de funcionamento do bebê): a esquizo- paranoide, onde prevalece a cisão dos objetos e do ego; e a depressiva, na qual prevalece a síntese desses. A mente infantil: ansiedade, ego e superego primitivos ● O bebê já tem um ego primitivo, que vai usar se utilizar de defesas também primitivas para lidar com essas ansiedades ● Tendência a fazer reparações: muito importante (p. 162): processo psíquico através do qual o ego sente que desfez o dano realizado ao objeto (em fantasia). ● O superego das crianças surge antes do que Freud pensava. ● Rita, com 2,5 anos, já tem forte ambivalência para com a mãe, necessidade de ser punida, sentimentos de culpa gerando terrores noturnos, etc.: já possui um superego “severo e implacável”. ● A teoria de Klein abriu espaço para a análise de pacientes psicóticos e esquizofrênicos, já que ofereciam a possibilidade de compreensão das camadas mais profundas da mente: funcionamento psicótico precede o neurótico, e é normal em bebês. Estágios Iniciais do Conflito Edipiano ● é importante considerar o significado simbólico ou metafórico de seus conceitos e especulações ● As fantasias e fenômenos que ela interpreta em crianças de 4 anos ou mais são supostas de existirem no bebês ● O bebê já apresenta um ego primitivo, arcaico, desde o nascimento. ● O bebê vive as primeiras experiências corporais de prazer (satisfação) e desprazer, e o ego as representa como fantasias inconscientes. ● As experiências de desprazer/sofrimento são vividas como uma agressão recebida. ● diferente de Freud, a agressividade e destrutividade ligadas a estas vivências, representações e fantasias são fundamentais para a teoria de Melanie Klein ● Mas o primeiro aspecto fundamental de seu sistema de pensamento era a precocidade dos processos que atuam desde o primeiro ano de vida do bebê, em particular a do aparecimento do conflito edipiano e do supereu... ○ Para Freud, o Édipo desenrolava-se entre os dois e os cinco anos de idade. E o supereu era herdeiro do complexo de Édipo. ○ Para Klein os conflitos edipianos acontecem no segundo semestre do primeiro ano de vida do bebê. E constatou nesse mesmo período o aparecimento de um supereu precoce e feroz. O sadismo domina as pulsões ● Essa fase de apogeu do sadismo caracteriza-se pelo fato de que todas as pulsões se concentram, reúnem-se em torno de uma mesma dominante: a dominante sádica. ● De início, são as pulsões orais que se tornam pulsões sádicas orais e se caracterizam por fantasias de “morder”, “devorar o seio”; ● Depois, vêm as pulsões sádicas anais, “tomar”, “atacar”, “destruir o seio da mãe”; ● Por último, vêm as pulsões sádicas uretrais, “queimar a mãe”. ● O sadismo oral é o mais brutal, porém o auge do sadismo é atingido quando todas as pulsões verdadeiramente se somam, concentrando-se nos ataques sádicos dirigidos contra o seio, depois contra a mãe e, por fim, contra o ventre materno e seus conteúdos, que passam a constituir o objeto do sadismo máximo. ● A relação do sadismo com as pulsões. O começo do sadismo máximo é desencadeado pelo do desmame, com o desejo canibalesco de devorar o seio, o que é uma consequência da frustração sofrida pelo bebê. A agressividade é um tema dominante no início da vida ● desprazer do bebê é vivido, representado, como uma agressão sofrida. ● Melanie Klein: “há uma primeira etapa do desenvolvimento mental em que se ativa o sadismo em cada uma das diversas fontes de prazer libidinoso” (1930). ● A sexualidade (prazer, satisfação, apego, pulsões de vida) está misturada com a agressividade no bebê (sadismo oral, destrutividade, retaliação, pulsões de morte. ● Impulsos sexuais e agressivos ora de misturam, ora entram em conflito, no funcionamento da mente do bebê (por meio de fantasias inconscientes) ● Nele predominam impulsos sádico-orais e sádico-anais os impulsos genitais só aparecem mais tarde). ● O ego é arcaico, ainda não está muito desenvolvido. Há um superego arcaico presente, muito severo. O bebê experimente dor, ódio, ansiedades e medos, que são ansiedadesbásicas “A conclusão a que cheguei lá é que as tendências edipianas são liberadas como consequência da frustração sentida pela criança com o desmame, e que se manifestam no final do primeiro e início do segundo ano de vida; elas são reforçadas pelas frustrações anais sofridas durante o treinamento dos hábitos de higiene. O próximo elemento que influencia de forma determinante os processos mentais é a diferença anatômica entre os sexos.” (Klein, 1928, p.216) O desmame é fundamental ● Marca a intensificação do sadismo e o início da vivência do complexo de Édipo, pelo bebê ● Klein antecipa o Édipo freudiano e o descreve com diferenças ● Desmame é um “trauma” que frustra a criança, aumenta seu sadismo e a insere no Édipo ● O seio/a mãe não existe só para ela, ela se ausenta, abandona ● “as tendências edipianas são liberadas como consequência da frustração sentida pela criança com o desmame...” p.216 ● A frustração do desmame (oral) é reforçada pela frustração do treino dos esfíncteres (anal) ● Descrições de Freud do complexo de édipo positivo (normal) e negativo (invertido), e do édipo do menino e da menina; da castração, ansiedades, etc. ● Klein vai descrevendo tanto algumas continuidades e quanto suas diferenças teóricas em relação a estes autores. Mudança na posição e no objetivo (nos meninos) ● “O menino, quando se vê impelido a trocar a posição oral e anal pela genital, passa a ter o objetivo da penetração associado à posse do pênis.” ● mudança na posição libidinal e no objetivo, mantendo assim o objeto. Da posição oral e anal (introjeção) passam para a posse do pênis como elemento que penetra, ou seja, ativo. Mudança na posição e no objetivo (nas meninas) ● “No caso da menina, por outro lado, o objetivo receptivo passa da posição oral para a genital: ela muda sua posição libidinal, mas mantém o mesmo objetivo, que já levou à frustração em relação à mãe.” ● Há mudança da posição libidinal (oral e anal para genital) mas mantém o objetivo (receptividade). Receptividade para o pênis e amorosidade em relação ao pai. ● Os desejos edipianos ficam associados ao medo da castração e a sentimentos de culpa incipientes. O sentimento arcaico de culpa ● Klein: impulsos e fixações pré-genitais carregam um sentimento de culpa. ● Ferenczi: supõe que há uma "espécie de precursor fisiológico do superego" associado aos impulsos uretrais e anais, a que dá o nome de "moralidade esfincteriana". ● Abraham: a ansiedade aparece pela primeira vez no nível canibalesco, enquanto o sentimento de culpa surge na fase sádico- anal arcaica posterior. ● Klein: o sentimento de culpa associado à fixação pré-genital já é efeito direto do conflito edipiano. O sentimento de culpa na verdade é o resultado da introjeção (completa, ou -eu acrescentaria -ainda em andamento) dos objetos edipianos: isto é, o sentimento de culpa é produto da formação do superego. Superego e Édipo arcaicos ● O superego é muito sádico e cruel no bebê ● Porque é criado por uma série de identificações [introjeções] de objetos edipianos durante as fases oral-sádica e anal-sádica – quando o sadismo está aumentando ● O superego “contém” identificações que “têm caráter surpreendentemente contraditório: uma bondade excessiva pode conviver lado a lado com uma severidade desmedida.” ● “Não parece claro que uma criança de quatro anos, por exemplo, deveria criar em sua mente uma imagem irreal e fantástica de pais que devoram, cortam e mordem. No entanto, é fácil explicar por que numa criança com cerca de um ano a ansiedade criada pelo início do conflito edipiano toma a forma do medo de ser devorada e destruída. A própria criança deseja destruir o objeto libidinal, mordendo-o, devorando-o e cortando-o em pedaços. Isso dá origem à ansiedade, pois o despertar das tendências edipianas é seguido pela introjeção do objeto, do qual agora se espera punição. A criança passa a temer um castigo que corresponda à ofensa: o superego se torna algo que morde, devora e corta”(p.217). Conexão do Superego com fases pré-genitais ● Sendo assim: sentimentos de culpa estão ligados a fase sádico-oral e sádico-anal ● O ego arcaico ainda é muito fraco e sem recursos e só pode se defender desse rigor superegóico por meio de repressão. ● As frustrações orais e anais são protótipo de todas as outras frustrações e são significadas como punição dando origem as ansiedades. ● Avalanche de indagações e curiosidades sexuais, somadas a incapacidade de fala, ficam sem resposta e aumentam ansiedade, geram ódio. ● Sofrimento de cunho epistemofílico (desejo de saber) gerando ódio Fase sádico-anal + impulso epistemofílico ● Impulso epistemofílico + sadismo (pulsão) ativados pela tendência edipiana levam a curiosidade e vontade de se apossar do corpo da mãe (primeiro objeto de aprendizagem). ● Na fase sádico-anal há a revivência do trauma do desmame, agora relacionado ao treino esfincteriano. Criança tente a querer se apossar da mãe e buscar conhecimento, e ao mesmo tempo se sente culpada. Fusão do sadismo oral com o anal. ● Impulsos sádicos + Conflito edipiano incipiente + impulso epistemofílico = estabelecem (em ambos os sexos) o complexo de feminilidade Fase de Feminilidade ● Período de ligação intensa com a mãe, de identificação massiva, ocorrida na fase sádico-anal. ● As fezes passam a ser igualadas ao bebê que a criança espera ter. O desejo de roubar a mãe agora se aplica ao bebê, assim como às fezes. ● Dois objetivos que se fundem: desejo de ter bebês, de se apropriar deles; e ódio de irmãos e o desejo dos destruir dentro da mãe. ● No caso dos meninos há um terceiro objetivo: destruir o pênis do pai (também fantasiado com estando dentro da mãe) Fase de feminilidade (menino) ● Tem um desejo frustrado de possuir um órgão de fecundação, um seio (órgão de fartura), ligado à fase oral. ● Desejo de ter um filho + o impulso epistemofílico = deslocamento intelectual para a supervalorização do pênis. ● Vive uma ansiedade parecida com a ansiedade de castração das meninas (não possuir o falo; inveja.) ● “Nesse período, a mãe que toma as fezes do menino também representa uma mãe que o desmembra e castra” (Klein, p. 220). ● Quando há fixação sádica resulta em supervalorização narcísica do pênis e rivalidade intelectual com as mulheres ● Tendência à agressividade excessiva estão ligadas ao complexo de feminilidade ● Desprezo pelo sexo feminino e sentimento de “saber melhor” ● Tendências de sadismo extremo e antissociais ● Quantidade de fixações sádicas determinará o tipo de relação genital que terá com o masculino ou feminino. Fase de feminilidade (meninas) ● Na menina, percebe-se uma atitude passiva diante do pai. ● Seu complexo de feminilidade irá atuar provocando o desejo de ser mãe, de ter um bebê e obtê-lo através da relação com seu pai. ● Nesse caso, lhe é oferecido um substituto ao falo perdido. ● Apesar da identificação com a mãe, a menina também promove ataques ao útero e ao seio. (Provenientes de fantasias anais sádicas). Ansiedades e defesas relativas ao Édipo Arcaico ● Outro fator que poderá intervir na vivência das ansiedades primitivas relacionadas ao édipo, é a vinda de irmãos. Os ciúmes poderão se estabelecer de forma intensa, e a criança passa a estabelecer fantasias que mutilam, devoram e castram o pênis e o útero. ● Uma das saídas defensivas do bebê diante de toda a ansiedade promovida por esse estágio é a fantasia dos pais combinados; a criança, de forma onipotente, cria uma figura única que possui seios, útero e pênis. Uma criatura que é introjetada em seu mundo interno e passa a ser experimentada como perseguidor (pesadelos, p.ex.) Complexo de Édipo Clássico x Arcaico ● No momento da vivência do complexo de édipo clássico (3 aos 5 anos), toda essa experiência arcaica iráatuar. As ansiedades experimentadas pela criança serão fortemente intensificadas pelo ódio proveniente das frustrações anteriores e pelo superego anteriormente desenvolvido. As tendências sádicas ganham espaço e também influenciam a forma como a criança ira “fechar” o édipo. ● Klein aponta para a importância das fixações sádicas no momento do édipo. Elas influenciariam fortemente o medo de ser castrado, assim como a quantidade de ódio que o menino sente pela mãe. Exemplo clínico (Hanna Segal) ● “Uma figura de pais combinados aparece no sonho que uma paciente, em fase maníaca, teve pouco antes das férias de verão. Ela sonhou que estava numa feira e que havia uma pequena exibição. Ai, um homem monstruosamente gordo, grávido, com enormes dentes, exibia-se e fazia discursos. Todo mundo por perto estava rindo e ela não sabia se deveria ter pena do homem, nojo, ou se deveria rir com todo mundo. A paciente não teve associações diretas com o caso...passou grande parte da sessão atacando-me com desprezo e ridículo. Ao final da sessão contou-me o que acabara de ouvir a meu respeito. Algumas semanas antes, alguém lhe contara que eu ia fazer uma conferência em Cambridge. Pensara que seria numa das grandes faculdades, mas acabara de ouvir que seria apenas uma palestra para uma associação de estudantes. Essa associação esclareceu imediatamente o sonho. A exibição era a associação de estudantes e o homem gravido e gordo que se exibia era eu lendo minha palestra...sabemos a partir de material anterior, que a paciente invejava extremamente o fato de eu ler meus trabalhos; isso representava pra ela, a um só tempo, minha potência masculina e minha fertilidade feminina. Às vezes, meus trabalhos representavam bebes feitos em conjuntamente, numa boa relação sexual, por mim e por meu marido” (p. 122) As origens da transferência ● klein: transferências para freud ● São novas edições ou fac-símiles dos impulsos e fantasias que são despertados e tornados conscientes durante o andamento da análise. ● Substituem uma pessoa anterior [ou várias] pela pessoa do médico. ● Toda uma série de experiências psicológicas é revivida não como algo que pertence ao passado, mas que se aplica ao médico no presente momento (atualização). ● Uma forma de reviver o passado na terapia. ● Opera ao longo da vida, mas é intensificada (catalisada) pela situação terapêutica. ● Freud no início: a análise funciona ao tornar consciente os conflitos inconscientes; ● Freud posterior: a análise funciona pelo manejo da transferência; ● Verdadeiro motor da análise: reviver estes impulsos e fantasias com o analista é a chance do paciente para modificá-los, elaborá-los (Durcharbeitung), por meio das interpretações e ações do analista ○ OBS: Elaboração, perlaboração: processo ou trabalho psíquico pelo qual a análise leva o paciente a superar as suas resistências e integrar as interpretações do analista, libertar-se dos mecanismos patológicos repetitivos e ressignificar suas experiências e relações KLEIN: TRANSFERÊNCIA ● Seus conflitos e ansiedades são reativados, na análise; ● O paciente desloca para o analista as suas experiências primitivas, relações de objeto e emoções; ● Conflitos e ansiedades são reativados, e o paciente lida com estes com os mesmos mecanismos e defesas; A PRIMEIRA FORMA DE ANSIEDADE É A PERSECUTÓRIA ● Ansiedade e sentimentos persecutórios se originam de: ○ Da pulsão de morte (fonte interna) que atua sobre o organismo, gerando o medo de aniquilamento; ○ Dos impulsos destrutivos (fonte interna) dirigidos para o objeto primordial, que geram medo de retaliação; ○ Das experiências de frustração e desprazer do bebê (fonte externa) que são vividas como ataques contra ele; POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓIDE ● Conforto e cuidados vividos pelo bebê (ex., as primeiras experiências de amamentação): ● vem de “forças boas” = objeto bons ● Bebê sente amor e gratidão pelo seio bom; sentimentos de perseguição e impulsos destrutivos são dirigidos para as forças frustradoras e sofredoras, os seios maus ● A cisão está em alta: amor e ódio, e todos os aspectos “bons” e “maus” vividos pelo bebê, são mantidos separados no psiquismo ● Busca por segurança: usar os mecanismos de defesa (cisão, negação, idealização, onipotência) para: ○ transformar o objeto bom em objeto ideal (que protege contra o objeto perigoso e persecutório) ○ A ansiedade persecutória provoca a idealização ○ Dura 3 a 4 meses. INTROJEÇÃO ● A libido e agressividade são projetados no seio materno: é a base para as relações de objeto externas ● Introjeção no ego do seio materno e outros objetos: cria as relações com objetos internos ● Início da formação do superego ● Pai logo é introjetado também e se torna um objeto interno ● Introjeção e projeção vão ocorrendo ao mesmo tempo: as relações de objeto internas e externas interagem constantemente, no bebê. ● (É uma das principais formas do bebê lidar com suas pulsões e se relacionar com o mundo.) A SEGUNDA FORMA DE ANSIEDADE É A DEPRESSIVA ● A partir dos 3, 4 meses: há uma crescente capacidade de síntese e integração do ego ● Cada vez mais o bebê percebe a mãe e a introjeta como um pessoa total ● Os impulsos agressivos e destrutivos, antes dirigidos ao seio mau, agora são também dirigidos contra o seio bom – isto é, contra a mãe como objeto completo ● Bebê: sente que a voracidade e agressões incontroláveis vão destruir a mãe (processos semelhantes ocorrem com o pai e outros membros da família) ● Resultado: ansiedade, depressão e culpa, frente ao medo e possibilidade de perda ou destruição dos objetos amados ● Impulso para viver o Édipo: necessidade de separar sentimentos e desejos negativos e positivos em objetos diferentes ● Impulso para largar os objetos orais e introjetar os genitais ● Vários fatores atuam aqui: prova de realidade crescente, desmame, etc. ● É a Posição Depressiva, cujo pico é aos 6 meses DIFERENÇAS COM FREUD ● Freud: autoerotismo e narcisismo são estados anteriores às relações de objeto. ● Klein: autoerotismo e narcisismo ocorrem junto com as primeiras relações de objeto (externas e internas). ○ Estados narcisistas e autoeróticos: o ego está se relacionando com objeto interno amado (o seio bom), que é fantasiado como parte do corpo e do self; ○ Desde os primeiros dias de vida, o objeto bom primordial é logo internalizado (incorporado) dentro do ego, e se torna um dos motores do seu desenvolvimento; ○ “as identificações são o resultado de introjeções”. ● Não existem desejos, libido, ansiedades, fantasias, defesas ou processos mentais “soltos” no psiquismo, estão sempre ligados a algum objeto: “as relações de objeto estão no centro da vida emocional” (p.76) TRANSFERÊNCIA VEM DOS PROCESSO PRIMÁRIOS ● Transferências positivas e negativas estão ligadas ao Inter jogo e flutuações entre objetos amados e odiados, internos e externos; ● A transferência negativa tem de ser analisada (interpretada) também, e especialmente em conexão com a positiva; ● Ao contrário do que pensava Freud, pacientes esquizofrênicos fazem as duas formas de TF, pois tem dificuldades justamente nas primeiras relações de objeto (posição esquizoparanóide); ● O analista pode ser colocado pela transferência não apenas no papel de pai e mãe, mas também no de superego, id e ego: pode representar o papel de qualquer objeto do mundo interno do paciente ● A transferência com o analista contém aspectos destas relações do passado, mais também de relações atuais A TRANSFERÊNCIA NA ANÁLISE ● Na análise (às vezes numa só sessão) ocorrem flutuações e rápidas alternâncias na transferência: entre pai e mãe, objetos bondosos e perseguidores, figuras externas ou internas, mais reais ou mais fantasiados, objetos e partes do self, etc. ● O analista podeser sentido como uma combinação dos pais, hostil e ameaçadora (vinda do início do Édipo, da inveja e frustrações infantis): é a fantasia de pais que se gratificam e excluem a criança, negam-lhe o amor; ● Situação total: ansiedades, sentimentos, relações de objeto, fantasias, defesas, etc.., são transferidos ● Podem ser deslocados – sentimentos e atitudes – do analista para pessoas da vida cotidiana no presente (acting-out) ● Com a compreensão da TF e sua análise, o passado e o presente podem ser integrados; pode se diminuir a cisão nos processos mentais; ajudar o paciente a integrar mais o ego; a “evoluir” da posição esquizoparanóide para a depressiva, etc. ● “Quando as ansiedades persecutória e depressiva e a culpa diminuem, há menos premência a repetir continuamente experiências fundamentais e, em consequência, antigos padrões e modos de sentir são mantidos com menor tenacidade”(p.79).