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ESCOLA ESTADUAL TÉCNICA SÃO JOÃO BATISTA TÉCNICO EM QUÍMICA PROCESSOS INDUSTRIAIS ÁGUAS INDUSTRIAIS PROF. FABIO JULIANO MOTTA DE SOUZA MONTENEGRO 2024 1 INTRODUÇÃO As quantidades e a natureza dos constituintes presentes em águas variam, principalmente, em função da natureza do solo de onde são originárias, das condições climáticas e do grau de poluição que lhes é conferido, especialmente pelos despejos municipais e industriais. Uma análise completa de uma água natural indicaria a presença de mais de cinqüenta constituintes nela dissolvidos ou em suspensão. Esses constituintes, em geral, são sólidos dissolvidos ionizados, gases dissolvidos, compostos orgânicos dissolvidos, matéria em suspensão, incluindo microrganismos e matéria coloidal. Quando se fala em tecnologia de tratamento de água, é imprescindível conhecer as principais unidades e grandezas empregadas em análises de água. Como os processos industriais utilizam águas de diversas qualidades, costuma-se, nesta tecnologia, usar diversas unidades para determinar as concentrações de produtos sólidos, líquidos e gasosos presentes nas águas. Dentre as principais unidades, destaca-se o ppm (parte por milhão) de um dado soluto, a qual representa 1 mg desse soluto por litro de solução e, também, o ppb (parte por bilhão) que significa 1 micrograma de soluto por litro de solução. Outras unidades muito usadas são g/L e mg/L (equivalente ao ppm). Porcentagem é também outra forma de expressar a concentração de uma solução: solução a 1% de um dado soluto é equivalente a uma solução de 10.000 ppm deste soluto. É importante saber que dada a concentração de um soluto de uma solução em uma forma qualquer, sempre é possível convertê-la na forma desejável mediante a relação dos equivalentes das substâncias ou elementos em jogo. Assim, por exemplo, para converter a alcalinidade dada em ppm de CaCO3 para ppm de NaOH, basta usar a seguinte relação: 50ppm CaCO3 = 40ppm NaOH. Num processo industrial, onde a água e o vapor obtido a partir desta têm grande importância, é de extrema necessidade que exista um controle rígido dos parâmetros que representam a qualidade das condições de produção e uso dos mesmos. Neste sentido, testes rápidos como pH ( 0 a 14) são muito usados, pois através deste se tem uma previsão da acidez ou alcalinidade, assim como a Condutividade (micromho.cm-1), a qual traduz a maior ou menor facilidade com que a corrente elétrica atravessa uma solução, em função do teor de eletrólitos nela dissolvidos. Para a obtenção e o controle de uma água industrial é importante que se conheça a constituição da água bruta, para assim definir o tipo de tratamento mais adequado e as condições disponíveis. A água é muito utilizada na indústria e pode ter várias aplicações, sendo elas: MATÉRIA-PRIMA: Em que a água é incorporada ao produto final, podem ser citadas como exemplo indústrias de bebidas, cosméticos, conservas, entre outras. Nestas aplicações, o grau de qualidade da água pode variar bastante, podendo-se admitir características equivalentes ou superiores às da água para o consumo humano. . USO COMO FLUIDO AUXILIAR: Para preparação de soluções químicas, reagentes químicos ou em operações de lavagem. O grau de qualidade da água utilizada, da mesma forma quando utilizada como matéria-prima depende do processo a que se destina; USO PARA GERAÇÃO DE ENERGIA: A água é utilizada em estado natural, podendo ser utilizada a água bruta de um rio, lago ou outro sistema de acúmulo, tomando cuidado para que materiais como detritos e substâncias agressivas não danifiquem os dispositivos do sistema. USO COMO FLUIDO DE RESFRIAMENTO E AQUECIMENTO: Aqui a água é aquecida, principalmente na forma de vapor, para remover o calor de misturas reativas que exijam resfriamento devido à geração de calor já que a elevação da temperatura pode comprometer o desempenho do sistema e danificar os equipamentos . TRANSPORTE E ASSIMILAÇÃO DE CONTAMINANTES: É o uso da água em instalações sanitárias, na lavagem de equipamentos e instalações ou ainda para a incorporação de subprodutos sólidos, líquidos ou gasosos gerados por processos industriais. A presença de materiais de diferentes características na água exige que antes do uso industrial seja feito um tratamento que visa ao atendimento das especificações adequadas a cada tipo de uso. As principais propriedades que determinam a qualidade das águas são: Turbidez, medida da quantidade de materiais em suspensão; Cor; Odor; Alcalinidade, sendo o teor de equivalentes ao íon hidroxila presentes no meio e sua medida pode ser indicada pelo pH; Salinidade; Dureza, se dá pela presença de sais alcalinos – terrosos a ela dissolvidos, principalmente o cálcio e o magnésio; Teor em sílica; Gases dissolvidos; Oxidabilidade. Vários setores industriais apresentam um considerável consumo de água, além disso geram grande quantidade de efluentes. O consumo de água em escala industrial, observa- se um aumento de acordo com o crescimento e desenvolvimento econômico do planeta, contribuindo em muito para a escassez deste recurso. Nesse sentido, pode-se observar que diferentes tipos de atividade industrial apresentam demanda hídrica e geração de efluentes com características próprias que merecem destaque: Indústria têxtil Consome recursos hídricos em seus processos. O processo de tingimento é um dos responsáveis pelo excessivo consumo de água e o gerenciamento incorreto desta atividade causa impactos diretos na natureza. Avalia-se que a indústria têxtil consome 15% de toda a água industrial do mundo, perfazendo um total da ordem de 30 milhões de m3 ao ano. A água é utilizada nas: Operações de lavagem; Operações de resfriamento; Operações de tingimento; Frigoríficos Padrões de higiene das autoridades sanitárias em áreas críticas dos frigoríficos, resultam no uso de grande quantidade de água. Os principais usos de água são para: Limpeza de pisos, paredes, equipamentos e bancadas; Limpeza e esterilização de facas e equipamentos; Operações de industrialização da carne, como eventuais descongelamentos; Lavagem da carne, cozimento, pasteurização, esterilização e resfriamento; Transporte de subprodutos e resíduos; Geração de vapor; Resfriamento de compressores e condensadores Na indústria de Couros Nas Etapas de curtimento: Ribeira: é composta por operações em meio aquoso nas quais há um grande consumo de água, pois nessa fase devem ser removidos todos os materiais não formadores do couro. Para realizar esta limpeza são efetuados procedimentos com água e com auxiliares químicos e operações mecânicas. O maior uso de Água esta no Remolho, sub processo da Ribeira. Curtimento; Acabamento Molhado; Acabamento. Indústria do papel A celulose está presente na madeira e nos vegetais em geral. No processo de fabricação, primeiro a madeira é descascada e picada em lascas (cavacos), depois é cozida com produtos químicos, para separar a celulose da lignina e demais componentes vegetais. O líquido resultante do cozimento, chamado licor negro, é armazenado em lagoas de decantação, onde recebe tratamento antes de retornar aos corpos d'água. Branqueamento da Celulose, um processo que envolve várias lavagens para retirar impurezas e clarear a pasta que será usada para fazer o papel. As pesquisas na reutilização de água são importantes para um menor consumo de água na produção, sendo um fator importante para a proteção do meio ambiente. Na indústria de álcool e açúcar Usina 100% açúcar Usina c/ destilaria anexa (50% açúcar e 50% álcool) Destilaria autônomade álcool (100% álcool) O uso específico de água é maior na produção do açúcar (30m3/t de cana), caso de uma usina que só produza açúcar (o que atualmente é muito raro). Já destilaria autônoma de produção de álcool tem a menor necessidade relativa de água para o seu processo industrial, cerca de 15 m3/tonelada de cana processada. Usinas com destilaria anexa usa cerca de 21m3/ton de cana, tipo de unidades que representam a maioria do parque industrial, com a produção de cerca de 50% de cana para açúcar e 50% para a produção do álcool. Na indústria de conserva A água na manipulação dos alimentos apenas pode ser utilizada a água potável, com exceção da água a ser utilizada para produção de vapor, sistema de refrigeração, controle de incêndio e outros fins não relacionados com alimentos desde que aprovados pelo órgão competente. As etapas para a fabricação de conservas que utilizam água são lavagens de matérias primas, limpeza dos equipamentos, vapor para a esterilização e cozimento. Na indústria cervejeira A cerveja é fabricada a partir do mosto resultante do cozimento do malte e do lúpulo. Como indústria de bebida, consome grande quantidade de água. Da mesma maneira, grande quantidade de água é liberada, seja por lavagens de equipamentos, por centrífugas ou por separação das leveduras. Em média, uma indústria cervejeira ocupa 10L de água, para cada litro de cerveja produzido. A indústria cervejeira divide a água usada no processo em Água Cervejeira (nobre ou de fabricação) e Água de Serviço. Água Cervejeira: É a água incorporada ao produto e utilizada para condicionamento do malte, moagem, carga e descarga de produtos em elaboração. Em geral, usa-se água com pH entre 6,0 e 6,5 e diversos requisitos de qualidade físico-químicos, quando para incorporação ao produto. Isso resultará na formulação de cerveja com um teor de água de 85% proveniente do preparo do mosto. Água de Serviço: Trata-se da água usada em lugares e equipamentos onde não há contato com o produto, por exemplo: lavagem de vasilhames, pisos e equipamentos e resfriamento. Em diversas ocasiões é permitido o reuso desta água desde que, para garantia da qualidade do produto, bem como para atendimento de legislação específica. Dependendo da origem da água, todas ou apenas algumas das seguintes operações são efetuadas na cervejaria: Aeração - oxidação: para remover odores; Clarificação: adição de produtos químicos para a aglomeração ou coagulação de material em suspensão, que será decantado ou filtrado; Filtração: remoção de sólidos em suspensão, filtrandose sobre a areia; Cloração: para eliminação de microorganismos e; Desmineralização: para a remoção de sais em águas que contenham alto teor de sais dissolvidos. Existem dois conjuntos de técnicas para o tratamento das águas para o uso industrial, sendo: Das técnicas convencionais; Das técnicas específicas; Menor quantidade possível de sais e óxidos dissolvidos ; Ausência de oxigênio e outros gases dissolvidos; Isenta de materiais em suspensão; Ausência de materiais orgânicos; Temperatura elevada e; pH adequado (faixa alcalina) Técnicas Convencionais: As técnicas convencionais promovem a adequação das características físicas, químicas e biológicas da água a padrões estéticos, econômicos e de higiene. Técnicas Específicas: As técnicas específicas permitem adequar a água a usos industriais mais selecionados, como processos de Abrandamento pela rota térmica, de Precipitação Química com condicionamento de fosfatos e de troca iônica; de Degaseificação; e de Remoção de Sílica gel. Abrandamento da água - Consiste na remoção de cátions bivalentes de cálcio e magnésio. Esse processo pode ser realizado por meio de três rotas: o Meio Térmico – Correção da dureza temporária da água. Esse processo consiste no aquecimento da água até a ebulição, quando os bicarbonatos de cálcio e magnésio se decompõe na forma de carbonatos, gás carbônico e água. Precipitação química – Uso de reagentes contendo ânions, os quais em contato com a água, formam carbonatos insolúveis. Os produtos mais comumente empregados na correção de dureza por precipitação química são cal e a barrilha. o Troca iônica – Compreende a substituição de íons móveis presentes em um sólido com estrutura aberta em forma de rede, por aqueles presentes na água. O mais difundido é aquele que promove a substituição de cátions bivalentes de cálcio e magnésio solubilizados na fase líquida por sólidos disponível na resina. Degaseificação - Este método trata de remover gases como Oxigênio, gás carbônico e o sulfeto de Hidrogênio dissolvidos na água. Pois esses compostos presentes na água atuam favorecendo a corrosão de equipamentos onde a água é empregada. A Remoção pode ser efetuada por métodos Físicos, com aquecimento ou pulverização da água; ou métodos Químicos, com uso de agentes quimicos de mesma natureza da impureza, no caso de oxigenio usa-se Sulfito de Sódio e Hidrazina. Remoção Sílica Solúvel A Sílica é removida atraves de reações químicas. Utiliza-se Óxido de magnésio, com o qual a sílica se combina para formar silicatos insolúveis, que são removidos após a preciptação. Figura nº1: Sistema de regeneração Fonte: SOUZA apud MEDEIROS, 2018. Vários fatores influem na escolha de um programa de tratamento de água para caldeiras: características da água, pressão da caldeira, tipo de indústria, finalidade do vapor, qualidade requerida para o vapor, carga média de produção de vapor, participação do condensado retornado, tipo de caldeira, custo do combustível e custos globais. Métodos de tratamento externo O método externo é usado para dar um tratamento à água antes que ela entre na caldeira. Pode ser realizado de várias maneiras, dependendo das condições em que se encontra a água bruta. Se a água estiver muito carregada de impurezas e partículas sólidas visíveis, é adotado um sistema de clarificação e filtragem posterior da água. Isso é feito normalmente com filtros de areia, quando a água usada é captada de rio. Pode também ser empregado o tanque de decantação e a colocação de cal, como se faz com a água para o abastecimento urbano. Outro processo consiste em usar aparelhos especiais destinados a fazer a desmineralização, isto é, promover uma reação com os sais, transformando-os em elementos que não acarretarão problemas para as caldeiras. Estes aparelhos, chamados de trocadores de cátions, trocadores de ânions e trocadores de leito misto, são empregados de acordo com as necessidades de trabalho e as condições da água de alimentação. Um outro processo externo bastante usado é o da desaeração, que tem por finalidade fazer a remoção dos gases que se encontram na água, tais como o oxigênio e o gás carbônico. O método externo é utilizado só para águas que estejam muito fora de especificação e para sistemas que trabalhem a altas pressões. São métodos externos: clarificação,filtração,abrandamento,desmineralização,osmose..reversa,destilação,desgasei- ficação ou desaeração. Veja nas figuras 2 e 3 as etapas de tratamento. Figura nº2: Etapas para obtenção da água industrial. SOUZA, 2016 Figura nº 3: Métodos externos. SOUZA, 2016 Clarificação A clarificação (figura 4) engloba três etapas, cada uma constituindo um processo diferente que exige certos requisitos para assegurar os resultados esperados. Elas são: 1. Coagulação:É o processo pelo qual se obtém o equilíbrio de cargas elétricas através de adição e mistura rápida de um coagulante com carga iônica contrária à da água a ser tratada. Após as cargas estarem equilibradas, é possível a sua aglomeração formando flocos, sem que haja repulsão entre elas. 2. Floculação: Consiste na reunião de vários flocos pequenos mediante agitação suave, os quais formam partículas maiores, com maiores velocidades de decantação. A agitação deve ser controlada para evitar a desintegração dos flocos frágeis (defloculação). 3. Decantação: É a etapa final do processo de clarificação. À medida que os flocos agregados são decantados, a água clarificada eleva-se e pode ser, então, separada do sedimento. Os flocos decantados são removidos como lodo. Figura nº 4: Processo de clarificação. Fonte: SOUZA apud KLEIN, 2018. Filtração A maioria dos flocos formados é removida por sedimentação. No entanto, sempre sobram partículas mais leves, que devem ser separadas por filtração. Os filtros são geralmente compostos de várias camadas de pedras, pedregulhos e areia. Às vezes, usa-se ainda uma camada ou mais de antracito, que dá um bom rendimento na filtração e diminui a freqüência de lavagem, além de não adicionar sílica à água. Abrandamento O abrandamento ou amolecimento da água consiste na remoção total dos íons de cálcio e magnésio nela presentes, geralmente na forma de carbonatos, bicarbonatos, sulfatos e cloretos (figura 5). Figura nº 5: Processo de abrandamento. Fonte: SOUZA apud CAMPOS, 2018. A eliminação dos cátions é necessária, pois, do contrário, haveria o risco da formação de sais de cálcio e magnésio, os quais se incrustam no interior do gerador de vapor, podendo causar problemas, como maior consumo de combustível, ou mesmo a ruptura dos tubos da caldeira. O abrandamento da água é feito em equipamentos denominados abrandadores. Há três processos básicos de abrandamento: 1. Processo de cal-sodada: é aplicado quando a dureza do cálcio excede 150 ppm em termos de carbonatos de cálcio. Através deste processo, a dureza pode ser reduzida a 30 ppm a frio ou 15 ppm a quente. 2. Processo de fosfato: usado quando se deseja diminuir a dureza final para cerca de 2 a 4 ppm. 3. Processo de troca iônica: consiste na utilização de trocadores de íons representados por substâncias sólidas e insolúveis, as resinas, das mais variáveis origens e natureza química, que têm a propriedade de, quando em contato com soluções de eletrólitos, trocar íons de sua própria estrutura com íons do meio, sem que haja mudanças de suas características estruturais. O estado inicial das resinas pode ser novamente alcançado através do processo regenerativo. Figura nº 6: Processo de abrandamento. Fonte: SOUZA, 2016 2 IMPUREZAS GERALMENTE PRESENTES EM ÁGUA BRUTA Para se avaliar a qualidade de uma água não é preciso se conhecerem todos os constituintes nela presentes. As análises de uma água natural que se destina ao uso na indústria, bem como para fins potáveis, geralmente apresentam as seguintes determinações: 2.1 DUREZA TOTAL É a soma das concentrações de cálcio e magnésio, devida a bicarbonatos, carbonatos, sulfatos, cloretos e nitratos. Sais de cálcio e magnésio têm a tendência de formar incrustações sem superfícies onde há troca de calor, causando, por exemplo, o bloqueamento de tubos de caldeira e de trocadores de calor de sistemas de águas de refrigeração. Nestas condições, as tubulações de caldeira podem sofrer rupturas por superaquecimento no local da incrustração e tubos de trocadores de calor podem sofrer corrosão por aeração diferencial, especialmente em sistemas de aeração fechados. Além disso, essas incrustrações provocam perda de eficiência das superfícies de troca de calor e permitem a possibilidade de produtos altamente corrosivos se concentrarem debaixo delas, como, por exemplo, soda cáustica, provocando corrosão cáustica. Este tipo de corrosão é freqüente em caldeiras de alta pressão, mas pode também ocorrer em caldeiras de média e baixa pressão, quando se admite a presença de soda cáustica na sua água. Esses sais podem ser removidos das águas brutas por abrandamento, desmineralização ou evaporação. 2.2 ALCALINIDADE TOTAL Geralmente é devida a bicarbonatos de Ca, Mg e Na, cujas concentrações em águas brutas variam de 10 a 30 ppm. Tais compostos apresentam os mesmos inconvenientes que os sais de cálcio e magnésio em sistemas de produção de vapor. Os bicarbonatos têm, ainda, o inconveniente de liberar gás carbônico, quando submetidos às temperaturas das águas de caldeiras. O CO2 dissolvido em água a torna altamente corrosiva. A alcalinidade pode ser reduzida, ou convenientemente controlada, pelos processos de dealcalinização. Pode também ser totalmente removida por desmineralização ou evaporação da água. 2.3 SULFATOS Geralmente estão presentes como sulfato de cálcio, sódio e magnésio. Suas concentrações variam consideravelmente, podendo apresentar valores de 5 a 200 ppm, dependendo da região de onde são originárias e geram os mesmos inconvenientes que a dureza da água. Podem ser removidos por abrandamento ou desmineralização. 2.4 SÍLICA SOLÚVEL Também chamada de reativa, geralmente está presente em águas brutas na forma de ácido silícico e silicatos solúveis, cuja concentração pode variar de 2 a mais de 100 ppm. A sílica, em combinação com a dureza, produz incrustrações duríssimas e de difícil remoção em superfícies de troca de calor, como as de uma caldeira ou trocador de calor, tende ainda a passar para o vapor, em caldeiras de pressões superiores a 400 psi, formando depósitos duros em superaquecedores e palhetas de turbinas. Este último efeito é altamente danoso, pois reduz a eficiência da turbina e pode provocar alguns distúrbios mecânicos como, por exemplo, desbalanceamento. Pode ser removida por desmineralização. 2.5 CLORETOS Geralmente estão presentes em águas brutas na forma de cloretos de sódio, cálcio e magnésio. Sua concentração em água doce pode variar desde 3 a algumas centenas de ppm. Embora seja difícil imaginar-se, existem águas onde a sua concentração atinge 1.000 ppm. Na água do mar sua concentração alcança valores de até 26.000 ppm. Os cloretos provocam corrosão em certas circunstâncias quando presentes em águas de caldeiras. Sua remoção pode ser feita por desmineralização ou evaporação. 2.6 GÁS CARBÔNICO Apresenta-se dissolvido nas águas brutas. Sua concentração pode variar de 2 a 15 ppm. Este gás dissolvido em água é altamente corrosivo ao ferro e ligas de cobre que constituem as tubulações, aquecedores, condensadores, rotores de bombas, etc., de sistemas de águas de alimentação de usinas de vapor. O CO2 pode ser removido das águas brutas ou das águas de alimentação por desgaseificadores e desmineralizadores. 2.7 OXIGÊNIO DISSOLVIDO Está presente na forma de O2. Sua concentração pode atingir cerca de 10 ppm e em presença de água é altamente corrosivo ao ferro e ligas de cobre. Pode ser removido das águas de alimentação por deaeradores. O oxigênio dissolvido em águas não apresenta inconvenientes quando elas se destinam a fins potáveis. 2.8 AMONÍACO Apresenta-se muitas vezes dissolvido nas águas brutas em concentrações que podem variar desde traços até cerca de 20 ppm. Às vezes, apresenta-se combinado na forma de compostos orgânicos. O amoníaco, na presença de oxigênio dissolvido em água, é corrosivo ao cobre e suas ligas. Em concentrações muito altas, é corrosivo ao cobre mesmo na ausência de oxigênio dissolvido.Pode ser removido por cloração, desmineralização e parcialmente por degaseificadores. 2.9 FERRO Geralmente presente nas águas brutas na forma de bicarbonatos. Suas concentrações podem variar grandemente dependendo da região. Tem-se encontrado ferro em águas brutas, variando desde poucos ppm até 100 ppm. Ferro tem a tendência de formar depósitos nas superfícies de troca de calor, como em tubos de caldeiras e resfriadores; conseqüentemente pode provocar rupturas nesses tubos ou causar o seu bloqueamento. Os depósitos de ferro, sendo muito porosos, permitem o alojamento de produtos altamente corrosivos, provocando grandes danos para os materiais. Pode ser removido por aeração ou cloração em tanques de armazenamento, por desmineralização ou processo de abrandamento com cal sodada, por precipitação. 2.10 MANGANÊS Pode estar presente nas águas brutas na forma de bicarbonato. Sua concentração é normalmente baixa, podendo variar de 0 a 5 ppm. O manganês apresenta os mesmos inconvenientes que o ferro em superfícies de troca de calor. Pode ser removido por precipitação, durante o abrandamento de água no processo da cal sodada ou por desmineralização. 2.11 MATÉRIA EM SUSPENSÃO NA ÁGUA E MATÉRIA COLOIDAL Suas quantidades são avaliadas pela turbidez e cor. Estão presentes em grandes quantidades em águas de superfície como as de rios e lagos, e em pequenas quantidades em águas do subsolo, como as de poços. As naturezas da matéria em suspensão na água e a coloidal são as mais diversas, geralmente são constituídas de argila, areia, lama, óleos, matéria orgânica, sílica coloidal, ácidos húmicos e fúlvicos (resultantes da decomposição de vegetais) e organismos como bactérias e esporos. A turbidez de águas naturais pode variar grandemente, em uma mesma fonte, no decurso do tempo e dependendo das condições climáticas. A cor de águas naturais é conferida por certos compostos orgânicos que transferem para elas suas cores. A cor, dependendo da região, pode variar de poucas unidades até cerca de 1.000 unidades Hazen. A sílica coloidal e os microrganismos são removidos nos processos de abrandamento por cal sodada e mais efetivamente nos processos de clarificação. Os ácidos húmicos e fúlvicos e a coloração podem ser eliminados por cloração da água e por filtros de carvão ativado. Os filtros de carvão ativado removem, também, qualquer excesso de cloro e matéria orgânica. 2.12 SÓLIDOS TOTAIS DISSOLVIDOS Sua concentração varia grandemente, em geral oscilando entre 50 e 500 ppm, podendo alcançar valores maiores. O valor dos sólidos totais, determinado por análise, é utilizado entre outros fatores, no estudo da viabilidade da produção de vapor a partir de uma dada água. Da mesma forma, serve para o estudo da viabilidade de produção de água desmineralizada, a qual será antieconômica se apresentar muitos sólidos ionizados. O valor total de sólidos dissolvidos é de grande utilidade para a determinação das descargas de águas de caldeiras ou evaporadores para a manutenção de determinado número máximo de sólidos nos seus interiores. 3 QUALIDADE DE ÁGUAS PARA FINS INDUSTRIAIS A importância industrial da água caracteriza-se por uma diversificada aplicação em processos como: geração de vapor (produção de energia e aquecimento), resfriamento, transporte e processamento de produtos, matéria-prima em muitos processos, veículo para despejo de efluentes em evaporadores e compressores. Cada um desses usos exige um tratamento especial para a água com o objetivo de eliminar todas as impurezas existentes, as quais prejudicam a transferência de calor, alteram a qualidade do produto final, corroem e deterioram os equipamentos. Neste sentido, a qualidade da água, verificada através de suas características físicoquímicas e biológicas, depende da finalidade a qual se destina. 3.1 ÁGUA PARA PRODUÇÃO DE VAPOR A qualidade de águas de caldeiras e os problemas dela decorrentes (corrosão, incrustrações, depósitos nas superfícies internas dos tubos, etc...) depende diretamente da qualidade da água de alimentação (água bruta). Estes problemas estão relacionados com a natureza das águas usadas na produção de água de alimentação e compensação ou para refrigeração de condensadores que sempre utilizam água in natura de rios, lagos ou mares. Vale salientar que a eficiência dos processos de remoção de impurezas em água bruta não é total, pois poucos ppm ou mesmo traços destas podem permanecer na água após o tratamento e causarem problemas para os sistemas de produção de vapor a que irão servir. Considerando que existem caldeiras de baixa, média e alta pressão, a constituição requerida varia para cada tipo. (Ver polígrafo “Águas - Legislação e Padrões”). Águas de alimentação de caldeiras de baixa pressão devem ser, preferencialmente, abrandadas e clarificadas, quando contiverem baixa concentração de sólidos dissolvidos. Águas de alimentação de caldeiras de média pressão devem ser preferivelmente desmineralizadas ou destiladas por evaporadores. Estas águas devem, também, ser desaeradas para diminuir o O2 dissolvido remanescente. Águas de alimentação de caldeiras de alta pressão devem ser desmineralizadas ou destiladas por evaporadores. Também devem ser desaeradas e acondicionadas pelo controle congruente pH-PO4 3-. Qualquer anormalidade que possa ocorrer com caldeiras em operação, devida à má qualidade de suas águas, poderá implicar na paralisação de todo o processo industrial, fato que justifica a especial atenção dispensada a este estudo. 4 SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE VAPOR 4.1 PRODUÇÃO DE VAPOR SEM NENHUMA RECUPERAÇÃO É característico de sistemas com pequena taxa de geração de vapor, que geralmente é produzido para fins de aquecimento. Neste caso, as caldeiras são de baixa pressão e suas águas de alimentação, via de regra, são clarificadas, sendo às vezes abrandadas. 4.2 PRODUÇÃO DE VAPOR COM RECUPERAÇÃO PARCIAL OU TOTAL Em geral é próprio de usinas térmicas onde o vapor produzido é utilizado para geração de energia elétrica e para determinados processos industriais que necessitam de calor. Nestes casos, a porcentagem de recuperação de vapor pode variar de 65 a 95% e as caldeiras que funcionam nestes sistemas são de média e alta pressão. 4.3 PRODUÇÃO DE VAPOR COM RECUPERAÇÃO TOTAL É apropriado em caldeiras instaladas para funcionar à alta pressão, sendo que nestes casos, a água de alimentação deve ser desmineralizada ou destilada por evaporadores. Este sistema é bastante usado em usinas termelétricas e de alguns sistemas que utilizam vapor para gerar energia elétrica e, ao mesmo tempo, para fins de aquecimento em processos. Apesar da expressão “recuperação total de vapor” ser usado, ocorrem perdas de condensado que variam de 0,5 a 3,0%, em relação ao vapor produzido. Nos casos em que há recuperação de vapor com determinada perda, esta precisa ser reposta no sistema. A água produzida para esta reposição, comumente denominada de água de compensação, deve ser sempre de excelente qualidade (desmineralizada). A figura abaixo apresenta um sistema básico de produção de vapor, onde estão identificados os vários estágios em que se convencionou dividir os ciclos Figura nº 6: Sistemas de produção de vapor. Fonte: SILVEIRA, 2015. Genericamente, águas de alimentação são as que abastecem as caldeiras durante os processos de produção de vapor. Em um ciclo fechado, a água está compreendida entre o condensador e a caldeira (condensado e alimentação) e em um sistema aberto ela provém de um abrandador ou de uma estação de clarificação de água. A água de compensação não alimenta diretamente uma caldeira, mas entra no ciclo de água de alimentação através do condensador ou do deaeradorda unidade. A qualidade das águas de alimentação pode variar grandemente, dependendo do sistema ao qual se destinam. Já as características das águas de compensação não variam muito, pois, em sua maioria, são desmineralizadas ou destiladas por evaporadores. 5 TRATAMENTO DE ÁGUAS PARA ABASTECIMENTO DE CALDEIRAS 5.1 IMPUREZAS DA ÁGUA O controle e o tipo de tratamento a ser adotado depende dos conhecimentos das substâncias ou elementos dissolvidos e do tipo de caldeira. Quanto mais críticos os valores maiores serão as exigências em relação à qualidade da água e tipo de tratamento. A tabela abaixo mostra constituintes, problemas e tratamento adequado a algumas impurezas: Tabela nº 1: constituintes, problemas e tratamento adequado a algumas impurezas Constituintes Problemas Causados Tratamento Adequado Turbidez Sedimentos em linhas de águas Floculação, Filtração Decantação Cor Espuma na Caldeira Floculação, Decantação, Filtração (carvão ativado) Dureza Incrustações Abrandamento interno e externo Dioxido de Carbono Corrosão em dutos de água, linhas de vapor e condensado Desaeração e Neutralização Alcalinidade Excesso de espuma, arraste, fragilidade cáustica e corrosão nas linhas de vapor e de condensado Desmineralização e tratamento interno Sulfatos Incrustação Desmineralização Cloreto Corrosão Desmineralização Sílica Incrustação, volatiliza a altas pressões causando depósitos em turbinas Desmineralização Ferro Causa sedimentação e corrosão Aeração / Abrandamento / Decantação / Floculação / Desmineralização Oxigênio Corrosão Desaeração (externa e interna) Sólidos Dissolvidos Espuma, sedimentos e corrosão Desmineralização Sólidos Suspensos Sedimento e arraste Floculação / Filtração / Decantação Microorganismos e Matéria Orgânica Corrosão Floculação / Filtração / Decantação Fonte: SOUZA, 2018. 5.2 PROBLEMAS CAUSADOS PELAS IMPUREZAS 5.2.1 Incrustações São depósitos de substâncias sólidas na superfície interna da caldeira que, por serem isolantes térmicos, retardam a transferência de calor, afetando o metal que fica exposto a temperaturas muito elevadas, enfraquecendo e rompendo. Com a incrustação ocorre um maior consumo de combustível. 5.2.2 Corrosão Pode ocorrer na seção de abastecimento, na caldeira e na seção de vapor e de retorno de condensado. Existem diversos tipos de corrosão, sendo os mais comuns causados por gases corrosivos (CO2, O2, H2S, SO2), as mais importantes causas de corrosão são as produzidas por CO2 e O2. O CO2 age por igual atacando o metal de maneira uniforme, diminuindo sua espessura e provocando rompimento, enquanto o O2 tem ação localizada, em determinados pontos, aprofundando-se e provocando uma perfuração denominada “Pitting”. 5.2.3 Arraste É o fenômeno pelo qual gotículas de água são arrastadas junto com o vapor. O arraste carrega consigo todas as impurezas e produtos químicos existentes na água. Além das gotículas de água, pode ser provocado por espuma. O arraste provoca depósitos em linhas de calor e danos em equipamentos, válvulas e registros. As causas para o arraste são devidas a efeitos mecânicos e químicos. Os efeitos mecânicos são: nível de água alto na caldeira, caldeira em sobrecarga, flutuações na demanda do vapor e projeto da caldeira. Os efeitos químicos são: Excesso de sólidos dissolvidos na água da caldeira, sólidos em suspensão em excesso, alcalinidade exagerada, matéria orgânica em excesso e/ou presença de óleo, graxa, açúcar e detergente. 6 TRATAMENTO DE ÁGUA PARA USO EM CALDEIRAS O condicionamento das águas para caldeiras pode ser feito por tratamento externo, interno ou em combinação, com a finalidade de proteger a caldeira, permitindo uma vida útil mais prolongada e maior eficiência na produção de vapor. As seções anteriores e posteriores à caldeira se beneficiam com um tratamento correto da água. 6.1 TRATAMENTO EXTERNO É também chamado de pré-tratamento da água e pode compreender: Clarificação; Desmineralização e; Desaeração 6.1.1 Clarificação Pode ser feita pela adição de produtos químicos e subsequentes operações ou em equipamentos compactos onde a adição de produtos químicos e a operação necessária são todas feitas no mesmo equipamento quando há pouco espaço físico. A clarificação consiste em coagular os colóides constituintes da água, por adição de eletrólito ou colóides de carga elétrica contrária e com poder adsorvente, decantar este precipitado e após filtrá-lo. Os reativos usados são normalmente Al2(SO4)3 e um alcali quando a água não possui alcalinidade suficiente. O álcali usado é soda cáustica. As funções do sulfato de alumínio são: neutralizar por atração as cargas elétricas dos colóides presentes, precipitando-os e reagir com a alcalinidade presente formando Al(OH)3 que é um composto flocoso, insolúvel e absorvente das várias impurezas em suspensão formando um floco grande que precipita. A floculação-decantação pode ser auxiliada com o uso de polieletrólitos que são polímeros de peso molecular elevado e altamente carregados. Seu uso permite melhor rendimento da operação. Os polieletrólitos podem ser catiônicos (positivos) ou aniônicos (negativos). Podem também ser anfóteros (catiônicos e aniônicos). Na clarificação das águas o abastecimento do pH ideal de floculação é maior rendimento da operação de floculação, com um determinado coagulante. O uso do Jar-Test é um ótimo auxiliar na seleção da melhor quantidade de coagulante e pH ideal. A dosagem de coagulante considera ótima será menor quantidade com a qual se tem o maior efeito clarificante, ou seja, maior limpidez, com máxima velocidade de floculação e decantação sem resíduos de coagulante. A decantação ocorre logo após a floculação, é onde ocorre a sedimentação da matéria coagulada sob ação da gravidade. A filtração retira os resíduos restantes após a decantação. Os filtros são geralmente de gravidade ou pressão, compostos de várias camadas de pedra, pedregulho e areia. Ás vezes usa-se ainda uma ou mais camadas de antracito que dá bom rendimento na filtração e diminui a freqüência de lavagem, além de não elevar o teor de sílica na água. Uma água para caldeira só recebe o tratamento de clarificação se não possuir este tratamento prévio ou se possui alguma impureza em excesso. 6.1.2 Desmineralização (troca iônica) + Consiste na passagem da água em substâncias sólidas, resinas sintéticas, insolúveis mas porosas, que possuem a propriedade de reagir com íons presentes na água, trocando-os pelos seus próprios. A troca iônica é feita com duas finalidades: abrandamento e desmineralização, ou seja, eliminação da dureza, cátions e ânions. As resinas trocadoras de ions são produtos naturais ou sintéticos que, em contato com a água: Resinas Sintéticas (mais usadas): copolímeros do estireno ou do ácido acrílico com o divinilbenzeno (DVB), na forma de pequenas esferas. Estireno: C6H5CH=CH2 DVB: CH2=HC.C6H5.CH=CH2 Funcionalidade das Resinas: Após a copolimerização das resinas, poderão ser inseridos grupamentos ácidos ou básicos nos núcleos benzênicos. Ácido sulfônico ------ Resina Catiônica Fortemente Ácida (CF) Ácidos Carboxílicos ------ Resina Catiônica Fracamente Ácida (Cf) Entre os grupamentos básicos inseridos nas cadeias das resinas aniônicas temos: Aminas Terciárias ------- Resinas Fracamente Alcalinas (Af) Quaternários de Amônio -------- Resinas Fortemente Alcalinas (AF) ∗ Liberam Na+, H+ ou OH- ∗ captam cátions e ânions (sólidos dissolvidos) Entre os grupamentos básicos inseridos nas cadeias das resinas aniônicas temos: Aminas Terciárias -------Resinas Fracamente Alcalinas (Af); Quaternáriosde Amônio -------Resinas Fortemente Alcalinas (AF) 6.1.4 Desgaseificação (Desaeração) É a remoção dos gases dissolvidos na água, mais comumente CO2 e O2. Processa- se por aquecimento da água em desaeradores, em temperaturas próximas a 100oC. Ocorre em duas etapas. Primeiro a água é pulverizada em meio a uma atmosfera de vapor (spray) e logo após é borbulhada por vapor (scrubber). 6.2 TRATAMENTO INTERNO O tratamento interno é feito com a adição de produtos químicos diretamente à água de alimentação da caldeira ou à água da caldeira, visando eliminar problemas causados pelas impurezas que não foram eliminadas no tratamento externo. Os produtos químicos e suas quantidades variam de acordo com impurezas, e seus teores na água e sua adição deve ser feita de modo a manter residuais de produtos para garantir um tratamento eficiente. O tratamento deve compreender, basicamente, a adição de: Redutor de Dureza Álcali Coagulante Redutor de oxigênio Neutralizador da acidez do vapor Anti-espumante Emulgante para óleos Aditivo para Fragilidade Cáustica 6.2.1 Redutor de Dureza (Abrandamento) Internamente o abrandamento pode ser feito por precipitação ou por complexação. No tratamento precipitante adiciona-se fosfato para reagir com sais de cálcio. O fosfato mais usado é o Na3PO4. Para que a reação ocorra produzindo uma lama não aderente (não incrustante) é necessária a presença de OH-, conforme a reação: 2Na3PO4 + 2NaOH + 4CaCO3 Ca3(PO4)2.Ca(OH)2↓ + 4Na2CO3 A lama formada sedimenta-se no fundo da caldeira sendo expurgada pelas descargas de fundo. No tratamento por complexação são usados agentes quelantes (EDTA - Sal Sódico) que formam compostos solúveis com a dureza reduzindo a quantidade de lama formada. Os limites no interior da caldeira são mantidos através de descargas. 6.2.2 Álcali Pode ser usada soda ou potassa cáustica. A adição de álcali tem por finalidade neutralizar a acidez presente, possibilitar a reação dos fosfatos com a dureza e precipitar o magnésio na forma de Mg(OH)2. 6.2.3 Coagulante Os precipitados formados para eliminar impurezas podem formar crostas. Muitos agentes orgânicos foram desenvolvidos para manter estes precipitados (lama) em forma não aderente e fluida, de modo a formarem partículas flocosas de dimensões limitadas, mas com densidade suficiente para causar sua sedimentação no fundo da caldeira, de onde serão removidos pelas descargas do fundo. Estes agentes são comumente os taninos, alginatos, carboximetilcelulose, amido, lignina e outros, desde que mantenha a lama de forma fluida e evitem que a mesma permaneça em locais onde a velocidade de circulação seja baixa. Com isto a superfície metálica fica protegida contra a deposição e compactação de substâncias sólidas, o que interferiria na transferência de calor. 6.2.4 Redutor de Oxigênio Dissolvido O oxigênio dissolvido é altamente corrosivo, pois mesmo pequenas concentrações deste gás podem causar sérios problemas. Na presença de CO2 sua ação nociva fica aumentada. O teor de oxigênio dissolvido na água diminui com o aumento da temperatura. Existem duas substâncias químicas eficientes na redução do oxigênio dissolvido: Sulfito de sódio e hidrazina. O sulfito de sódio é o agente químico mais comumente empregado devido ao seu baixo custo e fácil manuseio. Sua ação está especificada na reação: 2Na2SO3 + O2 2Na2SO4 A redução de um ppm de oxigênio dissolvido na água requer em torno de 8 ppm de Na2SO3 puro. A hidrazina (N2H4) apresenta, em relação ao Na2SO3, a vantagem de ser volátil, atingindo o circuito do condensado e protegendo toda a tubulação pós caldeira contra corrosão devido ao oxigênio e o CO2. Além disso não aumenta a concentração de sólidos dissolvidos na água de caldeira. A hidrazina só não é mais usada, na prática, por ser seu custo mais elevado que o Na2SO3., além de apresentar relativa toxicidade. A reação da hidrazina com o oxigênio dissolvido ocorre assim: N2H4 + O2 2H2O + N2 A reação de decomposição do excesso de N2H4 acrescentado é: 3N2H4 4NH3 + N2 O NH3 formado na decomposição atua como neutralizador da acidez do vapor, daí a proteção nas seções pós-caldeira. 6.2.5 Neutralizador da Acidez do vapor É utilizado no controle de corrosão na seção pós-caldeira quando o redutor de oxigênio dissolvido não for a hidrazina e sim o Na2SO3. A acidez do vapor é conseqüência do CO2 liberado quando bicarbonatos e carbonatos são aquecidos a temperaturas elevadas no interior da caldeira. Estes CO3 -2 e HCl3 - decompõe-se liberando CO2 que se desprende com o vapor. O processo mais usado para combater a corrosão por acidez causada pelo CO2 se baseia nos usos de produtos voláteis, que, acompanhando o vapor e se condensando com ele, neutralizam a ação do CO2. Os produtos voláteis mais utilizados são a amônia e a ciclohexilamina, por serem menos voláteis, oferecem maior proteção onde há o início de condensação do vapor. Outro meio de prevenir a corrosão por CO2 é a utilização de uma amina formadora de película protetora, por exemplo a octadecilamina. Esta película protetora funciona como barreira entre o metal e o vapor ou condensado ácidos. O problema para o uso da amina é a insegurança devido à dificuldade de determinar as condições ideais para uso como: equipamento novo. 6.2.6 Anti-espumante A natureza e a quantidade de outros compostos químicos presentes na água de alimentação, tais como, matéria orgânica, sólidos dissolvidos, alcalinidade à hidróxidos e produtos usados no tratamento da água, são responsáveis pela formação de espuma na água de caldeira. O uso de agente Anti-espumante auxilia a reduzir o arraste pois regularizam a ebulição de água. Os mais empregados anti-espumantes são à base de silicones ou polialquileno-glicóis. 6.2.7 Emulgante para óleos A contaminação por óleos na água de alimentação deve ser eliminada extremamente, caso resista ao tratamento externo, pois sua presença na água da caldeira poderá tornar a lama aderente e de difícil circulação e remoção. Quando aderido à superfície, o óleo poderá carbonizar, formando uma crosta que impede a transferência de calor, causando o superaquecimento dos tubos. O óleo contribui também para a formação de espuma. Para superar os problemas causados por sua presença na água da caldeira, devem ser adicionados à água polímeros específicos para absorção do óleo. 6.2.8 Inibidor de Corrosão (aditivo contra fragilidade cáustica) A fragilidade cáustica é causada pela ação de uma solução altamente concentrada de soda cáustica sobre o metal da caldeira. Para prevenção deste tipo de corrosão usa-se geralmente o nitrito de sódio. 7 PREPARAÇÃO DO EQUIPAMENTO ANTES DE ENTRAR EM OPERAÇÃO A preparação do equipamento consiste geralmente em lavar a caldeira em uma solução alcalina a quente (100oC) durante um tempo determinado. Essa solução alcalina deve ter uma composição correta, permitindo rápida emulsão e remoção das impurezas, sem danificar o metal. 8 DESCARGAS (PURGAS) EM CALDEIRA As descargas servem para manter os parâmetros padrões para água de caldeira, pois os precipitados formados pelo tratamento ou por transformações químicas no interior da caldeira devem ser expurgados para reduzir a possibilidade de incrustações, corrosão e arraste. O volume de descarga é calculado através dos ciclos de concentração. O valor dos ciclos de concentração é determinado pelo teor de cloretos de uma água, pois estes participam de qualquer reação na água de caldeira, ou seja, não são precipitados e nem transformados.Quanto maior o número de ciclos, menor a necessidade de purgas. Por isso a escolha da água de alimentação deve levar em conta o percentual de descarga, para minimizar custo de tratamento e operacional e também de combustível, além de aumentar o rendimento da caldeira. As descargas podem ser: intermitentes, contínuas e de nível. As descargas intermitentes eliminam parte da lama formada e de sólidos dissolvidos. Devem ser rápidos e freqüentes para se conseguir mais uniformidade na concentração da água e menos volume de água descarregado devido ao melhor controle. As descargas contínuas eliminam pouco sólido em suspensão, mas permite um excelente controle de sólidos dissolvidos por manter a concentração da água uniforme. Essa purga é posicionada a duas polegadas abaixo do nível d’água. Os diâmetros dos tubos dos volumes a descarregar depende das características da água. A purga pode ser feita também no fundo do tambor, o que torna desnecessário, neste caso, a purga intermitente. As descargas de nível são necessárias para manter limpos os acessórios da caldeira, especialmente no abrandamento por fosfato. 9 ÁGUAS DE RESFRIAMENTO Em muitos processos industriais é necessário, algumas vezes, remover-se o calor indesejável na operação. Geralmente, a água é usada como meio eficaz de absorver e afastar esse calor. (analogia com o sistema de resfriamento dos veículos automotores). Além de resolver problemas de superaquecimento, a água pode ser utilizada para refrigerar condensadores de vapor em usinas, de produtos em refinarias, para controlar reações de polimerização, enfim, uma multiplicidade de processos que necessitem de resfriamento. Um ou mais dos seguintes sistemas é usado na utilização da água como meio refrigerante: sistema aberto, sistema semi-aberto de recirculação e sistema fechado sem recirculação 9.1 SISTEMAS DE ÁGUA DE RESFRIAMENTO 9.1.1 Sistema Aberto Aquele cuja água de resfriamento, após passar pelo trocador de calor não retorna mais a ele. É empregado quando existe uma disponibilidade de água, de qualidade satisfatória, e com uma temperatura baixa. Neste sistema, a água é bombeada de sua fonte para o equipamento onde exerce a troca térmica, retornando simultaneamente ao local de origem através de tubulações. A maior desvantagem da utilização desses sistemas é a impraticabilidade do tratamento químico da água para a prevenção de problemas, devido ao custo excessivo do tratamento. A poluição térmica, resultante da descarga de grandes volumes de água aquecida, está-se tornando um problema ambiental. A longo prazo, não deve ser considerada a instalação desse sistema quando da disponibilidade de água é incerta. IMPUREZAS PROBLEMAS PREVENÇÃO Sólidos Suspensos Depósitos clarificação da água Sais Dissolvidos Crostas (cristalização) nas superfícies de troca térmica Uso de polimetafosfatos (2 a 3ppm); uso de polimetaclilatos de sódio (3-5ppm) Gases Dissolvidos Corrosão Deaeração química 9.1.2 Sistema Semi-Aberto: Este sistema é usado onde há necessidade de uma vazão de água bastante grande e somente uma pequena disponibilidade de água existe. Após passar pelos equipamentos de troca térmica, a água de resfriamento circula através de uma torre de refrigeração ou “spray-pond” para reduzir a sua temperatura, tornando-a adequada ao reuso. O sistema semi-aberto de recirculação, apesar de solucionar uma eventual falta de água, é dispendioso, necessitando de investimentos iniciais elevados. Por outro lado, a sua conceituação hidráulica permite realizar-se um tratamento de água de forma adequada. Problemas (+ intensos que nos sistemas abertos): Corrosão ; Depósitos; Crostas; Crescimento Biológico; Causas : Concentração contínua dos sais minerais dissolvidos; Absorção de poeira e gases do meio ambiente nas torres de resfriamento; Incorporação à água das torres dos microorganismos existentes no ar, que proliferam nestes sistemas Prevenção a) Inibidores de Corrosão : Anódicos ( Cromatos, Nitritos, Vanadatos e Polifosfatos Catódicos (Zn2+ ; Polifosfatos ; fosfonatos e ésteres de fosfatos b) Inibidores de Incrustações Agentes complexantes: EDTA, NTA (ác. Nitrilo-acético) e ác. Glucônico c) Biocidas Oxidantes Cloro Cl2 + H2O HClO + HCl HClO H+ + ClO- HClO Característica polar ação sobre a membrana celular Formas de Cloro Residual: Cl2 pH ≤ 2 HClO 4 ≤ pH ≤ 7,5 ClO- 7,5 ≤ pH ≤ 9,5 Demanda de Cloro = Dosagem – Cloro Residual Livre Produtos Comerciais: Cl2 gasoso liquefeito; Hipoclorito de Sódio: NaClO + H2O HClO + NaOH Hipoclorito da Cálcio Ca(Cl0)2 + H2O 2HClO + Ca(OH)2 9.1.3 Sistema Fechado O sistema fechado encontra a sua maior aplicação em operações onde a água deve ser mantida a temperaturas menores ou maiores do que as conseguidas nos sistemas semi-abertos. A água aquecida é refrigerada num trocador de calor secundário onde o meio refrigerante não entra em contato com a água. O sistema fechado é empregado para refrigerar compressores, turbinas de gás, motores diesel e sistemas de ar condicionado. 10. TRATAMENTO ESPECÍFICO PARA ÁGUAS DE: SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE CALDEIRAS (RESUMO) 10.1 ÁGUA DE SISTEMA DE REFRIGERAÇÃO a) Clarificação, decantação e filtração - elimina parte sólida em suspensão; b) Cloração - diminui contaminação microbiológica; c) Controle de pH - evita meio fortemente ou alcalina; d) Purgas previamente programadas de acordo com a concentração de sais - diminuem processos corrosivos e incrustantes; e) Adição de inibidores de corrosão (NaNO2, polifosfatos de sódio, fosfonatos, sais solúveis de Zn, molibdatos e ésteres de fosfato); f) Adição de dispersantes (policrilatos, fosfonatos, polímeros não iônicos) - para impedir a disposição de partículas. g) Adição de biocidas (fenóis, clorados, sais quaternários de amônia, organosulfurosos, compostos orgânicos de estanho) - impedem o desenvolvimento de bactérias formadoras de limo, algas e fungos. h) Emprego de proteção catódica, utilizando ânodos de sacrificio (Mg) - evita a corrosão. 10.2 ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO DE CALDEIRA a) Clarificação, decantação e filtração. b) Abrandamento ou desmineralização - elimina dureza e evita inscrustações. c) Controle de pH na faixa básica - evita corrosões. d) Adição de produto para tratamento: Convencional - fosfatos e polieletrólitos; Complexiométrico - EDTA, NTA (nitrito tri acético), fosfatos (aminometileno fosfórico) e polifosfatos - forma complexa solúveis com Ca2+ e Mg2+; Dispersante fosfonatos com polieletrólitos. e) Eliminação do oxigênio por desaeração mecânica (uso de desaeradores) ou desaeração química (adição de hidrazina ou sulfito): N2 H4 + O2 2H2O + N2 Na2SO3 + ½ O2 Na2SO4 f) Adição de aminas voláteis (morfolina, ciclohexamina) para eliminar CO2 que é corrosivo pois forma H2CO3; g) Descargas de fundo periódicas - para eliminar lama ou desconcentrar a água. REFERÊNCIAS FRACACIO, N.; USO DA ÁGUA EM ATIVIDADES INDUSTRIAIS; Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – São José do Rio Preto. ANDRADE, A. A. de; REDUÇÃO DO CONSUMO DE ÁGUA NA ETAPA DE BRANQUEAMENTO DE CELULOSE VIA REUTILIZAÇÃO DE EFRLUETES INDUSTRIAIS; Campinas, SP- 2006. NETO, A. E.; ÁGUA NA INDÚSTRIA DA CANA-DE-ACÚCAR; CTC – Centro deTecnologia Canavieira; São Paulo, SP, 16 de abril de 2008 MIERZWA, J. C. & HESPANHOL I. Água na indústria: uso racional e reúso. São Paulo: Oficina de Textos. 2005. 143 p. VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental; Universidade Federal de Minas Gerais, 1996 BUCKMAN: INTRODUÇÃO AO TRATAMENTO DE ÁGUAS INDUSTRIAIS. Por Luis W. B. Pace. Campinas. Buckman Laboratórios Ltda. 1997