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Aula 11 - Garantias e privilegios do credito tributario

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Robson Junio

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Direito Tributário II
1. GARANTIAS E PRIVILÉGIOS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO
 
Ricardo Alexandre: “são garantias as regras que asseguram direitos. Em matéria tributária, as
garantias facilitam a entrada do Estado no patrimônio particular para receber a prestação
relativa ao tributo. São privilégio as regras que põem o crédito tributário numa posição de
vantagem quanto aos demais”.
 
Paulo de Barros: “por garantias devemos entender os meios jurídicos assecuratórios que
cercam o direito subjetivo do Estado de receber a prestação do tributo. E por privilégios, a
posição de superioridade de que desfruta o crédito tributário, com relação aos demais,
excetuando-se os decorrentes da legislação do trabalho”.
 
O CTN prefere dividir assim:
Art. 183 ao 185-A = garantias;
Art. 186 ao 193 = privilégios.
 
 
Rol não taxativo
Art. 183. A enumeração das garantias atribuídas neste Capítulo ao
crédito tributário não exclui outras que sejam expressamente previstas
em lei, em função da natureza ou das características do tributo a que se
refiram.
Parágrafo único. A natureza das garantias atribuídas ao crédito
tributário não altera a natureza deste nem a da obrigação tributária a
que corresponda.
A enumeração das garantias que o CTN atribui ao crédito tributário não exclui outras que
sejam expressamente previstas em lei, em função da natureza ou das caracteristicas do tributo
a que se refiram (CTN, art. 183). A lista, portanto, não é taxativa” (Ricardo Alexandre)
Nesse sentido, o CTN é claro em prever que pode haver outras leis que prevejam outras
garantias. Ex: fiança bancária em relação ao Imposto de Importação.
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Importante destacar que o fato de ser dada uma garantia não mudará a natureza do CT, pois
esta sempre será em pecúnia, ou seja, se entregar um imóvel, a natureza do CT não se
transforma em natureza imobiliária.
 
 Todos os bens respondem pelo CT
Art. 184. Sem prejuízo dos privilégios especiais sobre determinados
bens, que sejam previstos em lei, responde pelo pagamento do crédito
tributário a totalidade dos bens e das rendas, de qualquer origem ou
natureza, do sujeito passivo, seu espólio ou sua massa falida, inclusive
os gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou
impenhorabilidade, seja qual for a data da constituição do ônus ou da
cláusula, excetuados unicamente os bens e rendas que a lei declare
absolutamente impenhoráveis.
Observar que o próprio CTN aduz que todos os bens garantem o CT, exceto aqueles
excetuados pela lei. Os bens impenhoráveis estão no Art. 833 e ss do CPC.
Em relação ao salário, há discussão na doutrina acerca da supressão da expressão
“absolutamente”, remenescento somente “impenhoráveis”.
O STJ já vem dando interpretação extensiva para permitir a penhora de salário para
pagamento de honorários advocatícios quando não comprometa a subsistência do devedor.
Confira-se:
RECURSO ESPECIAL. ALEGADA OFENSA À SÚMULA VINCULANTE
DO STF. NÃO CABIMENTO. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. PENHORA DA
REMUNERAÇÃO DO DEVEDOR. EXCEÇÃO DO §2º DO ART. 833 DO
CPC/15. INAPLICABILIDADE. DIFERENÇA ENTRE PRESTAÇÃO
ALIMENTÍCIA E VERBA DE NATUREZA ALIMENTAR.
INTERPRETAÇÃO DADA AO ART. 833, IV, DO CPC/15.
POSSIBILIDADE DE PENHORA DA REMUNERAÇÃO A DEPENDER
DA HIPÓTESE CONCRETA. JULGAMENTO PELO CPC/15.
(...)
4. No julgamento do REsp 1.815.055/SP, (julgado em 03/08/2020, DJe
26/08/2020), a Corte Especial decidiu que a exceção contida na
primeira parte do art. 833, § 2º, do CPC/15 é exclusivamente em
relação às prestações alimentícias, independentemente de sua origem,
isto é, oriundas de relações familiares, responsabilidade civil,
convenção ou legado, não se estendendo às verbas remuneratórias em
geral, dentre as quais se incluem os honorários advocatícios.
5. Registrou-se, naquela ocasião, todavia, que, na interpretação da
própria regra geral (art. 649, IV, do CPC/73, correspondente ao art.
833, IV, do CPC/15), a jurisprudência desta Corte se firmou no
sentido de que a impenhorabilidade de salários pode ser excepcionada
quando for preservado percentual capaz de dar guarida à dignidade
do devedor e de sua família (EREsp 1582475/MG, Corte Especial,
julgado em 03/10/2018, REPDJe 19/03/2019, DJe de 16/10/2018).
6. Assim, embora não se possa admitir, em abstrato, a penhora de
salário com base no § 2º do art. 833 do CPC/15, é possível
determinar a constrição, à luz da interpretação dada ao art. 833,
IV, do CPC/15, quando, concretamente, ficar demonstrado nos autos
que tal medida não compromete a subsistência digna do devedor e sua
família.
7. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, desprovido.
 
Essa situação, contudo, não autoriza a penhora de salário para pagamento de CT, pois
decorrente da inciso IV.
Existem outros bens igualmente impenhoráveis, tais como os “bens de família”, previstos na
Lei nº 8.009/90, contudo, pode ser penhorável para CT do próprio imóvel. Confira-se;
 
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de
execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza,
salvo se movido:
(...)
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e
contribuições devidas em função do imóvel familiar;
(...)
 
O STJ entende que tal previsão é plenamente possível e autoriza a penhora nessa situação
excepcional.
 
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. BEM DE FAMÍLIA.
IMPENHORABILIDADE. EXCEÇÃO. DÉBITO PROVENIENTE DO
PRÓPRIO IMÓVEL. IPTU. INTELIGÊNCIA DO INCISO IV DO ART. 3º
DA LEI 8.009/90. 1. (...): IV - para cobrança de impostos, predial ou
territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;"
2. A penhorabilidade por despesas provenientes de imposto, predial ou
territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar
tem assento exatamente no referido dispositivo, como se colhe nos
seguintes precedentes: no STF, RE 439.003/SP, Rel. Min. EROS GRAU,
06.02.2007; no STJ e REsp. 160.928/SP, Rel. Min. ARI PARGENDLER,
DJU 25.06.01. 3. O raciocínio analógico que se impõe é o assentado pela
Quarta Turma que alterou o seu posicionamento anterior para passar a
admitir a penhora de imóvel residencial na execução promovida pelo
condomínio para a cobrança de quotas condominiais sobre ele
incidentes, inserindo a hipótese nas exceções contempladas pelo inciso
IV do art. 3º, da Lei 8.009/90. Precedentes. (REsp. 203.629/SP, Rel. Min.
CESAR ROCHA, DJU 21.06.1999.) 4. Recurso especial a que se nega
provimento. (REsp 1100087/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 12/05/2009, DJe 03/06/2009)
 
Ainda em referência a esta Lei, impenhorável é somente o ÚNICO bem da família:
 
Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei,
considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela
entidade familiar para moradia permanente.
Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser
possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a
impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver
sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art.
70 do Código Civil.
Igual previsão também existe na Lei de Execução Fiscal (Lei 6830/80):
Art. 10 - Não ocorrendo o pagamento, nem a garantia da execução de
que trata o artigo 9º, a penhora poderá recair em qualquer bem do
executado, exceto os que a lei declare absolutamente impenhoráveis.
 
 Fraude à execução fiscal - presunção de fraude quando alienados bens
 
Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou
rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a
Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como
dívida ativa.(Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de
terem sido reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao total
pagamento da dívida inscrita. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)
O que importa é o momento: a inscrição na Dívida Ativa determina quando será
considerada fraude,
sendo esta presunção absoluta, de modo que não precisará o Fisco provar
sua existência.
Por óbvio, existindo outros bens que assegurem o pagamento da dívida, não haverá
fraude (§ único).
 
 
Indisponibilidade de bens
 
CTN, Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devidamente
citado, não pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não
forem encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a
indisponibilidade de seus bens e direitos, comunicando a decisão,
preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades que
promovem registros de transferência de bens, especialmente ao registro
público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado bancário
e do mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de suas atribuições,
façam cumprir a ordem judicial. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)
§ 1o A indisponibilidade de que trata o caput deste artigo limitar-se-á
ao valor total exigível, devendo o juiz determinar o imediato
levantamento da indisponibilidade dos bens ou valores que
 excederem esse limite. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)
§ 2o Os órgãos e entidades aos quais se fizer a comunicação de que
trata o caput deste artigo enviarão imediatamente ao juízo a relação
discriminada dos bens e direitos cuja indisponibilidade houverem
promovido. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)
 
2. PRIVILÉGIOS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO
 
Em algumas situações a preferência do CT é chamada de privilégio. Quando diante de vários
débitos de naturezas distintas, há uma ordem de quitação, sendo o CT um dos primeiros.
 
Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua
natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os créditos
decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de
trabalho. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)
Parágrafo único. Na falência: (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)
I – o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcursais ou às
importâncias passíveis de restituição, nos termos da lei falimentar, nem
aos créditos com garantia real, no limite do valor do bem
gravado; (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)
II – a lei poderá estabelecer limites e condições para a preferência dos
créditos decorrentes da legislação do trabalho; e (Incluído pela Lcp nº
118, de 2005)
III – a multa tributária prefere apenas aos créditos
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subordinados. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)
OBS1: honorários advocatícios não preferem ao crédito fiscal (REsp 722.197/RS – 2007 –
Rel. Min. Denise Arruda) 
OBS2: Não importa a data de constituição do crédito civil. O crédito tributário sempre tem
preferência sobre este (AgRg no REsp 434.916/SP – 2007 – Rel. Min. Humberto Martins)
OBS3: No âmbito do processo de falência, a coisa muda um pouco. A falência está prevista
na Lei 11.101/2005. Vejamos o art. 186 do CTN:
CTN, Art. 186 (...)
Parágrafo único. Na falência: (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)
I – o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcursais ou às
importâncias passíveis de restituição, nos termos da lei falimentar, nem
aos créditos com garantia real, no limite do valor do bem
 gravado; (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)
 Créditos extraconcursais. Art. 84 da Lei de Falências (Lei 11.101/05)
 Ordem dos créditos da Falência. Art. 83 da Lei de Falências (Lei 11.101/05)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
I - Créditos trabalhistas de até 150 salários-mínimos +
acidente de trabalho;
 
II - Crédito com garantia real;
 
III - Créditos tributários, exceto multas;
 
IV - Créditos com privilégio especial;
 
V - Créditos com privilégio geral;
 
VI - Créditos quirografários;
 
VII - Multas, inclusive tributárias;
 
VIII - Créditos subordinados.
 
 
 
 
 A Fazenda Pública não concorre com outros credores
CTN, Art. 187. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a
concurso de credores ou habilitação em falência, recuperação judicial,
concordata, inventário ou arrolamento. (Redação dada pela Lcp nº 118,
de 2005)
Parágrafo único. O concurso de preferência somente se verifica entre
pessoas jurídicas de direito público, na seguinte ordem:
I - União;
II - Estados, Distrito Federal e Territórios, conjuntamente e pró rata;
III - Municípios, conjuntamente e pró rata.
 
Não há necessidade da Fazenda habilitar seus créditos em processo de falência..
LEF, Art. 29 - A cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública
não é sujeita a concurso de credores ou habilitação em falência,
concordata, liquidação, inventário ou arrolamento
Parágrafo Único - O concurso de preferência somente se verifica entre
pessoas jurídicas de direito público, na seguinte ordem:
I - União e suas autarquias;
 
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II - Estados, Distrito Federal e Territórios e suas autarquias,
conjuntamente e pro rata;
III - Municípios e suas autarquias, conjuntamente e pro rata.
 Súmula 563 STF FOI CANCELADA e tinha a seguinte redação: O concurso de
preferência a que se refere o parágrafo único do art. 187 do Código Tributário Nacional
é compatível com o disposto no art. 9º, I, da Constituição Federal.
Ou seja, se um mesmo devedor devesse a diversos Fiscos, a ordem de pagamento deve ser
obedecida. Sendo assim, entre a União e uma Agência Reguladora (uma taxa por exemplo),
recebe primeiro a União (REsp 575.484/RS – 2006 – Rel. Min. João Noronha)
 
A mesma lógica seria aplicada para autarquia federal e Estado.
Súmula 497 do STJ FOI CANCELADA: “Os créditos das autarquias federais preferem aos
créditos da Fazenda estadual desde que coexistam penhoras sobre o mesmo bem.”
 
Art. 188. São extraconcursais os créditos tributários decorrentes de
fatos geradores ocorridos no curso do processo de falência. (Redação
dada pela Lcp nº 118, de 2005)
§ 1º Contestado o crédito tributário, o juiz remeterá as partes ao
processo competente, mandando reservar bens suficientes à extinção
total do crédito e seus acrescidos, se a massa não puder efetuar a
garantia da instância por outra forma, ouvido, quanto à natureza e valor
dos bens reservados, o representante da Fazenda Pública interessada.
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se aos processos de concordata.
 
Art. 189. São pagos preferencialmente a quaisquer créditos habilitados
em inventário ou arrolamento, ou a outros encargos do monte, os
créditos tributários vencidos ou vincendos, a cargo do de cujus ou de
seu espólio, exigíveis no decurso do processo de inventário ou
arrolamento.
Parágrafo único. Contestado o crédito tributário, proceder-se-á na
forma do disposto no § 1º do artigo anterior.
Art. 190. São pagos preferencialmente a quaisquer outros os créditos
tributários vencidos ou vincendos, a cargo de pessoas jurídicas de
direito privado em liquidação judicial ou voluntária, exigíveis no
decurso da liquidação.
 
Art. 191. A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação
de todos os tributos. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)
 
Art. 191-A. A concessão de recuperação judicial depende da
apresentação da prova de quitação de todos os tributos, observado o
disposto nos arts. 151, 205 e 206 desta Lei. (Incluído pela Lcp nº 118, de
2005)
 
Art. 192. Nenhuma sentença de julgamento de partilha ou adjudicação
será proferida sem prova da quitação de todos os tributos relativos aos
bens do espólio, ou às suas rendas.
 
Art. 193. Salvo quando expressamente autorizado por lei, nenhum
departamento da administração pública da União, dos Estados, do
Distrito Federal, ou dos Municípios, ou sua autarquia, celebrará
contrato ou aceitará proposta em concorrência pública sem que o
contratante ou proponente faça prova da quitação de todos os tributos
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devidos à Fazenda Pública interessada, relativos à atividade em cujo
exercício contrata ou concorre.
 
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