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REDES PARA IOT AULA 4 Prof. Gian Carlo Brustolin 2 CONVERSA INICIAL Neste capítulo, estudaremos com um pouco mais de profundidade o padrão Wi-Fi 6, que provavelmente será o mote das novas implantações de redes sem fio em ambientes comerciais. Como já percebemos, essas redes com origem nos padrões 802.11 não são plenamente apropriadas para o uso de objetos IoT, embora sejam de nosso conhecimento obrigatório, dada a sua popularidade. Após concluirmos este mergulho nos padrões Wi-Fi, partiremos para o estudo da LPWANs, que tem aplicação muito mais pertinente para os objetos de nosso estudo. Entenderemos a distinção entre LPWANs privativas e não privativas, e iniciaremos o estudo de alguns padrões importantes de redes não privativas: NB LTE, NB IoT e Sigfox. Como de hábito, será necessário dominar os assuntos anteriores deste curso e sempre que possível acessar as bibliografias indicadas em cada tema. TEMA 1 – WI-FI 6 Em nosso último capítulo, apresentamos a evolução dos padrões 802.11 focando no IEEE 802.11.ac. Adiantamos alguns benefícios das evoluções 6, 6E e 7. Poderemos agora aprofundarmos um pouco o conhecimento da versão 6 (IEEE 802.11.ax), uma vez que esta trata convenientemente redes densas, dessa forma pode conviver mais facilmente com objetos IoT que as versões anteriores. Nestas, dadas as particularidades dos protocolos que estudamos, a presença desses objetos pode se tornar considerável ônus para a rede. Vamos então estudar as principais evoluções dessa versão. 1.1 OFDMA A ideia de tratar altas densidades de usuários precisa ser acompanhada de uma técnica de modulação que permita essa densidade. As técnicas utilizadas nas versões anteriores garantem boa banda de transmissão, porém limitam o número de transmissões simultâneas. O OFDMA (acesso múltiplo por divisão ortogonal de frequência) utiliza técnica similar ao OFDM, presente na versão 5, porém, além do empacotamento dos dados do OFDM, o OFDMA divide 3 o espectro do canal em subportadoras, permitindo a transmissão simultânea de pacotes de dados. A quantidade de subportadoras pode chegar a uma centena para um mesmo canal, se desejarmos uma banda de transmissão não muito grande para cada subportadora. As subportadoras são então agregadas em RUs (Resource Units) e cada usuário receberá um ou mais RUs. A quantidade de subportadoras por RU é de no mínimo 26 para manter o espalhamento espectral da informação, como na técnica anterior, da versão 5. Em um canal Wi-Fi de 20 MHz, o 802.11ax acomodam-se 256 subportadoras, facultando, portanto, a conexão de até 9 usuários simultâneos, considerados os necessários intervalos espectrais entre RUs (GI – Guard Interval). Os GIs já existiam na versão 5, porém na nova versão eles podem ter variações para maior, permitindo acomodar os delays dos RUs em ambientes com efeitos de multitrajeto significativos. O OFDMA, além de facultar redes de alta densidade, permite designar a banda exata, necessária a cada usuário conforme lhe designamos mais ou menos RUs. Ocorre também uma vantagem em termos de carga útil dos dados transmitidos. Uma vez que designamos um RU para um usuário, a comunicação entre este e a estação base se torna aproximadamente um enlace PTP. Ou seja, não são mais necessários cabeçalhos de endereçamento em todos os pacotes transmitidos. Essa vantagem acessória aumenta a taxa efetiva de transmissão dos enlaces. Por outro lado, como existem várias subportadoras, o tempo de espera para transmissão cai vertiginosamente, já que há vários canais virtuais de comunicação. A figura abaixo ilustra a ocupação do espectro, demonstrando o acréscimo da multiplexação em frequência à tradicional multiplexação temporal do OFDM clássico. 4 Figura 1 – Acesso múltiplo OFDMA x OFDM Fonte: ZTEC, 2021. O padrão 802.11ax tem ainda outras novidades para incrementar ainda mais a capacidade de atendimento a redes de alta densidade de usuários. Quando estudamos a versão 5, dissemos que a técnica de acesso multiusuário MU-MIMO ocorria apenas na descida dos dados do AP para os dispositivos de usuários (DL MU-MIMO). A versão 6 implementa o UL MU-MIMO, como veremos a seguir. 1.2 MU-MIMO de Upload e Download A técnica DL MU-MIMO (Download Multi-user Multiple-Input Multiple- Output), para o 802.11ac, foi estudada no capítulo anterior e sabemos ser baseada em multiplexação espacial, obtida pela formatação dos enlaces (beamforming), simulando o efeito de múltiplos trajetos a partir de um frame de amostragem. Para ser possível a comunicação por esta técnica, o AP deve possuir múltiplos pares de antenas. A mesma tecnologia é usada nas redes 802.11ax para o download de dados. A novidade ocorre quando a versão 6 implementa sistema semelhante no upload, quando os dados são transmitidos do dispositivo de usuário em direção ao AP, dito UL MU-MIMO (Upload Multi- user Multiple-Input Multiple-Output). 5 Para implementar o UL MU-MIMO, de forma que também o dispositivo possa formatar seu feixe de transmissão, será necessário realizar o cálculo da matriz de canal no sentido inverso. O AP emitirá o frame de sondagem como de hábito. Entretanto, ao receber a resposta do dispositivo, ele calculará não só os parâmetros de diversidade de canal para a transmissão do sinal, mas também o fará para o dispositivo. O resultado desse cálculo será então enviado ao usuário para que este formate seus feixes de transmissão. Dessa forma, o incremento da quantidade de usuários e a estabilidade da conexão entre dispositivo e AP se veem garantidos. Até este ponto, verificamos que a versão 6 não só possibilita maior densidade de usuários, mas também permite que dediquemos bandas específicas para cada dispositivo conectado. Essas duas características aproximam esta técnica do que necessitamos para o uso com objetos IoT. Há uma lacuna ainda, que se refere à demanda por energia. Dispositivos ligados a redes Wi-Fi até esta versão são bastante ávidos por alimentação, o que inviabiliza o uso para objetos IoT, os quais têm, tipicamente, baterias de baixa capacidade. Para resolver este problema, a versão 6 implementa o TWT. 1.3 TWT A operação em modo adormecido sempre foi um sonho perseguido pelas redes sem fio. Permitir que os dispositivos fora de uso adormeçam sem perder a conexão com a rede tem inúmeras vantagens, tanto em ocupação espectral, quanto, principalmente, na longevidade das baterias desses equipamentos. Uma bateria tem vida útil calculada conforme o número de cargas que sofre. A bateria que permanecer em operação por mais tempo será recarregada com menor frequência e, consequentemente, terá sua vida útil alongada, reduzindo a necessidade de substituições. Na versão 5, o dispositivo tinha um compromisso de emissão de frames em direção do AP, como estudamos, informando sua presença e status de operação, mas o intervalo de beaconing era constante. A versão 6 permite a negociação desses tempos entre cada dispositivo e o AP ao qual está conectado. O período de beaconing negociado será dito Targed Wake Time (TWT) ou tempo alvo para despertar. Há alguns padrões de TWT. Inicialmente, setada a opção de uso do TWT, o AP emitirá uma agenda de beaconing, ou seja, determinará 6 quando cada dispositivo deverá despertar. O dispositivo pode, entretanto, informar ao AP necessidades particulares de adormecimento. 1.4 Wi-Fi 6 em domótica Nas residências, há duas necessidades básicas de comunicação: uma relacionada ao uso humano, como vídeos, acesso a sites de internet e jogos digitais; e outra relacionada aos objetos inteligentes. Para o primeiro cenário, os benefícios do Wi-Fi 6 são evidentes. O uso dos RUs e a técnica UL MU-MIMO permitem latências baixas, o que possibilita o uso da rede em aplicações de VR, já a flexibilidade de bandatorna a profundidade de cor muito mais eficiente em aplicações de vídeo em tempo real. Para o segundo cenário, que é tema de nosso estudo, verifiquemos se a tecnologia pode-nos ser útil. Inicialmente, três são as características importantes que a rede deve possuir para atender aos objetos inteligentes nas aplicações residenciais. A primeira característica se refere à densidade. A rede deve ser capaz de atender a uma grande quantidade de objetos. Alguns estudos indicam que em breve teremos mais de uma centena de objetos (ZTEC, 2022). A segunda característica está ligada ao consumo de energia, uma vez que existem objetos que não estão conectados à rede elétrica, a exemplo de portas inteligentes (e não apenas fechaduras automáticas). A terceira característica é a interoperabilidade. Objetos inteligentes, em aplicações domésticas, precisam ser controláveis por uma série de terminais e softwares distintos, habitantes de plataformas bastante heterogêneas. O Wi-Fi 6 consegue atender a estas três características, com destaque, no caso das aplicações em domótica, para a terceira, em que o padrão 802.11 se adapta nativamente ao uso de celulares, que é o meio mais popular de controle dos objetos domésticos. Observando, em seguida, a aplicação do 802.11ax em outras aplicações típicas de objetos inteligentes como redes industriais e cidades inteligentes, por exemplo. Sem dúvida, as técnicas de modulação e protocolos MAC desenvolvidos para esta versão podem atender a cenários de alta densidade de usuários, a exemplo de aeroportos e estádios esportivos. A utilização dos RUs faculta o compartilhamento da rede de usuários humanos com objetos inteligentes sem que estes últimos reduzam significativamente a capacidade de 7 conexão dos APs. O desenho do Wi-Fi 6, entretanto, não focou no atendimento a objetos de baixíssima demanda de banda, alta disponibilidade e dispersão espacial dos dispositivos, como é o caso das cidades inteligentes. Nestas últimas, a cobertura de grandes áreas demandaria excessivo investimento em APs, principalmente em função das dificuldades de operação em NLOS. As redes industriais, por sua vez, embora sejam redes com dispositivos fisicamente concentrados, têm um perfil de ruído que exige um protocolo de correção de erros robusto e confiável. Este também não foi o foco de desenvolvimento dos protocolos desta versão. Naturalmente, dada a falta de cases em número suficiente para gerar as análises estatísticas, ainda não se pode afirmar o insucesso dessa nova versão para essas aplicações. Aplicações em redes de sensoriamento certamente necessitam de protocolos particularizados para sua operação, como são aqueles desenvolvidos para LPWANs. TEMA 2 – LPWANs Como já comentamos em várias oportunidades neste curso, os objetos inteligentes têm determinadas características de operação voltadas para redes de baixa performance, do ponto de vista de taxa de transmissão de dados, porém, de performance alta em relação à resiliência da rede. O sentido predominante de transmissão se vê alterado também. Enquanto a maioria das redes tem pequenos pulsos de uplink e pesados downlinks, as redes de objetos IoT normalmente operam com predominância de pequenos pacotes de uplink. As redes que atendem a objetos e não a humanos, diretamente, são genericamente ditas redes de comunicação M2M (Machine to Machine), ou redes de comunicação entre máquinas. Redes LPWAN são um tipo de rede para M2M. O desenho de redes LPWAN – Low Power Wide Area Networks (ou redes de grande alcance e baixa potência) visam dar conectividade a objetos simples que executam aplicações de baixa complexidade e atendem a boa parte dos requisitos de nossos objetos. Entre as tecnologias listadas como LPWAN estão LoRa, Wi-SUN, SIGFOX, RPMA, Weightless, DASH-7 e NBIoT (Prando, 2019). São muitas tecnologias sob o mesmo guarda-chuva. Por esse motivo, vamos categorizá-las para que possamos entender quais melhor se adaptam a cada necessidade de projeto. 8 2.1 Características gerais de uma LPWAN O termo LPWAN foi criado para designar redes de bom alcance, baixo consumo de energia, alta permeabilidade a objetos e taxas de transmissão baixas. As redes atuais LPWAN têm estes parâmetros aproximadamente comuns: alcance da rede em torno de 60 km, consumo de energia em modo de adormecimento menor que 1 μA e em transmissão em torno de 1mA, frequências de operação em UHF e baixo UHF e taxas de transmissão menores do que 300 kbps. Estes números são, naturalmente, generalizações. Ao estudarmos as tecnologias individualmente, conheceremos os parâmetros reais de cada uma delas. Pode-se esperar que uma tecnologia, ao se focar, por exemplo, em baixo consumo de energia, assuma o ônus de uma latência maior, provocada por protocolos que permitam períodos maiores de adormecimento ou com parâmetros lascivos de beaconing. As redes LPWANs operam em faixas do espectro que permitem rádio- propagação licenciada e não licenciada, como veremos a seguir. 2.2 LPWANs licenciadas e não licenciadas No que se refere à faixa de frequência de operação, as redes LPWAN invariavelmente escolhem espectros abaixo do médio UHF, onde se localizam aproximadamente as operadoras celulares de geração 4 e abaixo. Nesta faixa abaixo de 1GHz, existem frequências licenciadas e não licenciadas, como já estudamos neste curso. A princípio, a União Internacional de Telecomunicações (ITU) padronizou três áreas mundiais de operação ISM sub GHz para a operação das LPWANs. As Américas (incluindo Brasil e EUA) estão na área 2, utilizando a faixa de 915MHz. Nesse sentido, não haveria redes LPWAN operando em faixas de frequências licenciadas, por definição. A proximidade desse espectro com aquele ocupado pelas operadoras celulares, entretanto, permitiria a estas criarem redes LPWANs seguindo as mesmas especificações daquelas stricto sensu, que operam na faixa não licenciada ISM sub GHz. O atendimento a objetos inteligentes se tornou um negócio promissor, principalmente com a gradual materialização das cidades inteligentes, atraindo investimentos para este perfil de tráfego também das operadoras celulares que utilizam o espectro licenciado em UHF e já estão presentes nos centros urbanos. 9 Essas operadoras criaram então alguns padrões, como o NB IoT, LTE-M, CAT NB e EC GSM, que podem ser considerados, por semelhança tecnológica, LPWANs licenciadas. Estes padrões operam nas gerações de equipamentos celulares anteriores, como o NB IoT e EC GSM ou apenas em 4G, como LTE-M e CAT M ou em todas as gerações celulares, a exemplo do CAT NB. Um fato importante a se comentar no que se refere à aplicação de cada padrão LPWAN licenciado é que o fato de um padrão operar somente nas primeiras gerações celulares não o tornam antiquado. O padrão EC GSM (Extended Coverage GSM, ou GSM de cobertura estendida), por exemplo, foi desenvolvido em 2018, embora a tecnologia celular neste ano já esteja na quarta geração. Isso ocorre porque as operadoras celulares deslocam os equipamentos de tecnologias mais antigas para regiões de menor densidade de atendimento. Assim, embora a operação da tecnologia 2G não seja mais viável em grandes centros urbanos, sua presença em regiões de menor densidade populacional, como pequenas cidades ou áreas rurais, é ainda bastante adequada. O surgimento recente de demandas por redes sem fio nessas regiões viabiliza a adequação das gerações mais antigas do sistema celular ao atendimento à agricultura de precisão, por exemplo. Figura 2 – Pecuária de precisão com uso de sensores conectados Créditos: Manhattan001/Shutterstock. 10 Sabemos agora que LPWANs podem operar também em regiões licenciadas do espectro de frequências. Nestes casos, a empresa prestadora do serviço celular explorará o serviço, operando a rede e tarifando-a. Fora do espectrolicenciado, seria então de se esperar que as redes LPWANs sejam privadas, ou seja, operadas livremente por aquele que adquirir os rádios necessários. De fato, isso não é completamente verdade, como veremos a seguir. 2.1 LPWANs privadas e não privadas Algumas empresas prestadoras de serviços, considerando o crescimento do mercado de objetos IoT e sua aplicação em situações nas quais o investimento do próprio cliente se torna pouco viável (a exemplo do controle de veículos autômatos), decidiram investir em redes LPWANs operando em espectro não licenciado. Estas empresas (veremos um exemplo quando apresentarmos a tecnologia Sigfox) operam redes não licenciadas, porém não privadas, uma vez que disponibilizam publicamente seu serviço de redes. Essas redes não podem ser ditas públicas, uma vez que tecnicamente, uma rede pública deve ser operada por uma empresa que recebe a concessão ou autorização de prestação de serviço público, o que não é o caso dessas empresas. Veremos a seguir algumas tecnologias de redes LPWANs públicas. TEMA 3 – NB IoT Já antecipamos que NB IoT é um padrão de rede LPWAN que utiliza o espectro licenciado de frequências e que, por esse motivo, será disponibilizado e tarifado por uma operadora pública de telecomunicações. As redes de telefonia (e dados) celular são redes desenvolvidas inicialmente para uso em comunicação de voz sem fio e posteriormente para o trânsito de dados e acesso à internet, com foco na utilização humana. As redes de acesso em banda estreita, ou NB (narrow band), foram adaptações posteriores focadas principalmente no atendimento a transações bancárias e cartões de crédito. Com o aquecimento do mercado de objetos IoT, nova adaptação foi realizada para permitir este atendimento. 11 A padronização das redes NB, entretanto, não segue padrões IEEE, como as redes Wi-Fi estudadas até o momento. Os padrões surgem de fabricantes ou de associações de fabricantes, a exemplo do grupo 3GPP (3rd Generation Partnership), que uniu as iniciativas de sete organizações ligadas à padronização do serviço celular (3GPP, 2021). 3.1 Visão geral do NB IoT O padrão NB IoT é uma resposta de fabricantes e operadoras celulares para o atendimento aos objetos inteligentes, redes de sensores e atuadores. O padrão surgiu ainda nas gerações anteriores ao 4G e não opera sem adaptações nesta tecnologia, embora estas adaptações já estejam convenientemente padronizadas. Os estudos partiram das seguintes premissas: minimização dos segmentos não úteis dos quadros de telefonia celular, acréscimo de camadas de segurança de dados, baixo consumo de energia nos dispositivos clientes, baixo custo de terminais, área de cobertura estendida e interoperabilidade com redes diversas, mas principalmente com o protocolo IP (Schliens; Radino, 2016). A taxa de transmissão máxima é inferior a 100 kbps, com valores típicos em torno de 20 kbps. Os esforços para extensão da área de cobertura foram mais bem-sucedidos na geração 3 (GSM) e não superam algumas dezenas de quilômetros. 3.2 Camada PHY Uma vez que este padrão deve coexistir com os dados das redes celulares, três soluções foram propostas para viabilizá-lo no ciclo DL (downlink – conexão da ERB para o dispositivo). Nas gerações mais novas, reserva-se um RU, que pode estar entre os assinantes (in-band) ou fora da faixa de assinantes na banda de guarda (guard band). Nestas operadoras 4G, nem todas as portadoras estão disponíveis para uso do NB IoT. Já na geração 3, a opção é pela ocupação de um slot de assinante, mas, neste caso, todas as portadoras podem ser utilizadas. A presença de canais NB IoT em 3G é chamada de operação “stand alone”. A figura abaixo ilustra o comentado. Figura 3 – NB IoT em LTE (4G) e 3G 12 In-band operation ... N B -I o T LTE Carrier Guard band operation ... N B -I o T LTE Carrier Stand alone operation ... N B -I o T GSM Carriers Fonte: Schliens; Radino, 2016. 13 A largura de banda ocupada por um slot NB IoT é de 180 kHz com bandas de guarda de 10 kHz em ambos os lados. A modulação do canal será OFDMA, como estudamos no padrão 802.11ax acima, neste capítulo. Desta forma, em um slot NB IoT, existirão várias subportadoras permitindo múltiplas conexões de objetos IoT no mesmo slot. No ciclo de UL (uplink – transmissão do dispositivo usuário para a ERB), a modulação se altera para SC – FDMA (Single Carrier Frequency Division Multiple Access), que por utilizar portadora única, simplifica o rádio-usuário, reduzindo seu custo. O protocolo PHY ainda permite a associação de até 12 subportadoras para permitir alocar mais banda para os dispositivos. Essa facilidade atenderia pequenas redes ou segmentos de rede de dispositivos. Nesses segmentos, são possíveis transmissões em broadcast e sinalização conjunta. 3.3 Camada MAC O desenho da camada de controle de acesso ao meio não sofre alterações em relação a esta camada nas gerações 3G ou LTE, ou seja, toda a diferença do protocolo para NB IoT é tratado na camada PHY. Porém, como o protocolo simplifica a sinalização entre dispositivo e célula, algumas facilidades sofrem com esta simplificação. O desenho do padrão pressupõe que os objetos acessarão o ERB com pouca frequência e utilizarão uma pequena banda de transmissão. A conexão desses objetos com a camada de rede do padrão LTE é idêntica a qualquer outra conexão de dados nesta tecnologia. Entretanto, os recursos de mobilidade estão disponíveis com certas restrições. Um objeto pode conectar-se em células distintas conforme se move. A mobilidade dos objetos, porém, não é plena. Se um objeto trocar de célula durante uma transmissão, o protocolo não tratará esta mudança, e os dados serão perdidos. Esta perda de dados transmitidos, entretanto, será percebida pelo objeto IoT, dada a ausência de retorno da ERB necessário pelo protocolo PHY. Neste caso, uma conexão com a nova ERB será tentada e, obtido o RU desta estação, a retransmissão ocorrerá. 14 TEMA 4 – NB LTE/LTE-M A distinção entre os protocolos NB IoT e NB LTE ou LTE-M (LTE for Machines) não é de todo clara. Muitos autores tomam o termo NB IoT como a macroclasse sob a qual estariam a EC-GSM IoT, NB LTE e Cat-M, mas de fato o 3GPP tem padrões diferentes para estas tecnologias, dando ao LTE-M um contexto de evolução em relação ao NB-IoT. 4.1 Visão Geral do LTE-M O 3GPP desenhou o padrão LTE-M (também designada pelo acrônimo eMTC – enhanced Machine Type Communication) para atender a objetos IoT diversos daqueles previstos no padrão anterior. Os objetos atendidos pelo LTE- M demandam bandas de transmissão altas, baixa latência e mobilidade plena, além da cobertura estendida, que de fato é o pilar básico dos padrões de atendimento a objetos IoT em redes celulares. Naturalmente, ao obtermos melhores índices de qualidade de rede, a cobertura sofrerá. Para resolver este problema, o padrão LTE-M estabeleceu dois modos de operação. O primeiro focado em qualidade de rede e mobilidade e o segundo em cobertura estendida. 4.2 LTE-M Modo A O 3GPP, ao padronizar o LTE-M, criou dois focos de atendimento a objetos IoT. O primeiro foco, dito Modo A ou Cat – M1 tem foco em objetos que necessitam de bandas de transmissão altas, baixa latência e mobilidade plena. O Modo A pode ser dito o modo de operação do LTE-M por excelência, uma vez que é absolutamente distinto de seu irmão mais velho, NB IoT. Esta opção por bandas de transmissão altas, baixa latência e mobilidade naturalmente tornarão a cobertura apenas moderada em relação ao Modo B, embora maior que a cobertura tradicional de dados LTE. Este ganho de cobertura é obtido por repetidoras, ou seja, acréscimo à rede de estações de mera repetição de sinal. Naturalmente, a cada repetição, o sinal sofre retardo, causadopela eletrônica envolvida na reconstituição do sinal. Como o Modo A busca manter a latência baixa, haverá um limite máximo de repetições aceitáveis no sinal. Dependendo da técnica de modulação e tipo de canal, esse número máximo se altera. O número máximo, entretanto, não ultrapassa 32. A taxa de 15 transmissão, neste modo, pode chegar a 1 Mbps tanto em UL quanto DL, com latência máxima em torno de 15ms. Toda vez que um objeto se conecta com a estação base, a primeira tentativa será colocar o objeto em Modo A. 4.3 LTE-M Modo B O Modo B é usado sempre que um objeto se conecta a uma estação base em áreas de sinal muito fraco ou quando a rede é estendida por mais de 32 repetições (neste caso o número de repetições, em casos extremos, pode chegar a 2048). A conexão no Modo B assemelha-se a conexão realizada pelo padrão NB IoT, embora o LTE- M Modo B permita um alcance ainda maior que a versão anterior. A taxa de transmissão mesmo neste modo pode superar os 300 kbps e a latência estará na casa dos segundos. TEMA 5 – SIGFOX O padrão de rede Sigfox é tipicamente uma rede não privativa operando em espectro não licenciado. A faixa de frequências é também UHF baixo e com banda espectral extremamente estreita, em torno de 100 Hz. Os equipamentos terminais são de baixo custo e o desempenho da rede para baixas taxas de transmissão é bastante aceitável. A topologia básica é PTM e a estação base é operada pela empresa francesa Sigfox, que comercializa o serviço de rede através de parcerias locais em cada país, cobrindo todas as camadas de protocolo, inclusive de aplicação, caso o cliente assim o contrate. A expressão em inglês que caracteriza este negócio é NaaS (Network as a Service), ou rede como serviço. Dessa forma, utilizar a tecnologia depende de cobertura disponibilizada pela operadora na região de interesse. De fato, a tecnologia Sigfox foi desenvolvida pela operadora em 2009 em um projeto audacioso de prover conectividade IoT mundial. Vamos, em seguida, conhecer um pouco do negócio Sigfox do ponto de vista técnico. 5.1 Topologia A topologia da rede Sigfox em nada difere do que se espera de uma LPWAN. Neste caso, por ser operada por um ente externo à rede do cliente, uma 16 LPWAN não privada e não licenciada, uma vez que ocupa espectro ISM sub GHz não licenciado. A figura abaixo ilustra a topologia genérica deste tipo de rede. Figura 4 – Topologia LPWAN Fonte: Garcia; Kleinschmidt, 2017. Como se observa, trata-se de comunicação PTM gerenciada por uma estação rádio base, neste caso denominada gateway de rádio. A comunicação entre dispositivos (End-Devices) e os gateways proprietários da Sigfox se dá em taxas de transmissão extra baixa e em intervalos de tempo determinados. A contratação de um serviço Sigfox normalmente não é feita pelo usuário final, mas através de um integrador que gerencia o middleware em parceria com a operadora do sistema. Na camada de aplicação, o integrador normalmente gerencia o serviço de forma independente ou entrega para uma terceira empresa de serviços. Um exemplo dessa cadeia de serviço está no atendimento a sistemas de segurança predial. Sensores e atuadores equipados com interface Sigfox são conectados, via integrador, com uma aplicação gerenciada pela empresa que presta o serviço de segurança para os condôminos. Semelhante serviço pode ser oferecido para uma residência individual. Uma vez obtidos os dados dos sensores, a integradora os disponibilizará para uma aplicação 17 desenvolvida por uma prestadora de serviços, que, por sua vez, os tratará em uma aplicação cujo acesso será remunerado pelos usuários. Figura 5 – Utilização da topologia LPWAN para domótica Créditos: ProStockStudio/Shutterstock. 5.2. Tecnologia Sigfox Sigfox é uma tecnologia focada em taxas de transferência de dados bastante baixas e bom alcance, tipicamente maior que algumas dezenas de km. A chave para este alcance é o uso da modulação BPSK modificada, dita BPSK diferencial ou D-BPSK, de fácil implementação. Os dados transitam em um canal de banda fixa de 100 Hz e em uma velocidade de 600 bps. A Sigfox divide o globo em sete regiões geográficas, ditas RC (Radio Configuration Zone). Para cada região, os rádios operarão em frequências distintas, como se vê na figura abaixo. As RCs são as seguintes: RC1 cobrindo Europa, colônias francesas, Oriente Médio e África; RC2 atendendo Brasil, Canadá, México, Porto Rico e EUA; RC3 para Japão; RC4 para América Latina (exceto Brasil) e Ásia; RC5 para Coreia; RC6 para Índia; e RC7 para Rússia. Figura 6 – Frequências Sigfox Créditos: Sigfox, 2022. 18 Como se observa na figura, há três protocolos possíveis para transmissão de um dispositivo Sigfox, cada modo de operação dependerá da RC em que o dispositivo está instalado. Na RC2, região do Brasil, a transmissão se dá por “frequency hopping”, ou seja, o dispositivo transmite a mesma mensagem em canais diferentes. O padrão Sigfox utiliza três ULs iguais em três canais diferentes. A transmissão se dá em 400 milissegundos em cada canal. Após a transmissão em um canal, o end-device aguardará 20 segundos em silêncio. O espectro de operação é dividido em 400 canais de comunicação entre end-devices e gateways, como se vê na figura abaixo, para o espectro reservado na União Europeia. Os end-devices utilizam estes canais de maneira aleatória. Figura 7 – Canais Sigfox Fonte: Lavric et al., 2019. No Brasil, o site da WND (. Acesso em: 21 fev. 2022), parceira local da Sigfox, informa qual a frequência e tamanho esperado de pacotes. Por exemplo, para um usuário de alta utilização do serviço, se esperam no máximo 140 mensagens de UL por dia, ou seja, uma a cada dez minutos no máximo, com tamanho padrão de 12 bytes cada. De forma similar a outras técnicas de modulação por espalhamento, a discriminação dos receptores de rádio nos gateways é bastante baixa, ou seja, mesmo sinais provenientes dos dispositivos muito próximos ao nível de ruído conseguem ser decodificados. Esta resiliência da camada física tem por reflexo um custo baixo na eletrônica que equipa os end-devices. 5.3. 0G Network A 0G (zero G) é uma associação internacional de operadores Sigfox que permite aos usuários Sigfox interoperabilidade mundial. Uma vez que a Sigfox depende em cada geografia de um parceiro de negócios, a 0G faria o papel de congregar as geografias, de forma a permitir uma rede mundial de sensores. 19 O site da associação (. Acesso em: 21 fev. 2022) possui informações interessantes sobre a tecnologia e principalmente apresenta casos de sucesso no uso desta tecnologia. FINALIZANDO Nesta aula, concluímos nosso aprendizado sobre redes Wi-Fi aplicadas ao atendimento de objetos IoT. Em seguida, visitamos alguns conceitos interessantes sobre LPWANs, as quais teriam sido criadas para suportar as redes de sensores e atuadores. Por tal motivo, melhor se prestam ao atendimento de objetos IoT do que as redes 802.11. Estudamos em seguida algumas tecnologias criadas pelas operadoras de telefonia e dados celulares para estes objetos, além de conhecermos a rede Sigfox igualmente operada por terceiros, mas utilizando espectro não licenciado. Há ainda uma solução de conectividade, já tradicional, que nos resta estudar. Esta tecnologia, por ter surgido logo após os esforços de padronização de tecnologias para redes atípicas do IEEE, se tornou bastante popular, embora se embase em um desenvolvimento proprietário da indústria. Vamos conhecê-la em seguida. 20 REFERÊNCIAS 3GPP. The Mobile Broadband Standard. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2021. GARCIA, P. S. R.; KLEINSCHMIDT, J. H. Tecnologias emergentes de conectividade na IoT: estudo de redes lpwan. In: SIMÓSIOBRASILEIRO DE TELECOMUNICAÇÕES E PROCESSAMENTO DE SINAIS-SBRT, 25, 2017. LAVRIC, A.; PETRARIU, A. I.; POPA, V. Long range sigfox communication protocol scalability analysis under large-scale, high-density conditions. IEEE Access, v. 7, p. 35816-35825, 2019. PRANDO, L. R. et al. Experimental performance comparison of emerging low power wide area networking (LPWAN) technologies for IoT. In: IEEE World Forum on Internet of Things (WF-IoT), 5, 2019. SCHLIENZ, J.; RADDINO, D. Narrowband internet of things whitepaper. White Paper, Rohde&Schwarz, p. 1-42, 2016. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2021. SIGFOX. Network Services and Informations. Disponível em: . Acesso em: 10 jan. 2022. ZTEC Company. Wi-Fi 6 Technology and Evolution White Paper. Disponível em: . Acesso em: 19 dez. 2021.