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Em Tempos de Achismos (Crônica Filosófica) Tania Scuro Mendes Todos têm muito a dizer. Se, antes, e esse pretérito acompanhou quase toda a história da civilização, a fala fora tolhida e, por que não, confinada à ignorância, nunca se teve, como agora, tantas oportunidades para dizer, simplesmente dizer. Se tudo era submetido ao prisma da sociedade moral, construída nos limites de medidas regradas e censuras legalizadas, neste tempo de liberdades (ou de libertação?) tudo está liberado, inclusive da auto-crítica? Importante é dizer, mesmo que seja irrelevante, inconseqüente, agressivo ou desrespeitoso. As redes sociais em contextos midiáticos amplificam essas demandas, conferindo a todos a pretensão de autoria, com voz e vez para anseios de publicação. A maioria compartilha o reducionismo de interpretações a consentimentos e aceitações persuadidas. O receio do inusitado, exótico, polêmico demarca as fronteiras do que é aceito como possível. Onde desvendar os significados das avaliações (mal)ditas? E, como saber se há concordância ou não com o ponto de vista alheio, se esse não é objeto de reflexão, porque sequer é ouvido? Para ser refletido, haveria de ser compreendido. Do lugar social, é possível deduzir que a ideia coibida, o projeto podado, a esperança proibida, considerados muitas vezes como subversivos, podem ter deflagrado motivos para tanta fúria incontida, vertida em palavras de contestação nem sempre razoáveis. Como um sinal de rebeldia, contestar passou a ser uma ação contra-cultural, consentida como necessária. Diante do excessivo repertório de opiniões, há muitas respostas, mas para quais indagações? Buscando dissuadi-las da omissão é preciso encontrar novas formas de expressão dos capazes de interromper suas falas, idiomas, sotaques, para se flagrarem ouvintes. Com as escutas nutridas de curiosidade, pode-se compor o enredo que se entrecruza na tessitura da imaginação criativa. Importa, para isso, ouvir e ler roteiros que desarmem o instituído e que se desvelem destoantes, diferentes, inconciliáveis. Através deles é possível anunciar contra-argumentações ou mesmo negociar as lógicas propostas. Mas hão que ser ouvidas! Em tempos de achismos, antes da aventura por caminhos de análises, há um tropeço na interrogação: tudo pode ser dito? Pelo politicamente correto, ecoa um sonoro sim. Restam as dúvidas prudentes: quem ouvirá e para qual finalidade? Sabe o que eu acho?...
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