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13 Crônica Em Tempos de Achismos

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Em Tempos de Achismos (Crônica Filosófica) 
 
 Tania Scuro Mendes 
 
Todos têm muito a dizer. Se, antes, e esse pretérito acompanhou 
quase toda a história da civilização, a fala fora tolhida e, por que não, 
confinada à ignorância, nunca se teve, como agora, tantas oportunidades 
para dizer, simplesmente dizer. 
Se tudo era submetido ao prisma da sociedade moral, construída nos 
limites de medidas regradas e censuras legalizadas, neste tempo de 
liberdades (ou de libertação?) tudo está liberado, inclusive da auto-crítica? 
Importante é dizer, mesmo que seja irrelevante, inconseqüente, agressivo 
ou desrespeitoso. 
As redes sociais em contextos midiáticos amplificam essas 
demandas, conferindo a todos a pretensão de autoria, com voz e vez para 
anseios de publicação. A maioria compartilha o reducionismo de 
interpretações a consentimentos e aceitações persuadidas. 
O receio do inusitado, exótico, polêmico demarca as fronteiras do 
que é aceito como possível. Onde desvendar os significados das avaliações 
(mal)ditas? 
E, como saber se há concordância ou não com o ponto de vista 
alheio, se esse não é objeto de reflexão, porque sequer é ouvido? Para ser 
refletido, haveria de ser compreendido. 
Do lugar social, é possível deduzir que a ideia coibida, o projeto 
podado, a esperança proibida, considerados muitas vezes como 
subversivos, podem ter deflagrado motivos para tanta fúria incontida, 
vertida em palavras de contestação nem sempre razoáveis. Como um sinal 
de rebeldia, contestar passou a ser uma ação contra-cultural, consentida 
como necessária. 
 Diante do excessivo repertório de opiniões, há muitas respostas, mas 
para quais indagações? Buscando dissuadi-las da omissão é preciso 
encontrar novas formas de expressão dos capazes de interromper suas falas, 
idiomas, sotaques, para se flagrarem ouvintes. Com as escutas nutridas de 
curiosidade, pode-se compor o enredo que se entrecruza na tessitura da 
imaginação criativa. 
Importa, para isso, ouvir e ler roteiros que desarmem o instituído e 
que se desvelem destoantes, diferentes, inconciliáveis. Através deles é 
possível anunciar contra-argumentações ou mesmo negociar as lógicas 
propostas. Mas hão que ser ouvidas! 
Em tempos de achismos, antes da aventura por caminhos de análises, 
há um tropeço na interrogação: tudo pode ser dito? Pelo politicamente 
correto, ecoa um sonoro sim. Restam as dúvidas prudentes: quem ouvirá e 
para qual finalidade? 
Sabe o que eu acho?...

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