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Livro Texto Unidade III

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141
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
Unidade III
7 A COMUNICAÇÃO COMO FENÔMENO SOCIAL
Caro aluno, chegamos à última parte deste livro‑texto, e deu para perceber que falar sobre comunicação 
é um caminho longo e complexo e percorremos somente uma parte dele. A comunicação como ato está em 
todas as nossas interações interpessoais; ela nos permite nos relacionar e compartilhar ideias, experiências 
e sentimentos, transformando‑nos mutuamente e a realidade ao nosso redor.
Na síntese de Bordenave (2006, p. 36): “Sem a comunicação cada pessoa seria um mundo fechado 
em si mesmo”. Cada um de nós não se comunica no vazio, mas dentro de um ambiente, parte de uma 
situação, ou, em termos da linguística, de uma enunciação, marcada por um tempo histórico, 
uma cultura, uma tradição.
 Observação
O linguista Charaudeau (2008) faz uma distinção entre contexto e 
situação. Para esse estudioso, contexto faz parte da linguagem e configura‑se 
em texto verbal, imagem, grafismo etc. Situação, por sua vez, é externa à 
linguagem e constitui as condições de realização do ato da linguagem.
Além disso, há a comunicação por causa do nosso desejo em partilhar uma parte do nosso eu: 
informações, conhecimentos, emoções. A comunicação é marcada pelas intersubjetividades, cujos 
saberes são compartilhados nas interações. Podemos adaptar a síntese do linguista Charaudeau (2008) 
no seguinte esquema:
Gênese do saber
Imaginários
Saberes de conhecimento
Verificável
Saberes de crença
Subjetividade
Mundo → homem Mundo → mundo
Saber 
científico
Saber 
experiência
Saber de 
revelação
Saber de 
opinião
Sistemas de organização do pensamento
Teoria Empiria Doutrinas
Opinião 
comum
Opinião 
relativa
Opinião 
coletiva
Figura 59 – Saberes compartilhados na comunicação
142
Unidade III
Somente o conhecimento (sem contar informações, sentimentos e outros) já constitui vários 
mundos, desde o compartilhamento de saberes científicos até opiniões comuns. Por isso, quando os 
meios de comunicação se intensificaram em suas inovações em meios eletrônicos, difusão e penetração 
durante o século XX, estudiosos da área das teorias da comunicação e da linguística preocuparam‑se 
com o impacto e a interferência dos meios nas nossas vidas.
Em teorias da comunicação, a vertente teoria da mídia ou teoria do meio desenvolveu‑se diversamente 
em diferentes países, entre eles o Canadá, onde os notórios estudos de Marshall McLuhan (1969) foram 
realizados entre 1950 e 1960. Na década de 1980, despontaram os estudos especiais – para o nosso 
contexto – de Martín‑Barbero, cujas reflexões são voltadas para a situação social de minorias e de 
hegemonia política.
 Saiba mais
O pesquisador brasileiro Norval Baitello Jr. faz uma reflexão crítica 
sobre as definições da teoria da mídia, como um elemento fluido que 
ocupa os espaços.
BAITELLO JR., N. A serpente, a maçã e o holograma: esboços para uma 
teoria da mídia. São Paulo: Paulus, 2010.
As ideias de Martín‑Barbero (1993; 2014) refletem sua preocupação com a realidade da América 
Latina, que marca um espaço geopolítico, em que os receptores e os processos sociais de dominação 
se interligam na comunicação. Assim, fundamentado nos postulados da teologia da libertação, de 
Gustavo Gutiérrez, e da educação libertadora, de Paulo Freire, Martín‑Barbero propõe instaurar 
uma alfabetização em comunicação para o desvelamento do impacto das mídias (meios) e para 
a apropriação e inserção dos sujeitos nas mídias, instaurando o próprio espaço da comunicação 
e de novos sentidos. Causaria, então, uma reversão do processo comunicativo baseado nos meios 
midiáticos: dos meios à mediação.
Afinal, o quadro social da comunicação não possui um lado. Existe a ação e/ou reação dos grupos 
sociais que usam a mídia como mediadora para assumir sua voz. A comunicação pode, então, se tornar 
um sistema de uso para as vozes de pós‑colonização da América Latina, de grupos sociais oprimidos, 
como no caso das mulheres, da própria imprensa jornalística e das mídias que lutam pelo direito de 
expressão. Nessa perspectiva, o silêncio faz parte da comunicação. De um lado, o silêncio pode ser 
positivo ao dar espaço/tempo para organizar tantas informações existentes, para ser usado como ócio 
criativo, entre outras vantagens. Por outro lado, no entanto, o silêncio pode ser negativo, quando há 
opressão e cala tantas vozes sociais.
O linguista Charaudeau (2013) também assume um posicionamento crítico sobre a relação das 
mídias com a sociedade. O autor assevera a importância da verdade e da inteligibilidade da informação 
ao ser transmitida ao público, uma vez que, nas instâncias da comunicação, instauram‑se a produção 
143
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
(mídia) e a recepção (público), sendo que “a primeira é detentora do conhecimento e a segunda é a 
parte interessada em obter esse conhecimento, que sem a mídia isso não seria possível” (CHARAUDEAU, 
2013, p. 72).
7.1 Comunicação: dos meios às mediações
Martino (2015), de modo interessante, compara três gerações de sua família ao tratar da teoria 
do meio. Ele faz referência à infância do avô, que morava na cidade de São Paulo, brincava nas ruas 
sem asfalto e tinha brinquedos de madeira feitos em casa. Na década de 1930, as ruas não tinham luz 
elétrica, o cinema era para momentos raros e o rádio era para famílias ricas. A infância do autor Martino 
foi décadas depois, em 1980, quando as crianças tinham brinquedos de plástico e a televisão fazia parte 
do cotidiano, levando‑o a imitar personagens de série e animação. O filho de Martino, em 2012, com 
8 meses de idade era atraído pela imagem digital da televisão, estendia a mão para pegar o celular ou 
tablet e queria brincar com o teclado do computador.
Com essa comparação, o autor reforça que a partir do século XX cada geração teve um tipo de 
contato com uma mídia, que altera o modo de viver e entender a realidade. Devido a essa interferência, 
a mídia passou a ser foco de atenção de estudiosos das teorias da comunicação. A teoria do meio ou 
teoria das mídias procura, justamente, entender as interferências da mídia na vida cotidiana.
Nessa perspectiva, o interesse dos estudiosos recai sobre os meios, e não sobre a informação 
(mensagem) em si. Diante desse interesse, primeiramente, é preciso discutir sobre o significado dos 
termos mídia e meio.
No esquema de comunicação de Jakobson (2000), o elemento canal é o meio físico pelo qual a 
mensagem é enviada. O canal pode ser o suporte físico livro, gibi, folheto, jornal, televisão, rádio, celular, 
entre tantos outros.
 Lembrete
No esquema de comunicação da linguística estrutural, canal é um 
dos elementos de comunicação, além do emissor, receptor, mensagem, 
referente e código.
Deparamo‑nos com os termos meio, canal e suporte que, de forma geral, são termos empregados 
em diferentes áreas de estudo da comunicação e das ciências da linguagem, mas que servem para se 
referir ao mesmo fenômeno.
Há várias formas de explicarmos o que é a palavra meio, pois depende do contexto no qual a 
palavra está inserida, podendo ter diversos sentidos, tais como geométrico, cronológico, qualitativo, 
entre outros. Em contexto topológico, o sentido da palavra meio pode ser “um meio entre dois pontos”; 
em contexto cronológico, seu sentido está relacionado a intervalo, como na expressão “meio‑dia”; em 
sentido quantitativo, em situação de notas escolares, por exemplo, temos a famosa preocupação dos 
144
Unidade III
alunos, a “média”; e, em um sentido qualitativo, a palavra meio dá origem ao adjetivo “mediano”. Enfim, 
a palavra meio carrega a concepção de relação, porque, segundo Liesen (2020, p. 189),
 
qualquer relação só pode ocorrer se seus elementos estão ao mesmo tempo 
afastados e postos em contato por outra coisa que não eles mesmos. Dito 
de outra maneira: o que está em relação, o que se dá, o que aparece, o que 
se transmite, o que se anuncia só pode ocorrer através ou por meio de outra 
coisa que não ele mesmo.
O termo meio vem do latim medium (complural media) e é uma tradução (feita por Tomás de 
Aquino na Idade Média) do grego μεταξύ (metaxú), que designa o advérbio “entre”. Na acepção do 
filósofo grego Aristóteles (LIESEN, 2020), a palavra meio era relacionada aos sentidos humanos, e cada 
sentido teria seu respectivo medium: a pele do corpo é designada pelo toque; a luz, pela cor; o ar ou 
água, pelos sons e cheiros. Nesse contexto grego, o olho existe como um órgão que serve como “meio” 
para a imagem percebida; o olho não é um instrumento de percepção e formação de imagem.
Depois da tradução por Tomás de Aquino, a palavra passou a ser empregada pela física (a mecânica, 
a acústica e a óptica) e mudou de sentido no século XVIII devido à influência das correntes místicas da 
época. Por consequência, quando a palavra foi adotada pelos falantes de língua inglesa, o termo latino 
medium passou a designar, além das características dos fenômenos físicos em ciências naturais, pessoas 
que recebem mensagens de pessoas mortas ou entidades míticas.
No caso da língua portuguesa, ocorreu um aportuguesamento do termo, não do latim, mas do 
inglês. No pós‑Guerra do século XX, os Estados Unidos passaram a ter muita influência na formação 
político‑cultural por causa das tecnologias de informação e entretenimento. Assim, em vez do termo 
latino medium, houve um aportuguesamento do uso em inglês para mídia (plural, mídias).
Como resultado, em língua portuguesa, temos a palavra meio nos sentidos já apontados (topológico, 
cronológico etc.), como advérbio “entre” e como um dos elementos da comunicação; também temos a 
palavra “médium” empregada por determinadas religiões praticadas no Brasil; e também passamos a ter 
a palavra “mídia”, referente, principalmente, à imprensa jornalística e aos meios eletrônicos, como rádio 
e televisão.
Na área da comunicação, a palavra meio está relacionada à palavra canal, que também tem origem 
na língua latina – canna, que significa cano pequeno, lugar para escoar água. Assim, o meio é um 
canal, ou seja, ferramenta de armazenamento e transporte. Quando falamos meios de comunicação, 
referimo‑nos a um suporte físico em que a mensagem já foi codificada para ser transmitida, conforme 
o esquema de comunicação de Jakobson.
Nesse contexto, então, o meio não é considerado importante, mas a informação. O meio somente se 
destacou com McLuhan (1969). Com a proliferação da tecnologia da informação e do entretenimento, 
o meio passou a ser mais relevante, economicamente, do que a mensagem em si. Esse estudioso da área 
das teorias da comunicação percebeu que “o meio é a mensagem”, ou seja, os meios de comunicação 
tornaram‑se o próprio conteúdo da informação. Liesen (2020) esclarece que o termo meio empregado 
145
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
por McLuhan tem o conceito de “qualquer extensão técnica dos sentidos humanos”, como se o meio 
fosse uma prótese. Ainda segundo Liesen (2000, p. 194), McLuhan faz alusão ao mito de Narciso e
 
defende que o homem não reconhece o meio como extensão de si, assim 
como o Narciso narcotizado não se reconhecia em seu próprio reflexo. Os 
meios, por atuarem diretamente em nossos sentidos, alteram nossa própria 
percepção e consciência.
Exemplo de aplicação
1) Os meios de comunicação tornaram‑se poderosos na sociedade do século XX e, na visão de 
McLuhan (1969), “o meio é a mensagem”. Não apenas na língua portuguesa, mas em outras 
também, os falantes empregam metonímias. No caso da leitura, por exemplo: “Vou ler o jornal”. A 
palavra “jornal” substitui a palavra “texto” em seus diversos gêneros. Assim:
A) Leia o jornal no sentido de texto. Escolha um texto do jornal do dia e faça uma síntese de 
duas linhas.
B) Leia o jornal. Tenha em mãos um jornal impresso e faça uma leitura sensorial das folhas e da 
diagramação. Relate a experiência: os processos de leitura e os resultados.
2) “O meio é a mensagem” significa ascensão social da mídia. Para provar essa afirmação, faça um 
levantamento com as pessoas próximas:
A) Entre dois nomes de canais de TV, qual a pessoa escolhe para assistir?
B) Entre dois nomes de jornal, qual a pessoa escolhe para ler?
C) Que motivo a pessoa oferece para a escolha?
3) Compare a tela de uma televisão de 43 polegadas (altura e largura correspondem a 94 cm × 
53 cm), uma tela de um notebook de 15 polegadas, ideal para ser carregado em uma pasta ou 
em uma mochila, e uma tela de celular. De que forma cada meio interfere na sua maneira de 
perceber uma realidade?
Resolução
1) Os meios de comunicação adquiriram tanta relevância que nos levaram a criar certas expressões: 
“Vou ler o jornal”, “Gosto muito de TV”, “Não vivo mais sem o celular” etc. Não percebemos mais 
que ler o jornal (meio físico, o suporte) é diferente de ler os textos contidos nele.
2) Os meios suscitam uma reação emotiva e impacto sensorial nas pessoas, levando‑as a ter uma 
preferência em detrimento de outras.
146
Unidade III
3) O impacto de uma imagem, por exemplo, é diferente na tela de um celular e de uma televisão. O 
tamanho da tela, o fato de maior proximidade com o próprio aparelho, os recursos de linguagem 
utilizados em cada mídia interferem na percepção do que a pessoa vê.
Na área da linguística, em especial do fim do século XX em diante, em vez dos termos meio ou 
canal, os estudiosos da área empregam o termo suporte por considerar que a comunicação envolve 
interação, troca entre enunciador e enunciatário, lugar e momento. O termo canal tornou‑se específico, 
empregado no contexto científico que segue a linha estruturalista, em especial, dos estudos desenvolvidos 
por Jakobson.
Para o linguista Maingueneau (2001), o lugar em que o texto está faz muita diferença na situação 
comunicacional. Ele exemplifica ao diferenciar um anúncio publicitário em um cartaz na plataforma 
metroviária e em uma revista. Enquanto o anúncio é visto rapidamente na plataforma e seu público 
é indeterminado, podendo ser homens, crianças, pessoas de qualquer profissão etc., na revista, o 
anúncio é itinerante, pois a revista pode ser levada e lida em qualquer lugar e disponibilizada por tempo 
indeterminado e seu público é específico.
O meio, o canal, o suporte são, enfim, termos concebidos como uma materialidade. O termo 
materialidade é irônico, porque a sociedade é adjetivada como “líquida”, e perdemos a referência à 
concretude. Nas palavras de Liesen (2020, p. 196),
 
a perfeição de um meio está na sua capacidade de ser esquecido durante 
sua operação, isto é, enquanto meio nenhum meio consegue comediar sua 
materialidade. Nós observamos através dos meios, mas eles não podem 
observar a si próprios. Para darmos um exemplo, durante a leitura de um 
livro, elementos como a impressão das letras, formatação, cor das páginas, 
peso etc. devem ser esquecidos para que a leitura de fato ocorra.
À parte a opinião sobre o meio ser perfeito, a materialidade torna‑se relevante no contexto 
sociocomunicativo. Afinal, o avanço tecnológico é algo socialmente determinado. Não é a televisão ou 
o computador que criam uma sociedade nova, é a sociedade que precisa de processo de convívio próprio 
que faz a tecnologia, já existente, começar a ser usada também para outros propósitos. Para a teoria da 
comunicação, o rádio possibilitou que os ouvintes recriassem performances musicais. Antes do rádio, a 
música de concerto estava disponível exclusivamente a uma pequena elite.
Como discute McLuhan (1969), há sempre um processo cumulativo de complexidade, e uma nova 
formação comunicativa e cultural vai se integrando na anterior, provocando nela reajustamentos e novas 
funcionalidades. Alguns elementos sempre desaparecem, por exemplo, um tipo de suporte é substituído 
por outro, como no caso do papiro, ou um aparelho que é substituído por outro mais eficiente, o caso 
do telégrafo. Paralelamente, tanto a linguagem quanto os meios de comunicação evoluem.
147
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
Computador
A revolução da linguagem A revolução da escrita A revolução da imprensa A revolução do computador
Informação 
linguísticaInformação 
escrita
Informação 
escrita
Informação 
escrita
Informação 
tipográfica
Informação 
tipográfica
Informação 
eletrônica
Sujeito Sujeito Sujeito Sujeito
Instrumentos 
(caneta, papel)
Instrumentos Instrumentos
Prelo Prelo
Figura 60 – A revolução da linguagem e suas mídias
Fonte: Pugliese (2010, p. 6).
A figura anterior mostra as revoluções dos meios, os quais justamente estão no centro das práticas 
comunicativas e disponíveis para o estabelecimento das relações sociais. De acordo com a tecnologia 
da mídia do momento, ocorrem alterações sociais, mudando a maneira como as pessoas se comunicam. 
Diante disso, a teoria da mídia de McLuhan busca compreender como os meios interferem na sensibilidade 
das pessoas.
O autor já previa que na aldeia global, estabelecida pela interdependência dos meios eletrônicos, 
as pessoas seriam alfabetizadas pelos signos audiovisuais, e não mais pelos signos da escrita. Os meios 
mudam a maneira de aprender, amplificando os sentidos humanos em contato com a realidade. Nesse 
contexto, o autor sintetiza que “os meios de comunicação são extensões do homem” e, devido ao fato 
de que os meios alteram a produção e a recepção da mensagem, afirma que “o meio é a mensagem”.
Como os meios conseguem alterar nossa percepção da realidade? O brasileiro Clóvis de Barros Filho 
(HOHLFELDT, 2014), da área da comunicação, distingue determinados conceitos básicos referentes à 
mídia. Entre eles, estão:
• acumulação;
• consonância;
• onipresença;
• relevância;
• frame temporal;
148
Unidade III
• time lag;
• centralidade;
• tematização;
• saliência;
• focalização.
Esses conceitos são explicados no trecho a seguir.
A acumulação pode ser descrita como o poder que a mídia possui para destacar 
determinados temas. Um exemplo desta característica seria citar a pauta que tem a maior 
fonte na capa de um jornal que é um veículo que apresenta seu destaque de forma mais 
objetiva. Já na televisão, podemos citar a matéria que recebeu mais acumulação a que é 
caracterizada por ter mais tempo que as demais e é apresentada com mais ênfase pelo 
apresentador.
A consonância pode ser descrita como as semelhanças que podem ser visualizadas 
entre os veículos de comunicação, no momento em que estes e seus profissionais atuam 
no processo de apuração, produção e disseminação de reportagens. Um exemplo disso, 
a forma como as assessorias de comunicação produzem releases, utilizando o critério da 
hierarquização da informação e da pirâmide deitada.
Já a onipresença pode ser descrita como a característica que algumas reportagens 
jornalísticas possuem de serem pauta que pode ser enquadrada em mais de uma editoria.
A relevância pode ser descrita como a importância que a pauta possui, se o assunto foi 
pautado por diversos veículos de comunicação mesmo que de angulações diferentes.
Frame temporal se refere à apuração de informações que são efetuadas que podem 
vir a agregar para o entendimento do receptor em relação a determinada pauta. Um 
exemplo disso seriam as matérias que são efetuadas em época de eleições, na maioria 
das vezes, elas trazem consigo dados relevantes, como o histórico do candidato e suas 
impressões sobre temas que são frequentemente pautados pela sociedade – saúde, 
educação, segurança pública.
Time lag pode ser explicado como o tempo que o público que acompanha a mídia passa 
para ser influenciado, persuadido pelas informações as quais prestigiou, ou seja, é o intervalo 
no qual o público reflete e absorve o que acompanha sobre a mídia.
149
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
A centralidade pode ser descrita como as estratégias que os meios de comunicação 
utilizam para abordar pautas agregando significado, mostrando alguns pontos que podem 
mudar a perspectiva do leitor.
A tematização é uma característica agregada à centralidade, pois esta mostra o 
acompanhamento de determinada pauta, que é divulgado a partir da criação de novas 
reportagens com informações atualizadas.
A saliência pode ser definida como a percepção positiva do receptor sobre determinada 
pauta, este feedback sobre o assunto pode ser percebido no momento em que o indivíduo 
expressa sua opinião com o restante da sociedade.
Por fim, a focalização pode ser descrita como a angulação escolhida pelo jornalista para 
a abordagem de determinado assunto. Além da exploração do ponto de abordagem, um 
detalhe que contribui efetivamente para avaliar a focalização são as formas que o jornalista 
desenvolve sua matéria.
Fonte: Soares e Ribeiro (2017, p. 3‑4).
De acordo com Stasiak (2010), trata‑se da midiatização, que é um processo contínuo em que as 
mídias alteram a sociedade e a cultura, e vem acompanhado de uma atividade humana desde o início 
do uso da escrita e leitura. Os processos da midiatização se esforçam principalmente com o aumento das 
tecnologias digitais na internet. O conceito da sociedade midiatizada ou midiática surge da ideia de ação 
da mídia sobre a sociedade, sendo a influência da mídia o principal fator de moldura contemporânea. 
A mídia tem o poder de destruir os aspectos sociais que o mundo hoje observa, são frutos do resultado 
permanente e constante de igualar ideias que ela tem colocado.
A mídia hoje em dia tem padrões de beleza, consumo, escolaridade, de felicidade. O meio de 
comunicação tem parte sobre os papéis sociais, no sentido de que o acesso ao meio em si e aos 
modos da interação que ele disponibiliza para se comunicar e agir começa a funcionar na sociedade 
midiatizada. A midiatização não acontece apenas quando se está produzindo ou recebendo 
informações; acontece também quando se fala com os amigos sobre um vídeo da internet ou curso 
on‑line, por exemplo.
Nesse contexto, podemos juntar aqui as ideias de Martín‑Barbero (1993), para quem a informação 
se tornou mercadoria e, para compreender melhor a sociedade, é preciso ultrapassar a teoria da 
informação. Segundo o autor, “o problema não era que faltava lógica ou coerência a uma teoria pensada 
em termos de emissor, mensagem, receptor, códigos, fonte… O problema era que tipos de processos 
comunicativos eram pensados desde ali” (MARTÍN‑BARBERO, 1993, p. 71). O autor dá um exemplo: 
em situação comunicativa em evento com bastante gente (festa, sacramento religioso etc.), identificar 
emissor, receptor, mensagem é muito difícil. O ato comunicacional vai além das explicações de um 
esquema de comunicação.
150
Unidade III
 Lembrete
O esquema de comunicação de Jakobson tornou‑se tão notório que 
passou a ser predominante nos estudos sobre comunicação. No entanto, 
esse esquema faz parte da linguística estrutural e a análise torna‑se 
muito mecânica, sem levar em consideração, por exemplo, fatores 
sociais dos falantes.
Na visão de Martín‑Barbero (1993), a comunicação é uma prática social, e passa a haver a necessidade, 
frente ao fenômeno da midiatização, de discutir que tipo de sociedade esse fenômeno está criando. 
Uma sociedade designada pós‑moderna.
Exemplo de aplicação
Acompanhe as imagens a seguir, que mostram a mão nua (sem luva) e com luva como ferramenta 
de interface.
mão nua mão com luva
palma para baixo palma para baixopalma para cima palma para cima
Figura 61 
Adaptada de: Wang e Popovic (2009).
Com base nas imagens vistas, responda: até que ponto a mídia digital interfere na percepção que o 
ser humano tem da realidade?
Resolução
A relevância do suporte é indiscutível. Com o toque da mão aberta, informações são coletadas.
A mídia digital causa problema como a mídia tradicional. Sua interferência no nosso cotidiano é 
muito mais assombrosa, pois os sistemas digitais são de vigilância. Podem identificar, por exemplo, 
práticas de negócios que se baseiam em recursos eletrônicos de redes e nos serviços da internet. A 
vigilância, sustentada pelos algoritmos da linguagem computacional, é nada mais que uma maneira 
sofisticada e refinada da economia política no capitalismo digital regulado pela biopolítica ocupando 
espaço sobre o globo.
151
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
7.2 Comunicaçãoe a linguagem do silêncio
O silêncio causa interesse, tornando‑se objeto de estudo ou objeto temático, como lemos no 
poema a seguir.
O fotógrafo
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada minha aldeia estava morta
não se ouvia um barulho, ninguém passava entre
as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era o carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul‑perdão no olho de um mendigo.
152
Unidade III
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerguei a Nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia
de braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.
Fonte: Barros (2000, p. 11).
No poema de Manoel de Barros, o silêncio é como uma coisa, perceptível, tendo uma presença. 
Como presença, o silêncio é figurativizado pelas imagens e pelas ações criadas por ele: “O silêncio era 
o carregador?”. Afinal, o poema é como uma fotografia, carregado de imagens, mas também é como 
música, constituído de ritmo; nesse caso, não há ritmo sem silêncio.
O silêncio é também objeto das ciências da linguagem, uma vez que ele faz parte da comunicação, 
podendo ter mais de um significado, como submissão, resistência, omissão, entre tantos outros.
Em um processo comunicativo, manter‑se em silêncio é um respeito pelo outro, que fala, mas 
os ambientes enunciativos podem nos levar a compreender outras razões para o silêncio, como 
se o pronunciamento não fosse importante ou a pessoa precisasse da permissão do outro. Ou, ao 
contrário, sua opinião é importante, mas o silêncio indica que se concorda com o outro. Nesse 
sentido, descobrir o significado de cada um dos silêncios faz com que a forma de comunicação 
se torne enriquecedora. Urpí (2001) apresenta uma classificação do silêncio, em que são citadas 
algumas polifonias do silêncio:
• O silêncio cauteloso consiste em saber calar, considerando a hora e o lugar onde estão os 
interlocutores e que tipo de pessoa está na nossa convivência.
153
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
• O silêncio artificial é quando nos calamos para surpreender, desnortear quem declara seus 
sentimentos para nós, sem que esse outro saiba dos nossos, ou para tirar vantagem do que 
ouvimos e observar o outro de maneira sutil ou enganosa.
• O silêncio complacente consiste não só em ouvir sem contradizer quem é, mas também em lhe 
mostrar o prazer que sentimos com sua conversa ou seu comportamento, como gestos, olhos, 
sorrisos etc. O silêncio, no caso, ocupa o lugar da palavra e de aplausos.
• O silêncio zombeteiro é caracterizado por ser uma reserva irônica, maliciosa e afetada por não 
interromper coisas sem sentido ou de pouco interesse.
• O silêncio inteligente é quando o rosto de uma pessoa é percebido como uma expressão de 
espírito, de ênfase agradável e adequado para refletir as ideias ou sentimentos que se deseja 
tornar conhecidos sem a ajuda da palavra.
• O silêncio estúpido é de quem imobiliza a língua e dessensibiliza o espírito; com esse tipo de 
silêncio, a pessoa parece mergulhada em uma profunda taciturnidade que nada significa.
• O silêncio de aprovação consiste no consentimento que concedemos ao que ouvimos, como um 
sinal de estarmos felizes com o que o outro disse. Damos importância ao discurso e atentamos 
como um testemunho de aprovação.
• O silêncio desdenhoso ocorre quando fazemos sinal de desprezo e não nos dignamos a responder 
a quem nos fala.
• O silêncio de humor é aquele cujo interesse ou paixão só é realizado de acordo com a disposição 
ou a agitação do humor que domina a pessoa que fala e depende da situação do espírito, do 
contexto comunicativo e do funcionamento dos sentidos; por exemplo, quando alguém conta 
uma piada ou qualifica uma piada no discurso.
• O silêncio diplomático vem daquela pessoa prudente que é reservada e se comporta com cautela 
e inteligência, que nunca se abre para tudo, que não diz tudo que pensa nem sempre explica sua 
conduta plena ou seus desígnios e que, sem trair os direitos da verdade, nem sempre responde a 
tudo para não se deixar descobrir.
Como bem afirma Carvalho (2009, p. 2318):
 
O silêncio é uma linguagem muito mais complexa que a expressão da 
face ou do olhar, pois nele oculta‑se o silenciado. O silêncio não é um 
mero complemento da linguagem, ele tem significação própria. Por não 
termos conhecimento do que nele se esconde, podemos atribuir‑lhe 
diferentes sentidos.
154
Unidade III
A complexidade do silêncio leva igualmente às abordagens complexas de seu estudo. Um deles está 
ligado à sociedade contemporânea que tem muito ruído e não veda as diversas vozes sociais. A seguir, 
a entrevista do pesquisador português Alberto Filipe Ribeiro de Abreu Araújo.
“Imperializante”, sociedade da comunicação não deixa o silêncio existir e fragiliza 
a democracia
A sociedade da comunicação se transformou em uma “sociedade do ruído”, que 
está matando a competência humana de pensar de forma complexa e comprometendo 
dramaticamente a produção de conhecimento. A análise é do professor Alberto Filipe 
Ribeiro de Abreu Araújo, da Universidade do Minho (Portugal), que, em curta estada na 
UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais], participa de reuniões para estruturar um 
grupo internacional de pesquisa.
Sua reflexão se baseia no valor do silêncio, que, por sua vez, é desprezado pela sociedade 
contemporânea. “A comunicação praticamente não deixa o silêncio existir porque se 
tornou demasiado invasiva e imperializante”, afirma o professor, que vê no fenômeno uma 
ameaça à democracia, uma vez que “o barulho do mundo atual gera uma nova forma de 
ignorância”. […]
Em sua visão, o que é silêncio?
A noção de silêncio é polissêmica; ela encerra em si uma multitude de sentidos. 
Quando se fala em silêncio, a maioria das pessoas pensa em uma relação binômica 
e antinômica, como uma noção oposta ao barulho, ao som, à fala, à conversação, ao 
ruído. Porém, na tradição filosófica, sabemos que pensar a realidade em pares binômicos 
ou antinômicos é reducionista e simplifica o que é por natureza complexo. Dito isso, 
começaria por afirmar de forma veemente que o silêncio, como tema humano universal, 
representa uma força antropológica, ontológica, ética e educacional de longo alcance. 
E esse alcance implica uma responsabilidade reflexiva para aqueles que se dedicam 
ao tema. Aparentemente, o silêncio é a privação do som e da palavra, ou seja, ele é 
vazio: uma desfiguração carnal e espiritual da vocação do humano para se exprimir 
mediante a linguagem. Mas só aparentemente. Na essência, o silêncio é esperança: ele 
transfigura o sentido, quer no plano pessoal, individual ou subjetivo, quer no plano 
mais universal e cultural.
Há, portanto, mais de um tipo de silêncio?
São dois tipos básicos: o exterior e o interior. Não exalto aqui o silêncio exterior, que 
aparentemente é – mas só aparentemente – uma falta, uma ausência, um vazio, mas, 
sim, o interior, voluntário, que não apostasia a linguagem: antes, usa‑a para valorizar o 
sentido humano, a liberdade do espírito. Em certa medida, esse silêncio se apresenta como 
pertencente à esfera do sagrado, por ser fascinante e tremendo e por despertar naquele 
que o vivencia um sentimento ora de terror, ora de espanto; e de meditação, tranquilidade, 
155
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
reflexão, quietude, discernimento. Vive‑se o silêncio como uma experiência multifacetada 
que ora surpreende, ora assusta. Daí podermos dizer que ele não é merofenômeno mental 
assaz complexo, mas também estranhamente emocional, profundamente íntimo. Se, por 
um lado, a experiência do silêncio está mais intimamente ligada à cultura, por outro, ela é 
pessoal e intransmissível por aquele que a vive.
Sara Maitland, em O livro do silêncio, escreve que é “possível sentir o silêncio exterior 
sem qualquer noção do silêncio interior e, em alguns casos, o inverso”. Ela diz: “O silêncio é 
multifacetado, um tecido densamente entrelaçado de muitos cordões e fios diferentes”. O 
silêncio é um momento de consciência, de responsabilidade e, por excelência, de atenção ao 
outro. Por isso, deve ser privilegiado.
O senhor parece considerar o silêncio uma grande força…
A força do silêncio transborda a sua mera dimensão intelectual para se afirmar mais 
como um silêncio íntimo e de pudor. Trato aqui de um tipo de silêncio que nunca pode ser 
obrigatório ou imposto, senão seria o silêncio da vítima; antes, ele tem de ser desejado e 
merecido. Melhor: aquele que se dedica ao silêncio não o elege; eu diria que é eleito por ele. 
O silêncio escolhe aquele que a ele se dedica, e este tem de conquistar o silêncio, abrindo‑se 
voluntariamente a ele e insurgindo‑se contra a ditadura do ruído. A temática do silêncio é 
exigente, arriscada, complexa, profunda e cheia de meandros que precisam ser enfrentados 
por aquele que deseja melhor compreendê‑lo.
A que exatamente o senhor se refere quando fala em “silêncio da vítima”?
Falo do silêncio imposto, sempre terrível, até mesmo letal; um silêncio oposto ao 
silêncio desejado, do qual falava antes. Refiro‑me ao silêncio da opressão, das ditaduras, 
o silêncio a que as ditaduras obrigam. Falo mesmo de certo tipo de silêncio a que o 
populismo presente na Europa e fora da Europa também convida. O silêncio como opção 
pode ser criativo e gerar autoconhecimento, integração e profunda alegria. Ser silenciado, 
em contrapartida, pode levar uma pessoa à loucura. Esse é o silêncio da vítima, um silêncio 
que nos é imposto. […]
O silêncio pode ser considerado um discurso? Em hipótese mais radical: 
uma linguagem?
O silêncio é uma linguagem não verbal, que comunica autrement, ou seja, de outro 
modo, e muitas vezes de modo até mais significacional que a linguagem verbal tout court. 
A comunicação é da ordem do interativo, enquanto o silêncio é da ordem do não interativo, 
embora tenha em si uma espécie de interação.
Na sociedade da comunicação e da informação, que muitas vezes é também uma 
sociedade do ruído, pensamos que só pela comunicação podemos significar e nos exprimir e 
que só comunicamos bem e com sentido se falamos. Assim, a comunicação, que se pretende 
156
Unidade III
utilitária, eficaz, urgente e saturante, tornou‑se onipresente: o ambiente natural do mundo 
atual. Nesse sentido, ela surge assim como aquosa, numa “sociedade líquida”, como diria 
Zygmunt Bauman.
Portanto, não é de se estranhar que essa mesma sociedade da comunicação odeie 
o silêncio e até a própria Palavra [com maiúscula, quando o entrevistado a emprega 
exclusivamente como conceito], que é do domínio do tempo longo, da atenção ao outro, 
da alegria da troca e da reciprocidade, da paciência e da escuta. Esse tipo de comunicação, 
como salienta [o sociólogo e antropólogo] David Le Breton, põe o silêncio na posição de 
bode expiatório por todos os males da terra dos homens, na medida em que consagra a 
interioridade plena e critica toda uma comunicação desabrida e invasiva.
Aqui parece haver uma tensão entre a sociedade que valoriza o silêncio e a 
sociedade da comunicação…
O que está em causa aqui é a dimensão técnica da comunicação. Não a recusamos 
totalmente, mas somos fortemente críticos dela, em razão dessa sua dimensão técnica 
que implica uma vontade de controlar e de esmagar a esperança, quer seja a esperança 
do silêncio, quer seja a esperança da Palavra. Essa questão parece‑me importante: 
deixarmos lugar para a esperança. E a esperança, a meu ver, sem procurar fazer divisões 
dicotômicas, está mais reconfortada, mais aconchegada no campo do silêncio. Na obra 
Le silence et la parole contre les excès de la communication [O silêncio e a palavra 
contra os excessos da comunicação], o próprio David Le Breton e Philippe Breton 
tratam dessa questão assim: “a tagarelice frenética da ideologia da comunicação é uma 
tecnização do sentido que nos aprisiona num mundo limitado, sem horizonte, no qual 
nos tornamos utensílios, figuras intercambiáveis, descartáveis, sem rosto nem voz”. O 
silêncio é o gerador da Palavra como espaço de troca, de argumentação, de debates e 
da própria ação. O silêncio e a Palavra convivem muito mal com o ruído comunicacional 
e tecnológico.
Nas suas reflexões, qual é a diferença entre “palavra” e “Palavra”?
Com minúscula, “palavra” faz parte da comunicação tout court; com maiúscula, “Palavra” 
remete ao sentido de “proclamar”; é algo mais ligado ao sagrado, ou seja, àquilo que é 
ruminado até a exaustão para só depois ser dito.
Por que o silêncio perdeu o protagonismo no decorrer das últimas décadas como 
recurso das relações humanas?
O silêncio, com exceção de alguns meios filosóficos e religiosos, nunca teve grande 
protagonismo no seio da comunicação humana. Ele esteve sempre marginalizado. Foi 
sempre alvo de poucos. A sociedade da comunicação e da informação é o corolário disso 
tudo: nela, o sujeito pós‑moderno está tão enfeitiçado pela onipotência da linguagem, da 
comunicação, que devota a ela um culto diário – culto que antes era reservado às divindades, 
157
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
no plural ou no singular. Nesse sentido, há aqui uma transferência da esfera do religioso, do 
sagrado para a esfera do profano.
Uma das razões de o silêncio perder protagonismo é justamente esta: a sociedade 
atual é secular, profana e consagrou o uso da comunicação em detrimento do silêncio 
e da Palavra que proclama e institui um código de conduta, por exemplo. Sabemos 
que, em uma sociedade líquida, há certo horror à instituição de normas e regras, pois 
nela tudo é relativo. Assim, o silêncio faz‑se raro e indizível, e isso nos lembra aquele 
pássaro que, acossado por seu predador, refugia‑se nos altos cumes inacessíveis. A 
comunicação praticamente não deixa o silêncio existir em nossa sociedade atual 
porque se tornou demasiada invasiva e imperializante. Ela [a comunicação], que é meio, 
tornou‑se, em muitos aspectos, uma antítese do silêncio e da Palavra, que é e deveria 
ser a finalidade. […]
O silêncio é esse pássaro que precisa fugir da sociedade que se criou ao seu redor…
O mesmo que ocorre a esse pássaro ocorre ao silêncio, que é intimamente solidário da 
Palavra porque ambos se alimentam mutuamente. Acossados pelo barulho e pelo desprezo 
à comunicação sacrossanta dos séculos XX e XXI e, sobretudo, a partir das tecnologias de 
comunicação, o silêncio e a Palavra se tornaram mais raros, mais inacessíveis, mas nem por 
isso menos importantes na vida espiritual.
A ideologia da comunicação, estabelecida em nome do mito da convivialidade, do mito 
da transparência, tornou‑se uma espécie de Frankenstein, sem rosto e à solta, e segue 
arrebatando com muito sucesso os sujeitos que fazem das palavras a sua forma privilegiada 
de existir. Hoje, substituímos o “penso, logo existo”, de Descartes, pelo “falo, logo existo”. 
Contudo, falar não é, como se sabe, sempre um sinônimo de existir.
Como o silêncio pode ser instrumento de construção de saber?
O silêncio serve à construção do saber pela simples razão de que não há reflexão que 
possa nascer fora da esfera do silêncio interior consagrado [para o pesquisador, esse “silêncio 
interior” diz respeito a uma espécie de experiência espiritual – que pode ou não ser do tipo 
mística – desejada pelo sujeito na sua condição de aprendiz]. Dificilmente se pode pensar, 
refletir, criar e gerar autoconhecimento no seio do burburinho, no ambiente cacofônico 
em que as pessoas acham que sabem o que está sendo dito, enquanto cada uma delas, a 
propósito do que está sendo dito, estáa pensar diferentemente. Isso é cacofonia. Eu poderia 
dizer que, quando expurga o silêncio, a sociedade da comunicação fica praticamente 
impossibilitada de construir o saber, de instituí‑lo.
O senhor fala em certo valor pedagógico do silêncio. Do que se trata?
O silêncio adquire valor pedagógico quando aquele que o faz usa‑o, à semelhança 
do Mestre, para que o Outro, mesmo o seu próximo, aprenda e compreenda certa 
158
Unidade III
mensagem falada. Essa mensagem, que prefiro chamar de proclamada, tende a adquirir 
maior pregnância quando é precedida ou seguida de um silêncio voluntário e refletido. 
É assim que se compreende que a Palavra iniciática brota de um pensar silencioso reflexivo e 
tende a regressar a ele, na medida em que se tem uma necessidade de meditar sobre cada 
Palavra proclamada. O silêncio vital e a Palavra absoluta alimentam‑se entre si.
O silêncio também é fundamental para o processo educativo…
É de um valor imenso, e basta recordar a “Lição de silêncio”, da [pedagoga italiana] 
Maria Montessori, para nos apercebermos que, mesmo as crianças da educação infantil 
têm o dom, quase natural, de compreender a sua importância nos seus trabalhos manuais 
e/ou de aprendizagem. As crianças devem aprender a ficar em silêncio para interiorizar 
o que foi construído e aprendido. Em silêncio, elas escutam músicas de relaxamento, o 
assobio dos passarinhos e o barulho das outras crianças no pátio. Em razão disso, 
ficam mais tranquilas e despertas para aquilo que é essencial. Aqui, o silêncio aparece 
como uma disciplina espiritual, que as deixa mais despertas para aprenderem as lições 
propriamente ditas.
Não é possível educar sem o pensamento, sem a reflexão, e ambos carecem de um silêncio 
pedagógico para serem produtivos, penetrantes e atuantes. Veja‑se, por exemplo, que, no 
quadro da educação tradicional e religiosa, é por meio do olhar silencioso do Mestre que o 
discípulo adquire intuitivamente uma espécie de sabedoria, que o ajuda na sua formação. 
Somente no – e pelo – silêncio pode haver reflexão e o trabalho das ideias que brotam dessa 
mesma reflexão, que, por sua vez, conduz ao desenvolvimento do espírito crítico e à tomada 
de uma consciência social que urge e se impõe.
O que ganharíamos ao evocar novamente o silêncio em nosso atual regime de 
historicidade, que temos começado a denominar como contemporâneo?
Na “sociedade do ruído”, em que todos falam e ninguém se escuta, e o sujeito está 
quase sempre submerso em uma avalanche de informação e de dados que não controla 
e que o alienam, impõe‑se parar pedagogicamente para dar lugar ao questionamento. 
Isso implica necessariamente a experiência do silêncio ativo e interrogante. No fundo, é 
pelo pensamento crítico propiciado pelo silêncio atuante que se pode, certamente, chegar 
àquilo que o grande educador brasileiro e do mundo Paulo Freire chamou de “educação 
problematizadora” (leia‑se, a da criatividade) por oposição à “educação bancária” (leia‑se, a 
da repetição), no livro A pedagogia do oprimido.
Contudo, o silêncio incomoda. Nós não gostamos daqueles que são silenciosos durante 
um debate. O silencioso muitas vezes aparece como sinônimo de taciturno, de alguém 
esquisito, difícil, que não respeita as regras sociais. As regras sociais dizem que um conjunto 
de pessoas juntas devem falar, devem se comunicar, e não estar em silêncio. A sociedade 
atual escolheu se tornar uma sociedade da comunicação e da informação por excelência, 
evacuando o silêncio como algo prejudicial, não produtivo, nefasto, que deveria ser mantido 
159
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
longe da prática cotidiana da convivialidade e dos processos de construção de saber. 
Demasiada orgulhosa de suas conquistas, a sociedade contemporânea se julga a grande 
vencedora do seu tempo, quando, sendo uma sociedade da comunicação, da informação, 
faz do barulho o grande vencedor.
A sociedade da comunicação deveria integrar o valor pedagógico, construtivo 
e terapêutico do silêncio, em vez de proceder com o intuito de expulsá‑lo da sua 
prática. Comunicar sem privilegiar o silêncio implica comprometer o sentido dessa 
mesma comunicação e, por conseguinte, estilhaçá‑lo numa cacofonia estéril e prejudicial 
a uma compreensão partilhada. Sobre isso, Philippe Breton e David Le Breton dizem: 
“O silêncio é necessário à palavra, ele introduz um espaço de respiração, de meditação. Ele 
é a respiração das conversas e o seu tempo.” […]
As redes sociais exercem protagonismo negativo nesse cenário?
A sociedade contemporânea fez das redes sociais que a medeiam o seu deus de adoração. 
A sociedade do nosso século muito fala, pouco acerta e quase nada escuta, daí toda a 
necessidade de se refletir sobre uma pedagogia do silêncio que implica necessariamente um 
saber ouvir [em silêncio], como que contemplando a palavra dita, para depois “ruminá‑la”. 
Só uma palavra “ruminada”, purificada num silêncio redentor, vale a pena ser pronunciada, 
e, por conseguinte, esgotada.
A sociedade do século XXI pensa pouco, ou não pensa de todo, naquilo que diz. 
Consequentemente, tem um déficit muito grande de escuta, porque implica toda uma 
pedagogia que parece desconhecer ou secundarizar. Por isso, não admira que o ruído 
incessante esconda a banalidade e a [fina] espessura das relações interpessoais, da 
mesma maneira que o “fazer silêncio” siga parecendo uma atitude perigosa, ameaçadora 
e excêntrica.
Quais as principais implicações de se aceitar passivamente o estabelecimento 
dessa “sociedade do ruído”?
Se entendermos por “sociedade do ruído” aquela em que o sentido da compreensão, 
da explicação e da interpretação é estilhaçado pela cacofonia do excesso da comunicação, 
as implicações são de várias ordens. Recentemente, um importante estudo realizado por 
pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon demonstrou que o aumento no uso da 
internet coincide com um aumento da solidão, problema acentuado na era do uso constante 
de redes como o Facebook e o Instagram e que pode fazer mal à saúde física e emocional das 
pessoas. Na prática, as redes sociais aumentam a sensação de angústia, ansiedade, inveja e 
frustração. O ser humano, alienado pela revolução digital, tornou‑se cada vez mais isolado 
e individualista, embora esteja convencido do contrário. É esse convencimento que importa 
urgentemente desmitificar. O uso desmesurado das novas tecnologias torna os indivíduos 
escravos do celular, dos videogames ou do computador e, de um modo mais amplo, das 
160
Unidade III
redes sociais, impossibilitando‑os de estabelecer o necessário distanciamento crítico para o 
trabalho reflexivo. Há uma espécie de mimetismo nesse pingue‑pongue virtual, em que as 
pessoas acabam por se viciar.
Essa “interação” que as redes sociais proporcionariam não pode ser considerada 
tão dialógica quanto o diálogo que travamos ao longo desta entrevista?
Há uma diferença. Na relação virtual há a ausência de algo principal para que a 
palavra brote no seu fundo mais original: o rosto do outro. O olhar do outro, o gesto do 
outro, a presença do outro fazem a minha palavra se instituir de forma mais profunda e 
mais prolongada no tempo. Isso não condiz com a relação causal de pingue‑pongue que 
estabelecemos, por exemplo, quando estamos numa relação de Skype.
A ilusão de ter o mundo na mão conduz a um esvaziamento do nosso espírito crítico 
e a uma submissão da opinião ministrada pelos meios de comunicação. Com isso, a 
juventude perde a capacidade de se expressar e se torna mais conformista e frágil, sem 
defesas face aos populismos crescentes. O ruído organizado e a distração afastam os 
momentos de silêncio e não possibilitam o desenvolvimento da nossa capacidade de 
pensar, de organizar as nossas ideias e de construir o próprio discurso. Isso consagra 
inelutavelmente a ascensão de uma nova ignorância, e, por conseguinte, fragiliza a 
democracia. A democracia fica mais frágil em razão de ignorâncias, seja do tipo antigo, 
seja essa nova ignorância, que advém dos meios digitais. Ironicamente,a revolução digital 
forma mais analfabetos funcionais do que propriamente sujeitos críticos e ativos, no 
sentido político do termo.
A ignorância contemporânea, mais do que qualquer outra, se ignora.
Exatamente! Isso ocorre porque a antiga ignorância se sabia ignorante. Já a atual, presa 
da soberba, se diz “conhecimento”. Na sociedade do ruído, há uma avalanche de informações, 
uma proliferação de sons. Contudo, se tudo for espremido, pouco fica, como numa borra 
de café. Em razão da alienação promovida por essa sociedade, o sujeito sempre ligado à 
rede passa a ter muita dificuldade (devido à ausência de espírito crítico) de separar o joio 
do trigo. Mas a questão aqui não é diabolizar a revolução digital. Ela é importante quando 
analisada como meio. O problema surge quando ela se torna um fim em si mesma. Ela se 
torna um Frankenstein à solta. […]
Fonte: Ribeiro (2017).
Para os estudos das ciências da linguagem, o silêncio é uma linguagem, desde que conexo a um 
contexto de comunicação e, nesse caso, o silêncio relaciona‑se a uma história e a uma ideologia, 
conforme Orlandi (2002).
161
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
O papel do silêncio é ser marcado entre as palavras (faladas, escritas), sendo segmentado e distinguido 
no tempo, com múltiplos efeitos de sentidos. As marcas formais do silêncio são difíceis de ser perceptíveis 
no discurso. O que pode ser percebido e verificado no silêncio é seu aspecto cultural, inscrito em uma 
determinada história e política.
São dois, portanto, os critérios para análise do silêncio como linguagem ou, pelo menos, parte 
da linguagem:
 
o “silêncio fundante”, ou seja, aquele que alicerça os processos de significação, 
uma vez que eles têm uma relação necessária com o silêncio e a “política 
do silêncio”, o silenciamento, segundo a qual o sujeito, ao dizer, estará 
necessariamente omitindo outros sentidos, desde que eles são produzidos 
de um determinado lugar, a partir de uma posição do sujeito. Nessa última 
categoria, situam‑se: o silêncio constitutivo, essencial à linguagem, desde 
que a escolha de uma palavra apaga necessariamente outras palavras; e o 
silêncio local, relativo à censura, ao proibido de se dizer em certa conjuntura 
(CARVALHO, 2009, p. 2318).
Expressões como “tomar a palavra”, “tirar a palavra”, “obrigar a dizer”, “fazer calar”, “silenciar” 
etc. fazem parte da história do silêncio. Tanto o silêncio pode fazer parte de uma opressão, quanto 
do oprimido.
O silêncio, enfim, tem uma única materialidade (ausência de som da fala e de outro signo), mas não 
possui uma só interpretação. Ele pode se manifestar consciente ou inconscientemente, dependendo 
do indivíduo. Por exemplo, o silêncio das mulheres faz parte do imaginário de diversas culturas e, em 
geral, no sentido de submissão. A subversão, quando ocorre, é de forma consciente, criando, então, um 
significado novo.
Lutar contra o silêncio evoca uma ação entre, no mínimo, duas ou mais pessoas, em um confronto 
de alguém que oprime contra um oponente, alguém que se opõe. Concordamos com Carvalho 
(2009, p. 2321), quando ela afirma “que o silêncio é resistência porque se torna linguagem, quando, 
por exemplo, na necessidade de uma opção, é a resposta diferente das desejadas ou permitidas”.
Como exemplo de luta contra o silêncio repressor, há o movimento de circulação pública contra a 
violência doméstica e contra o abuso sexual. Um desses movimentos é a criação da cartilha elaborada 
pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), cuja capa 
está na figura a seguir.
162
Unidade III
Figura 62 – Capa da cartilha Sinal vermelho contra a violência doméstica
Fonte: CNJ; AMB (2021).
A cartilha foi elaborada para divulgar a campanha Sinal Vermelho contra a violência doméstica em 
enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher durante o afastamento social devido 
ao novo coronavírus e aos efeitos da pandemia de covid‑19.
Como forma de denúncia e de solicitação de medidas protetivas, o programa lança a campanha de 
uma denúncia silenciosa: “Basta um ‘x’ vermelho, feito com batom ou qualquer outro material acessível, 
na palma da mão e a notícia da violência na farmácia ou drogaria cadastrada na campanha. A polícia 
será acionada” (CNJ; AMB, 2021, p. 2).
A imagem da figura anterior retrata o corpo da mulher, dando destaque à mão com um X pintado de 
vermelho, em primeiro plano da fotografia. Os elementos sígnicos contextualizam uma representação 
do medo e da violência, neste caso, violência contra a mulher.
A cor vermelha, que simboliza a violência, a agressividade, o poder e a superioridade sobre o outro, 
na mão feminina da capa da cartilha sobrepõe o significado desse símbolo ao potencializar a força da 
mulher para denunciar e lutar contra a violência. O X serve de interação com o outro e constrói um 
significado, adquirindo, então, grande relevância na comunicação. O X em vermelho e a mão levantada 
com a palma virada para nós, leitores, causam impacto tanto sensorial quanto emocional, devido, 
respectivamente, à cor e à projeção da mão e ao forte apelo para deter a violência doméstica.
Devido ao confinamento por causa da pandemia de covid‑19, somente local com serviço essencial 
manteve‑se aberto para o público. Por isso, conforme a cartilha, a denúncia poderia ser feita em uma 
163
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
farmácia ou drogaria. Nesse novo contexto social, ocorrem transformações no conceito de espaço que 
trazem à tona a concepção de não lugar, um espaço que, por exemplo, passa a ter uma outra função.
Uma outra maneira de romper o silêncio – este negativo, opressor – foi tomada pelo governo do 
estado de São Paulo, que sancionou a Lei n. 17.406, de 15 de setembro de 2021 (SÃO PAULO, 2021), que 
obriga condomínios a notificar casos de violência doméstica ocorridos em famílias moradoras.
No mesmo mês, o Jornal do Ônibus, da cidade de São Paulo, divulgou em ônibus e terminais atitudes 
contra o abuso sexual.
Figura 63 – Capa do Jornal do Ônibus, com o tema sororidade
Fonte: SPTrans (2021).
O texto do jornal também solicita à leitora a denúncia, mas por meio de uma interferência com base 
em sororidade. Além da palavra sororidade, a imagem de três figuras femininas reforça a quem o texto 
se dirige: à mulher. A mulher pode ser vítima, mas ela é também forte para lutar contra a violência.
Ambos os textos – cartilha e jornal – são exemplos de ruptura do silêncio. Há um terceiro texto, a 
própria lei, que ajuda nessa ruptura; mais, torna legal a voz contra o silêncio.
164
Unidade III
Exemplo de aplicação
1) Faça um levantamento de movimentos artísticos e/ou de artistas – exposição de arte, encontros 
para arrecadação etc. – para promoção da luta contra o silêncio, seja da mulher, dos grupos 
LGBTQ+, das crianças em situação de risco, entre outras situações sociais.
Como se constituiu o movimento pesquisado em relação à situação de comunicação?
2) Exemplifique um evento de manifestação de protesto ou de solidariedade ocorrido em seu 
bairro e/ou cidade. Descreva como foi a situação comunicativa: debates, festividades, bingo para 
arrecadação etc.
3) A internet virou um espaço a que muitos usuários recorrem para protestos, lutas contra 
injustiças, chamamento para ações de solidariedade, compartilhamento de pedidos de ajuda 
ou de denúncia. Abra a sua página do Facebook ou de uma outra rede social e verifique as 
postagens do dia que correspondam a essa situação comunicativa.
Resolução
São vários os movimentos culturais que se transformam em denúncia de uma situação social, como 
uma maneira de romper o silêncio. Tais movimentos ocorrem em contextos comunicacionais diferentes 
e por suportes (midiáticos e digitais) diversos.
Já discutimos sobre a linguagem ser a grande mediadora entre nós – espécie humana – e o mundo. 
A linguagem concretiza a comunicação, a qual, por sua vez, possibilita a interação social. Contudo, a 
linguagem também forma a nossa identidade, uma vez que não desvinculamos a identidadedos atos 
de linguagem.
A identidade deve ser marcada repetidas vezes para que sustentemos o eu e o nós.
 Saiba mais
Convidamos você a ler um livro infantil, em que a história se constrói 
em um ambiente carente, com desigualdade econômica e marcado pela 
violência. Com ilustrações impressionantes, o personagem principal é 
apresentado, criando suspense.
SOUZA JR., O. C. O chefão lá do Morro. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.
165
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
Para encerrar esta parte, recorremos às palavras de McLuhan (1969, p. 85):
 
As vítimas que sofreram o impacto da nova tecnologia invariavelmente 
costumam tartamudear lugares‑comuns sobre a falta de senso prático dos 
artistas e sobre seus gostos fantasiosos. Mas é do reconhecimento geral que, 
no século passado – e para usar as palavras de Wyndham Lewis – “o artista 
está sempre empenhado em escrever a minuciosa história do futuro, porque 
ele é a única pessoa consciente da natureza do presente!”.
8 A COMUNICAÇÃO MIDIÁTICA
Charaudeau (2008), assim como McLuhan e tantos outros da área da comunicação, analisa 
criticamente os meios de comunicação. Ele relaciona o uso da linguagem às situações comunicativas.
8.1 Formação e estratégias midiáticas
O ato de enviar informação está diretamente ligado à interação social, uma vez que a informação 
carrega um determinado saber, atinge o outro, que não retém esse conhecimento. Como esclarece 
Charaudeau (2013), é necessário levar em consideração o meio em que essa informação é construída 
e difundida e como ela pode afetar o discurso, tendo uma relação direta com locutor e interlocutor na 
produção de sentido. O meio social em que a informação é gerada é essencial, pois neste identificamos 
suas ideias, valores e, sobretudo, a ideologia que o caracteriza, refletindo diretamente em seu produto 
final, ou intencionalmente na informação, dando uma característica que marca o meio em que está 
inserido. São esperadas dos interlocutores habilidades de extração, em que haja absorção daquilo que 
convém; ao saber disso, a mídia trabalha por seus meios introduzindo informações estrategicamente 
formuladas, para atingir seus objetivos, usando fatores influenciadores na hora de produzir seu conteúdo 
massivo, para atingir o máximo de pessoas possível.
O ato da comunicação exige um canal, ou seja, o meio por onde esta é dada. Os meios são extensos, 
tendo diversos suportes, como meio televisivo, radiofônico, meio escrito e atualmente os mais variados 
meios de difusão via internet. Para que haja interação entre os dois lados, é necessária a presença de 
um locutor e um interlocutor; ao primeiro compete encaminhar a mensagem, e, ao segundo, recebê‑la. 
Ao produzir um discurso, de teor jornalístico ou literário, o locutor tem consigo informações que 
seu interlocutor não possuiu. Ao introduzir informações, o primeiro tem o propósito de informar ou 
transmitir algo, ao passo que o interlocutor as recebe. Porém, o resultado dependerá da troca em que 
outros fatores também contam.
Nenhuma mensagem está livre de intencionalidade, podendo‑se dizer que ela não é pura. Todo 
e qualquer ato de comunicação tem por trás uma carga ideológica de sentido. A interpretação é um 
ponto‑chave para falarmos de comunicação, pois a mensagem produzida nem sempre é reproduzida e 
interpretada da maneira que seu emissor a destinou, sendo de extrema relevância o meio cultural em 
que está inserido, e qual é o conhecimento de mundo do interlocutor.
 
166
Unidade III
Se existe um fenômeno humano e social que dependa principalmente da 
linguagem, é o da informação. A informação é, em uma definição empírica 
mínima, a transmissão de um saber, com a ajuda de uma determinada 
linguagem, por alguém que possui o saber a alguém que se presume não 
possuí‑lo (CHARAUDEAU, 2013, p. 54).
A mídia é um dispositivo que formata a mensagem para quem irá consumi‑la. Esse consumo de 
informações facilitadas é normalmente utilizado de forma massiva por indivíduos que geralmente se 
baseiam por um senso comum. Os indivíduos consomem a informação à disposição sem a reflexão 
necessária, somente para suprir uma necessidade de informações, que também é direcionada, de forma 
prática e rápida. No processo de produção de enunciado ocorre a preparação, estando a mensagem 
em seu produto final, um produto que carrega uma variedade múltipla de conceitos do locutor. Esse 
processo está diretamente relacionado ao público‑alvo, para o qual a mensagem chegará, ou seja, há 
certa orientação da maneira na qual a mensagem será transformada e encaminhada. Esta pode atingir 
públicos especificados, de forma seletiva; quando a mensagem é encaminhada, necessita responder 
questões como qual faixa etária, em qual meio será transmitida, qual será o canal que o emissor 
utilizará, qual será o código, entre outros questionamentos para que haja transmissão do conteúdo, e 
as informações cheguem através do canal ao público desejado. Tem‑se a intencionalidade na hora da 
formatação do texto, para que o emissor alcance seu alvo. Assim:
 
Como em todo ato de comunicação, a comunicação midiática põe em 
relação duas instâncias: uma de produção e a outra de recepção. A 
instância de produção teria, então, um duplo papel: de fornecedor de 
informação, pois deve fazer saber, e de propulsor do desejo de consumir 
as informações, pois deve captar seu público. A instância de recepção por 
seu turno deveria manifestar seu interesse e seu prazer em consumir tais 
informações (CHARAUDEAU, 2013, p. 62).
Ao tratar de mídia, temos a noção da amplitude e variedade, que nos dias atuais vem tornando‑se 
cada vez mais vasta. O termo mídia engloba uma teia de sentidos. Temos como vertentes midiáticas 
a mídia televisiva, mídia digital, mídia escrita, entre outras tantas. Com o avanço da tecnologia temos 
um leque de possibilidades, quando se trata de obter informações. Na palma da mão temos acesso 
aos smartphones, que são meios de acesso rápido aos conteúdos on‑line, e, dessa forma, as mídias 
digitais de fácil acesso tornaram‑se também facilmente manipuláveis. Com a quantidade de 
mídias presentes, temos opções, mas ainda assim a mídia televisionada é uma das mais populares. Sendo 
uma ferramenta, que dá acesso ao visual e auditivo, trazendo a mensagem para seu receptor, de uma 
forma mais aproximada, transmitindo uma sensação de contato e simultaneidade.
Ao pensar na mídia televisiva, deparamo‑nos com a questão de imagem e som, uma interligada 
ao outro. O efeito visual e auditivo conecta‑se, sendo um dependente do outro, porém com suas 
próprias organizações internas, ou seja, com um mecanismo e estruturas próprias. Esse recurso utilizado 
simultaneamente produz nível de proximidade marcante e massivo tornando‑se uma grande ferramenta 
de manipulação. A imagem tem em si a carga ideológica representativa e se torna mais sensível, o efeito 
auditivo se introduz na invocação. Nesse sentido:
167
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
A televisão é imagem e fala, fala e imagem. Não somente imagem, como se 
diz algumas vezes quando se trata de denunciar seus efeitos manipuladores, 
mas imagem e fala em solidariedade tal, que não se saberia dizer de qual das 
duas depende a estrutura do sentido (CHARAUDEAU, 2013, p. 65).
A imagem televisiva tem no seu discurso múltiplos sentidos. Entre tantos discursos, sendo 
variáveis, encontramos o traço marcante da oralidade e imagem presente nos discursos televisionados. 
A imagem televisiva traz consigo a ideia do real e o irreal, o referencial e o ficcional, como diz Charaudeau 
(2013, p. 65): “A imagem televisionada tem uma origem enunciativa múltipla com finalidades de 
construção de um discurso ao mesmo tempo referencial e ficcional”, podendo causar efeitos como uma 
sensação de ficcional, do que está à volta, um efeito de reconstrução, levando à sensação de verdade 
e um efeito de realidade. A notícia tem em seu enredo características de um texto informativo, capaz 
de trazer ao seu receptor a sensação de locomoção. Ao tratar a notícia, em primeira instânciaficam em 
evidência os seus pontos principais, em que o locutor irá introduzir a sensação de interação.
Esses efeitos levam ao telespectador a sensação de ser relatado de toda informação que ocorre, 
despertando a sensação de verdade e de simultaneidade. Em relação ao tempo, concluímos que na 
verdade essa sensação é ilusória. O tempo e o acontecimento da informação não serão coincidentemente 
relativos, pois para a mensagem chegar ao seu destino final é necessário um processo. Nesse processo 
perde‑se a autonomia da mensagem, que passa a ser moldada conforme informações e intenções 
acrescentadas. Ao analisar a questão do espaço, ela nos traz a concepção de encurtamento, levando‑nos 
para próximo. Dependendo da forma que um jornalista dá uma notícia, por exemplo a maneira de ele 
olhar para a câmera, de se posicionar diante do enquadramento dela, isso afeta a sua aproximação com 
seu espectador.
O meio midiático legível não carrega consigo a proximidade que a televisão traz ao retratar um fato ou 
um ato informativo. Sua forma transporta um rigor mais direto, ainda assim cheio de intencionalidades. 
Esse meio é formado por um texto informativo, em que os principais fatos são encaixados no primeiro 
parágrafo, chamando a atenção do leitor ao enredo da notícia. A menção de acontecimentos e até a 
forma da fonte em que a letra se enquadra é uma estratégia do redator, jornalista que compõe esse 
material escrito. Ele utiliza uma estética propriamente selecionada para chamar a atenção, ou trazer a 
atenção do leitor para a notícia em destaque.
A mídia escrita é tradicional, em aspectos como a fixação de uma imagem que acompanha o texto 
informativo, junto a um título de impacto. Há certa distância física, nesse formato de mídia, entre o 
leitor e seu interlocutor. Entre esses dois pontos existem variações de interpretação do referente, e estas 
ocorrem devido ao distanciamento da característica de instância da emissão para instância de recepção, 
deixando assim um espaço entre a mensagem informada e a recebida. Um espaço de amplas formas de 
percepção do referencial. A mesma mensagem pode não ser visualizada e entendida da mesma forma 
que é produzida.
A ênfase dada em uma determinada notícia é uma característica importante. Trata‑se de uma 
função referencial, pois ela define a relevância do texto apresentado. Normalmente essa ênfase se dá 
ao destaque do título, a notícia na primeira parte do jornal, seu enquadramento, qual tipo de fonte, as 
palavras selecionadas, onde se posicionam etc. É nesse contexto que:
168
Unidade III
A exigência de visibilidade obriga a imprensa a compor as páginas de seu 
jornal de maneira que as notícias possam ser facilmente encontradas e 
apreendidas pelo leitor. Assim sendo, a instância midiática deve ter um 
cuidado particular com a maneira de anunciar e apresentar as notícias. Isso 
é feito através da paginação (primeira página, rubricas, fotos, desenhos, 
gráficos, tabelas, tipos de colunas, molduras etc.) e da titulagem (títulos, 
pré‑títulos, subtítulos, leads). Tais elementos constituem formas textuais 
em si e têm uma tripla função: fática, de tomada de contato com o leitor, 
epifania, de anúncio da notícia, e sinóptica, de orientação ao percurso visual 
do leitor no espaço informativo do jornal (CHARAUDEAU, 2013, p. 233).
A forma midiática escrita não consegue coincidir tempo e acontecimento. Afinal, temos uma ruptura 
ao considerar o tempo da notícia o real, o tempo da produção, o tempo de leitura e interpretação do produto 
final. Esse mesmo tempo encontra‑se defasado, devido à não simultaneidade dos acontecimentos, dos 
fatos. A produção escrita não é efêmera, podendo ser recuperada, diferentemente da oralidade em que 
não se tem essa facilidade de releitura e compreensão de novas percepções. Ao ser realizada, a notícia 
passa por um processo, de coleta de informações, de pesquisa e filtragem. Passa‑se de um processo de 
notícia construída e reconstruída, por seus interpretadores, tanto no processo inicial quanto no final, 
chamado assim de transação entre a matéria bruta e a matéria final, a qual chegará ao seu alvo.
Outro aspecto importante é o discurso estar inteiramente ligado ao jogo de poder e, dependendo 
do nível de estratégia, o discurso pode ser manipulado para atingir tal interesse. O seu receptor se 
torna manipulável, através da diversidade de possibilidade do mesmo discurso, ou seja, dependendo do 
interesse jornalístico, tal discurso atingirá um determinado grupo. Há certa facilidade na introdução 
de ideologias por meio da mídia, devido à sua grande variedade, sua grande produção discursiva e 
seu grande poder de inserção social. O ser humano cria discursos, tanto para justificar como para 
se comunicar. O discurso é a peça‑chave para a interação social. Encontramos essas duas grandes 
ferramentas do discurso predominantemente no discurso jornalístico, sendo base deste meio.
Para que haja manipulação é necessário um agente, um meio, em que possa haver um contato, 
planejado entre quem produz o discurso e o seu receptor. A manipulação nunca virá de uma forma 
objetiva, ou seja, sempre será dispersa por diferentes formatos, nunca estará evidenciada. Geralmente, 
a intenção de quem produz o texto nem sempre é clara. Para haver a interação é necessário um alvo 
específico, isto é, que haja um alvo a ser manipulado.
As mídias têm como preocupação central a quantidade de telespectadores, sua audiência. Ao perceber 
que está perdendo a audiência, muda o foco. Não existe uma preocupação com o conteúdo; dessa 
forma, pode alterá‑lo, tornando‑o massivo e muitas vezes sensacionalista e, se necessário, extremamente 
repetitivo. São deixados de lado as bases da informação e o objetivo interno presente no discurso e o que 
este pode trazer. Isso traz uma problemática, pois a mídia não transpassa os reais problemas sociais, 
é extremamente seletiva com o conteúdo que será transmitido, construindo dessa forma o que 
compõe o espaço público, e consequentemente a opinião pública, ou seja, tudo que é introduzido 
no meio social através dos meios de comunicação está relacionado com o que é selecionado por 
esses meios para a massa, para este público‑alvo.
169
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
 Observação
A mídia jornalística tem papel fundamental na formação de informação 
e opinião, mas ela também é um campo de autonomia incompleta, 
subordinado e constituído conforme as estratégias do campo econômico.
Quanto ao assunto verossimilhança ou ao que está relacionado com o que é verdadeiro dentro 
de uma informação, temos que ter atenção ao teor ideológico que é apresentado, dando enfoque à 
intencionalidade que a notícia tem, qual é o seu teor informativo, o que ela representa, e o quanto ela 
afeta o meio. Ao dizer que uma informação é concreta e totalmente verdadeira, corremos o risco de 
ferir a autenticidade dos fatos. São esses questionamentos que o receptor deve se fazer ao se posicionar 
diante da mensagem transmitida, o quão verossímil é a mensagem, qual é a necessidade da transmissão 
dessa informação, porque está sendo retratada dessa maneira.
Quando uma notícia passa pelo seu processo de transformação, para chegar ao seu receptor, 
ela passa por diversas reduções. Tem‑se uma seleção do material primeiramente coletado, retirando 
alguns fatos, e assim transformando‑a em uma informação não completa, mas reduzida, trazendo 
pontos intencionalmente escolhidos. Essa seleção é feita com critérios de importância e prioridade, 
transformando a mensagem através do que deve ser informado, o que realmente é relevante, quem 
está se beneficiando ao produzir e qual o efeito em quem recebe a notícia. Ao ser criado o discurso, 
são relevados todos esses critérios, pois o discurso intencional precisa cumprir o seu objetivo final, 
sendo na sua maior parte o beneficiário seu emissor, aquele que desenvolve a mensagem, e produz 
seus pontos primordiais.
O produtor do texto é responsável não pelos acontecimentos descritos, mas sim pelas escolhas, a 
forma comoretrata essa mensagem. Como fala, e o que fala, traz no conjunto o que o emissor quer 
reportar. A carga ideológica da informação e o que ela transmitirá está relacionada com o que seu 
locutor introduz e o que opta em informar.
 
Comunicar, informar, tudo é escolha. Não somente escolha de conteúdos a 
transmitir, não somente escolha das formas adequadas para estar de acordo 
com as normas do bem falar e ter clareza, mas escolha de efeitos de sentido 
para influenciar o outro, isto é, no fim das contas, escolha de estratégias 
discursivas (CHARAUDEAU, 2013, p. 236).
A maior razão da mídia é informar, e entre suas premissas estaria supostamente fazê‑lo de forma 
clara e assegurando veracidade dos fatos. No entanto, ao transmitir uma mensagem, corre‑se o 
risco de contaminação dessas informações por um elevado grau de carga ideológica, ou seja, traços 
intencionais da ideologia dominante que as reproduz. Normalmente notícias sensacionalistas são 
mais chamativas e exercem um poder de persuasão maior ao público insciente, sendo um tipo de 
informação de fácil absorção e compreensão. O sensacionalismo da informação é um ato arriscado, 
pois pode comprometer o produto, e até mesmo banalizá‑lo, dependendo do nível de interferência 
170
Unidade III
ou propósito de seu emitente. Esse tipo de suporte pode trazer dados incompletos, fragmentando a 
mensagem e tornando‑a inconclusiva.
O ato de chocar traz ao público sensações, emoções, que lhe prendem e dominam. Por isso, ao tratar 
de uma história real e optar pela utilização de apelo emocional, estaremos caracterizando a notícia, 
transformando‑a em um drama para prender o público‑alvo. Esse ato é deveras arriscado, pondo assim 
o princípio de informar em último plano, e o de entretenimento em primeiro.
Exemplo de aplicação
1) Compare dois telejornais – um mais sério e formal e outro mais sensacionalista.
A) Anote o comportamento dos apresentadores: corporal, tratamento dado aos entrevistados etc.
B) Verifique se os apresentadores assumem ou não uma opinião.
C) Anote as linguagens recorrentes no programa (cenário, iluminação, movimento de cores e 
de corpo, sons etc.) que criam um ambiente mais formal e sério e o outro ambiente mais 
sensacionalista.
2) Leia o mesmo fato em dois ou três jornais impressos diferentes e verifique as categorias 
apresentadas por Clóvis de Barros Filho: acumulação, consonância e focalização.
Resolução
1) Nesta atividade, a mensagem, ou seja, o fato noticiado, não é relevante, mas sim como o suporte 
(meio da comunicação) se caracteriza para influenciar o telespectador.
2) Cada empresa jornalística possui uma política interna, que determina os assuntos a serem 
noticiados (não é qualquer assunto), a perspectiva em que o fato será noticiado (social, econômica, 
de esquerda ou direita, uma visão mais humanista, entre tantas outras), quem é o público visado, 
o registro de linguagem (mais culta e formal ou mais popular) etc.
Ao debatermos sobre esse gênero, é impossível não frisar a importância da mensagem do outro 
nesse meio. O outro e o eu, a marca do outro nesse caso, torna‑se uma grande impulsionadora na 
formação de ideais, e na formação de outros discursos. Um discurso nunca será pioneiro, ou sem 
qualquer tipo de influência, principalmente no meio jornalístico. Por isso, os discursos que nos rodeiam 
são sim formadores de opinião.
É preciso nos atentar ao lermos um enunciado. Questionarmos quem é o sujeito, qual é a sua 
mensagem introduzida por meio do código, qual é a sua ocupação social e quem esse sujeito quer atingir 
por meio do seu discurso. Aprofundando‑nos ao ler, encontraremos claramente traços ideológicos no 
seu discurso. É importante dar atenção ao contexto de produção.
171
TEORIA DA COMUNICAÇÃO
A informação tornou‑se um produto de fácil alcance, literalmente temos acesso e alcance quase 
ilimitado de informações por meio da internet. O método on‑line utiliza uma atração maior, que envolve 
o leitor, tendo mais recursos, sendo possível analisar e ler o artigo, ou vários artigos ao mesmo tempo. 
A internet traz consigo amplitude de possibilidade, deixando um formato diferenciado, mais dinâmico. 
No entanto, torna‑se também uma ferramenta facilmente manipulável, sendo tão acessível, que 
informações podem ser distorcidas e consequentemente mal interpretadas, e dessa forma induzirem 
a percepções equivocadas. Nesse ponto, faz com que esse tipo de mídia gere dúvidas ao contrário de 
elucidá‑las. Por mais que fontes sejam verdadeiras e os fatos tenham acontecido, corre‑se o risco 
de uma ruptura ou perda de legitimidade dessas informações.
A mídia é um mecanismo que pode tratar de problemas sociais, econômicos, entretenimentos, 
notícias, mas também pode ser utilizada como forma de difusão de sensacionalismo e manipulação. Em 
nossa sociedade pós‑moderna, estamos atrelados e completamente ligados às imagens, o que somos e 
produzimos torna‑se produção e referencial. O que reproduzimos também está ligado automaticamente 
à associação da imagem que fazemos de tudo ao nosso redor. Ao assistir a um telejornal, novela, 
ou futebol, estaremos expostos aos seus conteúdos e a todo e qualquer tipo de propaganda, somos 
influenciados sobre o que iremos comprar. Essa exposição torna‑se essencial em nossas vidas, não 
porque assim queremos, mas porque a exposição massiva tem um poder de persuasão extraordinário ao 
qual somos submetidos, sucumbimos, e os tomamos como modelos.
Ao consumir algo sem nenhuma necessidade, apenas pelo desejo do impulso, reforçamos a 
ideologia das propagandas, que nos influencia e padroniza comportamentos, cria modelos, e tudo 
se torna um grande espetáculo. Encontramos um padrão, um forte estereótipo, sendo tudo imposto 
e associável. Ao assistir a uma tragédia, a vítima torna‑se imagem, alvo do espetáculo, produto, em 
que sua vida está totalmente interpelada aos espectadores. Suas emoções e atitudes são sentidas 
e tomadas também por aqueles que acompanham. Ou seja, a imagem é o ponto principal da 
associação. O público massivo tem uma necessidade, de um conteúdo facilitado, que é trazido 
através de pequenos trechos de um informativo em um jornal, ou até mesmo em uma foto em 
alguma propaganda.
8.2 Um exemplo de ficcionalidade
O caso Eloá ocorreu em 2008 e teve uma massiva exposição de uma garota de 15 anos que foi 
mantida refém, em sua própria casa, por seu ex‑namorado. O caso foi exaustivamente noticiado por 
mais de 100 horas e a vítima acabou sendo executada.
Na notícia a seguir, são reportados pelo jornal Agora São Paulo os primeiros acontecimentos do 
sequestro ocorrido no ABC, no ano de 2008.
172
Unidade III
Figura 64 – Primeira notícia sobre o caso Eloá
Fonte: Agora São Paulo (2008a, p. 7).
A manchete é o que chama a atenção do público para ler as informações presentes no campo de um 
texto jornalístico. Na chamada é que se destaca a mensagem mais importante, como apontam Ferreira 
Jr. et al. (2018). No caso dessa notícia, percebemos que ao retratar o caso, o locutor é sucinto. Não utiliza 
nomes para se referir a Lindemberg e à vítima Eloá. O primeiro é retratado apenas como um jovem, 
e a segunda apenas como uma ex‑namorada, havendo um distanciamento entre quem são, e quais 
papéis sociais ocupam, além do enunciado no texto. Além do título principal, o locutor da notícia trata 
Lindemberg, no início da matéria, como auxiliar de produção, e Eloá como uma adolescente.
A primeira notícia do caso Eloá toma a página inteira do jornal, sendo apenas retratado tudo o que 
ocorre no sequestro, como se o leitor estivesse presente em todos os acontecimentos. A informação é 
retratada de uma forma com que o leitor se prenda e possa acompanhar todos os fatos, sendo esta a 
intenção do sujeito informador.
Um texto tem como principal intuito informar, com credibilidade, porém o sujeito redator dessas 
informações tem a opção de tratar a mensagem de uma forma na qual esta fique de acordo com seu 
intuito. A mensagem chega ao interlocutor introduzida de intencionalidades,

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