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PSICANALISE E APRENDIZAGEM
Waldyr Siqueira
FREUD E O NASCIMENTO DA PSICANÁLISE - A Psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud no final do século XIX e início do século XX, é um método de investigação da mente e um tipo de terapia. Ela revolucionou a compreensão da mente humana ao postular a existência do inconsciente como a principal força motriz do comportamento e do sofrimento psíquico.
ESTRUTURA PSÍQUICA: CONSCIENTE, PRÉ-CONSCIENTE E INCONSCIENTE - Freud descreveu a mente usando o modelo topográfico (primeira tópica), que a dividia em três níveis: Consciente: É a menor parte e inclui o que estamos cientes em um dado momento: percepções, pensamentos e sentimentos imediatos. Pré-Consciente: Contém conteúdos que não estão ativos no momento, mas podem facilmente se tornar conscientes. É como um "estoque" de memórias e conhecimentos acessíveis. Inconsciente: É a maior e mais influente parte. Contém desejos reprimidos, medos, traumas e impulsos que são inacessíveis à consciência, mas que exercem uma pressão constante sobre o comportamento e a mente, manifestando-se em sonhos, sintomas, lapsos de memória e atos falhos.
PULSÃO, DESEJO E REPRESSÃO - Estes são conceitos fundamentais para entender a dinâmica psíquica: Pulsão (Trieb): É a energia psíquica de base, uma exigência que o corpo impõe à mente. Não é um instinto biológico fixo, mas uma força constante que busca satisfação, ligada a uma fonte orgânica, um objeto e um alvo. As pulsões são predominantemente sexuais (Eros) e agressivas/de morte (Thanatos). Desejo: É a forma psíquica da pulsão. O desejo, em Psicanálise, é fundamentalmente o desejo inconsciente, que é irrealizável na sua forma original e está sempre ligado à experiência primitiva de satisfação (a volta ao estado anterior de plenitude). O desejo é o motor do psiquismo. Repressão (Verdrängung): É o mecanismo de defesa primário e crucial. Consiste em manter fora do Consciente e Pré-Consciente as ideias, desejos ou lembranças que são inaceitáveis, dolorosas ou conflitantes. A repressão não elimina o conteúdo, apenas o empurra para o Inconsciente, de onde ele continuará a exercer sua influência (retorno do reprimido) na forma de sintomas neuróticos.
O CONCEITO DE SUJEITO DO INCONSCIENTE - Em Freud, o sujeito não é o 'eu' da consciência, racional e autônomo, mas sim o sujeito dividido e descentrado que é fundamentalmente determinado pelo Inconsciente. O Sujeito do Inconsciente é aquele que se manifesta através dos "produtos" do Inconsciente (sonhos, lapsos, chistes). Ele é estranho a si mesmo, pois suas ações e palavras são frequentemente motivadas por forças e desejos dos quais ele não tem consciência. A tarefa da Psicanálise é justamente tornar o sujeito consciente dessa determinação inconsciente.
A Linguagem como Estrutura do Inconsciente (Lacan) - Jacques Lacan, psicanalista francês que buscou um "retorno a Freud", reinterpretou os conceitos freudianos à luz da linguística estrutural de Saussure. Para Lacan, o Inconsciente é estruturado como uma linguagem. Isso significa que ele não é um mero depósito de emoções caóticas, mas sim um sistema de símbolos e relações (significantes) que operam como as regras de uma língua. Os desejos inconscientes se manifestam por meio da linguagem (metáforas e metonímias) e das "falhas" na fala (lapsos, silêncios, equívocos), pois o sujeito é sempre capturado e constituído pela linguagem. O sujeito é, portanto, um efeito da linguagem e o desejo é mediado por ela. O Outro (o campo da linguagem e da cultura) é quem estrutura o Inconsciente do sujeito.
CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO E A RELAÇÃO COM O SABER - ESTÁDIO DO ESPELHO E FORMAÇÃO DO EU - O Estádio do Espelho (conceito de Lacan) é um momento crucial no desenvolvimento da criança (entre 6 e 18 meses) onde ela se reconhece pela primeira vez em sua imagem no espelho (ou na imagem refletida pelo olhar do Outro). Função: Antes desse momento, a criança vive a sensação de um corpo fragmentado. Ao ver sua imagem unificada, ela experimenta uma identificação alienante. Formação do Eu: Essa identificação cria o Eu (ou moi), que é inicialmente uma estrutura ilusória, coesa e estável. O Eu se forma, portanto, a partir de uma imagem externa, uma miragem de completude, e não de uma essência interna. É o alicerce da futura relação do sujeito consigo mesmo e com o mundo.
NARCISISMO E IDEAL DO EU NA APRENDIZAGEM - NARCISISMO: Refere-se ao investimento libidinal no próprio Eu. O narcisismo primário é essencial na constituição do Eu. Na aprendizagem, ele se manifesta na necessidade de reconhecimento, admiração e sucesso por parte do aluno. O aluno busca a confirmação de sua imagem ideal. IDEAL DO EU (Ideal-Ich): É a instância psíquica que se forma a partir das identificações com os pais e os ideais socioculturais. Representa o que o sujeito deve ser para ser amado e valorizado. RELAÇÃO COM O SABER: O DESEJO DE APRENDER frequentemente está ligado à busca do Ideal do Eu. O conhecimento e o desempenho acadêmico tornam-se objetos de investimento narcísico, sendo utilizados para atingir esse ideal de perfeição ou sucesso. O PRAZER DE APRENDER pode ser mediado pelo prazer de ser reconhecido ou de se aproximar desse ideal.
FUNÇÃO DO OUTRO E O DESEJO DE SABER - Em Lacan, o Outro (com "O" maiúsculo) representa o campo da linguagem, da cultura, da Lei e da ordem simbólica. É o tesouro dos significantes. FUNÇÃO DO OUTRO: É o Outro (inicialmente representado pelos pais/educadores) quem introduz o sujeito na linguagem e no desejo. O Outro detém o saber e é o lugar de onde a demanda e o desejo do sujeito se originam e se dirigem. DESEJO DE SABER: O desejo de saber não é apenas curiosidade, mas uma busca incessante para preencher a falta inerente ao ser humano (o sujeito é sempre faltante). Esse desejo se articula na relação com o Outro. O professor, como figura do Outro, é percebido como aquele que detém o saber, e o aluno deseja obter esse saber para se completar ou para ser reconhecido pelo Outro.
TRANSFERÊNCIA E RESISTÊNCIA NO PROCESSO EDUCATIVO - TRANSFERÊNCIA: É a atualização inconsciente de modelos de relação afetiva infantis (especialmente com figuras parentais) na relação atual com o professor. O aluno transfere para o educador sentimentos (amor, ódio, admiração, rivalidade) e expectativas que pertencem a figuras do seu passado. Na educação, a transferência positiva (respeito, idealização) pode ser o motor da aprendizagem, enquanto a negativa (desconfiança, oposição) pode ser um obstáculo. RESISTÊNCIA: É a oposição inconsciente do aluno ao processo de mudança ou à aquisição de um novo saber. A resistência não é "má vontade", mas a manifestação da necessidade de manter o status quo psíquico, defendendo-se contra as implicações que um novo saber pode ter (como confrontar certezas, crenças ou a própria imagem narcísica). Ela impede o acesso a conteúdos que geram angústia.
O SINTOMA E OS IMPASSES NA APRENDIZAGEM - O Não-Aprender como Sintoma - SINTOMA PSICANALÍTICO: Em Psicanálise, o sintoma não é um mero sinal de doença, mas uma formação do inconsciente. É uma solução de compromisso, uma forma disfarçada pela qual um desejo ou conflito reprimido consegue se expressar. O NÃO-APRENDER: A dificuldade ou a impossibilidade de aprender (o fracasso escolar crônico) é visto como um sintoma. Não se trata de uma incapacidade cognitiva primária, mas de uma produção psíquica. O não-aprender serve para resolver um conflito inconsciente, muitas vezes ligado à relação com os pais ou com a figura do saber (o professor). Exemplo: O aluno pode inconscientemente "falhar" para não superar o pai, ou para desafiar a mãe que lhe impõe a obrigação de estudar. O sintoma, nesse caso, é uma mensagem cifrada.
ANGÚSTIA, MEDO E FRACASSO ESCOLAR - ANGÚSTIA: É um afeto fundamental na Psicanálise, uma reação do Ego frente a um perigo psíquico inconsciente (ameaça de castração, perda do amor do Outro). No contexto escolar, a angústia pode ser despertada pela exigência de desempenho, pela exposição ao julgamento (narcisismo) ou pela confrontação com a própriaignorância (a falta). MEDO: Diferente da angústia, o medo tem um objeto definido (medo de prova, medo do professor, medo de errar). FRACASSO ESCOLAR: O fracasso é o resultado visível da atuação desses afetos. Pode ser o preço que o sujeito paga para não lidar com a angústia despertada pelo conhecimento ou para evitar confrontar os ideais do Outro.
INIBIÇÃO INTELECTUAL E MECANISMOS DE DEFESA - INIBIÇÃO INTELECTUAL: É a restrição de uma função do Ego (a capacidade de pensar, aprender ou criar) para evitar a angústia. O indivíduo tem a capacidade, mas a bloqueia. É um mecanismo de defesa no qual o próprio aprendizado é associado a um perigo. Exemplo: O conhecimento pode ser inconscientemente associado à sexualidade (o saber sobre as "coisas proibidas") ou à rivalidade com o pai. O aluno se inibe para se defender desses conflitos. MECANISMOS DE DEFESA: São operações inconscientes do Ego para proteger-se de conteúdos (pulsões, afetos) insuportáveis, oriundos do Id ou do Superego. Além da Inibição, outros mecanismos podem impedir o aprendizado Repressão: O desejo de saber (ou o desejo associado ao saber) é mantido no inconsciente. Deslocamento: O afeto ligado a um objeto (ex: a figura parental) é transferido para o objeto de saber (o livro, a matéria), gerando aversão.
APRENDIZAGEM NA PSICANÁLISE - Aprender é um ato subjetivo - A aprendizagem não ocorre apenas no nível racional, mas é atravessada pela história psíquica do sujeito. O que o sujeito aprende ou recusa aprender está ligado ao seu desejo inconsciente e às marcas de sua relação com o saber (especialmente com as figuras parentais e com o educador).
 O INCONSCIENTE E O DESEJO DO SABER - O saber, na psicanálise, não é algo totalmente consciente: ele se liga ao desejo de saber (“o sujeito do inconsciente deseja saber algo sobre si mesmo”). - Muitas vezes, a dificuldade de aprender pode ser um sintoma — uma forma inconsciente de expressar conflito, angústia ou resistência diante da figura de autoridade (professor, pai, mãe).
Aprendizagem e transferência - No processo educativo, há uma relação transferencial entre educador e aprendiz. O aluno pode reproduzir, na relação com o professor, vínculos afetivos antigos (de amor, rivalidade, medo, submissão etc.), o que interfere no modo como aprende. O saber inconsciente - Freud afirma que há um saber no inconsciente: o sujeito sabe mais do que pensa saber. Aprender, então, é também tornar consciente algo do que estava recalcado — um processo semelhante ao da elaboração psíquica. Lacan e o “sujeito do saber” - Lacan introduz a ideia de que o professor ocupa o lugar do “sujeito suposto saber”, ou seja, aquele em quem o aluno acredita que o saber habita. Essa suposição é o motor da transferência e, portanto, da aprendizagem. Quando o aluno deixa de supor o saber no professor (ou no outro), o desejo de aprender se rompe. Em síntese: Aprender, na psicanálise, é um processo de construção subjetiva do saber, atravessado pelo desejo, pela transferência e pelas marcas inconscientes da história do sujeito.
A ESCUTA PSICOPEDAGÓGICA E A PRÁTICA CLÍNICA - A clínica psicopedagógica, influenciada pela Psicanálise, entende a dificuldade de aprendizagem não apenas como um problema cognitivo, mas como um sintoma que envolve a história, os afetos e o desejo inconsciente do sujeito. O LUGAR DO PSICOPEDAGOGO DIANTE DO SUJEITO APRENDENTE - O psicopedagogo assume a posição de um facilitador e um investigador do sentido. Seu lugar não é o de um mero "reforçador" de conteúdo, mas sim o de alguém que: OLHA PARA O SUJEITO: Considera a criança, adolescente ou adulto como um sujeito desejante e dividido, e não apenas um "aluno com déficit". DECIFRA O SINTOMA: Busca compreender o significado inconsciente da dificuldade de aprender (o "não-aprender"). OCUPA O LUGAR DO SABER: É percebido pelo sujeito como aquele que, temporariamente, detém o saber que o sujeito almeja ou rejeita, abrindo espaço para o trabalho com a transferência.
A ENTREVISTA E O VÍNCULO TRANSFERENCIAL - A ENTREVISTA: É o instrumento inicial e contínuo da clínica. Vai além da coleta de dados objetivos. O objetivo é a escuta flutuante (conceito freudiano) que permite captar o que não é dito explicitamente, os lapsos, as contradições e o discurso inconsciente. VÍNCULO TRANSFERENCIAL: É o motor da prática clínica. O psicopedagogo torna-se, inconscientemente, o destinatário de afetos e expectativas que o sujeito tinha com suas figuras primárias (pais, educadores). O psicopedagogo deve manejar a transferência para que ela se torne um VÍNCULO DE CONFIANÇA E UM VEÍCULO PARA A APRENDIZAGEM, sem responder como a figura parental do passado (evitando o amor ou o ódio transferido).
O BRINCAR E O DESENHO COMO LINGUAGEM DO INCONSCIENTE - Na clínica com crianças, as atividades lúdicas são as principais vias de acesso ao mundo interno do sujeito: O BRINCAR: Não é apenas entretenimento, mas a linguagem privilegiada da criança. No brincar, o sujeito repete, elabora e domina situações traumáticas ou conflitos afetivos que não consegue expressar verbalmente. O brincar é o equivalente à "associação livre" do adulto. O DESENHO: É uma forma de projeção e representação. O desenho expressa a imagem corporal, as relações familiares e os medos do sujeito. A análise não se foca apenas no traço estético, mas no conteúdo, na forma e na história contada pelo sujeito sobre sua obra. Ambos permitem a emergência do material inconsciente reprimido.
O MANEJO DA ESCUTA E O RESPEITO AO TEMPO DO SUJEITO - MANEJO DA ESCUTA: Refere-se à intervenção do psicopedagogo. É preciso ir além do sintoma manifesto, intervindo por meio da interpretação ou da pontuação do discurso (falas ou ações). A intervenção visa devolver ao sujeito o sentido de sua dificuldade para que ele possa se responsabilizar e elaborar seu sintoma. RESPEITO AO TEMPO DO SUJEITO: A clínica exige paciência e o entendimento de que a elaboração de conflitos e a ressignificação do saber acontecem no tempo psíquico do sujeito, que é diferente do tempo cronológico ou escolar. Forçar a aprendizagem ou a cura antes do tempo do sujeito pode reforçar a resistência ou o sintoma.
A ESCUTA PSICOPEDAGÓGICA E A PRÁTICA CLÍNICA- A clínica psicopedagógica, influenciada pela Psicanálise, entende a dificuldade de aprendizagem não apenas como um problema cognitivo, mas como um sintoma que envolve a história, os afetos e o desejo inconsciente do sujeito.
O LUGAR DO PSICOPEDAGOGO DIANTE DO SUJEITO APRENDENTE - O psicopedagogo assume a posição de um facilitador e um investigador do sentido. Seu lugar não é o de um mero "reforçador" de conteúdo, mas sim o de alguém que: OLHA PARA O SUJEITO: Considera a criança, adolescente ou adulto como um sujeito desejante e dividido, e não apenas um "aluno com déficit". DECIFRA O SINTOMA: Busca compreender o significado inconsciente da dificuldade de aprender (o "não-aprender"). OCUPA O LUGAR DO SABER: É percebido pelo sujeito como aquele que, temporariamente, detém o saber que o sujeito almeja ou rejeita, abrindo espaço para o trabalho com a transferência.
A ENTREVISTA E O VÍNCULO TRANSFERENCIAL -A ENTREVISTA: É o instrumento inicial e contínuo da clínica. Vai além da coleta de dados objetivos. O objetivo é a escuta flutuante (conceito freudiano) que permite captar o que não é dito explicitamente, os lapsos, as contradições e o discurso inconsciente. VÍNCULO TRANSFERENCIAL: É o motor da prática clínica. O psicopedagogo torna-se, inconscientemente, o destinatário de afetos e expectativas que o sujeito tinha com suas figuras primárias (pais, educadores). O psicopedagogo deve manejar a transferência para que ela se torne um VÍNCULO DE CONFIANÇA E UM VEÍCULO PARA A APRENDIZAGEM, sem responder como a figura parental do passado (evitando o amor ou o ódio transferido).
O BRINCAR E O DESENHO COMO LINGUAGEM DO INCONSCIENTE - Na clínica com crianças, as atividades lúdicas são as principais vias de acesso ao mundo interno do sujeito: O BRINCAR: Não é apenas entretenimento, mas a linguagem privilegiada da criança. No brincar, o sujeitorepete, elabora e domina situações traumáticas ou conflitos afetivos que não consegue expressar verbalmente. O brincar é o equivalente à "associação livre" do adulto. O DESENHO: É uma forma de projeção e representação. O desenho expressa a imagem corporal, as relações familiares e os medos do sujeito. A análise não se foca apenas no traço estético, mas no conteúdo, na forma e na história contada pelo sujeito sobre sua obra. Ambos permitem a emergência do material inconsciente reprimido.
O MANEJO DA ESCUTA E O RESPEITO AO TEMPO DO SUJEITO - MANEJO DA ESCUTA: Refere-se à intervenção do psicopedagogo. É preciso ir além do sintoma manifesto, intervindo por meio da interpretação ou da pontuação do discurso (falas ou ações). A intervenção visa devolver ao sujeito o sentido de sua dificuldade para que ele possa se responsabilizar e elaborar seu sintoma. RESPEITO AO TEMPO DO SUJEITO: A clínica exige paciência e o entendimento de que a elaboração de conflitos e a ressignificação do saber acontecem no tempo psíquico do sujeito, que é diferente do tempo cronológico ou escolar. Forçar a aprendizagem ou a cura antes do tempo do sujeito pode reforçar a resistência ou o sintoma.
A PSICANÁLISE NO CONTEXTO INSTITUCIONAL - O Sujeito e o Coletivo: Dinâmica Institucional e Laços Sociais - A Psicanálise estuda as relações entre o sujeito desejante e as estruturas que o organizam (o coletivo). DINÂMICA INSTITUCIONAL: As instituições são formadas por laços sociais, mas também servem como depositárias de ideais e de repressão. Elas estabelecem regras (o Supereu da instituição) que visam domesticar a pulsão e o desejo dos indivíduos. Conflitos, resistências e mal-estar em uma instituição são frequentemente lidos como manifestações das pulsões e dos desejos não reconhecidos pelos seus membros. LAÇOS SOCIAIS: Freud, em Psicologia de Grupo e Análise do Eu, já destacava que a coesão do grupo reside na identificação dos indivíduos com o mesmo ideal (o líder ou o ideal institucional) e com os outros membros. A Psicanálise ajuda a analisar o inconsciente do grupo, ou seja, as fantasias e os afetos partilhados que influenciam as decisões e a rotina.
O DISCURSO PEDAGÓGICO E O DISCURSO DO MESTRE EM LACAN - Jacques Lacan, através da Teoria dos Quatro Discursos, oferece ferramentas para analisar as relações de poder e saber nas instituições: O Discurso do Mestre (Domínio): É o discurso do comando, da autoridade e da demanda de trabalho. O Mestre utiliza um Significante Mestre ($S_1$, a ordem, a regra, o Ideal) para fazer o sujeito ($S_2$, o saber, a produção) trabalhar. INSTITUIÇÃO: Muitas escolas e sistemas de ensino operam sob o Discurso do Mestre: o professor/sistema exige a produção (a nota, o desempenho) sem questionar o desejo do sujeito. O saber ($S_2$) é tratado como uma mera ferramenta de comando. O DISCURSO PEDAGÓGICO (ESCOLAR): Geralmente se aproxima de uma variação do Mestre ou do Discurso da Universidade, onde o saber ($S_2$) é colocado no lugar dominante. No entanto, o risco é que o saber seja transmitido como algo dogmático e fechado, silenciando o desejo de saber do aluno (o sujeito dividido). A Psicanálise critica o discurso massificador que ignora a singularidade do sujeito.
INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS À LUZ DA PSICANÁLISE - A intervenção não se restringe ao consultório, mas também à instituição: -ESCUTA DO MAL-ESTAR: O psicopedagogo pode intervir na instituição escutando o mal-estar não apenas do aluno, mas dos professores e da equipe. Esse mal-estar muitas vezes é sintoma de um conflito institucional ou de uma exigência inatingível. RESTAURAÇÃO DA SINGULARIDADE: As intervenções buscam reintroduzir a questão do sujeito onde o discurso institucional tendeu a objetificá-lo (transformá-lo em um número, uma categoria de "aluno problema"). INTERVENÇÃO NA TRANSFERÊNCIA INSTITUCIONAL: O psicopedagogo pode auxiliar na análise das relações de transferência entre alunos e professores, e entre a própria equipe, para desatar os nós que impedem a circulação do saber e do desejo.
ÉTICA E LIMITES DA ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA -A Psicanálise confere uma ética rigorosa à prática clínica e institucional: ÉTICA DO DESEJO: A intervenção deve sempre ter como bússola a ética do desejo do sujeito, e não a adequação cega às normas da instituição. A ética exige que o psicopedagogo sustente o lugar da falta e do questionamento, em vez de fornecer respostas imediatas e totalizantes. LIMITE DA ANÁLISE: O psicopedagogo não é um psicanalista. O limite de sua atuação é a relação do sujeito com o saber e a aprendizagem. Se o sintoma for muito profundo ou envolver questões psíquicas que extrapolam a dificuldade de aprender, o profissional deve realizar o encaminhamento para a análise ou psicoterapia. NÃO-AÇÃO: Às vezes, a intervenção mais ética é a não-ação ou a sustentação da pergunta, permitindo que o sujeito elabore sua própria questão, respeitando o tempo de sua singularidade.
O Sujeito no Espelho Estilhaçado: A Clínica Psicanalítica do Autismo e o Neurodesenvolvimento."

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